Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 10
Acordando em um Pesadelo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/810920/chapter/10

Ela se viu passando os próximos dias acordando e desmaiando consecutivamente. Suas memórias iam e vinham, tal qual a realidade e suas alucinações, se intercalando e sendo impossível discernir o que era o que.

—Como ela está?–Perguntou uma jovem, mas Margaery não sabia quem era… seria Arya? Ou já estava em Winterfell e era Sansa?

—Ela está a se recuperar–Respondeu um homem–Vai ficar bem.

—É bom que fique–Respondeu a jovem–Minha irmã a quer viva, mesmo que não nos pareça ter utilidade. 

As vozes pararam de fazer sentido depois disso, as imagens se distorceram em sombras e tudo ficou escuro.

Teve algumas imagens dançantes em sua mente, adentrando em seus sonhos sem permissão; ela viu Cersei se tornar Daenerys; ela viu novamente Sansa, com veneno roxo pingando do cabelo e da face; pode ver Arya arrancar a própria cara e mostrar uma caveira sinistra. Todos esses momentos vieram contra a sua vontade e foram embora tão rápido quanto chegaram.

—Minha Rainha–Disse Renly, quando ela se viu em um jardim verde.

Margaery não sabia como havia parado ali.

—Meu rei?–Perguntou confusa.

Mas quando ele tentou responder, começou a tossir e engasgar no próprio sangue. O corte profundo em sua garganta jorrou uma chuva rubra em Margaery.

—Meu Rei?–Ela perguntou sem se importar com o sangue cobrindo seu corpo, enquanto ele caia no chão e jorrava mais sangue, se batendo e tentando respirar.

De repente, a cor vermelha se tornou púrpura e os cabelos negro de Renly se tornaram loiros e seus olhos verdes.

—Meu rei?–Perguntou Margaery, não sabendo mais qual rei estava na sua frente.–Meu Rei?

O cabelo loiro sumiu, dando lugar a fios de prata. O púrpura agora não era do sangue ou do veneno, mas sim olhos em chamas.

—Sua rainha–Disse o rei que agora ela era uma mulher.–Sua legítima rainha.

Foi então que a cabeça da rainha explodiu e de dentro saiu um dragão, um pequeno dragão em fúria que cresceu em instantes. Seus olhos eram verdes e queimavam como fogo vivo. Ele a via e a odiava.

—Meu rei?–Perguntou Margaery, se sentindo perdida.

Quando o dragão pareceu odiar as palavras proferidas a ele, sua mandíbula de dentes negros abriram e um segundo sol parecia explodir de sua boa. Margaery só pode erguer um braço como reação, mas o foi veio rápido demais e a consumiu por inteira.

—Meu rei?– Ela perguntou com a voz embargada quando as chamas e as sombras se dissiparam. Ela viu uma figura que parecia ser Renly novamente.

Estava com frio, fraca e cansada. Podia sentir a película de suor em volta de seu frágil corpo.

—Por que ela fica falando isso?–Perguntou um jovem.

—Não sei–Uma garota respondeu.

Margaery podia ouvir a jovem mexendo em alguns frascos… Sentia que a conhecia.

—Talvez ela esteja morrendo, pobrezinha–Disse o jovem.

—Ou talvez ela só seja estúpida–Respondeu a moça enquanto pegava alguns frascos.

Arya, pensou. Só pode ser a Arya.

Lembrar da garota a fez lembrar que de alguma forma ela estava presa com a Stark em algum lugar… Isso fez Margaery querer morrer ali mesmo, pois, apesar de fraca, sabia que isso era pior que qualquer pesadelo que teve.

A irmã de Sansa parecia ter amarrado o cabelo castanho em uma trança.

—O que está vendo aí?–Perguntou um rapaz que ela lembrava ser bem lerdo.

—Estou vendo o que aquele estúpido meistre está dando para ela.

—Pra quê? Ele foi escolhido pela sua irmã.

—E eu estou ciente disso–Respondeu a jovem–, e parece que ele realmente tem o necessário.

Margaery observou o jovem que lhe lembrava o seu marido ir até a jovem.

—M-meu Rei…–Margaery chamou, mas foi ignorada.

—Bom...–Começou o jovem, colocando as mãos sobre os ombros da jovem agachada, acariciando-os e dando um beijo no couro cabeludo dela–Já que estamos de vigia nesse quarto fedido e você já provou o seu ponto, agora podemos fazer outra coisa…

—O que?–Aquela que parecia ser Arya perguntou irritada.

—Não tem mais ninguém aqui–Ele disse–Vamos, Arya. Estou estressado. Brigamos muito, corremos muito e tivemos tempestades e faz muito tempo desde a última vez. Vamos, eu quero, e sei que você também.

A garota de olhos cinzas olhou para Margaery, que lutava para manter os olhos semi cerrados abertos e tentava entender o que a jovem queria dela. Tentou falar algo, que estava com sede, mas o que falava não fazia sentido. Ela ergueu um braço em direção a jovem, mas logo caiu e perdeu a força.

—E ela?–Perguntou a jovem.

O homem que parecia Renly deu de ombros e puxou Arya para perto dele quando ela se levantou. Colocando suas mãos bobas dentro do corpete dela.

—Foda-se—Ele disse, mordiscando seu pescoço—Eu preciso disso. Agora.

Isso não está certo, pensou Margaery, Renly amava Loras. Ela não é meu irmão… Loras? Loras, onde está você? Venha me salvar!

Os dois jovens caíram no chão e pareceram rir enquanto puxavam a roupa um do outro e começavam a lutar entre si, enquanto a misteriosa casa continuava a balançar, como se flutuasse. Depois de um tempo rolando, estavam nus, com as roupas jogadas pelo quarto. 

O jovem musculoso acabou por abrir um ferimento na testa enquanto a companheira dele estava repleta de cicatrizes. Apesar disso, ambos ainda pareciam se divertir com a situação; era como se estivessem em uma espécie de euforia. O musculoso se jogou para cima dela e a empurrou com tudo contra o chão, fazendo um baque surto, mas a moça parecia não se importar e ria.

