Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


CapĂ­tulo 25
A muralha




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Quando Daenerys ouviu sobre a traição de Aegon e Arianne, ela não conseguiu esconder o choque em seu rosto, nem a indignação, o ódio… E o desespero.

A neve caia no pátio de Winterfell, e sobre seu filho. Drogon sibilava, como se fosse uma serpente, parecendo se irritar com o ambiente. Shhhhh... 

O que ela faria agora? Aegon tinha Rhaegal, a companhia dourada, Dorne, e talvez até a Campina; Daenerys tinha um dragão maior, mas ela não queria ter que lutar contra um de seus filhos… Nem contra um parente de sangue. Fui traída, e isto não ficará assim!

Drogon rugiu, irritado, talvez incomodado pela neve, e assustando algumas pessoas no pátio. Apenas os imaculados pareceram impassíveis. E Daenerys, que estava perdida em seus pensanentos. Seu filho fixou o olhar vermelho e ardente nos corpos decapitados que estavam empilhados a sua frente, como se os odiasse. Os corpos expalhavam sangue pelo chão, com a maiora estando totalmente cobertas pelo líquido vermelho.

E então, lembrou-se: eles tinham Viserion! Seu outro filho estava preso, ainda acorrentado em Porto Real. Será que eles o matariam? Ou ele conseguiria se libertar? Ele saberia onde sua mãe estava?

Seu filho embuiu mais corpos com suas chamas negras e rubras, fazendo a pele se contorcer e enegrecer. Os corpos se encolhiam, como se tentando esconder do fogo. O cheiro de carne pobre e queimada emanava de Drogon, um bafo fedido, quente e mortal. O bafo da morte.

Por que Arianne fez isso?, perguntou-se. A princesa parecia ser sua amiga, por quais motivos ela trairia Dany assim? O que ela fez para merecer tal ardil? Ou os povos que ela trouxe?

Oh, aquelas pobres pessoas, perdidas nas terras desconhecidas de Westeros, à procura de sua salvadora. 

Esta é uma terra desconhecida e cruel até para mim. Até mesmo eu me sinto perdida.

Drogon afundou a cabeça na pilha de cadáveres carbonizados e afundou os dentes — que mais pareciam lâminas de diamantes negros e brilhantes — na carne enegrecida. Balançou um pouco a cabeça e arrancou um enorme naco de carne queimada. O cheiro de fumaça e carne queimada tomava conta do ar do local. Wylla virou a cara e Hoster a tomou em seus braços, tentando fazer com que ela não visse aquele horror ardente e nojento.

Sansa tentava ver os mortos. Ela os olhava, sem os ver. Tentava ignorar a fumaça, os rugidos... Tinha que permanecer forte. Não deixaria aquela rainha estrangeira ver fraqueza nela.

E Missandei? O que teriam feito com a pobre garotinha? Ela era só uma criança, não representava ameaça alguma.

— Majestade? — Marwyn a chamou, quando demorou para ela ter uma resposta, claramente desconfortável. Isto tirou Dany de seus pensamentos.

Daenerys tentou se recompor. Olhou em volta, e viu Sansa Stark. O rosto da jovem era como uma escultura de gelo, com apenas o cabelo indo em contraste com a frieza que ela emanava, como se os mortos não importassem para ela. Em contraste com a sua líder, os outros nortenhos pareciam trocar olhares chocados entre si. O rapaz ao lado da jovem ruiva estava totalmente boquiaberto com a situação, com os olhos arregalados.

Daenerys agora estava em território inimigo, e os aliados ao sul também eram seus inimigos. Dany tinha que pensar. Tinha que ter algo que ainda pudesse virar o jogo…

— E Sor Barristan Selmy e Sor Jorah? — Ela indagou, tentando não parecer muito nervosa. Também evitou falar o nome de Daario Naharis.

O arquimeistre puxou um dos elos da enorme corrente colorida que dava várias voltas em seu pescoço.

— Lamento, Majestade, mas não tenho qualquer informação de Sor Barristan e do exército Dothraki no Tridente.

Aquilo nĂŁo era bom. Nada bom.

— Já não teriam conquistado Harrenhal? — Ela indagou. — E os corvos que ele levou com ele? 

