Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 2
Capítulo 2.Impulsividade


Notas iniciais do capítulo

Uma semana depois, e Integra quer saber quem é o tal rapaz...



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Na mansão Hellsing. Era o início da tarde. A noite prometia ser quente. O tempo estava abafado.

Integra estava atrás de sua mesa em seu escritório, sentada, puxando fumaça de seu charuto e a soprando para cima. Por dentro seu coração estava um turbilhão, mas por fora sua expressão estava impassível. O que Celas havia lhe dito ainda ecoando em sua cabeça: “é o mestre, mas não é ele. Não sei dizer Sir Hellsing, mas devia vê-lo, é assustadoramente parecido com ele. Talvez seja algum descendente direto de que não temos conhecimento”.

Já fazia uma semana que estava em transmites para tirar o tal rapaz do sanatório e levá-lo para a mansão Hellsing. Integra ainda não sabia bem o que faria com o tal rapaz, mas até descobrir exatamente quem ele era não o deixaria naquele lugar. Sabia que estava sendo impulsiva, mas era isso que queria fazer e que se danasse o resto do mundo. Conheceria e analisaria o tal rapaz, até que se desse por satisfeita, e depois de descobrir tudo o que queria decidiria o que fazer com ele. Estava sem mordomo, e seu exército sempre acabava por precisar de novos soldados. Na pior das hipóteses mandaria o rapaz para uma clínica de verdade. Até que, pelo que pareceu, ele não era tão doido assim.

No dia seguinte ao relatório de Celas, Integra havia entrado em contato com Adams St. John, o sanatório onde o rapaz foi encontrado. O médico responsável pelo lugar tinha a proibido de fazer uma visita, alegando ser um lugar muito perigoso para ela. Integra começou a rir da cara do homem pelo telefone. O que poderia ser perigoso demais para ela depois da guerra que presenciara? O que eles iam fazer? Furar-lhe o outro olho? Usou de toda sua influência e no final do mesmo dia estava entrando no tal lugar.

Os pacientes ficaram em polvorosa, gritavam e se debatiam quando ela passava. Será que ela era uma figura tão assustadora assim? Bom, devia ser. Sua aura sempre foi autoritária em impôs respeito onde estivesse: bastava ver o tipo de “animal de estimação” que ela mantinha cativo na mansão. Bom, a questão é o tal rapaz.

De acordo com os médicos, ele tinha sido encontrado sozinho, vagando pelas ruas de Londres há cerca de oito meses. Estava sujo, com as roupas já muito gastas e rasgadas, e desnutrido. Quando as autoridades o levaram para a delegacia e o interrogaram, ele não respondeu.

Depois da guerra, muitos crimes vinham acontecendo, e aquele rapaz se encaixava no perfil de outros que compunham uma gangue que tinha assumido a autoria de muitos deles. Como não possuía qualquer tipo de identificação ou conhecidos, foi exaustivamente interrogado e torturado, mas sua expressão nunca mudou, e ele nunca disse nada.

Foi considerado mentalmente incapaz, e jogado em Adams St. John. Os cuidados médicos foram restritos a um banho por dia, limpá-lo a cada duas ou três horas e tentar alimentá-lo duas vezes por dia. Ele não fazia nada sozinho.

Ficava trancado em seu quarto o tempo todo, com exceção de quando alguma enfermeira o levava para tomar sol. Ele vagava um pouco pelo jardim, mas se cansava e ficava sentado no banco. Era quando a enfermeira o levava de volta para o quarto. Jamais disse uma palavra sequer.

Quando interrogado, o diretor não soube explicar o que ele estava fazendo de noite, sozinho no jardim. E arregalou bem os olhos quando ouviu da boca da policial que o rapaz tinha falado com ela.

Acompanhada do médico responsável e da vampira a tira-colo, Integra seguiu pelo corredor branco, cheio de portas, até chegar àquela em que o rapaz estava. Entrou dentro do quarto escuro e silencioso. As paredes muito brancas possuíam uma ou outra marca de sangue. Aparentemente o rapaz, em todas as freqüentes vezes que se machucava, limpava o ferimento na parede. Ninguém entendia bem o porquê desta atitude. No fim do quarto estreito, estava o tal rapaz, de costas para ela, olhando pela janela os últimos raios de sol se esconderem no horizonte.

– Você acha que Ele mora no sol? – A voz grave se fez presente, assustadoramente preenchendo o quarto.

Integra olhou para trás, e viu Celas com a cabeça baixa. O médico responsável estava claramente surpreso, mas por algum motivo assustado demais para tomar qualquer atitude.

– Ele quem? – Perguntou Integra, se aproximando.

–Kami-sama. – Disse o rapaz, virando-se para Integra.

A loira não completou o último passo em direção ao jovem. O rosto pálido, os olhos quase verdes, tristes, o cabelo escuro e armado, os traços finos e nobres, todo seu porte... Era Alucard!

Mas o que tinha acontecido com ele? Estava apático, deprimido e deprimente. Quanto tempo vagou pela rua? Quanto tempo ficou sozinho? Será que tinha se alimentado devidamente?

­– Você está bem, Alucard? – Integra perguntou, ainda parada onde estava.

