Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


CapĂ­tulo 28
Um Castelo na Neve




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Os Portões da Lua era um local fechado e chato por causa da guerra. A maioria dos Lordes haviam partido, deixando o ambiente com poucas pessoas para cuidar dele e sem tempo para torneios e jantares extravagantes e com vários lordes para dançar e para conversar. Os dias ali eram longos e quase sempre os mesmos. Margaery podia estar ali há um ano inteiro e nem perceberia. Geralmente preferia não sair de seu quarto, apenas quando acompanhava Myranda, e seu irmão no jantar, Albar, Jeyne e Mya — Margaery não compreendia por qual uma bastarda suja com cheiro de mula e feno comia como igual entre eles, mas ficava calada quanto a isso —, ou apenas comia em seu quarto mesmo.

Toda a noite, quando rezava, ela tomava a mão de ouro do Regicida, entregue a ela por Sor Gendry, e rezava aos sete deuses. Todos eles, até para o Estranho, torcendo pela queda de seus inimigos.

Myranda ficara furiosa ao descobrir que Arya e seus companheiros tivessem escapado. Ela enviou corvos para PortĂŁo Sangrento, Redfort e Vila Gaivota, mas nĂŁo obteve resultados. Margaery sabia que a Stark e seus amigos sĂł poderiam estar no Vale, talvez mortos pelo frio ou pelos clĂŁs, ou no Tridente.

Parte de si torcia para Arya ter encontrado um destino cruel nas montanhas, mas tinha pena de Gendry e Edric.

Myranda não era uma péssima anfitriã, mas nem de longe era o ideal. A moça não tinha bons modos — falava muito o que pensava, de modo alto, e parecia fofocar muito da vida alheia e das intimidades das pessoas. Talvez, se se preocupasse menos em dar pitaco e calasse a maldita matraca, ela conseguisse algum marido. Sentia até pena de Sansa, visto que ela devia ter dificuldades para achar alguém que não se amasse e aceitasse aquela tagarela rechonchuda. Nenhum marido iria querer alguém como Myranda, ainda mais com ela já sendo usada e sendo mais gorda que as vacas da Campina.

Talvez, se Sansa prometer o peso dela em ouro, alguém aceita se casar com ela. Se tornaria um dos lordes mais ricos dos sete reinos!

Bem, pelo menos a filha de lorde Royce ainda tinha um sobrenome importante, enquanto a melhor amiga de Sansa, Jeyne, era quase uma pessoa do povo comum, visto que sua casa não tinha terras e seu sobrenome era de baixo escalão. Nada disso faria um homem pensar que valia a pena ficar com alguém que já fora vendida a homem detestável como o Ramsay Bolton e era pouco mais que uma prostituta; não obstante, a pobrezinha era muito feia: sem nariz, olhos tristes, magrela, e, como Margaery já usou o seu corpo e sabia como era intimamente, haviam diversas cicatrizes em suas costas, parecendo uma teia de aranha feita de carne inchada.

Não havia nada mais degradante do que se casar com uma mulher feia e de baixo valor, Margaery não poderia criticar o homem que fosse se sentir ultrajado ao ser obrigado a se casar com alguém como a jovem Poole, visto que ela era carne podre aos olhos dos lordes e deuses.

Ah, e o homem que a aceitasse teria de aguentar casar-se com alguém que não tinha qualquer controle emocional. O marido dela teria de fazer trabalho de pai, visto que a jovem só sabia chorar e tremer em momentos aleatórios, tinha uma fala mansa, e era muito reclusa. Às vezes até parecia incapaz de fazer qualquer coisa. Claro, claro, Margaery sabia que ela havia sofrido coisas horríveis, mas às vezes sentia que a jovem podia tentar parecer menos triste e agir de forma mais madura; era difícil comer com uma criança chorona ao seu lado, parecendo que iria chorar a qualquer momento. 

É tão difícil agir como uma pessoa normal? Eu mesma tenho meus problemas e não procuro atenção por causa disso; parece até Sansa, sempre depressiva e pensando nas crueldades de Joffrey.

Margaery se levantou do colchão de palha e foi até a janela de sua torre. Ela podia ver a cachoeira de Alyssa, que agora estava congelada, e assim ficaria por todos os anos que o inverno perdurasse sobre Westeros, só iria descongelar na primavera. Quando acontecesse, entretanto, a água da cachoeira nunca atingiria o solo, sendo dissolvida e levada pelo vento poucos metros antes de atingir o chão. Esta era a magia que os deuses impuseram a Alyssa Arryn, segunda as lendas e canções, após a própria ver seu marido e seus filhos serem mortos na sua frente e não ter derramado uma única lágrima por eles; sua alma seria obrigada a chorar para sempre por aqueles que ela perdeu, e a única forma de terminar com sua dor era que suas lágrimas deveriam tocar o chão e encher o Vale, todavia, isto nunca viria a acontecer e Alyssa nunca teria paz.  Um castigo cruel, mas talvez justo, segundo alguns.

Daquela distância, a cascata congelada da cachoeira tinha seis enormes espinhos de gelo, apontando para os Portões da Lua. Lindos, mas perigosos e bem afiados. Na verdade, toda aquela terra era linda, mas perigosa — não só pelos clãs selvagens à espreita, mas pela absurda neve acumulada nas montanhas. A própria Lança do Gigante, onde o Portão da Lua e os outros castelos dos Lordes Arryn encontravam-se, estava totalmente coberta por uma espessa camada de neve branca e fofa. 

Tentando ignorar o arrepio que percorreu o seu corpo quando um vento frio se perpassou,  Margaery se abraçou e virou-se de costas para a janela.

Naquele dia, Myranda pediu que Margaery se juntasse a eles no almoço. Claramente esta não poderia recusar e pediu para a serva que lhe entregou a notícia confirmar a sua presença.

Infelizmente, não tinha trajes de cor que combinassem com a sua alta posição e o símbolo de sua casa. Entretanto, ainda havia um vestido de lã grossa e verde, com uma renda preta simples em formato de bolotas. A cintura era bem alta, quase indo até os seus seios. Ao invés de um colar, usou uma simples fita dourada feita de veludo em volta do pescoço. Ordenou que as servas — a aia que ela tinha para lhe servir acabara por morrer havia um bom tempo — amarrassem seus belos cabelos numa grossa trança, usando de pérolas e uma fita fina e dourada. Ao se olhar no espelho de bronze, se achou bela o bastante para ir a jantar; entretanto, mandou as servas desfazerem a trança, lavarem novamente seu cabelo, e deixarem seus cachos castanhos soltos. Por último, colocou o anel de ouro de sua mãe.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

 Como sempre, Myranda estava no centro do estrado, acima do sal, indicando sua alta posição como regente do Vale de Arryn na ausência do Rei e da Rainha, com seu irmão ao seu lado. Mya estava do outro lado da moça, junto de Jeyne. Como Margaery não queria ficar com uma chorona e uma moça que mais parecia um cavalariço e fedia a cavalo, ela resolveu sentar-se ao lado de Albar, ao vê-la levantou-se e deu o seu lugar para ela.

— Obrigada, sir. — sentou-se na cadeira.

Myranda era uma jovem razoavelmente bonita, com seios fartos e olhos castanhos, mas muito acima do peso, o que prejudicava ainda mais a sua aparência mediana. A jovem usava um vestido lã grossa e tingida de preto, com um véu de seda preta cobrindo os seus cabelos. Era estranho, pois parecia estar de luto.

— É um prazer que tenha me convidado para esta noite, milady — agradeceu Margaery.

Myranda sorriu e respondeu:

— Bem, eu devo chamá-la — pegou uma taça de vinho após o servo enchê-la —, do contrário, nunca ir-lhe-ia sair daquele teu quarto! Oh, não, não fique corada, é só uma piadinha. Tenho a certeza de que a cama é muito confortável, a palha do colchão deve ser bem macia, espero?

Margaery manteve um sorriso sem graça, sentindo o rosto arder. Não estava acostumada a pessoas tão sem modo como aquela Royce — com exceção talvez a sua avó, Olenna, mas ela era alguém de boa classe.

— A palha está perfeita. — foi tudo que conseguiu responder.

Na verdade, era uma mentira. A palha já estava ficando cada vez mais velha e mofada. Não a ponto de incomodar, mas era perceptível que estava ficando desgastada e precisava ser trocada, e o lençol que a cobria estava começando a rasgar. Era um sinal de que Margaery estava naquele castelo há muito tempo — e que ele andava precário há mais tempo ainda.

A bem da verdade, até as tapeçarias nas paredes precisavam ser lavadas, e as velas perfumadas de noz-moscada tinham acabado, de modo que o castelo usava apenas archotes e velas de sebo. Até as ervas aromáticas jogadas no chão tinham acabado, restando apenas algumas ervas sem cheiro e desgastadas. Myranda podia tentar ignorar aquilo, mas a verdade era que o castelo estava praticamente acabado; a comida estava acabando, as velas estavam acabando, os servos que dispunham eram poucos para cuidar de uma moradia tão grande.

As peles no chão do salão também estavam mofadas, principalmente uma pele de urso perto do estrado. O pelo preto estava claro e seco em alguns locais, e um buraco se encontrava perto da cabeça. Lenha queimava no centro do salão, mas estava fraca, pois tinham pouca madeira a sua disposição para queimar. Logo, eles deveriam mandar pessoas para pegar mais madeira. Entretanto, o caminho para as árvores era descendo a montanha, e o caminho era cheio de neve e pedregoso, demoraria até acharem uma árvore.

— Está linda esta noite, milady — disse Albar. — Os teus cabelos brilham com graça divina sob as luzes dos archotes, exaltando vossa beleza.

Mia e Myranda se olharam e soltaram um risinho, mas Margaery agradeceu ao galante cavaleiro, afinal, era bom ser elogiada — um elogio verdadeiro, o que duvidava que pessoas cheias de si como Myranda e Arya conheciam, visto que não havia o que realmente elogiar nelas.

