The Chosen One escrita por Ducta


Capítulo 18
Heartbreaker, Garras e Sardas




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— Mas o que vamos fazer a respeito do meu sonho? – Perguntei segurando o braço de Leon, o impedindo de ir embora.

— Vamos falar com todo mundo depois do café e... – Leon se interrompeu, olhou para Justin algumas mesas a frente de Jean e balançou a cabeça negativamente.

— Que foi?

— O Justin vai embaçar.

— Por quê?

— Porque o sonho é seu. Ele vai dizer que procurar por um penhasco é ridículo e tal.

— Você tem razão. – Eu disse desapontada. – Mas nem o Justin pode negar que é a melhor coisa que temos no momento.

— Vamos ter que convencer ele disso. – Leon disse com um sorriso encorajador e depois voltou para sua mesa.

Eu finalmente olhei para o salão. Justin dividia a mesa com Danniele e Lucas. Justin ria enquanto contava alguma coisa e Danniele ria compulsivamente sem tirar os olhos dele por um segundo sequer. Lucas dava uma risada aqui e ali, mas estava concentrado em Thalia na mesa da frente, que só tinha olhos para a foto em suas mãos. Eu me aproximei por suas costas e vi que a foto não era a que ela tinha pego em minha antiga casa. Era a foto de um rapaz loiro, olhos azuis que tinha uma fina cicatriz atravessando seu olho.

— Luke? – Perguntei sobressaltando Thalia que abaixou a foto imediatamente.

Thalia pigarreou para se recompor, mas não respondeu.

— Posso me sentar? – Perguntei.

Thalia assentiu com a cabeça e eu me sentei na cadeira a sua frente. E ela ainda não disse nada.

— Você sente saudades dele? – Perguntei com medo de sua reação.

Mas Thalia apenas voltou a olhar para foto com os lábios franzidos. Ela só falou muito tempo depois.

— Eu falei pra ele não fazer isso. Eu disse que era perigoso! Disse pra ele parar com isso... – Ela começou com a voz normal, mas zangada, ainda encarando a foto. Mas sua voz começou a embargar e seus olhos marejaram. Ela parou por mais algum tempo e quando voltou a falar sua voz estava baixa e quebradiça. – Ele prometeu que iria cuidar de mim pra sempre... – Ela tornou a parar, respirou fundo, mas não conseguiu conter a lágrima que rolou por sua bochecha. – Ele foi embora e eu não pude fazer nada.

E Thalia chorou. E eu me assuntei com o que vi. Antes que eu pudesse me levantar Thalia já se levantara e saiu do restaurante a passos fortes, de cabeça baixa.

— Que ela tem? – Leon perguntou.

— Ela só está um pouco triste. Aposto que já passou. – Respondi.

— Ela me assustou. – Justin disse para Jean.

— Por quê? – Jean perguntou.

— Qualquer um chora. Menos a Thalia. – Ele disse com um sorriso mínimo.

— Por quê? – Jean perguntou novamente.

— Deixa pra lá. – Ele disse.

Mas Leon não deixou ninguém ir muito longe e arrastou todos para o “quarto dos meninos”.

Jean foi buscar Thalia em nosso quarto e disse que Thalia ameaçara a fazer engolir uma flecha se ela dissesse como Thalia estava.

— Você sabe o quanto é assustador quando aquele arco aparece do nada nas costas dela? – Jean finalizou.

Thalia apareceu segundos depois, totalmente recomposta.

— Qual o motivo da reunião? – Ela perguntou ainda na porta.

— Nós temos alguma coisa pra fazer. – Leon disse.

Do sofá eu vi o rosto de todos se alegrarem com a notícia.

— Diz logo! – Lucas pediu.

— Bem, Alethia teve... – Leon começou, mas foi interrompido por um muxoxo de Justin. – Dá pra você ouvir ou eu vou ter que te cortar hoje? – Leon perguntou a Justin.

— Desculpe, mas eu não quero ouvir nada que venha dela. – Ele retrucou já alterado.

— Mas você vai ter que ouvir porque é a melhor coisa que nós temos pra fazer! – Leon disse alcançando o tom de Justin.