O homem abriu as palmas da mão e balançou a cabeça, indicando que não sabia o que teria acontecido aos seus apoiadores.

Sansa fez o que pôde para esconder o júbilo que sentiu ao ouvir sobre a alicantina que Daenerys sofreu de seus próprios aliados; podia ver a incredulidade nos olhos violetas da inimiga. Teve de morder o lábio, como Arya, para não sorrir. Agora a usurpadora havia sido usurpada, seus amigos na capital dos sete reinos a largaram, ela já não tinha mais nenhum apoio em Westeros além de seu bando de estrangeiros, e estes estavam esparsos. Agora, ela perdeu qualquer apoio ao sul que poderia ter além do tridente. 

E Sansa sabia o que tinha acontecido em Harrenhal, não pelo seu marido, mas pelo próprio inimigo: Sor Jorah. De fato, Daenerys havia demorado muito mais que o esperado, caso contrário, teria recebido a carta desesperada de Sor Jorah a tempo. O traidor acreditava que ela já teria chegado a Winterfell, e enviou uma carta pedindo ajuda a sua soberana… Oh, é realmente uma pena que eu tenha mandado todas as cartas serem queimadas!, pensou, ainda segurando o riso, creio que teria sido-lhe útil.

Talvez agora a rainha quisesse fazer um Grande Conselho, embora suas chances de conseguir algo tivessem diminuído de forma drástica. Que lástima.

Daenerys percebeu que estava sozinha. Seus imaculados eram um exército formidável, mas não tinham como vencer todos os exércitos de Westeros; Drogon era enorme, mas não era o único dragão; e os Dothraki não tinham como invadir castelos.

Tinha que pensar em algo; bolar algum plano. Deveria ir em combate contra os usurpadores no Norte? Ou ir para o tridente encontrar seus aliados? O ódio que sentia era tanto, que sentia vontade de ir até a Capital e queimar a fortaleza com o fogo negro e rubro de Drogon. Sentia como se um dragão furioso se mexesse em seu estômago, lutando para sair e encher o mundo de chamas.

Respirou fundo. Tinha que se acalmar. Manter a mente limpa. Sabia que não levaria a nada se deixar levar pela raiva. Precisaria aguardar até poder dar o próximo passo, não podia cometer erros.

— Vamos aguardar. — Decidiu Dany, sentindo-se exausta. Precisava limpar a mente. — Agora está tarde e meus exércitos devem descansar para as batalhas que virão. Vamos aguardar até sabermos mais sobre meus aliados no Tridente.

 Marwyn assentiu, embora temeroso.

Dany se afastou do pátio dos Stark, ignorando os corpos fumegantes que Drogon comia. Virou para um imaculado e falou em Valiriano: 

— Leve Lady Sansa para seus aposentos. Quero dois guardas dentro e fora de seu quarto. Não a deixem fora de vista. — O guerreiro assentiu, e Danya acrescentou: — E pegue as cabeças e as coloque nos espigões sobre a muralha, para que todos vejam. Que os corvos comam o que sobrou deles; eles serão a prova do que acontecerá se alguém for contra mim.

Daenerys escolheu o quarto que era usado pelos antigos reis e lordes da Casa Stark. Era bem grande, embora simples para outros aposentos de grandes casas.

Aqui, o falecido lorde Eddard vivera. Naquela cama, cheia de peles, ele dormira e fizera amor com sua esposa. Era estranho para Daenerys ficar no mesmo quarto que o homem que ajudara a derrubar a sua casa.

Claro, Sor Barristan havia lhe dito que Eddard fora contra a morte de inocentes, dissera os erros cometidos pelo pai da Dany… Entretanto, Dany não conseguia deixar de pensar que aquele homem ajudou a tirar tudo da Casa Targaryen.

NĂŁo importava. O que estava feito, estava feito. NĂŁo podia mudar o passado, nem controlar o presente, sĂł podia tentar melhorar o futuro.

Apesar de Winterfell se localizar no coração do Norte, era surpreendentemente quente. O quarto que Dany ocupava era aconchegante e ela se sentiu um pouco aliviada ao entrar no local, apesar da estranheza.

