The Chosen One escrita por Ducta


Capítulo 19
Medidas Desesperadas




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Eu desisti do “banho quente e cama” quando vi que o hotel tinha uma piscina. Nós tínhamos alugado dois quartos, de novo um para os meninos e um para as meninas, mas no momento todos nós estávamos no quarto dos meninos. Eu estava escolhendo uma roupa para ir nadar, Lucas estava olhando um mapa na lista telefônica procurando por uma pizzaria, Leon, Jean e Justin conversavam a respeito do menino que ainda estava dormindo e Thalia e Danniele brigavam pelo controle da TV.

— Quanto tempo será que ele vai ficar desacordado? – Jean perguntou.

— Dois, três dias, quem sabe? – Justin disse.

— Espero que não. Quero que o levem pro Acampamento logo. – Leon disse.

Eu não me intrometi. Peguei uma camiseta e um short jeans e fui me trocar no banheiro. Não avisei ninguém para onde eu estava indo e ninguém se importou em perguntar.

A noite estava morna, mas o vento era frio e me causou arrepios. Eu não havia me olhando no espelho, não sabia quais eram meus ferimentos, mas todos eles arderam quando entraram em contato com a água fria. Eu nadei o perímetro da piscina duas vezes e logo o frio passou e eu comecei a me sentir bem. Nada doía. Nem fisicamente, nem psicologicamente. Eu realmente estava bem. Eu nadei em todos os estilos que conhecia para evitar pensar em alguma coisa, e em toda minha concentração para não pensar em nada eu nem percebi que não parei para pegar ar uma vez sequer.

Quando eu percebi isso, eu me sentei no fundo da piscina e comecei a contar mentalmente quanto tempo eu conseguiria ficar ali, mas minha contagem se perdeu por volta de 6 minutos e 17 segundos quando um par de pés entrou na água. E eu os via nitidamente, não tremulando como sempre foi, era como se tivesse apenas um vidro. Eu voltei à superfície e Justin estava lá.

Eu o olhei para ele rapidamente e fiz questão de voltar para o fundo da piscina, mas quando eu dei as costas ele me chamou.

— Que foi? – Perguntei o olhando.

Mas ele não disse nada, só me olhou.

— E aí? – Eu disse.

— Hm... Você foi incrível hoje. – Justin disse meio bobo.

— Mas eu não fiz nada.

— O jeito que você se importou com aquele garoto...

— Ah, foi só instinto.

— Mesmo assim.

— Obrigada.

E ele não disse mais nada. Eu me sentei ao seu lado na borda da piscina.

— Você voltou a falar comigo? – Perguntei.

— Eu tenho motivos pra ter te tratado daquele jeito.

— Quê motivos?

— Meus motivos.

— Isso não é suficiente pra mim.

— Pra mim é.

— Então que se dane. – Eu disse e tentei voltar à piscina, mas Justin segurou meu braço.

— Eu não queria você aqui. Realmente não queria.

— Nesse caso eu só posso lamentar por você, porque eu não vou embora.

— Você vai poder ficar perto do menino se for para o Acampamento.

— Não adianta me chantagear Justin. Eu. Não. Vou. Embora. – Eu disse e livrei meu braço do seu aperto, depois me levantei e voltei para o quarto dos meninos.

— Que aconteceu? – Leon perguntou quando abri a porta. – Achei que você iria virar a noite na piscina.

— Justin é o que aconteceu. – Eu disse indo até o banheiro a passos fortes para pegar uma toalha no armário.

— Ele foi gritar com você de novo? – Leon perguntou recostando-se ao batente da porta do banheiro enquanto eu enxugava meus cabelos.

— Ele me tratou bem no carro e agora ele me chama pra me chantagear pra eu ir embora!

— E você?

— Eu não vou! – Eu disse passando por Leon na porta. – Ele vai ter que me engolir! – Eu disse em voz bastante alta no momento que Justin adentrou o quarto.

