The Chosen One escrita por Ducta


Capítulo 24
Peaceful Sea


Notas iniciais do capítulo

Antes tarde do que nunca u.u



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Quando eu olhei para o lado eu vi que Drake não estava mais dormindo.

- Que foi? – Perguntei.

- O que nós vamos fazer agora?

- Continuar? – Sugeri.

- Só nós dois?

- É estupidez, eu sei, mas eu não consigo pensar em mais nada a fazer.

- Voltar pra eles? Eu sinto falta de Justin.

Drake não parecia um garoto falando. Ele estava deitado, olhando para o teto, sério.

- Justin não gosta de mim. – Eu disse.

- Eu percebi. Mas você não pode fugir.

- Não estou fugindo. – Eu disse imitando seu gesto e olhando para o teto.

- Está sim.

- Você não devia ser tão perceptivo pra essas coisas com tão pouca idade.

- Eu não consigo evitar.

- Você acha que nós deveríamos ir atrás dos outros?

- Agora eu acho que não. Nós não temos a menor idéia de onde eles estão não é?

- É.

- Vamos ficar com Grace então?

- Não.

- Vamos continuar?

- Assim que meu sono passar.

Nós ficamos em silencio por um longo momento então Drake disse:

- Porque ele te odeia?

- Porque eu fujo.

- Porque você foge?

- Eu não consigo evitar. Justin é bom demais em tudo o que faz, quando eu não consigo alcançá-lo ou enfrentá-lo eu fujo.

- Isso não parece certo.

- É o que eu sei fazer.

- Você é mais que isso.

- Eu tenho minhas dúvidas.

- Posso ir ver televisão?

- Claro.

Eu me sentia mal. Fraca. Estúpida. Perdida.

Tentei não pensar muito em minha conversa com Drake enquanto fazia o jantar. Só Drake comeu. Eu não sabia que horas Grace chegava em casa, mas achava melhor não estar mais lá quando ela chegasse. Recolhi minhas coisas e peguei um canivete que achei no armário da lavanderia. Drake não disse nada quando eu disse que estávamos indo embora. Eu tranquei a porta do apartamento e passei a chave de Grace por baixo da porta, como ela havia pedido.

Estava escuro. E de novo eu me senti estúpida por andar com Drake a noite.

Antes de deixarmos a soleira da porta, eu coloquei o canivete no bolso da calça de Drake. Talvez fosse só minha imaginação, mas quando alcançamos a avenida algumas pessoas viraram para nos olhar.

- Me fale sobre seus pais. – Eu pedi a Drake para desviar minha mente.

- Eu não me lembro muito deles. – Drake disse meio assustado.

Eu o olhei e ele realmente parecia preocupado.

- Deve ser só cansaço. Faz tempo que você não os vê, não é?

- É.

E nós não conversamos por um tempo até que alguém quebrou o silêncio, e não foi Drake.

- Alethia! – Alguém gritou atrás de nós.

Eu puxei Drake pelo pulso e nós começamos a andar mais rápido.

- Alethia! – Continuaram chamando. E chamaram por mais um tempo até que eu decidi olhar por cima do ombro.

A uns 10 metros estava um rapaz alto, loiro, vestindo uma jeans rasgada e camisa xadrez também rasgada. Ele parecia estar machucado, mas mesmo assim sorria.

Eu parei e ele começou a se aproximar. A cada passo que ele se aproximava de mim eu tinha mais certeza de que ele havia sido atacado por um urso.

Ele era bonito e bem mais alto que eu.

- Caramba! Eu não acredito que é você! – Ele disse surpreso quando estava bastante perto.

Eu puxei Drake para trás de mim e encarei o rapaz. E eu senti que devia tê-lo reconhecido de imediato e que devia estar feliz e aliviada por ser ele quem fosse, mas eu só conseguia me sentir assustada.

- Você não se lembra de mim. – Não era uma pergunta.  

- Deveria? – Perguntei vasculhando minhas fracas memórias.

- Deveria.

Eu sabia que conhecia aquele rosto e aquela voz, mas não sabia da onde.

- O que aconteceu com você? – Perguntei para ganhar tempo.

- Não importa mais.

Ele me olhou e eu soube que ele sabia que eu estava tentando lembrar quem ele era.

- A barriga da Kimmy já está aparecendo sabia?

Então foi como se uma luz se acendesse no meio da escuridão que eram minhas memórias.

