Dark Entries escrita por KendraKelnick


Capítulo 2
Capítulo 2 – Mistério S/A




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Capítulo 2 – Mistério S/A

Campus da Universidade de Darrow, Crystal Cove, 5 de janeiro de 2023.

7:00 am

Velma acordou antes do despertador tocar. Em poucos minutos, ela se arrumou e preparou o café da manhã, pois sabia que somente o cheiro de comida convenceria Shaggy a acordar em uma manhã tão fria. Porém, desta vez, apenas Scooby-Doo a acompanhou durante a refeição, aparentemente seu namorado sonolento não tinha intenção nenhuma de acordar antes do meio-dia. Antes de sair de casa, ela recebeu uma mensagem de Fred, combinando um local e um horário para almoçarem juntos, e tudo o que ela fez foi deixar um recado para Norville e o despertador programado para às 11:30 am.

No caminho até a faculdade, ela se distraiu lendo a publicação sobre o caso Molly Becker no True Crime Forum. De fato, cherryred havia revelado uma informação inédita, e essa informação levantava uma hipótese interessante sobre o crime… mas, ainda assim, era apenas uma hipótese. E Velma odiava saber que hipóteses estavam tomando o lugar merecido que juízes, promotores, advogados e estudantes de Direito ocupavam na resolução de crimes. Então, ela achou que deveria deixar isso bem claro para cherryred e todos os idiotas envolvidos.

“Eu apreciaria ver alguma evidência sobre o que você está falando, cherryred. Ou, pelo menos, gostaria de encontrar alguma razão minimamente lógica pela qual o maníaco de Redding teria contato com um professor de matemática simples de uma cidade pequena. Além do mais, o que Molly Becker tem a ver com isso? Todas as cinquenta vítimas feitas por Keener eram adultos, e a polícia nunca encontrou um padrão entre elas. Enfim, todos sabemos que Roy Keener faleceu há alguns dias, então, obviamente você não tem provas sobre o que está falando. Quero dizer, nada além de seu ego frágil.”, foram as palavras que traduziram um pouco da raiva de Velma, da maneira mais educada possível. Porém, infelizmente, ela não tinha uma conta no True Crime Forum para postar aquilo. Velma Dinkley jamais perderia tempo com algo tão amador. Mas a Mistério S/A tinha. Por isso, sem se preocupar com a opinião dos outros dois membros do time, nem com a futura reputação que o famoso grupo de exploradores urbanos teria naquele fórum após palavras tão duras, ela acessou a conta da Mistério S/A e postou a contestação sem piedade. No mesmo momento que fez isso, o sinal tocou, indicando o início de sua primeira aula na faculdade de Direito. 

Blake Manor, Crystal Cove, 5 de janeiro de 2023.

7:50 am

            Daphne lixava as unhas com impaciência enquanto Jenkins servia o chá e Cosette terminava de arrumar a pequena mesa do café da manhã em seu quarto. Obviamente, a sua inquietação não era motivada pela fome, ela estava apenas ansiosa para acessar o True Crime Forum. Por isso, quando o mordomo fechou a porta, ela logo pegou o MacBook para conferir as novas respostas em suas duas últimas postagens.

            Infelizmente, as postagens dos usuários apenas aumentaram a ansiedade que Daphne sentia. Com mais de mil respostas, o tópico sobre o mistério do pingente da lua tinha ido longe demais. Os usuários haviam identificado o tal oficial da marinha que vivia nas redondezas onde ocorreu o crime: Era Joel Marlow, de 88 anos, que agora morava em Pacific Heights.  Para piorar, a postagem de cherryred havia viralizado na Austrália, e a própria Elandra Mahon havia se juntado à discussão. O coração de Daphne acelerou quando viu as fotos antigas que Elandra postou, pois o pingente de Allyra era mesmo idêntico ao pingente de Jane Doe. “Tenho certeza de que essa moça é Allyra. Eu duvido que outra pessoa no mundo tenha um pingente igual a esse. Estarei em São Francisco na sexta-feira para esclarecer esse mistério de mais de 40 anos. Rezem por mim!”, dizia a última postagem de Elandra. Logo em seguida, usuários postaram fotos do túmulo de Jane Doe, cheio de flores e de cartazes dizendo “Justiça para Allyra Mahon”. Daphne sentiu um calafrio percorrer a sua espinha. Ela ficou tão nervosa que sentiu vontade de apagar a postagem e atirar o computador no rio mais próximo. “Calma, Daphne, você já fez isso mais de sessenta vezes, vai dar tudo certo, ninguém vai descobrir que foi você que vazou a foto do pingente”, ela se tranquilizou, enquanto respirava com calma para controlar o medo que sentia. “E, afinal, você está fazendo justiça para uma vítima e um bem enorme para uma família. Não há o que temer, você está certa!”, ela disse a si mesma, enquanto digitava mensagens de incentivo à Elandra Mahon e agradecia o engajamento da comunidade australiana.