Irri e Jhiqui logo vieram e a ajudaram a tirar a armadura negra de Daenerys. Seu cabelo foi solto e lavado. A fuligem foi tirada dele, até ficar limpo e lustrado, como prata polida. Uma banheira de bronze foi trazida e logo foi enchida de água longa.

Daenerys afundou-se na água quente, sentindo seu corpo tenso relaxar. Ela encostou os ombros na borda da banheira, sentindo a tensão sair junto da sujeira. O cheiro perfumado das rosas de inverno encheu o ar sombrio e vazio do quarto de doçura.

As aias de Dany a esfregaram e retiraram toda a sujeira de Dany; além das cinzas, foram retiradas crostas de sujeiras de algumas partes de seu corpo, assim como o sangue da lua entre as suas pernas. Havia ficado imunda pelos dias de viagem até Winterfell. A água logo ficou com uma cor leitosa, tamanha a sujeira que outrora estava em seu corpo.

Quando terminaram de limpá-la, Dany pegou um roupão azul e vermelho e se cobriu. A bainha era azul-escura, com renda em forma de peixes prateados. A vestimenta estava um pouco gasta pelo tempo, mas ainda era linda e aconchegante.

Deve ter sido da mãe de Sansa, pensou, embora não pudesse ter certeza, visto que não sabia de qual casa a falecida Lady pertencia por nascimento. De alguma forma, havia aguentado o ataque feito pelos Bolton, visto que o resto das roupas estavam queimadas, mofadas ou comidas por traças. As roupas novas ou que resistiram à queima devem ter sido levadas por Jon Stark, mas elas ou pertenciam a ele ou ao seu pai.

Se viu perguntando se o rei do Norte aceitaria desposá-la, agora que estava solteira novamente. Se assim fosse, eles poderiam iniciar a paz entre as suas famílias.

Mas que garantia tinha de que ele iria querer casar-se com ela? O pai de Dany queimara seu avĂ´ e seu tio, e o irmĂŁo mais velho dela sequestrara sua tia. NĂŁo ajudava ela ter ido contra seu reino e aliados, queimando-os.

NĂŁo importava. Ela tinha de tentar.

Se dirigiu até a porta e a abriu, se dirigindo até um dos imaculados em guarda.

— Vão até o meistre Marwyn e o mandem até aqui. — Ordenou, o homem assentiu e foi fazer o que lhe era mandado.

Quando Marwyn entrou, Dany levantou-se de seu assento.

— Majestade. — Ele disse, se ajoelhando. Dany assentiu, indicando que ele poderia levantar.

— Diga-me, arquimeistre — ela ordenou —, acredita que existe chance do Rei… Do filho de Lorde Eddard aceitar um noivado?

O rude homem deu de ombros. Era um homem feio, dado a maus hábitos.

— Não sei dizer, Vossa Graça. — Respondeu. — Não o conheço. Entretanto, não podemos esquecer que agora vossa graça está livre para casar, tal qual ele.

Dany anuiu. Ele teve o mesmo pensamento que ela.

— Uma pena não termos corvos — Ela disse —, ou poderíamos mandar uma carta para ele. Deverei ir eu mesma.

O arquimeistre a olhou, com dĂşvida no olhar.

— Mas como? — Ele indagou. — Nem sabemos onde ele está…

Dany deu de ombros.

— Creio que ele pode estar na muralha. — Ela disse, vendo que era o local mais distante de todos. — Talvez até além dela. De qualquer forma, eles não têm armas do lado sul, então devem depender totalmente de seus exércitos.

O homem aquiesceu suas deduções.

— Creio estar correta. — Ele disse. — De qualquer forma, lá teremos corvos para usar, visto que os últimos corvos que tínhamos morreram no caminho para cá. — suspirou. — Se ao menos eu tivesse trazido a vela de vidro da cidadela…

Daenerys, vendo que ele já tinha lhe dito o que queria, não via motivos para conversar com ele.

— Certo. — Dany respondeu, dispensando-o com um gesto de seu braço. — Deixe-me, Arquimeistre. Agora devo dormir. Acorde-me caso receba alguma mensagem.

O homem assentiu e girou os calcanhares. Quando ele sumiu, Dany se virou para Irri e Jhiqui.