— Eu não quero ouvir. – Justin teimou.

Mas quando ele deu um passo em direção a varanda, Leon puxou seu braço obrigando Justin a olhá-lo:

— Não tem nem dois dias que nós saímos do Acampamento e você já está irritado desse jeito. – Leon começou em um tom calmo e severo. – Você vai parar com essa marra, porque se eu não achasse esse sonho importante, eu não reuniria todo mundo ok? E você, como é só mais um semideus que só faz alguma missão quando tem um sonho importante, vai ouvir.

— Você vai me obrigar? – Justin desafiou no tom de Leon.

Todo mundo na sala ficou tenso. Lucas se posicionou mais perto deles, o corpo rígido pronto para intervir. Jean assumiu a mesma posição do outro lado, Danniele começou a circundar as costas de Justin e Thalia e eu ficamos atrás de Leon.

— Eu vou sim. – Leon disse apertando um pouco mais o braço de Justin.

— Pelo amor dos deuses Justin. – Jean disse. – Cala essa boca, senta e escuta! Todo mundo aqui vai ter que lutar com você toda vez que quiser falar?

Justin livrou o braço do aperto de Leon e voltou a se sentar na poltrona. O resto de nós aliviou as posturas e voltou para o lugar enquanto Leon manteve-se no mesmo lugar.

— É o seguinte: - Leon começou. – A informação não é muita, mas nós temos um rosto pra procurar.

— Que rosto? – Jean perguntou antes dos outros.

— Essa é uma boa pergunta. – Leon disse. – Fica difícil descrever uma vez que o tal estava chorando e se contorcendo.

— E o que a gente faz então? – Lucas perguntou.

— Damos o fora daqui. – Thalia respondeu.

— Pra procurar exatamente o que? – Justin perguntou sarcástico. – Um penhasco? Essa pessoa no sonho da Alethia pode estar em qualquer lugar do planeta! Alguém tem idéia de quantos penhascos existem no mundo?

— Justin tem razão. – Danniele disse.

Jean a olhou e fez careta.

— Bom, mais um motivo pra começarmos a procurar o quanto antes. – Jean disse se levantando do sofá.

Leon sorriu para a namorada que retribuiu com uma piscadela e depois eles bateram as mãos espalmadas no alto.

— Todo mundo de acordo então? – Lucas perguntou.

— Não. – Justin adiantou-se.

— Não. – Danniele fez coro.

— E como o Justin vai nem que for arrastado, a opinião dele não conta. – Jean disse. – E eu tenho certeza que ninguém vai levar a opinião da Danniele a sério, então é Lucas, todo mundo de acordo. – Ela finalizou com um sorriso.

Leon e eu rimos.

— Essa noite então? – Thalia disse.

— Melhor amanhã cedo não é? – Danniele disse.

— Pelo amor dos deuses, acabou de amanhecer! – Jean disse exclamou. – Temos o dia todo pra dar o fora.

— Jean está certa. – Lucas disse. – Se é pra ir, vamos o mais cedo possível.

— Uma hora pra todo mundo se aprontar. – Thalia decretou.

— Talvez menos. – Leon começou. – Jean e Alethia venham comigo.

— Pra onde? – Perguntamos juntas.

— Só venham. – Ele disse pegando sua mochila em cima de uma das camas.

Jean e eu demos os ombros uma pra outra e deixamos o quarto atrás de Leon, passamos no nosso quarto e pegamos nossas mochilas e depois voltamos a seguir Leon.

Leon voltou à recepção do hotel e entrou em uma porta de madeira atrás do balcão sem cerimônia.

— Oi Stan. – Ele disse sorridente sobressaltando o homem que estava sentado à escrivaninha assinando uns papéis.

— Bom dia Sr. Chevalier.

— Já disse pra me chamar de Henzo. – Leon disse.

— É estranho ouvi-lo dizer o primeiro nome. – Sussurrei para Jean.

— Também acho. – Jean sussurrou de volta. – Mas é fofo.

Eu concordei com a cabeça.

— Em que posso ajudar? – Stan perguntou.

