Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


CapĂ­tulo 9
Ă€ Deriva Mar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/810920/chapter/9

Aquele dia veio como todos os outros anteriores: como uma adaga no peito de Margaery. Uma dor e cansaço que cobriam o seu corpo. Um medo que era obrigada a usar como se fosse um vestido apertado e sufocante que a obrigaram a vestir contra a sua vontade, e o qual ela não conseguia tirar, não importa o que fizesse.

Ao acordar ela simplesmente não queria levantar, não queria abrir os olhos e ver a realidade em que vivia. Já não podia suportar mais aquilo, não podia suportar respirar e viver a cada instante presa naquele pesadelo em que era obrigada a chamar de realidade. Dia após dia, noite após noite… Nada mudava. Sua vida já não parecia ter mais sentido, sem irmãos, sem seus pais, nem mesmo suas primas. Não, aquilo não era sua vida, não era para isso que Margaery da casa Tyrell havia sido feita; deveria estar cavalgando e comendo doces com sua família. Devia ser livre!

Mas não estava livre. Estava ainda presa em outra cela; ainda era refém, só que de putras pessoas. Se perguntou se algum dia seria livre novamente.

Se levantando e enfrentando a realidade, ela empurrou os lençóis e foi até um pequeno baú em sua minúscula cabine, pegando um vestido qualquer e o colocando em seu corpo. Ela mesma o amarrou.

 

O vestido era simples e era muito pequeno nela, um simples vestido marrom feito de lã grossa. Apesar da simplicidade, ela notou que havia pérolas de água doce no corpete. Para espantar o frio, colocou um manto verde.

 

Margaery já havia provado a todos que não teria mais problemas com Arya, então ela agora podia sair livremente de sua minúscula cabine. E ela o fez, girando o aro de ferro e abrindo a porta, saindo de seus aposentos.

 

Lá fora, ela sentiu a brisa fria do mar e se abraçou após fechar a porta. Por sorte, sua barriga se mantinha calma.

 

Margaery não aguentava mais o balançar da coca mercantil, deixava-a enjoada e tinha até um balde próprio para vomitar. Para piorar, o tempo estava péssimo, além do frio, a tripulação estava enfrentando altas ondas e já tinham quase sido atingidos por duas tempestades. 

 

Sor Gendry, Arya e Edric estavam conversando na amurada do navio. 

 

Antes de ir até eles, fez uma saudação a Sor Albar Royce e alguns marinheiros trabalhando. Os marinheiros deram um sorrisos maliciosos e cochicharam algumas coisas uns com os outros, com exceção de um com cara feia.

 

Mas Margaery ignorou os gracejos.

 

—Dormiu bem, Milady?–Perguntou o jovem Royce.

 

—Me acostumando, Sor–respondeu a jovem Tyrell–Mudei de camas muitas vezes nos últimos tempos, mais do que troquei de roupa.

 

Aquilo fez o jovem rir.

 

—Não se preocupe, logo estaremos no nosso destino–Prometeu Sor Albar.

 

Se afastando dos dois trabalhadores e puxando Margaery para um canto, o cavaleiro do Vale sussurrou no ouvido da jovem donzela.

 

—Mulheres–grunhiu um dos homens que amarrava as cordas quando Margaery e Sor Albar se afastavam, e depois cuspiu no mar, talvez achasse que ela não estivesse ouvindo–Nunca viajamos com elas, dão azar no mar.

 

—Eu enviei um corvo a minha irmã–revelou Albar–, o mesmo que fiquei de enviar quando tivéssemos lhe resgatado, Milady. Ela ficou de enviar o mesmo para a Rainha, que caso tenha acreditado no conteúdo, deve ter mandado aos vassalos.

 

Margaery assentiu.

 

—É muito bom saber disso, Sor–respondeu–Só podemos torcer para que os corvos voem e suas palavras façam efeito.

 

O jovem assentiu e voltou para onde estava, enquanto Margaery voltava ao seu rumo original.

 

—Será que dessa vez vamos ser atingidos?–Perguntou o jovem de manto púrpura aos seus colegas.

 

—Acho que dessa vez não teremos sorte como nas outras–Responde Arya–Parece que estamos quase no olho da tempestade.