— Deixe-me também, Jhiqui. — Ordenou, e a aia foi rápida em lhe obedecer. Quando esta também partiu, retirou o roupão, expondo o corpo nu. — Venha Irri, aquece-me esta noite e me faça relaxar um pouco. — Disse, indo até a cama do quarto, coberta de peles.

A mulher de pele oliva assentiu e colocou o roupão de sua rainha numa cadeira, depois, retirou a própria roupa, indo se juntar a sua ama entre as peles de animais da cama. Dany pegou um lençol e cobriu as duas, sentindo o calor aconchegante da companheira.

Dany gemeu quando Irri mordiscou o bico rosado de seu seio e arfou quando esta penetrou sua vagina com dois dedos e os mexeu. Dany beijou o couro cabeludo de sua companheira de cama e a puxou para si. Conforme a moça fazia-a chegar ao ápice, Dany se viu gemendo de prazer, mexendo seu corpo em um frenesi de puro êxtase, arqueando as costas.

Ao ter um orgasmo, sentiu-se relaxada e deu um longo beijo em Irri, sentindo a lĂ­ngua da aia grudada na sua. Pouco antes de cair no sono, ela puxou a companheira para perto de si, ambas compartilhando o calor de seu corpo, e deixou-se relaxar nas cobertas de pele e no corpo escuro de Irri.

 

Sansa teve dificuldade de ir até seus aposentos, pois seus punhos e calcanhares estavam doloridos e tinham os movimentos limitados pelas correntes que Daenerys lhe impusera a usar.

Seu quarto o era o mesmo de sua infância. Ali compartilhara a cama com Jeyne, mas a amiga estava longe agora.

— Como poderemos trocar a sua roupa se usa estas porcarias? — Indagou Wylla, irritada. — Como vai trocar-se ou tomar banho assim?

Sansa deu de ombros.

— Deixe, Wylla. — Disse, sem ter paciência para assuntos tão levianos como aqueles. Embora, de fato, os elos que a prendiam estavam machucando sua pele de porcelana. A rainha poderia pelo menos ter-lhe dado permissão para tirá-las para se trocar ou dormir.— Apenas aumente o fogo da lareira, sim? E, por favor, alguém traga-me um pouco de água.

A jovem com uma trança loira pintada de verde foi até a lareira do quarto e jogou três blocos de lenha no fogo, mexendo com um atiçador. A filha de Lorde Bracken, Bárbara Bracken, afundou uma concha no jarro d’água que tinham e verteu o líquido em um copo antes de entregá-lo para Sansa.

— Obrigado, Bárbara. — Sansa agradeceu, erguendo a mão com o pulso dolorido, mas tentou não transparecer a dor. Saboreou o sabor metálico refrescante limpar sua garganta e fazer a ardência que sentia sumir.

A jovem moça sorriu e acenou com a cabeça. Sansa tinha pena da pobre dama, fora abusada pelo Montanha no fim da guerra dos cinco reis; apesar do trauma, se provara uma boa aia, apesar de muitos a descartarem como boa hipótese para um casamento após o abuso que a pobrezinha sofrera. Sansa jurou a si mesma que se encarregaria de dar-lhe um casamento digno para a jovem dama um dia.

Talvez com o jovem Hoster, visto que ele não mostrava rancor algum, mesmo sendo um Blackwood, uma casa rival a casa de Bárbara, embora ele parecesse mais interessado na jovem Wylla — a qual ele observava aumentar o fogo da lareira com bastante atenção, enquanto a jovem jogava algumas ervas no fogo, para tentar limpar o ar. Wynafryd, sua irmã mais velha, abriu as janelas, deixando o ar do inverno adentrar no cômodo e expulsar o cheiro de fumaça e morte que impregnara nas roupas deles após o massacre que ocorreu no pátio. Após isso, encheu uma bacia com um pouco da água do jarro e entregou um pano para Sansa, que o afundou na água e passou pelo rosto, para tirar quaisquer cinzas e fuligem que tivesse grudado em sua pele.

Após limpar a garganta e o rosto com a água, Sansa pensou em ir dormir, mas preferiu não o fazer. Temia dormir e sonhar com os horrores que viu no pátio. Ainda podia ver as cabeças caírem e os corpos serem entregues da criatura nefasta que Daenerys chamava de “filho”... Ainda conseguia sentir o cheiro da carne queimando. Tentara fazer como quando Joffrey a obrigou a olhar a cabeça do pai e de seus colegas; ver sem enxergar.

