Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Nota: desculpem pela demora em atualizar!^^"Ando trabalhando demais e tendo inspiração de menos.Obrigada.Betado por Ziegfried-aenslaed



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–Oh, que chuva horrível!-exclamou Lucy olhando pela janela da sala de música.-E Kamus que teimou em sair com o tempo assim? A vovó ficará preocupada se ele não aparecer para o chá.

–Acalme-se Lucy.-pediu Milo, praticamente deitado em um divã, observando o licor na taça que segurava entre os dedos.-Se ele não voltar em exatos trinta minutos, sairei com alguns empregados da fazenda para procurá-lo.

–Fará isso?

–Claro! Ele é meu melhor amigo.-sorriu sentando-se no divã e bebericando o licor.-Com certeza está refugiado em algum lugar, alguma taverna, por conta da chuva e se aquecendo com conhaque.

Lucy coloca a mão sobre o coração, respirando aliviada ao ouvir isso.

–Espero que sim.-e olhou preocupada novamente pela janela.-Espero que os convidados de vovó e de Kamus não tenham problemas com esta tempestade também.

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Em Londres, uma pequena comitiva de carruagens, estava parada a frente a Mansão Blackmoore, onde os criados se alternavam em colocar as bagagens de seus moradores, sob as ordens do mordomo da casa.

–Coloquem o baú da baronesa com cuidado!-ordenava, já achando cansativa a situação.-Jones, não ouse colocar esta mala pesada sobre a minha!

–Acalme-se Igor.-dizia a baronesa colocando o par de luvas brancas e ficando ao lado dele.-É para ser uma temporada de descanso. Tente dar um sorriso.

–Madame, assumo que a idéia de se afastar de Londres já que ela esta infestada de rufiões, excelente...Mas...-olha desolado para ela.-Por que devo ir?

–Preciso de um homem de confiança para me ajudar a ficar de olho nas meninas.-sorriu ao responder.

Igor tentou refutar, e talvez convencer a baronesa a deixá-lo ficar, mas foi interrompido pelas enteadas dela, que saiam da casa animadas com a perspectiva da viagem. Suspirou, ao ver a sua patroa se afastar e determinar em quais carruagens cada uma iria, e se aproximou de Dohko, que cuidava de podar uma roseira.

–Teria como ficar próximo a baronesa nesta viagem...Mas de maneira bem discreta?-perguntou o mordomo.

–Quer que eu a siga?

–Ficaria demasiado estranho eu pedir que o jardineiro nos acompanhasse na viagem, não? E, ademais, com aquele mandrião à solta, receio que uma simples viagem ao interior não o deteria se quisesse vir até ela. E confio em suas habilidades e discrição. -disse ajeitando os óculos sobre os olhos.

Dohko lançou um olhar sobre o grupo de garotas, mas o olhar se deteve não na figura da baronesa e sim de Inis, que entrava em uma carruagem acompanhada por Ludmila, encantada em viajar com as damas.

–Sim, claro.

–Mantenha os olhos na baronesa.-frisou o final da frase.-E não na senhorita Inis.

–Hein?-corou.-Estava de olho...De olho na...-sorriu sem graça.-Não pense besteiras!

–Não pensarei.-o fitou sério.- Trate de se arrumar para a sua viagem, não deixe que o tempo ruim o atrase e...-Dohko olhava novamente na direção de Inis.-Senhor! Focalize em sua missão! E não na senhorita Inis!

–Estou focalizando!-apressou-se em dizer.-Ah, o “primo Shaka” está querendo chamar sua atenção.

Igor ajeitou o seu casaco, mantendo a expressão séria e se afastou para ver o que o jovem lorde e seu amigo desejavam, mas resmungando:

–Era o que me faltava! Terei que arrumar cães de guarda para manter a ralé longe das meninas agora?

–Até parece um irmão ciumento do que um mordomo.-resmungou Dohko, pegando o vaso com as rosas e olhando para onde Inis estava.

A moça estava apoiada na pequena janela conversando algo com Mu, amigo de seu primo, e subitamente o olhar dela foi atraído na direção do chinês, que piscou para a dama. Inis ficou corada de repente.

–Algo errado senhorita? Ficou vermelha?-perguntou Mu a ela.

–N-Nada! Apenas estou com pressa para viajarmos.

–Acho que devemos partir agora.-dizia Shaka a Igor.

