Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 12
Capítulo 11




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Um verão inesquecível


Obs: a vida familiar de Ikki foi modificada um pouco em relação a sua paternidade para melhor adequar a história contada aqui neste fic.


Capitulo 12


–Ele está morto! Eu o matei!-Vanessa estava desesperada, jamais havia agredido uma pessoa desta maneira e agora iria ter que carregar o fardo de ser uma assassina o resto de sua vida.

–Não...ele está respirando.-Melissa cutucava a bochecha do desfalecido Giovanni com a ponta dos dedos.-Felicitações, irmã. Não será enforcada por matar um homem.

–Pare de fazer brincadeiras com isso, Melissa!-Carla puxou a caçula dos Dawes, dando passagem a um grupo de homens que vieram correndo ao ouvirem o grito de Vanessa e a confusão armada.-Baronesa!

Carla foi para o lado da nobre, que abraçava Vanessa tentando acalmá-la. Enquanto isso Saga, Aiolos, Igor e Shura examinavam Giovanni que gemeu de dor.

–O que houve aqui?-ela viu espantada o enorme galo na cabeça dele.

As meninas falavam todas ao mesmo tempo contando sobre o atrevimento do homem e da reação violenta de Vanessa, muito conhecida pelo temperamento comparado ao de um tornado quando irritada.

–Precisamos de um médico!-disse Carla, mais preocupada com o que aconteceria a irmã se o homem caído piorasse.

–Não será preciso.-respondeu Shura erguendo o olhar e encontrando o de Ludmila, que o fitava como se tivesse visto um fantasma. Imediatamente ele voltou a atenção ao amigo.-Não precisam se preocupar, miladys. Ele apenas bebeu demais e por isso desmaiou com facilidade. Eu cuidarei dele. Amanhã com certeza despertará com dor de cabeça e envergonhado pelo o que fez.

Ludmila segurou-se no braço de Tathiane que estava ao seu lado, e ela estranhou a palidez súbita da criada.

–Ludmila? Algo errado?

–Eu estou bem, milady. Apenas cansada...

–Todas estamos cansadas.-suspirou a baronesa.-Felizmente temos quartos, mas teremos que dividir. Vamos, vamos nos recolher e descansar. Ainda mais depois do que houve. Pedirei que sirvam nossas refeições em nossos quartos.

–Sim.-todas concordaram, tratando de seguir a baronesa que subia as escadas para o andar superior aonde ficavam os quartos.

Shura, com a ajuda de Igor, ergueu Giovanni do chão e evitou olhar novamente para a criada, começou a carregar o amigo na direção do quarto que ocupariam, imaginando se ela o reconhecera. Pela reação era óbvio que sim. Amaldiçoou o destino por ter promovido o encontro de ambos desta maneira.

E ainda era auxiliado pelo homem que a acompanhava em viagem. Seria o marido dela?

Kanon se preparava para seguir os demais, para se recolher quando foi puxado pelo braço por Saga, fazendo um gesto para que o acompanhasse a um canto do bar da estalagem.

–Esta é a sua chance!-sussurrou Saga ao irmão, servindo-se de duas canecas de cerveja.

–Chance?-Kanon indagou curioso, pegando a caneca oferecida pelo mais velho.-Saga, não farei nada para destruir a reputação de Amanda!

–Seu tolo!-Saga segurou o ímpeto de socar a cabeça do irmão mais jovem.-Não precisará fazer nada para magoa-La. Você irá ao quarto dela, entre pela janela, faça com que as irmãs que estão no mesmo aposento o veja beijando a jovem senhorita Amanda com paixão!

–Paixão?

–Paixão!-Saga enfatizou a palavra.-Depois disso, terá que se casar com ela para salvaguar a reputação dela. Voilá!

–Beijar com paixão? Amanda?

–Sim...muita paixão!

–E o cão de guardas dela?

–Que cão?

–O mordomo!

