Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 20
Capítulo 20.Descontrole


Notas iniciais do capítulo

Ohhhh long time no see...
Estou com problemas criativos... muito trabalho, muitas ideias pipocando na minha cabeça, e tendo que lutar contra eles porque acabariam com esta fic... Acho que é o capítulo mais longo da série, então espero que valha a pena a demora. Ah sim, não garanto a data da continuação, mas fiquem de olho no site, pretendo lançar uma nova história da série "noites" que terá tudo a ver com a cena final deste capítulo...

A parte queria agradecer a Bellaloveless, review nº 100 da fic.

A música é na verdade um poema de Lord Byron, que eu acho que reflete muito bem a personalidade da Integra. Recomendo que ouçam a versão gravada com Sissel, chamada "she walks in beauty" homônimo ao poema. Sugiro este link do youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=73w3wWYjcDk&feature=related

Boa leitura a todos!


Eu já postei e repostei isso 4 vezes, o nyah não está aceitando a formatação hoje... erros grosseiros e sinais estranhos não são minha culpa!



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            Capítulo 20.Descontrole

           

She walks in beauty, like the night
Of cloudless climes and starry skies;
And all that's best of dark and bright
Meet in her aspect and her eyes:
Thus mellowed to that tender light
Which heaven to gaudy day denies.

            Ninguém sabia bem de onde havia surgido a ideia. Celas comentou alguma coisa, Vlad achou interessante, Integra disse que era possível, conversa vai, conversa vem e o resultado era Vlad atrás do volante de um carro, tendo Celas como sua instrutora. Integra ficou na mansão.

            Como as coisas tinham chegado naquele ponto ninguém tinha certeza, mas no fundo tanto Vlad quanto Celas ficaram um tanto quanto aliviados: Integra seria uma péssima instrutora. Vlad levaria um tiro na primeira marcha que ele não conseguisse trocar.

            Mas isso tudo foi ontem. Hoje as coisas estavam bem diferentes. Celas fez um esforço e trocou seus horários de um jeito muito perigoso: começaram as aulas às seis da manhã. A vampira tinha acordado de extremo mau-humor, mas tinha combinado, então foi.

            Já Vlad não tinha mais tanta certeza se queria assumir a direção de um negócio tão grande e complexo quanto um carro. Para ele pareceu a mesma coisa que montar em um búfalo irritado, com a diferença de que seria ele mesmo o único responsável por qualquer acidente. Mas Celas tinha se disponibilizado a ajudá-lo, então ele foi.

            Já eram quase meio dia e não havia progressos palpáveis. A culpa não era bem de Vlad. Levando-se em consideração a época em que viveu e o fato de ter tido pouquíssimas oportunidades de ver alguém dirigindo, ele até que estava se saindo muito bem. O maldito era habilidoso, atento e inteligente. Ele já tinha entendido como tirar o carro, e com exceção de andar de ré, e da hora de trocar a marcha que não fazia muito sentido, ele até que estava se dando bem com a direção, a troca de câmbio, a embreagem...

            O problema mesmo era Celas. Se o carro estava a 30 km/h ela gritava que estava muito devagar, e mal o carro chegava a 50 km/h ela gritava que estava muito rápido, que ia perder a direção, que estava muito perto da guia, todos os ataques histéricos possíveis. Isso estava deixando o rapaz extremamente nervoso. Chegou a um ponto que ele já estava frustrado com a direção, não conseguia mais se concentrar, nem raciocinar direito.

            O que salvou toda aquela situação foi um telefonema de, quem diria, Integra para Celas, ordenando que os dois voltassem imediatamente para a mansão. Foi a melhor notícia que Vlad podia ter recebido, saiu do carro, deu a volta e se jogou no bando do passageiro, finalmente respirando aliviado. O leve tremor de suas mãos foi cedendo aos poucos, passando despercebido aos olhos vermelhos de Celas, que se concentrava em dirigir de volta à mansão, incomodada com o sol refletido na estrada.

