Coração Imortal escrita por isabellatmassei


Capítulo 10
Some excuses




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O silencio na casa era total. Fomos até o quarto sentindo um cheiro de vela ou incenso e quando chegamos lá, vimos Blair sentada no chão de olhos fechados como quem reza. Entreolhamo-nos e a Kathy sussurrou um bruxa é ela pra mim. E era bem estranho mesmo aquela menina sentada de pernas cruzadas diante de uma vela dizendo umas coisas fora do comum como macumbeiros. Puxei a Kathy até a sala para deixá-la a sós na sua reza ou sei lá o que.

- Antes que você diga alguma coisa, ela só esta rezando. E também não é pra menos. Esta numa escola nova, deve estar pedindo pra Deus ajudá-la

- Se for isso mesmo ela não vai fugir quando ouvir a porta bater, vai continuar a reza sem se importar- Kathy disse indo até a porta, abrindo-a e fechando com toda sua força.

Vi a luz da vela se apagar no quarto e olhei pra Kathy assustada. Meu Deus, aquela menina era inteligente demais pro meu gosto. Andamos até o quarto e quando olhamos tudo estava perfeitamente escuro só que ela estava na cama de olhos fechados e coberta. Ela realmente tinha algo a esconder. Dessa vez foi a Kathy quem me puxou até a sala.

- Eu te falei Ash, ela tava fazendo mandinga lá no nosso quarto. Amanhã eu vou falar com o diretor e vamos ver se ela fica mais um dia aqui- disse ela olhando pra porta- Aquela menina exala desafio, e se ela me desafiar eu vou enfrentá-la.

- Do que você esta falando?- perguntei incrédula. Ela falava como se conhecesse muito bem ela.

- Não sei, mas eu tenho certeza que aqueles diários vão resolver muita coisa.

- Acho que sim... – disse indo até o banheiro para meu banho. Já era muito tarde e por mais que estudássemos de noite, o cansaço não escolhia hora pra pegar a gente.

Troquei-me rapidamente e nem me dei ao luxo de pensar nas coisas que a Kathy havia dito lá embaixo. Aquilo era coisa de filme de suspense, livro de ficção cientifica. Aquilo não existia. Não perto da gente. Não nessa escola sem sal. E por mais que digam que o mundo é pequeno, acho que esse negocio de a bisa da Kathy conhecer a bisa da Blair já era demais.

Não conversamos durante a noite e de manhã, ou melhor, de tarde quando acordamos, terminamos de ajeitar a casa e nem cogitamos conversar sobre aquilo perto de Blair. Aquela menina era tão doce e gentil, pessoa nenhuma olharia pra ela e chamá-la-ia de bruxa ou coisa do tipo. A Kathy nunca falou nada sobre acreditar em Deus ou sobre que tipo de religião era a sua, mas agora dizia acreditar em reencarnação, em vida após a morte. Até aparição em sonho ela diz ter tido. Não duvidava de minha melhor amiga de jeito nenhum, mas acreditar em tudo aquilo de uma vez só era brasa também.

- Vocês descem comigo na hora de ir ao colégio?- a voz de Blair soou baixa, mas bastante forte, como se quisesse transmitir certa energia por ela. Nossa, a Kathy tinha botado muita abobrinha na minha cabeça.

- Claro... – disse tentando parecer descontraída

-... que não- disse a Kathy

- Tudo bem Katheriny, tenho certeza que sua amiga poderá descer comigo- Blair disse fitando Kathy demoradamente nos olhos e toda empinada.

- Minha amiga é minha amiga e ela ficara comigo sua bruaca- Kathy disse indo em direção a Blair com a intenção de esmurrá-la.

Dessa vez eu ficaria quieta e deixaria as duas se resolverem sozinhas. Meter-me no problema das duas era demais pra mim. O certo era ir para o quarto e deixar que elas se resolvessem. Cheguei à soleira da porta e ouvi Blair dizer friamente pra Kathy:

- Você não sabe o que te espera- Dei meia volta e voltei pra onde estava.

- O que? – disse eu e a Kathy

- O que do que?- perguntou ela piscando varias vezes como se estivesse saindo de um transe.

- Você acabou de dizer que não sei o que me espera- disse a Kathy se agarrando no cabelo dela e a derrubando no chão. Era alucinante ver brigas, ainda mais quando se pode assistir sem ser pega.

Fiquei vendo a Kathy dar vários socos nela até que a Blair a chutou na barriga. Com dor, a Kathy se levantou e grunhiu pra ela. As duas ficaram se entreolhando e então a Blair decidiu quebrar o silencio.

- Porque você me bateu sua louca? - Ela disse passando os dedos pelas mechas de cabelo desgrenhado

- Porque você deu uma de esperta pra cima de mim. E olha aqui sua desgraçada, louca é você! - disse a Kathy arrumando a roupa que estava toda amassada.

- É Blair, que história é essa?- perguntei a fitar os olhos castanhos arregalados como alguém surpreso.

- Não sei do que vocês estão falando, não disse nada disso- disse ela com certo brilho nos olhos. Eu não estava acreditando. Ela iria começar a chorar.

