The Chosen One escrita por Ducta


Capítulo 25
How Soon Is Now?




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GÁLLATES

Galena mostrou não ser o mar tranqüilo que eu pensei que fosse. Na realidade ela me pareceu bastante perturbada.

Enquanto nós andávamos, ela não falou comigo uma vez sequer, mas isso não quer dizer que ela ficou quieta. Ela falou sozinha grande parte do tempo, fez contas com ajuda dos dedos, observou com bastante atenção as casas pelas quais passávamos e tinha atenção redobrada quando via alguém muito perto. As vezes ela alterava esse modo atencioso para um modo distraído e sonhador, andava olhando para o nada. De vez em quando ela sorria e brincava com o próprio cabelo, jogando-o de um lado para o outro. As vezes ela parecia a beira de cair no choro, mas só as vezes. Ela cantarolou um pouco, cantou um trecho vez ou outra e então ficava em silêncio. E repetia tudo de novo em ordem diferente. Foi realmente divertido observá-la.

Só quando a noite caiu eu percebi o quanto desatento eu havia sido aquela tarde, deixando que minha mente focasse apenas a garota.

Então nós entramos em um grande centro urbano, Alethia pareceu não saber o que fazer por um longo tempo, mas eu não disse absolutamente nada, apenas fiquei parado esperando que ela decidisse o que fazer. Então ela finalmente se moveu e eu segui seus passos hesitantes. Ela não me pediu ajuda, pediu informação vez ou outra as pessoas que passavam por nós. Então nós chegamos a uma loja de penhores extremamente pequena. Por um único segundo, quando ela entrou na loja sozinha, eu me perguntei se havia sido uma boa idéia deixar que ela tomasse a frente da situação, mas logo eu sorri pra mim mesmo e esqueci essa pergunta boba.

Pelo vidro da porta eu a vi tirar da mochila um par de brincos brilhantes e dá-los aos homem no balcão. O senhor os avaliou por um tempo com instrumentos antigos e então deu uma quantia de dinheiro à Alethia que ela logo guardou na mochila.

Logo que saiu da lojinha, Alethia me levou a um restaurante fast-food alguma quadras depois e só falou comigo quando disse que eu podia pedir o que quisesse.

Quando finalmente nos sentamos na mesa mais afastada do salão, eu percebi o quanto estava cansado, eu sentia como se pudesse cair dentro do prato a qualquer momento de tanto sono, mas dei preferência à comida.

- Você foi uma ótima companhia hoje. – Alethia disse de repente.

Quando eu a olhei, ela estava olhando pra mim. Isso me fez sorrir.

- Mas eu não fiz nada.

- Por isso mesmo. – Ela quase sorriu – Eu precisava daquele tempo “sozinha”.

- Foi um prazer. – Eu disse. – Quer conversar agora?

- Não. Se importa se eu voltar a ficar quieta?

- Não, fique a vontade.

Então nós terminamos o jantar do mesmo jeito que começamos nossa caminhada mais cedo: cada um com seus botões.

Quando saímos do restaurante eu tornei a segui-la. Ela achou um pequeno hotel perto do restaurante, ele parecia ter sido exprimido entre os dois prédios ao lado, era extremamente simples, com seus três andares e pintura descascando, mas era extremamente aconchegante em seu interior.

Alethia alugou um quarto no último andar, ele tinha duas camas, uma televisão de 20 polegadas em um suporte, um ventilador antigo e um banheiro pequeno.

Logo que entrou Alethia foi para a varanda, eu fui direto para o banho. Eu demorei bastante no banho, quando eu saí e olhei para Alethia ainda na varanda, ela não parecia ter se movido sequer um milímetro. À exceção de seus cabelos longos e dourados que balançavam com a brisa.

- Tudo bem? – Perguntei, mas como o esperado, ela não respondeu.

Apenas pegou a mochila e entrou no banheiro. Eu ouvi ela começar a chorar antes que o chuveiro fizesse barulho o bastante pra cobrir.

Eu liguei a TV e deitei no sofá, meu objetivo era esperar ela sair do banho para ver se conseguiria conversar, mas eu dormi rápido demais.

Eu acordei algumas horas mais, tarde meio confuso, então eu me levantei e tranquei a porta da sacada, o vento estava forte e frio agora e estava extremamente escuro e deserto lá fora, que horas seriam? Ao me direcionar para a cama do lado eu vi Alethia dormindo. Ela estava tão tranqüila e mesmo assim parecia com medo de alguma coisa, pois abraçava o cobertor como se disso dependesse sua vida. Eu dei uma checada geral no quarto antes de apagar as luzes, como Rachel me sugerira, então eu fui dormir.

