Coração de Sombra escrita por llRize San


Capítulo 8
Justiça e Lealdade




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Lee Min Ho dirigiu a Seungmin um olhar desconfiado, seus pensamentos mergulhados em confusão. Não reconhecia aquele homem à sua frente, nem o rapaz que se postava como um guardião no batente da porta. Nenhuma faísca de familiaridade surgia em relação a Seungmin ou Changbin. Min Ho estava às escuras quanto à sua antiga vida, mas instintivamente sabia que aqueles dois não faziam parte de seu círculo social anterior.

— Preciso que você confie em nós — Seungmin segurou sua mão — Não será uma fase fácil e precisará da nossa ajuda e orientação para trilhar a jornada que foi predestinado. 

— Não acha um tanto injusto eu fazer algo que nunca aceitei fazer? Eu nem sei quem sou, não sei nada sobre mim. Como posso trilhar um caminho que eu não escolhi? 

— Eles escolheram você e por isso você deve cumprir sua missão. 

— Eles quem? 

— Algumas perguntas não tem uma resposta clara. Mas dizendo de forma simples, foram os nossos criadores que nos deram esses papéis que devemos desempenhar. Não podemos questionar, apenas obedecer e confiar que eles tomaram a melhor decisão. 

— Como vou confiar se eu nem os conheço? 

— Não dizem que a fé é cega? 

Lee Min Ho soltou um longo suspiro, sentindo o peso da confusão que envolvia sua mente. Esforçava-se ao máximo para tentar colocar seus pensamentos em ordem.

— Você disse “eles” no plural. Quem são eles? São deuses?

— Sim. Eles criaram tudo o que existe, inclusive os humanos. Para manter o nível de ordem no mundo eles designam alguns humanos para serem os cuidadores da terra, ou como muitos dizem, os anjos. Somos nós que mantemos o equilíbrio entre os seres, algo que já é feito há milhares de anos. Tivemos alguns nomes ilustres que foram anjos, mas os humanos não sabem disso, eles não conseguem enxergar a magia e o sobrenatural que habita entre eles. 

— Seungmin, você é o Anjo da Sabedoria, correto? Porque então não rebela contra Eles? 

— Sou o Anjo da Sabedoria, e não o Anjo da Coragem, minha função é nos manter vivos. Se rebelar contra eles não é uma ideia sábia. 

— E você? — Perguntou Min Ho para Changbin, que estava no batente da porta, de braços cruzados, ouvindo a conversa — O que acha de tudo isso? Concorda com toda essa maluquice? 

— Apenas faço o que é meu dever fazer. Não questiono nada, só obedeço — Respondeu Changbin, em um tom sério. 

— Você é o Anjo da Força, não é? 

— Sim, sou, mas não é da minha natureza lutar contra Eles. Você pensa assim porque está confuso e ainda tem muitos questionamentos em seu coração. Em breve irá aceitar seu destino. 

— Isso não está certo — Min Ho suspirou — Segundo vocês eu sou o Anjo da Justiça, mas sinto que nada aqui é justo, a começar por quem escolheu nossos destinos. 

Seungmin lançou um olhar preocupado para Changbin, incapaz de esconder sua expressão ansiosa. Temia que os incessantes questionamentos de Min Ho pudessem levá-lo a algum perigo desconhecido.

— Eu sei o quanto está sendo difícil pra você — Disse Seungmin ainda segurando a mão de Lee Min Ho —, sei que está confuso e sentindo que perdeu algo importante em sua vida, mas por favor, confie em mim. Eu só quero mantê-lo seguro e pra isso preciso que me escute. 

— Tudo bem — Min Ho suspirou, de alguma forma inexplicável sentia algo bom em Seungmin e também em Changbin, apesar dele parecer um pouco sério. Sentia como se pudesse lê-los de alguma forma — Não tenho pra onde ir, nem sei ao certo o que fazer e de alguma forma sei que vocês não querem meu mal. 

— Isso faz parte do seu novo poder, que ainda está se desenvolvendo. Em breve, você poderá ler o coração de qualquer pessoa, você saberá quem tem o coração bom e quem tem sombras no coração e a partir daí poderá julgar. 

Min Ho balançou a cabeça negativamente, não conseguia aceitar aquilo. 

— Não posso julgar as pessoas. 

— Sim, você pode, não agora, pois ainda precisa treinar suas habilidades, mas em breve irá conseguir discernir quem pode ou não viver. 

— Eu não quero fazer isso — Min Ho olhou para Seungmin, seus olhos marejados, seu lado humano ainda gritava para sobreviver. Seungmin se compadeceu de sua dor, pois sabia que muito em breve seu lado humano iria desaparecer para sempre, e julgar não lhe traria mais nenhum peso moral. 