A mulher com aparência Stark pareceu morder o lábio e depois o ombro do jovem enquanto este empurrava o corpo contra ela; depois ele a segurou pelo pescoço e começou a parecer estar fazendo mais força contra ela, fazendo-a parecer soltar um som abafado. Quando ela parecia gritar, ele lhe tapou a boca. A jovem passou as suas mãos pelo corpo dele, das coxas até a cabeça, puxando-o para si enquanto suas unhas arranhavam seu corpo; enquanto ela fazia isso, o homem que parecia um falecido rei estava tentando fazê-la virar de costas e puxar seu cabelo trançado.

E então os dois amantes se mesclaram e se uniram como um, se distorcendo em formas contorcidas e disformes. Era estranho, era como se estivessem dançando e se tornando um. Devia ser a mente dela pregando peças; podia sentir dez dedos entrando em sua cabeça e brincando com sua mente.

Margaery, confusa, tentou se levantar…

E foi aí que ela caiu no chão.

—Ah, que merda–disse uma jovem aos seus ouvidos… Seria a mesmo de antes? Já não sabia dizer.

—Porra! –Gritou o outro jovem irritado.

A jovem caída e enfermiça não sentia dor alguma. Seu corpo parecia flutuar, estar além da dor; nem sua mente parecia estar realmente ali.

Tudo se apagou novamente.

A escuridão e fogo em sua mente a fizeram ver mil e uma imagens que passavam rapidamente em sua mente novamente. Porém, tão rápido quanto iam e vinham, ela se esquecia delas.

Quando finalmente os devaneios pareceram cessar, Margaery abriu os olhos fracamente e olhou em volta.

Inicialmente ela não entendeu onde estava; não era Highgarden, nem a fortaleza… depois se lembrou da taverna onde esteve, mas percebeu que também não era ela. 

Foi então que se lembrou de Edric e sor Albar, e da tempestade que os assolava. Lembrava-se de um homem a ajudando, mas não lembrava o nome dele…

É a cabine do navio, Lembrou.

—Finalmente–Disse um homem com correntes ao vê-la–Estava preocupado, mialdy, já devia ter acordado há tempos.

Ele botou a mão enrugada na suada testa de Margaery.

—A irmã da rainha prometeu cortar minha garganta e depois me jogar no mar caso não a salvasse–Disse o Meistre–E quando eu ri, o jovem que a segue para todo o lado que ela vai me puxou pelos elos e disse que eu devia parar de rir e fazer o que ela disse, ou ele a ajudaria nisso.

Ele retirou a mão da testa dela e pegou um frasco que tinha e uma colher pequena.

—Graças ao deuses sua febre abaixou—ele disse—Aquela… a princesa estava mexendo em meus frascos, tenho certeza, e aquele brutamontes não parava de me olhar desconfiado! Ontem ele cochichou algo para a garota ao me ver e ela assentiu enquanto olhava para mim. Tenho certeza que ela pretende me matar!

Não duvide, ela realmente pretende matar você, talvez lhe mate mesmo comigo sendo salva.

—Essa é a Arya…–Disse ela com voz embargada e a garganta em chamas.

Ela se lembrava de alguma coisa sobre Arya e Gendry, algo que lhe dava raiva e nojo… Mas não sabia bem o que. Talvez fosse algum assassinato ou desfeita de Arya que ela não se lembrava, mas não sabia o que Gendry tinha feito. Talvez fosse algum tipo de briga.

O meistre colocou o conteúdo do frasco na pequena colher e a colocou na boca de Margaery. Ela engoliu com nojo e dificuldade, pois o gosto era amargo, sua garganta estava seca e seu estômago revirado e dolorido.

—Bem, eu vou chamar os dois, pelo menos assim eu…

Antes que ele pudesse terminar de falar, Arya abriu a porta e adentrou na cabine, junto dela estava Gendry, Edric e sor Albar Royce.

O ferreiro deu uma fungada e depois fez uma careta.

—Que cheiro de cavalo morto, puta merda, nem Porto Real fede tanto a fezes.

O homem com a corrente no pescoço pareceu nervoso ao ver Arya e Gendry, lambendo os lábios e tirando um suor da testa.

—Ela… E-ela…–Ele tentou dizer, mas estava surpreso e assustado demais.

—Sim, eu estou vendo–disse Arya–Agora saia.

O meistre assentiu apressadamente e se virou, pegando colocando alguns frascos na bolsa. Ao sair, ele olhou com medo para Gendry quando teve que passar ao lado do rapaz, que parecia divertido com isso.

Quando o idoso saiu e fechou a porta, Arya se sentou na cama de Margaery e finalmente falou:

—Achei que não iria acordar–Disse–Já estava pronta para castigar aquele velho e jogar dois corpos mortos no mar.

Pelo visto desapontei seus planos de matar, pensou. Era mais um motivo para continuar viva.

—Sou feito de material mais resistente do que parece– respondeu Margaery, secamente.

—Já estava pronto para jogar aquela fuinha no mar–Disse Gendry–Ele era muito irritante.

—Ele estava só pedindo para você parar de ameaçá-lo e deixá-lo trabalhar–Disse Albar.

—E ele tinha que ser tão chato ao fazer isso?— indagou Gendry.

—O importante é que Margaery está segura–Disse Edric, tentando acalmar os ânimos.

—Quanto tempo fiquei apagada?—Questionou Margaery.

—Cerca de quase três semanas–Respondeu Arya.

Margaery a olhou chocada.

—Tanto tempo? Pelos Deuses…

—Não perdeu muita coisa–Disse Gendry–Só mais chuva e…–Ele coçou a parte de trás da cabeça–Bom, outras coisas.

Albar balançou a cabeça ao ouvir aquilo e Edric tentou fingir que não ouvia nada, equilibrando o peso do corpo em um pé e depois no outro. Arya apenas revirou os olhos.

