Sinais ( Re-postagem) escrita por Crica


Capítulo 5
Capítulo 5




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No Capítulo anterior...

_ Sim, senhor – Dean engoliu a bola que estava atravessada em sua garganta _ O que devemos procurar?

_ Você saberá quando encontrar.

_ Quem são essas pessoas, Bobby?

_ São amigos, Sam. Velhos e grandes amigos que poderão nos ajudar. Confie em mim. Assim que Charles chegar, teremos mais respostas, com certeza.

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Capítulo 5:


Não tardou para que o antigo Volvo do Doutor Duncan estacionasse diante do portão de sua casa.O médico desceu do carro tranquilamente e seguiu para dentro como habitualmente fazia, sem maiores alardes.

Dentro da residência, foi recebido pela esposa com um carinhoso abraço e um beijo suave no rosto, ao qual correspondeu. Entregou o casaco e o chapéu Panamá à mulher e seguiu diretamente à biblioteca.

_ Meu velho! – abaixou-se para abraçar Bobby _ Nem parece que moramos no mesmo bairro, não é?Há quanto tempo não aparece por aqui?

_ Tempo demais, Charlie – Singer retribuiu o cumprimento .

_ São os filhos do Winchester? – o ancião dirigiu-se aos dois rapazes que haviam se levantado _ São mesmo, não é? – apertou as mãos de ambos _ Eu me lembro de você, rapaz. Como está o ombro?

_ Eu... – Dean estava confuso. Não lembrava daquele homem que parecia conhecê-lo _ Sinto muito, mas não...

_ Oh, tudo bem, meu jovem – acomodou-se na grande poltrona escura atrás da mesa pesada _ Já faz muito tempo. O que, Bobby? Uns vinte anos?

_ Mais ou menos, eu diria – Singer dirigiu sua atenção ao loiro _ Eu o trouxe aqui quando ainda era uma criança. Você caiu e deslocou o ombro tentando evitar que Sam batesse a cabeça lá em casa, durante uma das ‘visitas’ de seu pai. Charles cuidou de você.

_ Obrigado, senhor – Dean sorriu de canto, encabulado pelo esquecimento.

_ Tudo bem, menino. Já faz muito tempo. Eu e minha memória de elefante é que insistimos em lembrar de tudo. Deixe estar.

_ Como você cresceu, Sammy! – Amélia retornou com uma bandeja perfumada de panquecas e geléias _ Ele era um bebezinho lindo, não era? – o marido concordou, com um aceno.

Sam abriu aquele seu sorriso ladeado pelas covinhas que lhe davam um ar muito infantil.

_ Mas suas covinhas ainda estão aí – a mulher dirigiu um olhar amoroso ao rapaz, fazendo-o corar _ Seus olhos ainda são daquele bebezinho, jovem Samuel.

_ Pare com isso, Milly, está deixando o rapaz constrangido.

_ Podemos deixar o momento nostalgia de lado e atacar essas panquecas? – Bobby interferiu _ Meu estômago esta colando nas costas.

_ É claro – A senhora Duncan concordou, servindo os pratos aos homens e depositando as xícaras para o café sobre a mesa _ Vamos nos alimentar e passaremos aos assuntos mais sérios em seguida, certo, querido?

_ Certo, amor – o marido apoiou, sorrindo _ Não podemos desperdiçar suas panquecas.

Dean Winchester avaliava a cena, absolutamente calado. Seus olhos seguiam os gestos do casal e seus ouvidos duvidavam das palavras que ouviam. Toda aquela harmonia e tranquilidade lhe eram absolutamente estranhas. Sentia-se um alienígena instalado no meio de um filme dos anos cinquenta. Como aqueles dois adoráveis velhinhos poderiam levá-los a uma saída para a situação que enfrentavam, se nem mesmo Bobby conseguira encontrar respostas? Se nenhum caçador que conheciam tinha uma solução? Se Castiel, um anjo do Senhor, mesmo desabado do Céu, com seus milhares de anos de conhecimento e experiência podia dizer o que estava acontecendo?