–O que tem o magricela?-Saga bebericou a cerveja, não entendendo o temor do irmão.

–Ele...dá medo! Aparece do nada!

–Aconteceu algo que eu não sei?

Kanon lembrou-se da maneira que Igor interferiu na sua última tentativa de beijar Amanda e arrepiou-se inteiro, fazendo uma careta.

–Não aconteceu nada!

–Não...

–NADA!-enfatizou Kanon, querendo esquecer que beijou o rosto do mordomo, engolindo todo o conteúdo da caneca de uma única vez.-Vamos! Antes que eu mude de idéia.

Saga deu um tapa amigável no ombro do irmão, sorrindo.

–Logo seremos ricos!

–E aquele outro problema?-perguntou Kanon sisudo.

–Deixe que eu cuido da bela baronesa. Acho que toda aquela rigidez é a falta de um homem que a faça esquecer das enteadas e pensar em apenas ...

–Falava dos Petronades e daquele samurai.-Kanon olhou Saga de lado e este ficou constrangido, bebendo toda a sua cerveja.-Você está interessado na viúva!

–EU NÃO!

–Saga...

–Vamos, antes que EU mude de idéia.-puxando o irmão para os fundos da estalagem, para colocar seu plano em prática.

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Southampton...

Luna sentiu um calor gostoso quando Milo envolveu seus ombros gelados com a parca proteção de seu casaco, já úmido pelo tempo, enquanto a levava até a porta de uma estalagem local. Quando percebeu aonde ele a levava, a jovem estancou o passo, fazendo o rapaz a olhar com curiosidade.

–Eu não sei se posso entrar, não seria decente.

–Um vinho quente irá ajudar a aquecê-la, milady. Prometo acompanhá-la até sua casa depois disso.

–Eu não sei...-ela estava se sentindo dividida entre a vontade de seguir aquele homem lindo, e preservar a sua reputação que estaria arruinada se entrasse naquele lugar.

–Sou um cavalheiro. Jamais faria algo que a constrangesse, milady.

–Eu sei. Mas, talvez fosse melhor eu voltar para casa. Minha irmã está sozinha com um paciente.

–Paciente? Sua irmã é médica? Isso é algo raro!

–Não. Meu pai é o médico da cidade. Mas está cuidando do lorde da região que se acidentou...

Parou de falar quando Milo a segurou com ambas as mãos pelos ombros, fitando-a de modo estranho, que fez o coração da menina disparar sem controle em seu peito.

–O lorde desta região? Visconde de Chantell?-perguntou apertando os ombros dela.-Ele está em sua casa?

–S-sim...está me assustando, milorde!

Milo a soltou imediatamente, a viu recuar um passo. Praguejou baixinho por sua falta de jeito para lidar com uma dama como se devia, quando deixava as emoções falarem mais alto. Na verdade, era culpa de seu sangue grego ser um homem passional.

–Perdoe-me, mas é que estou à procura de meu amigo que desapareceu há horas. Estava angustiado pela falta de noticias, e agora...-ele sorri ao ver que Lunna parecia compreende-lo com o olhar.-Eu a assustei, não?

–Um pouco. Mas é compreensível se são amigos.-ela sorri e Milo não consegue deixar de comparar Luna a uma ninfa da floresta quando fazia esta gesto.-Mas não se preocupe, minha irmã está cuidando muito bem dele!

–Poderia então me levar até ele?

–Claro, mi lorde!

–E no caminho...poderia me contar com detalhes o que houve com o meu bom amigo?

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Na residência dos Hopkins.

Annely parecia um animal enjaulado andando de um lado para outro na pequena sala de sua casa. Uma leoa pronta para dar o bote no primeiro que lhe dirigisse a palavra. Tanto que quando a senhora Kempler chegou, e percebeu que recebera um grunhido a uma saudação decente por parte da moça, tratou de ir imediatamente para a cozinha, sem lhe dizer nada.

–Odeio os homens! São todos patifes!

