Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 11
Capítulo 11.Luxúria


Notas iniciais do capítulo

Ooooooooooo! E aqui estamos nós (?) de novo! Bom, esse capítulo com um título tão sugestivo vai especialmente para Senju Yume, cuja recomendação classifica esta fic entre as mais recomendadas de Hellsing! Brncadeira hein! 1. Humildade, 2. Humildade, 3. Humildade.

Bom, espero que gostem!



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Já lhe dei meu corpo

Minha alegria

Já estanquei meu sangue

Quando fervia

Olha a voz que me resta

Olha a veia que salta

Olha a gota que falta

Pro desfecho da festa Por favor...

Aconteceu tanta coisa naquela noite, que a grande bronca que Rose levaria foi limitada a um bilhete lhe dizendo para ser mais atenta, e observar o rapaz que tinha tido febre alta durante a noite.

Bom, e Rose estava fazendo isso há quase uma semana desde então. Em absoluto silêncio, observava Vlad retirar as bandagens do pescoço, e verificar a pele fina e nova cobrindo onde o vampiro o tinha mordido. Já estava cuidando dele há quase um mês, e sabia que em breve seus serviços seriam dispensados. Hum, tá.

O rapaz decidira por bem que não precisava mais do curativo. Deixar a pele nova arejar podia ser mesmo uma boa ideia. Rose ajudou Vlad a subir a camisa e a abotoar os botões. Ele já estava bem melhor, mas alguns movimentos ainda lhe pareciam desconfortáveis. Nada que não pudesse contornar.

Seguiu o jovem até o jardim, sentando-se em um dos bancos enquanto observava-o analisando uma folha que havia ficado presa na gola de sua camisa segundos atrás.

Apesar da sobriedade da mansão Hellsing, o jardim sempre se manteve muito bem cuidado. Era a parte da casa mais amada da mãe de Integra, e desde a morte dela que haviam terceirizado os cuidados com o gramado, flores e outros elementos paisagísticos. Resultado? Jardim exuberante não importando a época do ano, ataques de vampiros, guerra ou humor de Integra. Se bem que este último fator às vezes criava um buraco a bala em um arbusto, árvore ou mesmo no chão, o que não vem ao caso.

O jardim era grande e espaçoso, como tudo naquela mansão. Aquela parte em especial era destinada ao descanso. Tinha quatro bancos de madeira, dispostos de forma irregular, e uma mesinha baixa e pequena, também de madeira. Algumas árvores de médio porte faziam sombra, e as flores delas preenchiam o ambiente com um aroma muito suave. De lá também dava para ver a varanda de madeira, onde a mãe de Integra gostava de tomar chá. Esta nunca mais foi usada depois da morte de Arthur. Uma pena.

–Vlad-sama? – Rose chamou, num sussurro baixo e sensual, destacando o “sama” enquanto falava.

Vlad limitou-se a olhar para ela de soslaio.

– Poderia falar com o senhor?

Vlad caminhou até o banco que ficava em frente ao da moça. Sentou-se e olhou para ela, indicando que poderia continuar.

Rose levantou-se e aos poucos foi se aproximando até onde Vlad estava. Tomou cuidado para manter o contato visual, com seus olhos esverdeados delineados por lápis. Vlad não se opôs ao contato, permitindo que seus olhos âmbares, quase verdes, focassem bem dentro dos dela. Rose entendeu que poderia seguir em frente, pois tinha a completa atenção do rapaz.

– Em breve, minha presença nesta casa não será mais necessária. Creio que devemos aproveitar o tempo que nos resta para sanar alguns assuntos pendentes.

Os olhos de Vlad desceram dos olhos da moça, acompanhando uma mão dela que desceu pelo pescoço, colo, traçou a curvatura dos seios, e parou sobre a barriga. Olhou mais para baixo, vendo as coxas fortes da morena apertadas na saia do uniforme. Subiu os olhos outra vez, prestando atenção nos lábios bem delineados e vermelhos dela. Era uma mulher muito bem feita e envolvente, de curvas generosas e precisas, com certeza. Concentrou-se novamente nos olhos dela.

Rose já estava muito mais perto que o usual. Passou uma das mãos pelo queixo do rapaz, deixando-a descer por dentro da gola da camisa.

– Eu tenho, tipo, uma queda por homens mais frágeis.

Ela já estava praticamente no colo de Vlad, que não se movia, esperando o próximo movimento.

– Ver você tão carente, tão debilitado... Mas não se preocupe, eu vou cuidar de você.

Baixou o tronco e tomou os lábios de Vlad com selvageria, forçando a língua para dentro de sua boca e esfregando os seios contra o peito do rapaz.

