Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 13
Capítulo 12




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Após uma longa noite, finalmente o dia surgia, a chuva havia cessado as altas horas da noite e o dia prometia ser iluminado pela aparição do sol nos céus. A vida na estalagem começava bem cedo, com os preparativos do café da manhã dos hóspedes que se preparavam para irem embora.

–Aaahhh...Que dor de cabeça...

Queixava-se Giovanni, a cabeça apoiando na mesa olhando para a xícara de café a sua frente. Helena bebericava o chá dela, se deliciando com os bolinhos servidos pela senhora do dono da estalagem, ignorando os gemidos do primo.

–Não tem piedade de mim, Heleninha? Minha cabeça dóóóiii...

–Acho que foi merecida a sua dor de cabeça.-ela comentou, parando de beber e o olhando severamente.

–Não fala assim...eu não sou um bom guardião para você?-se lamentando, erguendo a cabeça devagar, colocando a mão na área mais dolorida da cabeça, onde recebera a pancada.-Tem um galo aqui! Tentaram me matar!

–Você foi grosseiro com aquela senhorita!

–Que senhorita? A garçonete da taverna? Eu...-um soco em sua cabeça o cala violentamente, fazendo-o bater a testa na mesa.-Gah!Aiaiaiaiaiaiaiai...

Ele se vira com raiva no olhar e se depara com Shura, o autor da agressão com uma expressão indecifrável no olhar.

–Espanhol maldito! Quer me matar?-se ergue furioso e o punho em riste na direção do rosto de Shura.

–Olha o palavreado, caro senhor. Está diante de uma dama.-falou ignorando a raiva no olhar do amigo, sentando-se e se servindo.-Bom dia, senhorita Helena.

–Bom dia, milorde! -ela respondeu com um sorriso.-Como foi a sua noite? Dormiu bem?

Shura ponderou em como responder. Ele não havia dormido bem, acordara várias vezes graças aos seus problemas que martelavam em sua mente, e praticamente seus problemas se resumiam apenas uma pessoa...Ludmila.

–Sim, dormi bem...apesar da cama ser desconfortável.

–Você rolou na cama a noite toda.-comentou Giovanni, apoiando a cabeça na mão e o cotovelo na mesa, comendo uma torrada.

–Como saberia se praticamente estava inconsciente!

–Tenho sono leve.-ele sorriu malicioso.-Quem é Ludmila?

Shura engasgou com o café ao ouvir o nome, arregalando os olhos, tossindo sem parar.

–Ele engasgou!-Helena ficou alarmada, mas Giovanni nem se abalou.

–O..cof, cof..o que disse?-finalmente conseguiu perguntar, se recuperando momentaneamente.

–Você citou o nome dela uma ou duas vezes a noite. Pensei que você e Sophie...

–Não é ninguém!-falou com raiva, levantando-se da mesa.

–Acalme-se amigo! Guarde a espada!-ele sorriu e ficou sério quando notou a presença de várias moças descendo as escadas e seu olhar pousou em uma em especial.-Aquela é a garota que tentou me matar!

–A dama que você ofendeu!-Helena enfatizou o motivo pelo qual seu primo fora nocauteado na noite anterior.

Giovanni, vulgo Máscara da Morte, ignorou o comentário de Helena e foi caminhando na direção do grupo de damas, sem tirar os olhos da figura de Vanessa, que parecia entediada, louca para retornar para a estrada.

Aproveitando-se que ela se afastara das irmãs, com uma caneca de bebida fumegante entre as mãos, e caminhava para fora da estalagem, este a seguiu. Helena apenas deu um longo suspiro imaginando que aquilo não terminaria bem.

Do lado de fora, Vanessa ficava imaginando quanto tempo demoraria para que finalmente retornasse a viagem e chegar logo a fazenda da viscondessa. Via os criados recolocando os baús de volta aos coches e suspirou. Queria muito se banhar, um jantar delicioso e desfrutar do conforto que a sua anfitriã iria proporcionar.

–Não pense que deixarei que escape impune de seu crime.-uma voz rouca sussurrou-lhe ao ouvido, fazendo Vanessa se afastar de seu dono com o susto.

–O senhor?! De que crime fala?