— Sempre estaremos ao seu lado, você não vai trilhar esse caminho difícil sozinho — Seungmin o envolveu em um abraço reconfortante, e Min Ho se deixou levar pelas lágrimas. Sentiu o toque gentil de Changbin em seu ombro, uma demonstração de apoio silencioso. Aquele foi o último dia que Lee Min Ho chorou. 

 

… Um ano depois …

 

Lee Min Ho estava imerso em sua prática de meditação, uma disciplina essencial para aprimorar seus poderes. Apesar do intenso treinamento conduzido por Seungmin, ele sabia que ainda precisava se aperfeiçoar, especialmente em relação à habilidade de ler pensamentos humanos. Era uma faculdade que, embora poderosa, trazia consigo um fardo emocional significativo. Sentir as profundezas dos sentimentos alheios podia ser perturbador e doloroso. No entanto, Min Ho permanecia firme, sustentado pelo apoio inabalável de seus leais companheiros.

Changbin era o mestre das habilidades físicas, ensinando a Min Ho a arte da luta e da concentração. Ele sempre enfatizava a importância de não depender apenas dos poderes mágicos, preparando Min Ho para desafios além do sobrenatural. Enquanto isso, Seungmin dedicava-se a fortalecer a mente e o coração de Min Ho, orientando-o no caminho da sabedoria e ajudando-o a despertar e controlar seus poderes psíquicos e sobrenaturais.

Além de sua capacidade de ler os sentimentos mais profundos do coração humano, Min Ho possuía o dom de absorver a energia vital daqueles que seus poderes julgavam merecer. Mesmo sem a intenção de extinguir suas vidas, a mera presença de sombras em seus corações era suficiente para desencadear os poderes de Min Ho. Além disso, ele dominava a manipulação e o controle do fogo, cuja chama ardente representava sua justiça inabalável.

Assim como Min Ho, Seungmin conseguia ouvir as vozes do coração humano, não apenas humano, mas qualquer coração aflito e ansioso, mesmo sendo um outro anjo, algo raro, já que os anjos eram criaturas puras e livres de quaisquer sentimentos aflitivos. No entanto, Seungmin dominava seus poderes com maestria, usando-os apenas quando necessário. Ao contrário de Min Ho, cujas dores de cabeça e insônia aumentavam devido ao constante bombardeio dessas vozes. Seungmin mantinha um controle firme sobre seus poderes, evitando ser afetado por eles de forma negativa. Apesar de sua natureza angelical, Min Ho ainda experimentava alguns males físicos humanos, exceto as tribulações de um coração apaixonado - pelo menos na teoria.

Ao longo de mais um ano, Min Ho havia avançado consideravelmente em seus planos ambiciosos. Seu objetivo era estender seu domínio sobre todo o território terrestre, e para isso, ele escolheu uma ilha próxima ao seu país de origem como sede de seu reinado. Agora, a maior ilha do mundo era seu território, um país governado por leis justas e uma liderança aparentemente impecável. Para os olhos humanos, não havia nada de extraordinário acontecendo ali - Min Ho era simplesmente visto como o presidente de tal nação, um líder honesto e virtuoso. No entanto, apenas a Divisão de Operações Anômalas (DOA) conseguia enxergar além das aparências, compreendendo a verdadeira natureza do regime de Min Ho. Hyunjin, ciente do perigo iminente, tentava alertar as autoridades, mas sabia que suas advertências caíam em ouvidos surdos. A maioria das pessoas estava cega para a magia e manipulação que permeavam aquele país vizinho. Hyunjin sentia a urgência de agir antes que Min Ho pudesse causar um estrago irreparável, especialmente considerando que a maioria da população humana tinha sombras em seus corações. No entanto, enfrentar Min Ho não seria uma tarefa simples - seus poderes transcendiam os de qualquer anjo existente na Terra, e os vestígios de sua humanidade anterior haviam desaparecido completamente. Agora, ele era verdadeiramente o juiz da humanidade, e ninguém, especialmente um simples humano, poderia desafiá-lo.

Já de noite, Min Ho e Seungmin compartilhavam uma refeição na ampla sala de jantar do palácio. Enquanto Changbin se dedicava aos seus treinamentos na academia, o que deixava Seungmin visivelmente contrariado. Ele valorizava muito os momentos em que podiam compartilhar as refeições juntos e sentia falta da presença de Changbin à mesa.

— É o jeito dele — Disse Min Ho — Não é proposital. Às vezes Changbin não percebe que faz coisas idiotas. De um crédito a ele. 

— Bin não tem mais crédito nenhum comigo — Seungmin revirou os olhos.

— Minnie, você é o Anjo da Sabedoria, tenha paciência — Min Ho tentou não rir, Changbin era o único que conseguia tirar Seungmin do sério. 