            Felizmente, a postagem sobre Molly Becker tinha recebido menos respostas. Conforme ela havia pedido, os usuários da região de Riverdale haviam apontado James Arthur como o possível assassino da menina. Em seguida, muitas pessoas contribuíram com depoimentos sobre o professor de matemática, até que uma mensagem chamou a sua atenção. Nome de usuário: Mistério S/A. Daphne estremeceu. Mistério S/A era o segundo perfil mais popular do True Crime Forum, e era tão misterioso quanto cherryred. Ninguém sabia quem estava por trás daquela identidade secreta, aparentemente, era um grupo de jovens exploradores urbanos anônimos. E esse grupo foi o aliado indireto de cherryred na resolução dos sessentas casos anteriores: cherryred passava as informações secretas de um caso, Mistério S/A encontrava as evidências necessárias e a polícia resolvia oficialmente o mistério. Entretanto, para a surpresa de Daphne, desta vez, o perfil misterioso não fez nenhuma colaboração relevante para o caso de Molly Becker. Pelo contrário, ele questionou rispidamente a revelação que ela havia feito. “…obviamente você não tem provas sobre o que está falando”, Daphne leu em voz alta, com um tom de voz irritado pelo atrevimento. E o seu coração acelerou de raiva. É claro que ela não tinha provas para esfregar na cara da Mistério S/A. Mas ela tinha como consegui-las. E foi exatamente o que ela fez assim que viu os carros de seus pais deixarem a mansão.

            Daphne: Jenkins, por favor, avise o meu motorista que eu vou me atrasar. Preciso estudar para uma prova e não quero ser incomodada, ok?

            Assim que o mordomo balançou a cabeça afirmativamente, Daphne se trancou na biblioteca de Blake Manor para vasculhar os arquivos e diários da mãe. Vinte minutos depois, ela achou uma pilha de cadernos de Nan datados do ano 2000.  A grande parte deles era sobre o caso Roy Keener. Durante uma hora, Daphne folheou obsessivamente os cadernos em busca de alguma prova, mas não achou nada além de informações que ela já sabia, rabiscos incompreensíveis e citações de leis que ela desconhecia. Na última folha do último caderno, as palavras finais escritas por Nan diziam: “¨motivação para os crimes? padrão entre as vítimas?”, perguntas que até hoje permaneciam sem resposta. No mesmo momento, a frustração venceu o entusiasmo inicial e Daphne suspirou. “A motivação é que ele era um psicopata lunático que gostava de matar pessoas, é claro!”, ela pensou com raiva, ao ver o fim das anotações. E, de repente, uma ideia a motivou. “Vamos, Daphne, todas as pistas extraoficiais estão aqui! Você só está cometendo o mesmo erro que o FBI e os tribunais: está deixando algo passar despercebido”, ela pensou, enquanto começou a folhear as páginas novamente. Ao analisar o penúltimo caderno, eureka. Uma foto do braço de Roy mostrava uma tatuagem escrita “Artmann”. Ao lado da foto, Nan havia escrito: Peter Artmann?

            Peter Artmann era um nome que Daphne não conhecia, por isso ela logo buscou por ele na internet. “Peter Artmann foi um médico americano adepto da eugenia, que ficou famoso por seus estudos controversos sobre raças humanas”, foi a primeira frase que ela leu a respeito dele, e logo ela soube que estava no caminho certo. Afinal, racismo era o único padrão que unia todas as vítimas de Roy, pois nenhuma delas era branca. E Molly também não era branca. “…após lecionar na Universidade de Boston, Artmann viveu seus últimos anos na Califórnia, na pequena cidade de Riverdale…”, a cada palavra reveladora que Daphne lia, seu coração acelerava. “…onde morreu em 1962”, e de repente, toda a emoção se foi. Peter estava morto há muito tempo, e Roy nasceu em 1969. Não havia como eles se conhecerem. “Você está deixando algo passar”, Daphne repetiu mais uma vez para si mesma. “Bem, se Peter teve filhos, ele pode ter deixado herdeiros para propagar a sua ideologia nojenta”, ela pensou, enquanto procurava por herdeiros de Artmann na internet. Infelizmente, ela não encontrou nada. Também não encontrou nenhum livro, escrito por ele, que pudesse perpetuar suas crenças hediondas. “Você realmente está deixando algo passar!”, ela insistiu. E decidiu que era hora de recorrer aos arquivos do pai, chefe do FBI. “Se havia algum monstro espalhando ideias racistas pelo país, certamente o FBI estava sabendo disso”, ela concluiu.