 

—Devemos ter cuidado com as ondas–Disse Gendry–Elas estão piorando.

 

Se aproximando da murada, percebeu que Arya foi a primeira a notá-la, como era de se esperar, e fez um gesto para que os jovens parassem de falar.

Peste de duas-caras, pensou Margaery, rata d'água magrela, loba carniceira, cobra venenosa, demônio dos sete infernos, lobo que se veste de cordeiro…

—Bom dia, rapazes–disse Margaery alegremente, depois olhou para a jovem assassina e fez uma reverência. –Lady Arya, está radiante nesta manhã! O vosso cabelo fica lindo solto e a neve, ah, ela realça sua natureza!

Os rapazes acenaram, e Gendry acabou rindo, e esperaram a resposta de Arya, curiosos com o que ela iria dizer.

A jovem a olhou com os frios olhos cinzas, nĂŁo parecia ter gostado do elogio. Parecia ter alguma dĂşvida nos olhares.

—Não sou uma Lady–ela respondeu–, mas… Obrigada.

Margaery riu. Sabia como deixá-la desconfortável.

—Não é uma lady?–Perguntou Margaery, fingindo confusão e depois rindo–Oh, mas é claro! Como sou estúpida: é irmã de dois reis e uma rainha! O vosso título é de princesa, é claro!

Arya franziu o cenho.

—Eu não…

—Claro, deve estar mal acostumada–interrompeu Margaery–Digo, passou tanto tempo perdida, nunca deve ter sido chamada pelo seu título de direito, então imagino que não esteja acostumada, certo?

Arya mordeu o lábio.

—Realmente–admitiu a nortenha–nunca fui chamada disso, pelo menos até voltar para casa.

—Bom, tenho certeza que deve ser uma peça especial na corte de seus irmãos–disse Margaery, se sentindo venenosa e divertida–, garanto é difícil para eles não ter alguém tão… Especial, por perto. 

—De fato–Respondeu Arya.

—Deve ter sido difícil para você, ser mandada embora assim, no meio de um caos nos Sete Reinos, enquanto todos os outros continuam unidos.

Edric arregalou os olhos ao ouvir o que ela disse e Gendry se afastou de Arya. Margaery sentiu que tinha ido um pouco longe demais nas palavras e engoliu seco.

Tentou achar um meio de remediar o que disse.

 –Claro–tentou achar as palavras certas–, seus irmãos nunca a mandariam embora assim se não confiassem em você, princesa…

—Não sou uma princesa–Cortou Arya–, nem sou uma lady.

—Eu apenas…

—Apenas cale a merda da boca–Respondeu Arya–, você é apenas uma lady estúpida sem irmãos que não consegue salvar a própria pele. Não sei o que Sansa viu em você, mas claramente não foi inteligência.

Margaery abriu a boca para falar algo, mas a nortenha apenas saiu andando calmamente.

—Ei!–Gritou Margaery, mas a jovem nem pareceu ouvir–Estou falando com você! Não me ignore! Volte aqui! Como se atreve a falar comigo assim? Eu sou a rainha!

Nesse momento Arya parou de andar e começou a se virar, enquanto ria.

—Rainha de quê?–Perguntou Arya–De quem? 

Margaery abriu a boca para responder, mas não pensou em nada. Fechou os lábios, se sentindo estúpida.

—Foi o quê pensei–Disse Arya.

A irmã de Sansa fez uma vênia zombeteira e se virou, continuando a andar até a cabine.

Margaery se virou para os dois rapazes nas amuradas, eles fingiram nĂŁo estar vendo e nem ouvindo nada.

O jovem loiro que atendia pelo nome de Edric deu um sorriso em sua direção.

—Arya é um pouco difícil–Ele falou de forma apaziguadora–, mas com o tempo, vocês vão se dar bem. Acredite em mim.

Gendry deu uma risada e depois fingiu limpar a garganta. 

—Sim, Sim…–ele concordou com o outro jovem–Arya é difícil. Uma hora está querendo te matar, e na outra, bem… Ou ela continua querendo te matar ou ela te mata de fato.