Até mesmo olhar para as chamas da lareira era um tanto desconfortável para ela observer; o crepitar e as labaredas dançantes a faziam voltar para o pátio. Abanou a cabeça, tentando esquecer-se de tal visão e virou-se para suas aias e seu pajem.

— Wynafryd, pegue um manto e me cubra. Bárbara, pegue uma escova e penteie o meu cabelo, tire qualquer imundície dele. — virou-se para o jovem Blackwood. — Hos, por que não canta para nós? — Pediu Sansa, tentando não parecer cansada. — Sua voz é muito bonita. — Virou-se para Wylla. — Toque sua harpa. 

Os jovens assentiram e foram fazer o que lhes era ordenado. Pensou em mandar alguém lhe trazer o seu trabalho de costura, mas ela sabia que não tinha cabeça para fazer um trabalho decente naquele momento. Além disso, suas mãos estavam doloridas pelas correntes que prendiam seus pulsos.

Bárbara pegou seus cabelos acobreados e os escovou com uma escova de cabelos com fios de prata e cabo de marfim. Fora um presente de casamento que recebera de Myranda. Perguntava-se como a colega estaria no Vale, lidando com Margaery e Arya... Devia estar sendo uma dor de cabeça ter a irmã com ela, Sansa bem sabia. Amava Arya de todo o seu coração, mas sabia que ela devia estar sendo um verdadeiro desafio.

Espero que o amante dela a acalme, pensou. Ou talvez o jovem dornes pedregoso. Sim, ele seria um bom partido para casamento, sempre gentil, amigável...

Wylla sentou perto da lareira, ao lado de Hos, e começou a tocar as cordas branco-prateadas de sua harpa. O jovem Blackwood, em pé, começou a camtar uma bela música sobre os antepassados dos Stark, lutando contra reis inimgos...

Enquanto os jovens tocavam, Sansa tentou deixar-se levar para longe, levar-se pelas notas musicais que adentravam em seus ouvidos. Logo, sentiu suas pálpebras pesarem e tentou, sem sucesso algum, lutar contra o sono…

Como temia, sonhou com o fogo.

Winterfell queimava novamente, e ela estava em seu grande salão, novamente uma jovem de 11 anos, chorando e chamando pelos seus pais. Entretanto, eles nunca vieram, e ela ficou sozinha, sem ninguém para lha salvar.




 



Um homem esguio se aproximou de Dany, subindo em sua cama, quieto e austero. Ele tinha um olho cinza e outro negro, e era pálido como um cadáver; talvez fosse mesmo um morto, pois tinha vários cortes profundos no corpo. O misterioso home pareceu fareja-la antes de tocar-lhe, como se fosse um cachorro. Ele a tomou em seus braços e ela sentiu o frio de seu corpo, enquanto era apertada contra ele. Seus beijos a machuvam, pois ele tinha frios lábios azuis. Quando ele a penetrou, ela não sentiu frio, pois seu falo era ardente. Quando deu por si, eles estavam fazendo amor, embuidos em fogo pálido. 

O sonho de Daenerys foi interrompido quando ela ouviu batidas em sua porta. Afastou o lençol que cobria sua cabeça e a ergueu.

— Quem é? — ela indagou, irritada.

— Sou eu! É o Marwyn, Vossa Graça. — anunciou o arquimestre. — Trago notícias vindas do Tridente!

Asas escuras, palavras escuras.

Dany afastou as cobertas e as peles. Irri também ia se levantar, mas ela deu um beijo em sua testa e disse que ela poderia descansar. Ela pegou o roupão da cadeira e cobriu o corpo nu, escondendo os pequenos seios. Deu um nó para prender a veste e disse que Marwyn podia entrar.

O homem abriu a porta, adentrando no aposento, segurando uma bengala de aço valiriano. Ele fez uma vénia ao ver Daenerys.

— Vossa Graça, Sor Jorah nos enviou uma mensagem. Na verdade, duas, de tão desesperado que está. — revelou ele. — Pelo que ele escreveu, não é o primeiro corvo que envia para cá.

