Sinais ( Re-postagem) escrita por Crica


Capítulo 3
Capítulo 3




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Antes:

Sam não se conteve e começou a desfazer o curativo, agora auxiliado pelo irmão mais velho que tinha sido convencido de que alguma coisa estranha estava acontecendo por baixo daquelas infindáveis voltas de gaze sobre as mãos e pulsos do caçula.

_ Mas que merda é essa?! – Os olhos de Dean cresceram em admiração diante da visão que tinha.

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Capítulo 3:


_ Isso está realmente muito, muito estranho...

_ E bota estranho nisso! – Dean revirava as mãos do irmão, incrédulo, verificando-as, cuidadosamente.

_Eu me lembro da dor, mas será possível que...

_Sem chance, Sam. – o mais velho encarou-o, muito sério _ Eu estava lá e vi com esses olhos. Suas mãos estavam em carne viva.

_ Mas como você explica isso? – Sam estendeu as mãos, exibindo-as _ Não é possível que tenham cicatrizado tão depressa.

_ Cicatrizado? – as sobrancelhas viajaram de encontro ao couro cabeludo _ Onde você está vendo cicatrizes aqui? Eu não vejo nenhuma, cara. Nada. Nem um vermelhinho pra contar a história.

_ Não estou entendendo nada, Dean.

_ Nem eu – ergueu-se rapidamente, atirando seus pertences dentro da mala _ E não gosto nada daquilo que não entendo.

_ O que você vai fazer? – atônito, o rapaz moreno observava o irmão organizar a partida com uma urgência assustadora _ O que...

_ Presta atenção, Sammy: Ninguém sofre queimaduras de terceiro grau e amanhece sem nenhuma marca, certo? Tem caroço nesse angu, meu irmão. E eu não vou ficar aqui esperando pra ver o que vem a seguir. Nós vamos dar o fora e procurar ajuda.

_ Vamos pra onde? Para o Bobby?

_ Com certeza! – atirou um par de calças e camisa sobre o mais moço _ Ande logo. Vista-se e vamos cair na estrada. Cara, eu gostava muito mais da nossa vida quando tudo se resumia a salgar e queimar, alguns tiros, hambúrgueres e cervejas!

_ É... Nem me diga.

O0o0o

Estavam rodando há mais de três horas  sem parar e o silêncio que invadia o espaço daquele automóvel era algo incômodo e sufocante. Ambos tinham os cérebros fritando em conjecturas e teorias a respeito do que teria ocorrido com o mais jovem dos caçadores, mas nada conclusivo ou lógico que pudesse iluminar o seu caminho. Talvez Bobby fosse capaz de analisar friamente toda aquela situação e chagar a uma conclusão.

Tantos quilômetros vencidos pelos pneus que cantavam nas curvas, voando baixo e sequer um som. Não havia o velho e costumeiro rock’n roll gritando nos autofalantes do Impala. Situação incomum em suas longas viagens.

Sam não tirava os olhos das próprias mãos e Dean quase podia ouvir-lhe os pensamentos, as toneladas de perguntas que se formulavam dentro da cabeça de seu irmão. Perguntas que ele mesmo se fazia o tempo inteiro, mas não encontrava as respostas.

Os portões do ferro-velho de Bobby nunca lhes pareceram tão convidativos.

 

0o0o0

 

_E é isso. – Dean resumiu os fatos ocorridos na noite anterior, diante de um velho amigo bastante perplexo _ Não vai dizer nada?

_ O que você quer que eu diga?

_ Sei lá. Pensei que você pudesse saber o que está acontecendo e...

_ Qual é, garoto? Está vendo alguma bola de cristal aqui? Não faço a menor idéia do que possa ter acontecido ao Sam, além de dizer que isso foi esquisito pra caramba, mas é só.

_ Nós ficamos meio assustados, Bobby – Sam interpelou _ Não sabíamos o que fazer nem com o que lidamos, então decidimos vir até você.

_ E decidiram certo – o caçador mais velho direcionou a cadeira de rodas para junto dos jovens – Não se preocupe, rapaz. Nós vamos entender o que houve com você e daremos um jeito em tudo. Agora, acho que ambos estão precisando de um bom banho e algum descanso, certo?

_ Obrigado, Bobby – Samuel agradeceu, com um sorriso pouco convincente.

