Montanhas do Sakahara, anos atrás.

            Um garoto de mais ou menos cinco anos corria pelo seu jardim. Estava feliz da vida, pulando e pulando, até que viu um pássaro e saiu correndo.

            Na sua mente o pequeno pássaro era um monstro, negro e com dentes pontudos.

            Montanhas do Sakahara, mesa de jantar da família Aguina, aniversário de dezoito anos de Hiar.

            Naquele conjunto de montanhas viviam algumas famílias, inclusive a de Hiar Aguina.

            Mas há muito tempo não passavam pessoas de outros lugares do mundo. Talvez fosse por causa do grande deserto que rodeava as montanhas.

            E hoje era o aniversário de Hiar. A família havia feito um grande bolo de chocolate para a ocasião.

            MÃE: Vamos Hiar, apague as velas.

            Ela disse muito animada, mas Hiar não estava muito feliz. A noite anterior tivera todo tipo de pesadelo.

            Mesmo assim, atendeu o pedido da mãe, se preparou para apagar as velas.

            Mas, no momento que ia assoprar a vela ouviram um barulho do lado de fora.

            ???: Socorro!!!!!!!!!

            A família Aguina interrompeu a cena de felicidade e saiu correndo, quase atropelando a porta de entrada.

            E, do lado de fora viram uma pessoa deitada no chão, suando muito, pálida.

            Ela tentava balbuciar alguma coisa, mas estava fraco demais para isso.

            A família rapidamente reconheceu a pessoa como Seetsu Keesu, o químico maluco. Ele era reconhecido mundialmente por fazer poções maravilhosas, que ninguém sabia explicar qual o segredo dele.

            PAI: Meu deus! Uma pessoa por essas bandas! E justo uma pessoa famosa!

            SEETSU: Por favor, me ajudem... Água...

            MÃE: Vamos levá-lo para dentro.

            Ela e o pai pegaram o viajante pelas pontas e levaram para dentro de casa.

            Então, pegaram um copo de água, mas o viajante não aceitou, fazendo sinal de algo maior.

            A mulher então pegou um jarro e entregou para o homem, que bebeu rapidamente.

            SEETSU: Obrigado, muito obrigado. Muito obrigado mesmo.

            A família se esqueceu do bolo, e se sentou com o novo viajante. Ele trouxera consigo uma mala, que estava meio aberta. Esta estava no chão, embaixo da mesa.

            PAI: O que um renomado cientista faz aqui, neste fim de mundo?

            Seetsu olha para os lados e arfa.

            SEETSU: Bem... Tudo começou quando decidi vir para cá, a fim de conseguir um ingrediente para uma nova poção.

            Hiar Aguina mexia as pernas, ansioso, até que bateu em alguma coisa debaixo da mesa.

            Então, decidiu checar. Entrou debaixo da mesa, sem que ninguém pudesse vê-lo.

            Em cima, Seetsu continuava falando sua história.

            SEETSU: Até que eu e meu guia fomos separados por uma tempestade de areia. Então, andei em busca de ajuda, vindo parar aqui.

            Em baixo, Hiar sentiu um cheiro muito bom, vindo de dentro da mala. Então, abriu-a um pouco mais, achando um pote com um estranho líquido roxo.

            Atraído pelo cheiro, pegou o pote, e teve vontade de bebê-lo. Mas, queria faze-lo longe dos pais, talvez na sua varanda, que ficava no andar superior.

            E novamente conseguiu driblar os pais, muito focados no visitante.

            Andou pelo corredor, subiu as escadas e chegou a uma pequena varanda.

            Então, abriu a rolha que estava prendendo o pote. O cheiro era ainda mais forte.

            Bebeu a poção rapidamente, em poucos goles.

            E é aí que Hiar cometeu a maior besteira de sua vida. Não tinha lido os avisos que estavam no pote.

            “Cuidado! Poção não terminada e não testada! Não beba em nenhuma hipótese, efeitos desconhecidos”.

            Então, o corpo de Hiar começou a se transformar. Uma aura roxa saía do seu corpo. 

            Penas cresciam em algumas partes de seu corpo. Duas vistosas asas cresceram nas suas costas. Um grande bico apareceu no lugar de sua boca. No lugar de suas unhas, agora haviam garras.

            A transformação foi lenta e dolorosa para Hiar. Ele gritou, e rapidamente as pessoas que estavam na sala correram para o andar superior.

            Mas Hiar não teve tempo de ver seus pais mais uma vez. Foi lançado contra o vento, sem chance de defesa. Ele não sabia voar. Agora, voava para qualquer lugar do mundo.

            Seus pais ainda conseguiram ver seu filho voando pelos ares mundo afora...

            Hiar caiu do outro lado do deserto, e decidira não arriscar voltar, com medo de que seus pais o confundissem com um monstro.

            E todos os dias de sua vida teve pesadelos com pássaros a noite. De manhã treinava alguns vôos, mas sua dieta havia mudado. Precisava comer minhocas ou pequenos vermes que encontrava no chão.

            Por isso, ficara muito chateado, mas sempre quis voltar a ser o que era. Porém, nunca conseguira, pois parecia que a transformação havia tirado sua coragem.

            E após dois anos de sofrimento, o portal de Pielen leva o garoto meio pássaro meio humano para sua nova missão...