El Aáiun escrita por Maxlin, Tadewi


Capítulo 6
Capítulo 6




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- Samy? Como descobriu esse número? Como sabe que estou na França?
- O quê? Você está na França?
- Claro, e você deveria saber, já que ligou para mim.
- Para começar, eu fui para sua casa e te vi pulando a janela! Tinham uns homens atrás de você. Fui chamar a polícia e me atacaram no caminho. Agora estou em um avião, indo para um lugar que não tenho idéia! A única coisa que consegui foi ligar para você.
- Mas como você conseguiu esse número?
- Umas pessoas mascaradas que estão me observando agora me deram o número. Eles disseram que só você poderia me responder o porquê de tudo isso. Fiquei até surpresa que soubesse de algo…
- Eu não sei – Thony respondeu eufórico –aconteceu algo estranho comigo também. O que disseram para você? Alô? Samy? Alô…
Samy não respondia. Thony estava realmente preocupado. Estava pondo em risco até as pessoas à sua volta que não tinham nada com isso. Pelo menos era o que ele achava. O telefone tocou novamente e Thony atendeu nervoso:
- Samy, é você?
- Não, aqui é da recepção. Pediram para informá-lo de que a senhorita Samy Thollar chegará em uma hora e o senhor deve encontrá-la na sala de estar do segundo piso.
- Tudo bem. Obrigado.
Thony colocou o telefone no gancho e experimentou uma sensação de pavor espalhando-se pelo seu corpo, fazendo-o tremer. Algo muito ruim poderia estar acontecendo com Samy.
Naquela noite os ponteiros do relógio moviam-se lentamente. Quando finalmente se passou uma hora, Thony vestiu um casaco, calçou seus sapatos e desceu para o segundo andar.
Aquela noite estava estranha. O céu estava mais negro que o normal e fazia muito frio. O corredor do segundo andar também estava com um ar sombrio como a noite.
Um medo inexplicável tomava conta de Thony a cada passo. O chão estava coberto de folhas secas, não havia luz, as janelas estavam abertas e o vento entrava com um som ameaçador.
Thony andava sem fazer barulho. O corredor tinha uma extensão enorme.
- Boa noite – disse uma voz grave às suas costas.
Thony se virou abruptamente e viu um homem de chapéu e roupas pretas. Uma máscara prateada cobria seu rosto. Thony sentiu-se tonto e caiu desacordado…
********
- Acorde!
Thony despertou, muito assustado.
- Onde estou? Quem são vocês?
Ele estava em uma sala grande e escura. Doze pessoas com roupas pretas e máscaras formaram um círculo à sua volta. Thony estava amarrado e notou que havia mais alguém sentado de costas para ele.
Então um dos mascarados falou:
- O senhor desmaiou graças á um gás.
- Gás?
- Sim. Suas roupas estão equipadas com sistemas de segurança, incluindo gás entorpecente. Quando o senhor se virou depressa, ativou o sistema. Mas infelizmente ele inclui rastreadores, então vou ser rápido…
- Deus do céu – Thony sussurrou – eu não sabia de nada…
- E realmente não deveria.
- Mas quem são vocês?
- Isso não importa agora. Você e essa mulher intrometida são de El Aaiún e é chegada a hora do sacrifício.
- Socorro! – disse uma voz feminina muito familiar para Thony.
- Samy? É você?
- Thony, o que está acontecendo? – ela perguntou apavorada.
- Calem-se. A hora de vocês chegou.
- Não! O que vai fazer? – Thony perguntou nervoso.
- Apenas saiba que encontrará sua família…
Thony queria muito encontrá-la, mas não da forma que aquela voz obsessiva lhe sugeria…
Então ele teve uma idéia. Aquele mascarado entregara sua fuga de bandeja. Já que sua roupa estava equipada com um sistema de segurança, nada mais lógico do que ter algo nela que ajudasse naquela situação. Thony começou a procurar, com dificuldade, algo no bolso do seu casaco.
Então os mascarados começaram a sair em fila. Samy e Thony não tinham idéia do que iriam fazer ou para onde estavam indo. Então ele achou um canivete extremamente afiado em seu bolso. Começou a cortar as cordas e, em poucos minutos, estava livre e ajudava Samy a se soltar.
- E agora? Como vamos sair daqui? – ela perguntou enquanto se levantava.
Thony olhou para todos os lados procurando uma saída. Avistou uma porta no fim de um corredor. Pegou Samy pela mão e ambos desataram a correr.
Eles chegaram até a porta. Quando Thony tentou girar a maçaneta, não conseguiu. Trancada. E agora?
- Rápido, eles estão voltando! – Samy vociferou desesperada.
Thony olhou para o canivete em sua mão. Era a única chance. Enfiou-o na fechadura e começou a girar e torcer, até ouvi-la ceder. Os mascarados já aceleravam o passo para alcançá-los.
- Corre, vai! – Thony gritou para Samy quando abriu a porta.
Ela disparou para fora e ele a seguiu imediatamente. Fechou a porta e, com uma força que ele não soube de onde veio, deu um chute na maçaneta, quebrando-a. Ele deu uma olhada rápida e viu que estiveram presos em um sobrado abandonado, aparentemente no subúrbio de Paris. Mas não tinham muito tempo para pensar em detalhes.