Os pratos eram simples, sem pedras preciosas, mas ainda assim eram bonitos, feitos de bronze, tão bem polidos que o aspecto alaranjado tornou-se amarelo e brilhante. A comida era simples, com batatas cozidas, alho poró, um pouco de queijo e ovos de codorna — a maior parte da comida havia sido levada para fora do Vale, para auxiliar os bravos guerreiros. O problema é que o reino do Vale era fértil, graças a terra preta que havia nele, todavia, o inverno era rigoroso demais para se plantar algo, e praticamente toda a comida fora levada embora. Myranda disponha de poucos alimentos, logo, acabaria sendo obrigada a pedir alimento de terras vassalas do Vale, cuidadas por castelões, e prometer pagar depois da guerra — Margaery sabia que ela estaria a todo o custo tentando evitar fazer algo assim; não queria endividar a corte do Vale, ainda mais numa guerra que poderia se prolongar por anos, e nem sequer ter garantia da comida: os Clãs das Montanhas estavam cada vez mais selvagens, e andavam armadas até os dentes de metal. Sem os lordes do reino para erradicá-los, as estradas, que já estavam congestionadas de neve e temíveis gatos-das-sombras, encontravam-se perigosas, podendo ser alvo de ataques selvagens e brutais. Pior seria fazer uma nova dívida por comida e a comitiva que a levava ser atacada; nem os lordes pequenos e nem os Portões da Lua teriam comida alguma, não obstante, os homens poderiam se irritar por perder comida à toa e mandar que a coroa do Vale mandasse pagar mais.

Ao pensar naquilo, enquanto comia suas batatas, Margaery se questionou como estava a situação dos impostos do Vale, pois, enquanto escutava as moças lavando roupas no poço, ouviu elas comentando que o Rei das Montanhas — naquilo que parecia ser o auge da estupidez de um homem — decidiu usar de impostos da época do Jaehaerys para resolver a situação da coroa; uma série de impostos absurdos foi colocada sobre vinhos, tamanhos de moradias, tapeçarias, prostitutas, entre tantas outras coisas. Se o marido de Sansa queria perder a guerra, ele estava no caminho certo: uma revolta popular aconteceu no Porto de Vila Gaivota, A Rainha Sansa pediu por ajuda no Norte aos vassalos para lidar com Daenerys, e Margaery também ouviu dizer que as terras banhadas pelo Tridente estavam em chamas, cercadas de Dothrakis e Homens de Ferro, enquanto o Rei se trancou dentro das enormes enormes muralhas da sombria fortaleza — Havia ouvido também coisas sobre Arya liderar lobos selvagens, a sacerdotisa de Stannis queimar um homem vivo, e que o Rei do Vale prendeu o Lorde Supremo do Tridente, tio de sua esposa, e até que o matou, mas Margaery fez ouvidos moucos para tais absurdos sem razão.

— Diga-me, Lady Myranda — pediu Margaery, virando-se para a gorda moça —, como andam as terras do Vale com os novos impostos? O povo ainda está aporrinhando seus lordes?

Myranda bufou.

— “Aporrinhar” é uma palavra bonita, e talvez um tanto de eufemismo, para o que está acontecendo agora. — Tomou um gole de vinho e limpou a garganta e ajudar a descer o que havia comido. — Os comerciantes simplesmente estão com ódio de nós, e alguns até prometeram nunca mais fazer negócio conosco; o povo comum botou uma parte de vila gaivota em chamas, mataram os guardas da cidade, o xerife, e agora o maldito tesoureiro do porto (aquele que tudo que fez foi ser pai de Açafrão, a amante do rei) me enviou cartas de ajuda, falando que a situação está fora de controle. — balançou a cabeça. — Não que faça diferença. Está morto agora.

Margaery ficou chocada ao ouvir todas aquelas revelações, empalidecendo e soltando o ar de forma exasperada.

— O povo comum agiu tão furiosamente contra o seu próprio soberano? — indagou, e Myranda assentiu rapidamente.

— O povo não gosta do rei — ela disse. Fez uma cara amarga, torcendo um pouco a boca. — Mataram seus belingues também. Bem, a antiga amante do rei está segura, junto de seu filho, Jon. — Continuou: — E os malditos cavaleiros inquisidores também estão mortos; aqueles que saíram para caçar impostos pelo reino também devem ter morrido ao longo do caminho, mortos pelos clãs. — Deu de ombros. — Bem, ninguém vai sentir falta.

Esse Rei Ă© inimigo de seu prĂłprio reino.

Myranda Royce, talvez vendo o olhar nervoso de Margaery deu tapinhas em sua mão, tentando acalmá-la.

— Mas não precisa se preocupar quanto a isso — garantiu. — Harrold já não está mais no comando.

Margaery juntou as sobrancelhas, depois as arqueou quando um pensamento sombrio passou por sua mente.

— Ele foi…?

— Não está morto, querida, fique tranquila quanto a isso — respondeu. — Foi deposto.

— Por quem?

Antes que Myranda lhe respondesse, Albar falou:

— Por todos os lordes — revelou, com um desgosto palpável na voz. Fechou a mão num punho. — Simplesmente Harry, o imbecil, conseguiu com que todos os reinos vassalos se juntassem contra ele e prendessem. Nem mesmo Yohn Royce o apoia mais.

Margaery ficou chocada ao ouvir aquilo.

— Como está a atual situação dos reinos?

Os irmĂŁos Royce trocaram olhares.

— Bem — começou Myranda —, foi por isso mesmo que a chamei. Está na hora de de conversarmos tudo o que houve nos últimos tempos e… o seu futuro a partir daqui.

Um frio arrepio percorreu a espinha de Margaery, arrepiando toda a sua pele. Um alfinete pareceu perfurar seu coração.

— Contai-me tudo — pediu, respirando profundamente, tentando acalmar-se.

— Bem, hoje chegou uma carta do Norte — revelou Lady Royce —, após tanto tempo sem notícias.

— Sim? — ela indagou, nervosa. — Era de Sansa? De seu irmão? Ou… — engoliu seco. — Era de Daenerys?

— É do Rei Jon, em Winterfell. Ele e Daenerys vão casar-se.

Aquilo foi um golpe em Margaery, que no começo, nem sequer havia entendido o que a rechonchuda moça havia lhe dito. Aquilo em nada fazia sentido; Daenerys já era casada com o suposto sobrinho. Teria ela voltado para as antigas e profanas leis da antiga Valíria? Dificilmente, afinal, Aegon era o rei ungido.

— Como? — ela indagou. — E quanto Aegon?

— Ah, como explicar? — lamentou-se Royce. — Tentei evitar te assombrar com notícias tão inoportunas que andamos recebendo.

— Diga-me tudo — pediu. — Não esconda-me nada.

Myranda assentiu.

— Bem, para começar, Daenerys e Aegon não são mais marido e mulher — revelou. — Este agora está casado com a princesa Martell.

Margaery arqueou as sobrancelhas. Apesar de chocada, ficou satisfeita em saber que a semente da discĂłrdia que ela havia plantado na mente de Arianne havia conseguido um bom fruto para ela.

— E por isso Daenerys e Jon resolveram formar uma aliança?

A Royce assentiu.

— Ela e Jon ainda vão casar-se, assim que retomarem Harrenhal.

Ao ouvir aquilo, Margaery franziu o cenho.

— “Retomar”? Pensei que as forças do Tridente já estavam controlando…

— Estavam — interrompeu sor Albar. — Entretanto, Euron Greyjoy tomou o controle da fortaleza.

O queixo da jovem Tyrell ficou escancarado ao ouvir aquilo.

— Como ele tomou uma fortaleza como a de Harren, o negro? — indagou ela. — É simplesmente impossível! Apenas…

— Apenas se tiver um dragão? — sugeriu sor Albar. — Pois bem, é o que contam os relatos que recebemos, embora eu duvide de tais informações. — continuou: — O que sei é que temos de ir para o Tridente, onde os três reinos e os exércitos de Daenerys vão se unir para tomar a fortaleza de volta.

Nada daquilo lhe fazia qualquer sentido.

— Mas e o marido de Sansa? — ela indagou. — Ele permite…

— Harrold? Humpf! — Sor Albar cuspiu no chão. — Ele jogou todo o reino no lixo! O tridente está em chamas graças àquele imbecil!

Myranda tentou falar de forma mais branda e calma:

— Não sabemos exatamente o que houve com Harrold. Apenas que Edmure tomou o castelo e o tirou do poder com a ajuda dos outros lordes. Logo depois, até onde sabemos, Euron tomou o castelo. — Continuou: — Apenas sabemos disso pela carta que chegou do Norte, escrita pelo rei e assinada por ele e Daenerys. E eles mandam que você venha conosco.

Margaery ainda não entendia por completo o que estava acontecendo. Parecia-lhe estar faltando um monte de detalhes e informações. Ao tentar pensar no que mais poderia querer saber, lembrou-se de sua família. Se Willas souber que sou refém, e Daenerys ainda quiser algum apoio da Campina, ela não ousará tocar-me.

— E o meu irmão? — Margaery perguntou. — Como está a Campina no meio de toda esta guerra?

Myranda pareceu que iria lhe responder, todavia, assim que seus lábios se abriram, eles se fecharam.

— Ora, conte logo, Randa — disse a fedida e bastarda Mya. — Ela merece saber, se atrasar vai ser pior.

Margaery franziu o cenho. Myranda suspirou e fixou o olhar nela.

— Margaery… — começou a jovem, mas nem teve tempo de terminar.

— Ele está morto, não está? — ela indagou, sentindo que seus olhos logo estariam prestes a chorar. — Só, por favor, não me diga que queimaram Highgarden também. 

A jovem Royce arqueou as sobrancelhas e esbugalhou os olhos, chocada com as palavras pessimistas de Margaery.

— Morto? Oh, deuses, não seja tão querida, ele, er… — Myranda parou de falar e tentou achar as palavras certas. — Uniu-se a Aegon. Está aliado a ele, agora.

Ao ouvir aquilo, Margaery não sabia se ficava feliz ou devastada com aquelas palavras; seu irmão estava vivo, todavia, também estava aliado a Aegon, enquanto ela, sua única e última irmã, estava agora refém da facção inimiga a de Aegon.