— Isto eu já imaginava — Disse Dany, um tanto irritada, embora nada surpresa com aquilo. Aquela irritante nortenha com cabelos de fogo deve ter recebido a mensagem pouco antes deles chegarem e a queimou, junto com qualquer outra carta importante que tivesse. — Teria ele enviado alguma para Porto Branco? Ele saberia que iríamos para lá, mas não sei se tinha corvos que iam para lá.

Marwyn deu de ombros.

— Isto eu não sei lhe responder. — Disse o homem. — De qualquer modo, majestade, os homens de ferro não tem corvos, tanto quanto nós, então não nos podem enviar mensagens.

— humpf! — Daenerys fez um som irritado. Toda aquela situação estava sendo ridiculamente ridícula; tinha um emorme exército, mas estava isolada demais para usá-lo. — De qualquer forma — indagou Dany, tentando se acalmar —, o que teria dito Sor Jorah? Ele conseguiu tomar Harrenhal, afinal? — Quando Marwyn demorou para responder ela se irritou novamente. — Desembuche, homem!

O homem a olhou por um tempo, como se nĂŁo tivesse certeza de que ela deveria saber realmente as notĂ­cias d

— Sor Barristan está morto, tal qual Daario Naharis. — Revelou o mago, sem cerimônia. — A bruxa do usurpador Stannis Baratheon o queimou; enquanto a princesa lobo atacou Daario com um exército de lobos.

Daenerys ficou abismada com tal notícia. Ela acreditava que Harrenhal seria uma conquista talvez até simples, mas estava enganada, custara um alto preço e sem nem ter alguma vitória; Barristan, seu fiel companheiro, morto; junto dele, o cadáver do homem que um dia aquecera a cama de Dany. Quando o choque passou, a raiva veio, tomando conta do gelo em suas veias e o derretendo.

— Você disse que a feiticeira de Stannis queimou Barristan? — indagou, mesmo já sabendo da resposta. Quando o homem assentiu ela perguntou: — Crê que Stannis Baratheon está no Sul? Tomando conta do Tridente enquanto faço papel de boba aqui? — Se Stannis estava lá, teria o filho de Lorde Eddard também descido pelo Gargalo?

— Isso não sei lhe dizer, Majestade. — Respondeu Marwyn, abanando a cabeça. — Sor Jorah não fala nada dele. Apenas menciona a sacerdotisa e a princesa lobo.

— “Princesa Lobo” — Dany repetiu as palavras. — Quer dizer Arya? Ela está no Sul também? — Aquilo a enfureceu. — Por acaso todos deixaram o Norte à própria sorte para me fazer perder meu tempo neste fim de mundo gélido? Pensam que vão me intrujar e não pagar por isso? Eles duvidam que eu tenha a mínima capacidade de perceber a ridícula pantomima que eles criaram?

O homem encolheu um pouco perante a fúria de suas palavras e de seu olhar. Sim, ela estava furiosa; estava para além da fúria na verdade. Tentara a paz mais de uma e fora feita de boba. Aegon a enganara, assim como a falsa da princesa Arianne; todavia, não ficaria por isso mesmo, eles pagariam por sua traição, pagariam pelos atos contra os protegidos de Dany. Pagariam com Fogo e Sangue. Nem que fosse a última coisa que Dany pudesse fazer.

— Que mais disse Jorah? — Ela indagou, furiosa, quase se esquecendo do resto.

Marwyn tentou se recompor. Lambeu o beiço e disse:

— Os Dothraki estão dispersos — contou Marwyn —, são muitos para que ele os comande. Tentou levar os que conseguiu de volta para a Capital, mas o Rei Aegon fechou os portões e os repeliu com flechas; disse ter alguns refugiados de Essos com ele, pois foram todos expulsos da Capital. Diz ter alguns casos de doença, e que tem destruído e saqueado todas as aldeias que consegue, para tentar conseguir alguma comida e dinheiro… — Ele recuperou o fôlego e continuou: — Diz que muitas plantações estão queimadas e devastadas pelo inverno; implora pelo apoio de Vossa Majestade.

