Aquela menina era muito estranha. Quando ela disse tudo aquilo pra Kathy agiu da mesma forma dizendo que não se lembrava. Ela podia estar mentindo. Mas a troco de que ela mentiria? Ela mesma anteciparia as brigas futuras... Fui pensando em tudo o que ela havia me dito até chegar à porta do Du.

- Você demorou amor- Du disse me abraçando forte e fechando a porta em seguida.

- E ai Ash?- Beto gritou do corredor

- Oi Beto, onde tá a Kathy ?- perguntei o olhando no redor

- Ela ta aqui no quarto, trancou a porta e não deixa ninguém entrar. Chegou toda nervosa e já foi entrando aqui. - ele dissed ando com os ombros.

- Kathy, me deixa entrar, eu tenho novidades- gritei na esperança que ela me atendesse. E ela atendeu *-* foi até a porta e a destravou.

- Entra- ela falou e quando o Beto fez que ia entrar ela o empurrou e voltou a fechar a porta- Isso fica entre nós, tudo bem?

- Não. Eles precisam saber. Eles têm que ouvir o que eu vou falar- fui até a porta e abri- Pra dentro os dois.

- Não to gostando da cara das duas. O que ta pegando?- Du perguntou sentando do meu lado

- Kathy, você ta branca bebê!- Beto sussurrou passando a mão no rosto dela

- Sai Beto, a gente tem que conversar sério agora. - ela disse se afastando um pouco dele. - Sem brincadeiras, entendeu?

- Ok amor, tudo bem - concordou ele

- Gente, ta acontecendo uma coisa muito estranha. A tal de Blair ta dando dor de cabeça pra gente- eu comecei

- Ta Best, isso é o básico do básico. O que ta pegando Du é que aquela menina é uma desgraçada que começou a me enfrentar- explodiu ela, é melhor alguem segurá-la g.g

- Meu deus Katheriny, que coisa feia que você esta fazendo. Você mal a conhece- Beto disse a reprovando.

- Cala a boca Beto, você que não conhece ela. Conta Ash- Kathy me pediu

- Hoje pela manhã ela disse algo do tipo " Você não sabe o que te espera! " Dá pra acreditar? Parecia que ela estava drogada. A Kathy explodiu e pulou em cima dela dando vários socos até que levou um chute...

- Ah amorzinho, você ta bem?- a voz do Beto atrapalhou minha explicação, quando vi ele já havia se aproximado novamente dela e estava a abraçando.

- Beto!- dissemos os três juntos

- Ta, desculpa pessoal.

- Daí quando elas pararam a gente perguntou qual era a dela e ela disse que simplesmente não se lembrava de ter falado nada daquilo. A Kathy saiu de casa com a intenção de ir na diretoria mas de ultima hora decidiu não fazê-lo - respirei fundo e continuei- Quando você saiu Kathy, ela me contou o porque daquela vela ontem de noite e me disse que não se lembra de ter decidido vir pra essa escola, que não se lembra de nada da viagem mas que se lembra de estar perfeitamente bem aonde morava. Ela disse que tinha namorado, amigos, uma casa legal, só que quando percebeu estava num hospital porque sofreu um acidentevindo pra essa escola.  

- Não faz sentido nenhum. Ela se lembra de metade da vida dela e metade não- disse o Du balançando a cabeça

- E quanto à vela?- perguntou a Kathy  - Ela disse que estava orando pela alma dos pais porque se sentia ligada ao espiritismo.  Parece que os pais dela não gostavam muito dessa religião e tudo que ela aprendeu foi pela avó. E olha que coisa estranha Best. A avó dela era espírita porque a bisavó dela era também. A Katheriny... Entendeu?

- Meu Deus Ash, mas porque ela se escondeu quando batemos a porta?- perguntou a Kathy

- Ela disse que ficou com medo que a gente achasse que ela era louca. Disse que poucas pessoas gostam de espiritismo e blábláblá...

- To boiando gente. O que ta pegando na real?- Du perguntou

- Du, agente acha que a bisavó da Kathy foi amiga da bisavó da Blair, a Katheriny.

- Maneiro. Seu nome é igual ao dela amor- disse o Beto agarrando a Kathy pela cintura

- Sério Beto, você é muito mongol- disse a Kathy saindo dos braços dele- Minha bisa nunca gostou da idéia de eu chamar Katheriny e eu nunca soube porque,  mas deve ser porque rolou uma briga entre as duas. Minha mãe viu o nome em um dos diários dela e colocou em mim.