_ Não por isso. Podem usar o banheiro e o quarto lá em cima. Já sabem onde estão as toalhas e lençóis, então, não façam cerimônia e despareçam da minha frente por, pelo menos umas quatro horas, para que eu possa trabalhar em paz.

_ Não tenho como agradecer – Dean tocou o braço do mais velho, observando seu irmão subir as escadas.

_ Já disse que está tudo bem. Agora suba e durma um pouco. Você está horrível – Dean sorriu e se deteve ao ouvir seu nome _ E Dean, fique de olho nele.

_ Eu ficarei, não se preocupe.

Bobby assentiu, com um gesto. Sabia que Dean não pregaria os olhos enquanto não tivesse uma resposta para aquela situação bizarra, mas precisava manter os dois sob controle e sãos.

 

Oo0oo0o

 

Em pouco menos de meia hora, ambos os irmãos estavam limpos, trocados e deitados, fitando o teto encardido e descascado do quarto para onde Bobby os enviara.

_ Tem certeza de que não quer dormir na cama? – Samuel voltou-se para o irmão, no saco de dormir _ Posso muito bem me ajeitar aí.

_ Sem chance – Dean virou-se de costas para o mais moço _ Você fica onde está. Estou bem aqui. Agora vê se dorme e me deixa dormir também. Estou morto de cansado.

_Certo, você é quem sabe – puxou as cobertas sobre o corpo _ Depois não vá reclamar.

_Eu não vou reclamar se você fechar essa sua maldita boca e me deixar dormir um pouco.

_ Descanse, então.

_Cala a boca, Sammy.

Os olhos de Dean Winchester estavam fechados, mas seus neurônios estavam em  alerta vermelho. Ele não se deixaria dominar pelo sono até que seu irmão estivesse apagado. Não correria o risco de Sam sofrer qualquer coisa sem que estivesse pronto para socorrê-lo. Na verdade, no fundo de sua alma, torcia para que mais nada acontecesse ao garoto e para que todo o ocorrido do último dia não passasse de mais um pesadelo.

No andar de baixo, Singer debruçou-se sobre todos os livros e manuscritos que pôde encontrar a respeito de combustão corpórea espontânea, sem muito sucesso.

Não havia nada em lugar algum que descrevesse algo parecido com o que ocorrera  com Sam.

As horas passaram lentamente e pesaram sobre o velho caçador. Vencido pelo esgotamento, Bobby adormeceu sobre os domos empoeirados e envelhecidos sobre a mesa de carvalho.

No quarto, os dois rapazes dormiam profundamente em meio ao silêncio da madrugada, tocados apenas pelos raios de luar que atravessavam a vidraça da velha janela de madeira.

O primeiro gemido chegou aos ouvidos de Dean, vindo de longe, tão distante que parecia irreal e foi deixado de lado, como um inseto que sobrevoa a cabeça numa noite quente de verão.

O segundo gemido soou mais forte e intenso, seguido de outros, insistentes, cada vez mais próximos, acionando os alarmes dentro do caçador mais velho, arrancando-o do sono para a realidade.

Ao abrir as pálpebras, Dean demorou alguns segundos para administrar as informações que seus sentidos enviavam ao cérebro, levantando-se com urgência.

Na cama, enrolado nos lençóis e cobertores, Sam gemia insistentemente, suando e apresentando-se num tom avermelhado extremamente preocupante.

A primeira reação do mais velho foi aproximar-se do irmão e tocar-lhe a testa com a palma da mão para conferir a temperatura do corpo. Como se ainda precisasse de qualquer confirmação para saber que Sam estava queimando em febre.

O corpo do rapaz ardia e sua pele enrubescida, começava a mostrar-se áspera e meio rugosa, como se estivesse literalmente queimando.

Os olhos de Dean cresceram, ao perceber a quantidade de calor que emanava do corpo do caçula e a intensidade das contrações musculares sofridas por ele. Precisava tomar uma providência para abaixar a febre. Precisava agir rapidamente. Permitir que Sam tivesse convulsões estava fora de questão.

Num ímpeto, o caçador arrancou os cobertores de cima do irmão, enfiou-se por baixo dos braços dele, alavancando-o para fora da cama e arrastando o corpo inerte do outro pelo corredor, em direção ao banheiro.

