Sinais ( Re-postagem) escrita por Crica


Capítulo 2
Capítulo 2




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Antes:

_ Sam? – os olhos de Dean repararam na ponta da bota ao lado da cama. Limpou a boca com o guardanapo de papel e levantou-se, assustado. A comida parou no meio do caminho  com a visão de seu irmão estendido no chão _ Sam!


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Capítulo 2:


_ Meu Deus, Sammy, o que aconteceu com suas mãos?

_ Eu... Eu... – Sam mal conseguia pronunciar as palavras diante da dor _ Não... sei...

_Como não sabe, cara? – O mais velho estava apavorado com as condições das mãos do caçula _ O que você fez?

_ Nada... – O rapaz se contorcia _ Nada...

_ Você andou mexendo com pólvora? – Varreu o lugar com os olhos, atento _ Com o acelerador de combustíveis? Anda, Sam, você não pode ter queimado as mãos desse jeito enfiando os dedos na tomada!

_ No... Ba...nheiro... – a expressão no rosto de Samuel evidenciava todo o seu sofrimento.

_ O que houve lá? O boiler pegou fogo? – correu para o pequeno cômodo que ainda mantinha as luzes acesas.

Com exceção da bagunça, nada denunciava algo que pudesse causar os ferimentos de Sam. O aquecedor estava desligado, não havia qualquer sinal de explosão ou de fogo. Nada.

_  Cara, isso está muito esquisito! – Dean abaixou-se novamente junto ao irmão _ Me ajude, fique de pé, apoiando-se em mim. Preciso te levar a um hospital. Não tem como eu cuidar disso aqui.

_ Ótimo – o outro gemeu.

Dean meteu-se sob os braços de Samuel e carregou-o pelo estacionamento até o Impala, evitando o caminho iluminado para não chamar a atenção do recepcionista. Não tinha tempo para explicar qualquer coisa. Tempo ou disposição. A urgência era carregar seu irmão dali para o hospital mais próximo.

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Dez minutos mais tarde, o Chevy 67 estacionou junto à entrada de emergência do hospital distrital.

Dean auxiliou seu irmão na saída do automóvel e no caminho até o balcão de atendimento. Logo um médico plantonista surgiu, tamanho o estardalhaço que o Winchester mais velho fazia em busca de socorro.

Imediatamente alguém surgiu com uma cadeira de rodas e conduziu o rapaz ferido para dentro, juntamente com o médico.

_ Você fica aí – o médico ordenou _ Cuidaremos bem  dele.

_ Mas...

_ Senhor, preciso fazer-lhe algumas perguntas – a mulher morena falava baixo e calmamente.

Dean não estava com paciência para aquilo. Estava preocupado com seu irmão, não com detalhes burocráticos que muito bem poderiam ficar para mais tarde. Sem falar que ainda precisava arrumar uma história convincente para justificar o estado de Sam.

_ Não dá pra deixar pra depois? – falou, sem tirar os olhos marejados da porta dupla à sua frente _Estou preocupado, não está vendo? Eu quero ver o meu irmão.

_ Logo o médico virá conversar com o senhor sobre a saúde dele - apontou o conjunto de cadeiras que ladeava o largo corredor _ Podemos nos sentar aqui e basta que me responda algumas perguntas de rotina para os registros, sim?

_ Eu tenho alguma escolha? – rendeu-se, contrariado.

_ Sinto muito – apontou novamente a cadeira vazia e sentou-se ao lado dele.

Suas mãos tremiam ligeiramente. Aquele cheiro de desinfetante e anticéptico o deixavam nauseado. Era sempre assim. Hospitais estavam no topo da  sua lista de locais  indesejados.

_ Os senhores tem um seguro saúde?

_ Como? – Não tinha ouvido direito a pergunta _ O que?

_ O seguro. O senhor ou seu irmão tem? Poderia dar o número, por favor?

_ Oh, sim, claro... – retirou da carteira o cartão e entregou à mulher, mas sua atenção estava toda naquela porta.

_ Obrigada. Como se chama o rapaz?-Acostumada às atitudes alheias de familiares em choque, a atendente repetiu a questão, tocando o ombro do caçador _ Senhor, como se chama o seu irmão?

_ Sam – respondeu depois do salto provocado pelo toque inesperado _ É Samuel Halley.