O jovem percebeu que ninguém riu e chutou o ar.

—Gendry–Disse Margaery–, posso ter uma conversa com você.

—Claro, Milady–o jovem cavaleiro se virou para Edri–Anda, xô, vai caçar uma pulga d'água, vai!

O jovem fez uma reverĂŞncia aos dois e foi fazer o que lhe era pedido.

Margaery se aproximou de Gendry e passou um braço pelo dele. Ela já não usava mais o cristal de Melisandre, não era mais uma jovem feia, e sim uma dama crescida. Podia estar um pouco fraca pelos últimos tempos, mas ainda era a mais bela moça que ele já tivesse visto.

A jovem donzela afastou o capuz com uma mão e balançou a cabeça para libertar os cachos castanhos e eles voaram ao vento.

Gendry ficou corado, mas, dessa vez, ele claramente estava gostando do que via.

—Sor Gendry–Disse Margaery–, me diga, como conheceu o pessoal daquela estalagem em que estávamos? Cresceu lá?

Ela sabia que para ganhar a confiança daquele bastardo ela precisaria ganhar a confiança dele. Deixar ele falar sobre ele e sua vida.

—Minha mãe era…–ele ficou mais rubro e coçou a nuca–uma prostitua. Ela e eu vivíamos lá e, bem, Qarl e sua esposa fizeram parte da minha infância, nos ajudando sempre que podiam.

Ela assentiu.

—Nós não a vimos durante nossa estadia lá–apontou margaery–Se me permite perguntar, ela…?

—Ela já se foi–respondeu antes dela terminar, com um sorriso triste no rosto–Ela ainda estava viva quando deixei Porto Real pela primeira vez, mas Qarl me disse que ela não aguentou os tempos ruins de Porto Real…

Aquilo deu um aperto no coração de Margaery. Ela sabia como era perder um ente querido e nem poder passar os últimos tempos com ele.

Ela soltou seu braço e tocou no ombro dele.

—Sinto muito.

Ele apoiou os braços na amurada.

—Não sinta, a culpa não é sua–ele respondeu enquanto observava as ondas. O mar estava um pouco agitado, fazendo a coca balançar e criando espuma nas bordas–Eu só queria que ela tivesse me visto uma última vez, sabe? Saber que eu era um cavaleiro, que eu era um matador de criminosos, que tinha uma grande moça comigo e que eu queria que elas se dessem bem…

—Você conheceu seu pai?–Perguntou Margaery.

Isso pareceu tirar o jovem rapaz de um transe e ele a olhou com seus profundos e escuros olhos azuis. 

—Eu nunca o conheci. Minha mãe nunca falou nada dele para mim, apenas dizia que ele me daria uma surra, sempre que eu a irritava–ele deu de Ombros–Não importa, ele não esteve comigo em nenhum momento da minha vida, então por que eu me importaria?

—Você gostaria de saber?

Ele franziu o cenho.

—Por que a pergunta?

—Gendry, você já viu o Rei Robert?

O garoto a olhou com desconfiança, mas respondeu mesmo assim.

—Vi o falecido rei uma vez — Ele revelou–, ele estava bêbado e quase me derrubou, estava brincando no Portão da lama naquele dia e ele voltava de uma caçada.

Ele é terrivelmente lento…, percebeu.  Não que já não tivesse notado que o filho bastardo do falecido rei Robert era burro como um auroque, mas ele estava conseguindo se superar. Talvez por isso Arya gostasse dele.

—Viu Stannis em Winterfell?

Ele anuiu, mas ainda a olhando de soslaio, nĂŁo percebendo sentodo naquelas perguntas.

—Eu vi ele bem antes, em Porto Real, mas não foi de passagem, ele que foi me ver, junto da Mão do Rei–Revelou–Não o pai de Arya, o que veio antes… 

—Jon Arryn?– Ela não esperava por isso.

O rapaz assentiu novamente.

—Ele e Stannis vieram me perguntar algumas coisas, quando ainda trabalhava como aprendiz de ferreiro.

Margaery franziu o cenho.

—O quê lhe perguntaram? 

O jovem deu de ombros.