Ao ouvir aquilo, Daenerys deixou o medo voltar a tomar conta de seu corpo, deixando-se ficar pálida; imaginar os Dothraki pelas terras já devastadas pela guerra encheu seu coração de pesar…. Todas as pobres pessoas que entrassem em seu caminho seriam mortas, e muitas estupradas.

— Típico de Sor Jorah — Disse Dany, amargamente —; ele só sabe ser um homem bruto.

Marwyn a olhou com uma confusĂŁo visĂ­vel nos olhos.

— Vossa Graça, estes homens que ele ataca são vossos inimigos mortais.

Dany bufou.

— Tenho certeza que as crianças e mulheres que viviam no campo e agora estão sendo estupradas e mortas realmente eram uma ameaça terrível para mim, oh, sábio arquimeistre. — Respondeu ela. — Agora, reúna os soldados e os reféns no grande salão. — Ordenou e foi acordar Irri.

 

Sansa acordou com a mão de Hoster tocando seu ombro. Quando abriu as pestanas, piscou várias vezes, confusa pesadamente. Parecia ter areia nos olhos e era difícil mantê-los abertos.

— Daenerys nos quer no grande Salão, milady. — Disse o jovem, mas Sansa estava tão sonolenta que demorou até entender o que ele lhe dizia.

Quando sentiu os pulsos doloridos e se deu conta do aperto gelado do enorme elo dourado que prendia seu pescoço logo voltou a realidade. Lembrou-se do pesadelo que sua vida era. Acenou para o jovem rapaz e se levantou.

— Certo. — Ela disse, fazendo os elos dourados dançarem e tilintar enquanto se movia, mas os ignorou. — Vamos ver o que ela quer agora. — virou-se para as suas aias. — Tragam-me um manto. O forrado com arminho e fecho de lobo.

Estava na hora de encarar a Rainha dragĂŁo novamente.



Daenerys se sentou no assento de pedra dos Stark. Sansa odiava vĂŞ-la ali, nĂŁo era certo e nĂŁo era justo. Por que os pais estavam mortos e Daenerys estava viva? Por ela mesma estava viva para ver aquilo? Os deuses a odiavam tanto? Era algum tipo de penitĂŞncia que ela estava fazendo?

Daenerys fez um sinal e Sansa foi até ela, sentindo-se como um cachorro. Ficou de frente a usurpadora, encarando seus olhos violeta com seus próprios olhos azuis.

— Vejo que vocês Stark são cheios de surpresa, Milady. — Disse Daenerys, com a voz seca, mas carregada de desprezo.

Então ela já sabe…

— Temo não ter entendido…

— Ora, não me venha com essa! — Daenerys a cortou, irritada. — Eu já sei sobre o Tridente e a morte do valente sor Barristan e Daario Naharis!

Sansa acenou com a cabeça.

— Lamento que tenha tido tal infortúnio. — Respondeu, polidamente.

Daenerys estava quase entregando aquela moça para o seu dragão. Estava farta daquelas palavras vazias e cheias de falsa cortesia que aquela Stark insuportável falava.

— Lady Sansa — Disse Dany, incisivamente —, creio que sabe que sou uma mulher com pouca paciência para falsidades, então perguntarei de uma vez: onde estão seus irmãos e o usurpador Lorde Stannis Baratheon?

Sansa balançou a cabeça.

— Lamento, vossa graça, mas receio não saber. Podem estar em qualquer lugar do Norte a essa altura.

Dany bateu os punhos na mesa, irritada. Se aquela garota não falasse o que ela queria logo, seria obrigada a entregá-la a algum carrasco que a interrogasse com severidade.

— Não brinque comigo, Stark. — Avisou. — Sua irmã está tramando contra mim e meus aliados no Tridente. — Ela disse. — Devo deduzir que seu irmão bastardo também está por lá? Talvez lorde Stannis também? Junto daquela prpstituta escarlate que ele carrega consigo?

Sansa arregalou um pouco os olhos ao ouvir o nome de sua irmã. Isto não passou despercebido por Dany que se recostou na mesa de pedra, surpreendida pela reação da moça.

Então ela realmente não sabia onde a irmã estava… Não deve saber dos outros irmão também. Aquilo era ruim para ela; os três Stark estavam esparsos pelo mapa, podendo estar até fora do Norte e ela não sabia.