— Abra o cofre. – Leon ordenou.

— M-mas Sr, o seu pai... – Stan começou gaguejando e ficando imediatamente tenso.

— Eu sei Stan. Não se preocupe, ele nem vai saber que foi você. – Leon continuou.

— Mas Sr, o Sr sabe que essas câmeras enviam imagens ao vivo para o escritório do seu pai.

— Eu sei.

— Então? – Stan perguntou ainda assustado.

Leon se virou para Jean com um sorriso sem humor.

— Meu amor? – Ele pediu.

Jean o olhou por um momento, ele a olhou de volta. Jean inclinou a cabeça um pouco para a esquerda e Leon assentiu. Jean ergueu uma sobrancelha e Leon olhou para baixo. E eu fiquei sem entender o que aquela conversa muda significava.

Jean suspirou, estalou os dedos e uma fumaça branca e densa surgiu no ar.

— Stan, nem você, nem nenhum dos outros funcionários me viu aqui, nem aos meus acompanhantes. E nem viu quando arrombaram o cofre, você é totalmente inocente. – Leon disse triste, porém firme. – Agora saia daqui, vá para o 8º andar.

E Stan se foi sem sequer olhar para o lado.

— O cofre está atrás do quadro do homem loiro. – Leon disse pra mim. – A senha é heartbreaker.

E dito isso ele e Jean começaram a saquear o escritório.

Eu corri para o quadro e o tirei da parede, dando de cara com o cofre.

— Cofre atrás de quadro no escritório é meio óbvio sabia? – Eu disse enquanto digitava a senha.

— Eu já tentei dizer isso ao Sr. Chevalier. – Leon disse sorrindo.

 

E aí o cofre abriu.

— Wow! – Eu exclamei quando vi seu conteúdo.

Além de pilhas de dinheiro presas por elásticos, havia colares, brincos, anéis, relógios, pulseiras e todo o tipo de jóia de todo tipo de pedra preciosa que você conseguir pensar dentro de um pote de vidro no fundo do cofre ao lado de cinco ou seis chaves de carros importados e alguns envelopes mais atrás.

— Que eu faço Leon? – Perguntei quando minhas mãos começaram a tremer e suar frio.

— Limpa o cofre! – Leon pediu me jogando a mochila de Jean.

Eu comecei a encher a mochila de Jean com o conteúdo do cofre, jogando tudo de qualquer jeito.

Jean pegou o telefone em cima da escrivaninha e começou a falar rapidamente com quem quer que tenha atendido.

— Seu pai já viu, a polícia ta vindo. – Jean anunciou.

Eu fechei a mochila de Jean e joguei no ombro enquanto batia a porta do cofre vazio.

— Qual o propósito disso Leon? – Perguntei enquanto saíamos correndo do escritório.

— Depois.

Mas o elevador não parou no 3º andar onde estávamos hospedados e sim no 12º andar.

— Suíte Presidencial. – Leon anunciou tirando um cartão do bolso da jeans e o passou n leitor magnético da porta.

Jean correu até a varanda e ficou olhando para baixo, Leon puxou a mochila do meu ombro e correu para o banheiro. E como ele não trancou a porta, eu fui atrás.

O armário do banheiro tinha um fundo falso e foi lá que Leon depositou os envelopes, as jóias, as chaves dos carros e grande parte do dinheiro deixando apenas um bolinho de notas dentro da mochila.

— Nós vamos precisar. – Ele me disse se justificando.

Eu assenti.

— Sujou Leon, “vambora”! – Jean gritou.

— Vão pela escada de emergência e só parem na garagem! – Leon disse.

— Mas e você? – Eu perguntei.

Mas Jean não esperou a resposta e saiu do quarto me puxando pelo pulso com a mochila de Leon no ombro.

E nós descemos todos os lances pela escadaria escura sem sequer olhar pra trás. Eu queria fazer um milhão de perguntas a Jean, mas devido à situação eu achei melhor fica quieta.

Quando cheguei à garagem eu ofegava bastante enquanto Jean apenas respirava com mais força.