Ela cerrou os olhos. Tinha algo que devia saber? O que seria? Quando fez um esforço, só se lembrou de Renly ficando com alguém… Era uma memória estranha e parecia mais que ela lembrava-se de um sonho.

—Há coisas que uma lady não deve saber...–Disse Albar, ficando corado–Ou se lembrar.

Essa última vez Gendry dar uma risada.

—Realmente–Disse o ferreiro–Tem coisas que se deve esquecer.

—Gendry!–Censurou Arya.

Ele tentou parar de rir e fingir que tossiu e que estava limpando a garganta.

Margaery inicialmente não entendeu do que estavam fazendo troça, até que Sor Albar a olhou e ficou ainda mais rubro.

Foi então que se lembrou que havia vomitado na cara dele. Horrorizada, Margaery levou uma mão à boca, tomada pela vergonha.

—Oh, Deuses…–Ela disse–Eu sinto muito, Sor…

O jovem cavaleiro do Vale arregalou os olhos quando percebeu que ela se lembrava e ficou mais rubro ainda. Foi aí que Gendry riu como nunca, ficando quase tão vermelho quanto Sor Albar.

—Qual a graça, bastardo?—Perguntou Albar ao bastardo.

Gendry tentou acalmar a risada e chegou mais perto do cavaleiro.

—"Qual a graça?"–Ele repetiu a frase do cavaleiro–A "graça" é óbvia; você sendo alvo de vômito real, Sor.

Sor Albar estava pronto para pegar a adaga, quando Edric entrou no meio dos dois.

—Amigos…—Começou.

—Não somos amigos!—Disseram Sor Albar e Sor Gendry ao mesmo tempo.

—Companheiros forçados—Corrigiu Edric—Nossos nervos estão irritados pelos dias de viagem, mas nós todos estamos jurados aos reis do Vale e do norte, por favor, não assustemos mais a pobre Margaery.

Mas os dois homens não estavam acalmados. Estavam prontos para matarem um ao outro.

—"Acalmar"?—repetiu Albar, retirando a adaga da bainha—Eu não vou me acalmar ouvi do zombarias de um bastardos!

—"Acalme-se" o teu rabo, Edric! –Disse Gendry, se virando para o homem com uma adaga–E você tente me furar, eu pego isso e enfio no seu…

—Oh, eu mesma mato você dois–Disse Arya, se levantando.

—Chega! —Disse Margaery, embora a voz tenha saído um tanto fraca, conseguiu chamar a atenção de todos—Pelos Deuses, parem com essas brigas! Não percebem que estamos fingindo ter um luxo que não temos de fato? Daenerys e seus dragões podem estar destruindo tudo enquanto estamos nessas águas revoltadas e assassinas; e vocês vão ficar brigando como crianças com facas? O que deu em vocês? Perderam os miolos na tempestade?

Os rapazes e Arya a olharam por um tempo.

No fim, Albar guardou a adaga.

—Desculpe, Milady—Disse Albar—Fui imprudente e deixei me levar.—Ele se virou para Gendry, claramente não estava feliz com a situação—Desculpe por tudo, Sor Gendry.

Gendry pareceu irritado e prestes a falar o que não devia, mas Arya o fez acenar e aceitar as desculpas com um olhar cortante.

—Deixem-nos—Disse Arya—Os três.

Edric deu um leve sorriso e uma reverência às duas e abriu a porta para sair. Albar fez o mesmo, embora envergonhado demais para olhar para Margaery.

Gendry não estava satisfeito em ter que sair, mas o fez sem reverência e fechando a porta com força, fazendo um estrondo retumbar pela cabine.

Arya foi até uma mesinha ao lado da cama, pegou o jarro de água e encheu um caneco e depois se voltou para Margaery.

—Aqui—estendeu o caneco.

Margaery ergueu os braços e arrancou dos braços da jovem, levando-o até os lábios e bebeu a água fervorosamente. Deve ter parecido um animal, pois o líquido escorreu pelo seu queixo e ela nem se importou.

—Obrigada—Ela disse, limpando a boca babada e molhada com as costas da mão.

Ela ergueu o copo e Arya o pegou, enchendo-o novamente e devolvendo para Margaery.

—Já estamos chegando em terra firme–Disse Arya, enquanto Margaery sugava o líquido do recipiente.

—Mas já?—Questionou Margaery após terminar de beber—Devo ter apagado por mais tempo então, não pensei que chegaríamos em Winterfell tão rápido, ainda mais com esse clima.

Arya pareceu não ouvir suas dúvidas.

—Os homens do navio estão revoltados, então tome cuidado.

Aquilo a deixou confusa.

—Revoltados? Com o que?

—Com você—Ela respondeu—E imagino que comigo também.

Margaery entendia perfeitamente o porque alguém culparia Arya por qualquer coisa, afinal ela parecia atrair ou causar problemas, mas por quê ela também era acusada?

—O que? Comigo? Por que comigo? 

Arya deu de ombros.

—Eles culpam a nós pela tempestade. —Ela disse como se não fosse nada—Não que eu não atraia caos -pode questionar Sansa e Jon sobre isso-, mas acho que nem eu posso ser culpada por isso… Dessa vez.

Margaery não achou graça.

—Eu nem imagino o motivo para pensarem isso de você, princesa—Disse secamente—E o que foi feito quanto a isso?

—Nada.

—"Nada"?—Questionou furiosa—Como assim "nada"?

A fúria e desespero da donzela em nada abalaram Arya.

—"Nada" de "não fizemos nada sobre isso".

—Arya–Disse Margaery, tentando se acalmar–, esses homens podem até não lhe assustar, mas eles podem me matar.

Ela fez um gesto com a mão para mostrar que aquilo não lhe importava.

—Eles não vão fazer nada—Respondeu a jovem Stark—Bem, talvez fizessem antes do homem que os mais incitava-os contra mulheres não tivesse caído um belo dia no mar e se afogado.

