Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 34
Capítulo 34. Hesitação


Notas iniciais do capítulo

Hello! Everybody!
Olha que legal, escrevi uma coisa absurda nos dois últimos capítulos e ninguém comentou nada. Bora brincar de jogo dos setes erros?
Outra coisa, ESTAMOS QUASE CHEGANDO AOS 200 REVIEWS! Quem vai querer escrever este review tão especial? - bom, é especial pra mim pelo menos. Se chegar aos 300 antes de eu encerrar Anjo escrevo uma continuação!
A música de hoje é "Behind blue eyes" que absolutamente todo mundo conhece na versão do Limp Bizkit, mas poucos no original do "The Who", que na minha opinião tem muito mais força (fora que a letra tem mais sentimento).
Bom, boa leitura! (minha beta entrou de greve, então é...tá tdo errado msm)



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No one knows what it's like, to be the bad man

To be the sad man, behind blue eyes

No one knows what it's like, to be hated

To be fated, to telling only lies

But my dreams they aren't as empty

As my conscience seems to be

I have hours, only lonely

My love is vengeance, that's never free

No one knows what it's like, to feel these feelings

Like I do, and I blame you

No one bites back as hard, on their anger

None of my pain or woe, can show through

But my dreams, they aren't as empty

As my conscience seems to be

I have hours, only lonely

My love is vengeance, that's never free

            Se alguma vez em sua vida, Sir Hellsing chegou mais perto de ter um ataque cardíaco, ela realmente não se lembrava. Ela não sabia se ria, se gritava ou se atirava na bunda branca de Vlad, linda por sinal, aparecendo por entre a ridícula camisola de hospital, enquanto ele brigava com as enfermeiras no meio do corredor. Ainda bem que ele não conseguiu chegar à recepção.

            – Que tipo de captura é essa? Cadê os soldados? Nu pot sa ma liber şi de a reveni la război!

            Ótimo, agora Vlad delirava num mix entre inglês e romeno... Pelo menos ele alternava as frases. Se ele resolvesse falar uma palavra em cada língua seria um problema sério para entendê-lo.

            – Mas o senhor precisa ficar na cama! – Uma enfermeira argumentava, tentando em vão ao mesmo tempo aplicar uma injeção no braço de Vlad e preservar um pouco da dignidade dele ficando entre o corpo exposto e um ou outro curioso do corredor. Integra ficou imaginando se, na verdade, ela não estava tentando era monopolizar para ver melhor.

            – Eu não preciso fazer nada! Lutar é preciso! – Vlad afirmava e se contradizia ao mesmo tempo, falando enfaticamente com as mãos erguidas, como um personagem de anime retardado.

            – E vai lutar assim? Vestido desse jeito? – Um dos enfermeiros tentava argumentar, no alto de seus dois metros de altura (e quase isso de largura) aparentemente desistindo de segurar o paciente fujão. Vlad era menor e significativamente mais fraco, mas toda vez que o imobilizavam ele dava um jeito de se soltar e voltar a berrar. Muito insistente.

            – Levaram minha armadura e não querem devolver! Guerra! Războooooooooooooooooi!

            – Vlad... – Integra murmurou, perdendo a paciência. Vlad olhou direto para dentro do olho dela, ao mesmo instante aliviado e apreensivo. – Pare com essa cena ridícula e volte para a cama.

            – Mas... General! As tropas...

            Integra se perguntou em que momento de sua vida Vlad teve que se submeter a um general, para adotar aquele ar de respeito a um superior, já que desde muito jovem ele mesmo comandava seu exército, mas deixou o pensamento para lá. Ia se aproveitar do argumento contra um Vlad delirante. Era só o que faltava. – Soldado! Está envergonhando as tropas, isso sim. Andando por ai nesse estado? Volte para a cama!

            – Ou pelo menos assine isso. – O enfermeiro 2x2 murmurava, segurando um maço de papéis atestando que o hospital não havia dado alta para Vlad. Integra fez uma nota mental de apontar a arma pra cabeça do enfermeiro depois. Que tipo de hospital aceitaria a assinatura de um paciente que estava claramente delirando?

            – Eu não vou assinar nada! Vou sair na rua assim! Vocês não devolvem a minha roupa, vão ficar sem assinatura!

            Ah... Como ficamos coerentes de repente não? Integra já estava completamente “facepalm” nesse momento.