            Quando finalmente chegaram, Vlad estava mais branco que uma folha de papel. Celas dirigiu tão rápido, com movimentos tão amplos e com tanto mau-humor que o rapaz viu a morte passar diante seus olhos a cada árvore (ou poste) de que Celas desviava no último segundo. Entrou na mansão em pleno autismo, beirando a catatonia. Integra, que estava no sofá, lendo o jornal do dia com um cigarro nos lábios ficou longos segundos olhando para ele, quando resolveu anunciar sua presença:

            – Como foi?

            Vlad olhou para ela pelos cantos dos olhos, sem virar o rosto.  Deu mais alguns passos trêmulos até a mesinha onde jaziam as garrafas de bebida. Pegou uma garrafa de vinho, mas tão logo sentiu o cheiro da bebida ao abrir a garrafa, a fechou e a depositou novamente na mesa. Integra ficou olhando a cena, imaginando se ele havia desistido, e o porquê de querer beber em primeiro lugar, já que nunca o vira se servindo daquele tipo de coisa nos meses em que estava hospedado na mansão. Bom, o dia do baile não contava.

            Logo uma das dúvidas foi sanada. Vlad escolheu outra garrafa, servindo uma dose de whisky. Pensou um pouco, e completou o copo. Bebeu o conteúdo em um único gole, balançando suavemente a cabeça.

            – Foi tão ruim assim? – Integra brincou, um sorriso irônico em seus lábios.

            – Pior. – Ele respondeu, depositando o copo vazio na mesa, e fechou a garrafa.

            Integra não pode evitar de rir. No fundo, estava se divertindo de verdade com as tentativas de Vlad de se adequar ao século XXI. Voltou a se concentrar no jornal.

            – O que eles esperam vender nesse anúncio? – Seus pensamentos foram interrompidos quando ouviu a voz de Vlad, perigosamente perto dela, analisando alguma coisa na parte de trás do jornal que ela lia.

            Integra virou o jornal para ver do que se tratava. Era um anúncio de lingeries, de alguma marca famosa que estava chegando a Londres, nada muito interessante na verdade.

            – As roupas. – Integra respondeu, sem muito ânimo.

            – Que roupas? – Vlad perguntou, parecendo genuinamente surpreso.

            – As lingeries oras. – Integra percebeu que Vlad ainda não tinha entendido bem. – As peças íntimas, não é tão difícil de entender!

            Vlad ficou pensativo por alguns instantes.

            – As mulheres usam isso? Por quê?

            Vlad parecia realmente surpreso com a revelação. Integra começou a pensar por onde começar a explicar, secretamente com medo de dar alguma margem para o rapaz perguntar se “ela tinha uma daquelas”. Vlad já tinha sido apresentado à parte íntima do vestuário masculino, mas tinha achado até interessante (principalmente as boxers), agora, aquela tirinha de renda estampada no jornal não fazia sentido nenhum, principalmente que, por ser um jornal de distribuição diária, trazia apenas o tecido das peças mais ousadas, sendo que o rapaz conseguia apenas imaginar onde certas tiras de pano deveriam ficar. A ideia só estava ficando pior.

            – Sedução, eu acho. – Integra respondeu após pensar um pouco, tentado se concentrar novamente no jornal, tentando encerrar o assunto.

            – E por que as mulheres de hoje em dia acham que vão seduzir alguém assim? Onde o mistério? Onde a imaginação? Preciso de outra dose de whisky...

            Integra ergueu os olhos do jornal, para ver se Vlad ia realmente beber mais, mas o rapaz acabou se atirando no sofá. Vê-lo tentando se adequar ao século XXI era realmente engraçado.