 — Er… — estava atordoada, sem saber o que dizer. — Está dizendo que a Campina está com Aegon? Meu irmão sabe que estou aqui, por acaso?

Myranda deu de ombros.

— Talvez? Eu imagino que sim, mas não creio que ele possa fazer qualquer coisa, afinal, Aegon já expulsou os Greyjoy do reino dele, e a maior parte do exército da Campina já estava com ele mesmo. — A jovem botou uma mão no ombro de Margaery. — Seu irmão não tem escolha, Milady, ele tem de defender o reino dele, afinal. O reino vem antes de tudo.

Margaery, empalidecida pelo choque da revelação, com o medo intumescendo em seu peito e tomando conta de todo o seu corpo, nem ouviu direito as baboseiras que a jovem balbuciava para ela. Logo percebeu que se tivesse permanecido em Porto Real, estaria mais segura do que agora: talvez nunca tivesse sido julgada, e sua vida seria poupada no lugar de uma aliança de paz com Campina! Pelos deuses, toda aquela terrível e cansativa jornada apenas lhe condenou? Tudo que vivenciara até ali fora à toa? De que servira todo o seu tormento, além de um divertimento perverso dos deuses?

Não sabia o que fazer, não sabia se sequer poderia fazer algo…

— Margaery — Myranda tentou lhe tirar de seus devaneios aterrorizantes. — Deve se acalmar. — Virou-se para uma serva. — Chamai o meistre! Peça-lhe que traga algo que acalme os nervos da pobre donzela!

A serva assentiu apressadamente e afastou-se dali. Myranda voltou a estudar o rosto de Margaery e passou uma mĂŁe acalentadora em suas costas, dando giros com a palma.

— Fique calma, respire… — dizia a moça, movendo a mão nas costas de seu vestido.

Mas Margaery não conseguia se acalmar. Sua garganta estava apertada, e ela sentia quase não conseguia respirar, ficando um pouco tonta. Suas mãos formigavam, dormentes. Seu coração parecia acelerar em seu peito. Sentia uma película de suor se formar em sua testa. Fechou os olhos, tentando se acalmar… Não conseguia ouvir o que quer que fosse que Myranda balbuciava…

A empregada voltou, com uma taça de estanho com vinho, que deveria estar com alguma poção calmante que o meistre lhe dera.

— Ah, o seu remédio! — exclamou Myranda, soltando Margaery e esticando a mão para pegar o copo de estanho.

Margaery viu tudo ficar escuro, sentindo que tudo girava em volta dele.

Ouviu Myranda soltar um som assustado. Sentiu o corpo balançar e alguém agarrou-lhe pelo braço, e então, algo bateu contra seu corpo molenga.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Margaery acordou, ainda sentindo-se tonta, em seu colchĂŁo de palha. Sua nuca doĂ­a. Estava coberta por um cobertor feito de pele de veado, mas o tecido estava mofado e fedendo. Tentou erguer-se, mas logo uma serva veio e falou para ela descansar e ficar deitada.

— Que aconteceu? — indagou Margaery, ainda se sentindo meio entontecida.

— Milady desmaiou — a serva explicou. — Lady Myranda falou que ir-lhe-ia explicar tudo quando você se sentisse me…

— Mande-a para cá — interrompeu, quando as memórias desbotadas voltavam a ganhar forma. — Agora.

— Senhora não gostaria de esper…

— Agora — ordenou, e a serva foi fazer o que lhe era mandado.

Sentou-se na cama, erguendo um pouco o dorso, mas ainda estava com a nuca dolorida. Havia tijolos quentes em seus pés, para aquecer. Deu um gemido desconfortável por causa da dor. Olhou ao redor do aposento e percebeu que não havia nenhum servo por ali. Como estava com apenas uma camisa de linho no corpo, Margaery pensou em pegar um roupão, todavia, estava muito dolorida e teve medo de desmaiar e cair. Voltou a deitar-se.

Myranda e Sor Albar logo vieram ter com Margaery.

— Está melhor, Milady? — indagou Myranda, indo perto da cana de Margaery.

Margaery assentiu.

— Um pouco — respondeu. — Agora, por favor, diga-me tudo.

Myranda lhe deu um olhar apreensivo.

— Er, tem certeza? — indagou ela. — Talvez seja melhor esperar até que…

— Fale — ordenou, mas logo percebeu que não tinha tal posição para ordenar algo e aquilo irritasse Myranda, então, se corrigiu: — Por favor, Milady.

Sor Albar ecoou o pedido dela:

— É melhor revelar tudo agora, irmã — ele disse. — De nada vale evitar o pior. — Ele foi até a mesa do cômodo e pegou um banquinho sem costas para a irmã sentar-se ao lado da cama de Margaery.

— Bem, onde estávamos mesmo?

— Você havia me dito que meu irmão uniu-se ao Aegon.

— Ah, sim… É, isto veio a acontecer, infelizmente. — Continuou: — Bem, está na hora de eu lhe revelar o que está a acontecer no Norte, não? É, é este o momento. — suspirou. — Daenerys matou vários lordes nortenhos, entre eles Manderly, Dustin, Mormont, por aí vai… — abaixou os olhos.

Margaery sabia o motivo para o luto da jovem.

— Ela matou o seu pai, não é?

Myranda pareceu tentar se recompor, mas deu um soluço e Sor Albar colocou uma mão acalentadora no ombro da irmã, que retribuiu o gesto colocando a mão por cima da dele.

— A notícia chegou apenas agora — Sor Albar disse, olhando para Margaery. Sua voz era firme, mas havia dor em seu olhar cinzento. Depois, a boca se torceu e a raiva tomou conta de seus olhos. — Entretanto, meu pai já está morto há tempos. Todos eles, todos os Lordes e Ladies executados pela usurpadora estão mortos há tempo.

Margaery arqueou as sobrancelhas.

— Quanto tempo? — quis ela saber. Albar deu um dar de ombros para ela.

— Uns meses, quem sabe? O Corvo veio da muralha. Fica há quase uma volta da lua daqui, e é um milagre ter chegado neste tempo horrível. — A raiva pareceu sumir e ele abaixou os olhos. — Nem podemos ter um enterro decente para o meu pai, aquela puta o deu para seu dragão! Como pode ela agir como Maegor e se achar digna de governar algo? — Cuspiu. — Desgraçada!

— Para com isso! — ordenou Myranda. — Ela agora é nossa rainha!

Margaery ficou chocada ao ouvir aquilo, assim como Sor Albar.

— Vai dobrar o joelho para ela? — indagou de forma um tanto irritada. — A mulher que matou o teu pai?

— Vou — respondeu ela, simplesmente. — Claro que eu a odeio, mas ela é uma rainha dragão no fim das contas, e ela é a nossa única defesa contra Aegon.

Sor Albar grunhiu.

— Vou ter de me ajoelhar aquela puta?

Myranda aquiesceu, tentando não olhar para o irmão, apenas acenando com a cabeça.

— Vai — confirmou ela. — Vê se engole esse teu orgulho.

— Ela matou o nosso pai! — rebateu ele, furioso.

— E é por isso mesmo que devemos obedecer Jon e não fazer nada contra ela. Ou você prefere libertar Harrold e segui-lo contra ela? Ou unir-se a Agon?

— Eles não têm o sangue de meu progenitor nas mãos. Não o deu como refeição para a sua fera de fogo!

Myranda balançou a cabeça, irredutível.

— Ah, pelos deuses, Myranda! — exclamou ele. — Nem espero que você entenda, pois tem o coração frágil de uma mulher por baixo deste teu corpo flácido e fraco. Não sabe como é para um homem sentir ódio.

Myranda franziu o cenho, irritada com aquelas palavras.

— É o que crê, irmão? — questionou ela. — Ah, vocês homens se deixam levar pela fúria, e acham que mulheres não podem se dar a tal luxo, quando apenas nos prendem em nossas casas e dizem que devemos lidar com tudo caladas! — continuou: — Se eu pudesse, eu mesma mataria Daenerys; todavia, não o posso fazer, e nem você. Faça como nós mulheres, e aguente a realidade calado e de cabeça abaixada! — Deu um riso amargo. — Veja se é fácil viver assim.

— Você só diz isso — acusou ele — pois papai a via como usada! Você guarda rancor dele!

Margaery observou o rosto branco de Myranda ficar escarlate de Ăłdio, parecendo uma beterraba em fĂşria.

— Como se atreve a falar deste modo comigo? Logo eu, a sua única irmã! A única família que você tem!

— Pois digo-lhe tudo isto na tua cara! — disse ele, para além da fúria, cuspindo gotas de saliva branca enquanto exclamava, fazendo alguns respingos caírem no vestido. — Nunca saberá como é morrer com uma espada na mão, lutando por justiça, do que chorar e costurar!

Myranda bufou e disse:

— É melhor abaixar a cabeça e viver — disse Myranda, não vacilando perante o olhar de fúria do irmão mais velho —, do que morrer queimado como uma besta.

— Pois com a morte de nosso pai, eu sou o Lorde dos Portões da Lua! — rebateu Sor Albar. — Quem você pensa que é para me…?

Antes que ele terminasse de falar, Myranda levantou-se da cadeira e disse:

— Eu sou a regente do Vale. — Apesar de baixinha, não pareceu vacilar ante o olhar de fúria do irmão. — A Rainha Sansa confiou a mim, e não a você, o deve de governar o Vale na ausência do Rei, tal qual confiou a mim a segurança de Margaery e da Princesa Arya; é o meu dever proteger esta terra e os seus habitantes de qualquer ameaça. — Continuou: — E, agora, o idiota do nosso rei é refém, Rei Jon (e, em algum grau, Sansa, o rei Stannis e Daenerys) me ordenaram a levar Margaery e todo o resto, quer ela queira ou não, ela vai para o tridente! Você concordando ou não!