- Nós ouvimos sua vadia, agora vai se fazer de santa do pau oco?- disse a Kathy sentando no sofá- Eu vou na diretoria agora pedir sua transferência desse dormitório.

Fiquei olhando a Kathy calçar as botas e pensei se não seria melhor tê-la ali em nossa casa pra descobrirmos quem era aquela menina estranha que queria persuadir a nós com mentiras idiotas.

- Não Kathy, ela fica- disse olhando demoradamente pra ela

- Que? Você vai defendê-la novamente?- disse ela balançando a cabeça- Eu não estou acreditando.

- Kathy, não devemos falar nada com o diretor. O que iríamos dizer? Olha diretor, batemos nela porque ela disse que minha bisa matou ela e agora quero ela fora de lá. Não Kathy, não agora- disse piscando de um olho só pra ela.

Ela me fuzilou com os olhos e enfim levantou indo até a porta. Pensei que ela iria fingir que não ouviu nada e teimasse em pedir a transferência da Blair de lá, mas ela virou-se pra mim e disse:

- Vou estar na casa do Beto, se quiser me procure lá- e saiu pisando alto

Dessa vez não iria atrás dela tão rapidamente, iria me fazer de boa samaritana aqui e tentar fazer essa menina se entregar de uma vez. Onde já se viu falar uma bobagem daquelas e no outro minuto desmentir tudo como se fosse louca? Ela queria nos fazer acreditar que tinha ficado louca quando o avião caiu, mas éramos muito espertas pra ela. Ela que procurasse outras pra atazanar a vida.

- Sua amiga sabe dar umas belas bofetadas- Blair disse pegando gelo e botando no olho roxo- Dói muito isso daqui sabia?

- Blair, eu quero saber por que disse aquilo e depois fez que não sabia de nada- disse e levantei uma sobrancelha

- Eu não me lembro de ter dito nada daquilo, vocês devem ter entendido errado. Eu só lembro-me de ter dito que você poderia me levar até o colégio e de ter apanhado que nem louca da Katheriny- ela disse dando de ombros

- Não é bem assim. Nós ouvimos muito bem você dizendo que a Kathy não perdia por esperar.

Ela deu de ombros e foi jogar o gelo na pia.

- Não me lembro de ter dito isso.

- Tudo bem então minha amiga. Explica-me agora o que você estava fazendo sentada no chão com uma vela na sua frente, ontem de noite?- perguntei

- Eu, é, ahn... – enrolou-se ela

- Não me enrole, não tente me passar pra trás. Antes de você correr pra cama já tínhamos te visto fazendo aquela mandinga louca. Batemos a porta pra vermos a tua reação. E sabe qual foi? Você correu fingir que estava dormindo, que péssima mentirosa que você é!- disse chegando mais perto dela- Você não vai passar a perna em amiga minha, entendeu bem?

- Eu sou espírita- Blair disse soltando uma lufada de ar- Estava orando pela alma de meus pais e pedi proteção, só isso.

- E porque fugiu? Porque teve medo que agente te visse orando?

- Ninguém gosta de espiritismo. Nem mesmo meus pais gostavam, só que eu era muito ligada a tudo isso então decidi fazer uma oração ás escondidas- disse ela lacrimejando- você não sabe como é ruim perder os pais.

Vi meu corpo perder a força e me senti golpeada para trás. Eu sabia muito bem o que era perder os pais. Eu conhecia o sofrimento dela. Mas aquele negocio de ser ligada no espiritismo não fazia sentido. Como ela se sentia ligada ao espiritismo?

- Como assim se sentia ligada a tudo isso?- perguntei curiosa

- Minha avó era espírita porque a mãe dela era também. Minha avó me contava história de almas que reencarnavam, de vida após a morte e coisas como ser possuída por um espírito. Eu fiquei maravilhada pelas histórias. Então quando o avião caiu, senti um peso enorme dentro de mim. Culpa talvez. Mas não sei pelo o que. Quando pedi para meus pais para vir estudar neste colégio eu não estava muito bem das idéias. Eu estava tão bem lá, com minhas amigas, meu namorado, minha casa, meus pais- Blair disse iniciando o choro

- Não estava muito bem das idéias?- eu disse, mal conseguindo falar direito.

- É. Não sei. Eu não me lembro de ter pedido pra vir pra cá. Não me lembro de nada disso.

Ela ficou olhando pro chão e enfim continuou.

- A ultima lembrança que tenho é de estar acordando no hospital, é como se toda a viagem tivesse sido deletada da mente.

- Você não perdeu a memória, você recorda seus amigos, do namorado, da casa e de como vivia lá. Isso não aconteceu com certeza- expliquei

Ela só fez que sim com a cabeça e continuou a olhar pro chão. Ela parecia sincera, parecia verdadeira. Mas aquela história de não se lembrar de nada sobre escolher vir para essa escola me cheirava mal. Ela com certeza estava deixando muitas duvidas com aquele papinho de anjo coisa e tal.

- Vou até a casa do Du- disse me levantando- Volto a tempo de ir à escola. Podemos ir juntas.

- Tudo bem- Blair disse a limpar as lagrimas


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Notas finais do capítulo

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