- Em um dos diários?- perguntou o Du. Ele parecia bem entretido na conversa

- É Du, ela tinha uns diários guardados e o único jeito de descobrirmos toda essa história dos diabos é pegando eles lá na minha casa- disse a Kathy retomando os planos

- Amor, você já parou pra pensar que talvez sua bisa...

- Ana- ela disse ao Beto

- Que a Ana talvez tenha matado a tal de Katheriny e agora a mulher ta no corpo da Blair querendo vingança?- ele parou olhando pra nossa cara de espanto e continuou- Vai ver a Blair não se lembra das coisas porque não era ela que tava na posse do corpo. A mulher a trouxe até o colégio pra vir atrás de você amor.

Ficamos olhando boquiabertos pra aquele menino que todos achavam ser um lerdo. Ele enrugou a testa, deu de ombros e ficou olhando pra mão entrelaçada na da Kathy. Ele pensava que estávamos mais uma vez tirando sarro da cara dele. Devia ser uó ser taxado de burro. O que ele não sabia é que estávamos espantados com tanta sabedoria. Era óbvio que era isso mesmo que estava acontecendo.

- Gente, é isso! A Katheriny deve ta achando que eu sou a Ana reencarnada. A Blair mesma disse que a velha acreditava em espiritismo- Kathy gritou

- Não Kathy, a Katheriny saberia que a Ana morreu. Elas estão no mesmo plano espiritual- Du disse

- Como você sabe de tudo isso Edu?- perguntei abruptamente

- Eu conheço essa religião...

- Pensei que fosse católico

- Na verdade eu não tenho uma religião definida. Eu acredito em Deus. Pra mim basta- ele disse

- Então beleza. A katheriny sabe que eu não sou Ana, mas porque quer vir atrás de mim?- perguntou a Kathy levantando da cama- Tem muita coisa que não se encaixa. Minha avó não queria de jeito nenhum que fosse esse meu nome, mas mamãe nunca abriu nenhum dos outros diários, só abriu o primeiro onde viu o nome da amiga de vóvó e decidiu que esse seria o nome perfeito.

- Os outros diários devem conter detalhes da amizade das duas. O que temos que fazer é pegar os diários e ler tudo- disse botando um fim em qualquer argumento. Era isso que deveria ser feito. Ficar estipulando os detalhes não ia dar em nada.

Tínhamos que ir para a escola e nos próximos dias iríamos até o parque High Line. Deveríamos agir normalmente perto de Blair e a Kathy teria de tentar não ficar pulando no pescoço dela toda vez que aquela velha entrasse no corpo dela. Meu Deus. Tinha um espírito rondando a vida deles e não estavam nem ai. A velha poderia estar aqui vendo toda a conversa e talvez quisesse matar nós quatro agora. Blair era só uma adolescente. Esse negócio de ser tirada do próprio corpo deve ser horrível.

- Ash, você que esta mais próxima dela tem que pedir que ela pare de orar pelas almas. Talvez isso esteja ajudando. Quando ela ora pela alma, vai ver a avó dela fica mais poderosa, vocês não acham?- perguntou Du tirando-me de meus devaneios

- Claro, pode ser que a avó dela, a avó mesmo, também estivesse possuída, e foi por isso que ensinou o lance de espiritismo para a neta- respondeu Kathy

- Gente, essa história toda ta me arrepiando todo. Devíamos estar com um puta medo- Beto disse se abraçando com a Kathy

- Verdade- concordei com o Beto- Mas agora é esperar pra ver os diários. Temos aula daqui à uma hora e ainda temos que ir ao High Line essa semana- lembrei-os

- Temos?- Du perguntou

- Sim, temos aula daqui a pouco.

- Não amor. Temos que ir ao High Line? Por quê?

- Ah não, vocês não precisam ir. Eu e a Kathy vamos caçar borboletas- respondi fazendo cara de nojo.

- Denovo amor? Já não te dei oito borboletas?- Beto perguntou sorrindo pra ela

- Eu quero mais Beto. Eu quero muito mais.

- Nós vamos ajudar vocês então. Que horas vão sair daqui?

- Não sei Du, acho que ás duas- respondi

- Caça borboletas, parte dois!- berrou Beto jogando a Kathy no chão e pulando em cima dela.