Ele sorriu de lado, um sorriso perigoso segundo imaginara Vanessa. Sem os efeitos da bebida, ele pode observar melhor aquela mulher e ficava imaginando como poderia confundir uma dama tão bela com uma mulher de taverna. O rosto de porcelana, os olhos grandes, a curva tentadora dos lábios.

Giovanni deu alguns passos na direção dela, obrigando a recuar e encontrar em uma cerca um obstáculo, permitindo a ele ficar bem rente a seu corpo, fitando-a.

–Poderia denunciá-la por tentar me matar ontem a noite...

–Devo dizer que o senhor mereceu a pancada!-respondeu rispidamente.

Mas ao contrário do que Vanessa imaginaria, aquele fogo em seu olhar apenas atiçou o desejo recém descoberto do italiano pela jovem dama, fazendo-o ser ousado e inclinar-se até ela.

–Talvez se for compreensiva...e compartilhar o café da manhã e algo a mais comigo, possa esquecer isso.

Vanessa deu um sorriso encantador, falando com doçura:

–Milorde gostaria de compartilhar meu desjejum com vossa Graça?

–Sim.-ele deu um sorriso sedutor que logo deu lugar a uma expressão e um grito de dor e susto, quando Vanessa havia derramado o liquido quente do café em sua lapela limpa e nova.-Ahhhh...sua louca!

–Não queria compartilhar meu café da manhã, milorde?

Vanessa perguntou com falso ar de inocência, jogando a xícara nele, que por pouco volta a acertar sua cabeça, se o rapaz não tivesse se desviado rapidamente.

–Você é louca!

–E o senhor um patife! Como ousa tentar me seduzir?-passa por ele, mas dá meia volta e desfere um tapa em seu rosto com tamanha força que deixa-a vermelha.-Patife!

Erguendo o queixo ela volta para dentro da estalagem, deixando-o parado com a mão no rosto agredido. Em seguida sua face altera-se para a raiva. Ah, ela iria pagar por esta afronta...e Giovanni começou a imaginar os meios deliciosos para puni-la, e sorriu.

Voltou ao seu quarto para se trocar, passando por Saga e Kanon, que descia as escadas devagar e gemendo de dor.

–Shiu! Querem que façam perguntas?-advertiu Saga.

–Fácil falar...não é você que foi jogado do segundo andar ao chão por um maníaco...aiiii...

–Milorde? Não dormiu bem?-Amanda pergunta a Kanon aparecendo de repente a sua frente.

–Amanda!-Kanon endireita o corpo de repente, mostrando uma falas postura de força e pegando em sua mão para beijá-la.-Não!! Eu estou bem, senhorita.

–Lamento tanto que não tivemos a oportunidade de conversarmos adequadamente desde que esta viagem começou.-Amanda lamentou-se, olhando nervosa para as próprias mãos.

–Não se preocupe, senhorita. Acredito que ao chegarmos em nosso destino teremos muito tempo para termos conversas agradáveis.-Kanon exibiu seu melhor sorriso e Amanda corou.

Saga se afastou discretamente, satisfeito em ver que seus planos poderia ainda dar certo.

–Amanda!-a voz autoritária da baronesa fez a jovem se despedir rapidamente de Kanon e atender seu chamado. Ela estava próxima a porta da saída.

Julie diz algo em voz baixa para Amanda que se junta às irmãs que acabavam seu desjejum ao lado do primo e de seu amigo tibetano. Depois de lançar um olhar intimidador para Kanon e outro para Saga, ela faz um gesto discreto para que ele a siga. Aquela atitude o intrigou profundamente e não demorou a seguir a baronesa, sob os olhares nada satisfeitos dos irmãos Petronades e de Kanon.

A baronesa se afastava da estalagem, discretamente caminhando para uma frondosa árvore e para à sua sombra, esperando que Saga se aproximasse. Ouviu seus passos, tão leves quanto os de uma pantera a espreita de uma presa, se aproximando. Mas mesmo assim, levou um susto ao ouvi-lo falar bem rente às suas costas.

–Finalmente, senhora Baronesa...deseja a minha companhia longe dos olhares curiosos?

