Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 29
Forte Vermelho




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Tiveram que levar quase toda a guarnição do Portão Sangrento para fazer a viagem. A estrada de altitude estava tomada por neve, assim como todo o restante dos sete reinos; o pior, porém, não era a neve ou os Gatos-das-sombras, e sim os clãs da montanha, pois eles andavam armados até os dentes com aço e revestidos de cota de malha.

O percurso que o grupo seguiu — para variar —, foi bem longo; maior até do que o que Margaery percorreu até chegar nos Portões da Lua — o caminho percorrido foi mais curto, todavia, estava ainda mais cheio de neve.

Houve ataques, diversos deles. No fim, dos trinta homens que fizeram a escolta apenas seis ainda permaneciam. O cozinheiro também morreu, assim como um cavalariço, e todos os escudeiros. Uma serva, que sobreviveu à avalanche que soterrou o Portão da Lua, acabou sendo sequestrada pelos clãs, levada para dentro da mata — caso não tivessem cortado-lhe depois de estuprá-la, talvez a usassem como algum tipo de escrava sexual; Margaery não sabia os costumes daqueles homens selvagens e nojentos.

Até os Gatos-das-Sombras estavam mais ferozes — talvez estivessem famintos, dado o clima extremo, que matou a maioria de suas presas. Eles viviam seguindo a turba onde Margaery estava; era possível ver seus olhos felinos, cinzas, como os de Arya, com um corte no centro. Às vezes, eles brilhavam com a luz dos archotes.

Os animais tinham um pelo preto e expesso, com linhas brancas como a neve; seus corpos volumosos e peludos se camuflavam na escuridão e na neve, usando-os como manto, escondendo-se dos olhos humanos. Esperando o momento para atacar.

Os felinos eram rápidos. Atacavam principalmente os feridos de outros ataques anteriores dos clãs, surgindo das sombras e neve quando todos dorMyam ou ficavam para trás. Eram ataques rápidos, mas nem por isso menos violentos. Os animais penetravam o couro curtido, a carne, ossos e músculos como espadas rasgavam seda fina. As garras evisceram as presas com facilidade, fazendo sangue e tripas jorrar de dentro dos corpos das vítimas que gritavam. Seus dentes, parecidos com lâminas cegas, eram tão potentes que quebravam ossos com extrema facilidade.

Quando não tinham ferido a disposição para servirem como presa, os sombrios animais atacavam aqueles estivessem mais fracos ou distraídos; esperavam que até que eles estivessem distraídos, esperando o momentos certos para atacar. Os jovens escudeiros eram as principais vítimas daqueles animais.

Margaery nunca se esqueceria dos gritos de dor das vítimas, enquanto estas sentiam as garras e presas dos predadores rasgando seu corpo, comendo-os vivos.

Nunca esqueceria os rugidos dos Gatos-das-sombras também. Um rugido imponente, que cortava o ar denso e frio da noite, enchendo o coração daqueles que os ouviam de medo.

Houve lutas tanto contra os Clãs das Montanhas quanto contra os felinos noturnos. Sor Albar teve um ferimento no braço, mas não morreu — o que não foi o mesmo caso de outros dois cavaleiros, que morreram pelos ferimentos causados pelos ataques.

Perto do fim da caminhada, quase não haviam cavalos, o que só serviu para atrasar mais o grupo. Alguns cavalos foram mortos por estarem feridos, e foram servidos como alimento, outros, foram comidos pelos predadores. Os dois cavalos que levavam a carruagem onde Margaery, Myranda, Jeyne e — a contragosto do próprio — Lorde Albar, eram os mais protegidos, pois, sem eles, as pessoas dentro da construção de madeira ficariam expostos ao perigo.

Após um tempo, nem paravam mais de seguir o caminho; não dorMyam, e coMyam enquanto cavalgavam pela neve, sem parar.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

O Forte Vermelho dos Redfort não era dos piores castelos que Margaery poderia se hospedar. Era até bem grande, embora simples e quadrado, e, fazendo jus ao nome, o forte era construído inteiramente de tijolos e argamassa vermelhas, fazendo Margaery lembrar-se dos tijolos vermelhos da fortaleza vermelha. As muralhas eram altas, e fortes. Era bonito de se ver, apesar de ter um estilo um tanto rústico.

Os portões abriram para que eles pudessem passar. Margaery e seus companheiros oscilavam dentro da liteira enquanto passavam por baixo do aro de argamassa vermelha.

No pátio, a liteira foi aberta e aqueles dentro dela puderam sair de dentro.

Um cavaleiro usando a libré com o símbolo dos Redfort ajudou Margaery a descer da carruagem. Logo atrás dela, veio Mya, Myranda, Sor Albar e Jeyne Poole — esta última sendo um grande milagre por ter sobrevivido…

Ou muito azar.