            A extensa busca por Artmann nos arquivos pessoais de Bart Blake demorou duas horas, e ao fim, Daphne sentiu que foram as duas horas mais inúteis que ela já viveu. Realmente, não havia respostas em lugar nenhum.  Fim da linha para ela. Cherryred finalmente havia sido refutada. Ela sabia que, um dia, esse momento chegaria, mas não esperava (nem gostaria) que fosse tão logo. Seu ego, obviamente, estava ferido, e formulava ideias loucas de como ela poderia roubar mais informações de seus pais em seus ambientes de trabalho. “Bem, mamãe é um pouco distraída, mas papai nunca seria estúpido de deixar anotações sobre algo tão sério aqui em casa… esse é o tipo de assunto que deve ser confidencial”, ela pensou. E, logo em seguida, teve uma grande ideia. “Exatamente! Isso é um assunto secreto! Um filho de Peter Artmann jamais iria querer que as pessoas soubessem quem era o pai dele!”, Daphne pensou em voz alta. E, imediatamente, ela começou a procurar por processos de mudança de nome nos sites de tribunais estaduais. Após uma hora de buscas em vão, ela encontrou algo precioso: Em 1990, ao se mudar para a Califórnia, um homem chamado James Artmann pediu para mudar seu nome para James Arthur. O motivo da mudança era que seu sobrenome lhe constrangia.

            Daphne soltou um pequeno grito de alegria após a descoberta. O êxtase aumentou quando ela encontrou a certidão de nascimento de James Arthur em sites de genealogia – e confirmou que o professor de matemática era mesmo filho do médico cruel. Com tantas evidências em mãos, não foi difícil para Daphne construir uma resposta à Mistério S/A, sugerindo que a provável ligação entre os crimes cometidos por Roy e o suposto assassinato cometido por James eram suas ideias eugenistas. “Aqui está a razão minimamente lógica que você pediu, Mistério S/A. Obviamente, você duvidou de mim sem sequer pesquisar sobre James Arthur. Agora, quem gostaria de provas sou eu. Eu apreciaria se você conseguisse encontrar alguma evidência de que James tinha as mesmas ideias que o pai. Ou de que Molly fez algo que machucou o coraçãozinho racista de seu professor.”, Daphne terminou o texto infantilmente, copiando e ironizando a mensagem original. Não satisfeita com isso, ela voltou à postagem do mistério do pingente da lua e continuou com suas provocações: “O local onde Jane Doe foi encontrada está abandonado, Mistério S/A. Eu apreciaria se você fosse até lá e encontrasse alguma evidência que tornasse minimamente lógica a nossa hipótese de que Jane Doe é Allyra Mahon”, ela sorriu ao terminar de escrever. Após arrumar toda a bagunça, Daphne deixou a biblioteca e desceu as escadas.

            Daphne: Jenkins, por favor, avise meu motorista que eu estou pronta.

Campus da Universidade de Darrow, Crystal Cove, 5 de janeiro de 2023.

12:00 am

            Ao deixar a sala de aula, Velma viu duas notificações em seu celular. A primeira era uma mensagem de Fred, avisando que atrasaria dez minutos. A segunda era uma notificação do True Crime Forum, dizendo que a mensagem postada por ela havia sido respondida. Velma leu as novas mensagens enquanto caminhava até o café onde iria se encontrar com os garotos,  e sentiu seu sangue ferver de raiva ao perceber que foi alvo das ironias de cherryred. “Quantas visitas íntimas a Roy Keener você teve que fazer para conseguir uma foto do braço dele?”, foi a primeira resposta que Velma digitou antes mesmo de terminar de ler a mensagem, deixando-se levar pela emoção. Felizmente, o bom-senso a fez deletar suas palavras logo em seguida e a incentivou a ler até o fim. Quando a garçonete trouxe a bebida que ela havia pedido, e ela bebeu um gole de suco e tentou se acalmar antes de escrever qualquer coisa. “Sua linha de raciocínio sobre o caso Molly Becker é impressionante e impecável, cherryred, mas não prova que Roy disse algo sobre o assassino da garota”, foi a mensagem agressiva mais amena que Velma conseguiu escrever. Porém, ao clicar em enviar, ela ouviu o namorado se aproximar e gritar seu nome com raiva.

            Shaggy: VELMA! Tipo, por que diabos você fez isso, você não tinha o direito de fazer isso!

            Velma: Fazer o quê, Norville?

            Shaggy: Usar nosso VOCÊ SABE O QUE para responder VOCÊ SABE QUEM no VOCÊ SABE AONDE!

            Velma revirou os olhos impacientemente ao ouvir as palavras infantis do namorado, porém, ele não se intimidou com o desdém dela.

            Velma: E por que eu não poderia? Afinal, você mesmo disse que a conta é nossa…

            Shaggy: É, tipo, mas nós somos uma equipe, e você não tem o direito de acabar com a reputação da VOCÊ SABE O QUE no VOCÊ SABE AONDE!  Se o VOCÊ SABE QUEM parar de postar a culpa é sua!

