Um Verão Inesquecível escrita por GiullieneChan


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Betado por Ziegfried-aenslaed (culpem ele)Um agradecimento super especial a todos que estão lendo, mandando reviews e acompanhando esse fic.Obrigada!



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–Eu não quero me casar com ele!

A voz decidida de Helena fez os homens se calarem. Os três pareciam não saber o que responder, tanto pelo inusitado da situação, quanto pelo olhar furioso da dama sobre eles, que era intimidador.

–Helena, querida...-tentou argumentar Gilen.-Eu sei que...

–Se um dia eu decidir me casar, eu escolherei com quem!-continuou, interrompendo o irmão.-E esta decisão não cabe a nenhum de vocês!

–Sou seu irmão!

–E eu sou protetor!-disse Giovanni, indignado.

–Mas em minha vida, manda a minha consciência! Com licença! Vamos embora, Gilen.-ela caminhou até Gustav.-Perdoe-me se lhe causei transtornos, mas eu não pretendia abusar mais do que o necessário de sua hospitalidade e bondade.

–Não foi...Um abuso, senhorita.-conseguiu por fim responder.

–Querida, vamos conversar melhor.-decidiu o italiano.- Não posso permitir que volte àquele antro na qual estão morando! É perigoso! E ademais, temos que preservar sua reputação! Quem a vir morando naquele bairro perigoso, pode confundi-la com uma qualquer! Como irá arranjar marido...

– Acham mesmo que um cavalheiro irá me desposar depois que meu nome ficou manchado?-nenhum dos dois presentes respondeu.

–Eu sei que sua honra não foi manchada, senhorita Helena.-disse por fim o lorde.

–Mas não posso permitir que seu nome seja motivo de chacotas na sociedade, quando souberem que sua "noiva" veio de um...Prostíbulo.-as palavras saíram com um gosto amargo da boca da jovem, e Afrodite tinha certeza que ela segurava as lágrimas.

–Helena...

–E eu jurei que não me casaria, milorde. E pretendo cumprir a promessa.-finalizou.-Vi minha mãe definhar em um casamento sem amor, sofrendo ao ver meu pai perder tudo o que tinham para o jogo. A tristeza a matou. Jurei que jamais passaria por isso.-a revelação deixou os homens emudecidos, sem saber o que dizer a jovem.-Por isso, peço que me deixe ir embora.

–Não deseja se casar?-Gustav parecia não ter entendido. Era lamentável que uma jovem tão bela tenha escolhido uma vida solitária.

–Com ninguém.

–Nem mesmo comigo?-sua pergunta saiu espontânea e deixou Helena aturdida.

–Eu...Preciso ir embora. Por favor, Giovanni...

–Tudo bem.-por fim falou Giovanni.-Mas não irá voltar para aquele antro, não permitirei. É minha parente, e vai ficar em minha residência, com seu irmão.

–Sério?-ela parecia não acreditar.

–Sim.-Giovanni pega seu casaco e cobre os ombros de Helena com ele, e em seguida seu chapéu e sua bengala.-Lamento todo inconveniente meu amigo. Mas agradeço por ter cuidado de minha prima. Vamos Gilen.

O jovem lorde os viu saindo, ficando novamente só em sua enorme mansão. E sentiu pela primeira vez em anos, incomodado com isso.

De volta a um certo bairro nada recomendável, Saga retornava de um longo passeio ao hotel barato em que estava morando com seu irmão. Cansado e ao mesmo tempo sentia uma certa alegria.

De algum modo, apreciava os olhos faiscando de raiva da bela viúva quando a enfurecia, e a maneira que ela se entregava aos seus beijos, revelava na realidade uma mulher ávida por paixão.

–Vou gostar muito disso.-falou a si mesmo, abrindo a porta de seu quarto.

Mas não entrou, olhando a curiosa cena do guarda costas de Aiolos ajoelhado no meio do quarto, em uma espécie de transe. Olhou ao redor, viu seu irmão sentado na cama, olhando com cuidado para o japonês também.

–O que é isso?-indagou entrando.

–Ele disse que era...Meditação.

–Hm?-era algo que não significa nada a Saga.-Ele parece que morreu.

–Não temos tanta sorte.-riu Kanon.-Onde esteve?