Dúvidas. Toneladas de dúvidas caíam sobre sua cabeça enquanto apreciava a cena que se desenrolava à sua frente.

As panquecas de Amélia eram realmente algo de espantar. Tão macias e saborosas que dispensavam qualquer complemento. Dean não se animou diante do petisco, mesmo diante dos insistentes apelos da simpática amiga de Bobby para que se servisse e os acompanhasse no lanche da tarde. Não que o Winchester fosse de renegar comida, principalmente de graça, mas toda a situação estava pondo-o louco e aplacando seu apetite.

A negativa do mais velho deixou Bobby e Sam bastante preocupados. Sabiam como Dean era com relação à comida. Uma recusa era sinal de alerta para problemas sérios e um mergulho no poço de culpa à moda Winchester. Seus corações só sossegaram quando o viram aceitar o prato oferecido por Milly. Uma colherada de geléia de amora por cima da panqueca quentinha gerou um sorriso de aprovação do rapaz. Dali para um ataque às delícias preparadas pela anfitriã foi um pulo. Em poucos minutos, a expressão de desagrado diante da refeição tinha sido substituída por uma conversa animada a respeito dos dotes culinários da dona da casa. Aquele era o Dean que todos conheciam. O mundo podia estar acabando, mas morreria de barriga cheia. Samuel respirou um pouco mais aliviado.

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O tempo passa depressa quando se tem a atenção voltada para algo importante, vital. E foi assim que o resto daquele dia se foi, com todos os homens envolvidos pelos antigos exemplares publicados em idiomas, às vezes desconhecidos, em busca de respostas e explicação para o que vinha ocorrendo.

A noite chegou e trouxe o cansaço consigo.

Mais uma vez a convocação para a refeição veio através de Amélia Duncan em seu rotineiro sorriso encantador, vestida em seu avental branco bordado à mão. O aroma era agradável aos sentidos e o paladar, nem se fala. Nenhum de seus convidados estava acostumado à tanta regularidade e aos pratos preparados com o desvelo de uma dona de casa. Estranhavam a atenção desmedida e sentiam-se, vez por outra, até constrangidos por estarem dando tanto trabalho àquela mulher de certa idade.

Depois da reunião noturna  em torno da mesa coberta por uma toalha rendada branca, na sala de jantar, todos retomaram seus afazeres até bem tarde.

Sam adormeceu debruçado sobre um livro que revirara a noite inteira. Um par de olheiras ressaltava, na pele clara, os contornos de seus olhos miúdos, abatidos.

Bobby e Charles mantiveram-se concentrados em suas leituras, trocando informações aqui e ali e anotando o que lhes parecia relevante num quadro de giz preso à parede atrás da mesa de trabalho do Doutor Duncan. Desenhavam um mapa dos acontecimentos e descobertas que faziam, traçando também uma linha de tempo para organizar o pensamento.

Dean observava a tudo da poltrona de couro, onde se encontrava, também com uma pilha de livros a serem investigados. Não raramente, interrompia a leitura para verificar o estado de seu irmão ou para prestar atenção num trecho de conversa dos mais velhos que lhe chamava a atenção.

Por algum tempo, a senhora Duncan desapareceu daquele universo de mistério que os envolvia. Certamente, ocupada com os afazeres domésticos ou cansada demais, procurara conforto em seus aposentos.

As letras miúdas e um tanto apagadas embaralhavam-se diante dos olhos esgotados do mais velho dos irmãos. Ele esfregava os globos oculares no intuito de limpar a vista e continuar seu trabalho, mas a missão tornava-se cada vez mais custosa.

_ Venha, meu rapaz – a voz suave de Milly chamou o Winchester _ Vamos tomar um pouco de ar e um bom chá para relaxar – pegou Dean pela mão, sem deixá-lo questionar e o levou para fora.

_ Me perdoe, senhora, mas ... – Dean sentou-se ao lado de Amélia no primeiro degrau da varanda _ Não sou muito de chá.

_ Certo – ela sorriu daquele jeito carinhoso que o fez sentir-se o pior dos mortais pela falta de educação _ Não tem problema. Acho que deveria ter preparado um café, não é?