            Velma: Seria ótimo se ele parasse de postar, o mundo já está cheio de pessoas espalhando mentiras por aí…

            Velma foi interrompida bruscamente pela garçonete, que trouxe toda a comida que ela havia pedido para o almoço – inclusive um pequeno bolo de aniversário para Fred. A mesa cheia fez com que toda a agressividade de Norville desaparecesse, e ele esboçou um pequeno sorriso enquanto pegou uma batata frita. Ao ver o seu tutor comendo, Scooby-Doo fez um barulho de choro e tentou se soltar da coleira que o prendia a um poste na calçada.

            Velma: … e eu não fiz nada de mais, Norville, eu só pedi provas. Fofocas e rumores não resolvem crimes! Se ele quer humilhar a justiça americana, ele tem que ser melhor do que isso…

            Shaggy prestou mais atenção no hambúrguer que devorava do que na discussão que a namorada insistia em continuar, por isso, apenas balançou a cabeça afirmativamente e continuou a comer. Velma suspirou com desdém e entendeu que a conversa havia definitivamente acabado. Quando ela foi checar o relógio para ver quantos minutos Fred estava atrasado, ela viu o carro dele estacionar em uma vaga. A noiva dele, Alice May, estava no banco do passageiro, e Velma entendeu o motivo do atraso – e o motivo pelo qual Fred ficaria poucos minutos com seus amigos. Ao passar pela entrada, Fred cumprimentou Scooby-Doo, e Velma fez questão de se levantar da mesa para recebê-lo com um abraço apertado e um beijo no rosto – e para fazer Alice May ver aquela demonstração pública de afeto. Após terminar um hambúrguer, Shaggy cumprimentou o amigo com as mãos sujas de ketchup.

            Velma: Eu achei que tinha comprado esse bolo em vão…

            Fred: Não! Nunca! Eu disse que viria… meu aniversário não seria o mesmo sem vocês… é que surgiram uns imprevistos, os pais da Alice também marcaram um almoço agora e…

            “…e você não pode ficar com os seus amigos no seu aniversário só porque aquela vadia não quer”, foi a resposta mental que Velma deu a Fred. Mas como não podia verbalizá-la, ela simplesmente revirou os olhos com impaciência e ficou de mal-humor. Fred se sentiu desconfortável de terminar a frase e magoar a amiga, por isso se calou. Ao ver a tensão desnecessária criada pela namorada, Norville parou de mastigar e sorriu.

            Shaggy: Tipo, não tem problema, cara! Mais tarde a gente comemora!

            Fred sorriu ao perceber que o amigo não ficou zangado, mas o sorriso dele não desfez o mal-humor de Velma.

            Fred: Ótimo. Que bom que vocês vão… eu busco vocês às 10 da noite?

            Shaggy: Tipo, a Velma não quer ir, mas eu vou com o Scoob…

            Velma: É claro que eu quero ir, Norville! Mas é a última vez que irei fazer isso!

            Fred: Você vai? Puxa, eu esperava ganhar meias de presente, não a Mistério S/A completa explorando lugares abandonados…

            Velma: Não se sinta especial por isso, eu não vou por você… eu só quero realmente provar que a minha teoria sobre o caso Molly Becker está certa… seria uma ótima experiência para a minha futura carreira…

            Shaggy: Tipo, que nada, ela quer ir porque cherryred a humilhou no True Crim… quer dizer, tipo, VOCÊ SABE QUEM a humilhou no VOCÊ SABE ONDE…

            Velma suspirou com desdém e Fred riu da atitude dela.

            Fred: Eu imagino… afinal, a cherryred tem mesmo um ego bem frágil…

            Os dois garotos riram enquanto Velma fez uma careta.

            Velma: Eu quero ver a cara e o ego de vocês quando esse cara for pego pelo FBI por vandalizar a justiça americana… quando vocês perceberem que estão seguindo um psicopata da pior espécie, vocês saberão o que é humilhação…

            Fred: Um psicopata? Não, cherryred é uma mulher, e ela deve ser do próprio FBI…

            Shaggy: O que? Tipo, nada a ver! É um cara… tipo, ele escreve como um cara… ele não escreve de maneira fofa como as garotas…

            Fred: Não, é uma mulher. Ela é muito observadora e sente empatia pelas vítimas, coisas tipicamente femininas…

            Shaggy: Tipo, mas mulher geralmente não se interessa por crimes! Sobre o que as garotas geralmente falam? Maquiagem!

            Fred: Já ouviu falar em Agatha Christie?

            Velma suspirou propositalmente de maneira alta para interromper aquela discussão antes que ela ficasse pior.