–Por aí.-respondeu vagamente.-Melhor nos prepararmos. Em pouco tempo iremos viajar cm homens ricos e influentes. Se souberem que somos uma farsa, estaremos perdidos.

–E o que faremos com...-Kanon olhou para Ikki, que ainda permanecia com os olhos fechados e sussurrou.-Os irmãos idiotas?

–Pensarei em algo. Não seja apressado!-respondeu Saga sussurrando também. Agora, vamos pensar no seu futuro com a bela senhorita Dawes!

Ikki fez um movimento, abrindo os olhos e fitando Kanon que recuou com uma enorme gota de suor na testa. Em seguida, o rapaz fitou Saga.

–Você disse Dawes?-perguntou Ikki incisivo.-Onde os Dawes moram?

–Sim...E por que eu deveria dizer a você onde moram...-a espada sendo desembainhada foi ouvida.-Anoto em um papel o endereço para que não se perca.

Ikki levantou-se, caminhando até a janela. Estava para cumprir sua promessa em breve. Dawes manchou o nome de seu clã com sua traição e seu crime. Lavaria a honra de sua família com sangue.

Com o endereço em mãos, Ikki saiu pela porta, sem falar mais nada, deixando os gregos confusos com sua atitude. Nem mesmo haviam passado trinta minutos da saída de Ikki, bateram a porta do quarto mais uma vez.

–O que será agora?-Saga abriu a porta e recebeu com desgosto a presença de Aiolos e Aiolia.-O que querem agora?

–No momento, nada com vocês dois.-Aiolos respondeu, entrando no quarto.-Apenas para combinarmos a nossa história com os lordes, para que não corramos o risco de sermos descobertos e presos.

–Tem razão.-ponderou Saga.-Era o que eu pensava em fazer.

–Temos a possibilidade de sermos entregues às autoridades pela baronesa.-lembrou Aiolia.

–Da jovem baronesa viúva cuidarei pessoalmente.-Saga sorriu, arrancando risos dos demais.

–Sabemos que sim, e pelo visto, apreciará isso imensamente.-Aiolos deu uma rápida olhada ao redor.-Onde está Ikki?

–Aquele rapaz ficou meio estranho ao ouvir o nome Dawes.-comentou Kanon.-Praticamente exigiu que disséssemos aonde moravam.

Foi quando os gêmeos notaram as expressões preocupadas dos irmãos Petronades.

–Vocês permitiram que ele fosse?-Aiolos os fitou lívido.

–Ele foi bem convincente!-defendeu-se Kanon.

–Tolos. Não deveriam ter dito nada a ele!-dizendo isso Aiolia precipitou-se porta afora, para tentar impedir Ikki.

Antes que Aiolos saísse, Kanon o segurou pelo braço com firmeza.

–Explique isso direito!

–No caminho direi tudo, mas não podemos perder mais tempo! Ele irá matar alguém!

Mansão Blackmoore. No quarto de uma das jovens Dawes.

–Jura?-Inis segurou Amanda pelo ombro, para fitá-la.-Nossa madrasta e o irmão de seu pretendente?

–Sim.-respondeu Amanda.-Senti o romance no ar.

–Não sentiu os objetos que Julie lançou contra ele?-disse Carla.

–Ora, eu percebi os olhares deles Carla.-disse Amanda convincente.-Ela estremeceu quando o senhor Tassouli beijou-lhe a mão.

–Mas a biblioteca estava uma bagunça!-disse Melissa.-Parece que houve uma guerra lá dentro!

–Amanda está certa!-falou Louise.-Aposto que a biblioteca foi o cenário de uma cena tórrida de amor.-suspirou.

–Andam lendo livros de romance demais.-declarou Carla.

–Concordo.-disse Inis.-Julie ficou tão transtornada com a visita do senhor Tassouli que nem se juntou a nós para o jantar.

–Pois estou convencida que Julie e o senhor Tassouli formam um casal ideal!-declarou Amanda.

–Tem certeza?-Thatiane falou animada.

–Todas concordamos que Julie é jovem demais para passar uma vida toda solitária.-Vanessa começou a falar cautelosa.-Nosso pai mesmo em seu leito de morte, pediu a Julie que não ficasse sozinha, que procurasse alguém. Mas, o que a levam a crer que é este senhor Tassouli a tal pessoa?