Annely falava alto, queria mesmo que Lorde Kamus ouvisse seu protesto do alto do quarto! Seu quarto que teria que ceder por aquela noite ao homem que deveria odiar mais do que qualquer outro em sua vida. Odiava aquele homem, dizia a si mesma, como se quisesse se convencer de que não ficara abalada por sua aproximação, pelo beijo que ele ousara lhe roubar, por tudo!

Ela não sabe quanto tempo se passou desde que a senhora Kempler chegou, mas a sua fúria não se dissipava. Até que sua irmã finalmente havia retornado daquela noite horrível e de tempestade.

–Finalmente!-exclamou Annely-Isso é hora de chegar? Aonde esteve? Como pode me deixar sozinha com aquele sedutor barato e...-nesta hora percebeu a presença de mais uma pessoa e parou de falar.

Luna havia voltado da rua, acompanhada por um cavalheiro. Um homem lindo, mas desconhecido.

–Quem?-ela pergunta e pigarreia sem graça.

–Annely, este gentil cavalheiro é amigo do Visconde.-disse Luna muito constrangida pelo acesso de raiva da irmã.

–Devo deduzir que Kamus está em sua residência senhorita.-Milo exibiu um belo sorriso.-Posso entrar?

–E quem seria a sua graça?

–Milo Alessandros. Não sou um lorde, senhorita. Apenas um bom amigo deste Visconde sem juízo.

Foi neste instante que Annely reparou em suas roupas molhadas e percebeu que estava sendo uma péssima anfitriã.

–Oh Deus! Por favor, tire este casado molhado, senhor...e se aqueça perto do fogo. Luna!-Annely reparou que a irmã estava toda molhada e o tecido próximo ao corpo revelava curvas que uma moça decente não deveria ousar mostrar.-Pode subir e se trocar. Eu faço companhia ao seu...amigo.

Luna hesitou, mas acabou obedecendo diante de olhar da irmã mais velha, dando um sorriso espontâneo para Milo, ignorando o revirar de olhos de Annely e subindo para o seu quarto.

Assim que Luna subiu, Annely voltou-se para Milo, nem lhe dando chance de começar a tirar o casaco molhado.

–Tire-o imediatamente da minha casa! Ele não está tão mal assim!

–Quer que eu o leve debaixo desta tempestade? Depois da queda do cavalo?

–SIM! Como soube da queda?

–Sua irmã me contou.

–Afff...

–E que você...senhorita...-ele pigarreia.-Quem o derrubou e...-diante do olhar assassino de Annely, Milo foi logo se corrigindo.-Mas eu sei que foi um infeliz acidente! Imagine se uma dama faria algo assim intencionalmente, não é?

–Seu amigo está no terceiro quarto a esquerda no andar de cima.-ela apenas respondeu mostrando a escada.-Assim que a chuva passar e amanhecer...leve-o daqui!

–S-sim senhorita...milady...-Milo subiu as escadas imediatamente.

Mas quando chegava ao quarto em que seu amigo estava instalado, ele sorriu. Pelas histórias que Luna havia lhe contado, eles quase se casaram. Então, aquela dama com fogo no olhar era a mulher que tirava o sono e o sossego de seu amigo, e que tentava esquecer em noitadas sem fim?

Agora estava óbvio. Estava tudo explicado.

Abriu a porta, colocando a cabeça para dentro do quarto com o seu melhor sorriso.

–Kamus! Ainda vivo?

–Milo!?-Kamus parecia surpreso. O bom doutor não deveria ainda ter chegado a fazenda para avisar sua família de sua queda.-Como me encontrou?

–Encontrei um anjo que me trouxe aqui.-ele respondeu com um sorriso sonhador.-Bem, o que importa é que terei boas noticias a dar a senhorita Lucy. Sua irmã está aflita!

