Sinais ( Re-postagem) escrita por Crica
Antes: Bobby se remexeu na cadeira de rodas, grunhindo qualquer coisa ininteligível, certamente pela noite mal dormida. Esfregou os olhos e empurrou o velho e surrado boné para trás, mostrando melhor o rosto amarrotado. Não precisou perguntar. Estava escrito no rosto de Dean que Sam estava melhor e que as coisas poderiam voltar ao seu lugar. Girou a cadeira na direção da cozinha e acendeu o fogão. Só mesmo um bom café fresco e bem quente para retomarem as pesquisas e encontrarem uma solução para toda aquela maluquice.
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Capítulo 4:
_Como o Sam está? – Singer encheu a xícara com o líquido fumegante.
_ Ainda dormindo – Dean aceitou a oferta e inspirou o aroma adocicado, tomando um gole generoso, em seguida _ Essa coisa toda está me deixando maluco.
_ Você não é o único, filho.
_ O que está acontecendo? – sentou-se à mesa com uma expressão que cortou o coração do caçador mais velho _ Eu queria entender que diabos é isso!
_ Tenha calma. Precisamos manter a cabeça fria, já disse. Se você perder a cabeça o Sam não vai segurar a barra e você sabe disso. Então, segure as pontas.
_ Eu sei – passou as mãos por dentro dos ralos fios de cabelo e suspirou, cansado _ Eu sei.
_ Bem, então vamos recapitular: Já tentamos todos os tipos de exorcismo que conhecemos.
_ Água benta também não surtiu qualquer efeito.
_ Usamos todos os rituais de libertação e purificação que pudemos encontrar e, nada.
_ Cas está procurando algum encanto que possa ajudá-lo, mas ainda não encontrou qualquer coisa que possa nos ser útil.
_ Veja pelo lado bom. Não nos restam muitas opções, certo? – Dean concordou com um gesto _ Então, logo encontraremos uma solução.
_ Você está andando muito com o meu irmão. Parece até a personagem daquele livro de mulherzinha que ele andou lendo, onde a garota vivia achando motivo pra ser feliz mesmo atolada na merda até o último fio de cabelo.
_ Onde está o tal livro?
_Sei lá – arqueou as sobrancelhas, surpreso com a pergunta _Para quê?
_ Você deveria gastar seu tempo livre lendo-o. Poderia aprender um pouco sobre fé e esperança, menino.
0o0o0o0o
As horas voaram ao sabor dos pensamentos dos homens que buscavam incansavelmente em meio aos livros e escritos, às informações passadas por companheiros de caça e na internet. O meio da tarde trouxe o incômodo do estômago vazio. Não que qualquer um dos dois tivesse apetite diante do que estavam passando, mas a falta de alimento começava a manifestar-se em sintomas físicos.
_ Vou colocar a água no fogo para cozinhar um pouco de macarrão para nós – Singer movimentou a cadeira de rodas na direção do velho fogão.
_ Não precisa se ocupar por minha causa – Dean sequer levantou os olhos do livro em suas mãos _ Não tenho fome.
_ Ninguém perguntou se você está com fome – encarou o outro de forma sisuda _ Nós dois precisamos pôr alguma coisa no estômago além de café e cerveja ou teremos um troço logo, logo.
_ Por mim, tanto faz.
_ Não seja idiota, garoto – Bobby atirou uma panela vazia sobre a mesa, assustando o jovem caçador _ Você vai me ajudar ou o quê?
_ Você está ficando muito rabugento – levantou-se, apanhando a panela e enchendo-a de água.
_ Jejum não vai ajudar o seu irmão, Dean. Você precisa estar forte por ele. Precisa se cuidar para poder cuidar do Sam.
_ ‘Tá legal – acendeu o fogo e depositou a panela sobre ele _ Já entendi. Agora, onde está o óleo e o sal? Se vamos cozinhar o macarrão, vamos fazê-lo direito.
Bobby sorriu, sabendo que tinha vencido aquele round com Dean. Apontou a porta do armário acima da pia e voltou ao seu posto, junto à mesa, diante da pilha de livros.
De onde estava, o velho caçador observava atento os movimentos de seu amigo, empenhado em preparar a massa para o almoço. As linhas de expressão no rosto de Dean eram, a cada dia, mais visíveis e cada uma delas contava um pouco da sua história. A história de uma vida repleta de decepção, abandono, sofrimento e um peso anormal. Observava os movimentos, quase automáticos do outro, que andava pela cozinha atravancada de quinquilharias sem realmente se dar conta do que fazia. Quase podia ouvir as engrenagens girando e rangendo dentro daquela cabeça dura e podia sentir o tanto de culpa que o assolava.