Ele me olhou por um momento e depois se jogou em uma das camas vazias.

— Bom eu já pedi as pizzas. – Lucas disse. – O duro é que só vão entregar daqui uma hora.

— Antes tarde do que nunca. – Jean disse.

Foi quase imperceptível quando meu corpo sugou a água do meu corpo e da minha roupa me deixando completamente seca.

Eu me sentei na cama do menino, peguei sua mão e depois me virei para participar da conversa sobre as flechas que atingiram os carros iniciada por Thalia, mas o menino apertou minha mão. Eu o olhei surpresa e vi suas pálpebras tremulando, ameaçando abrir.

— Cale a boca. – Eu disse a Leon que era quem estava mais perto de mim e era quem falava no momento.

Leon me viu olhando para o menino e também o olhou.

— Leon? – Lucas chamou.

— Ele está acordando. – Leon respondeu.

Logo todos estavam rodeando a cama. E ele abriu os olhos e eram azul-esverdeados. O menino soltou minha mão e esfregou os olhos, sentou-se na cama, olhou ao redor e franziu o cenho, mas não disse nada. E ninguém falou nada. O menino me olhou e depois ele se jogou nos meus braços, o que me pegou totalmente de surpresa. Por fim ele chorou no meu ombro.

— Que foi? – Eu sussurrei tão assustada quanto ele enquanto o apertava contra meu colo.

— A Srta. Cameron... – Ele sussurrou. – Ela disse que ia me comer.

— Não! – Eu assegurei. – Ninguém vai fazer mal pra você. Eu não vou deixar!

— Promete? – Ele sussurrou.

— Prometo.

Ele tirou os braços do meu pescoço e me olhou enquanto enxugava as lágrimas nas costas das mãos.

— Você cantou pra mim? – Ele perguntou com a voz embargada, mas já não chorava.

— Cantei. E ele também. – Eu apontei para Justin parado atrás de mim.

Ele sorriu para nós. E foi impossível não sorrir de volta. Eu olhei pra cima e vi Justin sorrindo para o menino.

— Obrigado. – Ele disse olhando ao redor com aquele sorriso doce. – Obrigado a todos vocês.

— Ai seu lindo, vem aqui me dar uma braço bem apertado! – Jean pediu abrindo os braços para o menino; ele se virou e abraçou Jean.

Depois ele voltou para o meu lado e sentou-se perto de mim, o que me fez suspirar e sorrir bobamente.

— E aí garotão, qual o seu nome? – Leon perguntou.

— Drake.

— Lindo nome. – Danniele disse.

— Drake, o que a Srta. Cameron fez com você? – Thalia perguntou.

— Ela era minha professora substituta porque a Srta. Halle se machucou. E eu tava saindo da escola, tava quase chegando ao carro do motorista do meu pai quando a Srta. Cameron me chamou e disse que queria me mostrar uma coisa no jardim. Mas ela não me levou pro jardim. Tinha aquele carro grande e preto esperando do outro lado e ela me jogou lá dentro e me levou pra uma casa muito velha e tinha outras crianças lá. E eu a vi machucar essas crianças.

— Quantas crianças? – Justin perguntou.

— Três.

— E como ela machucou essas crianças? – Danniele perguntou.

Drake pensou um pouco antes de responder:

— Foi naquele dia que eu vi aquela mão verde de monstro dela. Ela arranhou aquela menina e depois comeu o dedo da menina e...

— Chega! – Eu interrompi. – Eu não quero que ele relembre essas coisas.

— Ela comeu o dedo da menina? – Lucas perguntou a Drake.

— Comeu. E sujou a sala toda de sangue porque a menina tava toda machucada já.

— Chega. – Justin disse com firmeza. – Alethia está certa.

— Ela comeu o dedo da menina na frente dele! – Lucas disse e parecia que não podia acreditar no que ouvia.

— Gente é melhor ele por isso pra fora logo. – Leon disse me olhando. – Se ele guardar isso vai ser pior, ta tudo muito fresco na mente dele.