Se alguém perguntasse como Dean Winchester conseguiu carregar seu irmão de quase dois metros de altura, sozinho, para dentro do banheiro, ele não saberia responder. Quando começou a raciocinar novamente, Sam já estava dentro da banheira de louça, mergulhado na água fria até o pescoço e Dean, atrás dele, apoiando sua cabeça fora d’água, completamente encharcado.

_DEAN! – a voz de Bobby ecoou pela escadaria, atravessando o espaço da casa.

_ Estamos aqui, Bobby! – Dean gritou. Provavelmente fizera muito barulho na empreitada de carregar Sam até o banheiro.

_ O que está acontecendo aí, garoto? – o homem continuou gritando do andar de baixo, com a voz preocupada _ Vocês estão bem?

_ O Sam está com muita febre -  sentiu a garganta arder ao gritar, em resposta _ Ele está quente demais, Bobby.

_ Mantenha-o molhado. Vou buscar um antitérmico para que você dê a ele.

_  Não sei se isso aqui vai resolver – Dean estava muito assustado com o calor que saía pela pele de Sam e pelo estado de seu irmão _ Ele está delirando, Bobby. Está sofrendo e não fala coisa com coisa.

_ Dê tempo a ele, filho – a voz firme passava confiança _ Mantenha-o dentro da banheira por mais alguns minutos e tire-o, mas não o aqueça, está me entendendo? Apenas o seque e deixe-o arejado. Depois venha buscar o remédio.

_  Entendi, mas não sei não – Dean puxou o corpo escorregadio do mais moço para cima, apoiando a cabeça sobre seu peito _ A água está gelada e ele continua fervendo!

_ Rapaz, preste atenção – Bobby sentiu o desespero na voz do amigo _ Precisa manter a cabeça fria e focar na situação. A última coisa da qual seu irmão precisa é de um ataque histérico.

Dean sabia que Bobby tinha razão. Bobby sempre tinha razão. Precisava manter a mente limpa para agir e cuidar de Sam da melhor maneira possível.

Mas as pequenas bolhas que começavam a se formar sob a pele de Samuel saltaram aos olhos de seu irmão, num grito de alerta, num espanto aterrador que revelava o quão perto de algo mortalmente perigoso o rapaz poderia estar.

_ BOBBY!!! – o tom desesperado assustou o velho caçador, na beira da escada _ Ele está com bolhas, Bobby! Meu Deus, cara, o Sam está empolando!

_ O que você está dizendo?

_ O que você ouviu!

_ Traga-o para baixo já! –o caçador mais velho direcionou a cadeira de rodas e atravessou a sala em direção à cozinha.

Ao tempo em que Dean esforçava-se para retirar o corpo amolecido de seu irmão da banheira e carregá-lo pelo corredor e escada abaixo, Bobby já tinha depositado todo o gelo que encontrara dentro de um balde e voltava, como se disputasse a primeira posição na largada de um grande-prêmio qualquer.

_ Ali – apontou um armário pesado e empoeirado no canto da biblioteca _ Há um cobertor térmico.

Dean largou Sam sobre o sofá e correu na direção indicada, trazendo consigo o saco prateado que desdobrou com perícia. Afastou a mesa de centro e esticou o tecido metálico sobre o tapete desbotado.

_ Merda, Bobby – o coração do irmão de Samuel estava na boca e seu estômago vinha logo atrás.

_ Tenha calma – o experiente caçador apontou o leito forrado no chão e foi imediatamente compreendido pelo  outro.

_ Como pode alguém tão magro ser tão pesado? Que inferno!

Num instante Sam estava deitado sobre o cobertor térmico estendido no meio da sala de Bobby e coberto por dezenas de cubos e raspas de gelo.

Dean tremia, batendo os maxilares pelo contato do corpo molhado com o gelo que espalhava sobre o outro, ao mesmo tempo em que o suor escorria-lhe pelo canto do rosto. A adrenalina pulsava em sua corrente sanguínea.

Bobby dirigiu a cadeira de rodas para mais perto, onde podia ver com clareza, o rosto contorcido do rapaz Winchester. A única coisa que podia fazer era rezar para que o gelo ajudasse a controlar a temperatura, evitando o pior, mas tinha que concordar com o que via nos olhos de Dean. Aquilo tudo era tremendamente incomum e assustador, mesmo para os seus padrões.

Ambos os homens se mantiveram atentos a qualquer sinal.