- Bichos nojentos- sussurrei pra mim mesma

- Tudo bem amor. Comigo lá você não precisa se preocupar com insetos asquerosos- murmurou Edu do meu lado. 

- Obrigada - disse me jogando em cima dele- Caça borboletas, parte dois. Que assim seja!

Fiquei ali entregue ao abraço forte dele até que me dei conta do horário. Teríamos de correr pra não chegar atrasadas. Demos deus a eles com certa relutância. Era bom ficarmos sozinhos, os quatro conversando, brincando, se agarrando.

Chegamos a casa e não encontramos a Blair ali, achei um bilhete na mesa e peguei para ler.

'Ash, o diretor Mathew veio até aqui para me acompanhar no primeiro dia de aula. Muito obrigada pela atenção, e me desculpe pela briga que você que você presenciou. Espero que me entenda.  Blair Takewood'

Mostrei o bilhete para a Kathy e ela deu de ombros. Agora era só torcer pra dar tudo certo. Cheguei a tempo de entrar na sala, sentei no meu lugar e peguei meu estojo para colocá-lo ali na mesa. Foi quando senti um cutucar nas costas e virei.

-Boa noite Ash.

- Boa noite Bia, o que foi?

- Nada meu bem, só queria te cumprimentar. Seria falta de educação te tratar mal. Mais uma vez. Lembra-se de quando agarrei seu namorado? Ops... – disse ela gargalhando.

- Tomara que se afogue no próprio veneno sua cobra.

- Antes de isso acontecer seu namorado vai comer na minha mão.

- É o que vamos ver. O que você esta pensando? Agora estamos juntos pra valer minha querida- eu disse

- Ah sim, você deve ter transado com ele. Mas que sorte a sua perder a virgindade com alguém tão experiente.

- Olha aqui sua vaca, não quero saber de você se engraçando pro lado dele. Não mexa nas minhas coisas- disse cerrando os dentes

- Tudo bem. Quando vocês terminarem começa meu show. Mas eu não ligo, pois logo isso vai acontecer.

- Você se garante tanto assim Bianca?- perguntei com um sorriso brotando em meus lábios

- Isso aqui é mais que garantia, é certeza absoluta. Logo ele cansa de você e volta correndo pro meu apartamento. HAHAHA

- Eu aposto que não

- Apostado então! Só quero ver quem vai ganhar essa aposta... Eu sempre ganhei as que eu fiz. - disse ela riscando o caderno em ziguezagues.

- Dessa vez você se prepare pra perder- virei para minha mesa e respirei fundo. Aquela menina não perdia por esperar.

A aula do professor Colin era sobre Nova Jersey, que com mais doze colônias lutaram contra o domínio britânico. O que entendi disso tudo era que uma das mais famosas batalhas foi a de Trenton que aconteceu aqui mesmo. Depois de ouvir essa baboseira de história, botei meus fones de ouvido e fiquei ouvindo som em todas as aulas. Depois daquela conversa com a Bia eu tinha certeza de que iria ter de segurar muito bem o Edu. Nunca que eu ia perder ele pra aquela vaca.

(...)

O dia seguinte foi uma grande bosta. A Kathy ficou o dia todo na casa do Beto e o Du não estava lá. Fiquei em casa até descermos para a aula. A Kathy estava muito feliz, mas nem chegou a conversar, ficou com seus sorrisos maliciosos guardados pra si própria. O mais estranho é que ninguém havia lembrado meu aniversário. Sim, era hoje. Mas isso não tinha importância, porque meu aniversario não significava nada demais pra mim. Um simples dia em que festejar por estar envelhecendo é bobeira. Despedi-me da Kathy e disse que a veria na próxima aula. A aula foi boa. Aprendemos as regras básicas da matemática.

Quando o sinal tocou já estava no corredor indo para a outra aula. No caminho não encontrei nem a Kathy nem o Beto, o que era muito estranho já que os dois sempre ficavam ali. Toda vez que eu passava por alguns colegas eles sorriam para mim e fofocava alguma coisa ininteligível. Minha cara devia estar horrível, eu teria de passar no banheiro o quanto antes. Entrei na sala e nem sinal da Kathy. Esperei por ela por um bom tempo, mas ela não veio para a aula. Pedi para o professor para que ele me liberasse para ir até o apartamento ver se ela estava bem. Era estranho ela não ter vindo a aula se ela estava boa na hora que descemos paraa primeira a aula. O professor Colin me liberou e eu fui até o apartamento.