- Dean! – Eu disse surpresa.

Ele me abraçou e por um momento eu senti que iria ficar tudo bem. Até que eu me lembrei de um detalhe.

- Oh não.

- Que foi? – Dean perguntou me olhando assustado.

- Eu morri pra você.

- É. Eu me lembro do seu funeral.

Eu dei uns passos para trás.

- Calma! – Dean disse. – Eu sei o que aconteceu com você e com o Justin. Aconteceu comigo também.

- O quê?

- Eu despertei também.

- Como eu posso acreditar em você?

- Eu sou seu amigo.

- A última vez que você me viu eu estava dentro de um caixão.

- Pois é, mas, como eu disse, eu fui despertado e me mandaram aqui pra ajudar você.

- Quem mandou?

- Não posso dizer ainda.

- Então eu não posso confiar em você.

- Nós somos amigos.

- Nós éramos.

- Ale, por favor.

- Passa logo seu recado.

Só então eu percebi que nós não estávamos mais na avenida e sim em frente a um parque escuro, deserto e sombrio. Eu só não dizer como fomos parar lá.

- Muito bem. – Dean disse sorrindo. – Cadê o Justin?

- Eu não sei.

- Vocês estão todos do lado errado. Eles roubaram tudo de você. Do menino atrás de você. De nós.

- E daí?

- Qual o nexo em morrer por quem destruiu você?

- O que você quer dizer?

- Vem comigo, eu sei de alguém que vai nos ajudar a conseguir tudo de volta e até mais.

- Como vamos conseguir? Quem é que vai nos ajudar?

- Você vai ter Percy e Annabeth de volta. É o que você quer não é?

- É o que eu devia querer.

- Me diga Ale, você está gostando dessa vida? Gostando do fato que você pode morrer a qualquer momento?

- Não tenho escolha.

- Todos temos escolhas. Ainda mais nós.

- Nós quem?

- Viu? Eles te escondem até quem você é e porque você foi despertada! – Dean exclamou como se tivesse obtido uma gloriosa vitória.

- Me diz o que eu sou então.

Dean sorriu, mas então o seu sorriso foi substituído por uma expressão assustada e então ele estava em pânico. Caiu nos próprios joelhos com as mãos nos ouvidos, gritando de dor. Eu fiquei assustada demais pra fazer qualquer coisa que não fosse assistir.

- Você ficou assim aquele dia. –Drake disse espiando a cena pelo lado do meu corpo.

Então eu consegui me mexer e ajoelhei na frente de Dean que continuava a gritar e implorar pra que parassem.

- Dean! – Eu chamei em voz alta. – Dean fala comigo! Dean!

Mas quando ele ergueu os olhos pra mim sangue começou a escorrer por seu nariz, ouvido e boca. Eu senti meu sangue gelar e minha respiração desigualar.

Eu comecei a gritar por Dean, mas ele não parecia me ouvir. Ele caiu para trás antes que eu pudesse segurá-lo e todo seu corpo tremeu violentamente.

Eu me ouvi implorando pra que parassem com o que quer que fosse enquanto os machucados de Dean começavam a sangrar profusamente.

- Dean fala comigo! DEAN!

Eu o sacudia e tentava impedi-lo de tremer, mas ele ainda gritava.

- Procure-o! Embry! – Dean disse e com um ultimo estremeção seu corpo tornou-se imóvel sobre a poça de sangue.

E lá estava eu coberta de sangue novamente, segurando a mão de um alguém que morrera falando comigo, alguém que sequer deveria estar ao meu lado.

Ver Danniele morrer foi a pior coisa que havia acontecido comigo até a morte de Dean. Porque ele era meu amigo de longa data, meu irmão mais velho, meu padrinho de casamento. Eu já estava chorando antes que percebesse. Eu me levantei e olhei para Drake que tinha os grandes olhos claros arregalados de surpresa e terror, as mãos fechadas em punhos na altura do peito e lágrimas correndo pelo rosto pálido pelo susto. E eu temi por sua vida como nunca antes. Um arrepio subiu por minha espinha. Era como se o perigo estivesse tão perto, prestes a nos atacar. Eu olhei ao redor, mas estávamos absolutamente sozinhos.

Eu peguei minha mochila ao lado do corpo de Dean e corri puxando Drake pelo pulso. Então eu me lembrei do que Jean dissera no dia que eu fiquei como Dean: “Eu tenho a ligeira impressão que alguém não queria que ela dissesse o que viu.”

