Misa Mercenary escrita por plemos


Capítulo 25
Sentimentos


Notas iniciais do capítulo

Abraços para a Milk Cullen, que fez uma bela recomendação. Boa leitura! ♥



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Misa Mercenary

Sentimentos

Nunca imaginei que poderia encontrar um lago tão perto da espelunca em que estávamos. Por algum motivo irracional, eu adorava lagos. Enormes, águas escuras, repletos de peixinhos de água doce e aves como os gansos. Lagos eram realmente encantadores, a paz que eles me passavam era indescritível. A brisa que percorria a sua superfície carregava um aroma refrescante... Um dia quero que ao fundo da minha casa tenha um grande lago.

— Imaginei que estivesse aqui... - O moreno sentou-se ao meu lado, com um olhar perdido no rumo da imensidão de água a nossa frente.

— Ah Raito... Eu estava pensando... Na verdade, não estava pensando em nada. É que eu adoro tanto lagos, que nunca consigo pensar em nada. - Sussurrei.

— Você realmente é uma garota bem imprevisível.

E o silêncio nos abraçou.

Nenhuma sensação do mundo é melhor do que sentir o cair da tarde quando se está contemplando um lago tão belo. É como se o sol se pusesse atrás dele, a luz alaranjada e o calor toma conta de nossos corpos. Todos os problemas desaparecem.

— Misa, vamos voltar. Temos de arrumar nossas coisas, partiremos essa madrugada. - Raito pôs-se de pé arrumando a camisa de botão simples e branca. Olhar ele de baixo, iluminado pela luz alaranjada realmente foi um perigo. “Se L não existisse na minha vida, seria você”, pensei de uma maneira bem egoísta.

Como o moreno pediu, voltei para o nosso quarto na espelunca e arrumei minha pequena bagagem. Por um momento, minha mente voou para a Inglaterra. “Mello, L, o que estarão fazendo agora?”.


— AAAAAAAAAAAH, SUAS FILHAS DA PUTA! - Gritei inconscientemente quando senti a água gelada tocar todo o meu rosto e cabelo recém-arrumados. - VOCÊS TEM NOÇÃO DO QUANTO É DIFÍCIL ARRUMAR A PORRA DESSE CABELO?!



— Mihael-san, não sei se percebeu, mas não temos pais. Ou seja, “filhas da puta” certamente não somos. - Na intenção de me provocar, comentou uma pirralhinha baixa e esguia.


— AGORA VOCÊS VÃO VER! - Segurei todos de uma vez em meus braços e os joguei na lagoa logo em frente. Por sorte eram todos magérrimos. - E não se esqueçam de usar o sabonete! - Gritei voltando para a beira e me acomodando ao lado de Near, que novamente, remontava aquele maldito quebra-cabeça.

— Você deve estar pensando agora: por que “porra” ele nunca para de remontar esse quebra-cabeça? - CARALHO AGORA ELE SABE LER MENTE! Na verdade, eu não me surpreendo mais com esse garoto.

— Bom, nem estava pensando nisso... E crianças não devem falar palavrões. – Esse sou eu tentando parecer superior. - Você não vai tomar banho com elas?

— Não quero. Não sei bem como... - E mais uma vez, ele completou o quebra-cabeça, o desfez e recomeçou.

— Sabe Near, no começo é complicado, mas se você tentar e tentar e conseguir uma, duas, três vezes, chega uma hora que você faz as coisas e nem percebe mais ou sente dificuldade.

O pequeno me olhou estranhado, curioso. Será se eu havia dito algo errado?

— Está falando das... Relações humanas? - Por um momento, o escutei soluçar.

— Bom, na verdade... Falava do quebra-cabeça. - Comecei a rir histericamente enquanto ele me observava sem demonstrar uma gota de emoção. Confesso que falava das relações humanas.

Eu não sou a melhor pessoa pra falar dessas coisas, até um tempo desses eu só sabia odiar os outros, então quem era eu pra falar como alguém deve fazer pra se tornar amigo de outro alguém? Mas de certa forma, ali eu conseguia ser eu mesmo. E observando Near, eu percebi que havia no mundo pessoas mais “em apuros” do que eu. Ele me olhava na intenção de passar nenhuma emoção, em um primeiro momento eu cheguei a acreditar que ele fazia isso de propósito como forma de se defender do negro mundo que o cerca (incluindo a mim), mas não, era involuntário. Near simplesmente não sabia como se portar diante dos outros.