–Lucy e minha avó. É verdade. -Kamus parecia estar tendo uma dor de cabeça.-Não poderei ir para casa agora meu amigo. O doutor Hopkins foi explicito para que eu ficasse de repouso e...o que está fazendo?-Milo se assustou quando Kamus o repreendeu enquanto abria uma gaveta de uma cômoda.-Não se deve mexer nos pertences de uma dama!

–Só curioso acerca da bela dama que lhe derrubou do cavalo...e que tomou seu coração gelado.-ele sorriu zombeteiro.-Ela gosta de usar roupas verdes.

–Milo Alessandros!-Kamus quis se erguer.-Não ouse. E eu não tenho nada a ver com aquela dama ali embaixo! Eu estaria louco se me permitisse ter algo com aquela...megera!

–Só por que ela a família dela não é nobre?

–Não! Ela é irritadinha, esnobe, parece que tem o nariz empinado para cima!

–Engraçado, eu não notei que aquele lindo nariz era empinado.-Kamus ergueu uma sobrancelha com o comentário do amigo.-Então, tudo bem se eu descer e tomar um chá na companhia daquela adorável senhorita? E quem sabe...

–NÃO!

Kamus quase havia gritado também que Annely era dele, mas se conteve. No entanto, o sorriso irritante de Milo já o denunciava.

–Pare de bancar o insensível Kamus. Já estou conseguindo resolver toda a charada que é a sua vida e tudo se resume a...uma certa moça que parece furiosa com você, lá embaixo. O que fez para que ela estar assim?

Kamus recostou na cabeceira da cama e suspirou. Seria bom desabafar.

–Muito bem, mas a história é longa.

Milo sentou-se numa poltrona com estampa de flores do campo e cruzou as longas pernas.

–Não tenho tanta pressa assim. A senhorita Luna iria fazer um chá para nos aquecer então...comece.

Fazia algum tempo em que Milo havia subido para conversar com Kamus, verificar se estava tudo bem com o seu amigo, e enquanto isso, Annely aguardava ansiosa pela volta do pai, mas já acreditando que com aquela chuva e a noite tardia ele não iria voltar.

Finalmente Milo descia as escadas e a jovem ficava olhando de lado, tentando esconder sua curiosidade e ansiedade.

–Vai levar “sua excelência” para casa? Ele me parece muito saudável agora.

Milo segurou o sorriso, notou a maneira irônica ao qual a dama se referia a seu amigo e isso de certo modo o divertia. A cada momento começava a acreditar que ela era a mulher certa para aquele teimoso lorde. Ainda mais ao saber dos lábios dele toda a história que tiveram no passado.

–Não milady. Mas pretendo vir buscá-lo amanhã pela manhã, se o bom doutor me autorizar.-ela bufou furiosa.- Acredito que o Visconde se recuperaria mais depressa estando em seu lar.

–Então o levará a Londres o mais rápido possível? Quando?-ela perguntou com um sorriso e recebeu de Milo uma sonora gargalhada, por ele há muito esperada.-Por que ri como uma hiena?

–Nada, nada. Perdão milady!

Neste momento Luna havia entrado na sala segurando uma bandeja com chá e um belo sorriso nos lábios. Os cabelos claros estavam umedecidos, e usava um vestido floral seco. Milo sentiu a garganta subitamente seca, se já a considerava bela com as roupas e o rosto sujos de lama, agora...parecia estar diante de uma visão.

–Servidos? Não ousei acordar a senhora Kemple, estava profundamente adormecida. Mas espero ter feito um chá tão gostoso quanto o dela.-disse colocando a bandeja sobre a mesa.

–Acredito que esteja delicioso, senhorita Luna.

Milo serviu-se aumentando o sorriso da garota e Annely revirou os olhos, não gostando nada da maneira que aquele homem se portava diante de sua irmã caçula. Tratou de imaginar um meio de mandá-lo embora. Então ela se espreguiçou e bocejou bem alto, mais do que o normal ou considerado educado a uma dama.