Margaery levantou uma orelha.

—Se afogou, é? 

Arya deu um leve levantar de ombros.

—Bom, inicialmente parecia ter se afogado, até perceberem que ele estava com o pescoço quebrado, então primeiro ele caiu de algum lugar alto da Coca, quebrou o pescoço durante a queda, e caiu no mar.

Margaery balançou a cabeça.

—E isso não despertou mais dúvidas? Tem certeza que esse "acidente" não vai chamar mais atenção e, digamos, revolta.

Arya balançou a cabeça em negação.

—Eu teria mais medo no começo, quando facilmente poderiam ser loucos e tentar estuprar as únicas duas mulheres daqui, mas, pelos menos por agora, eles parecem apenas ter muito medo, raiva ou nojo para fazer isso. E, para sua sorte, eu garanti que nem um deles se aproveitasse de você enquanto dormia. 

Margaery fez uma careta.

—Como pode falar de coisas assim de forma tão simples?

—É o que vi nesses últimos anos, Milady–Ela respondeu de forma leviana—Mortes, abusos… Era horrível e continua sendo. Mas você aprende a não se amedrontar.

Sansa e o meio-irmão realmente devem ter enviado ela na esperança que morresse no caminho, pensou, imagina conviver com esse bicho da guerra todo o dia?

—Acho difícil acreditar que você um dia tenha sequer chorado, princesa–Disse Margaery-Parece bem fria para isso.

Arya a olhou de forma petulante.

—Bem, eu acho que pareço mais forte do que sou, pelo visto—Ela respondeu de volta—Mas acho que você, por outro lado, parece mais gentil do que realmente é.

Aquilo deixou a lady de Highgarden furiosa.

—Como se atreve a dizer isso, sua aberração? —cuspiu as palavras. Estava farta de palavras levianas e de aguentar aauela princesa insolente.—Acha que pode me julgar sendo que foi você que matou pessoas como se não fosse nada e trepa com um bastardo como uma prostitua qualquer? Não me admira que Sansa tenha se livrado de você o mais rápido possível! E graças aos deuses os vossos pais não estão vivos para lhe ver assim, sua assassina.

Pronto, pensou, eu disse!

Arya não demonstrou nenhum sinal de sequer ter ouvido as duras palavras de Margaery; não pareceu estar brava e muito menos triste. Um silêncio se instaurou na cabine, apenas a madeira se movendo pelas ondas faziam algum som.

—Qual o nome dele?

Margaery não poderia ter ficado mais confusa.

—De quem? Do que está falando agora?

—Do homem que lhe salvou.

Margaery estreitou os olhos e franziu o cenho, não entendo a quem ela se referia…

Foi então que se lembrou da tempestade, do homem que a ajudou e que ficou para trás para que ela fugisse.

—Oh… Ele! Eu nem…

—Nem lembrava?—Arya sorriu.—Você se lembra das pessoas que você visitava em Porto Real? Ou da família que a acolheu? Talvez do ferreiro do seu castelo.

Margaery se calou. Não lembrava de nenhum deles…

—Oh, pelos deuses—Respondeu irritada—Você quer que eu lembre o nome de um ferreiro?

—O meu era Mikken–Ela respondeu–Ele fez minha agulha.

Arya desembainhou a pequena espada e mostrou-a para Margaery.

—O nome da família era Qarl, Samantha e Jeyne—Ela disse, embainhando a espada novamente—E o homem que a salvou era o Sor Lothor Brune, um grande ajudante de Sansa. Ele a protegeu desde que ela fugiu da Capital.

—Eu não sabia…—Abaixou a cabeça.

—Pois é, não sabia. Mas tudo bem, muitos não sabem. Não são como eu e a minha família. E, se te serve de consolo, nesses anos perdida, eu achei pessoas bem piores que você.

Não eram tão ruins se você ainda está viva, pensou. Aquela garota nunca conviveu tempo suficiente com Cersei e Daenerys para saber o que era uma pessoa ruim de fato.

—Eu imagino que esses últimos anos tenham sido difíceis—disse Margaery.

Apesar da frieza costumeira, percebeu que havia um certo cansaço no olhar cinza da assassina. Ela pegou uma maçã e uma faca que estavam na mesinha ao lado e cortou um pedaço da fruta para Margaery.

Ela estendeu o pedaço e a donzela enferma o pegou. Mesmo a simples mordida a fez sentir um gosto tão doce que quase a fez chorar.

—Oh, obrigada.

—Bom—Disse Arya—, eu diria que não me orgulho do que fiz naqueles dias. Mas estou viva, é o que importa.

Aquilo deixou Margaery triste.

—Às vezes nem parece que vale a pena…—Disse—Perdi meu pai e meus dois irmãos, abandonei minhas primas e acho que nunca mais verei minha mãe ou minha avó… Nem mesmo meu último irmão. Viver já não tem significado.

Arya esticou uma mão até a outra mão de Margaery, mas hesitou e depois afastou, claramente não estando confortável com a situação.

—Olha, eu sei que pode não parecer, mas sei como você se sente—Disse Arya—Eu não pude salvar meu pai, não pude ajudar a resgatar Sansa, e depois, após achar que Bran e Rickon estariam mortos, eu achei que também havia perdido minha mãe e meu irmão.

"Também achava que não tinha mais lugar para a Arya da Casa Stark; mas eu estava errada. Eu reecontrei Gendry, Torta Quente, Sansa, Jon, Rickon… Talvez um dia eu até reencontre o Bran."

Margaery deu um sorriso triste e cansado para ela, comovida pela história (embora não tenha entendido a metáfora para reencontrar uma torta quente).

—Eu sei que as coisas estão péssimas agora–Continuou Arya–, mas você vai conseguir achar alguma estabilidade na vida depois; você tem coragem, eu sei disso.

Aquilo a fez rir.

—Acha que sou corajosa, é?