Sor Albar estava prestes a responder a irmã, mas, antes que pudesse falar algo, um extrondo foi ouvido, assustando a todos, e, em seguida, um tremor ocorreu, fazendo o cômodo inteiro balançar. Myranda se desequilibrou e segurou-se numa coluna de madeira na cama de Margaery. Albar também se desequilibrou, mas manteve-se em pé. Margaey, ainda sentada na cama, num gesto instintivo, agarrou e puxou os lençóis até o pescoço. A serva que havia no quarto tentou se equilibrar, segurando na beirada da lareira, mas não conseguiu se manter em pé, e caiu no chão.

— Que está acontecendo!? — indagou, apavorada com o tremor.

Um castiçal de ferro preto com velas de sebo caiu no chão, e as velas rolaram pelo tapete de veludo vermelho. Todas as arandelas da parede caíram de uma só vez das paredes, derrubando as tochas no chão.

— Temos que sair daqui! — Disse Albar, e agarrou a mão de Margaery e a da irmã, puxando-as para perto de si.

Foi entĂŁo que Margaery ouviu um grito e percebeu que o tapete estava imbuĂ­do em chamas, e a serva gritava em agonia, debatendo-se em meio Ă s labaredas.

Margaery quase caiu ao se levantar, mas por sorte Albar a agarrou pelos braços, soltando a mão da irmã. Ele a levou para a porta, e Myranda foi com eles, apesar da dificuldade. Ainda podia ouvir os gritos estridentes da serva, que queimava pelas chamas.

Quando estava na soleira da porta, Margaery olhou para trás e viu Myranda, que levantava a bainha do vestido e corria atrás deles. Sentiu vontade de trancar a porta a porta na cara dela…

Entretanto, não teve oportunidade, pois, quando estava prestes a pegar o ferrolho da porta, Albar a empurrou para fora e ficou na soleira, esperando a irmã, estendendo o braço para ela. Quando esta chegou perto, agarrou a mão do irmão e a puxou para fora. Foi bem a tempo, pois as barras de madeira no teto caíram de uma vez. O grito da serva foi silenciado quando parte do teto desabou sobre ela.

Do lado de fora, o local inteiro ainda tremia. As tapeçarias estavam caídas e as tochas também. 

Um estrondo maior que o anterior foi ouvido e o castelo tremeu mais do que nunca, fazendo Margaery sentir cada parte do seu corpo tremer junto, e se encher de temor. Sor Albar tentou proteger a irmã, mas Myranda o empurrou em direção a Margaery, e ele segurou Margaery contra a parede e se colocou por cima dela, de maneira protetora. Ela ouviu a pedra do castelo começar a rachar, e viu a poeira começar a cair do teto. Abruptamente, uma parte do teto, à direita de onde Margaery estava, desabou, com vigas e tijolos cobrindo todo o canto e levantando uma espessa nuvem de poeira. Apavorada, ela agarrou-se a Sor Albar e fechou os olhos, apavorada. Um trovão ressoou em seus ouvidos, conforme tudo parecia desabar.

Não, não, não, não…

Apesar do medo de morrer, Margaery também sentiu um leve alívio. Talvez, pensou ela, fosse bom finalmente morrer. Assim, além de reencontrar a família, ela poderia escapar da crueldade de Daenerys. Não seria torturada. Ela…

E então, tão rápido quanto veio, o tremor passou.

Margaery abriu os olhos, e olhou em volta, com dificuldade, pois estava coberta de pĂł, fazendo seus olhos arderem e lacrimejarem. Tudo parecia calmo. Seus dedos ainda agarravam o gibĂŁo preto de Sor Albar. Foi com dificuldade que ela o soltou. O cavaleiro ainda segurava os seus ombros, de maneira protetora. Uma camada de poeira cobriu o corpo deles, pintando-os de cinza. Margaery tossiu, sentindo ter poeira na garganta.

— Que houve aqui? — indagou Myranda, caída no chão, suja de poeira. Seu irmão foi até, deixando Margaery de lado, e a ajudou a se erguer.

— Terremoto? — sugeriu Sor Albar, olhando ao redor do ambiente.

O trio foi até uma escada em caracol que dava para o pátio. Um degrau estava faltando, e outros dois estavam rachados. Porém, não era possível ver a escada por inteiro, visto que ela girava no meio da descida e eles não podiam ver o resto.

— Fiquem aqui — disse Sor Albar. — Eu verei o que houve.

Myranda e Margaery assentiram.

— Tome cuidado — disse Myranda, com os olhos vermelhos e cheios de água, mas Margaery não sabia dizer se era pela ardência do pó no ambiente, preocupação, ou pelo desespero do tremor.

Sor Albar desceu com cuidado os degraus, sempre com as costas grudadas na parede, para ter uma boa visão do caminho à sua frente. Após um tempo, ele sumiu, e o barulho dos passos parou. 

Por um instante, Margaery pensou em empurrar Myranda nos degraus, assim, ela não a obrigaria a ir para o Tridente. Entretanto, antes que pudesse fazer algo a jovem moça, passos ecoaram da escada. Pouco depois, ele voltou a subir e elas puderam ver o seu rosto. Ele botou uma mão ao lado da boca, para aumentar o eco e disse:

— Podem vir. Os últimos degraus sumiram, mas podemos pular na camada de neve fofa no chão.

Neve fofa? 

Com cuidado, Margaery e Myranda desceram. Esta levantou a bainha do grosso vestido de lã, tentando não esbarrar e cair no degraus. Margaery sentia um vento frio percorrer a escada, com flocos de neve subindo e adentrando o local. Como tinha apenas uma manta de linho como roupa, o vento fez seu corpo tremer, e ela parou de andar no meio da escada e se abraçou, tremendo. Sor Albar, vendo que a donzela precisa de auxílio.

— Venha, cof, mila… cof, vou ajudar-lhe, cof. — Pegou sua mão, e a ajudou a descer. Olhou para cima, para a irmã. — Precisa de ajuda, Randa?

A irmĂŁ negou, esperando eles descerem para seguir caminho.

Um dos degraus estava quase todo destruído, de modo que Margaery teve que esticar a perna com cuidado, para não cair. Os pés estavam descalços, e ela sentia a pedra fria e áspera em seus dedos. Fechou os olhos, deixando-se ser guiada pelo cavaleiro, até o fim da escada em formato caracol. Ela tossiu algumas vezes, e sempre que isso ocorria, ela tinha medo de desequilibrar e cair.

— Milady — ele disse, parando abruptamente —, abre teus olhos.

Obedecendo, Margaery abriu as pestanas. Os trĂŞs ou quatro Ăşltimos degraus estavam faltando, tendo desabado com o tremor. Por sorte, uma espessa camada de neve se encontrava no local, subindo uns bons centĂ­metros no chĂŁo. Era possĂ­vel ver algumas pedras soterradas aparecendo.

Sor Albar pulou na espessa camada de neve, fazendo flocos flutuarem. Ele ergueu os braços, indicando que Margaery deveria pular. Aquilo a fez lembrar-se de sua prima Megga, e como a pobrezinha havia sido jogada de forma cruel na neve, quando as cruéis dornesas e a Aranha soltaram a corda em que ela estava dependurada, fazendo-a cair no chão de neve fofa. Ainda lembrava-se do som que a prima fizera quando o corpi teve um impacto no chão. A espessa cobertura de neve não salvou a prima de um grave ferimento, e Margaery duvidava que fosse ser diferente com ela mesma.

Margaery respirou fundo — o que foi um erro, pois teve uma crise de tosse —, e pulou. As mãos de Sor Albar a agarraram de forma desajeitada, machucando-a um pouco. Ele a girou no ar e a pousou com segurança no chão de neve, que a cobriu até os calcanhares, mas fez o que pode para ignorar o frio. Sor Albar voltou-se para a irmã e ergueu os braços novamente. Desta vez, foi mais complicado, e ele quase tropeçou e caiu com o peso da irmã, mas conseguiu forças para erguê-la e a pousou no chão.

Saindo da torre, eles perceberam que o chĂŁo de neve estava mais elevado do lado de fora. Ao pisar na neve, Margaery sentiu-se quase afundando no branco dos flocos acumulados no chĂŁo.

O local estava um desastre completo. DestruĂ­do.

Uma camada entumecida de neve se encontrava no sopé da montanha, como uma protuberância bizarra e disforme, engolindo tudo que estava ali. Havia pedras e árvores aparecendo aqui e ali, levadas pela avalanche de neve. Os imensos espinhos gelo da cascata de Alyssa estavam lá, quebradiços, apontando para várias direções no céu. Devem ter caído com o tremor da avalanche, arruinando tudo em seu caminho. Toda a parte interior do Portões da Lua estava totalmente coberta, com as muralhas destruídas, criando um buraco na parte leste do castelo, não tendo qualquer visão das ameias que ali ficavam. Qualquer pessoa que estivesse naquele local na hora da avalanche, estava claramente morta e enterrada na neve.

O pátio que outrora havia serviçais, cavalariços, armeiro, cães, alvos de arco e flecha, uma forja de ferreiro e bonecos para homens treinarem golpes de armas, estava agora coberto por uma enorme camada de neve branca e disforme. Era como um enorme travesseiro de seda branca, desarrumado. Todos os serviçais que ali estavam no momento da queda tiveram seus corpos enterrados por toneladas de neve acumulada por anos nas montanhas da lua.

 Myranda fez um som triste ao ver o que havia acontecido com o castelo que ela cuidara por praticamente dois ou três anos inteiros. Ela levou as duas mãos ao rosto e cobriu a boca, incrédula, e lágrimas caíram de seus olhos.

— Oh, não… Pelos deuses, como… Por que? Por que aconteceu isto? Eu… Eu não entendo… — ela quebrou em um choro.

Margaery não teve pena alguma daquela mulher. Ela estava pronta para entregá-la a Daenerys, os deuses apenas a puniram por sua covardia. Talvez agora ela soubesse como era perder tudo o que ama. Ela foi castigada, tal qual a Alyssa Arryn.

Logo, eles viram algumas pessoas saindo das torres onde se encontravam, indo até o pátio coberto de neve, com dificuldade eles atravessavam a neve.