Eu olhei para Justin pedindo reforço, mas ele parecia achar que Leon estava certo. Todos me olhavam agora. Eu suspirei me rendendo.

— Drake, você fala até onde der, se não quiser mais falar, pare ok? – Eu disse.

— Ok. – Ele me disse.

— Ta. – Thalia disse. – E o que ela fez depois de comer o dedo da menina Drake?

— Ela levou a menina pra outra sala e eu ouvi a menina gritar, gritar, gritar de dor e depois ela voltou pra sala com a roupa toda suja de sangue e eu nunca mais vi a menina.

Eu evitei olhar pra alguém, encarei meus próprios joelhos durante todo o relato de Drake, tentando não imaginar tais cenas.

— E você? – Lucas perguntou a Drake. – Como ficou?

— Eu comecei a chorar e pedi pro moço que tava na porta me levar embora porque eu tava com muito medo, mas ele não olhou pra mim.

— E depois, o que a Srta. Cameron fez? – Leon perguntou.

— Ela me levou e os outros dois, que eram uma menina e um menino, pro andar de cima, no quarto e disse pra gente dormir. Mas ninguém dormiu porque a gente tava chorando, aí ela voltou e mandou a gente calar a boca antes que ela comesse todo mundo. Mas ela não comeu mais ninguém. Ela deu comida pra gente e deixou a gente ver televisão. Acho que eu fiquei lá dois dias. Aí ela disse que a gente ia viajar e amarrou a gente e jogou naquela van. – Drake deu os ombros e depois olhou pra mim. – Eu to com fome.

— Hm, a gente pediu pizza. Já, já chega. Dá pra esperar um pouco? – Perguntei.

— Dá! Posso ver televisão?

— Pode, vai lá. – Eu disse e tentei sorrir enquanto ele passava por cima das minhas pernas.

— Caramba. – Jean disse se sentando na cama. – Eu sabia que monstros comiam semideuses, mas nunca havia pensado na crueldade.

— Eu achava que a caçada pra valer só começava depois que nós completamos 12 anos. – Lucas disse.

— Nem é. – Thalia disse. – Quando eu fugi de casa, uma menina de sete anos estava comigo e ela era caçada também.

— Você nunca pensou que podia ser só por causa de você e do Luke? – Justin disse.

— Não era. – Thalia disse o olhando. – Monstros caçam semideuses e os comem se conseguirem capturar. Não importa a idade.

— Mas ela estava com quatro semideuses muito jovens. – Leon disse. – Isso exige muito tempo de pesquisa.

— Tem alguma coisa além de simples questão de prato favorito. – Jean disse.

— Tem mais coisa do que o que o Drake contou. – Eu disse.

— Por quê? – Leon perguntou.

— Só tinha ele na van. – Eu disse. – E não tinha ossos nem sangue. E o cabelo do Drake está muito grande.

— Drake, de onde você é? – Justin perguntou.

— Texas. – Drake responde sem tirar os olhos da televisão.

— O que aconteceu com as outras crianças, Drake? – Danniele perguntou.

— Oh. Isso eu não sei. – Drake respondeu desapontado.

— Como assim? – Thalia disse. – Eles não estavam na van com você?

— Sim. Mas aí a Srta. Cameron me deu um suco roxo, eu achei que era de uva, mas tinha gosto ruim, muito ruim. E depois disso eu dormi. Eu acordei ontem à noite e tava sozinho na van, aí eu tentei sair, mas aquele cara que anda com a Srta. Cameron me viu e me pegou aí a Srta. Cameron começou a me machucar com aquela mão verde dela.

Nós o olhamos por um momento, mas ele voltou à atenção para a televisão. Então nós voltamos à nossa confabulação.

— Sabe-se lá quanto tempo ele dormiu por causa daquele negócio que ele tomou. – Jean disse frustrada.

— Ela podia já ter comido os outros e limpado o carro. – Eu disse.