–Certamente.-concordou o mordomo.

–Nosso convidado ainda não chegou.-lembrou-lhes a baronesa, para o desgosto de ambos.-O senhor Amamiya deve estar para chegar. Ah...Ali está ele.

Ikki vinha subindo a rua, com apenas uma pequena mala de mão e sua espada atada a suas costas, sempre mantendo o rosto sério, mas não deixou de dar um sorriso de lado ao reparar nos rostos contrariados de Shaka e Igor.

–Milady.-ele fez uma reverência educada diante da baronesa e retribuiu com um leve aceno de cabeça.-Perdão pelo meu atraso.

–Que atraso? Chegou na hora certa.-ela apontou a carruagem logo atrás da dela.-Importa-se de viajar com Igor?

O japonês ergueu uma sobrancelha, encarando o rosto contrariado do mordomo e respondeu:

–Claro. Não me importo milady!

–Devo levar este chapéu? Pode ser que tenhamos dias de...-perguntou Carla se juntando ao grupo e parando de repente de falar ao notar a presença de Ikki.

–Carla-dono.-fez uma reverência diante dela, que ficou sem saber o que fazer.

Um silêncio constrangedor seguiu-se depois disso, e foi quebrado pela baronesa.

–Leve o chapéu, querida, vai ser útil. Bem...Vamos? Se formos rápido pernoitaremos em uma adorável estalagem e chegaremos à fazenda da Viscondessa amanhã antes do almoço.

Todos embarcaram, na primeira carruagem iam a baronesa, acompanhada por Shaka, Mu e Louise. Atrás deles seguiam Carla, Inis, Ludmila e Vanessa. Tathiane, Amanda e Melissa iam na próxima, e atrás delas a carruagem onde viajariam Igor e Ikki. Alguns animados com a viagem, outros...Nem tanto.

Mesmo após terem saído da cidade, Amanda ainda continuava com uma expressão triste em seu rosto, fato este que fez Melissa exclamar indignada:

–Ainda assim? Pare com estes suspiros! Não vou agüentar eles o caminho todo!

–Deixe-a.-advertiu Tathiane a mais nova.-Não vê que ela está triste por que não teve tempo de se despedir dele?

–Tudo isso por um homem que mal conhece e que ainda não foi pedir a permissão ao nosso primo para cortejá-la?-desdenhou Melissa.

–Não o vejo desde aquele passeio no clube.-Amanda suspirou novamente.-A vida é injusta!

–É...Injusta mesmo.-replicou Melissa.-Eu queria ir com Igor. Pelo menos passaríamos o tempo jogando cartas.

–Ele não me pareceu feliz em viajar com aquele rapaz.-comentou Tathiane.

–Kanon...-suspirou Amanda novamente.

–Se ela chorar, eu a jogarei pela janela.-Melissa ameaçou.

–Diz isso porque nunca se apaixonou, Melissa.-replicou Amanda.-No dia em que se apaixonar, irá me entender.

–Para que eu iria querer um homem mandando em minha vida? Estou muito bem sozinha! Ademais, quero ser advogada! Julie deu permissão para que eu estude e Shaka já está providenciando minha entrada na universidade na idade certa!-declarou a loira sonhadora.-Irei me dedicar a uma carreira e não a casamentos e filhos!

–Advogada?-espantou-se Tathiane.-Irmãzinha, sabe que enfrentará muita resistência dos outros?

–Sei, mas conto com o apoio de vocês. Não preciso de mais ninguém.

Na carruagem em que viajavam Ikki e Igor.

Ambos se encaravam, de braços cruzados, sérios...e o silêncio imperava.

–Linda tarde.-comentou Igor.

–Vai chover.-respondeu Ikki.

–Provavelmente.

–Hai.

Novamente o silêncio.

Na primeira carruagem...A baronesa incentivava uma conversa amistosa entre Shaka e Louise, na esperança que eles se entendessem.

–Então...Sabia, Shaka, que Louise é uma amazona nata? Ninguém cavalga melhor que ela. E me refiro até mesmo aos cavalheiros.

–Impressionante!-exclamou Shaka, fitando Louise que permanecia calada.-Entende de cavalos?

–Sei tudo sobre eles.-respondeu por fim.

–Em uma das minhas propriedades na Índia, tenho um haras.-o comentário atraiu a atenção da jovem.-Ficaria feliz em saber sua opinião sobre as melhores raças a serem criadas ali.