Havia poucos soldados no pátio, usando roupas velhas e de couro mal curtido. Pareciam ter um aspecto sujo e rude, nem sequer saudando os que chegavam no local para se hospedar.

O meistre do castelo e a esposa de um dos filhos de Lorde Horton, Ysilla, os saudaram ao chegarem em seu castelo. A jovem era parente distante de Myranda, até onde Margaery sabia, sendo uma das filhas de Lorde Yohn Royce, Lorde do ramo principal da Casa Royce de Pedrarruna.

— Lorde Albar — a jovem fez uma profunda reverência ao irmão de Myranda. — É uma tristeza nos reencontrarmos nesta difícil e triste ocasião. — Continuou: — Terão todos os cuidados que precisam aqui.

Sor Albar forçou um sorriso e meneou a cabeça.

— Obrigado, prima. É um prazer…

— Não ficaremos muito tempo, acalme-se quanto a isso, prima — interrompeu Myranda, como se ela própria fosse Lady dos Portões da Lua. Virou-se para o meistre usando uma manta cinza de lã pesada. — Por que está parado aí? — indagou, ralhando o meistre. — Não vê que temos feridos? Meu irmão está com o braço machucado, um dos guardas está com o tornozelo quebrado, outro tem uma infecção nos cortes do ataque de um dos Gato-das-sombras e Lady Jeyne precisa ser inspecionada.

O meistre assentiu, lambendo os lábios. Puxou um dos elos da corrente, parecendo desconfortável com a situação.

— É claro, Milady.

Myranda virou-se para a Ysilla Royce.

— Não tomaremos muito tempo, eu prometo — garantiu ela. — Apenas passaremos uma noite ou duas aqui.

Ysilla deu um sorriso, sem jeito.

— Vai também? — indagou Ysilla. — Creio que seria melhor você ficar; o reino está um caos, e os rumores que ouvimos…

— Tenho minhas ordens — cortou Myranda. — Agora, se puder mostrar em que quarto eu e minhas companheiras vamos ocupar…

Ysila assentiu e ordenou ao meistre que cuidasse dos outros chegados — embora Myranda já o tivesse ordenado para fazer aquilo —, enquanto ela levaria Myranda e seus companheiros para os seus cômodos.

— Quanto menos tempo aqui, melhor — comentou Mya Stone, carrancuda, e olhando de soslaio para a dama que os recebeu na entrada. 

— Agora não, Mya — censurou Myranda, enquanto saiam do pátio.

Margaery escutou tudo, curiosa com a reação da moça bastarda.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

O quarto em que as moças iriam ficar era o segundo maior de todos. 

— Pertencia à falecida esposa do meu sogro, Lorde Horton — disse Ysilla. Apontou para uma portinhola com um aceno da cabeça. — Ali fica uma saleta, caso alguma de vocês queira ficar separada das outras. 

Feno fofo e ervas aromáticas estavam jogadas no chão, tapeçarias cobriam as paredes e as vigas no teto do aposento. Velas aromatizadas estavam acesas, enchendo o ar de canela, noz moscada e  mel. Panelas douradas aqueciam os lençóis da enorme cama do local. Uma esteira se encontrava ao lado da cama maior, e havia uma cama menor, provavelmente para outra aia dormir no local.

O cheiro do local era doce e amável. Simples, mas confortável.

Margaery foi até uma poltrona e sentou-se nela. Deu um suspiro de alívio, fatigada. Se dependesse dela, ficaria ali para sempre e que se danasse o resto do mundo. Estava farta de tantos perigos; uma mulher não poder-lhe-ia mais ter uma vida pacífica, afinal? Sua vida estava tão agitada que era até estranho acreditar que ainda não tinha 30 dias de seu nome, pois nunca imaginara que uma simples moça dócil como ela passaria por tantas coisas.

— Bem, eu irei deixá-las sozinhas — disse Ysilla. — Quando ouvirem um badalar, é um sinal de que a comida estará pronta.

Myranda acenou e agradeceu, deixando a anfitriã ir embora.

— Eu deveria ter ficado no Portão Sangrento — reclamou Mya após Ysilla ir embora. — Evitaria esta situação estapafúrdia.

— Pare de reclamar — ralhou Myranda, tirando o manto dos ombros. — Logo iremos embora. — Foi até uma mesinha e colocou as palmas da mão sobre um braseiro aceso. Jeyne sentou num banquinho ao lado e ergueu as mãos para aquecê-las também.

— Qual seu problema com Ysilla, Mya? — Indagou Margaery, enquanto se recostava no banco e se aquecia na lareira.

