Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 11
Capítulo 10




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–Milorde?-Helena toca no braço de Shura, assustada com sua palidez repentina.-Está se sentindo bem?

–O que? Sim. Não se preocupe!.-se desvencilhou do toque, recuperando sua postura.-Estou bem sim, milady. Obrigado pela preocupação.

–Tem certeza de que está bem? Quer que eu chame meu primo?-uma gota de suor escorreu pela sua testa quando viu que seu primo estava já corado pela bebida e conversava algo que parecia incomodar uma das damas recém-chegadas.-Ele precisa achar uma esposa e se acomodar.-murmurou sem graça.

–Não. Não precisa incomodá-lo agora.-levantou-se, olhando na direção do grupo.-Apenas, que preciso fazer algo.

Sem entender, Helena acompanhou com o olhar Shura caminhando até o grupo de viajantes que acabara de chegar e conversavam com o estalajadeiro. Mas ao vê-la de braços dados com um rapaz magro e de óculos o fez parar. Quem seria? Ela havia se casado? Não poderia! Ela já era casada com ele!

Foi quando percebeu que não poderia abordá-la de qualquer jeito. Não poderia chegar nela e dizer que era seu marido, que havia enganado-a com um casamento sem validade anos atrás, para conseguir sua herança. Neste momento, pensou nos problemas que causaria e sentiu remorso. E se aquele jovem for seu noivo ou marido, poderia arruinar a vida dela de novo.

Shura a fitou um instante. Ela parecia um gatinho assustado, admirando tudo o que via ao lado daquele rapaz, que pediu licença e se afastou um instante. Os cabelos longos e úmidos escapavam da touca. Apesar da situação e da chuva ter-lhe molhado toda, não conseguiu deixar de pensar no quanto ela cresceu e havia se tornado uma bela mulher.

E provavelmente comprometida.

Deu meia volta e sentou-se novamente a mesa com Helena, ela não lhe fez perguntas e agradeceu mentalmente por isso. Ele teria que pensar em como abordá-la, mas não a perderia de vista novamente.

Perto do balcão do bar.

–Sim, milorde. Entendo perfeitamente.-dizia o homem.-Irei arrumar os aposentos para as damas, mas não temos mais quartos para acomodarmos os homens.

–Tudo bem, meu bom homem.-dizia Shaka.-Todos nós, inclusive os condutores das carruagens, nos acomodaremos aqui mesmo no bar. Uma boa lareira e cobertores secos serão suficientes. E claro, roupas secas.

–Podem meu quarto particular para se trocarem, será muito mais cômodo para os senhores. Agora irei trazer sopa quente para os senhores e para as damas, com licença.

–Agradeço.-Shaka virou-se para o amigo e para a Baronesa.-Não era o que eu tinha em mente, mas...

–É o suficiente.-disse Julie.-Partiremos de manhã cedo, se a estrada permitir e estaremos na fazenda antes do anoitecer.

–Seria bom dormir amanhã em camas confortáveis e desfrutarmos de um bom jantar em companhia da Viscondessa. Este infortúnio terá passado de uma lembrança ruim.-comentou Shaka.

–Sem dúvidas.-comentou Mu.

–Pedirei ao seu mordomo que vá falar com os condutores para que entrem e se aqueçam também.-disse Shaka.

–Senhor Mu.-o tibetano que queria seguir Shaka parou ao ouvir o chamado da Baronesa.-Gostaria de pedir um favor...

Ambos conversaram afastados dos demais, Mu ouvia atentamente e concordava com um aceno de cabeça, em seguida beijou a mão da dama e se afastou. Isso não passou desapercebido pelos gregos em um canto, onde bebiam vinho para aquecer-se.

–O que acha?-perguntou Kanon ao irmão.

–Que teremos que ser rápidos para garantir nosso futuro na sociedade londrina.-bebericou Saga.

–O que tem em mente?