Depois daquela madrugada, Integra se trancou no escritório. Lá fazia suas refeições e de lá saia apenas para uma ou outra necessidade básica, além de tomar banho e dormir.

Para si mesma dizia ter que trabalhar, e não admitia que não queria ter de encarar Vlad. O que às vezes acabava acontecendo por morarem sob o mesmo teto. O rapaz tinha sobre ela um poder que ia muito além do que ela era capaz de compreender. Ela desejava sua companhia, muito, mas não se sentia bem na presença dele. Sentia o ar lhe faltar e o estômago doía.

Procurava encontrá-lo, falar com ele e pensar nele o mínimo possível, sempre tentando ocupar a cabeça com outra coisa. Coisa aliás, que, intrometida em seus pensamentos meio que contra sua vontade, tinha roupas e olhos vermelhos, caninos afiados e cabelos muito negros e revoltos. Mas que merda! Quando não pensava em um pensava no outro! E o pior, pensava no mesmo, em atitudes diferentes, vidas diferentes, mas a mesma maldita essência que nada fazia além de brincar com seu juízo e corromper sua sanidade.

Chega Integra, foco! Têm que pensar em outra coisa! Afinal, Alucard e Vlad eram muito diferentes. Alucard era um monstro insensível que te amava, e Vlad um ser humano que não sente nada por você! Espera, isso está meio estranho. Da onde você tirou que Alucard te amava? Se amasse não tinha sumido! E não tinha te desrespeitado anos a fio! Incomodado e te obrigando a dar tiros! Pior que encrencar com ele lhe fazia tão bem...

Pegou-se sentindo falta do maldito vampiro. No fundo sabia que aqueles jogos sacanas que tanto o divertiam tinham um fundo triste e melancólico, com aquela aura forte de esperança corrompida. Ambos queriam algo que não lhes era possível, não sem um baita empurrão do destino. Porque nenhum dos dois sabia como viver aquilo. Então esperaram, e esperaram mais um pouco, e o tempo acabou.

Integra jogou os cabelos para trás, respirando fundo para conter uma lágrima de saudade e remorso que dava indícios de escorrer de seu olho. Reassumiu a postura, e achou que um pouco de ar puro lhe faria bem. O tempo já estava começando a esfriar, mas ainda estava muito agradável àquela hora do dia.

Caminhou até a janela, e a abriu. Aproveitou a brisa fresca de olhos fechados, mas quando os abriu algo lhe chamou imediatamente a atenção em seu impecável gramado verde e fofo: Rose no colo de Vlad, em um beijo muito, mas muito fervoroso para ser ocasional. Bateu os pulsos no batente da janela, e saiu bufando do escritório.

Rose afastou os lábios devagar, ainda ficando muito próxima dos de Vlad. De olhos fechados, e ainda sentindo o gosto dos lábios ressecados dele, murmurou, em um pequeno sorriso:

– Tão contido... Tão doce. Não se preocupe, eu entendo como se sente.

Vlad respirou fundo. Tocou o queixo dela com a ponta dos dedos.

– Está atraída por mim? – Vlad começou a falar, provocando um excesso de confiança na enfermeira, que aproximava o ouvido dos lábios dele, procurando acariciar o pescoço do rapaz com as mãos. Era impressão sua ou era a primeira vez que ouvia a voz dele? – Se o que lhe atrai é a fragilidade física de seus pacientes, sugiro que preste serviços extras em um asilo público.

Rose afastou o rosto com susto, mantendo o corpo estático ainda próximo. Tinha entendido errado ou, pela primeira vez na vida, estava sendo dispensada?

– Não entendo o que quer dizer.

– Com certeza, seus serviços seriam do agrado de muitos homens solitários. Meretriz.

Rose virou um tapa ofendido no rosto de Vlad, cuspiu no chão com nojo e saiu do colo dele, andando em passos duros para dentro da mansão. Encontrou Integra parada em um corredor, fumando um charuto e com a arma na mão. Levantou os olhos, tentando entender a presença tão assustadora da mulher.

– Eu tenho percebido que Vlad melhora a olhos vistos. Creio que seus serviços não são mais necessários.

Rose pensou em dizer alguma coisa, mas ser dispensada duas vezes em menos de cinco minutos, ainda que em situações opostas, era demais para sua cabeça.

Checando se as balas estavam em ordem, Integra destravou a arma, e continuou sua fala:

– Se tiver algum direito para reclamar, peço que entre em contato com Celas Victória, a vampira sanguinária que comanda minhas tropas.