Mya ficou carrancuda, e quem respondeu foi Myranda:

— Não diria que o problema é exatamente Lady Ysilla, e sim seu marido. — A jovem olhou de soslaio para a colega bastarda. — Eles tiveram uma história.

— Oh, eu entendo. — Deu um sorriso complacente para Mya, mostrando que entendia a situação da jovem.

Margaery bem sabia que alguém como Mya dificilmente seria uma donzela; bastardos eram seres de luxúria e conhecidos por quererem coisas que não tinham direito; era óbvio que alguém tão sem modos como a suja Mya seria uma mulher de lascívia e visando alguém com quem pudesse ter algum prestígio — embora Margaery não soubesse o que um homem veria de atraente na bastarda; ela era sem modos, fedida, e mais parecia um garoto ou um centauro do que uma moça.

Talvez o antigo amor de Mya não fosse do tipo masculino, pensou Margaery, ela tem cara de que não prefere homens de verdade. Nem todos eram como seu falecido irmão, que apesar de gostar de outros homens, era o epítome do cavaleiro; bonito, forte, guerreiro… O mais provável era que o antigo amante de Mya estava tentando achar algo mais próximo de seus desejos íntimos, sem se arriscar.

 — Não foi culpa de Mychel, Mya — disse Myranda. — O pai dele o obrigou a casar-se, ele não teve escolha…

Mya bufou:

— Então por que ele teve de me iludir? — questionou, furiosa. — Eu confiei nele, me entreguei para ele, dei tudo o que era meu para ele, Myranda! Se ele não ia me ter, por que me iludiu assim?

Myranda tentou falar algo, mas logo desistiu e fechou a boca.

— Não devemos pensar nisso agora  — disse Jeyne, ainda mais magra e pálida do que antes, e com uma voz fraca. — Temos de nos acalmar e descansar antes de partirmos daqui.

Mya assentiu e Myranda tocou o ombro de Jeyne.

— Deveria ficar, Milady — disse ela, com uma voz suave. — As terras aqui são devastadas, e no Tridente será ainda pior. Será mais seguro se você relaxar por aqui, querida. Não é tão cheio de homens brutos como no Portão Sangrento e posso mandar Ysilla dar um bom quarto para você.

Ela tem tanta complacência com Jeyne, pensou Margaery, franzindo o cenho com a cena, e não comigo, que realmente corro riscos no Tridente. Era como se ninguém importasse com as suas dores; quem iria se importar com Jeyne? Ela não era importante para ninguém, então por qual motivo se preocupar tanto? Margaery duvidava que algum homem sequer iria querer ter algo com ela, mesmo que por uma noite. Ela era muito feia, e para quem soubesse de seu passado, teria ainda mais repulsa.

Jeyne negou as ofertas de Myranda com um meneio da cabeça.

— Devo unir-me a Sansa — disse Jeyne. — Ela precisa de mim e eu preciso dela.

Você precisa do apoio que ela pode te dar, isso sim, pensou Margaery. Era óbvio que a amiga de Sansa iria usar de sua influência para ter o que queria — de outro modo, como poderia ter alguma proteção nessa vida?

— Você é a Lady de Forte do Pavor, Jeyne — Margaery, indo até a mesa onde as três moças estavam sentadas e pegando uma jarra de vinho. — De acordo com a lei da viúva, você é a dona do castelo e das terras até que herdou de seu falecido marido. — Verteu o vinho num cálice.

Ao lembrar de seu antigo marido, Jeyne tremeu.

— Não quero nada de Ramsay — disse ela. — Nem sequer sei quem está a cuidar do castelo.

Margaery pegou o copo e tomou um gole.

— Bem — disse ela —, eu entendo seus motivos, mas ainda é um dos melhores castelos do Norte, pelo menos até onde eu sei. — Continuou: — Muitos bons lordes vão querer desposá-la para tê-lo para si, junto das terras que o acompanham.

Jeyne tremeu novamente e pareceu prestes a chorar.

— Não quero casar-me novamente — gaguejou. — Pelos Deuses, não suportar-me-ia ser tocada novamente. — Chacoalhou a cabeça. — Nunca mais.

Myranda colocou uma mão por cima da mão da jovem, tentando acalmá-la.

— E nem vai querida — olhou para Margaery de soslaio, claramente irritada. — Viúvas não são obrigadas a se casar novamente. Acho que Milady Margaery se esqueceu disso, visto que sempre está pulando de um marido para o outro; nem sequer espera os corpos esfriarem.

Margaery encarou Myranda com raiva. Aquela maldita rechonchuda enxerida estava jogando na cara dela que ela se casou com três homens? Como ela se atrevia a fazer aquilo? Quem ela pensava que era para ter achar que tinha o mínimo direito a dar algum pitaco sobre a vida de Margaery?