            – Eles me deram algumas, é verdade, mas nunca me disseram o que fizeram com as minhas! – Vlad falava diretamente para Integra, enquanto puxava o avental, mostrando um pouco mais que só o traseiro, dessa vez. Integra tinha certeza que já tinha ouvido (e estranhado) aquela frase antes, mas o rubor crescendo em suas bochechas não a deixou focar nesse pensamento por muito tempo:

            – VLAD! VOCÊ ESTÁ LOUCO E TENTANDO ME DEIXAR LOUCA TAMBÉM! VOLTE. PARA. A. CAMA!

            Com Vlad finalmente quieto (sedado) em sua cama de hospital, Integra pode pensar um pouco naquela situação toda. Fosse qual fosse o remédio que eles estavam dando para Vlad, os efeitos colaterais eram claramente preocupantes. Vlad além de ter perdido completamente a coerência, tinha alucinações com a guerra e estava paranóico. O que um soldado altamente treinado, alucinando, paranóico e sem nenhum senso de responsabilidade era capaz de fazer? Bom, de assassinar todas as pessoas no hospital com uma “faquinha do rocambole Pulman” a explodir tudo porque a saída de gás da cozinha poderia ser uma maçaneta de porta, ou qualquer outra coisa que girasse. Imagina? “Olha que legal... Uma válvula de fazer chiado! Palitinhos... OHHHHH FAGULHAS! Opa... Fiz bum...”. Definitivamente uma cena que Integra não queria presenciar. Só que o único jeito de manter Vlad quieto era ou deixá-lo sedado, ou se Integra estivesse ali, encarando-o com a expressão mais pesada que conseguisse assumir. O que era difícil, tanto pela quantidade de coisas que ela tinha que fazer, quanto pelo fato de Vlad estar absoluta e irritantemente adorável daquele jeito.

            Depois de muito discutir com os médicos, que se recusavam a trocar o medicamento de Vlad, apesar de não entender porque os efeitos da alucinação eram tão fortes nele, Integra chegou à conclusão que o melhor era tirar o conde do hospital e levá-lo para a mansão. Hum, deja vu.

            Bom, claro que ela ponderou aquilo tudo. O rapaz estava machucado, fraco e, a não ser quando um surto de energia gerada pelas alucinações surgia, frequentemente cansado. Mesmo durante os ataques histéricos Integra percebia que Vlad continuava lutando por pura teimosia. A Hellsing começou a se perguntar quantas vezes Vlad teve que continuar a lutar apesar de ferido, exausto, faminto ou desidratado, para ser uma atitude tão natural quando algum perigo (ainda que imaginário) se aproximasse.

            O caso era que Vlad, apesar daquilo tudo, estava ficando mais forte. Ele precisava era descansar e se alimentar bem, em um ambiente tranqüilo. Não que a mansão Hellsing fosse o lugar mais tranqüilo do mundo, ou fosse calmo em qualquer sentido não irônico que a palavra pudesse assumir, mas pelo menos lá Integra tinha certeza que Vlad ia ficar quieto, de preferência na cama. E nada de analgésicos estranhos que fazem um soldado altamente qualificado delirar.

            Os médicos, obviamente, foram contra, mas Integra não queria saber. Os pontos que, apesar de fortemente costurados, estavam abertos há uma semana tinham se fechado em quatro dias. Integra gostava de pensar que era o sangue dela nas veias dele que ajudava, mas desistia logo da ideia com um riso bobo. Vlad não era Alucard. Vlad precisava descansar e se alimentar, coisa que já era difícil pra maioria das pessoas dentro do hospital, quase impossível pra ele com aqueles medicamentos estranhos. Pensando nisso... Remédios em Adams St. John... Analgésicos deixavam ele burro... Agora esses... Hum, pelo visto Vlad e produtos químicos não eram uma combinação muito inteligente.

            O maior dos problemas estava ai. Vlad ainda sentia muita dor, principalmente quando fazia algo complexo, como abrir os olhos, respirar ou engolir. Mas, de novo, seus ataques histéricos só pioravam tudo.

            Resultado? Em menos de dois dias Vlad estava novamente na mansão Hellsing, dormindo em sua própria cama. Bom, em boa parte do tempo não necessariamente dormindo, mas concentrado em não fazer absolutamente nada, inclusive abrir os olhos. Estavam um pouco sensíveis à luz por ter batido a cabeça e as pálpebras ainda pesadas pelos ferimentos, embora conseguisse já abrir um pouco o olho esquerdo. E ele se forçava a dormir, porque dormindo ele não sentia o peso de seu corpo esmagando suas costelas, ou o latejar de sua mão quebrada, ou a pressão em sua cabeça, etc., etc., etc...