Apenas alguns segundos depois Thalia, Justin, Lucas e Danniele desembarcaram do elevador nos sobressaltando.

Thalia jogou a chave da BMW pra mim e eu acionei o alarme pra achá-la mais rápido.

— E o Leon? – Perguntei para Jean enquanto corríamos para o carro.

— Ele sabe se virar. – Ela respondeu.

Thalia, Danniele, Lucas e Jean logo se apertaram no banco de trás. Eu e Justin nos olhamos por um segundo, mas eu passei a chave pra ele. Ele quase sorriu. E nós entramos juntos no carro.

— Vai logo, eles vão fechar as saídas! – Jean gritou.

Justin arrancou cantando pneu me jogando em direção ao painel. Mas ao passarmos do portão da garagem, ele diminuiu consideravelmente a velocidade.

— Cadê o Leon? – Thalia perguntou.

Eu olhei pelo retrovisor e vi Jean abrir todo o vidro e colocar metade do corpo pra fora.

— Jean! – Lucas exclamou assustado a segurando pela cintura.

— Rodovia e não para! – Jean gritou para Justin ainda olhando para o hotel.

— Cadê o Leon? – Thalia perguntou de novo.

Mas Jean não respondeu e nem voltou pra dentro do carro. Justin tornou a acelerar o carro e o barulho de buzinas começou a encher o ar por onde passávamos, eu podia ouvir sirenes ao longe.

Eu coloquei o cinto de segurança e me agarrei à porta do carro enquanto meu coração acelerava sem parar.

— Na moral, eu nunca vi semideuses participando de perseguições policiais! – Justin disse meio apavorado.

— Há sempre uma primeira vez! – Jean gritou divertida.

— Do que você está rindo? – Perguntei no mesmo tom de Justin.

E de novo ela não respondeu.

Alguns minutos depois e nós havíamos entrado na rodovia. Justin ligou o rádio no volume máximo e abriu todas as janelas do carro.

Eu me concentrei em Justin por um momento. Os nós de seus dedos já estavam vermelhos de tanto pressionar o volante.

Eu não sabia o que estava tocando. Justin começou a cantarolar junto com o rádio. E só eu sabia que ele cantarolava quando estava nervoso. Já o vira fazer isso milhares de vezes antes dos jogos de futebol.

Justin depositara uma das mãos em sua perna, quase inconscientemente eu segurei sua mão e apertei. Mas quando me dei conta do que fiz, logo soltei e me virei para o outro lado. Então aconteceu a coisa que mais me surpreendeu aquela semana.

Justin passou seu braço por meus ombros e me puxou pra perto dele. Quando eu o olhei ele deu um meio sorriso e beijou minha testa. Depois me soltou e voltou suas mãos ao volante. Eu fiquei sem reação por um longo momento.

Então Jean finalmente voltou para dentro do carro e ela sorria.

— Que foi? – Todos perguntaram.

Mas nesse instante um Porsche Vermelho emparelhou conosco. Leon sorria do banco do motorista.

— Mantém a 180! – Leon gritou.

Jean abriu a porta traseira do carro e se curvou até a janela do carona do Porsche destravando a porta, depois se esgueirou para dentro do carro onde deu vários selinhos em Leon.

— Essa menina é doida? – Lucas perguntou puxando a porta de volta, totalmente chocado.

Justin desligou o rádio.

— Pra onde nós vamos agora? – Lucas perguntou a Leon assumindo a posição de Jean na janela.

— PRO INFERNO! – O gritou veio de algum lugar atrás de nós mais alto do que qualquer coisa na estrada.

E no milésimo de segundo seguinte alguma coisa explodiu o vidro de trás do carro.

Justin perdeu o controle do carro que rodou na estrada e bateu em mais três carros antes de bater na mureta do acostamento e parar.

Quando eu consegui levantar minha cabeça, tudo estava rodando e meu corpo inteiro ardia.

— Tá todo mundo bem? – Justin perguntou olhando pra trás.

Sua boca estava sangrando cada parte de sua pele que estava visível estava com cortes do vidro explodido.