_ Então, senhor Halley, qual é o seu endereço? Gostaria que avisássemos alguém?

_ Nós não somos daqui. Estamos viajando... – Dean apertou o alto do nariz, entre as sobrancelhas e engoliu o ar – e  não temos parentes. Somos só nós dois.

_ Gostaria que chamasse um médico para vê-lo também? – examinou-o com os olhos _O senhor não me parece muito bem.

_ Não, estou bem. É só uma maldita dor de cabeça.

_ Vocês sofreram algum tipo de acidente? – Dean colocou os olhos na folha onde a mulher fazia anotações.

_ Nós fomos ... – e agora, o que dizer? – fomos... ‘pense rápido idiota’  acampar e saí por meia hora para abastecer e quando voltei, Sammy estava com as mãos queimadas. Acho que, sei lá... Acho que pode ter se queimado na fogueira, talvez – levou as mãos ao alto da cabeça e escorregou na cadeira _ Eu não deveria tê-lo deixado sozinho, mas que droga!

_ Acalme-se, por favor. Os médicos já estão cuidando dele e, com certeza, tudo ficará bem – entregou a prancheta com as folhas a Dean _ Pode assinar isso para mim?

O caçador leu, rapidamente, as anotações. Como aquela criatura havia anotado tantos dados sobre seu irmão? Ele não tinha dito nada daquilo, mas estava lá: altura, peso e um monte de detalhes técnicos que ele não entendia. Assinou o tal do documento e devolveu, agradecendo à todas as entidades divinas por aquela mulher deixá-lo em paz.

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 Três intermináveis horas de idas e vindas por um corredor extremamente iluminado, sendo literalmente ignorado pelos profissionais que passavam.

Três horas infernais sem uma notícia. A única resposta que ouvia às suas perguntas era que tivesse paciência e esperasse.

Esperar não era o seu forte. Estava a ponto de invadir a porcaria da sala e tirar a limpo o que tanto faziam lá dentro com seu irmão.

_ Senhor Halley?

_ Finalmente! – Dean bateu as mãos no jeans, diante do médico que os havia recebido mais cedo _ Como está o meu irmão?

_ Está descansando agora – o homem sorriu _ Ele ficará bem, apesar de precisar de cuidados e provavelmente uma cirurgia plástica em seis ou sete meses.

_ Cirurgia? – as marcas de expressão se salientaram no rosto do Winchester _ Estava tão mal assim?

_ Seu irmão sofreu queimaduras de segundo e terceiro graus nas duas mãos, causando sérios danos. Não sabemos o quanto afetou o tecido muscular, mas é uma possibilidade.

_ Mais essa... – bufou _ Posso vê-lo?

_ Certamente, mas o rapaz está sedado e deverá dormir durante toda a noite. É provável que o delegado queira entrevistá-los sobre as circunstâncias que envolveram este acidente, mas isso poderá esperar até amanhã, com certeza.

_ Obrigado, doutor.

_ Não por isso. A enfermeira o acompanhará até o quarto.

Dean seguiu a funcionária até o final do corredor e entrou no quarto sozinho. Identificou o vulto de seu irmão sobre a cama, na penumbra.

Estava cansado.

Sam tinha as mãos enfaixadas até o meio do antebraço e parecia dormir tranquilamente. Devem ter-lhe aplicado uma dose cavalar de analgésicos e mais um monte de remédios.

Ficou por um longo tempo observando o pinga-pinga no cateter na unidade intravenosa ligada ao braço esquerdo de Sam.

_ Cara, o que você foi arrumar? – falou baixinho, junto ao outro, debruçando os braços sobre o leito _ Que merda você foi fazer pra se machucar desse jeito? Sabe que eu tive que arrumar uma desculpa para esse circo todo? E ainda tem a droga do delegado... Isso não vai ser bom, Sammy. Não vai ser nada bom – afastou-se um pouco, deixando o corpo escorregar na cadeira estofada _ Vamos ter que dar o fora antes que os policiais apareçam porque os tiras não vão engolir essa coisa de você ter se queimado numa fogueira. Um cara do seu tamanho? – passou a mão pelo rosto, pensativo _Eu sei que foi uma péssima desculpa, mas o que você queria? Eu estava mais preocupado em saber de você e foi a primeira porcaria que me passou pela cabeça. Merda...