— Estou cansada — disse Jeyne, com a voz fraca e fadigada. Levantou-se da mesa. — Vou dormir na saleta. Quero um lugar pequeno e quieto para dormir de agora em diante.

— Vai querer comer com a gente mais tarde? — indagou Mya.

Jeyne fez que não com a cabeça.

— Comerei aqui, mais tarde.

— Também vou ficar — avisou Mya. — Não quero ficar perto de Ysilla.

Myranda suspirou.

— Bem, tudo bem, terei de enfrentar os olhares de meu irmão sozinha. — Olhou para Margaery de relance. Era óbvio que Myranda estava sentindo que as duas não estavam se dando bem.

Margaery ignorou o comentário de Myranda e bebericou mais um pouco do vinho.

— Percebeu que nenhuma serva foi colocada aqui para nos servir? — observou Margaery.

Myranda acenou com a cabeça, compartilhando de sua observação.

— Acho que tem poucos servos — disse Myranda. — Ela parecia… Cansada.

Margaery aquiesceu.

— Deve estar tendo difícil para ela, afinal, não tem ninguém além do meistre para ajudá-la.

— Tem razão. — Myranda deu de ombros. — Bem, eu não pretendo dar muito trabalho para ela; pretendo partir logo.

Margaery acenou com a cabeça, deu um último gole de vinho e levantou-se do banco, indo deitar-se na segunda cama do cômodo. Enrolou-se nos lençóis quentes, e sentiu a palha seca por baixo dela. Fechou os olhos.

Estava tão cansada que não demorou para cair no sono.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

O salão do Forte Vermelho não era muito grande e estava bem vazio. Apenas Margaery, Myranda, Albar e Ysilla estavam comendo na mesa central do salão, todas as outras estavam vazias. Estava um pouco escuro, pois acenderam poucas velas para iluminar o local, junto de uma lareira no centro, para os aquecer.

Margaery percebeu que o lugar não estava sendo limpo havia um tempo; as tapeçarias estavam sujas, as peles de animais no chão também já estavam desgastadas, e as janelas de cristal não pareciam ser abertas há um bom tempo e uma camada de poeira cobria todo o local, deixando um cheiro sufocante.

A comida era apetitosa, uma boa porção de maçãs e abóboras cozidas.

— A comida está ótima, Milady — disse Margaery para a anfitriã, de forma complacente. Ysilla sorriu de volta.

— Que bom que gostaram. As coisas andam bem… — ela parou para pensar no que falar sem realmente transparecer os males que enfrentavam, franzindo o cenho.

— complicados? — sugeriu Margaery, vendo a dificuldade da jovem.

— Isso! — concordou Ysilla. — Sim, claro!

Margaery acenou com a cabeça, mostrando que entendia o que a moça queria dizer. De fato, aqueles eram tempos difíceis para o Vale: Sansa e os lordes levaram praticamente toda a comida com eles para o Norte; o inverno estava mais rigoroso do que pensavam que seria; as terras estavam cheias de salteadores, Clãs selvagens e Gatos-das-Sombras; e, pelo que Margaery soube, Bronze Yohn e alguns lordes, numa tentativa de conseguir dinheiro para usar contra Petyr — enquanto este ainda era regente no Vale e Sansa estava disfarçada —, venderam todo os grãos que tinham, ficando com quase nenhum alimento.

— De fato — disse Sor Albar, olhando de soslaio para a irmã —, não me agrada em nada a situação em que estamos.

Myranda ignorou o comentário do irmão mais velho.

— Bem — comentou Myranda —, nem tudo é como queremos.

— De fato — Concordou Margaery, secamente. Pegou uma taça de vinho quente e bebericou um pouco, para ajudar a descer a comida e aquecer o estômago. Pisou numa erva aromática que estava perto de seus pés, mas já estava tão desgastada que não tinha perfume algum nela.

— Você tem um castelão, Ysilla? — indagou Myranda.

A jovem negou com a cabeça.

— Ah, infelizmente não — lamentou-se. — O pobrezinho morreu quando a bexiga estourou. — Continuou: — Desde então, tem sido ainda mais difícil; as vilas aqui perto, de onde tiramos algum dinheiro e alimento, foram saqueadas pelos bárbaros dos clãs selvagens.

Sor Albar ficou boquiaberto.

— E você enviou ajuda?

— É claro que enviei! — exclamou a jovem, como se ofendida com o questionamento, corando. — Infelizmente, tínhamos poucos homens, e tivemos muitas baixas. — Bebericou um pouco de vinho aguado. — Fui obrigada a fechar os portões quando os selvagens chegaram muito perto. A vila do lado de fora foi incendiada… Eu mesma vi as chamas queimando e brilhando pelas ameias das muralhas… E os mortos foram enterrados no solo pouco depois da ameaça ter sido eliminada… — Suspirou. — Na verdade, ter ido embora, pois não chegamos a tempo. Andamos tendo uma série de ataques destes selvagens.