            Aliás, tinha até se esquecido. Depois de três semanas de sumiço, Joseph tinha dados as caras novamente. Não tinha vindo falar com Integra, nada disso. Tinha literalmente colocado o nariz não mais tão perfeito pra fora da porta de casa outra vez. E a Rainha ficou sabendo. A Rainha sempre ficava sabendo. Então, como toda boa velha rica que não tem nada pra fazer, digo, toda monarca digna, marcou um chá no palácio, chamou Joseph, Integra e permitiu que ela trouxesse um “acompanhante”. Mais direto que soco na cara não? Ela queria mesmo era ver como Vlad reagiria a Joseph, ou Joseph à Vlad, ou Integra aos dois. Ah, ela queria mesmo era ver se o circo pegava fogo. E o chá era hoje, dali a poucas horas.

            – Hey. – Integra chamou a atenção de Vlad atirando um chocolate sobre ele, que bateu em sua testa, mas pousou seguro sobre as mãos em seu colo. – Tente se animar. Temos que visitar a Rainha hoje!

            – Claro, de fato um programa muito animador...

            Integra tentou conter um sorriso, se levantou e foi tomar banho. Teria horas de luta com o pente e o espelho até estar finalmente pronta para ir até o palácio. Por que desta vez não estava tão irritada?

                                   

            Uma hora, nem um minuto a mais, nenhum minuto a menos, e estavam os dois prontos, impecavelmente casuais em suas roupas distintas. Porque era um encontro simples se comparado ao baile, mas ainda era com a Rainha. Integra tentava se entender com sua saia cinza, dois dedos acima do joelho, a camisa branca bem presa na saia, marcando de forma suave sua cintura, ainda faltava colocar os saltos baixos. Vlad vestia uma camisa cinza escura riscada de cinza claro, colete, calça, e sapatos pretos, com uma gravata vermelha.

            – Nada de crucifixo hoje? – Integra perguntou, em um tom brincalhão, mas ver a expressão de Vlad se fechar tão rápido a fez mudar imediatamente de tom e assunto. – Eu vou dirigir. Chegando lá perto termino de me arrumar. – Apontou para os próprios pés descalços.

            – Estais linda mesmo sem os sapatos, Milady... – Vlad deixou um pensamento escapar por entre seus lábios, tão baixo que beirava um sussurro. Quando Integra perguntou o que ele havia dito, fingiu que não ouviu e rumou em direção à porta.

            A viagem foi, em geral, silenciosa, com um ou outro comentário sobre a paisagem e algumas poucas informações sobre as aulas de direção que Integra conseguiu extrair de Vlad. Uma verdadeira tortura mental para o rapaz. Uma roda gigante, divertida, conhecida e interminável para Integra.

            Esperavam o carro passar por todas as medidas de segurança. O rapaz observava, curioso, Integra tilintar os dedos no volante.

            – Pareceis mais animada que o normal, Milady...

            –Bom, eu não devia te encorajar, mas estou ansiosa por ver o estrago que fez na cara do Joseph...

            – Milady?

            Integra o olhou surpresa, não esperando ter que explicar a situação toda. Não se importava mais também...

            – Bom, o Joseph sempre se orgulhou muito da aparência que tinha. Você quebrou o nariz dele naquela noite e... bem, parece que não voltou mais ao normal...

            – Será que ficou tão ruim assim?

            –Bom, parece que ficou um nariz comum... mas sabe como é né? Por mais que eu odeie admitir, o nariz daquele mala era perfeito...

            – Realmente sinto muito por isso. Será que há algo que eu possa fazer?

            – Acho que é melhor nem tentar... – Integra respondeu, observando o guarda se aproximar para avisar que poderiam continuar.

            – Entendo. Nariz perfeito... – Vlad começou a ficar pensativo, tentando lembrar-se como era o nariz de Joseph, e porque Integra o achava assim tão perfeito. Pura curiosidade, coooooooooooooooom certeza.

            – É, era quase tão bonito quanto o seu...

            – Milady? – Vlad perguntou assustado, por um momento perguntando-se onde estava Integra, quem era aquela mulher e se dava pro mundo dar uma pequena parada pra ele descer.

            Integra corou violentamente ao perceber que não mantinha o menor controle sobre os próprios pensamentos, e pior, sobre os que fugiam de seus lábios. Engoliu pesado, manteve o olhar fixo na cancela que se levantava além do portão aberto e seguiu em frente. Seria com certeza uma tarde longa.