—Bom, não uma coragem de guerreiro, mas…—Ela tentou achar as palavras certas—Uma coragem de mulher.

Margaery sorriu genuinamente ao ouvir aquilo.

—Obrigada—Disse—De verdade, obrigada por ter me resgatado.

A jovem se levantou.

—Bom, acho que logo chegaremos em terra firme—Disse—Vou deixá-la descansando até lá.

A donzela assentiu.

Quando a jovem já estava abrindo a porta, a donzela na cama a chamou

—Arya!

Aquilo a fez se virar para Margaery.

—Sim?

—Desculpe por ter sido muito rude com você…

Arya deu um meio sorriso.

—Desculpe por lhe chamar de estúpida—Ela disse—Você só é um pouco lerda.

Ela fechou a porta e deixou Margaery sozinha. Ela olhou em volta, estava numa pequena cabine, totalmente bagunçada pelos tremores da outra tempestade. O cheiro de podre empesteiava o lugar, dando um nó em seu estômago. 

Pensando no que a estranha garota havia dito, Margaery se pegou pensando em tudo o que fez nesses últimos anos de sua vida: os casamentos, a coroa, as visitas à plebe, as prisões que teve… as perdas que teve que suportar.

Não posso me deixar parecer fraca, pensou, sou uma rosa de Highgarden.

Ela afastou as cobertas, ao fazer isso, percebeu uma enorme e velha mancha na cama e um cheiro fedido subiu e piorou o odor do local. Ignorando isso, ela tentou levantar.

Ela se sentiu estranha ao caminhar, como se seu corpo estivesse preguiçoso. Ao colocar os dois pés para fora da cama e tentar se erguer, ela acabou por cair, mas depois de um tempo conseguiu ter forças para levantar.

Queria que Elinor estivesse aqui, ela iria me ajudar.

Respirando fundo e fazendo força, ela ergueu e tentou manter o equilíbrio. Foi depois de algumas quedas que conseguiu se manter em pé de fato. Ela pegou um banquinho e bebeu toda a água que tinha e o resto da maçã.

Ela procurou por algo para se vestir e cobrir o corpo contra o frio, mas não havia nenhuma echarpe e o único vestido que ela tinha era o que usou no dia da tempestade: o simples vestido marrom com pérolas no corpete. Ele era de lã e poderia aquecer um pouco o seu corpo, mas estava desgastado, era pequeno e apertado.

Mas ela o vestiu mesmo assim, o corpete havia perdido algumas pérolas e o tecido estava um pouco estragado pela água salgada do mar que o havia atingido na tempestade que quase afundou a Coca.

Ela não achou nenhuma escova para pentear seu cabelo e nem um mero espelho.

O que isso importa? Tem coisas piores do que um penteado feio e um vestido sujo.

Ela só queria saber como seu nariz estava, lembrava-se de ter batido ele com tudo e ele ainda estava um pouco dolorido. Talvez estivesse inchado.

Suspirando, ela foi até a porta e girou o elo de ferro para abri-la e sair para o deque da coca.

O tempo estava mais calmo do da última vez, sem chuva, sem neve, sem raios… Era algo a se agradecer. Ela olhou para além das águas e percebeu que estavam se aproximando de terra firme, mas estranhou o local; pois não parecia Porto Branco.

Alguns homens a olharam quando ela saiu. Não como antes, admirando sua beleza, olharam para ela como se fosse uma criminosa foragida.

—Mulheres–Disse um homem e depois grunhiu–Nunca deveríamos ter viajado com elas a bordo.

Margaery se lembrou de um homem feio e careca entre eles, no dia da tempestade, mas não o viu entre eles agora. Percebeu que ele devia ser o homem que se "acidentou".

Preocupada, ela bateu os pés mais rápido para sair dali. 

Gendry e Arya estavam na murada, como da última vez. Desta vez, foi Gendry quem viu Margaery primeiro, pois a jovem estava de costas para ela e o filho de Robert estava de frente.

Arya se virou para vê-la.

—Bom dia—Disse Margaery.

Quando se aproximou, gendry fez uma careta.

Não era uma surpresa para ela, sua roupa camisa de linho não era trocada a há dias, seu vestido estava velho, mofado e a água do mar o piorou. Ela não tomava banho há dias, e havia se urinado várias vezes durante o período acamada… Até percebeu sangue seco entre as coxas, o que significava que ela tinha tido o sangue da lua enquanto estava apagada.

Ao sentir os olhos de Gendry sobre si e pensar em seu corpo se sujando como se ela fosse uma criança desleixada, uma sensação de vergonha percorreu o seu corpo.

Não. Não ia sentir vergonha de seu corpo. Ela não tinha culpa de estar fraca e não ter tido os cuidados que precisava.

Aquele meistre incompetente nem sequer cuidou de mim, pensou, Arya deveria tê-lo jogado mar ainda vivo.

Ela ainda poderia. Poderia pedir para Gendry enforcar aquele velho com a própria corrente. Sim, isso faria ele aprender a lição. Era hora dela mostrar que não era qualquer um que poderia ser desleixado com ela.

—Bom dia, Milady–Disse Gendry, tentando parecer normal, mas ele não fazia isso bem como Arya.

—Já estamos quase em terra–Disse Arya.—Sor Albar já foi preparar o nosso bote.

Margaery olhou para o pequeno local: não tinha nem um lugar para aportar, apenas pedras e mais pedras.

—Aqui não é Porto Branco—Disse Margaery voltando-se para Arya, irritada por ter sido enganado.—Achei que estávamos indo para Porto Branco e depois para a Corte de Sansa em Winterfell!

—Meu irmão Jon é o rei do norte–Disse Arya, ignorando todo o resto das reclamações que Margaery disse.

Ela bufou com a resposta de Arya.

—Onde estamos? Que lugar é esse?

—Esses são os Dedos.

—Dedos? A região do Vale?

Ela assentiu com a cabeça.

—Bem, o menor deles.

—E por que estamos aqui?—Ela perguntou.