Lá dentro de sua cabeça, não havia espaço para outro pensamento senão a circunstância em que Sam se acidentara. Repassou todas as imagens em sua memória e não viu, em qualquer canto do quarto do motel, algo que pudesse ter-lhe causado queimaduras daquela intensidade.

Permaneceu ali, sentado ao lado do mais moço por um longo tempo ainda.

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O movimento nos corredores, do lado de fora, foi diminuindo aos poucos com o avançar das horas.

A madrugada trouxe o peso do cansaço por sobre seus ombros e os olhos  ardidos e inchados, mal podiam manter-se abertos. Porém, não havia tempo a perder. Não poderia dar-se ao luxo de aproveitar os momentos de sossego que agitavam um convite diante de seu rosto. Era necessário aproveitar a chance de fuga que se apresentava com o silêncio assustador que se manifestava em todas as direções.

Dean levantou-se de seu posto de vigília e saiu para perto da recepção, caminhando lentamente para junto da máquina de café. Seus olhos treinados detectaram todos os possíveis pontos de fuga e as barreiras que poderiam encontrar pelo caminho. Colocou as moedas na abertura da máquina  e esperou que o copo se enchesse do líquido quente e perfumado. Passou novamente pela enfermeira de plantão, atrás do balcão e sorriu para ela.

De volta ao quarto, buscou uma cadeira de rodas esquecida junto à parede, no fim do corredor.

Tirar Sam do hospital exigiria, além de coragem, um plano bem arquitetado para afastar a funcionária do corredor.

O mais velho dos caçadores foi até o armário e juntou as roupas do irmão, colocando-as num saco plástico, sobre o assento da cadeira.

A medicação que pingava do saco pela canaleta transparente estava quase no fim. Em breve, com certeza, alguém viria substituí-la. Não poderia perder mais nem um segundo. Então, esforçou-se ao máximo para deslizar o corpo do mais jovem, inconsciente, para cima da cadeira de rodas, ajeitando-o da melhor maneira possível, no pequeno espaço. Depositou, em seguida, o frasco do soro no colo do irmão e recolheu todos os vidros com medicamentos que pode encontrar pelo quarto, além de material para curativos.

Dean retirou o aparelho celular do bolso e digitou um número. Alguns toques depois, a enfermeira de plantão atendeu e lhe foi pedido que levasse os relatórios da última ronda ao escritório do médico responsável pela emergência.

O Winchester sorriu satisfeito ao colocar a cabeça para fora da porta e perceber a ausência da mulher morena. Afinal, toda aquela espera no corredor lhe tinha valido de alguma coisa. Tinha ouvido conversas e nomes que agora serviam de pano de fundo para o seu pequeno teatro.

Empurrou a cadeira de rodas para fora e dirigiu-se diretamente ao estacionamento, onde havia deixado o Impala estacionado bem diante da porta da emergência. Agradecia mentalmente aos céus por aquele hospital estar todo no mesmo plano. Elevadores só iriam atrapalhar seus planos.

Do lado de fora, o vento frio da madrugada causava-lhe arrepios. Não que estivesse realmente sentindo a baixa temperatura, já que a adrenalina pulsava a mil em seu sangue, mas movimentar seu irmãozinho de quase dois metros de altura, inconsciente e vestindo apenas uma camisola hospitalar para dentro do carro sorrateiramente, era algo, no mínimo, desgastante.

Dean deu a volta, suando pelo esforço despendido com o irmão, e tomou seu lugar na direção do Chevy. Arrancou, sem muito alarde, evitando chamar a atenção, deixando a cadeira de rodas abandonada no meio do caminho.

Assim que alcançou a rodovia federal, afundou o pé no acelerador.

Os primeiros raios da manhã começavam a despontar no horizonte do que poderia ser um dia muito, muito longo.

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Uma hora havia se passado desde que o dia nascera e Sam começava a mostrar sinais de recuperação. Seus movimentos sobre o banco do carro eram mais constantes, além de uns breves gemidos entremeando sussurros incompreensíveis.