–Intuição.-respondeu Amanda sorrindo.-Ele tem um ar de aventureiro! É o par ideal para Julie.

Melissa ao lado dela suspirou, girando os olhos, demonstrando que achava aquele assunto era sem propósito. Foi até a janela e olhou curiosa para fora, ao notar que havia um homem na calçada olhando diretamente para a mansão, e notando que era observado, desviou sua atenção diretamente para Melissa. A menina sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

–Quem será aquele homem?-apontou para fora e Carla ficou ao seu lado, para ver também.-Melhor avisar ao Igor.

–Nosso primo e seu amigo estão em casa agora. Vamos avisar a eles antes.-disse Carla.

–Nestas horas, é bom ter homens em nossa casa.-disse Melissa.-Mesmo sendo padres.

–Monges budistas.-corrigiu Inis.-Julie nos explicou a diferença. E apenas o "Shala" é monge.

–Shaka!-corrigiu Louise imediatamente, e corou diante dos sorrisos cúmplices das irmãs.-O fato de eu não queira mais falar com ele, não significa que eu o chame pelo nome errado. E convenhamos, não é um nome tão difícil assim!

Carla não prestava atenção a discussão das irmãs, observando o homem, tentando ver melhor seu rosto, apesar da rua está parcialmente escurecida pela noite. Então, abriu a boca em uma muda expressão de surpresa e correu para fora do quarto.

–O que deu nela?-perguntou Thatiane curiosa.

Carla descia as escadas rapidamente, quase atropelando ao fim desta o mordomo, que recuperou o equilíbrio, arrumando a casaca. Nem sequer havia prestado atenção ao o que ele dizia, imaginando o que ele estaria fazendo ali? Seu coração acelerava só de imaginar poder conversar novamente com Ikki.

Então, não pensou duas vezes para abrir a porta principal e correr para a calçada, atravessando o belo jardim. O jovem samurai estava olhando para a mansão e não esconder sua surpresa ao rever Carla.

–Senhorita Baker-Sneed?

–Senhor Amamiya. O...o que faz aqui?-sorriu, demonstrando estar feliz em revê-lo.

–Esta é a mansão da família Dawes?-ignorando a pergunta dela.

–S-sim.-ela colocou as mãos atrás do corpo.-O que faz aqui?

–Procuro o senhor desta casa.-respondeu afinal.-Conhece-o?

–Sim, conheço sim...

–Chame-o. -ordenou.

–Não.-Carla colocou as mãos na cintura, indignada pelo modo com que ele falava com ela.-O que está havendo afinal? Por que está agindo como um...Um...Bruto?

–Peço desculpas se eu a ofendi de algum modo, mas não consigo me conter. Preciso ficar face a face com o maldito ladrão do Barão de Blackmoore e fazê-lo pagar por seu crime.

Carla ficou boquiaberta pelas acusações proferidas por Ikki, tão furiosa que deu alguns passos, fitando-o com tanta fúria que o rapaz acabou dando alguns passos para trás temeroso, e com algumas gotas de suor frio a percorrer sua testa.

–Como ousa? Meu pai não é nenhum ladrão!

–É...Filha de Dawes?-Ikki pareceu transtornado com a revelação, mas voltou a falar com voz firme.-Retire-se da minha frente, senhorita Baker-Sneed, Dawes...Ou seja lá quem for...Não tenho tempo para perder.

–Algum problema senhorita?-indagou Igor aparecendo, Ikki desembainhou a katana.-Oh, Deus...Era o que me faltava.

–Afaste-se...Ou morre.-avisou Ikki ao mordomo.

Igor ficou sem saber o que fazer, logo atrás dele as irmãs de Carla apareceram atraídas pela curiosidade, e logo em seguida Shaka e Mu, atraídos pela confusão.

–Ninguém vai morrer aqui.-declarou Shaka caminhando até Ikki.-Guarde esta arma ou terei que chamar as autoridades.

–Ninguém fará guardar minha espada.-Ikki sorriu, mas um sorriso com intenções nada amigáveis.

–Senhorita Dawes, poderia se afastar?-pediu Shaka, tirando o casaco e dando-o a Igor, e em seguida dobrado as mangas da camisa.-Ensinarei a este rufião seu lugar.

