A brisa noturna fez os cabelos loiros de Felix dançarem ao vento, enquanto Bang Chan sorriu ao reconhecer o suave aroma do shampoo que ele costumava usar.

— Morango? — Perguntou Bang Chan. 

— O que? — Felix soltou os binóculos e olhou para Bang Chan. 

— Seu shampoo, é de morango? 

— Ah — Felix deu risada — É de frutas vermelhas. Se quiser eu te empresto.

— Obrigado, mas acho que esse cheiro combina mais com você. É um cheiro gostoso. 

Felix deu risada e balançou a cabeça negativamente. 

— Gostoso? 

— Espera, não nesse sentido! 

— Fique tranquilo, eu entendi o que você quis dizer. 

Felix ajustou os binóculos, observando atentamente o alvo enquanto estavam no telhado do prédio, ocultos e monitorando a movimentação no palácio de Lee Min Ho.

A pedido de Hyunjin, eles estavam na trilha de Min Ho desde que ele assumiu o controle daquela ilha. Embora não fosse um lugar fácil de alcançar, isso não preocupava Felix, já que ele era um dos raros anjos com asas. No entanto, suas asas só se manifestavam quando necessário, permitindo-lhe viver entre os humanos sem atrair atenção.

Felix podia entrar e sair da ilha sem ser detectado, e Bang Chan sempre o acompanhava nessas missões. Voar abraçado a Felix era uma experiência que enchia o coração de Bang Chan de pura felicidade.

— O que temos hoje? — Perguntou Bang Chan. 

— Está tudo tranquilo por enquanto — Respondeu Felix olhando através de seu binóculo. 

Depois de uma hora, era a vez de Bang Chan assumir a vigília, enquanto isso, Felix retirou uma garrafa térmica de sua mochila e serviu café em dois copos descartáveis, entregando um a Bang Chan.

— Café? 

— Sim, esse é o segredo da felicidade — Felix deu risada. 

Um silêncio envolveu os dois, Bang Chan tomou seu último gole de café e agradeceu. A bebida quente lhe deu energia e ânimo; não sabia se Felix havia colocado alguma magia na bebida ou se era apenas a boa e velha cafeína fazendo efeito.

— Não acha engraçado sermos anjos das características que falhamos? — Bang Chan quebrou o silêncio. 

— Por que acha isso? 

— Hyunjin por exemplo, é o Anjo do Amor, o cupido em pessoa, e faz anos que tenta conquistar o Innie mas falha miseravelmente. Eu sou o Anjo da Paz, mas vivo em tormento. E você…

— O que tem eu? — Felix fechou o cenho. 

— Você tem medo de ser feliz apesar de ser o Anjo da Felicidade. 

— Eu não tenho medo de ser feliz. 

— E você é feliz? 

— Ser feliz e não ter medo de ser feliz são duas coisas diferentes. 

— Você precisa dar uma chance à felicidade. 

— Nossa, que auto estima de milhões. Você acha que só vou ser feliz se aceitar você no meu coração?

— Não foi o que eu quis dizer. Não estou falando só de mim, eu amo você e não vou desistir da gente porque sei que você também me ama. Mas estou de tudo, você foge ao menor sinal de felicidade pra você mesmo. 

— Eu não preciso ser feliz, eu preciso fazer com que as pessoas sejam felizes.

— Me dói o coração ver que você pensa assim. Você merece ser feliz como qualquer outra pessoa, e eu queria fazer parte disso — Bang Chan sentiu uma dor no peito tão forte que parecia física — Não entendo porque você me afasta tanto.

— Você me causa tristeza. Olha só que trágico, eu te amo, mas você me traz um sentimento de tristeza tão grande que eu não consigo respirar. Não posso ficar com você, vou adoecer se isso acontecer. Sou o Anjo da Felicidade, e preciso me manter feliz de alguma forma — Felix sentiu um nó na garganta.  

Bang Chan não conseguiu proferir uma palavra sequer. Seu corpo parecia petrificado e seu coração, como se parasse aos poucos. Uma sensação de morte interior o consumia. Não encontrava paz dentro de si; tudo era uma bagunça. Felix já havia tido uma conversa séria com ele, mencionando esse sentimento ruim que Bang Chan lhe causava - uma tristeza mórbida e inexplicável, que nenhum deles entendiam. Era um mistério que ambos tentavam tolerar como podiam.