— Temos de reunir os sobreviventes — Sor Albar olhou para a irmã, que ainda chorava, ainda abalada e chorosa pela destruição. Ele pegou a mão dela e apertou. — Temos que ir, Randa.

Mas ela não respondeu. Apenas balançava a cabeça e parecia não ouvir.

Quando todos se reuniram no portão principal do castelo, encontraram três cavaleiros, dois servos, e a jovem Mia e a chorosa Jeyne Poole. O portão duplo estava aberto, forçado pelo impacto da neve, que forçou a abertura.

— Temos que ir para o Portão Sangrento. — disse Sor Albar quando todos estavam reunidos. — Temos que ir agora.

— O estábulo foi destruído — disse Mia, com um corte profundo na testa, por onde um fio de sangue descia. — Todos os cavalos e mulas morreram. Eu mesma quase morri, não fosse eu ter visto a neve vindo e tentado escalar o telhado.

— Teremos de ir andando então. — disse Sor Albar. — Logo o sol já vai nascer, mas não podemos ficar aqui a noite toda, ou podemos morrer de frio.

— Oh, mas o caminho é tão longo e estreito! — lamuriou-se Jeyne, para variar.

— É isso ou morrer — respondeu Albar. — Não sabemos se o Portão Sangrento irá enviar apoio, e mesmo que envie, demorará muito com a neve. Temos que ir, agora.

— Vamos agora — disse Margaery, olhando para Jeyne e Mia —, se quiser ficar, fique. A escolha é sua.

Jeyne tremeu e Mia a abraçou, olhando de soslaio para Margaery, irritada. Mas não a abalou, afinal, Mia era só uma bastarda fedida, e até onde sabia, sua virgindade havia sido entregue ao herdeiro de Redfort. A ilegítima era só uma puta.

— Temos de ir agora, Jeyne — disse Myranda, um pouco recomposta. — Precisamos seguir o caminho e ser fortes.

Sor Albar e os cavaleiros procuraram alguns mantimentos e peles. Acharam poucos, mas teriam de servir para a viagem.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

O céu negro da noite e sem estrelas, conertos de nuvens negras, foi ficando mais claro conforme a luz do sol surgia, o preto deu lugar a cinza-escuro, que deu lugar a cinza-claro, quase branco. Infelizmente, a neve não calhou de parar de cair. O caminho era entre montanhas, e cheio de neve e pedras. Por sorte, não havia qualquer clã por perto, pois eram barrados pelo Portão Sangrento. Para a sorte de Margaery, Sor Albar e dois cavaleiros vasculharam na neve do Castelo e pegaram botas de um cavalariço morto para ela — que estava furada e ficando rapidamente desgastada, tal qual a da maioria do grupo, que não resistiam ao local frio e pedregoso, com a sola ficando rapidamente gasta com o andar incessante. O couro que ela usava era mal curtido e era grande nela, mas era aquilo ou passar frio, e talvez até perder membros ou morrer.

Infelizmente, o meistre tinha morrido na avalanche, e os corvos com ele. Não podiam pedir ajuda para qualquer soldado e nem tratar ferimentos. Mia ficou com um corte aberto na testa, sem poder suturar o ferimento, e um dos cavaleiros quebrou o pé e se escorava no ombro de um companheiro para seguir caminho.

A neve caiu no segundo dia, mas eles não se deram ao luxo de parar. Quando o cavaleiro capenga não aguentava mais andar, e ficou para trás. O companheiro dele decidiu que não queria morrer e não ficou para auxiliá-lo. Provavelmente ele seria morto pelos Gatos-das-Sombras.

Por sorte, tais animais se mantinham afastados dos humanos, preferindo os mortos, mas Margaery achava que seria mais seguro se eles tivessem espadas, todavia, ainda tinham algumas tochas, mas nĂŁo iriam durar o caminho inteiro.

Uma vez, a única em que o grupo resolveu parar para descansar, um dos servos sobreviventes foi atacado por um gato-das-sombras, que o matou. Um dos cavaleiros — aquele que ajudou o companheiro com a perna ferida — tentou ajudar, mas foi gravemente ferido e, apesar de não ter morrido, não aguentou continuar e teve de ser deixado para trás também.

O restante do grupo não parava por nada, apenas quando alguém precisava se aliviar — e às vezes nem para tal, Margaery mesmo preferiu se urinar do que parar; o que foi nojento, mas pelo menos aqueceu um pouco suas pernas, embora mijo tivesse se acumulado em seus botas e esfriado, quase congelando seus pés e fazendo um cheiro horrível de urina.

Tentou não fazer mais necessidades, diferente dos outros, mas não suportou, e teve de ficar de cócoras e se aliviar no chão de neve, na frente de todos, pois seu estômago não aguentava mais. A pobre Jeyne acabou fazendo as fezes na própria roupa, quando pareceu ser atingida por uma diarréia.

Margaery sentia as pestanas dos olhos congelar conforme a neve caía. Seus passos estavam lentos e duros, mas ela não ousou parar em nenhum momento, não querendo morrer. Sua cabeça ainda doía, mas ela ignorava. Tinha de seguir em frente, continuar… Continuar…

Mas, continuar para quê? Seu irmão a abandonou, Sansa e Jon dificilmente poderiam fazer algo, caso Daenerys quisesse lhe castigar.  E se ela quiser me machucar, como castigo por ter fugido da Capital e por Willas apoiar Aegon?

Não. Não tinha segurança alguma de que estaria em segurança com a rainha dragão.

Pelo menos, não se não tivesse alguma segurança consigo. Seu irmão não a defenderia, mas Margaery ainda era importante. Ainda tinha idade para casar-se e ter filhos. Se ela conseguisse se unir a alguma casa vassala importante, Daenerys talvez tivesse menos chance para fazer mal a ela, visto que Jon e Sansa não iriam gostar de irritar uma casa vassala, ainda mais que eles e Daenerys não eram mais inimigos.

Se ela ao menos tivesse um bom pretendente…

Olhou para Sor Albar. Ele ajudava a irmã, abraçando-a e dividindo o manto com ela, protegendo-a do frio. Não era um homem muito bonito, com costeletas e bigode pretos e peludos em um queixo pelado e olhos cinzas. O pescoço era grosso, o peito largo, e um rosto franco. E, claro, o castelo que ele iria herdar agora era uma porcaria…

Mas era a Ăşnica aposta que ela tinha.

— Oh! — ela exclamou e se deixou cair de joelhos na neve fofa, fazendo pequenos flocos voarem.

Sor Albar virou o rosto e viu Margaery caída. Ele falou algo que ela não ouviu para Myranda e parou de abraçá-la e foi ajudar a colega a se levantar. 

— Apoie-se em mim, Milady — disse o jovem corpulento.

Com prazer, pensou ela, sorrindo.

Margaery passou um braço pelos ombros largos de Sor Albar e este a ajudou a se levantar. Suas pernas doloridas deram um estalo, e ela teve dificuldade de se reerguer e manter-se de pé, dando um gemido desconfortável. Apesar da dificuldade, ambos voltaram a seguir caminho.

— Quanto tempo ainda falta até o Portão Sangrento? — indagou ela, cansada de continuar.

Sor Albar abanou a cabeça, indicando que não sabia. Enquanto isso, Myranda foi até a amiga bastarda e Jeyne, ambas se abraçaram e tentaram manter o ritmo.

Sor Albar tirou um pequeno pedaço de carne seca do bolso.

— Aqui, Milady — ofereceu ele —, coma isto e ficará melhor.

Sem pensar duas vezes, deixando os modos de lado, Margaery agarrou o pedaço de comida, praticamente arrancando dos duros dedos do Cavaleiro que o oferecia, e o levou até a boca, comendo avidamente a carne fria e dura, sem se impprtar com a dureza e falta de sabor. Estava babando de tanta fome e, quando engoliu os pedaços da carne, sentiu eles descerem em seu corpo e a teve a doce sensação de ter seu estômago alimentado, mesmo que pouco.

— Obrigada, Sor — disse ela, quando terminou de comer a carne. Sor Albar sorriu.

— É um prazer lhe ajudar, Milady — respondeu ele, sorrindo. — Para o que quiser.

Margaery sorriu, ignorando a feiura do rosto daquele homem bruto e de fala estrondosa — bom, nem todos poderiam ser como os galantes irmãos de Margaery.

— Sabe, sor Albar — disse ela —, de todos que me ajudaram nesta árdua jornada, você é quem eu mais confio, sempre me defendendo e sendo galante.

O rosto do homem, já vermelho pelo frio, ficou ainda mais corado, e ele deu um sorriso bobo.

— Ora, não há como se encantar por você e não fazer de tudo para lhe fazer feliz, Milady.

Estou contando com isso.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Por sorte, quando o sol estava sumindo e eles teriam de gastar a última tocha para passar a noite, o barulho de cascos foi ouvido e uma luz surgiu em meio a trilha de montanhas. Um grupo de cavaleiros se aproximaram, montando cavalos peludos do Vale, perfeitos para aquele ambiente frio e montanhoso. Eles erguiam tochas, usavam meio elmos e empunhavam lanças.

— Os cavaleiros do Portão Sangrento — Myranda disse, exausta —, graças aos deuses.

Os homens a cavalo pararam perto do grupo de pessoas. Um deles, ainda em cima da sela da montaria, disse:

— Sor Albar? — indagou o homem. — Lady Myranda?

— Somos nós — confirmou Sor Albar. — Graças aos deuses vocês vieram nos ajudar.

— Sentimos o tremor até nas ameias do Portão Sangrento — explicou o cavelero — e vimos a avalanche de longe. O Guardião do Portão mandou-nos para averiguar e ver se haviam sobreviventes. — Olhou para todos os sobreviventes que haviam ali. — São só vocês? — indagou.

— Sim — confirmou Myranda. — Mas existem dois cavaleiros — virou-se e apontou para trás, na direção do caminho que eles haviam percorrido — que ficaram para trás. Mas duvido que ainda estejam vivos, nem vale a pena.

O cavaleiro assentiu.