De repente, a carruagem começa a parar.

–O que será que houve?-indagou a baronesa.

–Não faz nem uma hora que saímos de Londres.-comentou Shaka.

–Irei perguntar ao Jones o que está havendo.-disse Mu saindo da carruagem.-Parece que tem um acidente logo à frente.

–Oh Céus.-exclamou a baronesa.-Espero que ninguém tenha se ferido!

–Graças a Deus que vocês pararam.-a voz era conhecida e a baronesa arrepiou-se ao ouvi-la.-Pensei que ficaríamos aqui o dia todo antes de aparecer algum bom cristão.

–Oh, não...-ela se inclinou na janela, avistando Saga conversando com Mu.

–Na verdade, sou budista.-explicou o tibetano.

–Meros detalhes...-virou-se e viu Julie, sorrindo.-Minha bela lady! Alguém lá em cima realmente me tem em grande estima. De todos em Londres que pudessem passar por esta estrada para me socorrer...Apareceu justamente a senhora e sua adorável família.-acena para Amanda que já saíra da carruagem curiosa com a repentina parada.

–O...O que faz aqui, senhor?-indagou indignada saindo da carruagem.

–Ia a caminho da fazenda da família de meu bom amigo, o Visconde de Chantéll. Quando a roda quebrou.-apontando com a bengala o estrago.

Mais três rapazes saiam da carruagem, cumprimentando a baronesa. Amanda deu um enorme sorriso ao reconhecer um deles, Tathiane ficou corada ao reconhecer os rapazes com quem discutiram no baile certa noite.

–Meu irmão Kanon...E meus amigos Aiolos e Aiolia Petronades, de Atenas.-Saga fez as rápidas apresentações.-Bem, é demasiado constrangedor, mas...Poderiam nos levar até a cidade mais próxima?

A baronesa ia replicar, Igor que saíra da carruagem ia dizer um sonoro não, quando Amanda apressou-se em falar primeiro:

–Se vamos para a mesma fazenda, poderemos levá-los! Seria um prazer viajar com cavalheiros tão gentis!

–Amanda!-repreendeu a baronesa.

–Seria um prazer.-respondeu Saga.-Mas creio que tal pedido só poderia ser feito pelo jovem Lorde Furneval.

Shaka se viu preso a uma situação onde o cavalheirismo o impedia de abandonar aqueles homens a sorte na estrada.

–Creio que poderiam viajar na carruagem com seu mordomo, baronesa.-sugeriu o loiro.

A baronesa abriu a boca várias vezes para dizer um não, mas nada saia de sua boca. Lançou um olhar furioso a Saga que retribuiu com o seu melhor sorriso e entrou em sua carruagem.

–Acho que isso foi um sim.-disse o grego, achando a situação deveras divertida.


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Southampton...

–Milo!-Lucy sacode o grego que dormia após o suntuoso almoço na sala de estar, em um sofá.-Acorde!

–Hã? Não fui eu!-ele acorda e fita Lucy.-Ah, senhorita! O que houve? Que constrangedor, acabei adormecendo enquanto eu...Eu...-olha ao redor e pega um livro em um móvel ao lado e sorri.-Enquanto eu lia.

Lucy demonstrou que não havia acreditado na desculpa de Milo, mas preferiu não comentar, algo mais a preocupava.

–Kamus não retornou e a chuva tende a aumentar. Vovó está apreensiva e eu também. Já anoiteceu!

–Ainda não retornou?-espantou-se ficando em pé.-Isso é estranho.

Caminhou para a saída da sala de estar, seguido pela jovem.

–Aonde vai?-ela perguntou alcançando-o.

–Procurá-lo.-e virou-se para a cozinha, onde os demais empregados estavam. Eles estavam entretidos em uma conversa animada e se calaram quando Milo e Lucy entraram.-Lorde Kamus não retornou. Preciso de voluntários para procurá-lo.

Imediatamente os homens largaram o que faziam e se apressaram e pegar suas botas e casacos, seguindo as orientações do capataz da fazenda sobre os locais onde o lorde poderia estar.

–Vá até o lago, que fica a poucos quilômetros daqui.-orientava Lucy da varanda.-E tem uma igreja antiga e abandonada ao sul, ele pode ter ido lá também. Ah...O bosque perto da casa do doutor Hopkins!