–Um plano perfeito.-chamou os demais para ficarem mais próximos.-Se todos pensarem que você manchou a honra da jovem Darwes, então...o farão casar com ela para reparar o mal.

Kanon agarrou o irmão pelo colarinho com uma das mãos, a voz saiu baixa mas bem furiosa e indignada, ao lhe dizer:

–Jamais faria uma jovem de família como Amanda passar por esta vergonha! Pelo o que me toma, irmão?

–Não seja tolo! Acha que a baronesa permitirá que você despose Amanda sem mais nem menos?-se soltando do irmão.-Se fizer o que eu mando, nem mesmo ela fará objeções para salvar a honra da enteada.

–De certo modo, seu irmão está certo.-ponderou Aiolos que até o momento somente escutava.-A baronesa certamente não permitiria tal união e formaria a opinião de Lorde Furneval contra isso. Mas não sou a favor de manchar a honra de uma jovem assim.

–Amigos...amigos.-Saga pedia silêncio erguendo uma das mãos.-Existem dois tipos de mulheres neste mundo. As amantes do dinheiro e as sonhadoras com cabecinha de mariposa.

Os outros se entreolharam não entendendo a comparação.

–A linda baronesa por exemplo. Acham mesmo que ela se casou com um velho lorde e doente, tendo quase a mesma idade da filha mais velha dele, por amor?-fez uma careta, bebendo um gole de seu copo.-Claro que ela é movida pela ganância e o desejo de ter mais dinheiro. Quer casar as enteadas com homens ricos e aumentar a fortuna da família, lógico!

–Notou o tom de voz?-Aiolia sussurra para Kanon.

–Hm...uma certa raiva? Ciúmes?-Kanon responde no mesmo tom.

–Sim.

–Notei também.

–Ham-ham...-Saga pigarreia para chamar a atenção novamente.-E as damas como a nossa querida Amanda. Uma cabecinha de mariposa que sonha com o príncipe encantado. Alguém bonitão como meu irmão, mas claro...ele não tem o mesmo charme que o meu, mas o físico ajuda a conquistar as damas.

–Isso foi um elogio?-Kanon o olha atravessado.

–Todas as damas Dawes, com exceção da madrasta, são moças sonhadoras, frágeis que esperam um príncipe encantado para protegê-las.

Súbito, o som de algo se quebrando, um corpo caindo e de Vanessa Dawes gritando chama a atenção de todos, que correm para ver o que houve.

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A chuva caia incessantemente naquele momento, obrigando as jovens da família Darwes e seus acompanhantes a procurarem abrigo na única estalagem de boa aparência no local. Shaka e Mu discutiam com o proprietário onde acomodar as damas e o pagamento da pernoite e das refeições, enquanto elas procuraram o calor da lareira para secarem-se.

–Ah, que chuva chata.-resmungou Vanessa, esfregando as mãos recém tiradas da luva encharcada.-Chegaremos na fazenda da Viscondessa em péssima aparência.

–Não sabia que era tão vaidosa.-comentou a mais jovem, Melissa.

–Não é vaidade. Mas não custa demonstrar elegância aonde vamos. E tem o neto da Viscondessa que é solteiro e muito bonito!-sorriu e depois olhou para a Carla, Amanda, Louise e Tathiane, que mantinham expressões que variavam do sisudo a empolgação com a presença de Ikki, Kanon, Shaka e os irmão Petronades.-Que foi que aconteceu com vocês?

–Hã?-Carla corou não sabendo o que responder.

–É que Carla está apaixonada.-suspirou Sini apenas para provocar a irmã.

–O que?-Carla ficou lívida.-Não diga estas coisas insensatas em voz alta! E Vanessa, tenha compostura, abaixe esta saia!

–Só estou esquentando meus pés!-dizia aborrecida.-Só há nós aqui neste canto, ninguém vai reparar.

–É indecente!-disse Inis.