Julie se afastou rapidamente, encarando-o seriamente, tentando controlar as batidas de seu coração. Tentando fingir que aquele homem não a perturbava, e que invadia seus sonhos a noite.

Procurou respirar fundo antes de endireitar o corpo e o fitou, mantendo o mesmo ar sério de há pouco.

–Quanto?

–Quanto o que?-ele não entendeu.

–Quanto vocês querem para deixar minha enteada em paz e procurar outra mulher para enganarem?

–Acha que poderia me comprar assim?

–Está óbvio que é um homem movido pelo amor ao dinheiro, senhor Tassouli.

–Parece que ambos sabemos o que isso significa, Baronesa.

–O que insinua? Não tente desviar-se do assunto.-ela empertigou o corpo, erguendo o queixo.-Seu irmão e você são dois crápulas que quero manter longe de Amanda. Infelizmente ela está apaixonada demais por seu irmão para que eu conte a verdade e ela se magoe tão profundamente que temo por ela.

–Nada do que possa me oferecer em termos financeiros pode ser melhor que o futuro que almejo tendo meu irmão casado com uma rica herdeira.-sorriu de lado.-E convenhamos Baronesa, você é uma das poucas pessoas que pode me entender. Casamentos por interesse é algo que faz parte da história das nobres famílias há séculos!

–Está me comparando a vocês?-ela estreitou o olhar.-Eu jamais casaria com uma pessoa pensando em seu dinheiro!

–Infelizmente, senhora Baronesa. Sua vida diz o contrário.

–Como ousa?!

–Uma mulher que se casa com um homem com a idade de ser seu pai e doente, só o faz por puro interesse financeiro! Não pode me julgar e nem ao meu irmão, cara Baronesa!

A acusação chocou-a a tal ponto que a deixou paralisada por um minuto. Mas em seguida uma onda de raiva a invadiu e ela sentiu a mão se mover por instinto, para ir até o rosto daquele homem. O tapa foi tão forte que projetou a cabeça para trás e deixou uma marca vermelha.

–Guarde suas palavras venenosas para si mesmo!

Ele não tinha o direito de ofendê-la. A ocasião que a levaram a se casar com o falecido Barão jamais envolveram interesses financeiros ou qualquer ato de ganância. Ele lhe estendeu a mão quando mais precisou, cumprindo uma promessa para protegê-la e em troca pediu apenas sua amizade e companheirismo para ajudá-lo com as filhas, três delas ainda meninas e sem a mãe. Não merecia ser insultada e nada a faria tolerar aquele abuso.

Os olhos dele pareceram escurecer ainda mais. Ela não se importou. Sustentou o olhar com idêntica força. Não era apenas a raiva que provocara o aceleramento de seu batimento cardíaco. A atração que sentia por ele agora era ainda mais intensa do que antes, quando o vira no baile dias atrás.

O que estava acontecendo com ela? Como podia estar fascinada por um homem que a acusara de ser a pior espécie possível de mulher? E que deixava claro sua intenção de roubar sua enteada? E como se deixara invadir por um ímpeto de violência? Sempre fora do lema que os problemas deviam ser resolvidos com palavras não com atitudes agressivas. A única vez que se deixou levar pela violência foi para defender a si e sua honra.

Fitavam-se em silêncio. Apenas as respirações se distinguiam.

Olhou para ele. Parecia em transe. Seu semblante estava carregado e os lábios estavam apertados.

–Parece que toquei uma ferida aberta, Baronesa.-ele lhe disse por fim, agora pausadamente.-Então, milady...

Calou-se ao perceber que os lábios dela finalmente tremia levemente, e que ela lutava para segurar as lágrimas. Sentiu-se naquele instante, o pior de todos os homens.

— Não me chame desse jeito! — ela o proibiu.-E fique longe da minha família! Não irei causar nenhum escândalo que possa magoar Amanda ou ofender os Chantell...mas mantenha-se longe de minha família e de mim!

A baronesa ergueu o rosto, e passou por ele com toda a altivez que seu orgulho ainda lhe permitia, e ele não ousou impedi-la.

–Julie...

—E não ouse insinuar que houve alguma intimidade entre nós. Você não significa nada. Absolutamente nada.-ela lhe falou por último, voltando a caminhar de volta a estalagem.