            Velma: Eu adoraria opinar, mas o machismo e a estereotipação de gênero ridícula de vocês dois fez todos os meus neurônios se suicidarem…

            Fred: Realmente, é hora de parar, Shags. A Velma até começou a falar em línguas estranhas… no caso, o idioma democrata…

            Os dois garotos riram novamente, mas Fred logo ficou sério. Ele percebeu que Alice estava vindo em sua direção, o que significava que ele havia demorado mais do que os minutos prometidos. Ao se levantar, ele beijou o topo da cabeça de Velma e novamente apertou a mão suja de ketchup do amigo. Antes de deixar a mesa, ele argumentou novamente.

            Fred: …o pseudônimo diz tudo: cherryred. Ela é ruiva, bonita, inteligente e faz parte do FBI, como Dana Scully.

            Shaggy: Que nada! Tipo, o cara só quer falar que ele é a cereja do bolo! Tipo essa cereja aqui, que tá por cima de todo esse bolo… o cara sabe de tudo, está acima da lei…tipo o unabomber…

            Antes de deixar o Café, Fred fez um sinal de positivo com o polegar para ridicularizar a teoria do amigo. Shaggy respondeu mostrando o dedo do meio, e logo em seguida, olhou patetamente para a namorada que o olhava com reprovação.

            Velma: É como eu disse, eu realmente preciso construir chapéus de alumínio para vocês dois…

            Shaggy: Aproveita e compra papel alumínio para a gente guardar esse bolo também… tipo, que pena, o Fred nem comeu um pedacinho…

            Shaggy, então, lançou um olhar piedoso e canino para a namorada, esperando que ela sentisse compaixão e permitisse que ele comesse o bolo. Velma suspirou e riu da cara dele.

            Velma: Seria um desperdício, pois nós dois sabemos que esse bolo não irá sobreviver até o fim desta tarde na nossa geladeira…

Campus da Universidade de Darrow, Crystal Cove, 5 de janeiro de 2023.

10:30 pm

            Fred estava 30 minutos atrasado. Ao olhar as fotos recentes dele no Instagram, Velma entendeu que a culpa era de Alice. Antes que ela pudesse digitar uma mensagem o apressando, ela ouviu um carro buzinar do lado de fora. Scooby-Doo se animou com o barulho e correu entre os móveis da sala – para o desespero de Velma. Imediatamente, Shaggy pegou a mochila cheia de equipamentos e segurou o cão pela coleira, para evitar que ele irritasse ainda mais a sua namorada. Ao ocupar o banco de passageiro, Velma esperou que Fred justificasse a demora, mas ele desconversou.

            Fred: E então? O que sabemos sobre o senhor Arthur além de que o pai dele era pior do que o meu?

            Shaggy: Tipo, que ele era bem bravo… que ele dava detenção para quem não fazia o dever de casa… e que ele dava doces para incentivar quem tinha dificuldades de aprendizado…

            Fred: Quero dizer, além do óbvio, Shags…

            Shaggy: Ah, sim… hehehe… tipo, cherryred disse que ele era racista… mas, tipo, eu sempre vi ele tratando mal todo tipo de gente…

            Velma: EU disse que ele era racista! Ontem à noite, bem antes da teoriazinha desse maluco, eu te disse que ele tinha ideias eugenistas. Eu era uma das crianças brilhantes que frequentavam a casa dele após as aulas, e ele sempre falava umas coisas sórdidas para nós, do tipo: “vocês são o que há de melhor na raça humana, não se misturem com quem é menos inteligente do que vocês”. E é por isso que eu decidi vir. Eu realmente acho que ele é um suspeito no caso Molly Becker e eu acho que sei a motivação do crime…

            Fred: Mas, de acordo com True Crime Forum, Molly era bem inteligente… por que ela se tornou uma vítima e você não?

            Velma: Porque eu sou da etnia que o Sr. Arthur gostava, e Molly não… pessoas racistas podem ficar com bastante raiva de ver alguém de uma etnia que eles odeiam conquistando prêmios nacionais de matemática…

            A discussão foi interrompida quando o carro parou próximo a uma casa em ruínas totalmente escura. Ao ver Fred descer, Shaggy agarrou o braço de Velma, mas ela ignorou o medo do namorado e saiu. Assim que pegou as lanternas,  Fred abriu a porta para Scooby, e Shaggy foi puxado de dentro do carro pela namorada.

            Velma: Foi você que teve a ideia idiota de vir até aqui, por que está com medo agora?

            Shaggy: Tipo, e se o espírito furioso do Sr. Arthur estiver aí? E se ele nos perseguir? E se ele descobrir que eu colei em todas as provas?

            Velma: Espíritos não existem! E não há o que temer… seremos rápidos, eu sei exatamente onde procurar.

            Fred: Que bom… porque esta casa está desmoronando. Cuidado onde pisam.