–Senhor, longe de mim atrapalhar mas...Ele está usando uma espada.-avisou Igor.

–Ele tem razão, Shaka.-avisou Mu.

–Prefere um caixão de carvalho ou que seja cremado?-perguntou Igor, recebendo olhares mortais de Mu, Shaka e Louise.

–Não vou ser morto por ele.-avisou Shaka erguendo os punhos.-Guarde esta espada e vamos lutar como cavalheiros ingleses que somos...

Shaka se cala ao receber um soco de Ikki, jogando-o para trás. Louise gritou, correndo para ao lado de Shaka e ampará-lo.

–Não sou inglês.-disse Ikki.

Carla o olhou indignada e correu para ajudar o primo que estava ainda tonto.

–Interessante...Karate shuri-te.-os olhares se voltaram para o jardineiro, que se aproximava.-Eu prefiro o estilo de kung-fu Wu Shu.

–Quem?

–Sou apenas o jardineiro.-sorriu se aproximando, e antes que ele desse conta recebera um golpe duríssimo.-Se o senhor ficasse mais calmo, creio que veria que suas acusações com o falecido Barão não possuem fundamentos.

–Como ousa?-Ikki levantou-se, contra atacando Dohko que se desviava dos golpes a grande velocidade.

A luta fantástica daqueles homens nunca antes fora presenciada pelas testemunhas, que assistiam incrédulos. Inis mal conteve uma expressão de susto quando Ikki acertou um chute em Dohko, mas o chinês segurou o mesmo pé que o agredira, girando-o e fazendo Ikki precipitar-se ao chão.

–Chega desta bobagem!-gritou a baronesa, e todos olharam para ela.-O que os vizinhos pensarão de vocês? Entrem...-ela olhou para Ikki.-O senhor também. Ah, senhor Dohko...Depois gostaria de conversarmos sobre suas...Habilidades.

–Sim senhora.-respondeu Dohko.

–E Igor...Cuide do olho roxo do lorde Furneval.

–Sim, milady.

Dentro da residência todos se reuniram na sala de jantar, onde Igor colocava sobre o olho de Shaka um enorme bife cru para impedir o inchaço provocado pelo golpe de Ikki. A baronesa indicou ao japonês que se sentasse, e ele recusou-se, desconfiado.

–Ouch!-reclamou Shaka, retirando o bife.-Não vou colocar isso.

–Para um tolo que quis enfrentar alguém armado apenas com os punhos, contente-se com um olho machucado.-Louise chamou-lhe a atenção e recolocando o bife no lugar.-Deixe isso no lugar. O que pensou ao fazer esta loucura?

–Não pensei direito. Apenas o imaginei sendo uma ameaça a família...-fitando-a. -A você.

–Hunf...-Louise resmungou, apertando o bife, fazendo Shaka soltar um gemido de dor alto, e o deixou com Igor e Mu, ficando ao lado das irmãs.

–Não sou nenhum expert, senhor Furneval, mas...Tentativas de suicídio não atraem a atenção de donzelas.-disse Igor.-De médicos do manicômio, sim.

Mu riu, concordando com o mordomo e ignorando o olhar furioso de Shaka, que praguejou em hindi.

–Alegou que meu falecido marido é um ladrão, creio que me deve explicações.-exigiu.

–Seu marido faleceu?

–Há seis anos.-respondeu a baronesa.

–Impossível!-protestou Ikki.

–Lhe asseguro que sim. Agora...Por que o acusa de um crime?

–Há um ano seu marido esteve em meu país, foi recebido como amigo por meu pai, e em troca de sua hospitalidade roubou um objeto que pertence ao Imperador! É meu dever recuperá-lo!

Todos na sala soltaram expressões que denotavam sua revolta com as acusações.

–Que acusação absurda!-Julie indignou-se.-Venha comigo!

Os demais fizeram menção de segui-la, mas a baronesa fez um gesto para que ficassem, chamando apenas Igor para acompanhá-la. Ela levou Ikki até um escritório e pediu que acendessem as luminárias. O cômodo se iluminou e a baronesa apontou para um quadro de um senhor de idade imponente.

–Foi este homem que esteve em sua casa?-fitou Ikki, esperando a resposta.

–N-não...era um homem mais jovem.-aturdido.-Mas...Então...Estou procurando o homem errado.

