Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 45
Capítulo 45. Frustração


Notas iniciais do capítulo

Olá, só pra ficar claro que eu não morri, um pequeno capítulo para continuar a história.
Música de hoje: "Mulher sem razão", Cazuza.
Jané



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Saia desta vida de migalhas
Desses homens que te tratam
Como um vento que passou

Caia na realidade, fada
Olha bem na minha cara
Me confessa que gostou
Do meu papo bom
Do meu jeito são
Do meu sarro, do meu som
Dos meus toques pra você mudar

Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração
No final da tarde
Ouve aquela canção
Que não toca no rádio


A mente de Integra lhe traía. E traição não era uma coisa que Integra perdoava facilmente. Não perdoou a traição de seu tio, entendeu e aceitou a traição de Walter, mas não a perdoou tampouco. Mais que a mente, o corpo de Integra a traia. Traição... Irônico não?

Enquanto sua mente não conseguia processar a situação e corresponder de acordo com seus princípios e moral, seu corpo era capaz de perceber cada nuance de textura, temperatura, cheiro, tudo. E sua mente traidora estava ocupada demais processando todos esses inputs para seguir o que deveria estar de fato gritando: “afasta-te”.

E o pior de toda essa ironia é que aquele que deveria estar em sua mente impedindo seus atos estava em sua mente como base de comparação. Porque os lábios do coronel eram mais cheios que os de Vlad, mais quentes, mais suaves. O toque mais seguro, mais impetuoso, mais firme. A pele mais bem cuidada, a barba mais bem feita. Não, isso era injusto. Vlad tinha o rigor característico de quem fora obrigado desde muito novo a ser impecável: soldado, nobre, rei. Não era a barba que era mal feita, era a pele de Baron que era cuidada demais para competir. Cera? Laser? Cremes? Seja lá o que for, provavelmente ela deveria fazer o mesmo. Ou não. Ela se importava? Com a pele dela, não a dele. Afinal ter o contato da pele dele era...

Era estranhamente natural, estranhamente certo. Como Vlad nunca foi. Sem medo, sem ecos, sem lembranças de vampiros, sem... Se foi a lembrança de Alucard ou de Vlad que a fez perceber que o certo da situação na verdade era algo completamente errado, pouco importou, pois a sensação da língua do coronel discretamente pedindo passagem foi substituída por aquela de uma testa contra a sua. Igualmente quente, igualmente suave e, da mesma forma, com aquele “quê” de certo que estava absolutamente errado.

– Desculpe-me, Sir Hellsing. Mas sua beleza está tão proeminente esta noite que pareceu-me apenas o natural a se fazer.

Sir Hellsing... Essa seria a hora de corrigi-lo dizendo ser, na verdade, Condessa Dracul, não seria? Lembrá-lo de que ela era uma mulher casada? Mas por que a correção não veio? A recusa não se formou em seus lábios e punhos antes que o beijo em si acontecesse? Antes do convite aceito e prolongado?

– Deveríamos tratar do realinhamento das minhas tropas...

Nesse momento, o toque se desfez e a naturalidade de um ato tão não natural se rompeu. Negócios, sempre feitos em um clima sério, pesado e estranhamente comfortável para a dama de ferro.

– A esse respeito Sir Hellsing, a inteligência precisará das suas tropas por mais algumas semanas. Recebemos algumas ameaças e com a chegada das olimpíadas a Londres...

Integra fechou os olhos naquele momento, respirando fundo. Não teria suas tropas de volta. Estava impedida de trabalhar. Estava perdendo seu tempo.

– E como acha, coronel Baron, que defenderemos Londres contra ameaças maiores sem as tropas?

– Que ameaça pode ser maior que ataques terroristas enquanto expomos o que temos de mais preciso para todo o mundo?

– Para alguém que trabalha na inteligência inglesa, o coronel conhece muito pouco sobre o trabalho da Hellsing. Preciso de pelo menos 30% das minhas tropas sob meu comando ao nascer do sol coronel. Não me importa o que o parlamento diga. Tenha uma boa noite.

– Sir Hellsing?

Mas Integra não lhe deu ouvidos, apenas marchou em direção a noite, com seus saltos em sua mão e o vestido de seda vermelha tremulando ao vento.

.

.

.

Uma pessoa percebe que está sem objetivos quando a televisão entra em estática e não se dá ao trabalho de se levantar do sofá e mudar de canal. Estática entre aspas, porque na verdade o que estava acontecendo na tela da TV há 30 minutos era um fundo preto com um circulo que se preenchia e esvaziava avisando que a procura por canais estava em andamento. Claramente hora de se levantar e desligar o aparelho, tentar consertar, qualquer coisa menos ficar esperando, olhando para a tela. O que Vlad já estava fazendo há pelo menos quinze.