            Shaggy se acalmou quando entrou na casa. O cenário decadente e a mobília esquecida o distraíram, e logo ele começou a tirar fotos, fazer vídeos e vagar pelos cômodos. Velma foi mais objetiva. Ao passar pela porta principal,  ela foi direto à porta que levava ao porão e a abriu. Antes de descer as escadas, Fred a impediu, mas ela não parou.

            Velma: Eu sei o que eu estou fazendo! Era aqui que a gente vinha, tem uma sala de aula e uma biblioteca secreta lá embaixo.

            Imediatamente, Shaggy fez uma careta de asco e sinalizou que ficaria no térreo, explorando o local com seu cão. O cenário repugnante do porão escuro, cheio de fungos e teias de aranha, fez Fred estremecer. Mesmo assim, ele seguiu a amiga com cautela, temendo que algo pudesse acontecer com ela. Ao chegar no último degrau, as duas lanternas revelaram que no local havia  uma pequena sala de aula infantil, com mesas, cadeiras e jogos matemáticos. Na parede, havia uma lousa com inscrições de 2016, e ao redor dela, muitos livros.

            Fred: Acho que podemos afirmar que a ano morte do Sr. Arthur é mesmo 2016…

            Velma: Exatamente! E é por isso que estamos aqui. Ele morreu de infarto, uma morte inesperada. O que significa que, se ele fazia algo errado, ele não teve tempo de esconder antes de nos deixar…

            Fred olhou com admiração para amiga, mas ela ignorou o elogio e começou a vasculhar os livros. Imediatamente, ele começou a fazer o mesmo, e vinte minutos depois, Velma encontrou os diários de classe de James Arthur. Ao folhear as páginas do diário do ano de 1997, ela encontrou exatamente o que precisava.

            Velma: Jinkies! Veja, é a assinatura de Molly! O Sr. Arthur nos fazia assinar esses diários ao fim das aulas…

            Jones: Então provamos que Molly esteve aqui em 97…

            Velma: E provamos que havia problemas entre Molly e o Sr. Arthur… veja, ele riscou o nome dela mais de uma vez!

            Fred: Uma atitude estranha e um tanto passional…

            Fred tirou foto do local e dos diários e classe, enquanto Velma continuou procurando por pistas. Os dois só interromperam suas atividades quando ouviram um grito de Shaggy vindo do andar de cima.  Apavorados, eles correram para ajudar o amigo, mas ao chegar na cozinha da casa, eles perceberam que não havia perigo.

            Shaggy: Tipo, vocês não vão acreditar no que eu achei nesses armários! Fruitmeir!

            Velma suspirou alto para demonstrar irritação, enquanto Shaggy abriu um pote de vidro com uma geleia esverdeada dentro e começou a comer. Enquanto isso, Scooby-Doo lambia o restante da geleia de um pote .

            Velma: Você gritou só para avisar que achou essa coisa nojenta que deve ter vencido há uns dez anos atrás?

            Shaggy: Que nada, venceu só há sete anos, estava lacrada, ainda dá para comer…olha só, ainda tá novinho!

            Velma: Norville, isso é nojento de tantas maneiras! A fábrica dessa porcaria fechou em 2018!

            Shaggy: É por isso que eu tenho que aproveitar! Não existe mais Fruitmeier para comprar em lugar nenhum…

            Fred: Fruit…o quê?

            Shaggy: Fruitmeir! É a melhor geleia de tutti-frutti do mundo!

            Velma: Na verdade, é uma geleia de tutti-frutti feita com frutas que certamente foram colhidas em Chernobyl … é nojento!

            Shaggy: É uma delícia! E olha só, eu achei ursinhos de goma também! E achei essas balas açucaradas aqui que o Sr. Arthur dava para os alunos que não conseguiam aprender, tipo eu!

            Velma: Jinkies! Eu acho que essas balas não são açucaradas!

            Fred estava vasculhando um armário quando a exclamação de Velma o fez se aproximar. Sem dizer uma palavra, ela mostrou um pacote de balas fechado, um pote contendo um pó branco fino e inodoro, e outro pote cheio de balas cobertas desse mesmo pó branco. Fred fotografou tudo antes que Velma pegasse o pote de balas e abrisse.

            Shaggy: HEY! A REGRA DA MISTÉRIO S/A É: NUNCA LEVAR OBJETOS         DO LOCAL EXPLORADO! MAS SE VOCÊ VAI LEVAR, SAIBA QUE EU VI ESSE POTE PRIMEIRO!

            Velma: Se eu estiver correta, quem vai levar o pote é o FBI! Isso parece ser arsênico, Shaggy!

            Shaggy levou um susto ao ouvir as palavras de Velma, e soltou o pote de geleira imediatamente. Velma riu e devolveu o pote para ele.