–Já está tão tarde, não? Ainda mais para visitar uma casa de família, onde duas moças moram, e que estão sozinhas.

Milo compreendeu o recado e Luna quis enforcar a irmã, olhando-a com severidade. O rapaz recolocou a xícara após beber todo o conteúdo com uma certa pressa e pegou novamente o casaco úmido.

–Preciso ir. Tenham uma boa noite senhoritas.

–Se acaso encontrar meu pai, diga-lhe que aguardamos sua volta. Logo.-respondeu Annely dando ênfase a última palavra.

–Certamente.-Milo faz uma mesura para Annely e pegou a mão de Luna beijando-a e deixando a menina corada e com ar sonhador.-Tenham uma boa noite.

Logo que ele saiu, Annely imaginou e esperou por algum ataque de fúria da irmã caçula, mas ela permanecia parada, olhando a mão com ar abobado.

–Luna?

–Sim?

–Tudo bem?

Luna virou-se sorrindo, subindo as escadas para o quarto, cantarolando.

–Tudo maravilhosamente bem...-suspira.

Annely ficou boquiaberta. Ela não poderia ser tão ingênua para estar suspirando por um completo estranho! Teria que fazer algo para proteger sua irmã.

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Em uma certa estalagem na beira da estrada, em um dos quartos.

–Que dia terrível!-exclamou Vanessa retirando as botas.-Espero que amanhã seja um dia melhor!

–É. Até quase matar um homem...-murmurou Thatiane a Melissa que riu.

–A chuva parou.

Inis comentou olhando pela janela e estreitou o olhar ao notar que um homem parecia observá-la ao longe, tendo uma árvore como proteção. As roupas peculiares, o chapéu de palha lhe eram familiares.

–Não pode ser ele!-falou consigo mesmo baixinho.

–Quem senhorita Inis?-Ludmila perguntou, assustando sua patroa.

–Nada!-olhou para fora e ele havia desaparecido.-Nada...deve ser o cansaço da viagem.

Ludmila ficou sem entender e Inis voltou a olhar para fora, para ter certeza de que não havia visto aquele jardineiro impertinente que fora contratado dias atrás pela sua madrasta. Não poderia ser ele, afinal...ele estava em Londres agora!

–Vou buscar chá para todas, tudo bem?-anunciou Ludmila se retirando do quarto.

–Não se esqueça de que vai dormir conosco, Ludmila.-avisou Vanessa e a criada confirmou com um aceno de cabeça.-Apenas Julie tem um quarto só para ela? Que injusto!

–Vanessa!-Tathiane a repreendeu.-Ela é a baronesa e a senhora do dono da estalagem insistiu que ela ocupasse um aposento melhor. Se sentiu muito feliz em nos receber aqui.

Vanessa apenas suspirou deitando na cama reservada a ela.

No quarto ao lado, Carla acabava de sair deste levando toalhas úmidas para entregar a esposa do estalajadeiro quando esbarrou em mais uma pessoa no corredor. Era Ikki.

–Desculpe / Gomem!-falaram ao mesmo tempo e ficaram em silêncio em seguida, constrangidos pela aproximação.

Ikki praticamente a pressionava contra a porta do quarto, impedindo-a de seguir em frente. Um vento frio vagava pelo corredor e apenas as toalhas estavam colocadas entre seus corpos, e mesmo assim Carla sentia o corpo quente e o coração disparado.

–Não me desculpou por ter pensado tão mal da honra de seu pai, Carla-dono?

–Sim mas...

–Então, por que me trata com tanta frieza? Sinto falta de nossas conversas cordiais.

–Você me ofendeu,...não, ofendeu muito a minha família por ter acusado meu pai sem mais nem menos, senhor Amamiya!

–Já lhe disse que poderia me chamar de Ikki.

–Não acho que seja apropriado.-respondeu com certa rudeza, virando o rosto.

Carla o sentiu se afastando e ouviu quando ele deu um suspiro, se rendendo.