Além disso, Vlad estava no escuro, com um balde de pipocas já frias e murchas. Vlad também estava com frio e a sensação da pele gelada de Celas que ele podia sentir mesmo que por entre as camadas de roupa dele e dela não estavam ajudando. Não quando a vampira havia cochilado achando que o conde era um travesseiro, não quando todo seu lado direito já estava a ponto de se tornar dormente pelo frio e peso. E a mente de Vlad gritava que ele deveria levantar-se, fazer qualquer coisa que não vegetar no escuro, com frio, mesmo que sua alma achasse que era uma boa ideia se tornar parte da decoração.

E então, a porta se abriu, timidamente, e Vlad pode ouvir os passos silenciosos dos pés descalços de sua esposa. Fechou os olhos, tentando se reconciliar com as emoções e pensamentos que vivenciou durante o dia. Mais ouviu que sentiu Integra parar seus passos, provavelmente observando a cena que se desenrolava no sofá (sua serva dormindo sobre seu marido aparentemente também adormecido no mencionado móvel) e retomá-los após algum tempo, como que se preparando para subir as escadas. Foi quando sua mente e alma concordaram: aquilo não podia continuar daquela forma. E então, assim sem cuidado, sua voz rouca e baixa ecoou pela mansão vazia:

– Espero que tenha valido a pena.

Integra parou ainda no primeiro degrau da escada, com o olhar firme para frente.

– As tropas foram requisitadas para ajudar nas Olimpíadas. Será divertidíssimo quando os estádios forem invadidos por vampiros e as tropas estiverem ocupadas procurando por bombas em sacos de balas. – Integra respondeu, ponderando se devia continuar subindo as escadas.

–Referia-me ao cavalheiro a cortejando.

Integra respirou fundo. Contou até dez e continuou:

– Apenas um jantar. Ostras, nada mais.

– Esperto nosso coronel, não?

– O que quer dizer Vlad? Fale logo de uma vez.

Vlad havia se levantado e Celas, surpreendentemente, continuava a dormir no sofá, mesmo com toda a movimentação. Ela não deveria ser um ser da noite?

– Ostras são afrodisíacas. Foram servidas com vinho por acaso?

E Vlad se perguntaria por meses ainda como ele não viu aquele tapa vindo. Tinha certeza que estava com os cinco dedos da mão enluvada de Integra registrados no rosto, que ardia como se estivesse em brasas.

– Então espero que ele tenha um encontro muito bem sucedido com a própria mão esta noite, assim como Milord. Aliás, o que Milord, tão cheio de virtudes, estava fazendo com nossa serva seminua no sofá?

– Em primeiro lugar, para mim é totalmente impossível entender o que se passou pelo pensamento de quem achou que aquele modelo de uniforme era uma boa ideia. E depois, eu estava...

Estava o que? Vegetando no sofá? Tentando sumir no escuro da sala?

– Estava tentando jogar seus princípios morais de séculos passados sobre mim? Achando que eu seria a pobre donzela que abaixaria a cabeça e diria “perdoe-me, meu senhor”. Faça-me o favor e...

E Integra parou ao ver a expressão no rosto de Vlad. Foi longe demais. Envolveu pessoas, sentimentos e elementos demais em uma agressão física e verbal alimentada por descontentamento, semanas de cansaço, frustração e culpa. Não era mais auto-defesa, era pura crueldade. Vlad olhou para o chão, a resposta que ainda não havia encontrado para uma pergunta simples de “o que fazia no escuro” substituída pelo vazio de ser atacado onde mais doía: no significado de seu próprio ser.

– Vlad eu...

– O que estamos fazendo Milady?

–Vlad...

– Eu posso sentir o cheiro dele em suas roupas.

E com aquilo Vlad virou-se e saiu porta a fora, caminhar pela noite, sem rumo, no escuro, ainda com frio e agora atormentado por seus pensamentos.


Pára de fingir que não repara
Nas verdades que eu te falo
Dá um pouco de atenção

Parta, pegue um avião, reparta
Sonhar só não tá com nada
É uma festa na prisão

Nosso tempo é bom
Temos de montão
Deixa eu te levar então
Pra onde eu sei que a gente vai brilhar

Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração
Batendo travado
Por ninguém e por nada
Na escuridão do quarto
Na escuridão do quarto



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Notas finais do capítulo

To be continued



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