–E por que ele iria nestes lugares com este tempo?-indagou o grego, vendo o cavalo que os cavalariços já lhe traziam apressados.

–Foram lugares especiais para eles.-ela respondeu simplesmente.

Milo apenas a fitou, intrigado antes de montar e sumir na estrada.


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"Que dor de cabeça infernal"...Era o pensamento que veio a sua mente, enquanto lutava para voltar a consciência. Mas não conseguia abrir os olhos.

Gemeu, sentia uma dor aguda que subia pela espinha e seguia pelos ombros e braços. As costelas doíam apenas por respirar. Não havia sequer um pedaço de seu corpo que não latejasse...Mas mesmo assim...Sentia um certo conforto, um aroma delicioso e um agradável toque em seu rosto.

Por que aquele toque e aquele aroma lhe eram familiares?, se perguntava Kamus, ainda preso a escuridão.

–Está com febre.-disse Annely ao pai, enquanto afastava a mão da face de Kamus.

–Compreensível, diante da situação.-respondeu o médico acabando de guardar seus equipamentos.-Ele tem é sorte de não ter morrido com a queda. Mas quem sabe...pode haver sequelas.

–Sequelas?-a jovem arregalou os olhos, assustada.

–Sim. É comum quem sobreviva a uma queda feia de um cavalo vir a nunca mais andar. Ainda não sabemos se é o caso.-o médico caminhava até a porta.-Continue umedecendo a testa dele para baixar a febre. Vou agradecer aos homens que nos ajudaram a trazê-lo para cá.

Enquanto o pai saia, Annely fitou o homem deitado em sua cama inconsciente e ferido, e não deixou de sentir uma pontada de culpa pela situação. Ela havia assustado o cavalo dele, feito-o cair e agora imaginar que Kamus pudesse ficar sem os movimentos das pernas a fez beirar o pânico no momento.

Não pensou nas consequências quando saiu correndo e parou as primeiras pessoas que encontrou no caminho pedindo...Implorando por ajuda. O colocaram de qualquer jeito em uma carroça para trazê-lo debaixo de chuva para a sua casa onde seu pai, o único médico da região, poderia cuidar de seus ferimentos.

Mas conhecia seu pai o suficiente para saber que aquele olhar cansado significava que o estado de Kamus poderia ser precário. Annely sufocou um soluço, tentando segurar as lágrimas. Não era assim que imaginava reencontrar Kamus.

–Kamus...-murmurou tocando novamente o rosto dele, ouvindo-o gemer.-Droga! Por que teve que aparecer daquele jeito? Eu...-Segurou a mão dele com a sua, sentindo-a fria, tentando sorrir.-Fez isso de propósito apenas para me deixar culpada, não é?

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Do lado de fora da porta, o Dr. Hopkins pressionava o ouvido contra a porta para escutar o que acontecia no quarto. Neste momento a governanta da casa apareceu, colocando as mãos na cintura com ar indignado, ele fez sinal para que ela ficasse quieta. A senhora aprumou o ouvido contra a porta também.

–Ele está tão mal assim?-perguntou Luna, em um sussurro aparecendo logo em seguida, seguindo o exemplo dos dois mais velhos.-Ela está chorando...

–Não.-respondeu o médico.-E que ótimo que ela está chorando!-exultou saindo de perto da porta. As duas o olharam surpresas.-Escrevam o que eu digo...Annely se casa antes do verão acabar.

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Dentro do quarto, Annely ainda cuidava de Kamus, abrindo seu coração a ele.

–Por favor...-segurava firme a mão dele.-Acorde...Eu...Eu ainda...Te am...

Parou de falar ao sentir o aperto de sua mão ser correspondido e em seguida ergueu a cabeça fitando o rosto de Kamus, ele estava acordado. De olhos bem abertos, prestando atenção no que ela dizia.

–Você ainda o que, Annely?-ele perguntou em um fio de voz.

–Eu ainda quero socar seu rosto empertigado, "milorde".-tentou soltar a sua mão, mas ela ainda a segurava firme, com um sorriso de lado nos lábios.

–Não foi o que me pareceu que iria dizer.

–Então a queda embaralhou seu juízo!

–Ah sim...a queda. Agora me lembro. -ele a puxou, fazendo-a inclinar sobre eu corpo e lhe dando uma visão privilegiada da curva dos seios que pareciam querer saltar do decote do vestido.-Você tentou me matar naquela estrada?