–Decerto que sim.

–Falhei em minha missão. Com meu imperador, minha família...meu irmão.

–Por que não me conta tudo?-pediu a baronesa, fazendo um gesto para que Igor abrisse a porta.

Ao fazê-lo, todas as meninas Dawes caíram ao chão, pois estavam com os ouvidos apoiados atrás da porta.

–Creio que ele queira me contar a sua história, sem expectadores.

Algum tempo depois, a família Dawes e convidados estavam na sala de música, esperando pelo retorno da baronesa e de Ikki que estavam conversando no escritório, então eles apareceram e a baronesa exibia um sorriso satisfeito.

–O Senhor Amamiya irá nos acompanhar em nossa viagem.

–Como é?-Shaka ficou em pé.-Que absurdo!

–Ao contrário meu caro.-respondeu a baronesa calma.-Vamos ajudar este gentil senhor a encontrar o que foi roubado.

Do lado de fora.

–Não estou vendo confusão alguma.-disse Aiolia, escondido na esquina.-Talvez ele não tenha chegado aqui.

–Se você tenciona matar alguém, iria anunciar a todos?-perguntou Aiolos ao irmão, segurando Kanon pela gola do casaco, quando este passou por ele.-Aonde vai?

–Proteger Amanda daquele louco!

–Só um idiota para enfrentar uma espada com as mãos nuas.-avisou Saga, e puxou Kanon quando a porta da frente abriu.-Silêncio.

Ikki saiu calmamente pela porta, se despedindo de maneira formal da baronesa, que sorriu para o jovem, observando-o descer a rua em seguida, para a total surpresa dos gregos, ali escondidos.

Assim que chegou na esquina, parou ao se deparar com os quatro, olhando-o em um misto de raiva, curiosidade, incredulidade.

–Que foi?-perguntou Ikki.

–Seu louco!-Kanon o pegou pela gola da camisa, prendendo-a contra a parede.-Se machucou Amanda ou alguém daquela família eu...

Ikki o fitou com frieza, antes de responder.

–Não feri ninguém...Ainda.-fez Kanon o soltar.

–O que aconteceu?-Aiolos perguntou, ainda cercado de dúvidas.-Encontrou o que procurava.

–Não. Perseguia um inocente.-dizia em um tom que denotava vergonha.-Mas, aquela família jurou encontrar a verdade e me ajudar. Por isso...-mostrava a espada.-Agora minha espada existe para protegê-los.

–Isso de certo modo é bom, mas...-Aiolos o fitou bem.-Aconteceu algo mais?

Ikki olhou para casa, e viu Carla na janela olhando a rua, pouco antes dela sair e fechar a cortina. Ele a havia assustado,a indignado com sua acusações, ao sair da casa o olhar da jovem, uma mistura de decepção e indignação, o incomodou profundamente.

Nem deveria sentir isso, afinal, ela mentira para ocultar sua verdadeira identidade, ele quem deveria se sentir ofendido. Mas não era o que sentia.

–Nada.-respondeu o japonês.-Mas fui convidado pela baronesa a acompanhá-la em sua estadia no interior.-sorriu ao ver as expressões de espanto de todos.

–O QUE DISSE?-Saga ficou rubro.-Vai ficar com a baronesa durante a viagem?

–Ela aprecia a companhia de um legitimo cavalheiro.-disse Ikki, se afastando deles.

Alguns dias se passaram, e os preparativos para a viagem à fazenda da Viscondessa estavam quase prontos. A dama havia enviado a Southampton um mensageiro, pedindo que preparassem tudo para recepcionar a eles e seus convidados.

Tal movimentação na fazenda da Viscondessa não passou desapercebida pelos moradores de Southampton, e os comentários a respeito da visita inusitada do Visconde e amigos começaram a percorrer a cidade, chegando a casa do médico local.

–Eu acho incrível que ele tenha coragem de voltar a nossa cidade depois de tudo o que fez para a nossa menina!-resmungava a governanta da família Hopkins, socando furiosamente a massa de pão, certamente imaginando ser o rosto do Vinconde.-Audácia! Eu não me importo que a Viscondessa ou sua neta venham, mas ele? Só pode ser o sangue francês e arrogante!

–Ele é o dono da fazenda.-respondeu Annely, temperando o pato que seria servido no almoço.