—É a terra do Mindinho— Arya lhe explicou—Depois daqui nós vamos para os portões da Lua, onde uma amiga de minha irmã está. Estaremos seguros.

A moça não parecia falar coisa com coisa.

—Mindinho? 

A Stark revirou os olhos cinzas.

—Petyr Baelish. Ele mesmo disse que você e a sua avó já fizeram negócio com ele antes.

É assim que ele chama planejar e cometer um regicidio?

—Ah, é?—Ela perguntou: nervosa–E ele disse quais eram os malditos negócios?

Arya sorriu.

—Só que vocês duas preparam um jantar ótimo para Joffrey.

Margaery sentiu um medo apertar seu coração ao ver que ela sabia.

—Arya, por favor—Ela tocou seu braço—Não diga nada.

A moça afastou seu toque.

—A maioria dos sete reinos já sabem, Margaery.

Ela suspirou, horrorizada. Saber disso queria dizer que ela poderia ser julgada por Regicídio e a quebra do sagrado direito do hóspede. Eram os piores crimes que alguém poderia cometer, toda a casa Tyrell poderia ser manchada por isso.

—Eles sabem? 

Não, não, não, não, não, não, não, não…

Arya assentiu.

—Desde as cartas trocadas entre você e a vossa avó.

—Como pode saber!?—Não conseguiu esconder o desespero.

A assassina deu de ombros.

—Eu sabia, pois Sansa me disse—Ela revelou—, mas alguns lordes do norte e dos outros reinos soubessem, embora ninguém que achasse que fosse Sansa iria julgá-la por isso.

—E como o conteúdo das cartas pôde ser conhecido? Foram os usurpadores?

—Eu não sei, cada pessoa da plebe falava algo diferente, mas, quando partimos de Porto Branco para a Capital, havia algumas pessoas comentando.

Não, não, não, não, não, não, não, não…

—Fique calma—Disse Arya—Não vai acontecer nada com você.

—Como você pode saber?

—Sansa vai entrar em sua defesa—Respondeu—Ela detesta Joffrey e o Norte também. Assim como os senhores dos Rios, do Vale…

—Arya—Interrompeu—, esses lordes nunca iriam defender alguém acusada de Regicídio, e nem da quebra do sagrado direito do hóspede, ainda mais depois do casamento vermelho!

—Joffrey foi um dos culpados do casamento vermelho—Disse Arya.

—E isso faria esses lordes deixarem de julgar quem quebrou esse direito? Pode me garantir que sim? Ainda mais se decidirem acusar Sansa e ela quiser se livrar das acusações?

A garota não achou resposta para aquilo.

Gendry interveio.

—Margaery, nenhuma dessas casas pareceu se importar com o fato de ter Sansa envolvida nisso—Ele disse—E, mesmo que eles saibam que não foi ela e sim você, não parecem se importar. Não tem provas até o momento e Sansa dificilmente iria lhe acusar. 

—Eles tem minhas cartas!—Gritou—Não entendem? A fé vai querer me julgar! Os Lannister vão querer me julgar! Os inimigos dos Tyrell, sejam os Dorneses ou nossos vassalos traidores! Talvez até Stannis!

Lágrimas jorravam de seus olhos, podia sentir seu nariz escorrer enquanto ela se abraçava e tremia. Soluços incontroláveis subiram pela sua garganta.

—Deuses…—Disse Gendry, chocado com a cena.

Arya tocou-lhe o ombro.

—Acalme-se—Disse Arya—Nós vamos lhe ajudar, está bem?

Você seria a primeira a tentar me matar caso sua irmã estivesse em perigo.

—C-como?

—Escondendo você—Ela disse—Sansa nunca lhe entregaria, mesmo que lhe acusasse para se defender, poderia ficar aqui: nos dedos. A jóia de Melisandre iria ajudá-la a se esconder..

Ela ficou incrédula, olhando para o pedaço de pedra que Petyr chamava de terra.

—Aqui!? Eu me recuso a ficar aqui!

Arya a olhou como se fosse estúpida, para variar.

—Você é quem sabe—Ela disse—Nós ficaremos aqui até a cavalaria do Vale chegar e nos escoltar, a nove está muito densa, os gatos-das-sombras e os clãs estão mais selvagens nos últimos tempos.

Deuses, pensou, os reinos estão um caos.

Margaery abaixou a cabeça. Não tinha escolha.

—Certo.

Edric chegou logo depois.

—Estamos prontos, Arya.

—Certo—Ela disse assentindo—Vamos sair logo desse navio de merda.

Arya passou por Margaery a passos largos. Gendry botou uma mão apaziguadora em seu ombro.

—Fique tranquila—Ele disse.—Pode não parecer, mas a Arya gosta de você. Vai protegê-la.

—Você acha mesmo, sor?

—Claro! Além disso, a Rainha Sansa parece querer protegê-la.

Isso se ela mesma não estiver esperando por mim, para se vingar.

—Que os deuses queiram que esteja certo, Gendry.

—Só existe um deus, Margaery—Ele disse—Só quando você aceitá-lo você vai estar protegida de verdade.

Ela não viu escolha a não ser sorrir e acenar com a cabeça. Ela percebeu que havia um machucado no lábio do jovem e um na testa, este último estava um pouco escondido pelo cabelo preto.

Ela imaginou que a ferida na cabeça deveria ter sido causada pela tempestade, mas ela teve a leve impressão de ter sido outra coisa…

—Ah, e eu só queria agradecê-la, por ter me dito a verdade.

Margaery inicialmente não entendeu o que ele dizia, até se lembrar da última conversa entre eles.

—Oh, não tem de que, Sor, era o mínimo que eu poderia fazer pelo meu cavaleiro. 

O garoto ruboresceu ao ouvir aquilo.

—Acha que Sansa me legitimaria? Talvez o Jon?—Ele perguntou.

Foi difícil para ela manter o sorriso. Aquilo era uma pergunta absurda.