— Duvido. – Leon disse pensativo.

— Ta, mas e quanto à filiação dele? – Danniele perguntou.

— Não faço a menor idéia. – Jean disse. – Nós costumamos nos parecer uns com os outros, mas ele não me lembra ninguém.

— Ele me lembra um pouco a Lelê. – Justin disse distraído olhando para Drake. Eu o olhei surpresa, fazia muito tempo desde que ele me chamara de Lelê. Leon o olhou com o cenho franzido. Ao ver a expressão de Leon, Justin corou e logo se corrigiu: - Alethia. Ele me lembra a Alethia. O nariz é igual.

— E o nariz dela era igual o do Percy. - Thalia disse. – E do Percy era igual o de Poseidon.

Eu apenas olhei de um para o outro.

— O ângulo do rosto também é igual. – Justin disse olhando para Drake. – Mas aqueles olhos... O formato não me é conhecido.

— É igual o da Thalia. – Lucas disse. – São grandes e expressivos. E as sardas no nariz.

— Ok. – Thalia disse. – Mas eu e a Ale somos primas, nossos pais são parecidos. Chega até a ser normal que os filhos dos Três Grandes sejam parecidos.

— Verdade. – Justin disse. – Nico e Percy podiam ser irmãos se não fosse pelos olhos e jeito.

— Isso é. – Eu concordei.

— Vem cá, quem são Percy e Nico? – Jean perguntou.

— Meus primos. – Thalia disse. – Percy foi o pacto quebrado de Poseidon e Nico foi tirado do Lótus Cassino depois de 50 anos lá.

— Para? – Danniele perguntou.

— Uma profecia. – Thalia continuou.

— É, os Três Grandes começaram uma competição pra saber qual dos filhos ficava com a profecia então Thalia foi cuspida do pinheiro em que morava. – Justin disse rindo.

Apenas eu ri.

— Por isso que a aquele pinheiro na colina chama “Pinheiro de Thalia”. – Lucas disse fascinado.

— Quê? – Thalia disse incrédula. – Pararam de contar minha história no Acampamento? Vou matar o Grover.

Eu e Justin rimos um pouco.

— Thalia seu pinheiro já tem uns 30 anos. Novos heróis surgiram e novas histórias foram contadas em volta da fogueira. – Leon disse.

— Que seja. – Thalia disse. – Minha história é um clássico.

— Eu não duvido disso. – Justin disse. – Era a minha favorita quando eu tinha seis anos.

Thalia sorriu.

— Eu adoraria saber a sua história Thalia. – Lucas disse com um sorriso.

Thalia sorriu rapidamente, mas eu vi mais nos olhos do Lucas do que interesse apenas na história de Thalia.

— Vamos voltar para o assunto principal, por favor? – Danniele pediu rolando os olhos.

— Talvez algum deus menor... – Jean disse pensativa.

— Não existem deuses menores nem para o céu nem para os mares no Acampamento. – Leon disse.

— Então? – Lucas disse.

— Nós esquecemos esse assunto e esperamos o pai dele o reclamar. – Leon disse.

— Mas ele disse que quando foi raptado, estava quase chegando ao carro do pai dele. – Eu disse.

— Então, nós temos mais um motivo para esperar. – Leon disse conclusivo.

E ninguém mais tocou naquele assunto. E as pizzas chegaram. Nós sentamos em roda no chão com as cinco caixas e os refrigerantes no centro. Justin conseguiu copos descartáveis e guardanapos na recepção, Jean cortou as fatias com seu punhal enquanto Lucas e eu distribuíamos os refrigerantes. Todo mundo comeu em silêncio, Drake era quem comia a pizza com mais rapidez, umas três ou quatro vezes Justin, Jean e eu pedimos para que ele comesse mais devagar.

Lucas estava sentado ao meu lado e eu o vi errar a própria boca várias vezes enquanto olhava Thalia.

— Cuidado. – Eu sussurrei em seu ouvido. – Ela não pode.