—O mesmo que o pai de Arya perguntou depois deles; quem era o meu pai, minha mãe, essas coisas…–Ele franziu o cenho novamente–Por que todos me perguntam isso?

É, percebeu Margaery, ele é extremamente burro… 

—Você viu Stannis novamente em Winterfell, não viu? —Peeguntou, irritada pela lerdeza daquele bastardo.

—Vi de relance, preferi evitar ele.

—Por qual motivo?

—Bom, um bastardo não é bem visto numa corte, mesmo a que coroou um bastardo como rei; Mas é porque Stannis me olhava como se tivesse violado a filha dele no dia em que me viu. Bom, depois eu percebi que ele olha quase todos assim. Acho que ele não usa a latrina desde que nasceu para ser assim.

—E Stannis não lhe viu?

—Me viu de relance–Explicou–A Mulher Vermelha sussurrou algo quando ela me percebeu,e então ele se virou para mim. Achei que ele iria me decapitar, mas apenas balançou a cabeça negativamente.–Deu de ombros–Uma pena, tive esperança de ter a atenção dele e da Sacerdotisa, afinal, ele é o enviado do Deus Vermelho.

"Após isso —Gendry continuou—, Sansa e Jon foram falar com a irmã e Arya disse que era pra eu esperar por ela em Porto Branco".

Margaery assentiu. Sansa e Jon viram Robert bem de perto, e talvez tenham ouvido Stannis falar algo sobre Gendry.

—Bom–disse Margaery, cansada de todo aquele rodeio–, acho que você não percebeu ainda Gendry, mas você conheceu seu pai.

Ele a olhou de soslaio.

—Chega de lenga, lenga, Milady–Disse Gendry irritado–Fale logo…

—Oh, pelos Deuses–disse Margaery–, será que não percebeu que o falecido Robert era o vosso pai? 

O garoto fez uma careta, parecendo não entender e apertou os olhos… Até que arregalou os intensos olhos azuis e pareceu juntar as peças e entender o óbvio.

—Foi por isso–Ele disse–Por isso os guardas vieram atrás de mim amando da rainha, e foi isso que aquela vaca traidora da Brienne quis me avisar…

O nome nĂŁo passou despercebido por Margaery.

—Lady Brienne?–Perguntou a jovem–Você conheceu Brienne de Tarth? 

Ele ignorou o que ela disse.

—Preciso falar com Arya–Ele disse e se virou calcanhares e saiu correndo.

—Espere! Gendry, me diga onde…

Margaery tentou puxar ele, mas ele foi mais rápido e ela nem conseguiu tocá-lo.

Bastardo maldito, pensou.

Não ouviu relatos da Brienne em Winterfell, mas se ela realmente era uma companheira de Catelyn…

Mas por quais motivos Sansa nĂŁo teria enviado ela? Ela era sua protetora?

Tinha ouvido relatos de que Sor Jaime Lannister havia desaparecido com ela no Tridente, mas nunca soube mais nada.

—Milady–Uma voz a chamou.

Era o jovem e bonito Edric Dayne.

—Oh, olá–respondeu Margaery–Não tinha ido procurar pulgas d'água?

O dornes riu.

—Não achei nenhuma no casco–brincou o jovem–Quer dizer que Gendry é filho de Robert?

Ela assentiu.

—Aparentemente, sim–Deu de ombros–Não sei no que mudaria a vida de um bastardo, mas acho que ele merecia saber. Todo o filho amaria ser filho de um rei.

Tomara que ele goste mesmo, confiaria mais em mim.

—Mas então–disse Margaery–, diga-me, Edric…

—Pode me chamar de Ned, Vossa Graça.

Desde que me responda…

—Diga-me, Ned, os Dayne estão cientes de que você está aqui? Eles não seguiram Doran?

—A casa Dayne não sabe onde estou–Respondeu–, mas ficarão neutros, confie em mim. Eles sabem que estou com a Arya, então devem imaginar que estou com no Norte, ou que pelo menos estou com uma Stark. Não vão interferir.

A Jovem assentiu. NĂŁo sabia se poderia confiar nele, ele era um dornĂŞs, e eles se provaram verdadeiras vĂ­boras. E ele ser colega de Arya nĂŁo mudava nada.