Como se tivesse chegado a mesma conclusão, ele se afastou. Frieza e orgulho estavam estampados em seu rosto. Saga ordenou-se a manter a calma por mais que aquela mulher mexesse com seus instintos. E ela tinha razão. Ele não significava nada para ninguém neste mundo. Talvez a única pessoa que importava se ele existia ou não era seu irmão, a única família que lhe restara.

A infância de restrições e pobreza levou a vida de sua irmã mais nova isso era uma cicatriz profunda que ainda doía em Saga e em Kanon. Não foram capazes de cuidar dela. E é exatamente por não desejar novamente aquela vida imunda, de fome e frio, que ele não iria recuar em seus planos.

Nada o atrapalharia. Nem mesmo a mulher que o atraia tanto que chegava a doer ficar afastado de sua presença, de seu perfume, do beijo que não conseguia mais esquecer.

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Londres.

O Solar estava mais frio e úmido do que costume, e Aghata sentiu calafrios. Como sua tia Dorothea conseguia viver assim? Até mesma a governanta, a senhora Pierosse, reclamava constante do frio que lhe afligia os ossos.

Sabia que a vida financeira dela e da tia não era a das melhores. A pequena herança deixada por sua mãe estava no fim e para complicar, o pai havia determinado em testamento que somente aos vinte e cinco anos poderia pegar sua herança ou se acaso contraísse matrimonio, poderia pedir o que era seu antes, mas até lá, teriam que passar por privações e economias cruéis impostas pela tia, que cuidava do seu dinheiro.

Na verdade, faltava aquecimento no solar por causa da sovinice de sua tia Dorothea. Ela muito miserável, proibira os criados de acenderem a lareira antes de novembro. Isso para economizar a lenha. E com isso, congelar a casa inteira!
Ficava imaginando ao caminhar para a cozinha que com o verão, logo o outono chegaria e o que faria com o inverno rigoroso de Londres? Aquecimento e pelo visto mantimentos, pensou Aghata, ao procurar aveia para fazer mingau para sue café da manhã e de sua tia.
–As coisas vão melhorar.-suspirou, tentando se convencer disso, sentando a mesa e apoiando a cabeça na mão. Deu um sorriso maroto e retirou uma mecha dourada dos olhos quando se lembrou que ontem a noite, havia dado seu primeiro beijo.

Quer dizer, um gigante havia lhe dado um beijo direcionado a outra mulher, mas iria considerar. Afinal, aquele gigante vindo de outro país, era muito gentil e expressivo que era impossível ficar furiosa com o ato dele.

Ouviu quando alguém bateu a porta e estranhou. Quem seria tão cedo a sua casa? E mais estranho que a visita misteriosa é o fato de sua tia estar muito ansiosa para atendê-la. Justo ela que odiava visitantes nos horários das refeições, pois odiava ter que convidá-los por educação à mesa.

Cautelosa se aproximou, ficando escondida numa saleta que lhe permitiria ouvir quem havia chegado. Por um momento, imaginou que fosse o homem da noite anterior, Aldebaran, que viera buscar a echarpe de Lucy, como havia lhe pedido e sentiu um calor gostoso com esta perspectiva.

–Bom dia, senhora Hazelmore.

–Bom dia, senhor Coulter. Entre, entre!

Mas o sorriso em seus lábios morrera ao reconhecer a voz odiosa de Owen Coulter, o viúvo comerciante emergente, de hábitos odiosos e amante da bebida de mais de cinqüenta anos, que sempre a olhava de modo lascivo quando se encontravam rapidamente na missa aos domingos. E ela odiava isso. O que faria em sua casa a esta hora da manhã?

–A senhorita Hazelmore acordou?

–Acredito que ainda não. Vamos! Venha se sentar.-a voz da tia o guiava a varanda próxima.-Deve parar de se referir a sua futura esposa com tanta formalidade, meu caro.

Ao ouvir tais palavras, Aghata sufocou um grito com a mão. Não acreditava que a sua tia pretendia casá-la com Owen Coulter!

–A senhorita Aghata vai concordar?-Owen perguntou ansioso.