One shade the more, one ray the less,
Had half impaired the nameless grace
Which waves in every raven tress,
Or softly lightens o'er her face;
Where thoughts serenely sweet express
How pure, how dear their dwelling place.

            Em poucos minutos as paredes alvas do castelo se fizeram visíveis. Integra parou o carro e ambos desceram, sendo recepcionados por um mordomo magrelo e velho, que os conduziu para uma mesa posta em um jardim. A Rainha já estava lá.

            Fizeram uma reverência suave, sentando-se quando a Rainha gesticulou em direção a cadeira. Ela tomava seu chá, com o olhar perdido em algum ponto do horizonte, além da cabeça de Vlad.

            Os dois permaneciam em silêncio, tentando entender do que se tratava, esperando uma brecha para falarem. Permaneciam em silêncio por puro respeito.

            – Isto é um chá, meus caros. Podem se servir.

            Antes que se movessem, no entanto, o mordomo os serviu, sem perguntar o que ou como beberiam. A mensagem foi clara: beberiam o mesmo que a Rainha, um chá forte, amargo e sem açúcar.

            – Assim é a vida não? Milady... – Vlad se pronunciou em um meio sorriso, após afastar a xícara dos lábios. Integra permanecia em silêncio, procurando em seus pensamentos o porquê do rapaz ter quebrado aquela barreira de silêncio que tinha se estabelecido segundo antes, não sabendo se era algo bom ou ruim.

            A Rainha sorriu. Um sorriso fraco, é verdade. Débil. Mas ainda sim um sorriso. Então Integra percebeu o quanto ela sabia pouco sobre como se dirigir a um superior. Ela sempre teve muito respeito para com a Rainha, nunca cometeu nenhuma gafe nem nada do tipo, mas não sabia como conviver com ela. Para seus subordinados era uma líder voraz. Para sua majestade era uma serva impecável. Para seus iguais, seus amigos... não havia!  Apesar de tudo, seu pai era superior e Walter era seu subordinado, apesar de às vezes parecer que não... Alucard, agia como seu servo, mas de certa forma só a obedecia quando queria. Talvez ele a considerasse igual, ou ainda sim era superior a ela... Alucard sabia como se dirigir à Rainha, parecia saber agradá-la, mesmo quando dizia impropérios e ofensas...

            – Perspicaz.

            –Foi um elogio? – Vlad continuou, ao observar a Rainha continuar a tomar seu chá.

            – Vocês sempre podem adoçar o chá. Por que são jovens. Ainda não estão com a diabetes nas alturas.

            Integra ponderou um pouco sobre o que se tratava aquela conversa absurda. Por que a Rainha, a RAINHA, estava mantendo uma conversa dessas com Vlad? Sério que ela os chamou para conversar?

            – Milady, com a sabedoria que cultivou durante tantos anos, creio que não haja mais necessidade de procurar pela felicidade, apenas usufruir dela.

            –Vlad. – Integra se fez ouvir. – Não seja rude.

            A Rainha sorriu novamente ao ver o olhar de Vlad voltado para Integra, ignorando sua presença real inteiramente.

            – Parece ter uma opinião formada sobe o assunto, meu rapaz?

            – Majestade? – Vlad perguntou, não tendo certeza se deveria continuar.

            –Fale. – E tomou outro gole de chá.

            – Milady. Conheci um andarilho uma vez, que me disse algo que até hoje pesa em meu coração.

            Integra se limitou a ouvir.

            – Em meio aos mortos, ele sorria.

            A imagem de Alucard sorrindo durante a guerra se fez presente na mente da Hellsing. Imediatamente ela se viu novamente na guerra, combatendo o Major. Acordou de seus devaneios ao ouvir Vlad continuar seu relato.

            – Perguntei-lhe se não sofria pelos seus. E ele disse que sim. Perguntei se não sentiria a falta deles. E ele disse que sim. Perguntei se tinha alguém ainda no mundo. Ele respondeu novamente sim.

