Speechless escrita por Vick_Vampire, Jubs Novaes


Capítulo 10
9. Não podia ser pior, né?


Notas iniciais do capítulo

Aí está! Um pouco atrasado, mas!
hehehe
Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/91478/chapter/10

                Acordei com o cheiro de fritura impregnando o ar à minha volta.

\t\t\t Eu ainda estava usando as roupas de Nessie, minha barriga roncava e todo o meu corpo latejava.

\t\t\t Mexi o braço esquerdo, que formigou quando o tirei debaixo de mim. Minha boca tinha um gosto de bile terrível, e a luz de fora fazia com que minhas pálpebras ficassem vermelhas.

\t\t\t Então me lembrei da noite anterior.

\t\t\t Me ergui pesadamente do sofá, mexendo os braços dormentes. Esfreguei os olhos, tirando o monte de remela que os cobriam, e abri os olhos.

\t\t\t A sala bagunçada continuava a mesma. Uma luz forte entrava da janela principal, então me preocupei com o horário, apesar de sentir como se eu tivesse dormido por minutos. Pus as mãos no cabelo e suspirei. Era aquilo que estava cheirando a fritura.

\t\t\t Havia pedacinhos de Doritos em todo meu cabelo, e eu não tinha ideia do porquê. Cambaleei pela sala, na direção da cozinha monstro, enquanto tirava os pedacinhos do cabelo.

\t\t\t Um relógio antigo e redondo pendia na parede, indicando sete e meia. Meu Deus, luz solar? Em Forks? Parecia que milagres aconteciam mesmo.

\t\t\t Mas não comigo.

\t\t\t Voltei para a sala, em busca da minha mala de roupas. Apanhei um suéter azul-marinho, um jeans escuro, botas de borracha pretas e os vesti, sem me preocupar com o mau cheiro irritante do meu cabelo. Apanhei também um casaco comprido preto, mas apenas o deixei a mão. Eu conhecia muito bem aquela cidade.

\t\t\t Penteei o meu cabelo curto com uma escova velha que encontrei no fundo da mala, e fui na direção da pia da cozinha, com a escova e pasta de dentes em mãos. O gosto da bile na minha boca estava insuportável.

\t\t\t Fiquei uns três minutos esfregando a minha boca, e levei mais três para tirar toda a remela e a baba do meu rosto. Em suma, eu estava mais ou menos pronta em dez minutos.

\t\t\t Chequei se havia dinheiro na minha carteira, e apanhei duas das barras de cereais que eu comprara. Saí na manhã fria, com uma bolsa-mochila pendurada no braço, enquanto mastigava uma das barras de cereais. Não queria, em hipótese alguma, encontrar meus tios.

\t\t\t O vento gelado batia e atravessava meu suéter, como se eu estivesse pelada. Pausei minha caminhada –que não seria tão longa, já que eu perderia a maior parte do tempo pensando em que desculpa eu daria pelo carro de Edward- e vesti o casaco preto, sentindo um súbito aquecimento no meu corpo.

\t\t\t Mas não no meu coração, pensei, lembrando-me de Rosalie e Emmett.

\t\t\t Mordi o lábio inferior e pisquei com força, tentando, vagamente, afastar a tristeza que sempre me desolava, agora quase o tempo todo. Respirei fundo várias vezes, ainda parada. Você consegue, Alice. Você consegue. E também mente muito, muito mal.

\t\t\t Você se salvou de dois acidentes, repeti para mim mesma. A escola não deveria ser um problema.

\t\t\t Ah, mas era.

\t\t\t Eu não sabia o que sentia naquele momento, mas, como se uma força me mandasse fazê-lo, girei no lugar, olhando em volta. Como se eu estivesse procurando por ajuda.

\t\t\t Foi quando eu o vi.

\t\t\t Cabeça de miojo acenava para mim da esquina do meu lado da calçada, pedindo para que eu esperasse. Como se eu conseguisse me mexer sem chorar naquele momento.

\t\t\t E, afinal, meio que eu devia isso à ele. Quer dizer, foi o único que me deu apoio quando eu mais precisei.

\t\t\t Mesmo sendo meio tonto, sabe. Quer dizer, ele é um Cabeça de Miojo.

\t\t\t Eu o fitei, esperando que ele me alcançasse e pudéssemos andar até a escola. Isso era algo que eu sabia que era verdade sobre ele: Rose-Vaca-Mor nunca deixava ele encostar um dedo no M3 conversível imaculado dela.