 — Changbin tem a incrível capacidade de me fazer agir como um idiota irracional e desprovido de qualquer sabedoria. 

— Ele é assim, é o jeito dele, não significa que ele não preze nossa companhia. 

— Mas é uma refeição em família, ele deveria estar aqui. 

— O assunto chegou — Disse Changbin entrando na sala de jantar. 

— Não estamos falando de você — Seungmin revirou os olhos e continuou cortando seu bife com toda classe do mundo. 

— Senhor bicudo, antes que você me dê um sermão sobre o jantar em família, eu jantei cedo pois decidi treinar a noite essa semana. 

— Faça o que quiser.

Min Ho tentou conter o riso, achava engraçado quando Seungmin agia com deboche. 

— Bom, de qualquer forma, só vim avisar que trouxeram alguns prisioneiros. 

— Prisioneiros? — Min Ho levantou-se, curioso.

— Sim, pessoas aparentemente de má índole. Eles entraram clandestinamente no país, talvez querendo uma vida melhor, como já aconteceu muitas vezes. 

A ilha sob o domínio de Min Ho era considerada o paraíso na Terra, um lugar onde a vida florescia e a criminalidade era praticamente inexistente. Tal reputação atraía muitos que desejavam viver em um lugar tão próspero e pacífico. No entanto, a maioria dos que tentavam entrar eram pessoas com corações sombreados pela maldade, e a simples presença de Min Ho bastava para que encontrassem seu fim.

— Vou dar uma olhada nos novos inquilinos indesejáveis — Disse Min Ho ao sair da sala de jantar. 

Quando Lee Min Ho chegou ao amplo pátio da recepção, lançou um olhar sobre os prisioneiros detidos. Alguns homens que trabalhavam no palácio os vigiavam atentamente. Embora os prisioneiros estivessem soltos, nenhum deles ousava sequer considerar a ideia de fugir.

O grande salão daquele palácio exalava grandiosidade e requinte, um verdadeiro testemunho do poder e prestígio da monarquia. Ao adentrar, eram recebidos por uma atmosfera majestosa, onde a ostentação do passado medieval se entrelaça harmoniosamente com a elegância contemporânea. A combinação única desses elementos criavam um ambiente imponente e singular.

O salão era espaçoso, destacando-se pelos detalhes em ouro que adornavam os arcos e contornavam os pilares, conferindo um toque de opulência à sala. No centro do salão, haviam três tronos imponentes, cada um representando a autoridade de um membro daquela até então, realeza. Lee Min Ho, o Anjo da Justiça, ocupava o trono do meio, flanqueado por Seungmin e Changbin, que ocupavam tronos igualmente adornados ao seu lado.

A decoração medieval, com tapeçarias ricamente bordadas e candelabros suntuosos, contrastava de maneira fascinante com elementos mais modernos, como lustres de cristal e detalhes arquitetônicos contemporâneos. O chão era revestido por um tapete luxuoso, estendendo-se por toda a extensão do salão, marcando o caminho para o poder e a majestade presentes naquele espaço singular.

A iluminação suave criava uma atmosfera de sofisticação, destacando as ricas texturas das cortinas pesadas e dos móveis esculpidos com detalhes intrincados. O salão era uma fusão equilibrada de dois tempos distintos, onde o esplendor da realeza medieval se mesclava de forma harmoniosa com o refinamento da era contemporânea, proporcionando um cenário imponente para as decisões e julgamentos de Min Ho e seus conselheiros.

Min Ho lançou um olhar penetrante sobre todos aqueles homens, consciente de que cada um deles abrigava terríveis maldades em seus corações. Seungmin chegou logo em seguida, acompanhado de Changbin. Os dois permaneceram parados no altar, observando atentamente o desenrolar dos acontecimentos.

Caminhando a passos lentos, Min Ho avançou na direção dos prisioneiros, que instintivamente abriram caminho para ele passar, formando um corredor à sua frente. À medida que Min Ho avançava, os homens caíam ao chão, sem vida, como se uma força avassaladora emanasse dele, incapaz de ser resistida. Um a um, eles sucumbiram sem que Min Ho fizesse o menor esforço, sem sequer tocá-los, apenas com o seu poder telepático. Continuou avançando até chegar diante de um rapaz que permaneceu de pé, visivelmente assustado, mas fisicamente ileso.

Com o cenho franzido e perplexo por não entender como seu poder não afetava aquele rapaz, Min Ho parou diante dele e o encarou intensamente. O rapaz, apesar de visivelmente assustado, forçou um sorriso, como se estivesse lutando pela própria vida.

— Quem é você? — Lee Min Ho estava intrigado — Como se chama? 

— Jisung, Han Jisung, Senhor. 


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Notas finais do capítulo

Hannie chegou pra desestruturar nosso Anjo "sem coração"...



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