— Vivos. Não bem. – Danniele disse. Ela estava tão machucada quanto Justin.

— Eu achei que vidro blindado não estilhaçasse. – Thalia disse irritada passando a mão em um corte feio na testa.

— E não deveria. – Lucas disse pegando uma flecha de bronze intacta ao seu lado.

O Porsche de Leon retrocedeu e parou ao nosso lado e Leon gritou da janela:

— ACELERA!

Sem pensar Justin acelerou o carro e, por mais incrível que possa parecer, o carro obedeceu ao comando e logo já estávamos a quase 150 km/h seguindo o carro de Leon.

Eu olhei pelo o que restara do retrovisor e vi uma van preta nos seguindo. Mas os vidros eram fumês então eu não consegui ver nada dentro do carro.

Então eu ouvi sirenes de polícia. Coloquei minha cabeça pra fora do vidro e vi no mínimo cinco viaturas vindo atrás da van.

— Legal. – Lucas disse sem humor. – Monstros e policiais.

Eu soltei o cinto de segurança e comecei a vasculhar minha mochila a procura do meu gloss novo.

— Isso não é hora de passar batom! – Danniele me disse enquanto eu segurava o gloss pronta para abri-lo a qualquer momento.

— Cuida da sua vida! – Eu disse.

Eu vi uma saraivada das flechas de bronze passar ao meu lado e atingir o carro de Leon a nossa frente, que girou 90º antes de derrapar e parar no meio da pista fazendo mais dois carros colidir a ele. Justin foi obrigado a reduzir a velocidade bruscamente para não colidir com um desses carros e isso me jogou de cara no painel.

A van e os carros da policia ficaram mais próximos agora.

— Encostem! – Gritava alguém mais atrás de um megafone.

Justin parou ao lado do Porsche.

— Não para! – Leon disse com a voz falha devido ao susto.

Justin assentiu e os dois arrancaram juntos.

— Que diabo tem naquela van? – Thalia perguntou colocando a cabeça pra fora do vidro.

Eu olhei para trás e vi Lucas e Danniele de joelhos no banco olhando pelo vão onde ficava o vidro de trás.

— Cuidado! – Lucas gritou e Danniele teve uma fração de segundo pra escapar de uma flecha que entrara pelo vão.

— Que é isso? – Perguntei pegando a flecha que ia perdendo a força.

— Não faço idéia, mas tem veneno na ponta. – Lucas disse. – Isso que fez o vidro explodir.

A van começou a ganhar mais velocidade. Thalia já tinha o arco pronto, Danniele tinha um punhal em mãos e Lucas já segurava a espada quando a van emparelhou conosco.

Eu destampei meu gloss e vi de relance quando minha nova espada metade bronze celestial, metade ouro apareceu em minha mão.

— Vamos ver quem é que vai pro inferno... – Thalia disse mirando uma flecha no vidro do motorista.

Mas então abriram a porta de correr da van e eu vi uma criança lá dentro. Seus braços e pernas estavam amarrados, sua boca tinha uma mordaça e ele chorava enquanto uma garota com uma mão verde e escamosa com garras afiadíssimas arranhava seu braço que já sangrava.

— PARA! – Eu gritei para Thalia. – Tem um Semideus lá dentro!

Thalia xingou abaixando o arco.

Lucas deu uma risadinha e disse:

— Vamos invadir!

Lucas e Thalia abriram as portas e subiram até o teto do carro.

Uma espécie de granada foi jogada pra dentro do carro, mas Danniele a pegou e a jogou pra fora um décimo de segundo antes dela explodir jogando nosso carro e a van pra frente e fazendo os carros de policia sumirem de vista.

Quando voltei a olhar pra frente, Jean também estava no teto no Porsche, agachada, segurando-se com uma mão e com a espada na outra pendendo pelo lado do carro.

Leon diminuiu a velocidade e emparelhou com Justin do outro lado, eu ouvi um estrondo no teto e soube que Jean havia pulado pra cá.

— Mais que é que eles estão fazendo que ainda... Ah, deixa pra lá! – Danniele disse e se pendurou na porta que Thalia deixara aberta.