Voltamos para dentro. Enquanto eram servidas xícaras de chocolate quente para todos, inclusive para mim, as crianças iam se ajeitando na sala para a última chamada que L faria naquele final de semana. Ouvi uma delas comentar que L nunca conversou tanto com elas, ele geralmente fazia uma e, no máximo, duas chamadas. Mas naquele final de semana foi diferente, ele já havia feito sete chamadas. Não demorou muito para elas chegarem a uma conclusão coerente: Misa Amane.

— Tsc, até aqui tenho que ouvir o nome dessa encrenqueira. - Sussurrei baixinho pra não atrapalhar a tal chamada pelo notebook.

Finalizado o circo, o macaco-homem pediu para que eu retornasse para a sala onde ele estava, provavelmente ia me pedir alguma idiotice, tipo “qual o melhor chocolate pra se ralar por cima de um café?”, era óbvio que o ao leite é o melhor que fica com café, mas dane-se, qualquer chocolate é legal. Falando nisso, hoje não estou me sentindo muito bem.

— Mihael-san, finalmente apareceu. Passou todo esse final de semana desaparecido, se eu chegasse ao Japão sem você ao meu lado, Misa provavelmente me mataria hahaha – “Olha, você é um idiota, mesmo que eu não lhe diga isso, ESTÁ ESTAMPADO NOS MEUS OLHOS!”, pensei. - Enfim, tem algo que eu quero lhe mostrar.

O louco pré-diabético retirou de baixo de um travesseiro (de onde esse travesseiro saiu, afinal?) uma espécie de desenho. O tomei em minhas mãos e tive uma baita surpresa.

— Todos no orfanato são meio antissociais, faz parte da preparação deles. Pessoas que interagem com outras pessoas, quase sempre se descuidam de seus objetivos principais... Mas Near sempre foi o pior de todos nesse quesito, o que coincidentemente o torna melhor na linha de minha sucessão. Enfim, ele está sempre isolado, nunca troca uma palavra com ninguém e poucas vezes comparece às aulas... - Como ele fala! - Reparei que esses dias ele tem mudado um pouco, foi até o lago hoje pela manhã com você e as outras crianças. Pedi para Watari ir ao quarto dele, pois ele sempre deixa construída lá algo extraordinário com pecinhas de brinquedo... Surpreendi-me quando soube que não havia nada, apenas este desenho. Observe-o bem...

O desenho era realmente estranho. Um pequeno garoto branco de cabelos bagunçados e um bonequinho em sua mão direita, seria Near? Ele teria se auto-desenhado? Mas o mais estranho era o garoto alto e loiro ao seu lado, segurando a sua mão esquerda, e na outra mão do loiro alto e esguio, uma barra de chocolate. Não havia dúvidas, era eu.

— O que significa isso? - Perguntei ainda confuso.

— Significa que até Near não pode viver sozinho para sempre. Significa que depois de Misa Amane entrar na minha vida, eu comecei a enxergar o mundo com outros olhos, não vivi mais isolado. Não havia mais razão para isso, o mundo é muito grande para andarmos sozinhos por aí. Até Near pensa assim agora... Você não acha Mihael-san? - Eu não sabia bem o que “achar” ou o que pensar. Apenas dobrei o desenho e o coloquei no bolso da frente de minha camiseta. Fui para o meu quarto e passei o restante da tarde, até o momento de partirmos pela noite.

Já estava tudo preparado, esperamos as crianças dormir para sair pelos portões da frente. Até hoje eu não entendi bem porque Misa me mandou nessa viagem, e eu nunca saberia, já que Near fez 1% a mais de pontos que eu no nosso jogo das perguntas.

— Bom, vamos indo... - PORRA, O HOMEM-MACACO QUE VAI PILOTAR ESSE HELICÓPTERO?

— Espere, me esqueci de algo... - Eu não estava realmente querendo fazer aquilo, mas não poderia sair sem antes me despedir.

