Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 21
Capítulo 21.Medo


Notas iniciais do capítulo

Ohhhh, olá! Não tem nada a ver com esta fic, mas uma vez que estou completamente viciada em Ironman estou escrevendo uma fic Pepperony. Espero sinceramente não atrasar para postar esta, mas creio que agora as coisas fiquem mais velozes, já que minha sprovas finalmente acabaram! Música de hoje é "oceano" do Djavan. Boa leitura!^^



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1.   

Assim
Que o dia amanheceu
Lá no mar alto da paixão,
Dava prá ver o tempo ruir
Cadê você?
Que solidão!
Esquecera de mim?

Enfim,
De tudo o que
Há na terra
Não há nada em lugar
Nenhum!
Que vá crescer
Sem você chegar
Longe de ti
Tudo parou
Ninguém sabe
O que eu sofri...

            Integra tinha acordado muito cedo naquele dia. Não conseguiu dormir com a lembrança da conversa que ouviu entre Vlad e a Rainha no dia anterior. Por um lado, estava extremamente irritada com a velha monarca por se intrometer em sua vida. Por outro, estava confusa quanto à resposta de Vlad: ele não queria se casar com ela ou realmente estava respeitando sua individualidade? Difícil saber. Então, tentava, em vão, analisar alguns padrões de ataques e decidir a melhor estratégia de ação. Como as linhas no computador se embaralhavam, imprimiu tudo em um mapa A2, que repousava sem ser analisado em frente aos seus olhos perdidos.

            Por um lado Integra gostava da ideia do rapaz se opondo à Rainha, de forma tão discreta e ainda sim consistente. Por outro, uma sombra de algum sentimento estranho a assolava. Ela não sabia bem que sentimento era esse, mas era algo escuro, algo que ela não queria. Algo que a Hellsing simplesmente decidiu que não gostava. O que ela não sabia era que esse sentimento tinha um nome bem comum: era medo. Integra sabia o que era o medo, mas aceitar que era isso que sentia naquele momento era algo insuportável para ela. Por que e se Vlad não quisesse assumir o compromisso? Seria ela mesmo obrigada a se casar com Joseph?

            ESPERA! Ela era Sir Integral Wingates Fair.... Que se dane, ela era a dama de ferro da Hellsing, a mulher que criava vampiros como se fossem chinchilas em gaiolas! Que controlou durante mais de uma década com rédeas curtas a criatura mais poderosa da noite! Não era a Rainha, nem Vlad, nem Deus e muito menos Joseph que a obrigaria a se casar! Bom, mas Vlad...

            NÃO! Ela tinha sim o direito de escolher! O que a Rainha faria afinal? Além de caçar seu título de Sir, lhe tirar a Hellsing, expulsar do país ou mandá-la para a prisão não havia muito o que a velha monarca pudesse fazer.

            Voltou a se concentrar no papel a sua frente, reparando que algumas ruas formavam um quadradinho quase perfeito. Foi o start para imaginar um dente de roedor e imediatamente imaginar uma chinchila de pelos e chapéus vermelhos em uma gaiola lhe encarando! Assim já era demais...

            Duas batidas suaves chamaram sua atenção. Integra se levantou e foi abrir a porta de mau-humor, dando de cara com Vlad do outro lado, com cara de bobo olhando para ela. A loira se irritou de verdade com a cena. E ele não ia falar nada não? Não ia contar para ela dos planos da Rainha, do casamento, de nada?

            –Não vai falar nada? – Ela perguntou, cobrando dele a leitura de seus pensamentos.

            –Milady? – Agora a expressão dele já parecia um pouco desconcertada.

            Integra respirou fundo, dando as costas para o rapaz e voltando para sua cadeira.

            Vlad pensou um pouco, passou as mãos pelos cabelos e caminhou até ela, a passos incertos.

            –É que o chá está servido e...

            – Que chá? – Integra perguntou, de extremo mau humor.

            Vlad ficou olhando para ela, como se tivesse um dogma contestado.

            – O chá. – Ele respondeu, simplesmente, não sabendo se explicar melhor.

            – QUE CHÁ? CHÁ POR QUÊ? – Integra berrou, já perdendo a paciência com aquela múmia a sua frente.