–Por Deus, menina...Olha a quantidade de sal que está usando!-a boa senhora a afastou delicadamente.-Esqueceu do problema de pressão e a úlcera de seu pai?

–Ela não esqueceu, senhora Kemble.-disse Luna entrando e se servindo de uma maçã.-Foram causadas pela própria Annely ao expulsar os pretendentes que papai lhe apresentava.

–Outra vez não!-avisou Annely, para que a irmã não continuasse.

–Annely! Isso faz parte do processo de "esquecimento do cafajeste do Visconde"-falou a menina teatralmente.-Primeiro, dirá umas verdades ao Vinconde, depois...Um pretendente para mostrar que seguirá sua vida amorosa.

–Que vida amorosa?-a senhora Kemble ergueu uma sobrancelha.-Olha o que farão!

–Não tem vida amorosa em minha vida.-respondeu a outra azeda, e revirou os olhos diante da expressão da irmã.-Está bem. Mas não prometo nada.

–Ah, que maravilha! Se você aceitou dar chance a um provável pretendente, isso significa que aumentará minhas chances de me casar!

–Pare de sonhar.-resmungou Annely, lavando as mãos, e em seguida ajeitando os cabelos em um coque severo e colocando os óculos.

–Para que está usando isso?-apontou Luna para os óculos.-Isso te deixa no mínimo dez anos mais velha! Pensei que usava apenas para ler.

–Gosto de usar óculos.-mentiu.

–Ah...já sei!-Luna apontou para a irmã como se a acusasse de um crime.-Está usando esta coisa horrorosa, se vestindo como velha, para desencorajar os pretendentes.

Quase isso, pensou Annely. Na verdade, queria era passar despercebida por Kamus, se por algum acaso do destino vier a andar na mesma calçada que ele. Nem sequer imaginava que isso estava próximo a acontecer, com a chegada de duas carruagens a residência principal da fazenda Magnus Croft pertencente à família Chanttél.

–Ah, chegamos.-a idosa Viscondessa sorriu triunfante, sendo ajudada pelo reverendo Malloren a descer.-Havia esquecido o quanto é lindo este lugar!

–Sim, é um belo lugar.-concordou o amigo.-Vamos entrar?

–Sim.-a Viscondessa virou-se para os criados que os recepcionavam.-Levem as bagagens para os quartos e...-olhou para a carruagem.-Milo, Lucy...poderiam tirar o Kamus e sua carranca da carruagem?

–Agora mesmo, minha bela lady!-disse Milo, saindo da carruagem e ajudando Lucy a descer, arrancando das damas risos.

–Só você mesmo para me bajular desta maneira.-riu a Viscondessa.

–Vamos Kamus.-insistiu Lucy.-Você prometeu a vovó.

–Já me arrependo disso.-resmungou do lado de dentro da carruagem.

–Seja homem. Serão apenas quinze dias.-disse Milo.

Kamus saiu da carruagem, ajeitando o casaco e o chapéu, mantendo a expressão nada amigável no rosto. Olhou ao redor, deixando dois criados intimidados, e suspirou caminhando para a casa.

–Não doeu nada, viu?-brincou Milo, dando-lhe um tampa amigável nas costas.-Quando chegarão os outros?

–Alguns hoje, outros amanhã.-respondeu Kamus vagamente.-Lucy, e a família amiga de vovó?

–Chegariam amanhã, eu creio.-respondeu a menina.-Vamos entrar?

–Depois. Vou ao estábulo ver meu cavalo.-disse o lorde, se afastando.

–Me acompanha a um passeio na cidade após o almoço, Milo?-pediu Lucy.

–Adoraria.-o grego ofereceu o braço para ela, e entraram na casa.

Kamus caminhava pela propriedade a caminho do estábulo, cada passo era uma viagem nostálgica. Não colocava os pés ali há mais de seis anos. Parou diante do velho carvalho, que ainda tinha o balanço na qual ele brincava com a irmã e Annely.

Balançou a cabeça, quando imagens deles crianças vieram à mente. Voltou a caminhar para o estábulo e avistou a casinha para os pardais, que ele havia feito e foi pintado por Annely...a irmã e Annely brincava no pomar, nos jardins, visitavam a biblioteca, agitavam as galinhas...Annely, Annely...