–Você também vai me criticar?-aborrecida, tirou as botas.-Ah...que calor gostoso...

–Está apaixonada?-insistiu Melissa com um sorriso maldoso.-Ah, é pelo rapaz estrangeiro? Do Japão?

–Ah, não fale isso!

–Ele é bem bonito! Com aquele ar sério! Olhar frio!-Melissa comentou.-Minha irmã tem muito bom gosto!

–Até você está dizendo coisas sem sentido, Melissa! Não acredito!-Carla queria se esconder em algum buraco.-Eu não estou apaixonada! E ele não é uma pessoa confiável!

–Como não? A nossa madrasta confia nele, até o chamou para nos acompanhar.-disse Melissa.

–Esqueceu que ele veio para o nosso país encontrar nosso pai? Acusando-o de ser um ladrão?-lembrou Carla, irritada.-Não posso simplesmente perdoar alguém que faz uma acusação tão séria assim do nosso pai. Ele era um legítimo cavalheiro e um homem honesto e honrado!

Todas ficaram caladas.

–Lembro que o papai, mesmo muito ocupado com os negócios e suas viagens sempre encontrava tempo para ficar conosco. Nos dava boa noite ao nos levar para cama quando pequenas.-lembranças da infância vieram a mente de Carla naquele momento.- Não posso perdoar quem tente manchar a imagem de nosso pai assim!

–Ah, você está sendo cruel!-resmungou Vanessa.-Já não foi explicado que tudo passou de um terrível mal entendido? Não deveria tratar ele com tanta frieza.

–Com licença, senhoritas.-Vanessa virou e deparou com um homem que aparentemente estava embriagado.-Poderia me servir mais cerveja?

–O que?-Vanessa piscou várias vezes, como se não tivesse entendido a pergunta.

–Ah, o que foi?-o homem parecia impaciente com Vanessa.-Não entendeu o que eu disse? Vá buscar mais cerveja com seu patrão e me sirva. E traga pão e queijo também!

–O senhor obviamente está me confundindo com outra pessoa! E esta bêbado também. Retire-se, por favor!-vermelha com o que acontecia.

–Caspista! Será que não tem uma taberneira que preste neste lugar?-ele empurra a caneca vazia nas mãos de Vanessa que a pega.-Suja deste jeito, com os cabelos desgrenhados e os tornozelos de fora para todos os homens verem, só pode ser a pior e mais mal arrumada taberneira de toda a Londres!

–Que...que...que..-Vanessa engasgou, não sabendo o que responder.

–Avisei sobre mostrar os tornozelos.-resmungou Carla.

–Anda!-ele a vira de costas e lhe dá um tapa no traseiro.-Traga mais cerveja, ragazza!

–Seu...-a fúria e a raiva tomaram conta de Vanessa, quando deu por si já havia se virado e quebrado a caneca na cabeça do homem embriagado, fazendo-o cair para trás inconsciente. Assim que percebeu o que havia feito, gritou.-Ahhh...EU MATEI ELE!

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Southampton...

Annely subiu as escadas levando em uma bandeja um copo de água e uma jarra. Abriu a porta do seu quarto, onde Kamus estava hospedado e olhou para dentro. Ele ainda estava deitado ainda na cama e parecia muito a vontade para alguém que havia se acidentado ao cair do cavalo.

–Até que enfim, alguém me ouviu.-disse Kamus, em um tom impaciente.-Estou com muita sede.

–Se não gritasse não estaria com sede, milorde.-ela enfatizou a última palavra em tom de deboche, colocando o jarro na cabeceira da cama e lhe estendendo o copo.-Beba.

Kamus franziu o cenho olhando para o copo.

–O que é isso?

–Água. Serve para saciar a sede.-ela falava como se explicasse o fato a um autista.-Você leva o copo a boca e glub, glub...bebe a água. Água boa.

–Acaso está se divertindo às minhas custas?