            –Não seria esse um costume inglês? – Ele perguntou, virando um pouco a cabeça de lado para encará-la. Naquele momento, ele realmente parecia uma criança fazendo uma pergunta do tipo: da onde os bebês vêm?

            – Quando você vai entender que o chá é as cinco? CINCO!

            – Milady, já são cinco e quinze...

            Integra arregalou tanto os olhos que quase tirou o tapa-olho do lugar. Como assim cinco e quinze? Ela tinha começado a trabalhar naquele maldito caso as oito da amanhã! Ela tinha perdido o almoço? Aliás, e por que ninguém lhe avisou do almoço? Onde estava Scott? E principalmente...

            – Por que você veio me chamar e não Scott?

            – Porque tem algo que quero falar com a senhorita, Milady... – Vlad disse, se aproximando timidamente.

            Então, depois de uma noite e um dia de silêncio, ele finalmente ia se pronunciar acerca da ordem da Rainha. Muito bem!

            – É que ontem eu... o que isso significa? – Ele mudou de assunto, apontando para um circulo vermelho em uma parte do mapa, de repente muito interessado no que ela estava fazendo.

            Integra respirou fundo, contou mentalmente de 1 a 10, e depois de 10 a 1, olhou para onde Vlad apontava e depois respondeu:

            – Esse lugar foi atacado há sete dias. Acreditamos que tenham sido vampiros, mesmo com o comportamento fora do padrão.

            – Como assim? Vlad olhava para ela, genuinamente interessado.

            – Bom. – Integra se encostou em sua cadeira para relatar os fatos que já conhecia tão bem, de tanto que tinha analisado o caso em vão. – Havia muito sangue espalhado, mas nenhum ghoul ou corpo desaparecido. Inclusive, pelo poder e velocidade do ataque, acreditamos que devam ser uns cinco ou seis vampiros no mínimo, mas não há indícios que esse número tenha se alimentado das vítimas...

            Integra abriu a primeira gaveta de sua mesa, entregando algumas fotos para Vlad dos ataques. O rapaz as olhava atentamente, com uma expressão muito mais fria do que Integra gostaria. Uma feição congelada a cada foto bizarra que olhava, com membros decepados, órgãos espalhados, posições humilhantes e sangue pelo teto das paredes. Quando Integra as viu, pela primeira vez quatro dias atrás, sentiu muito nojo. Era quase como se o cheiro daquele lugar pudesse invadir suas narinas. Mas a expressão imutável dele era com certeza melhor que o sorriso que Alucard faria caso visse as tais imagens.

            Vlad parou em uma das imagens, analisando-a por alguns segundos, atirando-a na mesa em seguida. Na imagem havia várias meninas de uns quatorze anos cada estavam com os corpos nus cheios de arranhões e outros tipos de marcas, entrelaçados formando uma grotesca imitação de uma orgia. As gargantas estavam degoladas, os pulsos também.

            Integra ergueu os olhos, não querendo encarar os corpos ainda infantis, mas já com desenhos de mulher que a posição grotesca exaltava. Buscava respostas nos olhos frios e amarelos de Vlad.

            – É comum que os vampiros de baixa categoria estuprem as vítimas antes de matá-las. Até mesmo essas posições, embora nunca tenha visto tantas assim.

            Vlad apontou novamente para a mesma marca vermelha.

            – O que isso significa?

            – Vlad... é onde o ataque ocorreu...

            – Não. – Ele chacoalhou a cabeça suavemente. – Não a marca, o símbolo ao lado.

            Integra aproximou mais o rosto para ver do que se tratava, fazendo muito esforço para focar o símbolo com o olho míope.

            – É um poço de água, que havia ao lado da escola...

            Vlad fechou um punho, batendo o com força sobre a mesa. Se as palavras corressem um pouco mais livres entre seu cérebro e sua boca ele teria dito um palavrão daqueles.

            – Vlad...

            – A polícia acha que é um serial killer não é? – Ele perguntou, desconcertado. – Acreditam que os assassinos atacam jovens garotas em locais onde há água por perto porque lavam seus corpos antes do ataque? Por que gostam de tocá-las e senti-las enquanto ainda estão vivas?

            – Vlad, como você sabe...

            – Por que a Hellsing acha que foram vampiros?

            Integra estava confusa, mas sem conseguir raciocinar muito bem se limitou a responder a pergunta:

            – Um deles foi atingido por um tiro que deveria ter matado uma pessoa normal, mas continuou correndo...