— Não há nada o que fazer por eles — disse. — Mas por sorte, trouxemos algumas montarias para vocês. E algumas peles.

Margaery cobriu-se com um manto de pele grossa e botou luvas de couro forradas com pele de ovelha. Retirou as botas furadas e botou botas de cano médio, boas para montar e aquecer os pés. Myranda montou sozinha, e colocou um manto de lã grossa sobre os ombros, para proteger-se do frio, sem se importar com a pele gordurosa. Mia dividiu uma égua com Jeyne, ajudando a moça a montar e guiando a égua. Diferente das outras mulheres, Mia cavalgava com as pernas abertas na sela, usando calças e botas de montaria para auxiliar.

Diferente dela, Margaery sentou-se de lado na sela do cavalo. Sor Albar a ajudou a montar e colocou-se do lado dela na montaria, pegando as rédeas da montaria.

Margaery recostou as costas no peito largo dele e disse:

— Fico feliz que esteja para me proteger e aquecer Sor. — Sentia pouco calor vindo do corpo do homem, mas podia sentir o coração dele batendo. 

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

O caminho até o Portão Sangrento foi lento, por causa da neve alta no chão e da ventania que atacava o grupo de montadores, chegando há um pouco mais que um dia de viagem. Os flocos de neve caiam em grande número, com formas complexas de água congelada, como teias de aranha que giravam no ar.

Quando chegaram nos portões da lua — que nada mais era do que uma série de ameias que serviam para proteger o caminho até os Portões da Lua e os outros Castelo dos Arryn — viram duas torres vigias gêmeas simples, feitas de argamassa, que se encontravam uma de cada lado, conectadas por uma ponte em forma de arco. A passagem era estreita, permitindo que apenas quatro cavaleiros passassem de uma vez, lado a lado. O Guardião do Portão os esperava. Ele usava uma manta verde, com uma roda de carroça quebrada. O símbolo Waynwood, a casa da protetora do Rei Harrold.

Ao ver o grupo se aproximar, o GuardiĂŁo disse:

— Quem deseja passar…

— Pule esta baboseira, Donnel — cortou Myranda, farta da viagem —, você sabe quem somos, nos deixe passar logo.

O cavaleiro esboçou um sorriso e assentiu.

— Claro, Lady Myranda. Desculpe, é o hábito.

Levados para dentro, e guiados até um celeiro fechado e cheio de cavalos montanheses peludos, o grupo de sobreviventes finalmente pode desmontar e retirar os trapos. 

Após Sor Albar ter ajudado Margaery a descer da montaria peluda, ela pode retirar o manto mofado e com cheiro acre, deixando-o cair no chão cheio de feno. Apesar de ter cavalgado, seus pés ainda doíam, assim como as pernas.

A jovem Jeyne chorou ao desmontar, levando as mĂŁos ao estĂ´mago. Ela curvou-se um pouco para a frente, claramente sentindo alguma dor.

— Jeyne precisa de comida — disse Myranda para o Guardião do Portão e o meistre do castelo, após descer do cavalo e largar o manto esfarrapado no chão. Ela estava imunda e ainda tinha uma abertura na testa, que estava cheia de sangue coagulado, quase preto de tão escuro, onde uma crosta crescia, mas nem parecia se importar. — Providencie também água quente para os pés dela. O mesmo para os outros, temos que ver se ninguém tem partes do corpo ficando pretas. Ah, e Mia machucou um dos pés.

O meistre assentiu.

— Sim, Milady. Eu cuidarei delas e depois dos outros. — Virou para as duas moças de baixo nascimento e acenou com a cabeça. — Venham para os meus aposentos. Os que quiserem vir para serem cuidados, também me sigam.

O meistre saiu e foi acompanhado pelas moças, os servos e o cavaleiro.

— O meistre vai ter muito trabalho — brincou o guardião Ronnel para Myranda.

— Terá menos se for depressa — respondeu Myranda, de forma dura. — Precisa de um banho e uma cama. Onde posso dormir, Sor?

— Milady, meus aposentos estão livres para a senhora, se assim o quiser — disse ele. — Seria uma honra…

— Ótimo — Myranda respondeu —, me guie até eles então.

Ronnel assentiu.

— Claro. — Virou-se para Margaery e Sor Albar. — Venham também, podem ficar nos quartos ao lado.

Os dois assentiram e o seguiram.

Após saírem do estábulo e subir numa escada caracol, Sor Donnel, pouco mais velho que Sor Albar, os levou para um local com alguns aposentos.

— Você e seu irmão podem ficar no cômodo que era meu — disse Ronnel. — A Lady Tyrell pode ficar no quarto ao lado. 

— Ficarei em um cômodo separado do de minha irmã — anunciou Sor Albar. Myranda o olhou de soslaio, mas ele fingiu não perceber.

Sor Donnel pareceu estranhar a atitude, mas preferiu nĂŁo se intrometer.

— Se é o que deseja, Milorde — concordou. — Infelizmente, não temos aias para cuidar das moças, mas…

— Na verdade — interrompeu Myranda —, Lady Jeyne Poole será minha aia, junto de Mia.

Sor Ronnel arqueou uma sobrancelha e franziu outra, estranhando as escolhas da moça.

— Mia Stone é uma bastarda.

— E Harrold é um rei de merda — rebateu ela —, mas nem por isso os lordes deixaram de segui-lo para a batalha. Prefiro uma bastarda de bom coração, muito obrigada.

Margaery revirou os olhos. Lady Myranda, como era típico dela, parecia agir como se títulos pouco importassem para caráter. Bem, ela não tinha nenhum título de valor mesmo — será que ficar com pessoas de baixo status a fazia sentir-se melhor?

O GuardiĂŁo do PortĂŁo assentiu aos pedidos de Myranda.

— Como quiser, Milady. Ordenarei que tragam água e roupas quentes para vocês, imediatamente.

— Certo, mas não pretendemos ficar aqui para sempre — disse Myranda — Iremos para Redfort assim que possível, e de lá partiremos para as Terras Fluviais, para Harrenhal.

Sor Albar juntou as peludas sobrancelhas.

— Ainda com esta ideia de que devemos nos unir a rainha? — ele indagou, irritado. — Nosso pai morreu e nosso castelo foi destruído, e você só consegue pensar nisso?

— São ordens — ela disse — Além do mais, agora que nossa casa está destruída e os lordes do Vale logo irão discutir como ficará a situação do reino agora que Harry foi deposto, acho melhor nos unirmos a eles para discutir sobre o que fazer. — Continuou: — Além do mais, temos que pedir apoio para os monarcas, eles devem nos ajudar a restaurar os Portões da lua. — Olhou para Margaery. — Posso até falar em sua defesa, caso questionem como tem se portado.

Que grande ajuda você tem sido. Precisava se livrar daquela gorda intrometida, o mais rápido possível.

— Você quer apenas garantir a regência do Vale para si! — acusou Albar Royce. — Pensa apenas em se aproximar da nova rainha e conquistar poder!

— Como atreve-se a caluniar-me assim? — Myranda indagou, com cólera na voz. — Eu estarei tendo de deixar o Vale e me ajoelhar perante a mulher que matou o meu pai!

— Nosso pai!

— Que seja! — berrou, zangada. — Eu sou a regente do Vale, e os Royce dobraram seu joelho a quem for preciso para salvar o reino; o que você acha disso pouco me importa.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X 

 

Os aposentos atuais de Margaery eram menores que os dos Portões da Lua e na Fortaleza Vermelha, mas maiores que a cela no Septo de Baelor, na cela da Capital, ou mesmo naquela espelunca de taverna ou a cabine de navio… Ah, e os aposentos nos Dedos.

De fato, havia mudado bastante de cĂ´modo nos Ăşltimos tempos.

O local também não andava nos melhores dias, todavia. Não devia ser usado há um bom tempo, pois estava abafado, cheio de poeiras e as peles do chão estavam velhas e desgastadas. O colchão de palha estava um tanto úmido e o tecido estava com um rasgo no meio, por onde saia um pouco do enchimento. Não havia cortinas na cama, ervas no chão, nem alguma arcada no cômodo. A lareira estava cheia de cinzas, não sendo usada há uns bons anos. Porém, nada que não a fizesse ficar aliviada por sair da estrada coberta de neve.

Quando uma serva trouxe um roupão para usar, Margaery retirou o couro mal curtido e sujo que usava e a camisa de linho, que já estava com a bainha suja e cheia de rasgos. Cobriu o corpo com o roupão e apertou o cinto. Descansou numa cadeira empoeirada, com uma almofada desbotada e mofada, e afundou os pés doloridos numa bacia cheia de água quente. Bebeu um pouco de cerveja preta quente e deixou-se relaxar.

A lenha foi trazida e queimada na lareira. Uma banheira de madeira também foi trazida e colocada na frente da lareira, aquecendo-se com as chamas. Logo eles a encheram com água quente para que ela pudesse se banhar. Quando foi totalmente enchida, uma serva acordou Margaery e a ajudou a entrar na banheira. A água quente não tinha rosas ou sais de banho, mas estava boa o bastante para que Margaery pudesse relaxar.

Depois de se banhar e espantar o frio e a poeira do corpo, ela saiu da banheira e a mesma serva que a ajudou a entrar na água a secou com uma toalha. Após secar-se, vestiu um vestido de lã; era um vestido velho, pequeno, e nada nobre. Bem, era o que tinham para ela, visto que não haviam mulheres nobres no Portão Sangrento para lhe emprestar vestidos.

 Não tinha espelho algum para se ver, mas pediu para a serva lhe trazer algum. Quando ela voltou, tinha um espelho de estanho nas mãos. Não estava polido, deixando o reflexo de Margaery desbotado. Entanto, sabia que não acharia nada melhor do que aquilo naquela espelunca.

— Peça para Sor Albar vir falar comigo, caso ele esteja disposto — ordenou. — Ah, antes, traga algumas velas e mais lenha para a lareira.