            Nos raros momentos em que tinha que fazer alguma coisa, quando insistiam que ele comesse algo leve, ou bebesse um copo de suco, ou ele tinha que ir até o banheiro, coisas do gênero, Vlad ficava imensamente agradecido de só ter quebrado uma mão. Era difícil fazer as coisas com a esquerda, já que era destro e a mão estava machucada de qualquer forma, mas muito melhor do que ter alguém fazendo aquilo por você.

            E Vlad de fato estava contente em ficar quieto em seu casulo de cobertores, que milagrosamente só aumentava de tamanho. Quando estava descansado o suficiente pra manter um pensamento coerente por mais de quinze minutos chegava à conclusão que alguém havia lhe trazido mais um cobertor. Provavelmente estava tremendo durante a noite. Febre talvez? Ele nunca conseguiu concluir aquele pensamento. Ele sentia que suas roupas estavam limpas, então se ele estava com febre, e provavelmente suando muito, alguém as tinha trocado. No final, ele acabava dormindo mais uma vez, ou sua atenção se perdia em algum pensamento incoerente.

            – Vlad. – A voz sussurrada de Sir Hellsing tirou Vlad de uma linha de raciocínio que tinha começado do nada e estava claramente se dirigindo para lugar nenhum. – Vlad... Eu sei que você está acordado.

            Vlad tentou abrir os olhos para vê-la, mas o movimento ainda era desconfortável, então tão rápido quanto os abriu o conde os fechou, virando a cabeça no travesseiro para se proteger dos raios de sol intrusos do fim da tarde que passavam pela sua janela.

            – Tudo bem. Não precisa olhar pra mim. Não agora pelo menos. – Integra respirou fundo, sentando-se na cama, perto o suficiente para sentir a testa de Vlad tocando de leve sua perna. – A Rainha quer vê-lo. Você acha que amanhã é cedo demais?

            Vlad fez menção de se levantar na cama, mas não conseguiu nada mais do que erguer um pouco a cabeça. Integra passou uma mão pelos fios do cabelo dele, deixando claro que ele devia se encostar outra vez no travesseiro.

            A Hellsing também percebeu que Vlad desesperadamente precisava lavar os cabelos. Estavam começando a perder o brilho, dando uma aparência muito mais abatida para Vlad do que a que ele poderia estar. Naquele exato momento, ela não se importava muito com aquilo e continuou a traçar círculos suaves no couro cabeludo dele com a ponta dos dedos, sabendo que o gesto o acalmava consideradamente. Integra tinha feito aquilo constantemente nos últimos dias, enquanto o corpo de Vlad tentava eliminar, freneticamente, os resquícios das altas doses de analgésicos que havia consumido no hospital, quase como um viciado em uma abstinência severa. Realmente, o corpo de Vlad reagia de uma forma muito peculiar.

            – Não sei quanto tempo vou conseguir ficar acordado depois de uma viagem de carro... – Vlad murmurava.

            Integra de um riso suave. Claro que com vossa majestade sempre demandando tantas coisas ao mesmo tempo seria essa a primeira impressão de Vlad. Na verdade, foi a dela também, e o secretário do outro lado da linha de telefone teve muito trabalho em se explicar para uma Integra histérica e gritando:

            – Não Vlad. Ela vem até aqui. Por algum motivo, ela se sente como se o fato de você ter sido agredido no palácio fosse virar um escândalo mundial caso ela não lhe dê toda a atenção.

            – Hum... Ela tomou todo esse cuidado com Joseph?

            – Claro que não. Ele não é um arquiduque.

            – Nem eu. – Vlad murmurou com um sorriso suave. – E no caso dele havia testemunhas.

            – Bom, a Rainha acha que você é, mesmo com ABSOLUTAMENTE TODO MUNDO afirmando que você é um conde. E é claro que há testemunhas no seu caso, só que ninguém ainda acusou Joseph. Aliás, quando você estiver disposto, posso chamar um oficial para você poder dar a queixa oficial.

            – Não vou prestar queixa. – Ele murmurou, aproximando inconscientemente a cabeça para mais perto dos dedos de Integra, que havia diminuído consideravelmente o ritmo.

            – Não? Então vai concordar em me deixar dar um tiro na orelha dele?

            – Também não.

            – Hum... Que coisa mais chata. – Integra disse, soando muito como uma criança mimada.

            – Pois é. Estão dizendo alguma coisa?