–Ela não tem como negar-se a isso, meu caro senhor Coulter. Eu sou a sua tutora, e é a mim que ela deve obediência até se casar!-declarou a idosa.-Uma menina precisa saber obedecer calada o que determinam os adultos e os homens.

“-Nunca!”-pensou Aghata. Ela não iria submeter a este capricho de sua tia. Jamais iria se casar com uma pessoa horrível como Coulter. Preferia morrer velha e seca como sua tia com certeza irá.

Mas o que poderia fazer? Ainda era dependente de sua tia Dorothea e as mulheres nunca tinham direitos neste mundo dominado por homens. O desespero começou a dominá-la. Para onde iria? Não tinha parentes vivos morando em Londres ou nas cidades próximas, eles viviam muito longe e nunca demonstraram interesse algum em sua saúde ou destino.

Ninguém queria se preocupar com a pobre menina que ficara órfã. A vida de Aghata nunca fora fácil, a mãe morreu quando tinha apenas três anos de idade, logo após dar a luz ao seu irmãozinho, que nascera morto. O pai se foi quando tinha apenas nove anos levado por uma febre.

Seus parentes sentiram um grande alívio na ocasião do velório de seu pai, quando sua tia avó Dorothea se ofereceu para ser sua guardiã, não teria que se preocupar com o fardo que seria cuidar da órfã da família.

O que deveria fazer? Foi quando notou a aproximação pela janela da saleta de um coche e lembrou-se daquele homem gentil da noite anterior mais uma vez. Ele poderia ser a sua salvação. Com isso em mente, rapidamente pegou seu casaco pendurado próximo a porta dos fundos e saiu sem fazer barulho algum.

E em frente a sua casa, Aldebaran descia da carruagem e olhava para o casarão escuro, parecendo abandonado. Era um contraste gritante com a mansão de seu amigo Visconde de Chantell ao lado. As paredes precisavam urgente de pintura, e com toda certeza o restante da casa ansiava por reformas.

Será que sua querida fada, como gostava de se referir a Aghata, vivia em dificuldades?

–Vamos Aldebaran. Estamos perdendo um tempo precioso!-exclamou Afrodite, saindo da carruagem e verificando seu caríssimos relógio de bolso.-Desejo chegar a aquela fazenda perdida no interior ainda esta noite! Se não pararmos por nenhuma frivolidade, estaremos em Southampton por volta das onze horas da noite.

–Apenas alguns minutos, meu amigo. Estou fazendo um favor a uma dama.-avisou abrindo o portão, ignorando o suspiro contrariado de Afrodite que o seguia.

Aldebaran olhou ao redor e notou que o jardim, ao contrário do restante da propriedade, era bem cuidado. Com certeza possuía o toque da mão de uma fada. Deu um sorriso e finalmente tocou a sineta.

Ouviu passos, endireitou o corpo e esperou que a porta abrisse. O sorriso que estampava seu rosto sumiu e no lugar surgiu uma expressão de susto ao deparar-se com a figura cadavérica e assustadora de Tia Dorothea, e seus cabelos brancos presos em um coque severíssimo. Ela o fitou dos pés a cabeça antes de perguntar:

–O que desejam?

–Ah...a senhorita Aghata está em casa?

–Está dormindo!-respondeu e fechou a porta em seguida nos rostos de Aldebaran e Afrodite.

Os dois rapazes ficaram um tempo na varanda, tentando entender o que havia acontecido e se olharam.

–Que megera terrível!-exclamou Afrodite, dando as costas para Aldebaran e voltando a carruagem.-Perdemos preciosos minutos aqui com esta bruxa!

–Que mulher horrível!-disse Aldebaran caminhando logo atrás do amigo, dando uma olhada para trás, como se tivesse a esperança de rever Aghata de uma das janelas, ou irrompendo pela porta afora.-É com este tipo de pessoa que ela convive?

Se preparava para entrar na carruagem, mas deteve-se um momento antes, olhando para o local no teto aonde se localizava as malas e baús, cobertas com uma lona para serem protegidas de eventuais chuvas.

–O que foi, amigo?

Aldebaran olhou para o cocheiro, um homem de idade avançada, de audição prejudicada pelo tempo e que parecia que acabara de acordar de um rápido cochilo.