            – Deveria ser alguém muito especial... – Integra murmurou sem querer, apenas Vlad ouviu, continuando seu relato olhando fixamente para ela.

            – Quando perguntei quem, em nome de Deus poderia suprir a falta de todo seu povo, ele disse que tinha a si mesmo.

            – Para mim parece egoísmo apenas meu rapaz. Por que as palavras lhe tocaram tão fundo? – A Rainha perguntou, seus pequenos e cansados olhos analisando o rapaz a sua frente.

            Vlad voltou seus olhos âmbares novamente para ela, e disse, firmemente:

            – Por que em seguida, o andarilho apontou para o sol que nascia naquele momento e disse que o mundo continuava. E que se a vida que é suprema não para, ele que tem muito menos poder não se daria a esse luxo. Que mesmo que estivesse dilacerado, que tivesse perdido tudo o que era importante para ele, ele sorriria, mesmo não se sentindo feliz, ele sorriria. Porque o mundo não precisava de palavras tristes. Num momento tão doloroso, o que o mundo precisava era de palavras felizes, risos. E ele levaria seu sorriso para as pessoas, porque se elas sorrissem de volta, ele se sentiria feliz, e aos poucos a dor iria se esvair por si mesma. Porque lutar contra a dor só machuca mais...

            Integra percebeu o olhar de aprovação da Rainha, mas ainda ficou encarando Vlad por alguns segundos.

            – Há 50 anos, ele me disse algo parecido... – A Rainha voltou a falar, de olhos fechados. – Disse que se a felicidade não partisse de nós mesmos, não teria de onde vir, porque ele já tinha procurado e sabia que não estava em lugar nenhum.

            – São palavras sábias, mas tristes ao mesmo tempo. – Vlad completou.

            – Ele era triste. Seus lábios sorriam, mas seus olhos eram tristes.

            – Parece que saber o caminho, e estar disposto a percorrê-lo são coisas completamente diferentes não? – Vlad disse, servindo mais chá para a Rainha, mesmo sem ela ter pedido.

            – Algumas pessoas não estão prontas para serem felizes... – A Rainha discretamente agradeceu, voltando a beber o chá.

            Vlad sorriu, mas seu sorriso era triste, conformado.

            – Sir Hellsing. – A voz da Rainha se fez presente, em um tom muito mais alto e firme que antes.

            – Majestade? – Integra perguntou surpresa.

            – Por que não dá uma volta pelo jardim? Joseph está com os cavalos. Tenho certeza que os dois tem muito o que conversar.

            – Majestade? – Integra repetiu, incerta.

            A Rainha olhou para Vlad, entendendo o olhar inquisidor do rapaz. Era estranho ouvir a Rainha da Inglaterra dizer apenas o primeiro nome de quem quer que fosse.

            – Vá, por favor.

            E hesitante, Integra o fez. Pediu licença, levantou-se, fez uma leve reverência e foi caminhar pelo jardim.

            – Joseph é filho do primo da esposa do irmão de meu marido. – A Rainha disse para Vlad. – Não pertence a família real, mas acabou ganhando seus direitos na corte.

            Vlad apenas concordou, achando aquela situação repentinamente muito incômoda.

            – Não se preocupe, caro Conde Dracul. Pelo que fiquei sabendo, ele mereceu o que lhe aconteceu na noite do baile. O que me recorda... – A Rainha subitamente parou de falo por alguns segundos.

            – Milady?

            – Não acha, meu jovem, triste o fato de a felicidade não vir de fora, quando não temos mais forças para que ela venha de nós mesmos?

            – Milady. Tens algo que queira me dizer?