_ Não se preocupe com isso, madame – sorriu de lado, encabulado _ Estou bem assim. Não quero dar trabalho, mais do que já demos.

_ Vocês não nos atrapalham de maneira alguma, Dean – a mulher passou a mão delicadamente sobre o braço do rapaz que descansava sobre a perna _ É um prazer tê-los conosco.

_ Obrigado – sentia a sinceridade nela e realmente estava grato.

_ Há quanto tempo você não dorme, filho?

_ Tirei um cochilo ontem à tarde, lá no Bobby.

_ Estou falando de realmente dormir, de deitar-se na cama sem preocupações e relaxar, descansar seu corpo e sua mente.

_ Bem...- passou a mão pelo rosto, sentindo a barba começar a crescer _ Isso é outra coisa. Se for analisar mesmo, acho que desde os quatro anos, mais ou menos.

_ Foi o que imaginei.

_ Está tão na cara assim? – a sobrancelha esquerda subiu _ Quero dizer, eu durmo, mas não faz parte da nossa rotina deitar e apagar por oito horas seguidas diariamente, entende?

_ Não me entenda mal, Dean – Milly acarinhou o rosto do jovem _ Você e seu irmão se tornaram dois homens fortes e muito bonitos, mas basta que se olhe com mais atenção para perceber os sinais. Ambos estão esgotados. Nenhum de vocês parece ter tido um bom descanso e alguma paz há muito tempo e isso não é bom. Não pode ser saudável.

_ É, eu sei, mas o que podemos fazer?- desviou o olhar _ Esse nosso estilo de vida, sabe, desde que a mamãe morreu e o pai se meteu nesse lance de caçada, tem sido assim. Precisamos estar ligados se quisermos continuar vivos e ultimamente as coisas tem estado cada vez mais complicadas e perigosas.

_ Nós vamos ajudá-los com isso – Amélia passou o braço ao redor dos ombros de Dean  _ Charles tem muito conhecimento e talvez eu possa contribuir de alguma forma também. Tenha fé e confie em nós.

_ Fé não é bem o meu departamento.

_ Não digo que deva ter fé em qualquer entidade, mas que tenha fé no amor que liga a sua família, que os une aos seus amigos, aquilo que os faz especiais – buscou o olhar de Dean _ Eu vejo o quanto você o ama. O quanto ama seu irmão e ao Bobby. Use isso a seu favor. Não permita que o seu amor seja uma arma contra vocês.

_ A senhora é algum tipo de vidente ou sensitiva?

_ Não, meu querido. Apenas vivi tempo demais em meio à pessoas doentes, sofridas que se agarravam a qualquer fio de esperança para sobreviver e também junto de outras que se doavam completamente para aliviar o sofrimento de seus semelhantes. Aprendi  que não importa o tamanho ou a gravidade da situação. Não importa que às vezes se perca porque, se há amor e dedicação, seja qual for o resultado, teremos vencido pelo esforço que desprendemos, mesmo que aparentemente tenhamos sido derrotados.  Você me entende?

_ Acho que sim.

_ Posso fazer outra pergunta? – continuou, diante da concordância do outro _ Você seria capaz de dizer quando, exatamente, seu irmão foi atacado com as crises que o fizeram queimar?

_ Bem...- Dean olhou a escuridão do quintal , como se buscasse as lembranças por ali _ Na primeira vez eu não estava com ele. Saí para comprar comida e quando voltei, estava jogado no chão com as mãos em brasa – Levou a mão à testa, pressionando entre os olhos, acima do nariz _ Depois foi quando descansamos na casa do Bobby. Ele estava bem, adormeceu tranquilo e, de repente, acordei com seus gemidos e novamente...

_ Certo, meu bem, temos algo aqui.

_ Temos?

_ Em ambas as situações, Sam estava dormindo.

_ Oh, meu Deus... Ele... – Dean levantou-se como se o mundo fosse desabar sobre sua cabeça _ Ele está dormindo agora!

Amélia seguiu o  moço para dentro da casa e, antes que pudessem alcançar a biblioteca, ouviram as vozes alteradas dos homens lá dentro.