—Eu… Eu não sei, Sor…

—Eu queria que sim—Ele disse—Digo, acho que Stannis não gostaria, mas quem sabe…

—Ser um lorde é difícil—Ela disse, tentando avisá-lo que deveria deixar aquela ideia absurda.

Ele deu de ombros.

—Ah, eu não ligo para isso—Ele disse—Eu só quero ter um sobrenome para ficar com a Arya.

—Oh…—Ela ficou sem palavras.

—Eu sei que é estranho—Ele disse de forma defensiva—Mas sei que Arya está acima de mim, e por mais que ela negue, eu sei que ela terá que casar com algum lorde.

—Gendry—Disse Margaery—Dificilmente os lordes das tempestades e Stannis vão permitir isso.

—Margaery, eu não tenho nada—Ele disse—Eu sei que eles podem até me dar um título, terras e coisas assim por lhe resgatar… Mas é a Arya quem eu quero. Não nasci para ser um prostituto qualquer dela.

—Gendry…

Ouviram um assobio de Arya, chamando-os para sair.

—Vamos–Disse Gendry.—Depois nós falamos sobre isso.

—Certo—Disse Margaery.

Um homem cuspiu enquanto Margaery passava por ele e seus colegas. Ela percebeu que nem ele e nem seus colegas iriam velejar com uma mulher a bordo novamente.

 

Sor Albar e o jovem Ned ajudavam o velho e raquítico Meistre a descer.

 

Ao ver a imagem daquele homem com roupas cinzas, o coração de Margaery se encheu de raiva.

 

—Ele vem mesmo conosco?—Perguntou irritada.

 

O velho fingiu não ouvir enquanto entrava no bote.

 

—Ele a ajudou enquanto estava doente—Disse Arya.

 

—Eu estou podre por causa desse incompetente—Ela disse—Estava dormindo em minha própria urina!

 

Gendry fez uma careta.

 

—Que nojo.

 

—Não tem meistre nos dedos—Disse Arya—E não podemos nos dar ao luxo de perder a única pessoa que sabe curar ferimentos e usar os remédios e venenos.

 

—Ué, você sabe, Arya—Disse Gendry.—Eu sei, pois eu mesmo já a vi usar.

 

A Stark o respondeu com um olhar cortante.

 

—Ninguém vai tocar nele–Ela respondeu de forma enfática.

 

Margaery balançou a cabeça, estava farta de pessoas falharem com ela e ficarem impunes.

 

—Não—Ela respondeu—, não aceitarei isso.

 

—Vamos, Arya—Disse Gendry—Você mesma estava desconfiada dele antes, e claramente ele foi negligente com a Margaery.

 

—É, mas eu estava errada—Ela disse e depois se virou para encarar Margaery—E, se ninguém realmente se importou em lembrar de limpar você.

 

A nortenha saiu andando até o bote antes que algum dos dois falasse algo em protesto.

 

Gendry foi até Margaery quando Arya se afastou.

 

—Minha senhora, gostaria que algo acontecesse ao rato com corrente?

 

Parte de Margaery queria só dizer que não, que ela não era como Arya que buscava resolver tudo com violência… Mas tinha outra parte dela que estava farta se ser passiva e boazinha. E Gendry era como um escudo juramentado, pronto para seguir as ordens de sua donzela em perigo.

 

—Cuide disso—Ela disse—E depois posso até resolver suas questões com a rainha Sansa.

 

O galante Sor Edric ajudou Margaery a descer.

 

Ao se sentar na proa do pequeno bote, percebeu que Arya olhava de forma zangada para ela e para Gendry. Mais do que de costume.

 

Ela deve estar só desconfiada, pensou, não é possível que tenha ouvido.

 

—Algum problema, Lady Arya?—Perguntou Margaery—Tem algo que fiz que lhe desagradou? 

 

—Não—Ela respondeu—Ainda não.

 

Gendry fez um "Tsc", enquanto remava.

 

Ao subirem nos montes de pedra, alguns criados saíram da torre ao encontro do grupo; uma velha magra e uma gorda de meia-idade, dois anciãos de cabelos brancos e uma menina com uns seis anos, junto de um menino de dois.

 

Esse é o povo de Petyr?, perguntou-se ao vê-los. Não era uma surpresa que o lorde do menor dos dedos estava louco para sair daquele lugar inóspito.

 

Sor Gendry e Edric se ofereceram para ajudar Arya a sair, mas ela se irritou com a discussão dos dois e enfiou as pernas na água.

 

Gendry foi até Margaery e, junto de Sor Albar, levantou Margaery para ela não se molhar. Enquanto isso, Edric ficou cabisbaixo e teve que ajudar o velho meistre.

 

Bem feito, pensou, assim ele pára de procurar uma qualquer e se dá ao respeito.

 

—Continue tentando—Disse Margaery ao ser levantada—Um dia vai conseguir que ela se lembre de você.

 

Todos que esperavam entre as pedras se ajoelharam. Uma velha que parecia beirar aos oitenta foi a primeira a levantar e falar com o pequeno grupo.

 

—Eu sou Grisel–Se apresentou a mulher—Tenho a honra de ser a cuidadora do castelo de Lorde Petyr.

 

Está mais para desonra…

 

—É um prazer conhecê-la—Disse Margaery com um amável sorriso no rosto.

 

Andaram por pela costa, foi um caminho complicado, pois era cheio de pedras escorregadias por causa das algas que as cobriam. Arya parecia se movimentar melhor que todos e não perdeu tempo em esperá-los. Margaery, por outro lado, era a mais lenta, não havia achado nenhum sapato, o que a fez ter mais dificuldade em andar. Ela acabou escorregando duas vezes nas rochas, uma delas quase ralando seu joelho e rasgando seu já desgastado vestido marrom.

 

Arya os esperava em frente a torre.