— Eu sei. – Ele me sussurrou de volta. – Mas mesmo assim é difícil tirar os olhos dela.

— Você vai acabar se dando mal.

— Eu não tenho medo de tentar.

— Lucas você sabe o tamanho da encrenca que você está se metendo?

— Que vocês tanto sussurram? – Jean perguntou ao meu lado.

— Nada de importante. – Lucas respondeu.

Ele me olhou daquele jeito “confia em mim” e eu fiz que não com a cabeça aí ele deu os ombros e voltou a encarar seu pedaço de pizza.

Depois da pizza Drake adormeceu quase instantaneamente, Danniele e Justin continuaram sentados no meio do quarto e, de novo, conversavam animadamente, e isso fez com que eu me perguntasse o que seria tão legal pra se conversar daquele jeito, já que todas as vezes que eu os via conversando eles estavam assim. Leon e Jean dividiram uma cama de solteiro para assistir televisão, mas Jean adormeceu em pouco tempo, eu acho que era porque Leon fazia carinho em seus cabelos. Eu estava sentada na cama ao lado e não pude deixar de sentir um pouco triste. Meus olhos marejaram, mas eu não deixei as lágrimas rolarem, tinha um buraco enorme no meu peito e eu sequer podia por meu sofrimento para fora porque o motivo estava a menos de um metro. Eu olhei para o outro lado e vi Thalia mais uma vez talhando aquele pedaço de madeira e Lucas fingindo procurar alguma coisa na mochila enquanto a olhava. Eu me levantei e puxei Lucas pelo braço para fora do quarto.

— Eu estou falando sério, para com isso Lucas. – Eu disse batendo a porta atrás de mim.

— Eu já falei que não consigo.

— Ela é uma Caçadora.

— Eu sei.

— Ela jurou para Artemis que abriria mão da companhia dos homens.

— Eu sei.

— Então você sabe que ela não vai se apaixonar por você.

— Do mesmo jeito.

— Pare de ser estúpido Lucas.

— Vou tentar.

— Acho bom.

Ele olhou para baixo ressentido. Eu coloquei minha mão em seu queixo e levantei seu rosto.

— Ela é legal e bonita, mas não pode. Entende isso logo, vai ser mais fácil pra você.

— Obrigado.

Mas eu fiquei com a ligeira impressão de que o que Lucas realmente queria era gritar comigo. Ele entrou e eu preferi permanecer no corredor um pouco mais de tempo. Aquele silêncio e a cor creme das paredes me fizeram desejar ardentemente por mais emoção, para que eu não pensasse em Justin. Para que eu não enchesse minha cabeça com coisas que talvez nem existissem... Mas Danniele era bonita. E era muito corajosa e lutava muito bem. Justin gostaria de uma garota assim. “Então porque ele gostava de você?” Perguntou uma voz em minha cabeça. “Porque eu era assim. Ou achava que era. Mas agora tanto faz, ele não é mais meu.” E aí eu chorei.

Quando tudo isso começou eu pensei que ele estaria comigo, que me protegeria. Pensei que iria ser forte tal como Percy e Annabeth, mas não, todos os meus planos haviam dado errado até agora. E isso era difícil de encarar. Difícil aceitar que Justin pudesse estar certo e que eu realmente só fosse atrapalhar. Mesmo com tudo o que Leon havia me dito.

E no auge do meu choro, Justin abriu a porta do quarto me sobressaltando. E ele não estava sozinho, ele segurava a mão de Danniele e isso não me surpreendeu.

— Aconteceu alguma coisa Alethia? – Danniele perguntou.

Eu sequei as lágrimas nas costas das mãos e fiz que não com a cabeça sem olhá-los e corri para o quarto em que as meninas dormiriam e fiquei encostada na porta depois de tê-la batido atrás de mim.

E eu não consegui parar de chorar porque Justin sequer fingia que lembrava que nós tivemos alguma coisa. E meu coração, que algum tempo parecia ser de vidro ameaçou estilhaçar porque talvez eu não tivesse apenas imaginando Justin e Danniele.