A imagem que se formou diante de seus olhos era mais do que aterradora, era familiar e rasgava o peito de Dean em milhões de pedaços.

Sam estava erguido do chão, preso por algo invisível que vazava seus pulsos e tornozelos. O sangue escorria em bicas de um ferimento aberto na altura de suas costelas e do ombro, cuja carne parecia querer rasgar-se a qualquer momento, como se por ali se sustentasse o peso do corpo do rapaz. Ele sussurrava palavras incompreensíveis e seu rosto estava lavado pelas lágrimas. O que se podia entender eram os apelos, os pedidos de socorro, quase inaudíveis, repetidas vezes, intercalados pelo nome do irmão mais velho.

Dean esteve por algum tempo imobilizado, estagnado pelo horror. Seu estômago doeu e o azedume invadiu sua boca. As penas tremeram e cederam, derrubando-o por terra. Sua visão escureceu de forma avassaladora, levando-o de volta ao terror do desterro no inferno. Estava revivendo seus primeiros momentos de sofrimento na pele de seu irmão menor e, por incrível que pudesse parecer, estava doendo muito mais agora do que antes.

Ajoelhado diante do corpo físico de Samuel, suspenso no ar, ele sabia exatamente onde seu irmão estava e o quanto de sofrimento lhe era infligido. Sabia da dor de cada gota de sangue e da certeza da solidão. Queria, mais do que qualquer coisa, levantar e tirá-lo dali, trazê-lo de volta, mas seu corpo era incapaz de reagir às ordens do cérebro. Desejava que o coração que acelerava, freneticamente descompassado dentro de seu peito, parasse de bater para que tudo tivesse um fim.

Bobby e o doutor tentavam, sem sucesso, trazer Sam ao mundo real. Ambos estavam certos de que algo estava controlando a mente do rapaz e torturando-o de maneira vil e cruel.

Amélia ajoelhou-se junto de Dean, amparando-o e sustentando-o para que não desmoronasse de encontro ao chão.

O tormento não durou mais que alguns minutos. Minutos que pareceram uma eternidade dada a intensidade da dor que se descrevia no rosto dos Winchester.

Sem qualquer razão ou movimento que se justificasse, o corpo de Samuel desabou, sujando todo o assoalho de madeira com seu sangue. O rapaz estava inconsciente.

Os mais velhos o ergueram e carregaram para o sofá, para prestar-lhe socorro, enquanto Dean continuava  estático, com o olhar vítreo, petrificado e as mãos largadas ao lado do corpo, trêmulas. Seus lábios entreabertos, revelavam palavras repetidas e confusas.

Assim que verificou que Sam continuava vivo, o doutor Duncan se dirigiu ao mais velho dos irmãos e conferiu os sinais vitais.

_ Querida, traga-me a maleta e os medicamentos do armário, por favor – empurrou Dean para trás, com cuidado, fazendo-o deitar-se sobre o tapete _ Rapaz, pode me ouvir? – O olhar injetado, a respiração alterada e a falta de resposta falavam por si _ Bobby, apanhe a manta que está nas costas do sofá, rápido. Dean está em choque.

_ Mas que merda é essa, Charlie? – a angustia crescente fazia o caçador tremer _ Que diabos está acontecendo? Primeiro o Sam, agora o Dean também?

_ Não creio que o que está maltratando o Sam seja o mesmo aqui, Bobby. Dean está sob um estresse intenso e acho que o rapaz não suportou a visão que teve.

_ Aqui, querido – Amélia retornou, entregando o equipamento ao marido e sentou-se no chão, ao lado dos outros dois.

_ Vou aplicar a medicação para fazê-lo relaxar e teremos que aguardar. Enquanto isso, cuidaremos do outro – voltou-se para a mulher _ Milly, querida, você sabe o que fazer. Prepare tudo. Precisamos fazer uma proteção reforçada para a casa e esses dois. Agora.

A senhora Duncan obedeceu sem pestanejar e partiu para realizar a missão que lhe fora confiada.

 

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CONTINUA

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Perdão pela demora, mas andei com problemas na net.
Bjs