Nós já tínhamos corrido algumas várias quadras quando Drake me fez parar porque não conseguia mais correr. Ele sentou na calçada com a mão no abdômen. Eu sentei ao seu lado e disse a ele o que eu estava maquinando durante nossa corrida.

- Assim que o sol aparecer, nós vamos dar um jeito de fazer um arco-íris e eu vou pedir pra alguém do Acampamento vir buscar você.

- Eu não quero ficar longe de você.

- Drake eu não posso arriscar! Você sabe que o que aconteceu com Dean já aconteceu comigo. E se acontecer de novo? E se eu morrer? Eu preciso te mandar pra lá.

- E o que vai acontecer com você?

- Eu não sei.

E nenhum de nós disse mais nada. Nós ficamos sentados naquela calçada até o sol começar a nascer atrás de nós. Eu aproveitei para vasculhar minha mochila atrás de um dracma. Mas então eu me lembrei de que eu não tinha nenhum dracma. Eu xinguei em voz alta e depois de desculpei com Drake.E aguardamos mais algumas horas até que o sol ilusoriamente alcançasse o telhado da casa a qual a calçada pertencia. Quando isso aconteceu, eu reparei que a casa tinha sprinklers por todo jardim. Eu me sentia prestes a ter uma sincope de nervosismo enquanto torcia para ser dia de irrigar o jardim. Era. Assim que os sprinklers foram ativados eu vasculhei por toda grama verde e bem aparada por algum sinal de arco-íris, mas foi Drake que o viu.

- Ali. – Ele disse tristonho apontando para o meio do jardim onde um espectro colorido ganhava forma fracamente. 

Eu o olhei, mas sacudi a cabeça.

- Precisa de dinheiro grego. Dracma. E eu não tenho nenhum.

- Isso aqui é um Dracma? – Drake perguntou tirando uma moeda dourada do bolso da jeans.

Eu o olhei surpresa.

- Como você tem um Dracma?

- Justin me deu e disse pra usar em emergências. – Drake disse, deu os ombros e me entregou o Dracma.

Eu corri até o pequeno espectro, olhei para a casa para ver se tinha algum sinal de movimento.

- Ó Deusa Írisaceite minha oferta. – Eu disse e joguei a moeda. E ela sumiu no espectro.

- Legal. – Drake disse.

- Mostre-me Quíron no Acampamento Meio-Sangue.

O espectro tremeluziu rapidamente então eu vi Quíron em sua cadeira de rodas na varanda da Casa Grande com um livro na mão.

- Quíron. – Eu chamei em voz baixa por que uma luz se acendera no segundo andar da casa.

- Oh olá Alethia. – Ele disse surpreso erguendo a cabeça.

Eu contei pra ele bem resumidamente sobre Drake e perguntei o que eu deveria fazer.

- Cadê os outros? – Ele perguntou.

- Nós nos separamos. Rápido Quíron! Vão desligar os sprinklers!

Quíron pediu o nome da rua em que eu estava e disse que mandaria uma equipe para buscar Drake.

E quando a janela do andar debaixo foi acesa eu passei a mão pela imagem e corri com Drake para fora do jardim.

Nós ficamos andando pelo bairro o dia todo, nunca muito longe da rua inicial. E lá pro fim da tarde quando nós estávamos voltando para a tal rua depois de ir a padaria fazer um lanche e vi um furgão de morangos parado na outra extremidade da rua. Então Rachel Dare desceu do caminhão e olhou ao redor.

- Rachel! – Eu chamei acenando enquanto eu e Drake íamos em direção ao caminhão.

- Olá, você é o Drake, certo? – Rachel disse sorrindo.

Mas Drake não sorriu.

- Pra onde você vai me levar? – Ele perguntou.

- Posso explicar no caminho? Argus viu um carro preto nos seguindo umas ruas atrás. – Rachel respondeu. Mais pra mim do que pra Drake.

- Posso confiar nela? – Drake me perguntou.

- Pode. – Eu disse.

- E se acontecer alguma coisa?

- Não vai acontecer nada. – Eu disse. – Eles vão te dar morangos pra comer no caminho.