\t\t\t -Oi. –falou, meio tímido, quando me alcançou. Eu acenei com a cabeça e procurei por um bloquinho e um lápis na minha bolsa. Ele ficou olhando para a minha “Grande Caçada”, e eu enrubesci um pouco.

\t\t\t Na maioria das vezes, Emmett ficava olhando para os meus peitos, não para o que eu estava fazendo. Apesar de eu quase não ter... Bom, peitos.

\t\t\t Me certifiquei, com o canto dos olhos, que ele não estava olhando .

\t\t\t Puxei o bloquinho, finalmente, e a caneta. Mas, quando olhei nos olhos dele para respondê-lo, eu me lembrei.

\t\t\t Putz! Os cadernos dele!

\t\t\t Escrevi rapidamente sobre o papel, o furando com a caneta algumas vezes. Desculpe. Me esqueci dos seus cadernos. Mas a verdade era que eu não tive tempo.

\t\t\t Ele leu, franzindo o cenho daquele jeito engraçado que ele costumava fazer. Se virou para responder, e eu quase pude ler sua expressão.

\t\t\t -Não tem nenhum problema, não. –falou, coçando a nuca. Depois, começou a falar muito rápido. –Mas será que você pode me emprestar um caderno ou algo assim? Eu precisava anotar as coisas da aula, e aí eu te passava, aí você...

\t\t\t Eu assenti, o silenciando. Minha cabeça parecia prestes a explodir com tantas palavras.

\t\t\t Acenei com a cabeça para o caminho da escola, e nós começamos a andar em silêncio, a não ser o som fracos do quebrar das barras de cereais e dos nossos passos. Por vezes, ele iniciava uma conversa, mas logo eu assentia e pronto. O assunto acabava, e, novamente, só o croc croc da barra de cereal, até não haver barra de cereal para eu mastigar.

\t\t\t Pareceram passar horas, até eu ouvir o ronronar de um carro passando velozmente por nós.

\t\t\t Em seguida, um feixe de água brilhante saiu espirrando, junto com um borrão vermelho, e eu só ouvia as risadas se distanciando e os resmungos de Cabeça de Miojo ao meu lado.

\t\t\t A água da chuva tinha molhado todo o lado direito do meu jeans, e o casaco estava todo respingado. Eu teria gritado de ódio, mas...

\t\t\t Eu não grito.

\t\t\t Mas, em compensação, Cabeça de Miojo estava descontando toda a raiva dele e minha.

\t\t\t -Essa filha da égua da minha irmã... Já ferrou tudo ontem. Tinha que fazer isso? Aquela égua, macaca... –xingou. Será que ele sabia que a irmã dele não era só filha da puta –sim, eu sou mais grossa-, como também uma Vaca-Mor?

\t\t\t Eu encostei minha mão no braço dele de leve, quando percebi que ele estava excedendo nos xingamentos. Quando eu o olhei, num pedido silencioso de calma, eu tive uma sensação boa, como nunca tive antes. Era uma sensação estranha, mas era boa. Meio que como os caras nos filmes dizem, quando estão no “lar”.

\t\t\t Foi assim que me senti. Parecia que era a única pessoa na qual eu podia confiar agora.

\t\t\t Eu saí dos meus devaneios quando ouvi um pigarreio atrás de mim.

\t\t\t -Oi, Jazz. –Disse a garota do pigarreio. Ela era muito bonita. Era loira, mas não aquele loiro frio de Rosalie. Era um loiro-morango, e, além disso, era liso e comprido. Era muito alta, tipo uns 1,85m, e vestia um conjunto de moletom de corrida verde-musgo. Tinha um rostinho de boneca, com direito a nariz pontudinho e lábios em coração, apesar de seus olhos azuis escuros expressassem um pouco de tristeza. Ela sorria abertamente para mim, como se não tivesse ideia de quem eu fora. –Oi, Alice.

\t\t\t Ei, espera aí. De onde ela me conhece?

\t\t\t Crispei os lábios, sem saber o que fazer. Como se cumprimenta alguém que você sequer conhece?

\t\t\t -Ah, foi mal. – Cabeça de Miojo disse. Eu não gosto muito de Jazz, já que era o estilo de música favorita do... meu irmão. Mordi o lábio inferior discretamente. –Alice, essa é a Tanya. –Ele apontou para a garota. –Ela trabalha comigo no Forks Supermarket.