A serva assentiu e fez o que o que ela mandou; a lareira foi alimentada e velas de sebo foram trazidas. Margaery queria alguma erva para dar algum bom cheiro naquele local abafado, mas nĂŁo tinha nada. O PortĂŁo Sangrento nĂŁo era um local para grandes paparicos.

Enquanto os servos iluminavam o local, Margaery comeu um pouco de mingau, saboreando a comida que enchia e aquecia o seu estômago. Ela tomou um pouco de água, mas, apesar de ter pedido uma jarra de cerveja preta do Norte, não tomou sequer um gole. Aquilo a fez pensar em como estava sempre variando entre muita comida e pouca comida, até passar fome. Não aguentava mais aquela mudança de ares abrupta, de novo, e de novo…

Odiava a ideia de ter de se casar de novo. Teve ao todo três maridos, todos de maior escalão do que Sor Albar, mas ele pelo menos era alguém melhor que Joffrey. Teria de servir.

ApĂłs terminar de comer, ela despachou o prato.

Quando a empregada saiu novamente, desta vez para chamar Sor Albar, Margaery retirou o vestido e colocou o roupão novamente, deixando a parte que cobria o seu peito mais aberta e o cinto frouxo. Um ombro ficou descoberto, com o roupão um pouco caído de um lado. Deixou seu belo cabelo solto, caindo pelos ombros. Não tinha nenhuma jóia, mas por sorte, ainda tinha o anél de sua mãe para usar. Por último, beliscou as bochechas, para dar cor, embora soubesse que o banho já tenha deixado sua pálida pele bem rosada.

NĂŁo precisava de espelho, sabia que era linda, mesmo que seu nariz ainda estivesse um pouco torto, era praticamente imperceptĂ­vel e um de seus dentes perdera uma lasca, mas minĂşscula. Ainda era bela. Bela e inteligente, algo que pessoas como Arya Stark nunca seriam.

Abriu as persianas e esperou na frente da janela de cristal empoeirada. Queria ficar em frente a janela e ser tocada pelo brilho da lua — se é que era noite com lua—, mas o clima estava nublado, e o cristal da janela estava sujo de poeira e borrado de gelo.

Ouviu uma batida na porta, fazendo com que se virasse para encarar a direção de onde vinha o som.

— Sou eu, Milady — disse Sor Albar.

— Pode entrar.

Sor Albar abriu e adentrou no cômodo, fechando a porta atrás de si. Usava um gibão de couro cozido. Seu cabelo preto estava bem lavado, assim como as costeletas e bigode. Ainda não era um rosto particularmente bonito, mas estava melhor do que no meio estrada cheio de sujeira e suor.

Margaery pode ver seus olhos cinzas escurecerem de desejo ao vĂŞ-la. Imaginava que devia estar com uma aparĂŞncia lasciva para uma nobre, com o corpo tĂŁo provocantemente exposto.

— Está… — ele balbucia, corado. Limpou a garganta, tentando se recompor. — Está linda, Milady. Muito linda.

Margaery sorriu.

— Oh, obrigada — apontou para a cadeira com o braço. — Sente, milorde, deve estar exausto. — Preferiu chamar ele pelo título dele

Ele negou com a cabeça.

— Não precisa, Milady — ele disse. — Não lhe quero incomodar.

— Ora, eu insisto — Foi até a mesa no centro do cômodo e pegou uma jarra cheia de cerveja preta. — Não me atrapalha em nada, por favor.

Sor Albar assentiu e sentou na cadeira. 

— Está melhor milady? — ele perguntou, enquanto Margaery enchia uma taça de estanho para ele. Enquanto vertia o líquido grosso, ela se curvou, revelando mais os seios. Sor Albar olhou, mas logo desviou o olhar.

— Ótima. — Deixou a jarra na mesa e sentou-se na outra cadeira. Uma parte do roupão caiu e mostrou o seu ombro e braço por completo, mas ela logo o subiu e cobriu. — O banho me fez muito bem, embora ainda não tenha comido nada.

— Ah, nem eu — comentou ele. Bebeu um gole da cerveja, avidamente, e quando terminou, limpou com as costas da mão. — Só me banhei e acabei me deixando cair no sono.

— Oh, sério? Bem, neste caso, podemos comer aqui mesmo! Que me diz, Milorde?

O homem sorriu e acenou.

— Seria um prazer — aquiesceu. — Ah, e pode me chamar de Albar, não precisa de tal formalidade.

Margaery pegou a jarra e encheu novamente a taça de Sor Albar.

— Ora, como quiser então — concordou. — Desde que me chame de Margaery.

Sor Albar pegou a taça e voltou a tomar um gole. Percebeu que ele bebia um longo trago novamente. Aquilo era bom, quanto mais bêbado ele estivesse, melhor.

— Lamento que tenha perdido o seu castelo — disse ela, percebendo que deveria ser aquilo que o aborrecia, assim como a morte de seu pai.

Sor Albar abaixou os olhos, uma expressĂŁo de dor tomou conta de seu rosto.

— Nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer — ele pousou uma taça na mesa, Margaery não perdeu tempo em enchê-la, por mais que ainda estivesse com um pouco de bebida dentro dela. — Por que aquilo veio a acontecer? Digo, sei que este inverno está rigoroso, mas pelos deuses!

Margaery tocou na mão de Sor Albar, que estava ao lado da taça.

— São tempos sombrios, Milorde — ela disse. — Apenas tragédias tem acontecido.

Os olhos dele se encontraram com os dela.

— Oh, pobrezinha, eu venho aqui, cheio de lamúrias, quando é você quem perdeu pai e irmãos!

Margaery deixou as lágrimas surgirem em seu rosto. Eram verdadeiras, de toda a dor que sentiu, mas também eram sua arma.

— Meu próprio irmão, meu único irmão vivo, trocou-me!

Sor Albar franziu o cenho e dilatou as narinas, irritado.

— Minha irmã também me trai — ele reclama. — Vai ajoelhar-se a puta dos dragões, mesmo quando a própria mata o nosso pai. — Balançou a cabeça. — Papai tinha razão, Myranda não tem modos para uma lady de verdade; fala alto, faz piadas, e é muito, muito ambiciosa. — Bebeu mais um trago de cerveja e depois olhou para Margaery. — Ela não é como você, Milady, perfeita!

Margaery sorriu timidamente e abaixou os olhos, dando um sorriso tímido. As lágrimas ainda escorriam, ardendo como azeite.

— Oh, não chore, doce donzela — pediu Sor Albar, dando tapinhas na mão dela —, tenho a certeza de que nenhum mal ocorrerá contigo, prometo que proteger-lhe-ei de qual mal.

Ela sorriu para ele, erguendo os olhos. Pegou a jarra e encheu a taça vazia dele, que não tardou em pegá-la e dar mais um longo trago.

— Obrigada, Sor, é bom saber que existem cavaleiros de verdade por aqui. É raro, nestes tempos conturbados, podermos encontrar pessoas boas assim.

O cavaleiro sorriu e deu um trago na taça. Enquanto ele bebia, Margaery disse:

— Sua irmã é boa, mas precisa de modos, admito. Sabe, acho que falta um marido  para ela.

O rapaz pousou a taça na pequena mesa e limpou a boca com as costas da mão. Margaery prontamente encheu seu copo. A taça estava quase vazia.

— Meu pai também achava isso — ele ecoou suas palavras. — Myranda foi recusada por algumas casas, visto que não era mais virgem, pois seu velho marido morreu na consumação do ato. — Deu de ombros, parecendo menear um pouco. — Ninguém quer algo usado por outra pessoa, não concorda?

Margaery meneou a cabeça, aquiescendo as suas palavras.

— Oh, mas você é o irmão mais velho — lembrou-o —, tem o direito de fazer o que achar melhor para a sua irmã.

Ele assentiu, passando as mãos pelas costeletas molhadas de vinho. Pegou a taça e bebeu mais uma vez. Uma linha negra e grossa escorreu pelo queixo nu, mas Sor Albar nem pareceu se importar. Quando terminou de beber e pousou a taça novamente, Margaery a encheu uma última vez. Desta vez, ele não tardou em pegar e levá-la até os lábios, bebendo longamente, uma última vez.

Era isso. Ele estava de estĂ´mago vazio, bĂŞbado, e a sua mercĂŞ. Deixou o roupĂŁo cair novamente, desnudando o seu ombro, fingindo nem reparar.

Sor Albar, após deixar a taça de lado, pousou os olhos no ombro descoberto. Depois, olhou para os seios de Margaery. Estava tão embriagado que não desviou o olhar, e ficou absorto, olhando fixamente para o corpo dela. Sua cabeça não parava muito tempo quieta, e ele parecia ter dificuldade de manter os olhos abertos.

Apesar daquilo ser um sinal positivo para os planos de Margaery, era uma situação desconfortável para ela. Segurou-se para não cobrir o corpo.

— Sabe, queria eu ter um marido como você — comentou Margaery. — Infelizmente, nenhum de meus maridos foi bom para mim, tendo pouco tempo em minha vida.

Sor Albar, como se saindo de um transe, olhou para Margaery, tirando os olhos de seus pequenos e pálidos seios.

— Oh, bem… — ele pareceu se atrapalhar com as palavras, parecendo ter dificuldade em pensar. — Er, eu lamento que não tenha tido bons companheiros…

— Queria eu ter conhecido o que é ter prazer e amar — disse ela, fazendo as lágrimas voltarem a rolar. — Agora, irei ter de ser forçada a casar com algum desconhecido! — Exclamou, com dor na voz. Era fácil, pois aquela dor era real. A dor que sua vida se tornara, sem nenhuma alegria.

Sor Albar lhe dirigiu um olhar de pena.

— Não creio que isso ocorra tão cedo, Milady — ele tentou consolá-la. — A guerra…

— Daenerys está contra Willas — lembrou ela. — Se ele morrer, eu serei a herdeira de Highgarden. — Imaginou que aquela revelação seria agradável para aquele lorde sem terra.

Ao ouvir aquilo, o efeito da cerveja em Sor Albar pareceu ter diminuĂ­do, pois ele arregalou um poucos os olhos.