Felix amava Bang Chan intensamente, mas era atormentado por essa inexplicável tristeza toda vez que se aproximava dele. Esse sentimento cruel impossibilitava qualquer tentativa de relacionamento. Felix chegou a considerar a possibilidade de algo ter acontecido entre eles quando eram humanos, o que teria desencadeado essa tristeza inexplicável. No entanto, tudo isso eram apenas suposições, já que não tinham nenhuma lembrança do passado.

— Tudo o que eu mais queria nesse mundo é fazer a pessoa que amo feliz — Bang Chan limpou as lágrimas silenciosas que caíam de seus olhos. Olhou para Felix e sorriu com tristeza — Eu te amo Lix, e isso nunca vai mudar. 

 — Eu também te amo Channie, mas esse amor me causa uma tristeza tão grande, e eu nem mesmo sei o porquê — Felix segurou o rosto de Bang Chan e limpou suas lágrimas — Precisamos manter o mundo um lugar pacifico e feliz, mas nós não podemos ser feliz e muito menos estar em paz. Isso é injusto demais. 

— Eu não quero nada disso. Não quero mais me preocupar com o mundo — Bang Chan sussurrou — Eu só quero você. 

— Não diga isso — Felix falou com um tom de voz baixo, como se temesse que alguém ou algo os escutasse. Suas mãos acariciaram com ternura o rosto de Bang Chan  — Temos uma missão e não podemos falhar. O mundo depende disso. 

— Lix… — Bang Chan já não conseguiu mais conter as lágrimas — Por que eu causo tanta tristeza em você?

Felix sorriu com ternura, mas mesmo assim, uma tristeza sufocante se apoderou de seu coração enquanto mantinha contato físico com Bang Chan. Mesmo sentindo essa dor, ele o beijou, ansiando sentir os lábios de Bang Chan contra os seus. No entanto, apesar do amor presente naquele momento, Felix sentiu as sombras invadindo seu coração. Seu corpo pareceu ficar mais pesado a cada segundo, e uma sensação de fraqueza e medo se apoderou dele. Era como se uma doença terrível sugasse toda a sua força e vontade de viver. Percebendo esse enfraquecimento, afastou-se de Bang Chan, lutando para conter os efeitos sombrios que se apoderavam dele.

— Está tudo bem? — Perguntou Bang Chan, preocupado com a súbita palidez de Felix. 

— Vou ficar. Mas não podemos fazer isso. Mais um pouco e meu coração seria tomado pela tristeza e por sentimentos ruins. Você sabe qual o perigo disso acontecer? 

— Lee Min Ho — Bang Chan olhou para o imponente palácio do Anjo da Justiça. 

— Sim, ele iria detectar facilmente as sombras em meu coração e seria o meu fim. 

Bang Chan forçou um sorriso, sentia-se derrotado, desanimado e sem rumo.

— Você está tão perto e ao mesmo tempo tão longe — Disse Bang Chan. 

— Vamos focar na missão, não podemos permitir que sentimentos ruins invadam nossos corações. Nosso adversário sente as sombras e devemos fazer de tudo para evitá-la. 

— Você tem razão… vamos focar na missão. Não temos outra opção. 

Felix pegou os binóculos e observou com atenção uma estranha movimentação no palácio. 

— Chegaram novos prisioneiros — Disse Felix. Bang Chan pegou o binóculo e examinou a fila de homens que caminhavam escoltados em direção ao palácio. 

— São pessoas cruéis, consigo ver pelas suas auras. Não vão durar muito tempo quando estiverem na presença de Min Ho… espera — Algo chamou a atenção de Bang Chan — Veja, quem é aquele? 

Felix examinou os homens até chegar no último da fila. Seus olhos se arregalaram de surpresa. 

— Essa aura… nunca vi nada tão bonito e tão puro. 

— Ele também é um anjo? — Perguntou Bang Chan. 

— Não, é um humano comum. Não há nada de celestial nele. Não entendo porque sua aura é tão pura, nunca vi isso em um humano. No geral, eles têm traços de maldade, mesmo quando são bons. Mas esse é diferente. 

— Me pergunto o que Min Ho fará com ele e porque ele está sendo preso. 

— Sinto que descobriremos isso em breve.