Foi um Dayne que atacou Myrcella, se lembrou. Mas ainda era uma trama nebulosa, pois o guerreiro já tinha sido morto por uma das serpentes de Areia.

—Você era escudeiro de Beric–Disse Margaery, se lembrando que ele havia dito que nunca tinha sido ungido pelo falecido cavaleiro do trovão–Foi assim que conheceu Arya e Gendry?

O jovem assentiu, enquanto ficava corado.

—Ela é… Uma jovem interessante–disse o garoto, meio sem graça–Nunca conheci uma dama tão destemida.

Ela percebeu que o garoto também parecia estar enamorado pela pequena peste Stark.

O que raios eles vêem nela?, se questionou, Ela é horrível.

—Sim–Respondeu Margaery, meio seca–De fato, nunca vi ninguém como ela. Acho que apenas Cersei e Daenerys deixaram uma marca tão grande em minha vida…

—Ela é uma grande guerreira–Ned continuou tagarelando–Teve que aprender a se virar desde cedo. Sabia que sua primeira vítima foi aos oito? Pobrezinha…

Pobrezinha da vítima…, pensou Margaery, se questionando que tipo de pais a jovem e homicida Stark teria tido. Que mãe seria capaz de parir aquilo? Talvez grumkins tenham roubado o bebê verdadeiro do berço e o trocaram.  

—Como vocês se conheceram?–Margaery tentou voltar ao assunto original.

—Eu conheci Arya e Gendry quando eles estavam sendo escoltados por Harwin e outros membros da irmandade sem bandeira, estavam com o Cão de Caça, Sandor.

—Sandor Clegane?

Pelo visto, Arya tinha uma histĂłria de vida e tanto e isso tudo sem ainda ter chegado aos vinte de dias de seu nome.

—Ele e Beric lutaram–Continuou Ned–Sandor o matou no julgamento por combate e o deixamos livre.

Então sua trupe é culpada pelo massacre das Terras Fluviais, pensou, mas segurou a língua. Não seria bom irritar aquele jovem.

—Beric está mesmo morto dessa vez?–Questionou Margaery, as histórias de sua morte sempre eram diversas e, no fim, ele continuava a causar problemas.

Isso se ele realmente estivesse vivo, Randyll Tarly nunca o achou, nem a tal "Senhora Coração de Pedra."

O jovem loiro assentiu.

—Beric se foi.–Confirmou o jovem–Muito depois de Arya sumir, e então eu e outros membros nos separamos.

—E a tal "Coração de Pedra"?–Perguntou.–Ela era a Senhora a qual Gendry se referia?

O jovem fez o sinal da Estrela de sete pontas, se benzendo.

—Eu não a servi, mas sim, ela era real. Deuses tenham piedade dos seus seguidores.

—Ela era tão má assim?

Ned hesitou em lhe responder.

—Sim…–ele admitiu–Mas não falarei disso. Não posso, seria desrespeitoso com a memória de quem ela foi e com Arya. E Gendry a respeitava muito. Dizia que ela era "iluminada" e iria purificar as Terras Fluviais.

—Arya a matou?–Perguntou sem rodeios.

A pergunta direta fez o jovem lorde esbugalhar os olhos.

—S-sim…–Ele gaguejou.–Ela lhe deu misericórdia, Milady.

Margaery assentiu, ficando curiosa com a palavra "misericórdia". 

—Então agora, ela comanda a irmandade?

Ned fez uma expressão confusa e depois balançou a cabeça em negação.

—Não, não… Arya estava longe de tudo isso. Ela… Apenas estava tentando voltar para o Norte quando a encontrou.

—Por que ela haveria de matar a mulher?

Ele balançou a cabeça novamente.

—Não. Não falarei sobre. Apenas Arya pode falar sobre isso e lhe dizer a verdade que ninguém acredita.

Não pode ser a pior coisa que ela já fez, pensou, mas resolveu apenas assentir.

—Certo, Ned. Não lhe obrigaria a falar o que não quer.