Lembro-me de ter o visto entrar no último quarto do corredor, que, aliás, era o único com as lâmpadas acesas. Fiquei alguns instantes parado em frente à porta, até tomar a coragem de pôr o meu desenho por baixo dela, mandando-o para dentro.

— Tchau, Near... - Sussurrei enquanto me preparava para sair dali para sempre.

— Tchau... Mello. - A voz baixa que saíra da porta me fez sentir calafrios, mas mesmo assim, não pude deixar de rir discretamente.

O que estava acontecendo comigo, afinal? Que sentimento eram aqueles? Que sensação era aquela? Como se me faltasse um pedaço...

— Tsc, deve ser a falta de chocolate.

Descasquei a embalagem de uma barra do chocolate amargo que eu carregava no bolso da calça e o mordi satisfeito. Aquele final de semana, no fim das contas, realmente valeu a pena. “Obrigado, loira estúpida”, pensei secretamente entrando no helicóptero e me preparando para finalmente voltar para casa.


“Caramba, que viagem legal!”, pensei me enroscando na água quente do banheiro. Deixei que ela seguisse o seu percurso pelo meu corpo, encharcando o meu loiro (e imundo cabelo). Depois do delicioso banho, vesti a primeira camiseta que achei no armário e me joguei na cama. “Como é ruim não andar cheirando a doces”. Segurei o telefone por alguns instantes na mão, nenhuma chamada ou sms. Já estava preocupada, mas deixei meus pensamentos voarem. Finalizei uns exercícios para a semana, e refiz alguns trabalhos atrasados. Estava satisfeita comigo mesmo, resolvendo questões digna de um fim de curso universitário. “Já que eu não ganhei beleza, Deus foi justo quando me deu um cérebro!”, risadas. Preparei uma tigela de brigadeiro com sorvete e voltei para os exercícios. Como é bom o silêncio do meu apartamento. Fazia um tempo que eu não me curtia assim, quer dizer, fazer exercícios complicadíssimos e comer porcarias até a barriga pedir arrego era uma forma de diversão individual. Qual é, cada louco com suas loucuras!



O tempo passou depressa, estava tão exausta da viagem que dormi sobre os livros. Tive de acordar com o celular chamando. Sempre Troublemaker, meu querido toque.


— Alô... - Tão sonolenta que não me dei o trabalho de olhar o número.

— Loira azeda desgraçada que eu odeio mais que tudo nesse planeta, é você? - Confesso que entendi até o “azeda”, mas sendo quem era, não foi difícil deduzir que o restante da frase eram esses insultos.

— Ué...

— Tô ligando pra dizer que chegamos agora da Inglaterra. Vou te mandar o relatório por email. E ah, Misa, só uma coisa que você precisa saber: eu percebi que o seu homem macaco tem certa fixação doentia em você, então, só um aviso... Tome cuidado com tudo que você faz, inclusive com ligações ou coisas que você diga em horas desnecessárias... Bom, não quero te assustar nem nada... Enfim, vai se fuder. - Fim de chamada.

Não entendi bem o que ele quis dizer, mas aceitei de bom grado (menos o “vai se fuder”). “Vamos voltar para o meu maravilhoso mundo dos campos de morangos para sempre...”, e voltei a dormir.


Tóquio, bairro nobre da cidade. 04h52min AM.




— Ainda está acordado, senhor? - Olha quem fala.




— Ah sim Watari, estou resolvendo uns casos atrasados... - O café açucarado aliviava a vontade de dormir.


— Então aproveitando a oportunidade... O senhor foi requisitado para resolver um pequeno problema aqui mesmo dentro do Japão...

— Se for pequeno mesmo, posso dar um jeito nele agora mesmo. Vamos, me passe. - Estendi o braço e o homem imediatamente me deu a pasta com os dados do tal problema. - Vamos analisá-lo... Hm, roubo de um documento muito importante para uma das famílias mais importantes do país... Se o roubaram de uma família muito importante, então a segurança com certeza era de primeira. Mas não foi o suficiente, os ladrões foram melhores... Darei uma olhada nisto depois, aliás... Diga à eles que L está no caso.


Continua...







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