Não tardou para que Dean derramasse a água fervendo sobre o escorredor dentro da pia e levasse a travessa para o centro da mesa.
_ Pronto – cruzou os braços sobre o peito e encarou o mais velho, de cima.
_ Vamos comer com as mãos? Pegue os pratos e talheres, idiota! Você sabe onde estão, então, mexa-se!
O rapaz revirou os olhos, contrariado e, sem muita opção, abriu uma gaveta e cumpriu a ordem que lhe fora dada.
_ Mais alguma coisa, patrão?
_ Sente esse seu traseiro aí e coma. Não adianta me olhar com essa cara que não vai colar. Nós dois vamos comer o maldito macarrão e não se fala mais nisso!
_ Tem, pelo menos, um queijinho pra melhorar essa gororoba?
_ Na geladeira, atrás de você.
_ Certo – esticou o braço e abriu a porta, retirando a embalagem e servindo-se _ Bom apetite, então.
_ Pra você também – enrolou a massa no garfo e encheu a boca _ E coma direito. Não venha querer me enrolar.
_ Sim, senhor - bufou
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Sam despertou com o som das vozes de seu irmão e do amigo. Todo o seu corpo reclamava pelos maus tratos da febre. Levantou-se com certa dificuldade, apoiando-se nos móveis enquanto esperava o mundo parar de girar ao seu redor.
Na cozinha, dois pratos abandonados sobre a mesa e uma travessa com um pouco de macarrão frio. Aproximou-se a passos lentos e deixou o corpo descansar na cadeira. Seu estômago reagiu à imagem da comida, emitindo um rugido abafado.
Samuel apanhou um dos garfos e puxou para perto de si a travessa de vidro. Provou do alimento gelado e sentiu-se enjoar. Seu estômago doía. Não podia lembrar de quando havia posto algo dentro dele, então calculava que aquele incômodo só poderia ser fome. Logo atrás estava o microondas. Um prato quentinho seria muito mais interessante. Acionou o botão que abriu a porta e depositou o recipiente, programando o aparelho. O sinal sonoro não tardou a tocar, levando o rapaz a abrir a porta estreita para retirar dali a refeição.
Num momento de descuido, a tigela escorregou das mãos de Sam e espatifou no chão.
Dean entrou esbaforido no cômodo a tempo de impedir que seu irmão desabasse também. Apoiou o caçula pelos ombros, sentando-o na cadeira mais próxima. Samuel estava pálido e com uma expressão confusa estampada no rosto.
_ Ei, Sammy, como você está? – Dean segurou o rosto do mais novo entre as mãos.
_ Estou... bem... eu acho, mas sujei tudo, Dean...
_ Isso não tem importância – Sentou-se na frente do outro e sorriu _ Você está melhor? Como se sente?
_ Confuso.
_ Dean – Bobby interferiu _ A pele dele.
_ Estou vendo – Dean tocou o rosto e os braços de Sam que já não demonstravam qualquer sinal das erupções que surgiram durante a crise daquela noite.
_ Ele está limpo, como nas queimaduras. – Bobby aproximou-se e verificou de perto sua constatação _ Você fica e cuida dele e dessa bagunça _ Girou a cadeira em direção à saída _ Preciso sair por um tempo.
_ Para onde você vai?
_ Não há tempo para explicar agora – o caçador apanhou o casaco e colocou alguns escritos num saco e saiu _ Fique de olho nele.
Os rapazes Winchester permaneceram na casa enquanto observavam o amigo se afastar. Singer não entrou na caminhonete adaptada, apenas seguiu pela estrada que levava ao centro da cidade.
Dean levou seu irmão até o sofá na sala, acomodou as almofadas sob as costas de Sam e observou-o, ainda curioso, por mais algum tempo.
_ O que está acontecendo comigo, Dean?
_ Eu não sei, maninho. Não sei mesmo, mas eu juro que vou descobrir e colocar um ponto final nessa droga.
_ Sabe, ontem quando estava com febre, senti a pele queimar como se estivesse envolto em chamas e... – sua voz fragmentada falhava em meio à sentença _ Eu... Eu fiquei imaginando o que você passou, Dean. Eu... Eu... sinto muito...
_ Sam, para com isso, tá? – Dean levantou-se do chão e afastou-se, pondo-se de costas para o outro _ Você não tem que pensar nisso – Voltou-se para o irmão, com os olhos rasos d’água _ Eu não quero pensar nisso. Não quero lembrar nem falar, está bem?