\t\t\t Desejei ardentemente ainda ter uma barra de cereais na minha bolsa. O que eu iria responder?

\t\t\t -Eu sei o que você está pensando, Al. –ela começou. –Posso te chamar assim? Al? –Eu assenti. Era a primeira pessoa que me dava um apelido carinhoso, um apelido de verdade. Não como um apelido maldoso, sabe? –Então, sei que deve estar pensando: “Esse maluco quase que me mata ontem e vem me apresentando a namoradinha dele, como se fôssemos velhos amigos?”

\t\t\t Eu corei um pouco. Era mais ou menos isso; mas eu não sabia que ela tinha tantos detalhes da minha vida.

\t\t\t -Primeiro, scusa Jazz, mas eu vou dizer: Ele é como um irmão feio para mim. –eu pus a mão sobre a boca, mas me lembrei que eu não podia rir. –E, desculpa saber tanto da sua vida, mas ele é um tanto fofoqueiro, sabe. Então, eu te acho no direito de saber tudo sobre a minha, não é?

\t\t\t -Tanya. –Cabeça de Miojo alertou, fitando-a.

\t\t\t -Não, sério, Jazz. O meu turno começa só às 10:00, eu tenho tempo de contar tudo até lá.

\t\t\t Eu só fiquei quieta ali, ouvindo os dois. Bom, também, em grande parte porque eu não podia falar.

\t\t\t -Tudo bem para você, Al? –ela se dirigiu a mim, me fitando amigavelmente. Não vi nenhum traço de maldade nela, e agora que eu estava começando a confiar no Cabeça de Miojo, assenti.

\t\t\t Voltamos a andar, o sol frio da manhã já desaparecendo para ser substituído pelas nuvens escuras de chuva.

\t\t\t -Certo, já que você aguenta o tranco... –falou, enquanto chutava uma pedrinha pela rua. – Nasci numa cidadezinha do Kansas, tão pequena que nem sei mais se existe. Meu pai, Eleazar, era um grande fazendeiro, tinha centenas de hectares lá. Nós vivíamos do bom e do melhor, como você. –Ela se virou para mim e deu um sorrisinho encorajador. – Mas, em uma das férias de verão, em que eu completaria treze anos, meu pai e minha mãe foram à Vegas. Sabe, para comemorar um pouco.

\t\t\t Eu observava os chutes que ela dava nas pedrinhas, então percebi que, quando ela disse essa última parte, ela chutou a pedra com tanta força que sumiu da minha vista.

\t\t\t -Acontece que meu pai ficou completamente viciado nos cassinos. E ele não parou; nem quando voltou da viagem, e nem quando, no meu aniversário, eu desejei que ele parasse. –eu fiquei surpresa quando eu a vi fazer o mesmo que eu: morder o lábio inferior e piscar com força. –Então nós fomos a falência, é claro. Vendemos tudo: Casa, fazenda, até nossas roupas mais caras. Menos uma, que eu escondi deles.

\t\t\t Ela deu um sorrisinho. Mesmo que tivéssemos acabado de nos conhecer, eu ia cobrar dela pra conhecer a roupa.

\t\t\t -Nos mudamos para uma cidade menor ainda, onde meu pai encontrou um trabalho, que ele ficaria após alguns meses de reabilitação. –ela suspirou tristemente. –e foi tudo bem, durante alguns poucos meses depois de ele começar a trabalhar. Porque, num dia ele estava em casa, arrumando as malas para viajar e comprar gado especial, a pedido do patrão, e no outro havia um bilhete na cama, dizendo que tinha fugido por “amor”. Hã, estúpido.

\t\t\t A voz dela tremulou no final, e eu senti mais pena dela do que de mim. Quer dizer, do ponto de vista dela, tudo era bem mais trágico, e olha quem estava sorrindo: Ela.

\t\t\t -E, apenas dois dias depois, era a minha mãe que estava lá, morta no quarto dela, com uma faca no meio do peito, dizendo que tinha morrido por amor! –ela cuspiu a última palavra, como se fosse um palavrão. –POR AMOR À PORRA DO MEU PAI! –ela quase gritou.