Eu e Justin gritamos seu nome quando ela pulou para dentro da van e deu um soco no rosto do homem que estava na porta. Danniele enfiou sua faca de bronze nas costas do homem enquanto ele caia, mas não aconteceu nada. Danniele se sobressaltou e jogou o homem para fora e a van passou por cima dele.

— Têm humanos lá! – Jean gritou assustada.

— Dane-se! – Justin gritou – Eles estão torturando uma criança!

— Ele está certo! – Lucas gritou.

— Então não matem, apenas apaguem! – Thalia gritou.

Enquanto isso Danniele era amarrada por outras pessoas dentro da van e sumiu de vista.

Thalia, Lucas e Jean pularam juntos para dentro da van e começaram a pancadaria. Mas eu não posso dizer que eles estavam ganhando. Na van havia mais pessoas e maiores.

Eu abri a porta do carro quando Thalia jogou o motorista para fora e chamou Lucas para assumir a direção.

— Ah dane-se! – Eu ouvi Jean resmungar e pegou uma espada no chão da van e começou a golpear tudo o que alcançava.

O menino que estava sendo torturado sumiu do meu campo de visão e a mulher que o torturava arranhou o ombro de Jean que caiu de joelhos gritando de dor.

Eu olhei para Justin meio desesperada enquanto Lucas começava a apanhar feio de um homem grande.

— Vai. – Justin disse.

— É melhor você ir.

— Vai! – Ele ordenou.

Eu respirei fundo e meu coração afundou. Eu passei pro banco de trás e me pendurei na porta do carro. O vento estava muito forte e jogou meu cabelo todo pra frente com violência. Eu os tirei do rosto e evitando pensar muito na grande probabilidade de que havia de eu não acertar o pulo e cair no asfalto e qualquer carro passar por cima e me matar, eu pulei.

Caí estatelada em cima de Jean.

— Desculpa! – Eu disse.

— Lucas. – Ela sussurrou.

Eu o olhei. Lucas estavam semi-consciente enquanto o homem ainda lhe dava socos.

A mulher da mão verde e escamosa voltara a atormentar a criança nos fundos da van.

Restara apenas eles acordados na van.

Danniele estava ao lado do menino e já tinha o rosto rasgado pelas garras da mulher.

Eu virei a espada do lado dourado e fiz um corte no abdômen do homem que batia em Lucas e ele caiu para o lado gritando de dor. Lucas rastejou para o lado de Jean e eu fui até o fundo da van.

— Mais um passo e eu mato o menino. – A mulher disse. Sua voz mais parecia um silvo e isso fez um arrepio subir por minhas costas.

— Solta o menino. – Eu disse, mas não soei muito convincente porque estava morta de medo.

— Não.

Danniele me olhava, mas eu não tinha idéia do que ela queria dizer.

Eu e a mulher nos encaramos por um longo momento.

Então a van fez uma curva fechada de repente. Eu cai por cima de um dos corpos desacordados e perdi minha espada. Então o carro bateu e eu fui parar em cima de Lucas.

— Já chega. – Thalia disse irritada. – Cansei de brincar.

Eu levantei rapidamente e Thalia passou por nós com o arco pronto, a flecha apontada para a mulher.

A mulher cravou as garras no menino no exato momento que Thalia soltou a flecha que a atingiu bem no meio da testa. O menino gritou por entre a mordaça no exato momento que a mulher ao seu lado virava pó.

Eu corri até o menino pegando uma faca no caminho e soltei suas amarras. Ele desmaiou aos meus pés.

Justin entrou na van e pegou o menino nos braços e saiu, eu desamarrei Danniele, Leon pegou Jean nos braços e a levou pra fora, Thalia amparou Lucas e o ajudou a sair.

Justin vasculhava a mochila de Leon e tirou de lá algo que parecia um biscoito de chocolate.

— É isso? – Ele perguntou agitado.

— É! – Leon confirmou olhando rapidamente.

Justin quebrou o biscoito e entregou um pedaço a Leon. Justin deu pequenos pedaços para o menino deitado de bruços no acostamento, desfalecido. Leon fez o mesmo com Jean, deitada de bruços no asfalto, gemendo de dor.