–Hmmm...nada não meu amigo...Pensei que haviam mexido em nossas malas.

–Tolices! Seu condutor teria visto. Sammus não é tão distraído assim. Vamos logo.

Dando os ombros, pois o que Afrodite havia lhe dito parecia lógico. Entrou na carruagem e após se ajeitar confortavelmente, partiram para fora de Londres...sem sequer imaginar que levavam algo a mais que suas malas.

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Southampton, ao amanhecer.

Kamus já estava bem desperto quando ouviu os primeiros sons de vida pela casa e o aroma de pão fresco sendo assado chegar às suas narinas. Mal dormira a noite, pensando na conversa que teve com Milo e em suas palavras. Ponderando o quanto ele havia dito a verdade.

–Será que não percebe meu bom amigo que jamais será feliz agindo dessa maneira? Por que não realiza o desejo de sua avó?-Milo havia lhe dito, com seu habitual sorriso jocoso em seu rosto.

–Você era a última pessoa que eu pensei que me daria este conselho!

–Mas estou analisando os prós e contras, meu bom amigo. Entendo sua avó. Está bem idosa, quer morrer só após conhecer seu bisnetinho, jamais vai te deixar em paz. Então, se é para lhe satisfazer case-se!

–Casar...como se fosse algo tão simples assim.-deu um meio sorriso, a idéia lhe dava arrepios.

–Ora, case-se com esta jovem com quem foi noivo tão pouco tempo, mas...-apontou o dedo indicador para ele.-Mas que te marcou tanto.

–Annely??? Aquela...aquela...você a viu? A ouviu?-alarmou-se, apontando para a porta.-É uma megera!

–Muito espirituosa.

–Ela fala o que lhe vem a mente!

–Você nunca gostou de moças que não tem opiniões próprias!

–Ela...ela...ela me odeia.

–Ela gosta de você. Ama você!

–De onde tirou isso? Mal falou com ela!

–A bela senhorita Luna me falou algo sobre isso.-comentou dando um sorriso ao lembrar da jovem com rosto angelical.

–Se um dia me amou, o seu ódio suplantou!

–Tem certeza?

Kamus ponderou lembrando de como ela havia reagido com seu toque, sua aproximação, sua presença, seu beijo. Além do mais, guardava lembranças de seu passado em comum. Chegou a imaginar que ela ainda tivesse sentimentos por sua pessoa, por não ter se casado.

–Seu silêncio é a resposta que eu queria. Ora Kamus! Case-se com ela e lhe dê um filho e pronto! Um nome, um herdeiro...e de quebra, uma bela mulher em sua cama!

–Não fale besteiras!

–Notei que ela tem fogo no olhar. E sabe o que isso significa?...-Milo ronronou para zombar da expressão de Kamus, desviando em seguida de um soco do amigo.-Ei, cuidado!

–Volte aqui para que eu o acerte, maldito! Não ouse falar dela assim novamente!

Milo afastou-se com um sorriso, saindo pela porta.

–Amanhã voltarei com um transporte adequado para levá-lo para casa. Não tem cabimento continuar aqui e tirar uma dama de seus aposentos. Boa noite amigo.

Kamus suspirou sentando na cama em seguida, olhando para a porta.

–Odeio quando tem razão, Milo.

No andar debaixo, Annely estava a mesa com uma expressão contrariada e, claro, sinais de que passara muito mal a noite, apoiando o queixo na palma da mão e olhando para fora.

–Seu pai ainda não voltou.-disse a velha governanta, tirando uma fornada de pão para esfriar sobre a mesa.-Vou arrumar a bandeja para que leve o desjejum para o Visconde.

–Ah... o “Honorável” senhor...-ela resmungou com ironia, ignorada pela senhora Kemple que colocou a bandeja com mingau, pão, queijo, chá e creme diante da jovem.

Annely suspirou novamente, contrariada por ter que desempenhar novamente o papel de enfermeira para aquele homem, tentando manter-se ao máximo longe dele, tentando fingir que não se sentia perturbada com a sua presença. Subiu as escadas e segurando a bandeja com uma das mãos, abriu a porta do quarto.

–Seu café da manhã e...o que faz em pé?