— Ela não ousaria…

— Eu fugi de sua prisão, Sor. Ela não esquecerá disto.

— Foi Sansa e arya quem fizeram a tramóia! Eu mesmo ajudei! Você não…

— Oh, e se meu irmão ousar fazer algo — interrompeu —, sei que serei castigada por tal! Mesmo sem ter culpa!

Sor Albar fez uma cara confusa, franzindo o cenho. Parecia ser difícil para ele prestar a atenção.

— Acalme-se… Por favor — Pediu ele, com a voz embargada. — Er, por que crê nisso? Eu não…

Está bêbado demais, pensou Margaery, exasperada.

— Daenerys vai me castigar por qualquer ato que meu irmão faça contra ela — explicou, irritada com a inércia de Sor Albar.

NĂŁo pareceu ter tido qualquer efeito.

— Ah… — ele balbuciou. — Entendo. Não… — soluçou — Não creio ter, er… — Sor Albar fechou os olhos, parecendo dormir, mas logo depois os abriu e balançou a cabeça, tentando se manter acordado.

Colerizada, Margaery franziu o cenho. Seus apelos estavam caindo em ouvidos moucos. Tinha de fazer algo, tinha de pensar algo.

Foi então que soube o que fazer. Podia tentar levar o dorminhoco cavaleiro para a sua cama, mesmo que não o conseguisse fazer nada. Uma hora ou outra, um servo iria entrar e ver os dois dividindo o colchão de palha. Alguém tão nobre como um Royce não ousaria salvar a reputação de uma donzela como ela.

Margaery se levantou da cadeira e foi até Albar Royce, que já estava caindo no sono. Podia tentar persuadi-lo a ir para a cama, e ele logo viria a dormir. Isso seria ótimo, pois ela poderia adiar o horror que seria dormir com um homem rude e bruto como aquele. Entretanto, sabia que teria de fazer isso uma hora ou outra.

Pensaria naquilo depois.

Margaery tocou o ombro do sonolento Sor Albar, que lutava tanto para se manter acordado que nem a viu ao seu lado.

— Sor Albar…

A porta se abriu e um servo entrou, trazendo um prato de batatas e abóbora para Margaery. Ele parou na soleira ao ver ela em pé, ao lado de Sor Albar.

Aquilo era um banho de água fria em seus planos. Os empregados deveriam vir depois, no dia seguinte, e veriam os dois na cama.

Margaery forçou um sorriso doce.

— Oh, que bom que vieram — agradeceu. Olhou para o dorminhoco sentado na cadeira. — Sor Albar bebeu muito e caiu no sono, não poderá cear comigo, infelizmente. Levem-no até seu aposento. — Continuou: — Ah, e coloquem uma panela com carvões em brasa embaixo do colchão, sim? A palha está muito fria.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

— Acha que conseguiremos chegar no Redfort? — indagou Mia, comendo um pedaço de abóbora. — A fortaleza é longe e a estrada está cheia de neve e infestada pelos clãs.

Myranda, que havia retirado toda a sujeira do corpo e usava um vestido apertado de lã desbotada, mordeu um pedaço de abóbora e tomou um gole de água para ajudar a comida a descer. O meistre havia costurado o corte em sua testa e passado uma atadura com unguento na região ferida.

— Bem, por mim, podemos sair amanhã, caso Sor Donnel nos dê alguns cavaleiros para nos protegermos. — comeu mais um pedaço. — Não quero demorar. Temos que reunir quanto alimento e espadas pudermos ter, o mais rápido possível.

Mia assentiu e olhou para a colega na cama, Jeyne, enrolada em um cobertor de peles. A moça havia tomado uma poção para dormir do meistre e colocada no colchão de palha do cômodo de Sor Donnel. Tijolos quentes foram colocados embaixo de seus pés, e uma panela cheia de carvão foi colocada por baixo do colchão, para deixar ele bem aquecido.

— Acredita mesmo que Daenerys é uma boa escolha? — indagou Mia, voltando a encarar Myranda.

A moça respondeu com um dar de ombros.

— É tudo o que temos por agora. — Suspirou. — Nem sei bem que rumo seguir depois daqui, Mia. Tudo simplesmente desabou.

Mia estava prestes a falar algo quando alguém bateu na porta.

— Lady Myranda? Sou eu, Donnel.

— Pode entrar — permitiu Myranda.

O homem girou o ferrolho e o empurrou, abrindo a porta.

— Posso falar com você? — ele pediu. — A sós?

— O que quiser falar comigo, pode falar na frente de Mia.

Mia fez um gesticulou com a mĂŁo, indicando que eles poderiam ficar a sĂłs.

— Podem falar a sós, Sor — ela falou e se levantou da cadeira. — Vou pegar mais abóbora nas cozinhas e depois vou para os estábulos.

Myranda franziu o cenho.

— Que tem pra fazer nos estábulos? — questionou.

Mia deu de ombros e respondeu:

— Menos gente — pegou um pedaço de abóbora e o colocou na boca, e depois saiu do quarto.

Quando a bastarda passou por Sor Donnel e atravessou a soleira da porta, ele fechou a porta atrás dela. 

— Gostaria de avisar-lhe que já enviamos um corvo com a vossa mensagem para os Redfort — Sor Donnel contou. — E que já mandei preparar os suprimentos necessários para vocês e os seus companheiros viajarem em segurança. — Continuou: — Não é muito, mas vai ajudar, garanto.

Myranda assentiu e agradeceu ao cavaleiro. Gestículou com a mão, indicando que ele poderia se sentar com ele. Enquanto se dirigia em direção ao assento indicado por ela, Sor Donnel olhou para Jeyne, deitada na palha, remexendo entre os lençóis, indicando que devia estar tendo um pesadelo.

— Sua amiga está bem? — indagou ele.

Myranda respondeu que não com a cabeça.

— Jeyne passou por muito — respondeu —, infelizmente, ela não dorme bem.

Ele acenou com a cabeça, mostrando que compreendia — embora Myranda duvidasse de tal afirmação. Sabia que pessoas eram maldosas com Jeyne, uma vez pegou Gretchel — uma das aias que morreu pouco antes da avalanche nas Montanhas da Lua — mais de uma vez reclamara que a jovem era chorosa e não dormia quieta, se mexendo durante a noite e até gritando. 

Sor Donnel sentou-se na cadeira onde Mia outrora estava sentada.

— Vai levá-la consigo?

Myranda fez que sim com a cabeça.

— Jeyne precisa ficar próximas de pessoas que cuidam dela. — bebericou um pouco de água. — A jornada para o tridente será exaustiva, mas será bom para ela se reencontrar com Sansa e ficar próxima de pessoas que a ajudam. Largar ela aqui ou no Redfort seria muito crue com a pobre coitada. Ela já passou por tanto...

Sor Donnel assentiu.

— Espero que os deuses a guiem em sua jornada, Milady.

Myranda fez uma cara desgostosa.

— Não sei se os deuses estão do meu lado — lamentou-se. — Até agora, parecem ter se mostrado bem irritados comigo.

— Myranda... — Sor Donnel disse — Eu soube de teu pai. Lamento pela sua perda, milady.

Ela abaixou os olhos.

— Posso até repor um castelo — falou Myranda —, mas nunca um pai.

Sor Donnel esticou uma mĂŁo pela mesa e a colocou por cima da dela.

— Randa — ele a chamou pelo apelido —, tenho certeza de que se seu pai estivesse aqui, ele...

— Se orgulharia de mim? — deu um riso amargo. — Meu pai pouco se importava comigo; ele e todo Vale por não ter mantido a virgindade, sendo que eu a entreguei para o meu marido. É minha culpa que ele tenha morrido na nossa primeira noite e que sua semente não vingou em meu útero? Ora, não casassem-me com um velho! — Sentia as lágrimas lágrimas vindo, mas isso não a calou: — Eu cuidei dos Portões da Lua muito antes de sequer estarmos nesta guerra estúpida; entretanto, não obteve qualquer tipo de agradecimento! Nada! Até mesmo a maldita da Lady Waynwood, a sua mãe, me achava boa para casar com o seu precioso herdeiro do Vale!

Sor Donnel apertou a sua mão, tentando acalmá-la.

— Não é verdade que ninguém se importa com você — ele disse. — Eu me importo, tal como Lady Jeyne, Mia, e a própria Rainha Sansa. E o seu irmão...

— Me odeia — ela falou, amargurada. — Me odeia por dobrar os joelhos. — Comtinuou: — Eu vou ajudar a reflrmar o castelo que é dele -- dado a ele, não a mim --, e ele só sabe me criticar!

— Bem, ele terá de aceitar que você é a regente do Vale e que esta é a melhor escolha.

Myranda meneou a cabeça.

— Ele nunca assumirá nada — garantiu. — Ainda vai me odiar, e ainda terá o castelo para si. — Suspirou e abaixou os olhos. — Depois, deve-me xasar com um lordde qualquer, como o milorde meu queria. Vai mandar-me embora, e eu perderei o castelo que tanto cuidei durante todos estes anos.

Sor Donnel pegou a mão dela por baixo e a ergueu, levando-a até os próprios lábios e beijando-lhe as costas.

— A rainha Sansa vai lhe dar um bom casamento, garanto.

Myranda suspirou novamente. Ainda era difícil para ela aceitar aquilo: largar o castelo que tanto cuidara, vê-lo destruído... Talvez os deuses realmente me odeiem.

— Myranda — começou a dizer Sor Donnel —, sobre casamento, eu...

Antes que ela terminasse, ela retirou puxou a mão, afastando-se da dele, e levantou-se de forma abruta. Ela foi até a janela de cristal, e abriu, deixando o vento entrar. Olhou para a vasta imensidão da terra de neve. Era uma terra perigosa, cheia de animais selvagens e homens bárbaros. Entretanto, aquelas terras eram partes dela, e ela não iria desistir delas. Nunca.

Entretanto, para garantor que iria ficar com elas, deveria deixá-las novamente, pelo menos por um tempo.

— Casamento pode esperar — ela disse, de forma enfática. — Esta na hora de ir para a guerra.

 


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