“Vá atrás deles.” Aquela voz voltara a minha mente. Eu disse que não, mas por algum motivo, eu acabei abrindo a porta do quarto e sai. De novo eu limpei as lágrimas nas costas das mãos e praticamente corria pelo corredor, até que cheguei ao corredor externo, que é aquele tipo de corredor que de um lado é uma grade com vista para algum ponto necessário, no caso desse hotel ele tinha vista para a piscina. E era lá que eles estavam, sentados na beira da piscina, rindo, muito próximos...

Eu desci as escadas o mais rápido e silenciosamente que pude, me aproximei devagar enquanto Justin aproximava seu rosto do de Danniele alheio a qualquer coisa ao redor. E devagar, bem devagar, ele encostou seus lábios nos dela. Um selinho demorado que foi o suficiente para fazer meu coração de vidro se partir. Meu abdômen e meus ombros se retraíram, agindo como se aquilo tivesse sido uma dor física.

— Justin. – Eu chamei e ouvi minha voz embargada.

Eu não sei qual foi a reação de Danniele porque eu só tinha olhos para Justin, e ele me olhou assustado, como se tivesse sido pego cometendo uma traição. E era exatamente isso que eu sentia, como se ele tivesse me traindo.

Mas ele recompôs a expressão logo.

— Que foi?

— Hm, eu vou subir. – Danniele disse de algum ponto ao meu lado.

Justin se levantou e me encarou nos olhos.

— Você podia pelo menos respeitar a minha dor. – Eu disse pouco me importando para a nova enxurrada de lágrimas que veio.

— Dor? Não parecia doer alguns dias atrás quando você me ignorou.

— Você sabe o quão ridículo você está sendo? – Eu sussurrei em meio ao choro.

— Só eu?

— Você foi a única coisa que sobrou pra mim e ainda pisa em mim desse jeito como se eu fosse feita de ferro, como se eu simplesmente fosse fingir que nada está acontecendo. – Eu disse agora parando a frase aqui e ali porque minha voz quebrava de tanto eu chorar. – Você querer terminar comigo, tudo bem, não posso te prender a mim, mas você disse tantas vezes que me amava... Pra onde foi tudo isso hein?

— Você fez com que tudo aquilo se desgastasse rápido demais. – Ele respondeu sem me olhar, mas sua voz não vacilou como a minha fez.

— Você está sendo imaturo e ridículo sabia? Se eu estar com os outros no Acampamento te incomodou tanto, porque você não falou comigo logo?

— Porque você não tinha tempo pra mim.

— Você vai jogar 18 anos fora por causa de uma besteira dessas? – Eu quase gritei e minha voz não quebrou uma vez sequer.

— 18 anos?

— 18 anos! Porque antes de nós ficarmos juntos, nós éramos amigos, melhores amigos, irmãos, tudo um pro outro! Pelo menos era assim que eu te via. E você nem quer mais olhar pra mim!

— Esse é meu jeito de sofrer.

— Beijando outras? Olha isso não parece sofrimento pra mim.

— Tanto faz. – Ele disse e tentou passar por mim, mas eu puxei seu braço e o obriguei a olhar pra mim. Eu olhei no fundo dos seus olhos e oscilei quando o fiz. Eu senti minha expressão se suavizar de tamanha surpresa.

Os olhos castanhos que eu conhecia tão bem não estavam mais lá. Mesmo sob a luz fraca da piscina eu consegui distinguir um marrom-café tingindo seus olhos e isso era vários tons acima do que deveria ser. Eu me senti extremamente assustada com isso.

— Seus olhos... – Eu comecei, mas não tive fôlego para terminar.

Justin piscou várias vezes e desviou o olhar como se esperasse que isso os fizesse voltar ao normal.

— Você já se olhou bem no espelho nos últimos dias? – Ele disse tentando livrar seu braço da minha mão.