Kamus examinava com desalento seu casaco sujo e em desalinho devido ao seu acidente, olhando de lado para Annely que o fitava com preocupação.

–Me trocando para ir embora mas...não sei se sairei com as roupas dignas de meu título.-virou-se mostrando as roupas sujas.

–Ainda não tive tempo de lavá-las e não me lembrava que você se importava com títulos.-ela colocou a bandeja sobre uma mesinha e colocando uma mão na cintura apontava para a cama.-Volte a deitar agora!

–Sinto-me muito bem para ir embora.

–Tem que esperar meu pai voltar e decidir isso!

–Não sabia que se preocupava comigo.

–N-Não me importo!-Annely demorou alguns segundos para responder.-Mas se algo acontecer com milorde será ao meu pai quem culparão!

–Nunca gostei que me chamasse assim...gosto mais quando é informal comigo, Annely.-Kamus comentou voltando para a cama e deitando-se.-De qualquer modo, terei que esperar que meu amigo Milo volte com roupas limpas e adequadas.

–Ótimo!-ela coloca a bandeja ao seu lado na cama, evitando olhar em vão para o peito dele, a mostra pela camisa desabotoada.-Coma e cuidado para não se engasgar!

–Não tem brioches? Geléia?-Annely fuzilou-o com o olhar, parecendo pronta para dar-lhe uma resposta mal educada.-Mas o mingau parece delicioso!

–Você faz isso de propósito não?

–Hmm?-Kamus a olhou com ar inocente, dando uma mordida no pão.

–Gosta de me ver perder a paciência com a sua pessoa! Por que?

–Porque fica linda quando está visivelmente brava.-respondeu e Annely ficou rubra como se houvesse ficado o dia inteiro sob o sol.-Não quis constrangê-la.

–Mentiroso.-Kamus não respondeu, e Annely apenas suspirou exasperada.-Dou Graças para que venham buscá-lo logo.

–Quer mesmo que eu vá embora?

Annely não respondeu de imediato, dando as costas para Kamus, mas parou a porta um instante:

–Quero...

–Demorou a responder.-A porta batendo com um estrondo foi a resposta que Kamus recebeu, mas ele sorri recostando a cabeceira da cama.

Annely desceu as escadas e fez um sinal para que a senhora Kemple não perguntasse nada, foi quando Lunna apareceu cantarolando feliz. Com um sorriso em seu rosto e olhar sonhador ela sentou-se a mesa se servindo de um pedaço de pão.

–Bom dia...-ela disse sorrindo.

–Que alegria é esta?-perguntou a senhora Kemple.

–Ontem conheci o homem mais lindo, charmoso, gentil deste mundo todo!-ela respondeu suspirando.

–Pare de sonhar, Lunna.-pediu Annely sentando a mesa.

–Já posso imaginar eu me tornando a senhora Milo Alessandros...ai, ai...-ela apoiando a cabeça nas mãos e os cotovelos na mesa.-Só falta papai aceitar...

–Pare de sonhar...o papai não vai aceitar.

–Por que?-Lunna praticamente se jogou na mesa para encarar Annely.

–Por causa da promessa dele! Eu não vou me casar!-respondeu dando uma mordida em um pão.

–NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO!-Lunna exasperou-se e Annely levantou da mesa já irritada.

–Que obsessão que vocês tem de me verem casada! Acham que só porque o “Lorde Nariz Empinado para Cima” chegou eu devo me debulhar em lágrimas ou suspiros e esperar que ele me peça em casamento e todos vivam felizes para sempre?-Lunna calou-se.-Se quer culpar alguém Lunna, culpe papai por ter feito uma promessa ridícula de me ver casada antes de você.

–Mas isso não é justo! Eu encontro o homem dos meus sonhos e você...você...

–Eu?-com as mãos na cintura encarando a irmã.

Neste momento ouviram sons de vozes do lado de fora da casa e a porta se abrindo. O doutor Hopkins entrou acompanhado por Milo, que exibiu seu melhor sorriso ao ver Lunna, e que foi prontamente correspondido pela moça.

–Papai!-Annely foi até ele rapidamente.-Como pode passar a noite toda fora?