            Velma: Calma, são só as balas que estão envenenadas… a geleia é inofensiva… quer dizer, tirando o fato de que ela venceu há sete anos…

            Fred: Então quer dizer que o Sr. Arthur dava balas envenenadas às crianças que não conseguiam aprender?

            Velma: Aparentemente, sim. E isso é coerente com a ideia maluca que ele tentava nos ensinar: pessoas altamente inteligentes são uma raça superior e não devem se misturar com pessoas… ahn… menos favorecidas intelectualmente.

            Shaggy: Tipo, que imbecil… ele queria matar as crianças que não aprendiam, mas eu tô aqui, saudável e vivinho da Silva…e acabando com o estoque de geleia dele…

            Velma: Aparentemente, ele não queria matar, Shags. Ele só queria impedir que essas crianças chegassem à fase adulta e tivessem descendentes que continuassem a sua linhagem, é assim que esses malucos eugenistas pensam! Agora, digam, quantas crianças que estudaram com a gente ficaram seriamente doentes nos últimos anos? Algumas delas até ficaram inválidas! Todas podem ter sido envenenadas por ele durante anos!

             A teoria cruel de Velma deixou Fred e Shaggy em silêncio por alguns instantes. Ao notar o clima triste entre os amigos, Scooby fez um barulho de choro, mas logo parou para lamber a geleia do pote que estava na mão de Shaggy.

            Velma: Se isso for mesmo arsênico, eu acho que temos indícios o bastante para afirmar que o Sr. Arthur era culpado. Eu vou voltar à biblioteca e tentar achar mais alguma coisa.

            Distraído com as postagens novas do True Crime Forum, Fred balançou a cabeça positivamente enquanto Velma deixou os amigos para voltar à biblioteca subterrânea.

            Fred: Olha só, eu nem tive tempo de perguntar sobre a nossa suspeita de envenenamento! Há algumas horas, três usuários relataram que, estranhamente, alguns alunos do Sr. Arthur ficavam seriamente doentes…

            Ao tirar os olhos do celular, Fred finalmente percebeu a ausência de Velma. Shaggy estava tão entretido com os doces de Fruitmeier que sequer prestou atenção no que ele disse, então Fred decidiu procurar mais evidências. Durante quase uma hora, ele vasculhou os outros cômodos da casa e fez fotos e vídeos para o canal no youtube. Quando terminou, ele desceu à biblioteca, e lá encontrou as prateleiras vazias e Velma no meio de centenas de livros.

            Velma: Infelizmente, a coisa mais suspeita que eu encontrei aqui foi o diário dele, cheio de delírios de grandeza sobre si mesmo e xingamentos contra alunos e pais… é um conteúdo ofensivo, mas eu concordo em alguns pontos… tipo nessa página, em que ele diz que Red Herring é um desperdício de matéria orgânica…

            Fred: É ofensivo, mas não é o suficiente para dizer que ele cometeu um crime motivado por ideais racistas…

            Velma: É, infelizmente nunca conseguiremos provar nossa teoria…não há nada aqui…

            Fred: Bem, fizemos o possível. E talvez seja o suficiente. Talvez as informações e pistas que conseguimos possa ajudar os outros usuários do Forum e os pais de Molly… temos evidências de que ele era racista e pedia para crianças brancas inteligentes não se misturarem com as demais… também temos provas de que ele envenenava as crianças menos inteligentes, então podemos deduzir que ele matou Molly por ela ser fugir dos padrões de “raça superior” que ele idealizava

            Velma: Deduzir não é provar, Fred! Precisamos de provas! Caso contrário, é só uma teoria maluca de internet…

            Velma foi interrompida por outro grito de Shaggy, e por pensar que se tratava de outra descoberta alimentícia idiota, ela não se importou. Porém, segundos após o grito, um grande barulho de desmoronamento ecoou pela casa, e pelo tremor que causou no teto da biblioteca, Fred e Velma entenderam que alguma parede da casa havia cedido. Os dois correram em direção à cozinha e se assustaram ao ver Scooby Doo andando de um lado para o outro e latindo. Ao se aproximar, Fred viu que um grande buraco havia se formado embaixo da pia, dentro de um armário de madeira, e Velma chamou desesperadamente pelo namorado.

            Shaggy: Calma, gente! Tipo, eu tô bem! Eu fui tentar abrir um alçapão embaixo da pia e a madeira do chão cedeu…tipo, relaxa, aqui é só um mini porão cheio de bagunça…

            Velma: Você se machucou? Cuidado, querido, aí deve estar cheio de fungos e pregos enferrujados…

            Fred: Não se mexa, Shags, vou procurar uma corda para tirar você daí…

            Shaggy: Tá tudo bem, gente! Relaxem, eu caí em cima de uns livros e umas roupas… tem até um edredon aqui! Tipo, não parece ser muito fundo, se eu conseguir escalar um pouco você consegue me puxar, Fred.