–Tenho apenas um pouco mais de um ano para voltar para casa, ou meu irmão morrerá. Por isso meu...desespero em achar logo a espada roubada, o ladrão verdadeiro e voltar.

–O...seu irmão? Como assim?

Carla fitou seu rosto e notou que por baixo daquele rosto sério, austero até, escondia uma certa aflição, um medo que apenas era possível reparar em seus olhos. Ela também notou algo mais naqueles olhos...saudades de casa.

Minutos depois estavam os dois no andar debaixo, vazio, pois todos ou haviam se recolhido aos quartos ou haviam se acomodado pelos cantos, adormecidos. Ikki e Carla estavam sentados a uma mesa em um canto, iluminada apenas por uma vela e ela prestava agora atenção a tudo o que lhe seria revelado.

–Minha família, a família Amamiya, gozava de grande respeito e privilégios junto ao Imperador de meu país. -Ikki começou a explicar.-Há séculos guerreiros samurais surgiram em meu lar, e todos empunharam sua espada pelo meu senhor. A ave Fênix era um símbolo de nossa família e a visão da ave lendária em nossas bandeiras em campanhas de guerra, era o suficiente para que os inimigos de meu senhor se rendessem. Mas...

–Mas?

–Meu tio, o homem que havia se casado com a irmã mais velha de meu pai, é um homem de negócios. Mitsumasa Kido fez contato com o seu pai quando eu ainda era uma criança, junto aos meus irmão e amigos. Freqüentavamos sua casa para fazer companhia a sua única neta. Ele quem apresentou nossos pais e...-ele deu um sorriso sem graça.-E meu pai, ingenuamente, apresentou o seu e os homens que o acompanhavam aos lordes que serviam diretamente ao Imperador.

–Lembro de meu pai falar sobre seu país com muita admiração. Mas ele o visitou apenas uma vez!-Carla o lembrou.-Deixou os negócios no oriente para um de seus sócios cuidar.

–Eu descobri isso recentemente, pela baronesa.

–Por favor, continue. O que isso tudo tem a ver com a vida de seu irmão?

–Meu Imperador recebeu em seu castelo um homem que dizia se chamar Dawes. Isso há cerca de cinco anos atrás.

–Não poderia ser meu pai! Ele havia falecido...-Carla baixou o olhar. As saudades que sentia de seu pai ainda era grande.

–Este homem, aproveitou-se do nome de seu pai e se apresentou como convidado da minha família. Roubou uma espada que é considerada um tesouro pelo Imperador. Ele desonrou a minha família. Kido cometeu seppuku para apagar sua vergonha.-Carla o olhou sem entender.-É o termo que usamos para um ritual de suicídio, para limpar sua honra.

Carla levou a mão a boca, não conseguia aceitar bem que a idéia de um suicídio limpasse a honra de um homem, já que sempre fora ensinada por sua cultura que esta pratica era comparada a covardia de continuar vivendo.

–No entanto, o Imperador não se sentiu satisfeito. Exigia mais...Um Kido havia dado a vida, queria que um Amamiya também o fizesse. Inimigos de meu pai conseguiram convencer meu Imperador que nossa família realizasse um feito praticamente impossível ou sofrer as conseqüências do fracasso.

–E o que seria?

–Meu pai perder seus dois únicos filhos.-Ikki deu um sorriso de lado.-O mais velho deveria vir ao Ocidente, punir o ladrão e recuperar a espada trazê-la de volta ou o mais jovem teria que se matar para salvar a honra de minha família.

–Isso é terrível!

–Shun é meu único irmão. Sempre fomos muito apegados. Shun é diferente de mim, é gentil. Não tem alma de guerreiro apesar de que é um exímio espadachim, eu não gostaria de enfrentá-lo em um combate.-Neste momento ele sorriu ao falar do irmão e Carla percebeu o quanto Ikki o amava.-Somos muito apegados, desde a morte de nossa mãe, Shun era apenas um bebê. Ele não merece perder sua jovem vida por causa de um ladrão.