–Eu? Imagina milorde! Como pode pensar algo assim?-colocando a mão teatralmente no colo e interpretando sua indignação, em seguida coloca a mão na cintura e o fita severamente.-Não temos limonada. Beba a água ou morra de sede.

Ele pega o copo contrariado e dá um gole, devolvendo fazendo uma careta.

–Está quente! Preferia uma limonada ou chá gelado! Poderia providenciar para mim?-se acomodando melhor na cama.

–Claro milorde. Pedirei ao mordomo da casa que faça um chá gelado para a sua senhoria.

–Vocês tem mordomo?

–Você sabe o que é sarcasmo?

–Deveria tratar seu paciente com mais delicadeza, senhorita.-ele coloca as mãos atrás da cabeça em uma atitude relaxante e sorri.-Afinal, eu não estaria aqui se não tentasse me matar.

Annely coloca a bandeja na mesinha do lado com tanta raiva que quase derruba a jarra e um vaso de flores que estava sobre o móvel, Kamus se afasta um pouco, na defensiva, como se esperasse que ela o acertasse com a jarra ou quem sabe com o vaso...ou ambos.

–Eu devia estar louca quando me preocupei com a sua pessoa e corri desesperada atrás de ajuda quando se acidentou.-ela lhe falava apontando o dedo para sua face.-Se eu quisesse te matar, acredite, não estaríamos tendo esta conversa. E não ouse mais debochar de mim!

Kamus a fitou, realmente ela estava abalada. A raiva transparência em todos os poros dela, e parecia tentar se controlar para não chorar, ou lhe arremessar algo.

–Lamento se lhe causei tal transtorno.-ele lhe disse, sério.-Mas...

–Mas?

–Não consigo ficar indiferente quando está perto de mim.

O silêncio reinou no quarto, os únicos sons vinham da chuva que batia no vidro da janela e da respiração de Annely que se alternou com a declaração dele. Por fim, ela pareceu reunir forças e responder:

–Também não consigo ficar indiferente quando estou perto de você.-Kamus a fitou, sentindo a boca um pouco seca.-Você me causa náuseas. É um almofadinha que vive em seu mundinho rico e afetado, achando que pode menosprezar as pessoas como se fossem nada, ou achar que estamos aqui para servi-lo por causa do seu dinheiro e títulos!

As palavras atingiram fundo o orgulho de Kamus, cujo rosto se tornou soturno e endurecido.

–Eu devia ser uma tola sonhadora mesmo por achar que havia algo de bom em você. Por que...por que...

–Me odeia tanto assim?

–Odeio o que fez. Por ter pensado mal de mim. Por ter acredito que eu seria capaz de...-ela bufou.-Meu pai estava certo. Vou me casar com o primeiro que vier aqui e pedir minha mão.

Kamus não queria ouvir mais nada. Ela havia ferido seu orgulho de homem. O lorde tentou se levantar, ignorando a dor em seu corpo, diante do olhar espantando da jovem.

–Não deve se levantar! Volte a ficar na cama!-ela ordenou, tentando fazê-lo recuar.

–Me solte, milady. Não desejo ficar mais um segundo sequer neste lugar, já que lhe causo tanto asco e...-ele havia tentando dar o primeiro passo, mas o corpo não lhe obedeceu e sentiu as pernas fraquejarem.

De repente, Kamus caiu com tudo na cama. Na ânsia de se segurar em algo para não cair, buscou apoio e só encontrou o braço delicado de Annely. Ao cair a trouxe juntamente com ele, ficando por cima de seu corpo.

–Por favor...-ele murmurou.

–Fique quieto! Eu vou...-ela tentou se levantar, mas não conseguia. Era mantida ainda próxima ao corpo de Kamus por suas mãos, que a seguravam firmemente pela cintura.-K-Kamus...

–Pare de mentir para si mesma, Annely. Eu já me decidi não tentar me enganar mais.