 

Um punhado de ovelhas vagueava em volta da base da torre de sílex, pastando a escassa grama que crescia entre o curral e o estábulo de telhado de colmo. Margaery tentou tomar cuidado ali, pois estava cheio de fezes. Infelizmente, ela acabou por pisar em um dos dejetos dos animais e caiu novamente ao esbarrar em outra.

 

Não é como se eu estivesse cheirando bem mesmo…

 

Lá dentro, a pequena torre parecia menor e escura. Uma escada aberta de pedra corria em volta da parede interior, desde a galeria subterrânea até o telhado. Cada piso não era mais do que um único cômodo. Os criados viviam e dormiam na cozinha, no piso térreo, dividindo o espaço com um enorme mastim malhado e meia dúzia de cães pastores. Por cima havia um pequeno salão, e ainda mais acima o quarto de dormir. Não existiam janelas, mas havia seteiras em intervalos regulares na parede exterior, ao longo da curvatura da escada. 

 

Margaery foi levada a um andar com uma lareira alimentada por fezes, aquecendo um pequeno caldeirão cheio de água, ela se sentou em uma velha cadeira. Uma pequena banheira foi deixada lá.

 

—Nós vamos encher a banheira logo, logo—Disse a idosa Grisel, enquanto entregava comida a Margaery—Até lá, como um pouco, minha cara. É um prato especial para uma convidada especial.

 

O prato era um pedaço de carneiro frio em salmoura, com ovos de gaivota.

 

—Estamos preparando uma bela sopa de algas também.

 

Margaery se sentiu ultrajada e quase jogou o prato naquela velha caindo aos pedaços. Nem a taverna em que ela dormia em Porto Real era tão podre.

 

Devia ter morrido na tempestade, pensou, seria melhor do que estar nesse fim de mundo.

 

—Muito obrigada, senhora—Disse Margaery—Tenho certeza que a comida de vocês é deliciosa!

 

Arya cochichou algo no ouvido de Gendry e isso o fez sorrir como um bobo, ambos saíram em direção a escada sem falar nada e subiram.

Pouco depois, eles puderam ouvir um leve barulho vindo de cima, onde ficava o quarto.

—Bom—Disse Sor Albar, tentando ignorar a cena constrangedora—, eu irei deixar Milady descansar e ver se o meistre pode enviar um corvo a minha irmã, com sua licença.

Ele fez uma longa venia e desceu as escadas em busca do meistre.

Ned ficou um tempo e agradeceu o tenebroso prato que a velha que beirava a ser um cadáver lhe deu. Após isso, ele ajudou a despejar a água na banheira e foi pegar os outros baldes na cozinha até encher a banheira. 

—Vou deixá-la se banhar em paz—Ele disse—E tentar ver se querem ajuda na cozinha.

Acho que todos nesse fim de mundo precisam de ajuda.

Ela entrou na banheira –que nem estava tão quente assim– e se esfregou com uma escova para cavalo velha, nem sequer tinha um simples pedaço de sabão. Agradeceu aos deuses por finalmente tirar as enormes crostas de sangue e sujeira das pernas. Seu corpo ficou em carne viva de tanto que se esfregava e seu cabelo estava perdendo fios. Quando terminou, toda a sua sujeira de seu corpo deixou a água suja.

 

A mulher gorda que havia visto mais cedo deixou um simples vestido para Margaery usar. Era de lã cinza e era mais simples que o marrom que ela usava anteriormente, mas era menos desgastado e não lhe era apertado.

Depois de se secar e a filha da mulher gorda a ajudar a se vestir, trouxeram-lhe a insossa sopa de ovos e algas para ela, junto de um copo de leite de cabra fermentado.

Era degradante, mas era tudo o que tinha.

 

Por cima da lareira pendia uma espada longa quebrada e um desgastado escudo de carvalho, com a tinta rachada e descascando. Apesar de velho, ainda era possível ver a figura pintada: uma cabeça de pedra cinza com olhos de fogo em fundo verde-claro.

 

Deve ser da família de Petyr, pensou. Ele o viu apenas uma vez, mas nunca conversou com ele. Mas se lembrava de vê-lo usar um pássaro simples, não uma cabeça com olhos em chamas.

Petyr Baelish... Dependendo do que ele sabia, Margaery era quase uma refém dele. Foi um erro de sua avó menosprezá-lo e confiar nele, ela só podia torcer para Sansa não cometer o mesmo erro.

 

Um enorme trovão pode ser ouvido, logo depois, a queda da chuva. Eles haviam chegado a tempo de fugir de mais uma tempestade.

 

Pouco depois de a chuva começar, um simples e cego cachorro entrou no local, balançando o pelo molhado para se livrar da água em seu pelo e deitou ao lado da fogueira.

 

—Também está sozinho, não é?—Perguntou Margaery enquanto terminava sua sopa.—Eu sei como é.

 

Ela deve ter cochilado pouco, pois se viu sendo despertada com um grito assustado. Até o cachorro cego despertou e ergueu a cabeça em direção ao som.

 

Agitada, Margaery se levantou e foi ver o que havia acontecido.

 

Ao chegar na escada, ela olhou para baixo e viu Gendry em pé, ao lado de um homem caído, gemendo de dor.

 

—O que houve?—Uma voz perguntou alguns degraus acima, antes que Margaery pudesse fazer a mesma pergunta.

 

Ao olhar para cima, viu Arya, colocando uma camisa de linho para cobrir os minúsculos seios.

 

—Ele caiu—Respondeu Gendry simplesmente, como se não fosse nada—Esse velho desajeitado caiu.

Edric foi correndo e se agachou ao lado do velho caído. Os gemidos do homem logo se tornaram gritos.

—Teremos que arranjar um meistre para o meistre—Zombou o bastardo ao ver o jovem loiro tentar ajudar o velho sozinho, enquanto Sor Albar corria para ajudá-lo.

Ele olhou para Margaery, que agora se via um pouco arrependida ao ver a imagem do homem ferido, com aqueles intensos olhos azuis e sorriu.

—Talvez agora ele tome mais cuidado de agora em diante. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.