            Vlad fechou os olhos, respirando fundo. Quando os abriu, encontrou uma Integra apreensiva encarando seus olhos âmbares, tentando em vão desvendar o que se passava na mente dele.

            – Eles não as lavam porque gostam de senti-las. É um ritual. Eles as purificam com terra e água antes de matá-las. É por isso que precisam das minas.        

            – Como...

            – Tem tanto sangue, porque eles não bebem. A ideia é esparramar tanto sangue pela terra que seja impossível limpar, para que quando chova ele seja lavado e escoado até o rio.

            Integra estava pasma. Como Vlad sabia tudo aquilo? Olhou para o papel a sua frente, tentando entender do que ele estava falando.

            – Milady. – Vlad pegou uma caneta da mesa e começou a rabiscar na planta que Integra estava analisando. Circulou os três pontos onde os ataques ocorreram e depois outros dois pontos altos, também próximos de fontes de água. – O que você vê?

            – Que você encontrou um padrão impressionante. – Ela respondeu, tomando a caneta da mão dele e traçando um pentagrama ao ligar os cinco pontos que Vlad desenhou. – Vou enviar tropas para esses outros dois lugares, para prevenir os ataques.

            – Mais importante que isso, Milady. Deve enviar alguém para exterminar o cabeça no rio.

            – O que?

            – O importante não é o padrão, é o propósito. – Vlad percebeu a expressão de Integra se fechar, e se corrigiu. – Não quis ser rude Milady. O fato é que quando chover, todo esse sangue derramado se concentrará no ponto mais baixo, após o escoamento do último curso d’água. É lá que ele deve ficar para poder concluir o ritual.

            – Que ritual é esse Vlad?

            – De evocação. Não sei bem de quem ou de que, mas sei que nunca quis descobrir. Milady, não são apenas meninas como eles estão fazendo parecer. Igrejas, conventos, onde espera-se encontrar virgens.

            – Virgens?

            – Elas não foram estupradas como a polícia acha. Já estavam mortas. Seu sangue puro já havia sido drenado. O sangue é a chave de tudo.

            – Vou enviar as tropas...

            Vlad se afastou um pouco da mesa, lembrando-se de repente por que foi até ali. Ele tinha que conversar com Integra, mas de repente tudo pareceu tão pequeno...

            – Vlad, como sabe disso tudo?

            – Já vi isso antes.

            Vlad escondeu sua expressão entre as pontas dos cabelos negros. Integra pensou em chamá-lo de alguma forma, mas de repente ele ergueu seus olhos âmbares e a encarou, como se tivesse se lembrado de algo muito urgente:

            – Milady! Não vai tomar seu chá?

            Naquela mesma noite um seminário foi atacado, e não houve nada que pudessem fazer para deter os ataques. Na verdade, Integra tinha tomado providências para defende-lo, mas as poucas tropas que chegaram a tempo haviam sido dizimadas. Integra tinha ido vistoriar o local na manhã seguinte, tendo Vlad em seu encalço, sob o pretexto de que “de forma alguma ela iria sozinha até onde ELA era a caça principal”. Integra não contestou, embora internamente tenha achado graça de ter ido até o local acompanhada por Vlad e Celas, todos virgens até onde ela sabia.

            Os corpos mutilados estavam sendo recolhidos, nas paredes podia-se ler mensagens escritas em sangue. Algumas estavam em latim, e essas ela entendeu como “nosso senhor há de voltar”, mas as outras ela foi incapaz de traduzir, estando em uma língua que ela não conhecia, havia claro vários símbolos que ela nem se importou em tentar interpretar.

            Vlad suspirou fundo, Integra apenas olhou para ele com os cantos dos olhos.

            – Estamos lutando com vampiros egípcios? Isso não faz nenhum sentido!

Vlad olhou para ela, estava claramente confuso.

– Vlad... O primeiro vampiro que se tem notícia nasceu em 1431. Por que diabos um deles escreveria em egípcio antigo?

Vlad fingiu não ter entendido o fato de que ela provavelmente falava dele, até porque ter noticia e saber eram coisas completamente diferentes e... Sinceramente? Ela estava praticamente dizendo que aquela bagunça secular era culpa dele, por ter espalhado o vírus do vampirismo e... Melhor voltar ao maldito assunto:

– E por que um deles escreveria em aramaico?