–Dormi na fazenda da Viscondessa. O tempo não me permitiu voltar, e a Viscondessa insistiu.-disse o médico entregando a senhora Kemple seu chapéu e bengala, depois retirando o casaco.-Este rapaz é amigo do Visconde, e veio com empregados da fazenda buscar nosso paciente.

Ia falando com um sorriso esfregando as mãos e apontando para a mesa.

–Sente-se senhor Alessandros, não é? Vamos tomar um delicioso chá preparado pela Senhora Kemple enquanto Annely avisa nosso convidado da sua chegada e das novidades.

–EU??

–Sim, você. Afinal...-ele exibe um sorriso, apontando a cadeira para que Milo se sentasse.-Sei que cuidou muito bem de nosso paciente, filhinha.

–Papai!-Annely altera a voz, irritada com o rumo das palavras do pai e mais ainda em ver que a ignoravam.-Eu acabei de sair do quarto!

–Sei, sei...- o pai sentou-se a mesa se servindo, enquanto Lunna sentava ao lado de Milo.-Não demore, filha.

–Suba você!-Annely deu meia volta e saiu pelos fundos da casa.

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Ela procurou refúgio no pequeno curral onde guardavam a velha égua que levava seu pai a todo lugar. Depois de ter colocado água no cocho, observou o dócil animal saciar a sede, e estendeu a mão para tocar em sua crina dando um sorriso. Foi quando notou que não estava mais sozinha.

–Quem a viu em suas explosões de raiva não imaginariam que é tão gentil com esta égua.

–Eu cuido de Penélope desde que meu pai a comprou. Sempre foi doce.

–Estou indo embora.

–Tchau.-disse sem se virar ainda.

–Sei que ainda tem mágoa de mim, Annely. Mágoa, raiva e com toda razão mas...-se aproximou bem dela e lhe falou bem próximo ao seu ouvido.-...vamos esquecer o que houve e...

Ela virou-se com os olhos arregalados, não parecia acreditar no que ouvia. Depois de tudo o que falaram um para o outros, as ofensas, as mágoas, ele ainda ousava dizer isso?

–Está louco, milorde?

–Louco eu estive durante estes anos todos.

–Por que não fala o que eu realmente quero ouvir de sua boca, milorde.

–Falar o que?

–Não consegue nem mesmo dizer “me perdoe”!-Annely exclamou, voltando a ficar de costas para ele.-Seu maldito orgulhoso!

–Eu não pedi que recomeçássemos e...

–Não quero me casar com vossa graça.-respondeu secamente fitando-o.-Não consegue me pedir perdão pelo o que fez. Não confiou em mim anos atrás, como posso ter certeza que confiará no futuro? Eu não consigo conviver com um homem orgulhoso que não admite seus próprios erros!

–Annely...

–Amor envolve confiança, Kamus. Sem ela, o amor morre. Fiz uma promessa, milorde.-ela ergueu o rosto em desafio.-Jamais vou voltar a confiar em um homem, muito menos em você!

–Devo dizer que não vou desistir de você, Annely.

A jovem não respondeu nada. Não houve tempo para tal, uma vez que Kamus a pegou firmemente pelo braço e a puxou, prendendo-a pela cintura com a mão livre e lhe beijando os lábios de modo possessivo, dominador.

Annely sentiu uma onda de prazer percorrendo-lhe o corpo todo, tal qual mel quente que derretia gradualmente, aquecendo cada centímetro de sua pele. Sua boca abriu-se com naturalidade, sem esforço, e as línguas se entrelaçaram, enviando uma série de sensações maravilhosas.

Kamus deu um passo atrás, a expressão novamente indecifrável que ele tanto ostentava. Ele era mestre em disfarçar as suas emoções com um olhar frio e distante.

–Eu nunca quis te magoar...Nos veremos novamente, milady.

E a passos lentos Kamus voltou para dentro da casa, se despedir da hospitalidade dos Hopkins, deixando para trás uma mulher que pela primeira vez em anos, não sabia o que lhe falar, ou reagir.

Desejou nunca ter saído de casa na tarde anterior. Desejou nunca ter reencontrado com ele novamente. Desejou que seu orgulho não a impedisse de perdoar aquele homem, a quem amava desesperadamente.


Continua...


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