–Acredite, se eu tentasse...Você não estaria aqui.-respondeu com um sorriso.

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Do lado de fora.

–Estão brigando, papai!-exclamou Luna horrorizada.

–Apenas estão colocando a diferenças para fora, querida.-respondeu o médico.

–Acho que ouvi a palavra "matar".-a governanta ficou pensativa.

–Impressão sua. Silêncio as duas!

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–Continua com a língua ferina, Annely.-ele a soltou e a jovem ficou em pé, como se quisesse ganhar distância dele. Foi quando ele observou ao redor e notou que estava em um quarto de feminino.-Onde estou?

–Meu quarto...-ela corou ao responder.-Minha cama.

–Sua cama?-a idéia de estar deitado na cama de Annely, e com a garota tão próxima a ele, o deixou perturbado.-Não é certo que eu fique aqui!

–Está acidentado. Meu pai acha que deve ficar deitado, ao menos por um dia, para saber se não teve sequelas mais graves.

–Tolice! Estou esbanjando saúde!-ele tentou se levantar e notou que estava apenas vestido com suas ceroulas e cobriu-se imediatamente, como mandava o decoro.-Onde estão minhas roupas?

–Estava molhadas e sujas de lama. Eu as tirei para serem lavadas e...

–Você me despiu?-ele deu um sorriso de lado.

–A senhora Kemple teve o desprazer. Eu apenas a ajudei.-respondeu imediatamente.-E não pense que gosto do que está acontecendo!

–Não importa. Mande chamar um criado da fazenda para me buscar.

–Desculpe "vossa Senhoria".-ela fez uma reverencia exagerada para debochar e Kamus franziu o cenho.-Mas nosso mordomo está viajando de férias pela linda Paris!

–Sarcasmo não combina com você.

–Ser falsa também não.-e o fitou.-Ao contrário de outros que utilizam tal recurso com maestria!

–A que se refere?

–Quer mesmo que eu diga?-a raiva em seu olhar indicava exatamente sobre o que ela falava e Kamus também sabia.

–Que eu saiba, você entende e muito sobre ser falsa!

–A que se refere?-indagou estranhando o tom de voz acusador dele. Se alguém tinha que acusar outro, era ela!

–Falsidade e traição! Algo em que vocês mulheres são mestras!

–Está me acusando de traição? De onde tirou tamanha insanidade?-ela o fitou, enfurecida.

–Você sabe muito bem do que se trata Annely Hopkins! Eu a vi com outro homem, e no mesmo dia em que eu a pedi em casamento!

Annely ficou tão chocada que não teve reação alguma a não ser abrir a boca, como se quisesse retrucar, mas não conseguia.

–Cheguei em casa, avisando a todos que iria me casar com você e o que descubro? Que a minha querida noiva se encontrava às escondidas com um jovem loiro e magricela!-ele colocou tudo para fora, e Annely arregalou os olhos, não acreditando no que ouvia.-Claro que não acreditei! Era idiota para acreditar em sua inocência. Mas eu a vi nos braços dele, Annely!

–Ele era loiro? Magricela?-de repente ela ficou serena, colocando as mãos diante dela.-Usava óculos?

–Eu acho que sim e...A-Há!-apontando para ela, ficando sentado de repente e gemendo de dor pelo esforço repentino. Depois que Kamus recuperou o fôlego, voltou a apontar o dedo para ela.-Então não nega que é verdade! Que o conhece!

–Claro que eu o conheço.-respondeu com calma. Agora tudo fazia sentido.

–Jamais imaginei que você fosse capaz disso...Jamais...

–Você é um grande...idiota!-ela disse por fim, com tamanha calma que Kamus estranhou. Como ela ousava ofendê-lo após expor sua traição?

–Como?

–IDIOTA!-ela gritou, assustando-o.-ELE ERA MEU PRIMO! MEU PRIMO QUE ESTAVA DE PARTIDA PARA O SEMINÁRIO!

Kamus ficou sem reação, sua sobrancelha movia-se involuntariamente em resposta a sua perplexidade.

–S-seu primo?...Seminário? Daqueles que viram padres?

–SEU GRANDE...-ela abre a porta com brusquidão, mas ainda fitando-o e por isso não reparou nas três pessoas que se afastavam correndo.-IDIOTA!