_ Eu só queria... – Sam abaixou os olhos.
_ Não, Sam. Por favor, não – impediu-o de continuar _ Você está assustado, mas já melhorou, certo? Não tem que pensar no que passou. Você vai ficar bem. Nós vamos achar uma saída para o que quer que esteja acontecendo com você.
Dean andou até a porta da cozinha, levando o silêncio consigo. Parou e olhou para trás.
_ Eu vou limpar aquela bagunça na cozinha. Você fica quieto aí, está bem?
O mais moço concordou com um aceno da cabeça e observou seu irmão afastar-se como se carregasse o peso do mundo nas costas.
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Bobby Singer girou as rodas de sua cadeira quarteirão acima até a casa vitoriana que ficava junto à esquina.
Parou um tanto ofegante diante do pequeno portão de ferro e tomou fôlego antes de entrar pelo jardim bem cuidado.
_ Malditas escadas! – Praguejou ao deparar-se com o obstáculo _ Charles! Amélia! - Gritou a plenos pulmões.
Uma senhora de cabelos grisalhos curtos surgiu por trás da cortina de organza branca que ornava a janela estreita e envidraçada ao lado da porta de entrada. Ela sorriu e desapareceu, abrindo a porta em seguida, para recepcionar o visitante ainda no meio dos degraus de acesso à varanda.
_ Olá, Bobby – seu sorriso se alargou e estalou um beijo no rosto do homem na cadeira de rodas _ Está aborrecido hoje?
_ Você não imagina o quanto – empurrou o boné para trás _ Preciso da ajuda de vocês, Melly.
_ Vamos entrar? – apontou o interior da casa.
_ Acho que não vai dar, não é? – desviou o olhar para as próprias pernas.
_ Venha – a mulher tomou a direção da cadeira e guiou Bobby para os fundos da casa _ Temos uma surpresa.
Na parte posterior da construção, uma rampa deslizava de uma pequena varanda até o gramado aparado. Amélia sorriu com satisfação e empurrou a cadeira de Bobby para frente, ganhando o espaço de madeira e passando pela porta da cozinha.
_ O que acha? – Colocou-se de frente pra o amigo _ Estamos redimidos?
_ Você é terrível, Amélia Duncan! – Bobby grunhiu, totalmente sem graça _ Vocês dois são terríveis – Pigarreou para limpar a voz e disfarçou, mudando de assunto _ Onde está o moleirão do seu marido? Preciso de ajuda.
_ Charlie foi até o hospital – Milly sentou-se na cadeira de ferro ao lado da mesa _ Sabe como ele é. Mesmo depois da aposentadoria não consegue deixar aquele lugar. Precisa estar por perto e se certificar que seu substituto não matará ninguém.
_ É, eu sei. A raposa velha não consegue largar o osso.
_ Qual é o problema, Bobby? Você parece muito abatido.
_ São os garotos de Jhon – Singer depositou a sacola de couro sobre a mesa e retirou os volumes de dentro _ Sam está com problemas e Dean vai surtar a qualquer momento se não resolvermos logo isso.
_ Parece sério.
_ E é – O caçador passou a mão pela barba e abriu o livro maior e meio descascado numa página específica _ Precisamos fazer algo antes que seja tarde. Se for o que penso que é, o garoto não tem muito tempo.
_ Vou ligar para o Charles – Amélia tomou o telefone e digitou o número _ Precisaremos dos conhecimentos dele, com certeza.
Do outro lado da linha, o doutor Duncan ouviu o breve relato das suspeitas levantadas pelo amigo caçador, na voz de sua esposa e passou-lhe instruções.
_ Ligue para os rapazes e chame-os, Bobby. Charlie está a caminho e deu-me orientações a serem seguidas à risca imediatamente – o telefone foi entregue ao homem e a mulher levantou-se, dirigindo-se ao interior da casa _ Diga-lhes que sejam rápidos e que venham a pé. Devem deixar seus pertences e o carro na sua casa. Precisamos ser discretos e rápidos.
Singer não questionou o motivo para tanto mistério. Conhecia os Duncan a tempo suficiente para confiar em seus conhecimentos sobre ocultismo e coisas do gênero. Obedeceu as ordens sem questionar e passou as instruções a Dean pelo telefone.
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Dean estava diante da pia, lidando com a louça quando o telefone tocou. Era Bobby do outro lado.
“Você entendeu tudo, garoto?”
_ Entendi, Bobby, mas...