Quando eu acordei, eu estava zonzo. Precisei de várias piscadas pra que minha visão entrasse em foco. Quando isso aconteceu, eu percebi que estava com os pés e as mãos amarradas e que minha cabeça doía muito.

Eu tentei ver onde eu estava, mas eu não conseguia enxergar um palmo na frente do nariz. Eu me sentei e tentei soltar meus braços, mas o nós estava muito bem feito e eu podia sentir minha pele rasgando quando eu tentava puxar.

Então um grito agudo e alto invadiu o lugar, vindo perto, mas não parecia ser do mesmo lugar que eu estava. E o grito se tornou vários outros, cada vez piores. “Alethia” eu logo pensei. Eu gritei seu nome, mas nenhuma resposta.

Eu tentei ficar de pé, mas falhei miseravelmente por causa dos meus pés amarrados, então eu voltei a me concentrar em soltar minhas mãos. Eu não tinha a menor idéia do que usaram para amarrar minhas mãos, mas foi um serviço bem feito. Alethia continuava a gritar e eu sentia meu estômago afundando cada vez mais. Eu comecei a suar frio e acho que isso ajudou com que minhas mãos escorregassem pra fora dos nós. Eu sentia minhas mãos queimando e tremendo, elas estavam sangrando.

Assim que soltei meus pés, eu apalpei minha cabeça e uma sensação pegajosa no meu cabelo me disse que eu estava sangrando lá também.

Alethia gritou de novo, mas dessa vez o grito foi mais fraco. Meu coração palpitou dolorosamente e eu tentei correr, mas bati a testa na quina de alguma coisa e caí no chão zonzo e com uma dor muito forte latejando a minha cabeça. Eu adoraria ter ficado deitado lá e desmaiar, mas alguma coisa no jeito que os gritos ficavam mais fracos me fez levantar tentando ignorar a dor, mas o sangue que caia em meus olhos eram difícil de ignorar. Dessa vez eu mantive os braços esticados a frente do corpo. Parecia que eu estava apalpando móveis, vários móveis virados e quebrados. Eu andei por um longo corredor até que cheguei a uma escada. Todo percurso em uma total escuridão. No final da escada havia uma porta, cuja maçaneta não serviu pra nada, obviamente. Eu comecei a jogar meu peso contra a porta, soquei-a, só não conseguia chutar porque eu acabaria rolando pela escada.

Em meio a minha luta com a porta, Alethia parou de gritar. E meus olhos se encheram de lágrimas involuntariamente. E pensar que ela talvez tivesse morrido, de um modo estranho renovou minhas forças e eu voltei a socar a porta até que um pedaço da madeira cedeu e quebrou fazendo meu braço atravessar a porta e se encher de farpas. Eu quebrei a porta até que formasse um buraco grande o bastante pra que eu pudesse passar. E quando eu passei, eu me vi em uma cozinha rústica e suja de sangue e barro aqui e ali. Tinha uma porta de vidro pela qual eu podia ver o que deveria ser o quintal e outra de madeira que deveria levar aos outros cômodos da casa. Optei por olhar o resto da casa.

E eu a encontrei no que deveria ser uma sala, no cômodo seguinte, deitada no chão com seu corpo coberto por três coisas. Um era metade mulher metade cobra, o outro parecia ser um urso e o que me assuntou mais tinha corpo de homem, mas seu rosto era de leão e ele tinha asas de morcego. Eu podia ver o cabelo de Alethia por cima dos três. O tal cara com rosto de leão estava com a boca aberta, talvez preste a arrancar um pedaço da Alethia.

- NÃO! – Eu gritei.

No milésimo de segundo seguinte, a tal cobra estava vindo pra cima de mim com uma velocidade terrível, mas eu consegui interceptar seu ataque segurando seu pescoço. Mas ela cravou suas garras em meu rosto e eu senti o rasgo então queimou com tanta voracidade que parecia que estavam arrancando minha pele a ferro e fogo. Lutando contra a dor eu apertei o pescoço da mulher até ela soltar meu rosto e cair silvando no chão.

- Tirem ela daqui! – Alguém gritou em uma voz rouca e sinistra de arrepiar todos os pelos do corpo.

E quando eu pisquei alguém me puxou pelo cabelo e me jogou no chão. Então o homem com cara de leão estava em cima de mim, me encarando com a boca suja de sangue, sorrindo.

- O que vocês fizeram com ela? – Perguntei.

- O mesmo que vamos fazer com você. – Ele respondeu. E era dele a voz de arrepiar todos os pelos do corpo.

- Ela está morta?