— E você conseguiu ajudar a reconstruir o local? — indagou Myranda, mas Margaery imaginava que ambas já sabiam a resposta.

— Infelizmente não — respondeu Ysilla. — Não tenho homens e nem dinheiro para tal. — A moça deu um olhar hesitante. — Na verdade, nem mesmo mando cobrarem impostos, pois os novos impostos que o antigo rei ditou…

Myranda suspirou.

— Sei bem o que deu: revolta, estou certa?

Ysilla assentiu.

— Ficaram furiosos, houve uma revolta, e mataram o sheriff da cidade — revelou. — E quase não estou conseguindo colher grãos, pois as colheitas estão quase todas mortas, seja pela neve do céu ou o fogo dos inimigos, e dúvido que os plebeus queiram entregar alimentos para mim, pois sei que me culpam pelas atuais condições que enfrentam. — Ysilla olhou em volta, para o castelo, como se temesse que fosse desabar sobre ela a qualquer momento. — De fato, temo até sair deste local. — a jovem se abraçou, como se estivesse com frio e seus olhos começaram a chorar. — Os plebeus tentaram entrar em busca de ajuda, mas não tinha como ter mais bocas famintas por aqui; eles se zangaram e me chamaram de coisas horríveis, enquanto jogavam comida podre e fezes nas muralhas.

Quebrando, Ysilla começou a chorar e Myranda levantou-se e foi ao seu auxílio, sendo mais rápida que seu irmão.

— Não chore, querida — Disse Myranda, dando um abraço acalentador na jovem. — Nada disto é culpa sua, acredite. É a guerra, não há nada que você possa fazer.



X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Terminado o prato de comida, Margaery se retirou e foi rezar até o septo antes de dormir.

O septo do Forte Vermelho era pequeno, tendo sete lados e feito de blocos vermelhos. Tinha belas vidraças coloridas e chumbadas, com imagens exuberantes, e um cristal no centro; infelizmente, como não havia luz, graças ao clima hostil e nublado, a luz não surgia das janelas de cristal e batiam no cristal, não tendo nenhum arco-íris para iluminar e embelezar o local, apenas velas aromáticas. As figuras do sete eram desenhadas em alto relevo no mármore branco. 

Cada uma das figuras sagradas lembravam-na de pessoas que conheceu: o Guerreiro lhe lembrava seus dois irmãos, Loras e Garlan, mas lembrava de Gendry — o único que ela vislumbrava ao ver a face do Ferreiro —  e do doce Edric; a Mãe lembrava-a da própria mãe, Alerie, e também sua avó; e o Pai tinha o rosto de seu falecido pai, Mace — e, surpreendentemente, Willas, o irmão mais velho de Margaery; a Idosa também tinha o rosto enrugado e manchado da avó de Margaery — entretanto, ao invés da língua áspera e olhar petulante, tinha o rosto solene e triste; a Donzela era o vislumbre de suas primas, todas jovens e puras, imaculadas pela lascívia dos homens — estranhamente, também tinha o rosto de Sansa, sobressaindo a imagem das outras donzelas de Highgarden. Isso não fez sentido, pensou, Sansa não é mais uma donzela.

Entretanto, ao contrário de todas as outras multifaces do Deus da Fé dos Sete, havia aquele que em nada lembrava os amores da vida de Margaery: O Estranho.

O Estranho era Arya, Cersei, e, principalmente, Daenerys. Elas estavam lá, escondidas no desenho de sombras que cobria face da misteriosa divindade que não era nem Homem e nem Mulher, mas sim ambos. Era o pária, como Margaery. O desconhecido. Era a morte, a perdição; era a representação do fim. O fim de tudo.

Lembrava-se de que uma das coisas que o Septão de Highgarden lhe ensinou era que todos os deuses eram as representações de um só deus todo poderoso. Se assim fosse, isto significaria que todas aquelas figuras em que via pessoas que conhecia eram parte da mesma; seria possível que todos compartilhassem as mesmas trevas e luzes? No fim, seriam todos tão iguais, mesmo sendo tão diferentes?

Margaery ajoelhou-se diante do altar da Donzela primeiro e acendeu quatro velas: três para as primas, uma para ela mesma. Rezou para que a Donzela as mantivesse a salvo.