“Não tenho tempo para explicar nada agora. Basta que pegue seu irmão e arranque seu rabo daí imediatamente. Não traga nada. Deixe o carro na frente da casa e venha pela rua de trás, seguindo até o fim do quarteirão. Não tem como errar. Você verá logo a casa azul antiga, com jardins de hortênsias. Entre sem bater. Estamos esperando.”
A ligação foi encerrada antes que o filho mais velho de Jhon pudesse elaborar qualquer outra pergunta que fervilhava em sua cabeça.
Dean retornou à sala e comunicou os fatos ao irmão. Em seguida, subiu os degraus aos pulos e retornou com roupas adequadas para Sam. Guardou a pistola prateada atrás do cós do jeans e o diário de seu pai no bolso de dentro da jaqueta de couro. Trancou a porta da frente da casa de Bobby e ambos saíram pela cozinha, seguindo o combinado.
A casa em questão não ficava longe. No meio do quarteirão, depois de terem dobrado a esquina, podia-se ver claramente a residência que mais parecia uma daquelas casas de bonecas de menininhas. Parecia uma pintura no meio da rua residencial.
O Winchester mais velho guiou o irmão pelo braço todo o caminho. Sam tinha os passos incertos e parecia um tanto alheio ao que acontecia ao seu redor. Aquele olhar perdido na face do mais novo deixava o estômago de Dean em pandarecos, como se uma nuvem de borboletas dançasse em revoada dentro dele.
Um rangido anunciou a chegada dos dois quando passaram pelo pequeno portão de ferro que fechava o jardim coberto de flores azuis, como Bobby havia dito. Seguiram pela calçada de tijolos vermelhos e subiram os quatro degraus de madeira que separavam a casa do quintal.
Dean levantou a mão para bater na porta de tela, mas a porta de dentro se abriu antes mesmo que tocasse a madeira. Um rosto claro e sereno, ornado por um par de olhos castanhos profundos e doces surgiu, autorizando silenciosamente a entrada de ambos.
A senhora que os havia recebido trancou a porta dianteira e puxou as cortinas esvoaçantes, fechando-as e dando-lhes alguma privacidade.
_ Por ali, meninos – Amélia indicou o corredor que levava ao interior da casa _ Bobby espera por nós na biblioteca.
Os irmãos seguiram a mulher para dentro do aposento ainda em silêncio. Apenas seus olhos falavam da angustia que os tomava.
A biblioteca da família estava localizada num recinto no meio da construção. Era uma sala redonda, bastante incomum, porém acolhedora, com móveis escuros e antigos bem distribuídos, revelando um local apropriado para estudos. Prateleiras cobriam as paredes circulares do chão ao teto, repletas de volumes que poderiam apostar serem mais antigos do que a própria casa. Não havia janelas ali. No teto, uma clarabóia de vitrais coloridos permitia a renovação do ar e dava um tom quase místico ao lugar.
_ Sentem-se, rapazes – indicou o sofá de couro preto perto da grande mesa de carvalho _ Vou providenciar algo para comermos e volto em seguida. Assim que meu marido chegar, cuidaremos do problema de vocês, está bem? – Aquele olhar terno era quase hipnótico.
Ambos os homens jovens acomodaram-se onde lhes fora indicado e observaram a anfitriã desaparecer.
O caçador mais velho que revirava os domos num ponto específico da estante, atirou dois volumes em direção aos rapazes, que os pegaram no ar.
_ Enquanto a comida não chega, comecem a trabalhar – ordenou, sem maiores explicações _ Não temos tempo a perder.
_ Bobby...
_ Fica frio, Sam – respondeu sem tirar os olhos do papel amarelado _ Nós vamos dar um jeito nisso. Vamos descobrir o que diabos está acontecendo com você e resolver o problema, certo?
_ Certo.
_ Está se sentindo melhor, filho? – agora seus olhos encontraram com as íris esverdeadas do rapaz moreno.
_ Acho que sim. Só estou cansado.
_ É normal. Fique tranquilo e ajude no que você é bom – apontou o exemplar fechado entre as mãos de Samuel _Leia. E você – dirigiu um olhar carinhoso ao outro jovem _ Trate de se concentrar no trabalho. Lembra do que conversamos?
_ Sim, senhor – Dean engoliu a bola que estava atravessada em sua garganta _ O que devemos procurar?
_ Você saberá quando encontrar.
_ Quem são essas pessoas, Bobby?
_ São amigos, Sam. Velhos e grandes amigos que poderão nos ajudar. Confie em mim. Assim que Charles chegar, teremos mais respostas, com certeza.
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