- Ainda não, mas você não vai resistir tanto tempo.

Todo meu corpo doía e minha visão estava ficando manchada por pontinhos pretos.

- Veneno sabe? – Ele continuou ainda sorrindo. – Eu queria que você tivesse bom pra que você pudesse ficar pro lanche, mas eu não posso comer você agora que você está cheio de veneno, sua carne vai ficar com um gosto ruim.

Eu podia sentir meu corpo suando frio e minha respiração aumentando até ficar superficial. Meu coração batia desesperado para me manter vivo.

“Eu preciso fazer alguma coisa” era meu único pensamento enquanto aquele bicho avaliava o que fazia comigo. Erguendo o olhar um pouco eu vi que faltava uma grande parte do forro do teto e isso deixou toda a fiação da lâmpada exposta e uma idéia me ocorreu. Se eu ao menos pudesse alcançá-lo...

Aí tudo aconteceu muito rápido, mas em câmera lenta.

- Eu vou fazer um esforço. – Disse o tal bicho quase sorrindo pra mim. – Eu vou experimentar sua carne.

“Pai, por favor.” Eu pensei com todo o meu esforço pra me manter concentrado.

O bicho abriu a boca e pingou sangue da ponta dos seus dentes no meu rosto. Sua boca cada vez mais próxima... Eu desejando com todo o meu coração... Então seus dentes tocaram meu ombro e tudo virou dor. Queimou a ponto de fazer desejar morrer pra que aquilo parasse. “Não posso morrer!” eu dizia a mim mesmo e continuei a pedir enquanto os dentes ainda afundavam em minha carne até quebrarem meu osso. Então finalmente o fio despencou desencapado. Eu ergui meu braço bom e peguei o fio antes que ele balançasse pra longe e logo uma descarga mais forte do que eu esperava começou a correr por meu corpo e eu permiti que ela fluísse e emanasse. Os dentes do bicho deixaram minha pele, ele soltou um grito agudo e explodiu em poeira cinza. Por um único milésimo de segundo eu respirei aliviado. Então o fio em minha mão explodiu e a coisa realmente começou a ficar quente quando todos os fios no teto pipocaram e pouco que restara do forro caiu. Levantando-me com dificuldade eu percebi que estava no meio de um circulo de fogo. Por causa do papel de parede velho o fogo se alastrou por elas pegando os poucos móveis e os queimando rapidamente.

- Merda. – Eu disse.

O fogo começou a subir pelas escadas e eu subi ao seu lado quase me arrastando. Minha visão estava seriamente turva e cheia de pontos pretos, eu estava suando e sangrando muito, e eu não sei se era o veneno ou a fumaça que não me deixava respirar direito. O primeiro cômodo do segundo andar já estava em chamas, mas mesmo assim eu entrei, estava vazio. Eu chamei por Alethia, sem esperar por nenhuma resposta. Olhando para o corredor cheio de fumaça, eu percebi que havia mais duas portas. Achei Alethia na porta seguinte, largada totalmente desajeitada em um sofá velho.

- Peguei você. – Eu disse a pegando nos braços, ignorando a dor nos meus braços.

- Tá doendo muito! – Ela choramingou cobrindo um ferimento no abdômen com a mão.

- Eu sei, em mim também. – Eu disse deixando o quarto.

Eu pensei em descer a escada, mas metade do corredor já estava tomado pelo fogo. Eu retrocedi e voltei a colocar Alethia no sofá, eu não estava mais agüentando ficar em pé. Meus sentidos ficaram todos dormentes. Eu não conseguia ouvir a Alethia que começara a gritar meu nome, meus olhos se fecharam por conta própria e o ar estava rarefeito...

ALETHIA

Eles haviam mordido Gállates. A pele ao redor do ferimento estava esverdeada, podre. Gállates chorava baixinho, de olhos fechados. Eu ignorei a dor dos meus ferimentos e me ajoelhei ao seu lado chamando seu nome e o sacudindo, mas não estava dando certo. O piso estava muito quente e cheio de rachaduras, não dava pra sair, o quarto estava cheio de fumaça. Eu entrei em pânico e comecei a gritar e chorar. Então eu olhei a janela do cômodo. Eu fui até ela e a abri. Era uma queda e tanto lá pra baixo... “É isso!” eu pensei. O chão fez “creck” e o chão do quarto despencou. Eu segurei o braço de Gállates e me segurei na janela com a outra mão e nós ficamos pendurados a dois andares de altura com um circulo de fogo esperando para no engolir lá em baixo. O braço de Gállates começou a escorregar da minha mão, eu gritei seu nome e o sacudi, desejando que ele não estivesse desacordado. Não pareceu funcionar e eu cogitei soltar o parapeito da janela, mas então, por um milagre, Gállates ergueu os olhos pra mim. Imediatamente eu comecei a puxá-lo pra cima e ele meio que me escalou, até estarmos os dois pendurados no parapeito da janela. Com um grito de dor terrível, ele se ergueu, como nos erguemos quando vamos sentar na borda da piscina e sentou-se no parapeito da janela e então me puxou.