\t\t\t O Cabeça de Miojo saiu do meu lado e foi até Tanya. Ele a abraçou, como uma irmã, nem se dando o trabalho de não molhá-la. Naquele instante, eu percebi que ninguém nunca tinha me abraçado assim, do jeito que eu mais precisei, sempre.

\t\t\t Eu ouvi quando ela soluçou baixinho, e eu quase desejei que pudesse soluçar, como uma pessoa normal. Parecia estranho, mas era o que eu mais queria. Bom, talvez não o que eu mais queria, mas uma das coisas.

\t\t\t Estava horrorizada. Eu, pensando só em mim mesma todo esse tempo, quando havia Tanya, a boneca loira que era mais bonita até do que Rosalie.

\t\t\t Mas eu acho que não havia uma Rosalie-Vaca nos primeiros dias de sofrimento dela. Alguém para tornar tudo pior.

\t\t\t Ela se recuperou, ainda se erguendo como uma rainha, quase inabalável, poderosa. Ela é que devia ser a rainha do colégio, não Rosalie.

\t\t\t Tudo bem que ela não estudava no nosso colégio, mas...

\t\t\t -Ei, Al? Você tá bem? –Ela me perguntou, como se ela não tivesse me contado tudo aquilo, agora mesmo.

\t\t\t Ergui o bloquinho que, até agora, estava em minhas mãos, e escrevi uma resposta. Eu é que pergunto.

\t\t\t Ela leu atentamente e se virou para responder.

\t\t\t -Sim, é que... Bom, você sabe como é. É difícil relembrar tudo, depois de tentar esquecer. –sorriu fracamente, e olhou para o relógio. –Ah Meu Deus! Tenho que voltar para lá. Tchau, Al. A gente tem que se ver mais, aí talvez o fofoqueiro não precise me contar tudo sobre você!

\t\t\t Eu sorri, e ela se virou e voltou para o Forks Supermarket.

\t\t\t Continuamos andando em silêncio, exatamente como estávamos fazendo antes de Tanya chegar. Eu tremia de frio por causa da água. Ele percebeu, e me ofereceu o dele, e apesar de eu assentir negativamente, ele colocou o pesado casaco bege nas minhas costas.

\t\t\t -Então, acho que ela gostou mesmo de você. –Disse, interrompendo o silêncio depois de um longo tempo. –Não é para todo mundo que ela conta isso.

\t\t\t Eu dei um sorrisinho, e escrevi uma resposta no papel. Também não é todo mundo que você abraça, isso eu tenho quase certeza.

\t\t\t Ele deu uma risada baixa, e resolveu entrar na brincadeira, escrevendo também. Isso é ciúme ou vontade de abraço? Escreveu.

\t\t\t Eu enrubesci. Sabia que ele estava brincando, mas soava estranho quando ele dizia.

\t\t\t Estamos chegando na escola. Não quer manchar ainda mais sua reputação andando comigo, não é?, respondi, mudando de assunto.

\t\t\t Ele ficou sério de repente, como se eu tivesse dito algo errado. Eu me preocupei. Não podia perder uma amizade logo agora, quando eu mais precisava.

\t\t\t -Acho que vou pegar esse caminho. –falou vagamente. Apontou para uma esquina, e seguiu aquele caminho, que era o mais longo até a escola. Lhe devolvi o casaco, brincando. Mas ele não estava mais. –Te vejo na volta.

\t\t\t E ele foi embora andando, com as mãos nos bolsos e olhando para os próprios sapatos.

\t\t\t Me encostei na parede de cimento da casa que estava mais próxima e, mesmo vendo a escola a duas quadras de mim, fechei os olhos e escorreguei, arranhando um pouco as costas do casaco preto, que continuava encharcado. Caí de bunda no chão quando as galochas escorregaram na sarjeta escorregadia.

\t\t\t Ah, Meu Deus. O que foi que eu fiz?

___________________________________________________________

Por Vick_Vampire


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Mereço reviews?
Queria agradecer a todos vocês que mandaram reviews!
E todos que mandaram recomendação! Amo mt vocês!
Hihi
Então, Eu e a Jubs decidimos o seguinte: Não vamos dar Spoiler todo cap. Só de vez em quando, tá? A gente não quer mimar muito vocês;D
Mas não deixem de mandar reviews, pelo amor de Deus!
Beijos para todos! (Menos você que está subindo a página sem mandar review... EU te odeio.)
Vickie