            Velma: Jinkies! Por um acaso é um edredon com listras rosas e azuis?

            A luz que apareceu na fenda sugeriu que Shaggy estava verificando o que havia ao redor dele. Ao soltar um pequeno gemido de medo, Velma e Fred ficaram apreensivos.

            Velma: Responda, Shaggy! É um edredon listrado que tem o desenho de um arco-íris no meio?

            Shaggy: É… e tipo, tem coisa muito pior aqui…tem uma roupa branca sinistra… você sabe, com um capuz… e olha só, tem até um livro daquele alemão que tinha um bigode…

            Antes que Fred pudesse evitar, Velma entrou no pequeno armário e pulou dentro do cômodo secreto. Ao invés de ajudar a namorada a investigar as coisas horríveis que havia lá, Shaggy escalou a parede e pediu a ajuda de Fred para sair. Ao ser retirado, Scooby Doo pulou em cima dele e lambeu seu rosto.

            Velma: Fred, achamos a obra completa de Peter Artmann, estudos, ensaios, experimentos… e também o assassino de Molly… finamente resolvemos esse mistério!

            Fred se aproximou com a lanterna e, de longe, viu o edredon e o pijama que a garota usava quando foi retirada da cama e assassinada.

            Velma: Tem uns envelopes cheios de fotos aqui, mas eu me recuso a ver o que há dentro deles…

            Fred: Os pertences de Molly nunca tinham sido encontrados, então eu realmente acho que o Sr. Arthur é o culpado. 

            Após retirar a amiga, Fred entrou no local para fotografar as provas. Imediatamente, Velma discou o número da polícia local e fez uma denúncia anônima, relatando tudo o que havia descoberto. Assim que terminou, Shaggy ligou para o número de telefone que havia no site de Molly Becker para comunicar a família da garota que os pertences foram encontrados. Quando Fred finalmente saiu, Velma arrumou um pouco da bagunça que eles haviam feito e eles decidiram sair. Ao ver Shaggy enchendo a própria mochila com potes de geleia, ela o censurou.

            Velma: Norville, você conhece as regras, devolva agora mesmo!

            Shaggy suspirou e devolveu os potes ao som de palavrões compostos. Quando o grupo finalmente deixou a casa, Scooby-Doo se afastou e correu em direção à garagem. Shaggy correu atrás dele, e inevitavelmente, Fred e Velma o seguiram. Ao chegar à garagem, o cão farejou obsessivamente ao redor até encontrar uma grande mancha marrom na madeira do assoalho. Scooby ficou parado, farejando aquela mancha por vários minutos, e ao fazer isso, ele demonstrava medo.  A demora irritou Velma.

            Velma: Vamos, gente, a polícia vai chegar a qualquer momento, não podemos ficar aqui!

            Shaggy: Calma! Tipo, eu acho que Scoob achou algo…

            Fred: Parece que a madeira do assoalho foi queimada…

            Shaggy: Tipo, o Sr. Arthur não foi encontrado morto nesta garagem?

            Fred: Talvez seja isso que Scooby esteja farejando…

            Shaggy: Ou talvez tenha mais mortos por aqui…

            Velma: O que quer que seja, não é da nossa conta. Vamos deixar o FBI descobrir… agora precisamos ir!

            Fred e Shaggy continuaram a olhar ao redor do lugar, até que Fred achou o número 6102016 riscado logo ao lado da mancha estranha. Os dois garotos só levaram Velma a sério quando ouviram barulhos de sirene se aproximando do local. Aflitos, todos correram para o carro de Fred e deixaram o local em alta velocidade.Todos estavam em êxtase pela descoberta, e por isso conversaram durante todo o trajeto de volta. Ao deixar o cão e o casal de amigos na frente da casa deles,  Fred agradeceu.

            Fred: Valeu pela noite, turma… foi o melhor presente de aniversário que eu poderia ter. Como nos velhos tempos do colégio!

            Velma respondeu com um beijo na bochecha de Fred, enquanto Shaggy deu um tapinha nas costas do amigo. Scooby-Doo se espremeu e saiu pela janela, e logo em seguida, Fred partiu. Ao chegar em casa, nem Shaggy nem Velma conseguiram dormir. Como no Ensino Médio, eles passam o resto da madrugada  postando fotos e vídeos da casa abandonada do Sr. Arthur no canal da Mistério S/A. Quando Shaggy finalmente foi dormir, Velma entrou no True Crime Forum para responder a postagem provocativa. Infelizmente, Fred já havia postado as fotos e provas do caso Molly Becker horas atrás, então ela apenas complementou: “cherryred, aguarde as notícias pela manhã. A Mistério S/A resolveu o seu mistério.”


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