Seus lábios tomaram o dela de repente, em um beijo nada casto como os de dois jovens que começavam a conhecer o amor, mas ansioso, apaixonado, exigente, possessivo como os de dois amantes que não se viam há tempos, loucos para aplacar o desejo.

Annely afastou um pouco, estremecendo.

–Pare com isso!

–Tente me impedir.

Kamus beijou-lhe as faces, o canto da boca. Annely pos uma das mãos em seu peito, mas não fez menção de empurrá-lo ou de impulsionar-se para sair daquele abraço. Ele mordiscou-lhe o lábio inferior ante de beijá-la novamente, agora com mais vagar e sensualidade.

–Pare...

–Por que não faz isso, Annely?

Era o que ela menos desejava. Afastar-se dele, daquele abraço, daqueles beijos. Ela tomou a iniciativa de voltar a beijá-lo, sentindo-se derreter em seus braços. Amaldiçoava-se por ainda sentir algo por aquele homem, mesmo de todos estes anos ausente e a fazendo sofrer com suas dúvidas.

E como se lembrasse do motivo que a fizeram sofrer e odiar aquele homem, ela o empurrou, ficando finalmente em pé e limpando os lábios com a costa da mão, olhando-o furiosa.

–Nunca mais ouse me beijar contra a minha vontade!

–Contra a sua vontade? Não foi o que me pareceu, milady...principalmente quando me agarrou.-ele sorriu, daquele modo insinuante, malicioso, charmoso que sempre minava suas defesas.

Annely soltou um palavrão na qual o Visconde nem sequer imaginaria sair daqueles lábios femininos, nem mesmo em uma taverna perto do porto, e saiu do quarto batendo a porta com um estrondo.

Kamus sorriu, voltando a se ajeitar na cama. Ainda havia fogo em Annely, e ele sabia como reavivá-lo.

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Londres...Em um luxuoso hotel cinco estrelas.

Uma dama de longos cabelos negros deliciava-se com um chá, após o suntuoso jantar servido em seus aposentos quando bateram a porta.

–Entre.-ela ordenou com a voz calma e serena.

Um mensageiro do hotel entrou com todo respeito, entregando a dama uma missiva.

–Lamento milady. Mas na residência onde me pediu para entregar esta carta me foi dito que seus moradores não estavam.-dizia o rapaz.

–Como não estavam?-parecia surpresa.

–Foram viajar para o interior. Para uma propriedade rural da família, foi o que os criados me disseram, milady.

–Em plena temporada de bailes?-ela estranhou, pegando a carta de volta.-Tudo bem, pode sair.

O rapaz saiu do quarto e Pandora jogou o guardanapo com força sobre a pequena mesa, bufando. Não esperava que ele estivesse viajando. Suas economias eram parcas, não poderia se dar ao luxo de ficar naquele hotel mais de dois dias. Esperava reencontrar Kamus, se instalar em sua residência e sentir novamente o prazer da companhia do belo e riquíssimo Visconde.

Não queria voltar para Berlim e para o casamento enfadonho que seu pai esperava para ela com um rico comerciante de sessenta anos de idade. Um homem rude e de hábitos asquerosos como o de comer como um porco a mesa. Tais lembranças do jantar onde fora apresentada a ele a fizera estremecer de indignação.

–Não vou me casar com um porco gordo.-ela resmungou.

Ficou pensativa. Propriedade rural da família? Ele havia comentando sobre um fim de mundo no interior da Inglaterra onde passava suas férias quando criança. Uma cidade com um nome estranho... Apenas não se lembrava qual era o nome do lugar ainda.

Mas nada que uma visita surpresa na Mansão para retirar tais informações dos criados e partir o mais breve possível atrás de Kamus. E de seu dote.

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Southampton...

–Acho que não deveríamos ter deixado Annely sozinha em casa com um homem!-lamentava a senhora Kemple estava indignada.-E fomos obrigadas a sair com este tempo horrível!