Era provável que Arya tenha discordado da forma como aquela suposta mulher comandava… Ou que estava moribunda e ela lhe deu um fim.Talvez fosse mais uma fanática da fé vermelha, deduziu. Se fosse isso, era uma barata a menos em Westeros.

—E onde você estava nisso tudo?

—Em Dorne, Milady–Respondeu o dornês–Fui para o Norte quando soube de Arya e os Stark.

—E por qual motivo isso lhe diz respeito? Se é que posso saber.

—Arya é uma grande guerreira e o Norte é um local importante para minha família; honramos a memória de Ned Stark e seus antepassados.

Nada daquilo fazia sentido para Margaery; o que uma região como Dorne faria em Westeros? E Por que eles respeitavam a memória de um homem que matou seu maior guerreiro, Sor Arthur Dayne,  e desonrou a bela Ashara?

—É de Ned que vem seu apelido?

O rapaz assentiu.

—Eu era irmão de leite do filho dele, Jon Snow. Nossa ama de leite se chamava Wylla, era a mãe dele.

Margaery nĂŁo estava nem aĂ­ para a Ă©gua parideira que originou um bastardo qualquer. O prĂłprio bastardo legitimado devia se importar mais com o fato de ser filho de Ned Stark do que uma fazedora de leite qualquer, afinal, foi isso que lhe possibilitou sua coroa.

—Você conhece o irmão de Arya? Como ele é?

—Oh, ele é um tanto frio e distante. Tentei falar com ele, mas ele era muito recluso e nem deu muita atenção ao que tinha a lhe dizer, mas agradeceu por ter dito sobre a mãe dele para Arya, ela já havia lhe dito tudo.

EntĂŁo essa conversa Ă© inĂştil para mim.

Um trovão retumbante foi ouvido no céu cinza e uma pesada chuva começou a cair. Margaery colocou o capuz de volta.

—Bom, eu acho que voltarei aos meus aposentos–Disse Margaery–Estou um tanto enjoada.

O jovem assentiu e a deixou ir.

De repente um homem deu um grito de aviso e Ned apareceu falar algo, ao mesmo tempo ela ouviu um som que parecia um trovĂŁo; mas, antes que Margaery pudesse tentar entender algo, um enorme solavanco atingiu a pequena coca e um lado dela subiu e outro desceu. Para o azar da jovem, ela estava do lado que afundava.

Margaery tentou agarrar a murada ao seu lado, esticando seu braço. Porém, era inútil, seu equilíbrio se foi e seu corpo afundou com o casco. O desequilíbrio a fez tropeçar no próprio pé e bater o braço na murada de madeira, mas a maior dor que sentiu foi no seu rosto: batendo a face contra o chão de madeira, o ferimento que Arya havia deixado em seu lábio abriu e seu nariz torceu inteiramente para a direita. Sua testa e barriga ardiam pelo impacto, enquanto sua boca enchia de sangue.

Antes que pudesse sequer tentar se levantar, o corpo frágil de Margaery foi atingido por uma intensa rajada de água que a forçou a ficar no chão. Logo depois, o lado caído do navio voltava a subir, levando a encharcada donzela junto. Ao se elevar na altura onde estava, o lado do convés se elevou mais ainda e depois parou abruptamente; jogando o pobre corpo da Tyrell no ar, como uma boneca.

Desesperada, Margaery bateu as pernas e os braços no ar. Ela abriu e arregalou os olhos, estava vendo as tábuas de madeira subirem em alta velocidade até lhe morderem o rosto mais uma vez, em um impacto mais forte que o anterior.

Dessa vez, uma onda de dor atingiu muito maior percorreu seu corpo, seus ossos, cada fibra do seu ser se contraia em dor e agonia, implorando para aquela tortura passar.

Antes que pudesse recuperar os sentidos, alguém lhe agarrou por um dos braços, tentando levantá-la.

No começo, Margaery não conseguia ouvir nada, até que finalmente conseguiu entender um pouco do que estava sendo falado para ela.

—Vamos!–gritou uma voz. Era Ned.–Vamos, Milady! Rápido!

A jovem donzela cuspiu o sangue e sal da boca, uma espessa saliva avermelhada saiu de seus lábios, sujando Margaery.