O irmão de Samuel observou o marcador da quilometragem, verificando que já tinham posto uma boa distância entre eles e aquela cidadezinha com seu delegado abelhudo. A placa mais à frente indicava que logo atravessariam a fronteira do estado e, com ela, tudo ficaria bem, pois poderia parar para descansar um pouco e dar os medicamentos a Sam.

Dean escolheu um pequeno hotel, indicado pelo frentista do posto de gasolina. O lugar era pouco frequentado e afastado da rodovia, mas era limpo e barato. A combinação perfeita.

Por sorte, o motel era composto por várias pequenas cabanas, num terreno extenso atrás da sede e não foi difícil encontrar um quarto mais afastado, com privacidade e longe dos olhares curiosos.

Dean estacionou diante da cabana, com a porta do carona voltada para o abrigo. Sam ainda estava zonzo, sob o efeito dos remédios e teve alguma dificuldade para sair do automóvel, vestido com a jaqueta de couro do irmão por cima da camisola.

Trôpego, o Winchester mais jovem desabou sobre a cama mais próxima e apagou ali mesmo.

A bagagem e o restante de seus pertences foram carregados para dentro e depositados sobre uma grande cômoda de madeira, pelo mais velho.

Dean estava exausto. Totalmente batido pelo estresse do dia anterior, da noite no hospital, pela louca escapada no meio da madrugada e seu estômago gritava por algo quente e sólido. Decidiu por sair e tentar encontrar um mercado onde pudesse comprar suprimentos, leite e algumas frutas para quando Sam acordasse, além de dar-se um belo e bem recheado café da manhã.

Depois de verificar se o rapaz ferido estava bem acomodado e em segurança, saiu, trancando a porta atrás de si e levantando uma nuvem de poeira com o atrito das rodas do carro negro com a rua de terra batida.

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Não mais que cinquenta minutos bastaram apara que Dean levasse a cabo todas as tarefas a que se dispunha.

Ao retornar, colocou a chave na fechadura e a girou, abrindo a porta com cuidado para não incomodar o caçula.

A cama onde deixara Samuel estava desfeita, com as cobertas caídas pelo chão. Seu coração gelou dentro do peito e seus olhos varreram o ambiente, angustiados, indo parar na figura seminua acomodada na cadeira, diante da mesa ao fundo, lendo qualquer coisa no laptop.

_ O que você está fazendo? – Dean largou o pacote com as compras e abriu os braços, indignado.

_ O que? – o irmão não parecia entender o assunto _ Nada, eu acho.

_ Cara, você deveria estar descansando! – aproximou-se, tomando a mão enfaixada do outro entre as suas _ Você estava digitando nessa coisa? Está maluco? Quer ficar aleijado, é?

_ O que? – os olhos do rapaz arregalaram-se – Do que diabos você está falando, Dean?

_ Das suas mãos, idiota! Estão queimadas. Você não se lembra?

_ Queimadas... – Sam pareceu pensar por um momento, observando as ataduras _ Sim, eu queimei as mãos, não foi?

_ Foi, gênio! – o mais velho sentou-se diante do irmão _ E você não deveria estar movimentando suas mãos. O médico disse que precisará de cirurgia plástica mais tarde.

_ Sério? – a surpresa tomou a expressão do mais moço _ Engraçado...

_ Não, não tem graça nenhuma. Eu passei um sufoco danado e você estava surtando de tanta dor. Não é possível que não lembre!

_ Não é... isso... é que... – Sam começou a desatar o curativo

_ Ei! – Dean o impediu de continuar, com um movimento firme _ Não faça isso, seu maluco!

_ Dean, tem algo estranho. Se as queimaduras foram assim tão graves, eu deveria estar sentindo alguma dor, certo?

_Com a quantidade de analgésicos que deram a você, duvido muito.

_ Cara, isso foi há, o que, umas 10 horas? – o irmão assentiu com um gesto  _ Você me deu mais remédios? – outro gesto, agora em negativa _ Por que eu não sinto nada?

Sam não se conteve e começou a desfazer o curativo, agora auxiliado pelo irmão mais velho que tinha sido convencido de que alguma coisa estranha estava acontecendo por baixo daquelas infindáveis voltas de gaze sobre as mãos e pulsos de Sam.

_ Mas que merda é essa?! – Os olhos de Dean cresceram em admiração diante da visão que tinha.

 

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CONTINUA

 


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