E pensar que quase entreguei a minha pureza lara Sor Albar, refletiu Margaery. Talvez fosse bom ter um casamento com um vassalo da facção Stark para garantir que Daenerys não lhe fizesse mal algum a ela; todavia, teria Sansa para falar em sua defesa — ou pelo menos assim esperava —, junto de Myranda. Teria de contar com isso. Tal qual Jeyne Poole, ela não tinha vontade alguma de casar-se novamente.

Acendeu velas para o pai, para que julgasse os inimigos de sua casa e julgasse a própria Margaery com justiça, e que ele fosse bom com o falecido Tommen; rezou a Mãe por piedade, por ela e por suas primas, e que ela amparasse o pobre e falecido Tommen, assim como Loras, Garlan e Mace, que agora estavam com ela no céu; rezou para que o Ferreiro consertasse Westeros, e fizesse os Sete Reinos voltarem ao que eram; rezou para que o Guerreiro para lhe dar força, apesar de não ser uma lutadora física, mas os septões e septãs sempre lhe ensinaram de que todos deveriam rezar ao Guerreiro para ter coragem nos desafios que fossem enfrentar.

No altar da Velha, Margaery rezou para que ela lhe iluminasse com a sua lanterna e lhe desse sabedoria, para que assim soubesse como lidar com os desafios que viriam a se seguir.

Por fim, o Estranho. O pária dos deuses, mais temido do que amado.

Poucos ousavam rezar para aquele que era a representação da Morte; sendo ele o único deus que não tinha uma canção para si. Somente aqueles que se viam como párias ou que desejavam a morte do inimigo rezavam para aquela face da grande divindade acima dos sete céus. Nos últimos tempos, Margaery se via como os dois.

Rezou para que o Estranho destruísse a vida de seus inimigos; Daenerys, Aegon, Arianne, Cersei, Arya, todos os Lordes de Dorne e os traidores da Campina — preferiu não rezar para que o Alto Septão morresse, pois ele era a voz dos deuses da terra, e poderia ser perigoso rezar contra ele; também se segurou para não rezar pela morte de Arya e Myranda, não queria ser tão cruel assim. Imaginava que o Septão e as septãs deviam estar chocados com ela ter acendido tantas velas.

Orou ajoelhada no chão vermelho, com as mãos unidas em um sinal dos deuses, e cantou cada uma de suas músicas, fazendo sua garganta doer e seus joelhos também, como na época em que estava presa pela fé militante e seu líder fanático no Grande Septo de Baelor. Acendeu tantas velas e incensos que seus olhos ardiam, assim como as suas narinas. Parecia estar sufocando.

O tempo se seguia e Margaery percebeu que o céu lá fora escurecia, com a luz diminuindo pelas vidraças de chumbo colorido, fazendo as belas figuras de cristal perdendo um pouco da cor. Tochas foram acesas, junto de algumas lâmpadas de chumbo colorido foram erguidas por correntes, alçadas até o teto, dando mais luz ao local.

O dourado das velas acesas iluminava os tijolos vermelhos das setes paredes do pequeno septo, fazendo a argamassa parecer estar em brasas, como se fossem feitas de algum rubi brilhante.

As septãs pegaram na mão de Margaery e  cantavam com ela, a luz das velas parecia estar mais intensa com a chegada da noite.

As canções ecoavam pelo local, reverberando num único som alto, e a fumaça das velas subia e subia, sufocando mais o ambiente…

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

— Margaery? — Sor Albar a chamou, tocando levemente em seu ombro.

Margaery estava deitada sobre o chão de ardósia vermelha do septo vermelho. Sua bochecha estava grudada no piso frio, e uma minúscula poça de barba se formava ao lado de seu rosto. Abriu os olhos, um pouco confusa, e sentiu que eles estavam pesados de areia. Ao tentar se erguer, sentiu as costas doerem, assim como os joelhos ao tentar flexioná-los. Aquilo a fez lembrar-se de quando estava doente na capital, qualquer movimento era difícil, como se fosse uma velha centenária com ossos de madeira.

Devo ter dormido aqui, percebeu, dolorida, rezei até não aguentar mais. Sor Albar a ajudou a levantar-se.

— Que horas são, Sor? — Margaery indagou, ainda dolorida pela noite maldormida.

— A hora do lobo já se foi, Milady — respondeu ele. — O sol amanhece aos poucos, mas as nuvens ainda escurecem tudo.

Margaery olhou em volta. O local estava mesmo escuro. Duas septãs e uma noviça trocavam velas novas e colocavam novas, para clarear o local.

Deste jeito, tão logo ficarão sem velas aromáticas, tal qual os Portões da Lua. Ela imaginou que a Lady Ysilla não estava dando conta do que realmente deveria fazer para tomar conta de um castelo como aquele sozinha; a comida era simples e ela parecia não ter muita habilidade para lidar com tantos servos. A pobrezinha devia estar despreparada para cuidar de vastas terras como aquela, ainda mais num período tão hostil e sem apoio do marido e sogro, ou mesmo de alguma Lady mais velha para lhe guiar.