–Vamos voltar para casa então.-Luna suspirou, odiando estar andando na chuva daquele jeito.

–Ah, não podemos. Devemos levar o remédio para a ...

–Senhora Kemple. Deixe que eu levo, é rápido. Os Justiss moram no fim desta rua.-ofereceu-se a menina.-A senhora vai para casa e eu logo chegarei.

–Oh, eu não sei.-a senhora parecia incerta, mas ficar em casa com este tempo, aquecida e tomando um chá eram mais tentadores.-Está bem. Mas não demore.

Entregou a Luna o remédio e ajeitando-se melhor no casaco, começou a correr de volta para a casa com o guarda-chuva em riste. Luna suspirou e voltou a caminhar na direção da humilde casa dos Justiss. Absorta em seus pensamentos românticos de como Annely e o Visconde se entenderiam, de voltar para casa e ir para a sua cama quentinha, que mal vira o cavalo que aparecera de repente a sua frente, assustando-a.

Luna deu um grito e caiu sentada no chão, sentindo-se envergonhada.

–Ohhh...minhas roupas. Meus cabelos.-lamentava-se, jogando um pouco de lama no animal.-Estúpido!

–Não se zangue com ele, senhorita.-uma voz masculina faz Luna erguer o rosto e corar até a raiz dos cabelos loiros com a visão do mais belo homem jamais havia visto antes...e ela estava coberta de lama e molhada pela chuva.-Antares não a viu. Foi minha culpa.

–A-Antares?-ela olhou para o cavalo.

–É o nome dele.-ele desceu do animal e estendeu a mão para ajudá-la a se levantar.-Meu nome é Milo Alessandros. E a sua graça?

Luna aceitou a oferta da mão estendida, ficou em pé fitando aquele rapaz e murmurou.

–Sou a senhora Alessandros...digo...-começou a rir nervosa.-Luna! Luna Hopkins!

Miro fitou aquela menina e sorriu. Luna sentiu o ar escapar de seus pulmões.

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De volta a Londres.

Aghata Hazelmore vislumbrava com os grandes olhos castanhos os jardins através das frestas da cerca viva que separava sua residência da enorme mansão dos Villairs. O local estava vazio, com exceção dos criados, desde que a Viscondessa saiu com os netos para uma temporada na fazenda. A garota suspirou desanimada, amarrando os cabelos loiros em um rabo de cavalo, com a ajuda de uma fita e depois verificando se havia mais alguém ali. Nada.

As conversas animadas às escondidas com o elegante Visconde e sua irmã Lucy eram o único conforto que Aghata possuía há anos. Confinada dentro de casa pela tia Dorothea, que a considerava frágil demais e doente demais para fazer qualquer coisa faziam os anos parecerem séculos para a jovem de apenas dezenove anos.

Na verdade, tudo na casa de sua tia parecia pertencer ao século XV ou mais velho ainda. Como a própria idade mental da tia, que desde a viuvez sempre se trajava com os longos e sóbrios vestidos de luto, os cabelos castanhos presos em um rigoroso coque e o rosto que parecia que nunca sorriu em sua vida.

Não era como queria terminar, mas achava que a prisão que era a casa de sua tia e tutora desde a morte dos pais, acabaria por transformá-la em uma pessoa tão triste e amarga como ela. Afinal, a tia a proibia de tudo. Tudo era pecado! Tudo era perigoso para a sua saúde!

Bem, pelo menos não iria se negar um dos prazeres que sempre compartilhava com Lucy quando podia e tia Dorothea não estava por perto. Se fartar das deliciosas amoras que brotavam nos fundos da mansão.

Caminhou até uma parte da cerca onde havia um meio de transpassar sem ser vista e pé ante pé foi até os fundos, aproveitando que os criados estavam jantando naquele momento. Acariciou o velho cão de guarda, que apenas abanou o rabo em retribuição, por conhecê-la bem e este voltou a dormir defronte a porta que levava a cozinha.