Thalia tirou um vidro com uma espécie de gel esverdeado da mochila, se ajoelhou ao lado do menino e começou a aplicar aquilo em seus ferimentos com uma camiseta do Green Day e disse a Leon para fazer o mesmo em Jean. Leon arrancou a própria camiseta e começou o serviço.

— Que é isso? – Leon perguntou.

— Ungüento. – Thalia respondeu.

Danniele assumiu o posto de Justin para segurar a mão do menino e Justin se levantou trêmulo.

Eu me sentei ao lado de Lucas que ainda cuspia sangue.

— Você está bem? – Perguntei.

— To. – Ele respondeu com a voz embargada.

— Tem gelo no frigobar do Porsche. – Leon disse indicando o carro vermelho semi-destruido ao lado da van. A BMW estava ao lado do Porsche, mas seu estado era deplorável.

— Seu carro tem frigobar? – Perguntei me levantando.

— É do meu pai. – Leon disse sem olhar. – Ou pelo menos era.

Eu abri o frigobar que ficava em uma caixa entre os dois bancos dianteiros do Porsche, peguei dois cubos de gelo e levei para Lucas que os envolveu na barra da camiseta e começou a passar no rosto.

— Tem uísque aqui! – Justin disse repentinamente empolgado encarando o conteúdo do frigobar.

Eu o olhei pegar a garrafa, destampá-la, sentar no chão e começar a beber pelo gargalo como se fosse água.

— Agora eu to mais calmo. – Ele disse depois de dar goles generosos no uísque.

Eu voltei ao frigobar, peguei algumas garrafas de água e distribui. Leon, Lucas e Thalia recusaram a água e compartilharam a garrafa de uísque de Justin.

— Cara, essa coisa de ser semideus é uma doideira. – Justin disse sorrindo bobamente.

— O menino está bem? – Perguntei para Thalia.

— Quase novo. – Ela respondeu sem me olhar.

Danniele se levantou e voltou para dentro da van e retirou todas as espadas e facas que tinham lá.

— Quanto mais, melhor. – Ela me disse.

Eu assenti.

— E o que vamos fazer com esses caras aqui? – Ela perguntou pra ninguém em particular.

— Deixa aí. – Leon disse. – Quando acordarem a gente dá umas bordoadas e apaga eles de novo, mas eu só levanto daqui quando minhas pernas pararem de tremer.

Todos os que ainda conseguiam falar concordaram com Leon.

— Que nós vamos fazer com ele? – Thalia perguntou indicando o menino com a cabeça.

Eu me aproximei do menino e o olhei atentamente. Suas feridas já estavam quase cicatrizadas e ele respirava rápido enquanto dormia com a cabeça nas pernas de Thalia. Seu cabelo era castanho acinzentado liso e precisava ser cortado porque já estava cobrindo as pontas das orelhas, nariz pontudo e sardas nas maçãs do rosto e no nariz. Os lábios eram cheios e bem rosados e ele tinha uma cicatriz em cima da sobrancelha. Não devia passar de oito anos. Eu passei o dedo por sua bochecha e ele se assustou. Abriu os olhos um milímetro e depois voltou a dormir.

— Ele está com medo. – Eu disse.

— Como você sabe? – Justin perguntou.

— Ele se assustou oras. – Respondi ainda olhando o menino. – Ele deve ter sido muito aterrorizado esses dias. Uma criança não costuma ter sono leve.

E eu comecei a me sentir responsável por o que quer que tenha acontecido àquele menino, comecei a sentir que deveria saber do que estavam fazendo com ele antes, que deveria ter encontrado antes, que não deveria deixar nem que o encontrassem. Tão pequeno...

Eu tomei o lugar de Thalia como travesseiro do menino e comecei a acariciar seus cabelos e a cantar “Asleep” do Smiths pra ele porque Justin costumava cantá-la pra mim quando eu estava sem sono e sempre funcionava. Eu vi todos os outros voltarem os olhares para o menino, a exceção de Jean que adormecera no colo de Leon. Justin sentou-se perto de mim e começou a cantar comigo e aos poucos o menino relaxou e suas pálpebras foram se fechando de verdade até que ele finalmente caiu em sono profundo.