– E em latim? Espera, aramaico? – Integra perguntou, interessada de repente.

Vlad apontou para uma frase escrita em sangue na parede:

– “E com sorrisos no rosto o eliminamos. Agora nós que andamos sem vida tristemente nos sacrificamos pelo retorno do nosso rei”.

Integra ficou pensando por alguns segundos. Parece que aqueles malditos vampiros estavam mesmo prestes a evocar alguma coisa. O caminho de volta para casa foi cruel para os dois, um silencio mórbido e desconfortável entre eles todo o caminho. Celes dirigia, uma vez que Integra não encontrou força suficiente em suas mãos trêmulas para conduzir o veículo propriamente. Estava sentada no banco de trás, com Vlad ao seu lado. O rapaz estava distraído, olhando pela janela, perdido em seus pensamentos. Sentiu a necessidade de falar:

–O que você acha que eles pretendem evocar? – Ela perguntou, baixando os olhos.

Vlad olhou para os lados, então Integra percebeu que ele foi muito sincero na noite anterior quando disse que “preferia não saber”.

– Vlad?

– Milady?

– Quando você viu isso da última vez, o que eles pretendiam?

– Criar alguma coisa...

Integra procurou os olhos de Vlad novamente, mas agora ele estava distante:

–Vlad?

Ele procurou pela mão dela, encontrando-a fria e levemente trêmula. Soltou um sorriso triste. Sorria para ela, e apenas por ela:

– Milady, prometeste-me que iríamos revolver tudo. Agora eu lhe asseguro: Vai ficar tudo bem. Só temos que fazer o que fazemos melhor.

Integra aos poucos procurou pelo calor no corpo dele, percebendo tarde demais que estava inclinada sobre o ombro de Vlad:

– E o que seria?

– Oras... – Ele riu sem humor, mas parecia mais sincero dessa vez. – Eu vou arriscar minha vida nos campos de batalha, e você vai comandar seu mais fiel servo contra um mal desconhecido.

O carro parou em frente à mansão. Vlad saltou de seu banco, abrindo a porta para Integra. Ela saiu do carro, andando sem muito ânimo, sendo praticamente empurrada por uma extensão invisível da mão de Vlad, dez centímetros distante da lombar dela.

Uma vez na escada, Vlad deu espaço para que ela continuasse seu caminho sozinha. Integra sentiu falta da presença dele, que ela sentia apesar da distância, virou-se, pensando que ia encarar as costas de Vlad descendo as escadas, mas ele ainda estava ali, olhando fixamente para o que antes era a nuca dela, agora erguendo um pouco os olhos para sustentar o olhar.

–O que quis dizer com comandar meu mais fiel servo? – Ela perguntou, estranhando o comportamento dele, tão parecido com o do vampiro.

Vlad sorriu, não conseguiu evitar:

–Está no meu sangue Milady. Lutar e morrer por uma bela dama.

Integra corou, e Vlad se viu perdido entre lembranças sobre suas partidas anteriores. Ele sempre quis acreditar que suas batalhas eram para o bem estar de Doamnei, mas nunca conseguiu de verdade. Desta vez, sentia do fundo de sua alma que aquilo era para Integra. Se ela lhe permitisse, claro.

Integra desceu os três degraus que o separavam dele, passando a mão suavemente sobre a testa de Vlad, afastando alguns fios de cabelo que caiam insistentemente sobre o nariz do rapaz. Ele era definitivamente um tipo de homem que ela não costumava encontrar frequentemente: era bonito, sincero, perfeitamente capaz e a fim de combater vampiros, a par da organização e agora ela sabia, importava-se realmente com ela. Aproximou os lábios do dele, e o mundo parou. Não havia mais Rainha, não havia mais rituais ou massacres, só havia Vlad, e seus lábios.

Amar é um deserto
E seus temores
Vida que vai na sela
Dessas dores
Não sabe voltar
Me dá teu calor...

Vem me fazer feliz
Porque eu te amo
Você deságua em mim
E eu oceano
E esqueço que amar
É quase uma dor...

Só sei viver
Se for por você!

        


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Notas finais do capítulo

Reviews garantem que Papai Noel, e não Jack o rei das abóboras, entregue seu presente de Natal!



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