Annely... Por isso não queria voltar a Magnus Croft, tudo ali lembrava ela.

–Mas que maldição.-resmungou, pisando duro ao entrar no estábulo e avistando o cavalo que fora presente de sua avó quando tinha dezesseis anos. O animal, tão negro quanto a noite, parecia reconhecê-lo, balançando a cabeça.

–Como vai Ébano?-acariciando o focinho dele.-Sele-o para mim, após o almoço.-ordenou ao velho criado.-Vou cavalgar um pouco.

–Mas senhor...-o idoso apontou para o céu.-Só tome cuidado, parece que vai chover hoje, e muito.

–Bobagem!-disse Kamus.-O céu está limpo!

–Nunca me enganei com o tempo antes, senhor.

–Após o almoço, virei pegar Ébano e irei cavalgar pela propriedade.-determinou e o idoso assentiu.

Naquele mesmo instante, na estrada, outra carruagem se aproximava de Southampton.

–Madre de Dios...-suspirou Shura, olhando a janela.-Que viagem longa!

–Cansado da nossa companhia, meu amigo?-perguntou Giovanni "Máscara da Morte" com um sorriso.

–Não. Se não fosse por vocês, eu morreria enfadado nesta viagem. Nada melhor que viajar com amigos, não acham?

–Sim.-respondeu Giovanni, e em seguida olha para a sua acompanhante.-Está cansada da viagem, querida Helena?

Sorridente, ela lhe respondeu:

–Não, estou adorando! Mas, queria que Gilen estivesse aqui.

–Ele está iniciando sua nova vida, no Exército.-respondeu o italiano.-Vai ser melhor para ele assim.

–Tem razão.-ela suspirou.

–Fico feliz que tenha aceitado meu pedido para vir comigo a fazenda de amigos. Parecia muito...triste em casa. Cansada...

–Não, é que...sim, estou feliz em estar aqui. Mas...não estou triste ou cansada. Gosto de administrar sua casa e fiquei satisfeita que tenha permitido que cuidasse dela para você. Gosto de me sentir útil.

–Minha casa nunca esteve tão bem organizada e as refeições tão saborosas.-disse Giovanni a Shura.-Minha prima vale ouro!

Shura concordou com um aceno de cabeça e voltou a olhar pela janela. Esperava que com esta viagem, esfriaria a cabeça e voltaria a procurar por sua esposa com a intenção de anular seu casamento. Esperava que ao voltar, o advogado tivesse boas noticias.

Giovanni, por outro lado, mantinha um sorriso misterioso nos lábios. A viagem prometia muitas emoções.

–O tempo está mudando.-avisou Shura olhando a janela.-Vem chuva.

–Será que atrapalhará a nossa chegada?-perguntou Helena, temerosa que a chuva tornasse a estrada intransponível.

–Não, estamos chegando à vila. Qualquer coisa ficaremos em uma estalagem bem secos e quentinhos, enquanto esperamos.-decidiu Giovanni.

Mal acabou de falar, as primeiras gotas de chuva e um relâmpago caíram do céu.

Porto de Londres. O Navio Rainha Margot acabava de ancorar, vindo da Alemanha, e seus passageiros desciam todos. De todos os presentes, a bela morena chamava mais atenção, tanto pela rara beleza quanto pela enorme quantidade de bagagens que levava.

Uma carruagem já a esperava, e com um gesto de desdém despacha os marinheiros para carregarem suas coisas, ao se acomodar no veículo. Os olhos violetas espreitam pela janela e ela sorri.

–Estou de volta, meu "amor".-ela sorriu.

Se tudo desse certo, em breve ela seria a nova Viscondessa de Chanttél,e ninguém a impediria.

Southampton, uma hora após o almoço.

Era para ser um simples passeio a cavalo, nada mais que isso, pensava Kamus. Rever as terras de sua propriedade e ficar longe da cidade. Não queria ter que se encontrar com algumas pessoas ainda, não saberia como reageria se a revesse.

–Aquele velho, tinha que estar certo com o tempo!-resmungou Kamus, fazendo o cavalo correr mais assim que alcançou a estrada.