Ele encostou a cabeça na janela e suspirou.

- Nós vamos morrer. – Ele disse com muito esforço. Ele parecia prestes a desmaiar a qualquer momento.

- Você confia em mim? – Eu disse.

- Confio. – Ele sussurrou.

Eu passei minhas pernas para o lado de fora da janela e segurei seu braço.

Ele me olhou em pânico então eu pulei da janela.

Eu estava pronta pra me esborrachar no chão quando eu parei abruptamente no ar, como se alguém tivesse puxado um tipo de freio. Eu estava a uns poucos centímetros do chão e então eu tornei a cair e bati suavemente no chão do jardim.

- Você é doida. – Gállates disse e então desmaiou.

- Ah não! – Eu disse e me ajoelhei ao seu lado o sacudindo. – E agora? E se ele morrer?

Então eu não estava mais sozinha. Eu acho que gritei de susto, por causa expressão do homem. Ele era uma mistura de atleta com carteiro e é estranho, porque eu não consigo descrever mais nada. Eu estava vendo seu rosto perfeitamente, mas não consigo descrevê-lo. Bem, o cara devia ter uns 27 anos. Ou 32.

- Quem é você? – Perguntei semicerrando os olhos e puxando o corpo de Gállates pra mais perto.

Ele suspirou.

- Hermes menina.

- Oi? – Eu disse surpresa.

- Você é surda?

- Desculpe.

Ele me encarou.

- Quais as chances de isso não ser um sonho? – Perguntei.

- Quer um beliscão.

- Desculpe. – Eu disse novamente. – Bem, a que devo a honra?

- Eu tenho um pacote e um recado pra você.

- Pois então. – Eu disse quando ele não fez nada além de olhar Gállates.

- Ele não vai durar muito sabe, por isso, tome. – Então ele tirou do bolso e me entregou uma bolsinha, dessas de veludo que geralmente vem jóias dentro, cor de vinho.

- Que é isso? – Perguntei pegando o saquinho e tirando um colar dourado com uma pequena pedra de mármore de pingente.

Então o homem tirou do bolso um pedaço de papel e o leu em voz alta:

- Passe a pedra nos machucados do garoto e então coloque o pingente em seu pescoço.

- Por quê? – Perguntei.

- Porque Apolo mandou, por isso. – Ele respondeu rabugento.

- O senhor não está em um dos seus melhores dias não é? – Perguntei passando a pedra pelo ombro de Gállates. Nada aconteceu, mas eu decidi confiar.

- Onde está minha filha? – Ele perguntou de repente.

“Uh oh.” Eu pensei.

- Não sei. – respondi e o olhei por cima do ombro.

Ele parecia que ia me dar um soco.

- Hm. – Ele fez por fim.

Eu prendi o colar no pescoço de Gállates e observei enquanto nada acontecia.

- Espero que ajude mesmo. – eu disse.

- Pra mim ele poderia já estar morto, mas Zeus quase iniciou a terceira guerra mundial por causa do garoto. – Hermes disse azedo.

Sério, foi realmente estranho imaginar aquilo.

- O senhor tem mais alguma coisa pra mim?

- Sim. Seu pai, Poseidon, Deus dos Mares, Senhor dos Terremotos, Portador das Tempestades e Pai dos Cavalos ordena que a senhorita volte imediatamente para junto da companhia do garoto Deverraux e dos outros, e que leve o filho de Zeus com você.

- Por quê? – Eu disse antes que eu dissesse um “não” bem ousado.

- Eu não sei por que, só passo recados. Agora feche os olhos.

Eu obedeci e pelas minhas pálpebras eu “vi” um forte clarão e então tudo voltou ao normal e eu abri os olhos.

Eu olhei para a casa em chamas por um momento, olhei para Gállates ainda em estado inalterado e senti todos os meus machucados. Pensei sobre a ordem de Poseidon... Porque ele nos queria juntos? Porque Zeus ficou tão preocupado com a vida de Gállates? Como, diabos eu iria encontrar Justin? Toda a verdade parecia tão perto, quase palpável, mas ao mesmo tempo eu sabia que estava andando do escuro. Confiar e seguir, é isso? 


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