           

            Integra avistou os tais cavalos ao longe. Respirou fundo e continuou a andar. Em pouco tempo seus olhos encontraram Joseph, descendo de um cavalo, trajando calças pretas, pesadas botas de couro e uma camisa branca, aberta até a metade do peito, deixando a mostra a pele bronzeada e imaculada, um corpo perfeito conquistado com muito dinheiro, tempo e nenhum risco. Diferente do dela, diferente do de Vlad. Espera! O que Vlad tinha a ver com isso? Procurou focar no rosto do rapaz, atraindo imediatamente para si a atenção dele.

            –É bom vê-la novamente, Sir Hellsing.

            – Normalmente eu diria que não posso dizer o mesmo, mas aparentemente esta situação é tudo, menos normal.

            – Tens razão. – Joseph passou a mão na testa, afastando algumas gotas de suor para os cabelos claros. Integra reparou então que agora o rapaz usava cavanhaque, numa tola tentativa de disfarçar o nariz não-mais-tão-perfeito. – Na verdade, creio que lhe devo um pedido de desculpas.

            – Inesperado de sua parte. – Integra respondeu, desconfiada.

            – Concordo. Mas é necessário.

            – Joseph, tem algo que sabe que não está me dizendo?

            Joseph abriu um sorriso vitorioso, e ficou a encarar Integra por alguns segundos. A Hellsing se virou e saiu andando a passos firmes.

            – Gosta de cavalos? Tenho alguns muito valiosos aqui. – A Rainha continuou.

            – Gosto muito Milady. Mas creio que o ponto da conversa seja outro.

            – Muito bem. Meu caro conde Dracul. Sir Hellsing está na idade de se casar. Acredito que saiba que ainda hoje, para os membros da corte e da Távola Redonda, os casamentos são arranjados.

            Vlad ergueu uma sobrancelha, indicando que a Rainha podia continuar.

            – Tens certeza de que és um conde? Teus modos, tua força, tua presença. És um duque em todos os teus atos...

            – Milady. Continue por favor.

            – Como Arthur não está mais aqui, nem Walter ou mesmo o vampiro, eu mesma arranjarei o casamento de Integra. Estou velha, e não posso permitir que ela fique só neste mundo cruel.

            – Milady sabe que Sir Hellsing jamais aceitará, não sabes?

            –A ti, caro conde romeno, nada posso obrigar. Mas ela me obedecerá, com certeza. Será para seu próprio bem.

            –Milady cometerá um erro grave. – Vlad alertou, pousando o queixo sobre as mãos entrelaçadas, com os cotovelos apoiados na mesa.

            – Faz 50 anos desde que me disseram isso pela última vez...

            Silêncio.

            A Rainha voltou a falar, vários minutos depois:

            – Quero que se case com Integra.

            – Ela deve querer casar-se comigo.

            – Se não se casar com Integra, Joseph irá.

            – Milady? Acredita mesmo que isso trará algum bem?

            A Rainha se levantou devagar, tremulamente dando as costas para o rapaz na mesa:

            – Você vai se casar com Integra, então.

            Estavam novamente no carro, prontos para voltarem para a mansão Hellsing. Integra estava no volante, parada, aérea, perdida nos pensamentos, sem se importar em ligar o veículo.

            Quero que se case com Integra. Ela deve querer casar-se comigo. Milady? Acredita mesmo que isso trará algum bem?

            – Milady. Algum problema?

            Integra respirou fundo. Não devia ter ouvido a conversa da Rainha, mas a Rainha não tinha o direito de falar dela, por ela ou decidir sua vida por ela. Não tinha muito o que fazer agora também, a não ser esperar a ordem formal e ai sim, reagir propriamente. Tinha tempo para se preparar. Tentou disfarçar a ansiedade em um meio sorriso falso:

            – Vlad. Quer dirigir até os portões? É bem quieto e não tem muito no que bater. Eu assumo quando chegarmos na estrada.

And on that cheek, and o'er that brow,
So soft, so calm, yet eloquent,
The smiles that win, the tints that glow,
But tell of days in goodness spent,
A mind at peace with all below,
A heart whose love is innocent!


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos pelos reviews. Brincadeiras a parte, eles sempre fazem meu mundo girar de forma mais leve e divertida!



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