            – A mídia obviamente fez a festa. Do meu casamento que não foi, a terem espancado meu noivo que vai ser, do fato de eu ter salvado a sua vida e de eu ter deixado para trás o melhor partido da Inglaterra. Incrível como ninguém fez a conexão do fato de você ter sido atacado com o fato de Joseph ter sido largado “no brinde”, pra não dizer no altar.

            – Ninguém acusaria o sobrinho da rainha. – Vlad murmurou, quase dormindo outra vez.

            – Filho do primo da esposa do irmão do marido da rainha. – Integra o corrigiu, mas Vlad fez um som com o fundo da garganta que claramente dizia “Tanto faz”.

            – Você não respondeu a minha pergunta... – Integra murmurou,  aproximando os dedos do pescoço de Vlad, agora tentando virar a cabeça dele para a direção dela.

            – Amanhã, depois... Creio que não faça diferença. Afinal, o que impedirá vossa Majestade de adentrar a mansão Hellsing caso ela assim deseje?

            – Meu exército.

–“...”

– Victoria?

– “....”

– Ah, tudo bem.  Mas Vlad?

            – Milady?

            Integra se aproximou mais uma vez, murmurando no ouvido de seu noivo. Noivo.

            – Você vai precisar tomar banho antes dela chegar.

            Vlad riu. Ele queria. Queria muito. Mas alguma coisa entre a proximidade de Integra e seu toque suave o conduziu novamente para um sono superficial e tranqüilo.

            O dia seguinte começou muito cedo. A rainha tinha combinado de chegar às quatorze horas, mas Integra sabia que preparar Vlad levaria tempo e exigiria muitas pausas. Vlad tinha que estar pronto e descansado na hora em que a rainha chegasse, o que significava que o banho, se vestir, comer, entre outras coisas tinha que estar resolvido a tempo de Vlad voltar a dormir por pelo menos uma hora antes do horário, senão a rainha encontraria um Vlad perfeitamente apresentável e completamente inconsciente.

            Claro que Vlad protestou quando Integra, que pelo menos teve o bom senso de ir sozinha, começou a abrir os botões do pijama dele, com a clara intenção de enfiá-lo na banheira cheia de água e espuma. Depois desistiu da ideia, colocando-o sim na banheira, mas apenas para que ele tivesse onde se sentar e apoiar as costas e a mão quebrada (para fora da borda da referida banheira), mas com a ducha do chuveiro direcionada. Seria mais fácil para enxugá-lo depois.

            Da cintura para baixo Vlad teimosamente e com uma única mão conseguiu dar conta, mas não pode fazer nada quanto à área das costas e pescoço, cujo ângulo forçava suas costelas machucadas, ou o peito com os pontos que ainda exigiam coordenação, muito menos com os cabelos, onde seria necessário usar as duas mãos.

            Tanto que ele acabou aceitando a humilhação que lhe era imposta, cedendo aos toques hesitantes mas eficientes de Integra.

            – Milady? – Vlad perguntou, enquanto Integra terminava de enxaguar os cabelos dele, procurando por algum tipo de condicionador. Vlad podia não cuidar muito do cabelo, mas ela tinha certeza que um pouquinho não ia fazer mal.

            – Sim Vlad?

            – Foi a rainha quem mandou que a senhorita se casasse comigo?

            – O que?

            – Joseph disse alguma coisa...

            – Bom Vlad, você sabe melhor que eu que a condição da rainha para que eu não me casasse com Joseph era me casar com você... Mas ordens expressas eu não recebi...

            – Mas mesmo assim a senhorita aceita?

            – Aceitar o que? Até onde eu sei ninguém me propôs nada.

            – Claro. Ingenuidade da minha parte. – Vlad murmurou, abrindo os olhos para tentar ver o que Integra estava fazendo com o seu cabelo.

            – Mas eu ouvi Vlad. Eu posso não ter entendido as palavras, mas eu ouvi o que você disse para o Joseph naquela noite. E a força ali me fez ver que é o certo a fazer. Que o seu lugar é ao meu lado, e o meu ao seu, e que o resto a gente ajeita. Temos tempo afinal.

            – Está me pedindo em casamento, Sir Hellsing? – Vlad brincou, fechando novamente os olhos enquanto Integra enxaguava o creme do cabelo dele.

            – Por mais antiquado e estranho que isso lhe pareça, caro Conde, aparentemente eu já o fiz e assumi que Milord já o tenha aceitado.

            – De fato... Mas espero que essas modernidades terminem por ai. Faço questão de escolher o anel, e as alianças depois...

            – Só se conseguir ficar acordado e alerta por mais de trinta minutos. – Ela brincou, enquanto terminava de passar uma toalha pelo rosto dele. – Pronto, vamos sair daí e arrumar alguma coisa para você vestir.

