Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 1
Capítulo 1.Solidão


Notas iniciais do capítulo

A história se passa cerca de um ano e meio depois da guerra em Londres. Com Alucard sumido, e Bernadotte morto, Celas se vê sozinha no mundo. Esse capítulo procura mostrar um pouco das dúvidas que a assolam, até o início da trama em si. Espero que gostem!



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            “De acordo com as leis da física, não existe nada mais rápido que a luz. Até ai tudo bem, mas por que nada consegue ser mais rápido que a luz? Se a luz tem velocidade determinada, não bastaria alguma coisa ser capaz de chegar um milionésimo de segundo antes?

Alguma coisa sempre pode ser menor que outra, a menos que seja infinita. Não era esse o conceito de infinito?

           Kami-sama deve ser mais rápido que a luz.

           Se bem que se ele é onipresente, está em todo lugar, não haveria necessidade dele se mover para onde quer que fosse. Agora, pensando nisso, quem seria Deus? Quando eu era pequena, achava que era como o ar. Estava ali, ao nosso redor, mas era impossível de ver. Às vezes a gente sentia, respirava pra viver, mas não podia pegar. Se fosse preso em um lugar, que nem em uma bexiga, ao tentar pegar ele fugia. Acho que nunca vi o ar. Tem gente que já viu, acho que quando forma um furacão dá pra ver. Eu já vi folhas ao vento, já vi árvores se movendo, mas nunca o ar. Nunca um furacão.

            Será que só dá pra ver Deus quando ele se movimenta bem rápido? A ponto de destruir tudo?

            Ou vai ver, Deus é vibração. Que nem Kanzeon Busatsu, que nem Amaterasu. Onda, som, que nem a luz que nada é mais rápido.

            Kami-sama... vai ver é a vibração do Universo, que envolve todos as pessoas que acreditam ou não Nele, e os faz viver, que nem o ar mesmo.

            Mas, para nós que já estamos mortos... acho que não nos quer. Para nós, é como se não existisse. Ficamos sozinhos, com a eternidade aos nossos pés, ficamos sozinhos. Perdemos a única companhia que sempre... sempre estaria conosco”.

            – Em nome de Deus, as almas impuras dos mortos viventes serão expulsas à condenação eterna. Amém!

            Celas fechou os olhos, e disparou. Não sabia ao certo se sua oração seria atendida, mas a fez mesmo assim. Como uma namorada abandonada que se vê incapaz de não sentir falta do amado. Se bem que, ela também era uma morta vivente não?

            O tiro foi certeiro. Atravessou o coração de um dos vampiros que corria ao longe. Virou pó antes de perceber ter sido atingido. O outro vampiro, vampira na verdade, viu a cena com desespero, e correu muito mais. No meio tempo entre abrir os olhos e reformular pensamento de atirar no outro ser que corria, Celas a perdeu de vista. Droga!

            A vampira abandonou o posto, em cima do telhado, e começou a correr atrás de sua presa. Que Kami-sama não a olhasse, que estivessem todos eles condenados à eternidade de sofrimento. A questão é que aqueles dois tinham matado gente demais, e à toa. Não continuaria daquele jeito.

            O resto do batalhão que ela comandava gritou seu nome, mas ela não ouviu. Continuou a correr. Seguia o cheiro impuro da criatura, embrenhando-se pela mata fria, e úmida pela noite escura.

            Foi em uma situação muito parecida que conheceu seu mestre, e se tornou o que era. E escolheu se tornar o que era. Trocar a companhia de alguém que não via, por esse alguém tão concreto e sedutor a sua frente. E agora, estaria eternamente sozinha outra vez. Será que seu mestre não ia voltar? Caramba, já fazia mais de um ano. Tempo demais, tempo demais.

            Viu o vulto da vampira adentrar uma construção. Ela sabia o que era. Era um sanatório. Uma clínica de recuperação pública, como diziam. Um sanatório, um hospício na verdade, onde iam parar os coitados que apresentavam algum tipo de distúrbio e a família não queria mais por perto. Acabavam ficando loucos de verdade lá dentro.

            Loucos ou não, eram humanos.  Não tinham culpa. A culpa era dos monstros que os colocaram lá. Será que pra esse tipo particular de monstro Kami-sama se importava?

            Correu mais rápido, tentando se concentrar no que fazia. Em pouco tempo a vampira entrou novamente em sua mira. Atirou. Passou perto do coração, mas não o atingiu. A loira se odiou mentalmente por não estar prestando atenção, o que estava acontecendo com ela naquela noite? A vampira ainda corria, deixando um forte rastro de sangue por onde passava.

            Foi quando a policial se deu conta que estavam no que seria o jardim do lugar. Bom, já era noite, tarde. Não haveria ninguém sentado nos bancos e ela poderia atirar livremente, agora em um local aberto.

            Mas qual foi sua surpresa ao perceber que a vampira se aproximava de alguém sentado em um dos bancos? O que aquele maluco, com o perdão da palavra, fazia ali àquela hora? Antes que a criatura se aproximasse demais do rapaz (ela achava que era um rapaz pelo menos), Celas disparou. O tiro foi certeiro, e a vampira se desfez, antes de alcançar seu alvo. O rapaz ficou encharcado de pó e sangue.

            Meio incomodada com a situação, se aproximou do rapaz imóvel, pensando em talvez confortá-lo para que não piorasse o caso dele, ou ver se estava tudo bem, ou qualquer outra coisa. Não queria se aproximar, mas no fundo sabia que devia.

            Viu a parte de trás dos cabelos muito lisos e escuros, cortados na altura dos ombros, armados e bagunçados, completamente cheios de pó. Bonitos mesmo assim. A camisa branca que ele vestia estava salpicada com sangue, algumas gotas espalhadas pelo pescoço e rosto também.

            Aproximou-se para olhá-lo melhor. Ver seus olhos, tentar entender se ele sabia onde estava, uma vez que sua respiração continuava calma. Pousou uma mão sobre o ombro dele, procurando fazê-lo se virar.

            – Não está uma noite linda? – Ele perguntou, com uma voz tão grave e serena que fez Celas estremecer da cabeça aos pés. Não, não era possível.

            – Você sabe o que acabou de acontecer?

            – Sempre adorei noites de lua cheia... – Disse o rapaz, virando o rosto para olhar Celas, o primeiro movimento dele desde que ela chegou ao jardim.

            Celas afastou a mão dele, com os olhos arregalados. Sabia que tremia, e em pouco tempo caiu de joelhos no chão. Não, não era possível! Ela teria sentido! Ela teria visto, ouvido ou sei lá!

            – Mestre?

            O rosto pálido do rapaz, banhado por sangue e pó, voltou-se para a lua novamente. Era mesmo seu mestre que havia voltado ou Celas estava completamente fora de si? Era ele! Tinha de ser, mesma voz, mesmos traços... mas, tinha uma feição pura, tranquila, muito diferente da que ela se lembrava. Os olhos serenos, de um tom âmbar, quase verdes, muito diferentes dos vermelhos que ela conhecia.

            – A senhorita não gostaria de apreciar a noite comigo?

            Celas não conseguiu sair de onde estava, e o outro continuou sentado, a mirar a lua. Alguns minutos depois, as tropas da Hellsing chegaram ao local, fazendo um barulho considerável e absolutamente desnecessário. Nenhum dos dois se mexeu. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha sido, como dizem por ai, um bom começo!
Reviews serão de extrema ajuda, pra eu saber onde melhorar!