Aghata chegou à amoreira e estendeu a mão para pegar uma das amoras, a colocando na boca e saboreando-a devagar. Observou a amoreira carregada de frutos e pensou em voltar no dia seguinte pedindo para recolher alguns cestos para preparar tortas e geléias. Acreditava que sua tia não iria fazer restrições a isso.

Conseguiu vislumbrar, apesar da penumbra, uma amora particularmente grande e apetitosa. Sorriu, porém ela estava longe de seu alcance. Viu um banquinho de madeira encostado próximo a parede e o pegou. Ajeitou-o debaixo da amoreira, não parecia firme naquele chão por uma das pernas aparentar estar torta. Mas deu os ombros, a vontade de deliciar-se com aquele fruto era maior.

Subiu no banco, ganhando altura para tentar alcançar a amora. Estendeu a mão na direção dela e o sorriso que precedia a sensação de comê-la foi substituída pela surpresa quando ouviu um som característico de madeira estalando e o banco pender para o lado, devido a uma perna que cedera com o peso da jovem. Aghata já se via caída ao chão de modo vergonhoso e dolorido por sinal, mas a queda não ocorrera como imaginara.

Um braço forte a amparara, enlaçando-a pela cintura. Antes que soubesse o que estava realmente ocorrendo, viu-se nos braços de um homem enorme, de tez morena e um sorriso nos lábios.

–Desculpe a demora, Nancy.-ele disse antes de beijá-la com intensidade.

Por um momento a mente de Aghata congelou-se. Chocada demais com o fato de estar sendo beijada por um completo estranho. Um verdadeiro gigante se comparar-se sua estatura pequena e frágil.

Ela não tinha forças para reagir. Como reagir? Somente colocou as mãos nos braços que a prendiam, acabando por ceder ao beijo. Foi quando lembrou-se que era a primeira vez que era beijada em sua vida! Sempre imaginara que o seu primeiro beijo seria diferente. Seria em um baile, após uma dança e um cavaleiro iria atrevidamente roubar um beijo rápido de seus lábios.

Não debaixo de uma amoreira, enquanto furtava os frutos na ausência dos proprietários da mansão, e sendo confundida com uma tal de Nancy!

Com a mente atordoada viu o beijo cessar. Recobrado o fôlego, veio o furor do momento. Ergueu seu braço acertando a face do estranho com um tapa bem forte e certeiro. Acreditava que ele nem sentiria o efeito do tapa, mas foi o suficiente para deixá-lo chocado e soltá-la.

–Como se atreve?-ela dizia, quase caindo pelas pernas trêmulas.

–Você não é a Nancy! A copeira dos Chanttél!-o gigante apontou para Aghata.-Quem é você?

–Sou Aghata Hazelmore.-respondeu erguendo o queixo, tanto em desafio quanto para fitar aquele homem diretamente nos olhos.

–Ah, a sobrinha da louca...er...-notou que ela bufara com o comentário.-A senhora Hazelmore da mansão do lado. Perdoe-me senhorita, eu a confundi com outra pessoa. Eu sou Martins José Aldebaran e Conceição.

Aghata o fitou confusa.

–Meus amigos me chamam apenas de Aldebaran.-ele riu.-Não me conhece não é verdade?

–Na verdade, não conheço sua graça.

–Ótimo! Er...digo. Bem, sou apenas um humilde estudante brasileiro em seu país. Me preparando para continuar os negócios de minha família quando voltar ao meu País.

–Brasil?-Aghata ficou interessada, havia lido sobre este curioso país nas enciclopédias, mas nada que sanasse sua curiosidade.-Me diga, é costume em seu país beijar qualquer moça que aparece na frente?