            E, meia hora depois, lá estava um conde romeno sentado no sofá da sala, vestido em uma calça jeans, camisa e meias de lã, tudo devidamente coberto por um cobertor. E sim, Integra tinha escolhido aquela roupa de propósito. Não ia deixar Vlad ser visto de pijamas, mas também não ia vestir o rapaz formalmente. Estavam em casa afinal e a rainha que se adequasse.

            No fundo, Integra estava adorando aquele ar de superioridade que seu noivado lhe passava: a rainha ainda achava que Vlad era um arquiduque, e não era ela quem ia desmentir. Fora que Vlad era mesmo membro direto da família real e blá blá blá, e bem foi o REI da Valáquia alguns séculos atrás, então não era bem mentira.

            E plantada no braço do sofá, passando os dedos pelos cabelos negros e úmidos de um conde já cedendo ao sono estava a referida Sir Hellsing, que de repente e não mais que de repente, achava que se deixasse o conde sozinho por um minuto que fosse, ele ia se desfazer no ar. Abandoná-la novamente, dormir e não mais acordar, se esquecer do amor que profetizou tão eloquentemente na carta e com tanta força para Joseph. Afinal, ela também não esqueceria da falta de esperança com a qual Vlad a tirou para dançar: conformado, derrotado. Ali ela entendeu que Vlad não lutaria por ela e isso era muito assustador. E se amanhã ele resolvesse que não merecia nada daquilo e fosse embora? E se quisesse algo mais do que uma mulher apaixonada por outro homem, não, por um monstro desaparecido há dois anos?

            E ali, escondendo seu terror por aquela máscara de superioridade de quem tinha certeza que o outro a amava mais do que ela o amava, ela brincava de não se importar, de se casar por conveniência, de cuidar dele porque ele precisava de cuidados...

            Vlad estava mais forte e mais preparado para lidar com a dor do que Integra jamais estaria.

            Vlad moveu a cabeça para os lados, como se quisesse aliviar a tensão no pescoço. Integra tirou a mão dos cabelos úmidos, descendo-a para a nuca de Vlad, fazendo um pouco de pressão.

            – Não precisa fazer isso. – Vlad murmurou, mas mesmo assim virou a cabeça a ponto de afundar o nariz na cintura da Hellsing.

            – O que Vlad? – Integra perguntou, não tirando os dele.

            – Não precisa me tratar como se me devesse alguma coisa. Não precisa me mimar.

            Integra deu um sorriso triste, mas continuou com seu jogo sem graça:

            – Só enquanto você estiver dependendo de mim pra tomar banho.

            – Não precisa me rebaixar para se sentir importante também, ainda que por brincadeira. Dói.

            – Não tive a intenção de te ofender Vlad.

            – O que dói é ver que precisa desse artifício, Milady.

            Integra baixou o rosto, sentindo o cheiro dos cabelos recém lavados de Vlad, que devido à hidratação extra que recebeu por causa do condicionador estava começando a formar ondas, com o real potencial de virarem cachos caso o cabelo fosse mais comprido. Ficou naquela posição por vários minutos, em silêncio, a ponto de achar que Vlad tinha cochilado outra vez.  Depositou um beijo muito singelo e sem personalidade na testa dele, murmurando, meio que contra sua vontade:

            – Eu não quero te perder de novo.

            Vlad alcançou uma das mãos dela com sua mão não quebrada, traçando pequenos círculos com o dedão. A resposta veio em um sussurro mais fraco ainda:

            – Eu também não.

            E naquele momento, nenhum dos dois percebeu que nenhuma promessa foi feita, nenhum dos dois se preocupou em assegurar ao outro que estaria ali e que nenhum dos dois acreditava que aquilo era realmente amor, e que fariam de tudo para que ficassem juntos.

But my dreams, they aren't as empty

As my conscience seems to be

I have hours, only lonely

My love is vengeance, that's never free

When my fist clenches, crack it open

Before I use it and lose my cool

When I smile, tell me some bad news

Before I laugh and act like a fool

And if I swallow anything evil

Put your finger down my throat

And if I shiver, please give me your blanket

Keep me warm, let me wear your coat

No one knows what it's like, to be the bad man

To be the sad man, behind blue eyes


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Notas finais do capítulo

E lá vamos nós de novo.
Essa semana apresento meu projeto de pesquisa e entrego minha monografia (sim, duas coisas diferentes) então me desejem sorte!
Até a próxima! Amo vocês!



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