–E não vai.-Carla leva a mão e segura a de Ikki com firmeza.-Vamos resolver este mistério! Vou ajudá-lo a recuperar sua espada e voltar para casa a tempo de salvar seu irmão. Eu lhe prometo isso! E a palavra de uma Dawes não tem volta!

Ikki sorriu, segurou com a outra mão a de Carla cobrindo-a com seu calor e em seguida, levou a mão a cabeça dela, mergulhando os dedos em suas madeixas escuras e a puxou para si. Ele inclinou-se por sobre a mesa beijando-a em seguida. Não foi um beijo casto, mas um beijo apaixonado, ardente, prontamente correspondido pela dama, como há muito ansiavam.

A única testemunha foi Ludmila que saia da cozinha trazendo uma bandeja com canecas fumegantes de chá e sorriu ao ver a cena. Tratou de subir as escadas em silêncio para não estragar o momento do jovem casal, mas ao chegar no topo desta esbarrou em uma pessoa, quase deixando a bandeja cair ao chão.

Uma das mãos fortes daquela pessoa a ajudou a segurar a bandeja e a outra a pegou pelo braço, impedindo-a de perder o equilíbrio. Ludmila suspirou aliviada por ter evitado um acidente maior e ergueu o rosto com um sorriso para agradecer ao seu “salvador”, ficando totalmente muda e encantada ao deparar-se com o par de olhos negros mais lindos que jamais havia visto em sua vida.

Jamais? Não, isso não era verdade. Ela já havia visto aqueles olhos, aquele rosto antes. Era mais jovem, mais alegre, e pertenciam ao jovem cavalheiro que sempre povoava seus sonhos desde menina.

Ele parecia desconcertado em estar diante de Ludmila, ela notou que o rosto dele estava levemente corado e sentiu a mão que ainda a segurava tremer um instante.

–D-desculpe milorde!-finalmente havia conseguido falar, mas sentindo-se novamente estranha ao estar diante daquele homem.-Sou uma desastrada!

–Não precisa se desculpar, a culpa é minha.-a soltou, ainda sem tirar os olhos da jovem, mas lhe dando passagem.

Ludmila passou rapidamente por ele e então virou-se para lhe perguntar algo. Aquele homem ainda estava parado no corredor, observando-a insistentemente.

–Desculpe mas, quem é vossa graça?

–Sou Shura Hernandez Mendonza.-respondeu fazendo uma pequena mesura.

–Senhor Mendonza..acaso nos conhecemos milorde? Quero dizer...acaso já visitou a residência do barão de Blackmoore?

–Não. Nunca tive a oportunidade de visitar a residência do barão. Por que pergunta?

–N-nada não, milorde. É que eu tive a sensação de ter...conhecido o senhor, mas...é tolice minha. Perdão, mas preciso me recolher. Com licença.-despediu-se rapidamente, sem dar chances a Shura de replicar.

–Claro que me conhece.-ele murmurou, ouvindo a porta do quarto se fechar.-Sou seu marido.

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Do lado de fora da estalagem.

–Isso não vai dar certo!

Kanon avisou mais uma vez, olhando furioso para o irmão recostado a uma enorme macieira que crescia rente a parede da estalagem, enquanto este carregava praticamente sozinho uma pesada escada.

–Por que não me ajuda?-resmungou mais uma vez, olhando mais furioso ainda para o irmão mais velho.

–Porque estou muito ocupado, analisando qual janela é do quarto dela.-respondeu, com a mão em seu queixo numa atitude pensativa.

–O menino que levou o jantar aos quartos me disse que é o da janela da direita do segundo andar!-respondeu Kanon.

–Não é o que fica a esquerda do segundo andar?-perguntou Aiolos acompanhado por seu irmão. Os dois acabam de chegar para ajudar nos planos de Saga.

