Katniss Everdeen

Nós lutamos tantas guerras. Dois jogos. Uma rebelião. Peeta foi telessequestrado. Eu perdi Prim. Mas agora olhando o verde e os amarelos da campina a minha frente finalmente sei o que é paz. 

Não só porque escuto os gritinhos risonhos que o vento espalha pelo ar. Não só por ele ter voltado a ser quem era e muito melhor do que isso, conseguir ser sua melhor versão novamente. Não  versão assustada do distrito 12 sorteado para os jogos. Não a versão modificada por Snow. A versão dos vagões de trens, a versão das conversas profundas. Essa é a melhor versão. 

Passei uma vida inteira dizendo que não queria ter filhos. Que horror seria colocar mais pessoas no mundo para passar fome, para participar dos jogos, para ser obrigado a trabalhar nas minas. Abominava pensar sobre ter mais bocas para alimentar. 

Mas agora é mais fácil entender que tudo mudou. Que não passamos mais fome. Peeta assa pães, eu caço carnes, podemos pegar katniss perto do lago. Não precisamos mais pular as cercas. 

Criamos nossa própria vida. Gostamos de viver assim. Eu gosto de sentir meus filhos em meus braços. Gosto dos narizes gelados encostando em minha bochecha, Gosto das risadas e de cantar. 

Peeta sempre diz: 

— Quando a mãe de vocês canta, até os pássaros param para escutar. 

E ele inventa histórias bonitas com finais felizes. E explica sobre os distritos de forma tranquila. Ainda não explicamos a guerra. Mas quando chegar a hora sei que Peeta sempre foi bom com as palavras. 

As lembranças não foram embora. 

Quando a escuridão chega elas se aproximam sorrateiramente. Muitas vezes acordo gritando dos pesadelos. É um constante sinal de alerta. Mas não sou mais nenhuma peça. Hoje sou apenas Katniss Everdeen, casada, mãe de dois, moradora do distrito 12, dona de uma padaria, vendendo carnes e hortaliças. Cuido de um gato tão velho que se arrasta pela casa. Se me perguntarem se sou feliz verdadeiro ou falso? Eu responderia verdadeiro.