Um homem foi ajudar Ned.

—Chame o meistre!–Gritou Ned em resposta enquanto o homem se aproximava–Eu cuido dela! Agora Vá!

Enquanto Ned a pegava pelos ombros e a obrigava a ficar em pé, outro solavanco elevou o navio. Dessa vez, foi o lado deles que subiu, mas não tanto quanto da outra vez. Fazendo os dois caírem e levando o marinheiro junto.

Uma gigantesca onda atingiu o lado deles do navio, teria arrastado Margaery se o galante Edric Dayne nĂŁo a tivesse agarrado com uma mĂŁo enquanto agarrava a murada do navio com outra, lutando para segurar a Tyrell indefesa e para se salvar.

Mas ninguém poderia salvar o pobre homem que estava ao lado deles. Ele foi arrastado pela fúria marítima como um boneco qualquer, ao chegar do outro lado da Coca mercantil, ele pareceu se levantar sozinho ao bater na amurada e cair para fora do barco, longe da vista de Margaery. Em nenhum momento ele deixou de gritar pela mãe, mas não sabia se era pela Mãe do Céu ou a dele.

Edric a puxou para si quando a Coca pareceu se acalmar.

—HOMEM AO MAR!–Gritou o jovem.

Mas não havia nada que alguém pudesse fazer; o homem estava perdido nas ondas, nem seus gritos podiam ser ouvidos, pois os rugidos do mar e do céu os abafavam… isto é, se é que ele já não estava afogado nas profundas águas.

Os homens do navios corriam e amarravam as cordas para se salvar, para segurar a vela do navio, ou para o que mais deuses sabem o que.

A chuva e a ventania atingiam o ferido corpo de Margaery com força e frio extremos, machucando-a como se estivesse sendo atingida por mil adagas. Nem podia abrir os olhos e seus cabelos estavam grudados na cara. 

Um homem passou pela ventania e chuva e foi até eles. Segurando o braço de Margaery, ele a ajudou a se levantar.

—A Rainha Sansa confiou a sua vida a mim–Disse o homem–Não posso falhar com ela.

O homem –ao qual ela já havia visto nos seus dias no navio, mas não lembrava o nome– a pegou pelos braços, deixando Ned livre para se levantar.

—Temos que ir para a cabine!–Gritou Ned, com o cabelo grudado na casa.

—Não diga! Achei que iria querer curtir a brisa?

Um solavanco fez os homens se desequilibrarem, mas nenhum deles caiu e o homem que agarrava a indefesa Margaery nĂŁo a deixara cair.

—M-me desça–Disse Margaery, meio tonta e engasgando com sal na garganta e o acúmulo de sangue.

O homem a olhou com dĂşvida.

—Tem certeza que consegue?–Perguntou o homem.

Ela queria dizer que sim, além do mais, ele não iria longe com ela nos braços. Iria acabar caindo e os dois iriam morrer.

Mas sem conseguir falar nada, ela apenas assentiu com a cabeça enquanto tossia.

Apesar de hesitante, o homem fez o que lhe era pedido e soltou com cuidado. Margaery ficou tonta, quase caindo, mas conseguiu se equilibrar. Um tambor retumbava em sua mente e seu coração explodia contra o seu peito… Mas não era hora de deixar as dores falarem, era hora de correr pela vida. 

Ned colocou o braço na frente do rosto, para evitar que a água entrasse nos olhos. O homem que havia pegado Margaery nos ombros a pegava agora pelo pulso e a puxava, conforme caminhava e segurava a amurada.

Não estavam longe da cabine principal, afinal a Coca era pequena, mas a chuva e o vento castigavam seus corpos e tentavam os empurrar para longe, as ondas batiam como um deus em fúria que não descansará até derrubar o navio. Os gritos de homens assustados, os trovões, o choque das ondas… Era como se o mundo fosse em volta do pequeno grupo fosse um apocalipse horrendo; como se estivessem em meio a um campo de guerra terrível.