Lucas e Justin doaram suas blusas para cobrir o menino, Leon, Danniele e Thalia deram as suas para Jean. Danniele e eu continuamos de travesseiro para Jean e para o garoto enquanto Justin, Leon, Lucas e Thalia arrumavam os carros da melhor maneira possível. Na verdade eles só estavam servindo de ajudantes para Lucas, mas isso é relevante agora.

— Sabe, ninguém me respondeu o que vamos fazer com o menino. – Thalia disse enquanto tirava os cacos de vidro do banco da BMW.

— Temos de falar com alguém do Acampamento pra vir buscá-lo. – Leon disse de dentro do Porsche. – Não tem como a gente voltar pra trás e nem como ficar com ele.

— Eu não me importaria de cuidar dele durante a missão – Eu disse.

— Provavelmente não. – Leon disse. – Mas nós já somos sete crianças, não tem como cuidar de mais um.

— Eu sei. – Eu disse. – Mas eu não importaria. Se tivéssemos que ficar com ele.

— Você é um doce. – Leon disse.

Eu sorri.

— Doce até demais. – Justin resmungou.

Eu sorri de novo.

Alguém começou a resmungar dentro da van e Leon foi até lá e bateu nele com o punhal da espada até ele desmaiar outra vez.

— Só até a gente dar um jeito nisso. – Ele disse piscando pra mim enquanto voltava para o carro.

Eu pisquei de volta.

— E quando anoitecer? – Danniele perguntou.

— Nós vamos pra algum hotel beira de estrada. – Justin disse. – É o jeito.

Danniele assentiu.

E a tarde passou assim, eu e Danniele sentadas no acostamento vendo os outros trabalharem nos carros e ouvindo outros carros passando velozes pela rodovia a nossas costas.

— Eu to com fome. – Justin resmungou.

— Segura a onda meu amigo. – Leon disse.

— Você me trás um carro com frigobar, mas não trás nenhum biscoito. Vai entender. – Justin disse.

Leon e Lucas riram.

— Leon porque nós fizemos tudo aquilo? – Perguntei.

— Assaltamos meu pai?

— É.

— Porque eu tinha que avisar pra ele que eu estou vivo.

— Não era mais fácil deixar um bilhete? – Perguntei.

— É. – Justin concordou. – “Com amor seu filho semideus namorado de uma ex-moradora de rua”. Nada contra a moradora de rua em questão.

— Bom mesmo. – Jean resmungou esfregando os olhos.

Nós rimos.

Leon largou o que quer que estivesse fazendo dentro do carro e saiu correndo para o lado de Jean.

— Como você está? – Ele perguntou extremamente preocupado a ajudando a sentar.

— Estou nova em folha. – Ela disse sorrindo. – Vocês deveriam comer um pedaço de Ambrósia também. Estão todos uma derrota.

Só Leon riu.

— E o menino? – Ela perguntou.

— Está ótimo. – Eu disse.

— Awn, ele é tão lindo! – Ela disse o olhando bobamente.

 

Mais uma hora passou até os rapazes e Thalia decretarem os carros como prontos.

— Graças aos deuses que o Percy não vai ver o estado da BMW dele. – Justin disse. – Plástico no lugar dos vidros, faróis e pára-choque totalmente destruídos... Fora os pedaços que faltam da pintura em todo o lugar.

— É ele iria te matar. – Eu disse.

E só nós rimos.

Justin assumiu a direção da BMW outra vez e Thalia foi com ele na frente. Eu fiquei no banco de trás com o menino que ainda dormia. Leon assumiu a direção do outro carro com Jean na frente e Danniele e Lucas atrás.

Nós deixamos a van para trás e saímos em busca de um hotel para passarmos a noite e, honestamente, tudo o que eu conseguia pensar era em banho quente e cama.


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Notas finais do capítulo

Desculpem, meu lado maternal está muito aflorado ultimamente D:



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