Os dois correram como nunca. Eles entraram em uma grande avenida e mal viam para onde estavam indo. Logo ouviram as buzinas dos carros e só então perceberam que quase morreram atropelados. Thony apenas ignorou e, conduzindo Samy até o outro lado da rua, acenou para um táxi que passava. O carro parou e eles entraram. Apenas pediram para que o motorista saísse dali. Assim, começaram um trajeto sem rumo.
Thony remexeu em seu bolso e achou seu passaporte. Então se lembrou da carta que Cláudio mencionara. Abriu o documento e ela realmente estava lá.
- O que é isso? – Samy perguntou ainda um pouco estupefata pelo que acontecera.
- É uma carta que recebi. Mas ainda não tive tempo de lê-la.
A carta foi escrita em uma caligrafia bonita, com letras praticamente desenhadas. Mas não dizia quase nada:
"Ao chegar no aeroporto espere por alguém que irá buscá-lo e conduzi-lo até o Hotel Le Meurice. Caso aconteça algo, registre-se no quarto presidencial com outro nome. As suas roupas possuem equipamentos que podem ajudá-lo. Na mala têm alguns documentos falsos. Posso lhe garantir que não terá problemas para conseguir o quarto presidencial, afinal contratei os camareiros. Deixe suas coisas arrumadas".
- Vamos para o hotel – Thony disse decidido – você vai me ajudar…
Ele deu o nome do hotel para o motorista e, enquanto seguiam para lá, Samy relia a carta. Ela perguntou a Thony sobre o que estava acontecendo e ele, pacientemente, explicou-lhe tudo desde o início. Ela ficou muito surpresa e intrigada com tudo aquilo.
Durante um tempo eles permaneceram calados e pensativos. Thony não se conformava em colocar Samy nessa confusão toda. Ela era sua amiga de infância, praticamente se formaram juntos (cada um em sua área). Ela tinha vinte e dois anos, cabelos negros e lisos batendo nos ombros e olhos da mesma cor. Thony sempre insistia em dizer que ela tinha feições de mulher intelectual, mas Samy discordava.
Todas as vezes que se encontravam, Thony dava muitas risadas das histórias da amiga e realmente apreciava sua companhia. Mas agora eles estavam em uma situação que não dava para rir. Estavam encrencados e não sabiam o porquê.
Eles chegaram até o hotel. Thony e Samy desceram do táxi e praticamente correram para o saguão. Ele se voltou para ela:
- Essa é a chave do meu quarto, número 805, vá até lá, pegue minhas coisas e leve para o quarto presidencial, no último andar…
- Thony – Samy disse sarcástica – todo quarto presidencial é no último andar…
- Por favor, deixe seu sarcasmo de lado – Thony revidou impaciente.
Enquanto Samy ia até o quarto, ele foi até a recepcionista e se registrou com um nome falso. Depois subiu para o quarto presidencial: era maravilhoso, tinha seis ambientes, uma varanda enorme e dois closet, onde havia duas camas. Thony ouviu Samy bater na porta e foi abri-la.
- Prontinho – ela disse segurando a mala de Thony e entrando no quarto – que maravilha! Melhor que as expectativas…
- É mesmo – Thony respondeu vagamente, depois disse sério – eu tenho que te dizer uma coisa…
- O que é?
- Amanhã irei me encontrar com Jonh Glover. Mas ele não sabe sobre você.
- E tem algum problema nisso? – Samy expressou preocupação.
- Não sei, mas acho que amanhã bem cedo vamos visitar a francesa Milla…
- Tudo bem.
Os olhos de Samy, então, caíram sobre o pescoço de Thony e ela notou que ele usava um medalhão. Tirou-o de dentro da camisa dele com um puxão, sentindo um solavanco no estômago.
- Você tem um medalhão?
- Tenho – Thony respondeu intrigado – minha família deixou para mim antes de desaparecer…
- Eu também tenho um – ela puxou um cordão de dentro da blusa com o medalhão idêntico ao de Thony.
- O quê? – ele exclamou de olhos arregalados – mas… como? O que significa isso?
- Eu não sei exatamente, mas meu pai deixou para mim antes de morrer. Me disse que esse medalhão abriria portas para um mundo novo. Mas nunca entendi…
- Abriria portas? – Thony repetiu pensativo – sua mãe deve saber de alguma coisa.
- Thony, minha mãe me abandonou depois que meu pai morreu, e provavelmente nem liga se ainda estou viva…
- Desculpe, você não me contou sobre essa parte da sua vida, apesar de sermos amigos há muito tempo…
- Tudo bem – Samy respirou fundo e continuou decidida – depois de tudo isso, comecei a pesquisar a fundo sobre esse medalhão e descobri algo estranho…
- O que é estranho?
- Atrás do medalhão têm algumas escritas em aramaico, uma língua morta há muitos anos…
- Então voltamos à estaca zero – Thony sentou-se na cama,desanimado – olha, é melhor descansarmos, você tem que concordar que hoje foi um dia muito agitado. Amanhã começaremos tudo outra vez…
- Tem razão – Samy disse entrando em seu closet – boa noite – fechou a porta.
E a noite passou, triste e fria. O dia seguinte reservava muitas surpresas…

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