Saiu do quarto, fechando a porta com tanta violência que um quadro caiu da parede próxima e um livro tombou de uma prateleira.

–Maldição!-Kamus deitou a cabeça no travesseiro fitando o teto, se maldizendo mais.-Como eu podia adivinhar que eram primos?

Foi então que lembrou de que nunca a indagou sobre o caso. Em seu orgulho, simplesmente fizera as malas e partira. Mas a sua avó havia dito que Annely não era digna de confiança, o traia e acreditou...Oh, Deus! Agora entendia tudo...Principalmente o ódio em seu olhar ao falar do assunto.

Ele partira, a abandonara após lhe pedir em casamento. Como ela deve ter sofrido por sua causa...Por sua grande idiotice.

–AH...Senhor! Se existe, me fulmine por minha estupidez!-murmurou, depois fez uma careta, ao se lembrar do acidente, da queda e do choque, da confusão de revê-la.-Eu a pedi em casamento de novo?

A sua atenção foi atraída para a cômoda do seu lado e para um objeto sobre ele. Esticou a mão pegando a caixinha de música de madeira, ricamente trabalhada, ficando sentado na cama apesar da dor que sentia, alisando-a.

Virou o objeto reconhecendo-o. Embaixo dele haviam as iniciais entalhadas: "K&A".

Aquele foi o último presente que havia dado a Annely, e ela o guardava ao seu lado na cama durante todos estes anos.

–Ora...Ela ainda me ama?-deu um sorriso. Talvez não fosse tarde demais.


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No andar térreo da casa.

–Isso não está certo papai!-dizia Luna seguindo-o pela casa.

–Não acredito que tenha nos dito que pretende fazer sua filha casar-se com aquele...Aquele...Aquele ignóbil!-exclamou a senhora Kemple, indignada.-Ele a abandonou!

–Ouçam as duas!-disse o médico, olhando para o alto da escada como se temesse que a filha ou o hóspede os ouvisse.-Annely não deseja se casar com ninguém, porque ela ainda tem sentimentos por aquele homem. E eu percebi isso! E o que é melhor!-ficou entusiasmado.-É um Visconde!

–Papai!-Luna ficou horrorizada.

–Ora fique quieta Luna!-disse o pai rispidamente.-E lembre-se a senhorita que só poderá se casar se sua irmã casar-se primeiro!

Luna ia protestar, mas calou-se. Pois era verdade que o pai havia feito uma promessa de casar a filha mais velha primeiro e depois a mais jovem. Era desejo de Luna casar com um belo homem, e ter uma vida feliz com muitos filhos.

Ouviram a porta fechar-se em um estrondo.

–Ela vem vindo. Nenhuma palavra as duas!

Annely descia as escadas, furiosa, batendo os pés e segurando a vontade de chorar de indignação pelas acusações que havia recebido. Então ele achava que ela o traiu? Por isso partiu sem mais nem menos. Que amor era esse que por tão causa de fofocas deixava-se abalar?

Parou ao pé da escada, desconfiada da família que disfarçava com conversas sobre a horta o fato de terem escutado a briga no andar de cima, e de certo modo sentia-se aliviada por eles não lhe fazerem perguntas embaraçosas.

–Então.-disse o patriarca de repente, pegando um casaco e o chapéu.-Irei agora até a fazenda da Viscondessa avisar sobre o estado de saúde de seu neto e que ele está bem. Melhor que eu lhe dê a noticia. Uma senhora da idade dela não pode ter emoções muito fortes.

–Agora?-Annely indagou surpresa.-Mas ainda está chovendo e a estrada para a fazenda deve estar horrível.

–Penélope está acostumada a me levar pra cima e pra baixo nestas estrada, fazendo chuva, sol, nevando...Para atender as emergências, filha.-falou irredutível, já caminhando para os fundos da casa e para a pequena cocheira, onde costumavam deixar a velha égua, chamada Penélope, pernoitar.-Luna, acompanharia a senhora Kemple até a casa da jovem senhora Justiss?

–O que?-indagaram as três sem entender.

–Aquela jovem que deu a luz a gêmeos outro dia. Ela estava com febre, lembram-se?-tentando fazer-se entender e apontando para um vidro.-Quero que levem aquele remédio para ela.

–Ah, claro.

–Sim, senhor!-disseram as duas.

–Esperem!-Annely alterou a voz.-Vão me deixar sozinha com ele? Deixará sua filha sozinha com um homem na casa?