– O que é um Alucard? – Ele perguntou, olhando-a meio de lado.

– Não é esse o seu nome?

Um riso suave se formou nos lábios do jovem. Ele a olhou de cima a baixo, e respondeu:

– Claro que não. Que tipo de nome é esse?

Integra deu um passo vacilante para trás. Respirou fundo, soltando o ar calmamente pela boca, tentando acalmar as próprias mãos que tremiam:

– Qual o seu nome então?

– Tenho muitos nomes.

O rapaz olhou novamente para a janela, contemplando os primeiros raios da lua cheia que iluminavam o céu.

Integra, em uma fraqueza súbita e momentânea, baixou os olhos tristemente, e se virou para sair do quarto, mas parou o movimento ao ouvir aquela maldita voz preencher o quarto outra vez:

– Pode me chamar de Vlad. Era como ela me chamava antes de morrer.

– Ela quem?

– Minha mãe...

Integra abriu os olhos. Não adiantava ficar sonhando acordada com aquele dia. Celas tinha ido buscar o tal Vlad. Talvez com o devido tratamento o rapaz pudesse explicar melhor as coisas. Talvez, vendo-o novamente, convivendo com ele, pudesse tirar aquela sombra de seu coração. Embora sua razão lhe dissesse que era impossível, ela sentia com todo seu coração que aquele era Alucard. Na verdade, ela queria muito que fosse. Mas de fato podia ser algum descendente que o vampiro nunca disse que tinha. Mais um maldito jogo do conde.

Ela via nos olhos do rapaz o quanto ele era diferente do monstro que a dama de gelo tinha criado por dez anos embaixo do próprio teto. Se Alucard parecia não ter limites, aquele jovem parecia não ter alma. Estava mais morto que o rei sem vida.

Três batidas suaves tiraram Integra de seus pensamentos. Ela murmurou qualquer coisa, e a porta se abriu um pouco. Os olhos vermelhos de Celas se fizeram presentes pela fresta. Integra ordenou que entrasse:

– Ele está lá embaixo, Sir Hellsing. Devo trazê-lo aqui?

– Não, eu vou descer.

Integra se levantou, e pegou a parte de cima do terno que jazia no encosto de sua cadeira. O jogou por cima dos ombros, para vesti-lo devidamente no meio do caminho, mas desistiu da ideia ao perceber o quanto estava quente. O tirou e o jogou sobre a mesa, descendo as escadas sem ele mesmo, deixando que sua camisa branca mostrasse as curvas bem feitas que o terno sempre escondia.

Vlad a viu descendo, e ergueu os olhos para ela na escada. Deu um amplo sorriso com a visão.

Integra, ao vê-lo olhando para ela, parou. Faltavam apenas três degraus para o fim da escada, e cerca de quatro passos para alcançar o rapaz. Se perdeu no sorriso dele. O rosto era de Alucard, mas expressão com certeza não. Um sorriso encantador, suave, sem aquele eterno cinismo que o vampiro tinha. Ficava lindo, sem dúvidas. Um anjo. Um anjo tão diferente daquele demônio em vestes vermelhas. Lembrando-se das tais vestes, Integra aproveitou para ver o resto do corpo do rapaz. Era alto, sem dúvidas. A exata mesma altura do vampiro, mas bem mais magro. Vestia uma calça preta um pouco justa, e uma camisa branca bem larga e mole, que se assemelhava muito a uma bata indiana. Tudo só o deixava mais magro e com uma aura mais frágil.

Os olhos de Integra se focaram novamente no sorriso. Dentes perfeitos. Perfeitamente alinhados e perfeitamente brancos. Uma onda de decepção passou pelo coração de Integra, fazendo-o bater apertado. Caninos absolutamente perfeitos e... normais.

Ela balançou a cabeça, fazendo os longos cabelos e os óculos penderem para frente, tentando afastar o pensamento.

Levantou a rosto para olhar o rapaz novamente, que estava consideravelmente perto dela agora. Ao encontrar o olhar e a respiração do outro tão perto da sua, baixou a cabeça com violência. Não era disso, mas ele era tão ridiculamente igual ao Alucard, e tão absurdamente diferente, que a líder dos Hellsing não soube como reagir, a não ser desviando o olhar.

Os óculos caíram. E antes que se espatifasse no chão, pousou seguramente sobre a mão de dedos longos e pele clara de Vlad.

“Rápido” – Foi o que ela pensou.

Vlad subiu no primeiro degrau, e apoiou a perna no segundo, ficando da exata mesma altura de Integra, além de perigosamente perto. Com suavidade, ajeitou os cabelos dela e lhe colocou o objeto no rosto. Fechou os olhos, e aspirou a essência que vinha daqueles cabelos longos e platinados.

– Tão bela...

Integra se assustou, e empurrou o rapaz, que apenas deu um passo para trás.

– O que pensa estar fazendo?

– Sinto muito se a ofendi. – Ele disse, virando-se e contemplando o resto da mansão.

Integra ficou olhando o rapaz. Tão ridiculamente igual, e tão absurdamente diferente do vampiro.


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Notas finais do capítulo

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