Um raio rasgou o céu e seu barulho era como um tambor de guerra mais forte e mais poderoso, avisando aos outros exércitos a invasão de um novo rei que iria exterminá-los. Sua luz era linda, apesar de parecer um rasgo no céu, tocando aquela cena deplorável e desesperadora com um brilho mágico. Ao olhar para sua forma contorcida, era se o mundo estivesse rachando ou como se uma estranha serpente descesse e atingisse as águas em fúria, fazendo-as sibilar.

Margaery pode ver um homem, se agarrando em uma tábua de madeira, pedindo socorro, mas ela não podia ouvir nada. Ele estava longe demais para receber qualquer apoio, sumindo nas imensas ondas. Ele estava na mão dos deuses. 

Finalmente, quase chegando até a cabine, Margaery conseguiu ver que alguém esperava na soleira da porta e acenava.

—Estamos quase lá!–Gritou Ned.

Não vamos conseguir, pensou Margaery, já sabendo que sempre seria assim; ser arrastada, puxada, se machucar, correr para lá e depois para cá…  Parte dela queria apenas desistir, afinal, que motivo teria para continuar? Para voltar a ser refém de alguém novamente? Era melhor parar de andar. Desistir.

Só preciso de um puxão e este homem soltará minha mão; depois o mar faria o resto… Eu só precisaria parar de andar, e estaria tudo acabado.

Mas nĂŁo o fez. NĂŁo parou de dar um passo apĂłs o outro, nĂŁo importava a dor em seu corpo, implorando para ela parar, nĂŁo importava o caminho nebuloso em sua frente, as poucas chances de sair viva; ela nĂŁo parou. Ela Continuou, ignorando as divergĂŞncias em seu caminho. Um passo apĂłs o outro. Sem parar, nĂŁo podia parar. NĂŁo ali, nĂŁo agora, nĂŁo depois de tudo. Deuses, ela nĂŁo iria parar por nada!

Encontrando forças, ela começou a tentar acompanhar mais os dois homens à sua frente.

Ao finalmente chegarem perto o bastante, ela percebeu que era Sor Albar Royce quem se agarrava Ă  soleira da porta e tentava se manter firme. A porta batia violentamente nele, querendo se fechar, mas ele a impedia, por mais que isso o machucasse.

Edric esticou o braço e ele agarrou, puxando-o para dentro. Após isso, ele esticou o braço para o homem que acompanhava Margaery.

Uma imensa onda bateu contra eles e jogou Margaery para longe, por sorte, o seu salvador nĂŁo a largou em nenhum momento, salvando-a. Com a outra mĂŁo, ele agarrava a murada.

Com o lado deles da Coca subindo novamente, Margaery passou a escorregar e a manga de seu vestido estava se rasgando; infelizmente era tudo que a mantinha segura e agarrada a mĂŁo do misterioso homem.

—Sete infernos!–Bradou o seu salvador.

Por sorte, o navio voltou a se equilibrar e Margaery achou que já não corria mais risco.

O homem soltou a amurada e puxou Margaery para perto dele. Quando chegaram perto, ele a empurrou para frente.

—Vá! AGORA!–Ele rugiu como um leão.

Desesperada e sem entender, Margaery fez o que ele pediu, correu pela sua vida, tentando não escorregar. Ouvindo um novo e potente estromdo e o som da da água, ela percebeu que estava prestes a ser pega por outra outra onda.

Sentido a água do mar em seus calcanhares e quase alcançando seus joelhos, ela esticou os braços e, com a bondade dos deuses, Sor Albar a agarrou e puxou com toda a força e desespero que ainda tinha. Em um instante, estavam caídos, no chão da cabine da Coca. O vento tratou de fechar a porta atrás deles.

Por sorte a água foi quase como um impulso, a jogando para frente; mas se não estivesse perto o bastante da cabine, teria caído e sido tragada pelas ondas e caído no mar.

Tossindo, Margaery cuspiu o que lhe restava de sangue. Ela sentiu algo duro sair de seus lábios e cair no chão. Deve ter perdido algum dente.

—Está bem, Mila…?–Tentou perguntar Sor Albar, antes de Margaery vomitar na sua cara e cair ao seu lado.

Depois disso, tudo ficou escuro.







NĂŁo quer ver anĂşncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio Ă© fundamental. Torne-se um herĂłi!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.