O septão examinava as velas que Margaery havia acendido para as entidades sagradas, agora todas estavam derretidas em figuras disformes e feias de se ver. O velho septão virou-se e a encarou:

— Está tudo bem, minha cara? — indagou ele.

Margaery franziu o cenho, confusa.

— Sim, santidade — respondeu. — Por que a pergunta?

O septão olhou de relance para um dos desenhos onde Margaery havia deixado muitas velas: o Estranho.

As velas formavam uma camada distorcida e amarelada de cera derretida que endureceu após o fogo que as derreteu se apagar.

Margaery enrubesceu ao entender o motivo da indagação do septão.

— Apenas rezando pelos que perdi — mentiu.

O homem pareceu duvidar de sua resposta, mas assentiu mesmo assim.

— Entendo — disse ele. — Lembre-se de rezar também pelos vivos. E por si mesma.

Margaery aquiesceu.

— Claro. Com certeza.

— Vai ter muito tempo para rezar pelos mortos, filha — disse uma septã. — Logo é o Dia do Estranho, o Dia dos Mortos, e logo devemos usar o preto para o luto e cobrir-nos com véus, em respeito a todos os mortos que perdemos.

Margaery inicialmente ficou confusa, não entendendo as palavras da septã, até que compreendeu e arregalou os olhos, surpresa com o comentário. O dia em homenagem ao Estranho era o último feriado a um deus dos Sete, e um dos últimos dias do ano.

Na comemoração a faceta da morte, as pessoas envergavam preto, como se estivessem de luto, jejuavam e acendiam velas ao estranho, orando pela alma daqueles que se foram. Dizem que neste dia, a porta do mundo dos mortos é aberta, e as almas vagam pelo mundo dos vivos. Era um bom dia especial para execuções também, tal qual o dia do Pai no Céu era um excelente dia para julgamentos.

A bem da verdade, as últimas vezes que Margaery comemorara algum feriado sagrado foi no Dia da Donzela, em que fora presa pela Fé pelas falsas acusações de Cersei, e o Dia da Mãe, em que ela e a antiga inimiga foram julgadas pela Fé dos Sete e liberadas de seus falsos pecados de forma justa — Bom, Margaery foi, Cersei usou seu monstro de estimação para esmagar o primo Lancel e sair impune.

Sor Albar franziu o cenho.

— Pelos deuses, já vamos terminar mais um ano? — indagou. Olhou para Margaery. — Sei que nossa viagem para da Capital para cá foi longa, e que ficamos um bom tempo no Portão da Lua, mas nem imaginava que havia se passado tanto tempo… — Voltou-se para a septã e o septão. — Quanto tempo até que o feriado aconteça? — indagou ele.

— Creio que menos de uma volta da lua, meu caro — respondeu a septã. — Já estamos no último mês deste ano, se bem me lembro… ou pelo menos perto dele, caso esteja confundindo… E logo o sol terá completado uma volta inteira e iniciaremos um novo ano.

Logo será o aniversário da morte de Joffrey, lembrou-se Margaery. Seu primeiro marido havia morrido no primeiro dia do ano 300.

— Que os deuses sejam bons e escutem nossas preces — disse o septão —, que  decidam nos agraciar com um bom ano, cheio de prosperidade, diferente destes últimos anos.

A septã uniu as mãos em uma reza e fechou os olhos.

— Que os deuses sejam bons — murmurou.

Os deuses parecem estar com pouca vontade de serem bons, pensou Margaery, ou isso, ou desistiram por completo de todos nós.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O

 

Após entrarem no castelo, enquanto andavam numa galeria, Margaery sentiu o frio da manhã sair do corpo e resolveu perguntar a Sor Robar:

— Vamos embora hoje? — perguntou, enquanto andava ao lado do lorde.

Sor Albar respondeu retraindo os ombros.

— Não sei, mas creio que não — disse. — Minha irmã deve querer esperar um pouco para descansar e pegarmos bastante suprimentos para a viagem.

— Não sei se o castelo tem muitos disponíveis — comentou Margaery. — Lady Ysilla parece estar um pouco perdida em como lidar com o castelo; minha irmã quer ajudá-la.

— Que benevolente da parte dela — zombou Margaery, secamente.

— Também não gosto de como minha irmã insiste em tomar conta de tudo — confidenciou ele ao perceber o tom na voz de Margaery. — Não é próprio para uma dama ter essa sede de poder.