O jovem Samuel flutuava entre a consciência e algum lugar, ao qual os outros dois não podiam alcançar. Palavras soltas fugiam de seus lábios, sem nenhum sentido. A dor estava ali, estampada em um tom de vermelho que manchava a pele clara e nas mãos cravadas no tecido grosso abaixo de seu corpo.

O gelo derreteu mais rápido que o esperado. Havia muito calor exalando do rapaz e isso acelerou a fusão. Em poucos minutos, um Samuel Winchester encharcado ainda se retorcia diante dos olhos de Dean e Bobby.

Aquilo era o inferno.

Ver o sofrimento de Sam era pior do que arder nas chamas do inferno. Era pior do que qualquer tortura.

A  madrugada arrastou-se até os primeiros raios de sol, em meio aos sons guturais que revelavam a agonia do doente. Todo o seu corpo estava tomada por bolhas e em nada Sam lembrava o rapaz bonito de feições tranqüilas e suaves. O cansaço o silenciou, depois que a temperatura finalmente cedeu um pouco.

 Dean retirou toda a roupa molhada que cobria seu irmão e arrastou seu  corpo de volta para a cama de Bobby, colocada junto à janela, num canto da sala desarrumada.

O irmão mais velho recebeu das mãos do amigo um recipiente com um unguento que era espalhado sobre as feridas do mais jovem. As lágrimas contidas dentro da barreira de seus olhos não suportaram mais a pressão e escorreram livres pela face endurecida pelo sofrimento. Não havia mais como retê-las. Não havia mais espaço dentro de seu peito para guardar a angústia que o afogava enquanto cuidava do irmão caçula. Na dor de Sam, reviveu sua própria dor nas chamas do inferno, porém com um agravante: a dor de Sam doía nele, muito mais do que a sua própria.

A luz do sol  finalmente  entrou pela janela e iluminou o cômodo.

O silêncio inundou todo o espaço.

Dean levou a mão à testa do irmão e verificou, aliviado, que a febre havia cedido mais. Voltou o olhar para Bobby, praticamente desmaiado, batido pela comoção e pelo esforço da noite atribulada. Deixou a cabeça tombar entre suas mãos e afastou o suor do rosto esgotado, levantando-se em silêncio, para não acordar os outros dois. Seguiu diretamente ao banheiro e deixou tudo que havia em seu estômago sair pela boca, numa luta injusta para manter-se são, até não existir mais nada dentro de seu corpo para ser expelido.

 

0o0o0o0o

 

Aquela sensação estranha que lhe invadia a alma era tremendamente incômoda. Sentia seu corpo gelado e coberto por algo pegajoso. Lutou com todas as suas forças para abrir os olhos e conferir o que estava sobre sua pele, mas não era nada fácil. Sentia-se esgotado, exaurido até a última gota de energia. Queria dormir. Dormir para sempre e não sentir mais aquela dor. Não ver nunca mais o pânico crescendo dentro dos olhos do irmão e o tom de culpa que tomava-lhe a voz enquanto tentava acalmá-lo.

Sam sabia que precisava continuar lutando.  Moveu os dedos e, em seguida o braço, que esbarrou no ombro de Dean, recostado junto à lateral da cama de madeira.

_ Sammy? – o mais velho despertou assustado, recriminando-se por ter-se deixado vencer pela exaustão _ Sam?

_ Dean... – um sussurro trouxe um pouco de alívio

_ Fique quieto, Sam – Dean ajeitou-se na beirada da cama e levou a mão à testa do irmão _ A febre se foi. Você vai ficar legal, irmãozinho.

Samuel não conseguiu responder, mas o risco de um sorriso que se desenhou no canto de seu rosto aquietou o coração do Winchester.

Bobby se remexeu na cadeira de rodas, grunhindo qualquer coisa ininteligível, certamente pela noite mal dormida. Esfregou os olhos e empurrou o velho e surrado boné para trás, mostrando melhor o rosto amarrotado. Não precisou perguntar. Estava escrito no rosto de Dean que Sam estava melhor e que as coisas poderiam voltar ao seu lugar. Girou a cadeira na direção da cozinha e acendeu o fogão. Só mesmo um bom café fresco e bem quente para retomarem as pesquisas para encontrarem uma solução para toda aquela maluquice.

 

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CONTINUA

 

 


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