–Somente as bonitas.-ele deu uma risada que Aghata achou exagerada.-Desculpe-me novamente, mas...o que a senhorita faz aqui nesta propriedade a noite?

–Colhia amoras.-respondeu simplesmente.

–A esta hora da noite? Sozinha?

–Sempre colho as amoras à noite.

–Sempre?

–Sempre.-sustentou sua mentira.-Preciso ir embora, antes que...

–Sua tia venha atrás de você com tochas e uma foice?-ele voltou a rir e desta vez Aghata riu junto com ele.

Aldebaran parou um instante, achando delicioso ouvir a risada daquela jovem.

–Melhor eu ir...mas, o que o senhor faz aqui a noite? Além de procurar a Nancy?-ela o fitou acusadoramente.

–Sou amigo da família.-ele respondeu.-Ia me despedir de Nancy antes de viajar amanhã pela manhã, com um amigo.

–Vai viajar?-perguntou com pesar. Mal havia conhecido uma pessoa diferente das demais com quem convivia e já iam ter que se separar.

–Aceitei o convite do Visconde para visitar sua fazenda. Partirei amanhã com meu amigo, Afrodite.

–Afrodite...Aldebaran. Nomes incomuns.-ela comentou.

–Nossos pais tinham imaginação...ou a falta dela.-novamente a fez rir.

As luzes na casa dos Hazelmore começaram a serem acesas e Aghata alarmou-se pelo fato da tia realmente vir atrás dela. O que faria se a visse naquele lugar, na penumbra com um homem. Sorriu imaginando o que ela faria se soubesse que ele havia beijado-a minutos atrás.

–Realmente preciso ir.-ela disse caminhando até a cerca viva.-O senhor poderia me fazer um favor?

–Certamente.

–Poderia passar aqui antes de partir em sua viagem? Lucy deixou comigo um echarpe, creio que estaria fazendo falta a ela. Poderia levar para ela, por mim?

Aldebaran ponderou, um pequeno desvio nos planos perfeitos de Afrodite de chegar no dia e hora marcados por ele, não faria diferença. Ao menos teria a chance de conversar com Aghata mais uma vez.

–Claro. Será um prazer! Mas posso fazer uma pergunta antes, senhorita Aghata?

–Certamente que pode, senhor Aldebaran.

–Notei algo...foi seu primeiro beijo?

Ela sorriu corada, afirmando com a cabeça e passando pela cerca viva e correndo para a sua casa. Aldebaran acompanhou tudo com um sorriso nos lábios até sentir uma bengalada atingir sua cabeça.

–Imaginei que estivesse aqui com alguma jovenzinha sem juízo.-comentou Afrodite com ar sério.

–Não. Estava com uma linda princesa.-olhando para a casa.

–Princesa?

–Sim. Ela mora em um castelo, presa por uma bruxa velha.

–Ah, e você é o garboso cavaleiro que vai salvá-la?-Afrodite balançou a cabeça negativamente, se apoiando em sua bengala.-Mal chegou a minha cidade e já está viajando nas nuvens, meu amigo?

–Talvez...

–Vamos! Se vamos sair bem cedo pela manhã, não podemos perder tempo com estas coisas.-o lorde determinou, caminhando discretamente para fora dali.-E não fica bem invadirmos a casa do Visconde no meio da noite!

–Seu amigo Giovanni tem razão.

–Sobre?-Afrodite parou fitando o brasileiro, que passou por ele antes de responder.

–Desde que deixou aquela menina ir embora vive de mal humor.

Afrodite franziu o cenho, mas não retrucou. Afinal, ele estava certo. Por isso aceitara o convite para ir ao interior. Helena estaria em segurança na residência de Giovanni em Londres e ele tentaria esquecer a jovem em dias de caçada e festas com os amigos. Estava determinado a não rever Helena, nem sequer pensar nela. Mas era difícil com todos fazendo questão de lembrá-lo dela.

Continua...


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