— Ela pode até ser uma regente — disse Margaery —, ou pelo menos se ver assim, mas você ainda é irmão dela. Se você acha que ela merece uma lição, é seu dever o fazer, já que o pai de vocês já não está aqui.

Sor Albar assentiu, parecendo refletir sobre aquilo.

— Ysilla está descansando e sendo tratada pela dama de companhia — Continuou Sor Albar, enquanto eles subiam numa escada caracol vermelha. — A dama é velha demais ao meu ver, mas parece cuidar bem dela.

— Pelos deuses — ralhou Margaery, quando terminaram de subir os degraus vermelhos —, esta jovem realmente precisa de algum apoio, como puderam largar ela assim?

Andando no corredor, Sor Albar deu de ombros novamente.

— Não creio que foi por mal — disse ele. — Sor Harrold mandou praticamente todos para o Norte, querendo mostrar a “grande pompa” de sua corte; o problema é que isto deixou o Vale quase sem defesa alguma e não tendo como lidar com os inimigos dentro do próprio reino.

Margaery meneou a cabeça. O marido de Sansa se provava cada vez mais o pior monarca possível — e monarcas ruins era algo que não faltava em Westeros nos tempos atuais; a própria Margaery casara com três reis, embora apenas Joffrey tivesse sido “ruim”.

Ao chegar na porta dos aposentos de Margaery, Albar segurou um elo de ferro, girou-o e o empurrou, abrindo a porta.

— Obrigada, Milorde — Margaery agradeceu, dando um beijo em sua bochecha.

O quarto estava vazio. Imaginava que Mya estava nos estábulos, e Myranda devia ou estar a ajudar Ysilla em seus aposentos ou cuidando do castelo para ela. Imaginou que Jeyne estaria na saleta, então foi até a porta que dava para o cômodo e abriu para expiar por dentro.

A jovem estava mesmo lá, dormindo. Era visível o brilho das lágrimas em seu rosto, indicando que ela havia chorado, ou antes de dormir, ou durante o sono.

Margaery fechou a porta, deixando a pobrezinha dormir. Assim como Jeyne, Margaery também tinha seu inferno para enfrentar, e sabia como era querer dormir o tempo inteiro para nunca enfrentá-lo.

Olhou em volta. Novamente,  não havia ninguém ali para servi-la e o fogo da lareira há muito se apagou, restando apenas cinzas no lugar o de antes haviam chamas. 

Margaery suspirou.

Sentindo seus músculos do corpo ainda estarem doloridos pela noite no septo, Margaery andou, sentindo pontadas de dor enquanto se movia, indo até a cama principal do quarto. Não havia panelas entre os lençóis, de modo que não estavam aquecidos, mas pelo menos não estavam frios. Enrolou-se neles, sentindo a maciez deles.

Fechou os olhos, querendo nunca mais acordar. Queria sonhar para sempre.

 

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Margaery dormia em um sono profundo quando acordou com o barulho de uma algazarra. Levantou-se, sobressaltada com o som. Parecia ter uma batida distante ressoando em seu ouvido, e gritos abafados. Um sino alto começou a badalar; provavelmente era um alarme.

Pelos deuses, o que pode ser agora?

A portinha da saleta se abriu e Jeyne saiu pela soleira. O cabelo castanho da jovem estava bagunçado e os olhos estavam vermelhos e inchados, mas Margaery não sabia dizer se era por choro ou pelo sono.

— Que está acontecendo? — indagou Jeyne, referindo-se ao som barulhento.

Margaery deu de ombros.

— Eu não sei — respondeu, empurrando os lençóis e levantando-se da cama —, mas vou descobrir agora.

Andou rapidamente para a saída do cômodo, mas antes que chegasse até a porta, a própria se abriu, assustando Margaery, que deu um passo para trás.

Era apenas uma serva, graças aos deuses.

— Miladies — disse a servente, que usava roupa amarrotada e desgastada —, precisam vir comigo, agora! Por favor!

Jeyne começou a andar até a moça, mas Margaery ficou parada, desconfiada.

— Que está acontecendo? — Ela quis saber.

— Os clãs estão tentando invadir o castelo.

Ao ouvir aquilo, Margaery empalideceu.

— O quê? — perguntou, como se não tivesse entendido o que a moça havia dito (e, de fato, ainda não estava entendendo exatamente, tamanho o medo em seu coração).

— É, sim! — afirmou a serva. — Estão tentando invadir o portão da frente e de trás! Parece que fizeram ariete de madeira e estão tentando quebrar o portão de madeira agora! — Continuou. — Sor Albar tomou o comando para si e mandou levar vocês, a irmã e a Lady Ysilla para um local seguro. — Ao ver que Margaery e Jeyne estavam pálidas e sem reação a mulher gritou: — Rápido! Podem estar aqui a qualquer momento!


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