Rose continuou seu caminho, com a expressão congelada no rosto. De tudo o que tinha acontecido, apenas uma coisa lhe era perfeitamente clara: tinha de arrumar suas coisas para sair dali o mais rápido possível.

Integra a observou sumir pelo corredor, e se permitiu dar um pequeno sorriso de satisfação. Ultimamente não tinha tido muitas oportunidades de descontar seu mau-humor, e fazê-lo naquela enfermeira insuportável era muito mais que prazeroso. Era quase como se sanasse uma necessidade.

Deu uma tragada longa no charuto, e assoprou a fumaça para cima. Pelo menos um problema a menos. Se Rose tivesse coragem de encarar Celas, que nem era tão sanguinária quanto ela havia feito parecer, a vampira que resolvesse o problema. Ela não teria mais que encarar a enfermeira. Se Vlad fizesse alguma objeção, o que ela sinceramente duvidava, tinha um argumento muito forte a seu favor: se ele estava bem o suficiente para se atracar com a enfermeira, sinal de que não precisava mais de uma.

Olhou para a fumaça acre que se dissipava pelo ar, pensando nos compromissos que ainda tinha naquela semana. Tinha muitos relatórios para despachar ainda, muitas coisas para analisar, e na sexta-feira havia o baile da Rainha. Uma ruga de desagrado se formou em sua testa. Droga de festa inoportuna. Se bem que ainda era segunda-feira, e ela não tinha motivos para se estressar com aquilo naquele momento. Planejava ir somente na quinta-feira atrás do vestido e dos sapatos, afinal, qualquer coisa servia, desde que não repetisse a roupa. A cada segundo odiava mais esse maldito baile. Só comprava os vestidos para esse tipo de ocasião e meio mundo caia sobre ela caso repetisse a vestimenta. Conclusão? Tinha exatamente um vestido para cada baile que fora convocada, exatamente um par de saltos para cada vestido. Nada mais, e nada a menos no guarda-roupas referente a esse tipo de vestuário. Não gostava muito de jóias, mas colocava um colar e um par de brincos de brilhantes. Herança de sua mãe. Esses ela fazia questão de repetir todas as festas, e só não atirava em quem ousasse comentar o fato porque ainda não tinha descoberto um jeito de esconder o coldre no vestido. Mas o fato é que pouquíssimas pessoas comentavam o uso repetitivo da tal jóia, uma vez que os mais refinados conheciam o valor absurdo da peça, e sabiam que apenas os brincos podiam ser capazes de comprar toda sua coleção de jóias.

Apesar do fato de sempre repeti-las, não eram as únicas de Integra, em absoluto. Além de muitas outras herdadas de sua mãe, e algumas poucas e mais singelas que ganhou durante seus vinte e três aniversários, ela tinha um conjunto de colar, brincos e anéis feitos em rubi. Estes cortesia de Alucard. Não tinha a menor ideia de o quanto valiam, mas não devia ser pouco: tanto pelas pedras, quanto pela arte e pela idade. Ela tinha achado aquilo muito bonito, mas extravagante demais para ela. Era tão delicado quanto o de diamantes, mas brilhava em um vermelho que se destacava demais em sua pele clara. No final, acabou guardando a jóia com tanto carinho que nem cogitava a hipótese se usá-la.

Lembrou-se imediatamente do dia em que ganhou o conjunto de Alucard. Não sabia mais porque, mas tinha encontrado a caixinha de veludo negro e olhava as jóias com admiração. Quando perguntou ao vampiro de quem era, ele simplesmente lhe respondeu que não eram importantes, e podia ficar com elas se quisesse. Típico.

Maldito vampiro, que lhe deu uma jóia com tanto descaso, e ainda sim o objeto se tornou tão importante em sua vida. Maldito rapaz, que habitava aquela casa como se tudo fosse absolutamente natural, e lhe tomava os pensamentos durante o dia. Maldita rainha, que atormentava ainda mais sua vida com esses bailes infernais. Maldito vampiro, que foi embora. Maldito rapaz, que parecia não estar ali de verdade. Maldito rapaz que parecia, mas não era o vampiro. Maldito vampiro, que não pôde amar. Maldito rapaz, que não a amava...

Deixe em paz meu coração

Que ele é um pote até aqui de mágoa

E qualquer desatenção, faça não

Pode ser a gota d'água...


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Notas finais do capítulo

Ah sim, quase esqueci. Os trechos em negrito são de "Gota d'água" de Chico Buarque, escrita originariamente como peça teatral em 1975. Um pouquinho de música nacional no Nyah. Espero que agrade! E reviews continuam garantindo a boa ação do dia! Então agradeço imensamente a todos que me farão companhia no paraíso! Jané!



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