- E sorvete, balas e chocolate quando chegarmos ao Acampamento. – Disse um rapaz esguio de olhos azuis tão claros quanto um raio e cabelos pretos que cresciam desengrenhados para todos os lados e com as pontas azuis e pele bem clara que acabara de descer do furgão. Ele usava uma jeans escura com rasgos obviamente feitos por ele mesmo. Ele era bem bonito. Ele tinha um jeito meio misterioso, um rosto duro e másculo e ao mesmo tempo muito jovial.

- Alethia, esse é Gállates Gallager, filho de Zeus.

- Filho de Zeus? – Perguntei. - Ele não é muito grande pra isso não?

Rachel deu os ombros e disse:

- Ele apareceu no topo da colina com a roupa queimada, desmaiado e depois Hermes trouxe uma mensagem de Zeus dizendo que era pra cuidarmos dele e dá-lo todas as regalias de um filho de Zeus. O que pra mim fica bem claro que ele é um filho de Zeus.

- Isso é um jeito estranho de reclamar um filho. – Eu observei.

Rachel deus os ombros de novo.

- Na verdade meu nome é Ian Gallager, mas meu pai insiste em me chamar de Gállates. As meninas do Acampamento gostam de Gállates.

Eu rolei os olhos.

- Vamos Drake? – Rachel perguntou.

Drake me olhou assustado e eu assenti o incentivando a ir.

- Vai ser horrível ficar sem você. – Drake disse e meus olhos marejaram.

Eu o abracei e senti que não podia soltá-lo, que seria terrível deixá-lo ir, mas eu o soltei e pedi que se cuidasse.

- Você volta pra me buscar? – Drake pediu com os olhos marejados. – É que você é minha família agora.

E antes que eu percebesse, eu estava abraçando Drake outra vez e chorando.

- Eu volto sim. – Prometi.

E antes que eu pudesse me arrepender, Rachel o ajudou a subir no furgão.

Rachel despediu-se e já estava quase fechando a porta do furgão  quando eu notei que Gállates ainda estava do meu lado.

- Você não vai subir não? – Perguntei.

- Oh. Não. – Ele respondeu tranquilamente.

- Ah é, já ia me esquecendo. Alethia, Quíron enviou Gállates para te acompanhar.

Eu ergui uma sobrancelha em pura incredulidade.

- Ele chegou tem 3 dias e logo depois da sua mensagem Hermes trouxe duas mensagens a Quíron, uma de Poseidon e uma de Zeus.

Eu apenas a olhei.

- Bem, a de Poseidon dizia “A mantenha viva.” E a de Zeus dizia “Use Gállates.” Então, aí está o seu presente.

- Definitivamente um presente enviado dos céus. – Gállates disse sorrindo.

Eu rolei os olhos e olhei para Drake dentro do furgão e disse:

- “Queda das Almas... Norte... 3.000 milhas... Dentro dos olhos... A chave.”

Drake pensou um pouco antes de responder:

- Siga a 3.000 milhas para o norte, dentro dos olhos da Queda das Almas está a chave.” Caminho longo.

- Foi o que pensei.

- Boa sorte. – Rachel disse.

- Vou precisar.

Então Rachel fechou a porta e o carro deu marcha a ré e sumiu na esquina.

Eu olhei para Gállates com mais atenção e não vi nada que eu não tinha visto antes.

- E aí, pra onde vamos? – Ele perguntou.

- Norte. Não ouviu? – Eu disse.

- Você parece cansada, melhor parar em algum lugar pra você dormir.

- Fica quieto e apenas ande. – Eu disse passando à sua frente.

Mas ele não ficou quieto.

- Você sabia que os seres humanos foram criados originalmente com quatro pernas, quatro braços e com duas faces. Mas, temendo o seu poder, Zeus os separou, condenando-os a gastar suas vidas em busca de sua outra metade?

- Sim, eu sabia.

- Você já achou sua metade?

- Achava que sim até algumas semanas atrás.

- Hm.

Eu não disse nada.

- Você parecer ser tranqüila.

- Nem sempre.

E nós ficamos em silêncio por um tempo. Apenas andando pelas ruas quase desertas.

- Galatéia. – Ele disse de repente.

- O quê?

- “Branca como leite.”

Eu apenas o olhei de cenho franzido.

- Galena.

- Oi? – Perguntei.

- “Mar Tranqüilo.” Isso combina com você. Olá Galena.

Eu sorri, mas ele não viu porque ainda estava atrás de mim.

- Só ande ok? – Eu disse.


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Notas finais do capítulo

Gállates, awn ♥