–Ora minha filha.-disse o médico como se achasse absurdo o que ouvira.-O Visconde está acamado e impossibilitado de andar no momento. Ele não representa perigo algum a sua virtude. A família dele tem que saber o que houve e meus pacientes precisam de atenção. Então, você fica.

–Mas...

–Vá lá em cima daqui a pouco ver se ele precisa de algo, está bem?-sorrindo, subiu na égua e a incitou a andar.-Até mais tarde.

Annely tentou argumentar, gritar, esbravejar. Mas percebeu que seria uma atitude infantil, e para não dizer que os vizinhos teriam certeza de que ela estaria louca.

A senhora Kemple e Luna, talvez para evitarem um confronto com a jovem, ou para não atenderem suas súplicas para que ficassem com o Visconde enquanto ela levava o remédio, saíram rapidamente.

–Mas...-ficou parada, sem saber o que fazer, até que ouviu alguém chamando.

–Alguém?-Gritou Kamus do andar superior.-Tenho sede! Uma limonada seria ideal no momento!

Ela suspirou e pensou seriamente em lhe servir sicuta juntamente com a limonada.


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Em uma pequena estalagem no meio da estrada.

Shura chegava segurando três canecas de cerveja e colocando a frente dos amigos, sentando diante deles, haviam jantado, e agora precisavam de um lugar para dormir.

–Então?-indagou o italiano.

–Tem poucos quartos vagos, mas consegui que reservassem dois dos melhores para nós.

–Ah, magnífico!- Giovanni parecia satisfeito e olhou para a prima que fitava a caneca de cerveja.-Beba querida, vai te aquecer. Irei providenciar que lhe preparem um banho e uma refeição quente.

–Obrigada.-sorriu ao ver o primo beber todo o conteúdo da caneca de uma vez e em seguida ir tratar do pagamento do pernoite com o estalajadeiro.-Senhor Shura, permita-me perguntar uma coisa?

Shura encarou a jovem e assentiu com um aceno de cabeça.

–Pode perguntar, milady.

–Perdoe-me se eu parecer indelicada, mas...O senhor parece muito preocupado com alguma coisa. Será que posso fazer algo para o senhor?

Shura a fitou em silêncio um instante. Estava tão evidente assim que carregava problemas?

–Nada que uma senhorita deva se preocupar.-respondeu sorrindo amavelmente.

Tinha vontade de acrescentar que apenas queria anular seu casamento com uma jovem inocente, uma união forjada, tudo por motivos egoístas. Ele não era merecedor da preocupação de nenhuma dama. Imaginava o que os amigos diriam se soubessem a verdade. Certamente, no mínimo, o chamariam de crápula e o repudiariam.

–Tem certeza, milorde?-insistiu.-Sabe, minha mãe dizia que às vezes era bom desabafar os problemas a alguém de confiança. Mas ela costumava se confessar com o padre da cidade onde morávamos, quando ainda era viva.

Se contasse a um padre certamente seria excomungado, se não assumisse o casamento, pensou.

–Eu ficarei bem, Helena.-sorriu, erguendo-se da cadeira.-Se me permite, irei pedir por mais uma caneca de cerveja.

–Claro milorde.-a atenção da jovem foi direcionada a porta da estalagem que abriu, permitindo a entrada de um grupo numeroso de jovens mulheres e alguns cavalheiros.-Mais viajantes. A estalagem vai lotar esta noite.

–Devido a chuva, com certeza milady.-respondeu Shura com indiferença.-As estradas ficam difíceis e perigosas de serem transcorridas.

O espanhol virou-se para ver o grupo de mulheres que conversavam muito, mesmo com as discretas reprimendas de uma dama ruiva, enquanto um rapaz de longos cabelos loiros conversava com o proprietário.

–Conheço estas pessoas...-comentou e sorriu.-Sim, eu os conheço e...

De repente ficou lívido ao reconhecer uma menina de olhar curioso que entrava neste momento, acompanhando um rapaz magro e que usava óculos. Já havia visto aquele rosto antes, aqueles olhos.

–Madre de Dios...Ludmila...-sussurrou, sentindo as pernas fraquejarem e sentar-se para não cair ao chão de maneira vergonhosa.

A esposa que procurava incansavelmente por toda a Inglaterra estava agora a poucos passos diante de si. E agora?

Continua...


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