Era para ser um simples passeio pelo campo, nada mais que isso, dizia a si mesma Annely. Ir até a residência dos Forrest, levar as compotas de frutas que a senhora Kemple havia pedido e evitar a fazenda dos Chanttél, e ele. Na vila haviam dito que ele havia chegado e não queria e nem teria coragem de confrontá-lo agora.

–Mais um belo dia na Inglaterra.-ironizou Annely, acelerando o passo.

Chuva. Era a última coisa que Annely queria neste momento e longe de casa. O ar úmido, o chão tornando-se lama que dificultavam sua caminhada, fazendo-a perder o equilíbrio e cair ajoelhada ao chão.

–Mas que droga!-vociferou, maldizendo a hora que decidiu visitar aquele maldito lugar, naquela maldita macieira.

Sentou-se no tronco de uma árvore caída, tirando os óculos para tentar enxergar sem eles, estava tremendo pela chuva fria, e não se lembrava como chegara ali e como iria achar a estrada de volta para a vila.

Pensou ter ouvido o som do relinchar de um cavalo, mas podia ser sua imaginação ou o vento da tempestade a lhe pregar peças. Forçou-se a ficar de pé e caminhou até contornar uma larga curva, avisou a estradinha e feliz correu para ela, sem olhar para os lados.

Ao pisar na estrada, deu um grito ao se ver quase atropelada por um corcel negro. O animal assustou-se com sua presença, empinou, mostrando as patas dianteiras ameaçadoramente para ela, fazendo a jovem cair sentada no chão.

–ÉBANO, PARE!-uma voz masculina ordenou, em vão.

O cavalo já estava demasiado assustado pela tempestade e aparição abrupta de Annely somente piorou a situação. Annely julgava-se louca, ou conhecia aquela voz?

O cavaleiro foi jogado ao chão, e sua cabeça dera um jeito de encontrar a única pedra naquela estrada, ao aterrissar na lama. Ele jazia imóvel, de barriga para baixo, diante da figura assustada de Annely, enquanto seu cavalo fugia do local.

Annely levantou-se rapidamente e correu para o cavaleiro, ajoelhando-se ao seu lado e sem a menor hesitação, o sacudiu:

–Senhor? Oh, por favor...que eu não tenha matado ninguém!-seu coração disparou, controlando os nervos procurou por sinais vitais e percebeu ao tocar em seu pescoço que ainda tinha pulsação.-Graças a Deus, eu não o matei!

Arriscou a rolar o corpo com cuidado, para que ficasse de costas, havia um ferimento horrível na têmpora, mas não era isso que havia atraído a atenção de Annely, e sim a identidade dele. Ela o reconhecera assim que vislumbrou suas feições, suas mãos ficaram trêmulas.

–K-Kamus? Oh, Deus...não admito que tenha voltado para morrer diante de mim!-sacudindo ele.-Não se atreva a morrer sem ouvir umas verdades de minha boca, sir! Abra os olhos!

Kamus entreabriu os olhos, seu cérebro aturdido registrou um rosto de mulher, estranhamente familiar, apesar dos óculos enormes em seu rosto...mas era um belo rosto, lábios carnudos, olhar assustado, cabelos castanhos e úmidos estavam soltos e colavam-se ao rosto e pescoço alvo. Ela estava inclinada sobre ele e Kamus teve a visão privilegiada de parte de seus seios pálidos acima de um decote, oferecido pela blusa, parcialmente desabotoada...Morena e bonita...Parcialmente desnuda...Conhecia-a.

Tentou falar, tentou ficar sentado, mas a cabeça dolorida não permitiu. Sentiu-se tonto.

–Não se mexa, vou buscar ajuda.-disse Annely finalmente.

–N-não.-a segurou pelo pulso.-Não, por favor.

–Não demoro.-tentou se levantar, mas foi puxada de novo, caindo sobre ele.

–Annely?...-ela arregalou os olhos, a reconhecia.-Case-se comigo.

Annely o fitou com os olhos arregalados.

–O que?

–Eu te amo...Case-se comigo...-tombou ao chão novamente, caindo na inconsciência.

–Oh...Deus...-ela murmurou, ajoelhada ao lado daquele homem, desacordado.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Hindi: O hindi (ou híndi, ou ainda índi) é uma língua indo-ariana falada por 70% dos indianos, principalmente no norte, centro e oeste da Índia. É parte de uma continuidade dialetal da família indo-ariana.



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