— Que está acontecendo?

— Adaptações. – Ele disse simplesmente enquanto eu soltava seu braço. – E se nada mudar no seu cabelo nos próximos dias, eu realmente vou começar a pensar que você foi pro acampamento errado.

— Como assim?

— Filhos dos Três Grandes na versão grega, tem duas características predominantes, na versão romana uma delas muda.

Eu fiquei aturdida por um momento, mas logo afastei a questão pro fundo da cabeça e, em um ato meio desesperado, eu puxei o braço de Justin novamente e quando ele olhou pra mim, eu coloquei minhas mãos em seu rosto o obrigando a manter o olhar em mim.

— Você está sendo idiota e sabe disso, e sabe muito bem que isso não combina com você. Então, por favor, pare de procurar razões estúpidas para terminar comigo e me diga o verdadeiro motivo.

Justin fechou os olhos por um longo momento, eu mantive minhas mãos em seu rosto, antes de abrir os olhos ele deu um suspiro de rendimento e eu soube que ele não fugiria, então tirei as mãos do seu rosto.

— Você entende que terminamos não é? – Ele disse lentamente.

— Não. – Eu respondi prontamente. – Eu entendo que você queira terminar. Eu só preciso de um por que.

— Eu mudei muito nesse... processo, não só nessa coisa de filiação e poderes. Meu modo de pensar também mudou, o jeito com que eu tenho que encarar tudo isso é diferente agora.

— E onde eu me encaixo nisso?

— Você continua exatamente a mesma e isso é horrível pra mim. – Justin extremamente triste, sem me olhar.

— Por quê?

— Porque me faz pensar em tudo o que eu perdi nessa troca. Você foi tudo o que me restou também, e eu tenho ordens expressas de deixar tudo para trás.

— Caso o contrário...? – Eu insisti.

— Não tem caso o contrário. Não tem segunda opção.

— E Danniele?

— Eu não posso ficar com apenas uma opção. Eu não suportaria.

E eu soube sem saber como que ele já não falava mais de modo geral. Justin estava vendo em Danniele uma opção para me esquecer, para seguir em frente com o que quer que fosse.

— Então, por favor, nunca mais insinue que eu não estou sofrendo. – Ele disse.

— Você vai continuar me maltratando?

— Sempre que você precisar caso o contrário, eu finjo que você não existe. – Justin explicou retomando o tom arrogante que ele adotara exclusivamente para mim.

— Foi seu pai? – Perguntei quando ele deu as costas pra mim.

Mas Justin não se deu ao trabalho de responder.

Eu continuei parada no mesmo lugar, respirando devagar enquanto a noite esfriava, tentando absorver tudo o que Justin havia dito que apesar de fazer todo o sentido de um ponto de vista qualquer, parecia não fazer sentido do meu. Eu sentia que ele ainda fosse o meu Justin, ele me contaria tudo o que estava o preocupando e nós viraríamos a noite conversando enquanto eu fazia carinho em seus cabelos e quando o primeiro raio de sol saísse, nós teríamos a solução. Era assim que deveria ser. Mas agora eu teria de vê-lo com outra e teria de ao menos parecer forte para que ele possa seguir em frente. Em suma, eu teria de sofrer e sofrer em silêncio para que ele ficasse bem. Isso pode não parecer justo, mas fazia algum sentido pra mim naquele momento. “Talvez se eu sair do seu caminho, ele possa fazer o que deve fazer e aí quando tudo isso acabar, ele vai me agradecer e vai querer voltar pra mim e tudo vai ser como era antes.” Foi o que me ocorreu no momento. Eu estava sofrendo mais do que posso expressar, era puro desespero. Você já amou tanto alguém que a dor emocional era tão forte que você confundia com dor física? E a simples menção de perdê-lo fazia você tremer e começar a chorar? Eu não sabia que podia amar alguém tanto quanto eu amava Justin e isso acabou se tornando algo terrível de se admitir com o tempo.


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