–Falem baixo!-ordenou Aiolia.-É o segundo da direita pra esquerda do terceiro andar.

–Não. Eu tenho certeza de que é o da esquerda.-Aiolos insistiu.

–Vocês não sabem qual é o quarto?-Saga levou a mão esquerda a têmpora, como se tivesse dor de cabeça.-Se prepare que eu resolverei isso.

Saga começou a escalar a macieira, sob os olhares dos outros. Apoiando os pés com cuidado nos galhos, subia com muita facilidade, apesar dos galhos escorregadios devido a um dia inteiro de intensa chuva. As janelas estavam fechadas por pesadas cortinas e com exceção de dois aposentos, os demais estavam mergulhados na mais completa penumbra, anunciando que seus ocupantes já estavam adormecidos.

Estreitou o olhar e reconheceu um baú pela fresta de uma cortina, de um dos quartos iluminados. Ele pertencia a Amanda, havia visto ela comentar isso. Apontou a janela para Kanon, que concordou com um aceno de cabeça, posicionando a escada.

Ele foi subindo, com a segurança da escada firme sendo amparada pelos Petronades e Saga no alto da árvore torcendo e prevendo os frutos que seus planos iriam lhe render.

Kanon sorriu e bateu levemente na janela, ajeitando os longos cabelos e preparando o seu mais belo e charmoso sorriso. Quando a janela abriu, seu sorriso morreu em seus lábios e ficou lívido como cera.

Estava diante do olhar tedioso, frio e mortal do mordomo das Dawes, Igor. Ele ergueu a sobrancelha, sem alterar qualquer outro músculo da face, segurou as pontas das escadas com as mãos.

–Não...não faça isso!-pediu Kanon inutilmente.

Igor deu um sorriso maligno e empurrou a escada. Kanon mal teve tempo de soltar qualquer imprecação, caindo com escada e tudo no chão úmido e lameado, gemendo de dor pela queda. Igor fechara a janela, dando uma desculpa qualquer a Shaka e Mu, com quem dividia o quarto naquela ocasião.

Enquanto Kanon jazia caído no lamaçal, gemendo de dor e sendo amparado por Aiolia e Aiolos, Saga contava mentalmente até dez para se acalmar da frustração de ter mais um de seus planos desfeitos por pura inconveniência do destino, quando a segunda janela que ficava frente a ele, iluminada parcialmente, abriu-se.

Saga quase caiu do alto da macieira, mas sua mão segurou com firmeza um galho, ao se deparar com a bela imagem da baronesa na janela, os longos cabelos ruivos soltos pelas costas e ombros, tal qual apreciava, e usando apenas uma longa camisola branca em seu corpo.

Ela o olhava entre a curiosidade pelo barulho e pelo fato de Kanon estar estatelado ao chão e a ira ao ver-se tão exposta diante daquele homem. Saga não desviara o olhar da baronesa e passou a explorar instintivamente o corpo da bela mulher e a bela visão que a noite fria lhe proporcionava do busto, os mamilos endurecidos pela ação do tempo naquela camisola de cetim.

–Senhora baronesa...problemas para dormir?-ele perguntou usando o seu sorriso sedutor, se movendo no galho para ir na direção dela.

–Não ouse!-ela avisou e quando notou para onde o olhar lascivo dele era direcionado, tratou de fechar a janela com força, batendo-a praticamente no rosto do grego.

Se sentindo frustrado, Saga quase cai do alto do galho, mas dá um sorriso. Ao menos iria dormir com uma bela imagem em sua mente aquela noite. Se a achava uma bela mulher antes, agora...precisava, ansiava por ela.

Do chão, os irmãos Petronades e Kanon haviam testemunhado a cena e se entreolhavam.

–Isso não pode acontecer.-comentou Aiolos aos dois homens.-Este jogo de Saga com aquela mulher pode nos atrapalhar. Temos que cuidar disso!


Continua...


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