Isto queria dizer que as chances de Jon estar na muralha eram menores ainda; Dany já temia por isso, mas imaginava que o nortenho estava preferindo se esconder ao invés de atacar, por isso estaria na muralha; todavia, parecia que os Stark eram mais sanguinários e suicidas do que Dany pensava. Achava difícil Jon estar no lugar mais óbvio de todos.

Sansa não fazia ideia de que Arya estava no tridente. Não recebera qualquer carta de seu marido ou de seus tios sobre aquilo…

Eu dei ordens expressas a Myranda de que a detivesse, nem que a tivesse que acorrentá-la.

Dany tinha que pensar em um meio de contornar aquela situação. Precisava tentar dar a volta por cima, mas como? Não tinha corvos, estava sem dothrakis, e cercada de inimigos em uma terra desconhecida… Tinha que resolver aquilo, mas como? O que poderia ela fazer?

Dany sabia o que tinha de fazer, mesmo que nĂŁo gostasse; devia lembrar-se de que ela era um dragĂŁo justiceiro. Tentaria a paz uma Ăşltima vez com seus inimigos no Norte, se caso aquilo nĂŁo desse certo, ela lhes daria fogo e sangue.

Levantando-se, ela encarou Sansa, que nĂŁo se abalou perante seu olhar.

— Muito bem, Lady Sansa — disse Dany, tentando se acalmar, mas com aibda dura e severa—, faremos assim: eu casar-me-ei com o vosso irmão, o Rei Jon Stark. Uniremos nossas casas e terminaremos assim nossa rivalidade. Então, o que me diz?

— Não! — Respondeu Sansa, quase sem nem pensar. Toda a polidez e calma que tinha se foram quando aquele monstro disse que tentaria se casar com Jon, mesmo depois de invadir seu reino e matar seus aliados. — Prefiro morrer do que ver meu irmão casado com uma aberração sanguinária como você; sua abominação.

Wyla observou sua soberana, chocada com a reação de Sansa. Nunca a vira assim, não era de seu feitio.

Dany cerrou a mĂŁo em um punho.

— Se atreve a me chamar de aberração? — Perguntou, furiosa com arrogância da jovem moça. — Perdeste a cabeça, Stark?

— Eu estou mais sã do que nunca, sua usurpadora. — Respondeu, dando uma risada amarga. — Prefiro queimar do ver você no mesmo assento de meu pai, filha do rei louco.

Perguntou-se se estava assim por despeito ou por estar com vontade de acabar logo com a tortura que era sua vida. NĂŁo importava, nĂŁo tinha medo da morte, seus pais a esperavam, assim como Lady e Robb. Estaria com eles logo.

Dany se levantou de sua cadeira de pedra, fulminando Sansa com o olhar. Sentia-se como se o dragĂŁo dentro dela estivesse mais furioso do que nunca.

— Que seja. — Disse Dany, finalmente. — Vou cumprir seus últimos desejo, lady Sansa.

— Não! — Gritou Wylla, tentando ir até sua chefe, mas Hoster e Wynafryd a seguraram pelo braço.

— Não, Wylla — Disse Hos, segurando-a —, não faça isso!

— Ela não pode fazer isso! — Exclamou a jovem loira. — Ela não pode destruir tudo que tentamos refazer! Não pode acabar assim!

— Quieta, Wylla! — Ordenou Sansa, depois se virou para voltar a encarar Daenerys; não com o arrojo de antes, mas com um olhar piedoso. — Peço… Não, imploro que não lhe faça mal, por favor, Vossa Graça, ela é apenas uma jovem e perdeu o pai há pouco tempo…

Dany não conseguiu não se compadecer ao ver a jovem chorar e lutar para se libertar. Queria dizer-lhe que não era o monstro ali, mas sabia que era inútil… Na verdade, já nem tinha certeza se não era mesmo o monstro dali. Suspirando, ela sentou-se na cadeira de pedra.

O que estou fazendo?, questionou-se, eu não sou assim; não me levo pela raiva. Sou uma salvadora, pelos deuses!

Enquanto estava em seus devaneios, Marwyn entrou correndo no salĂŁo, abrindo uma das portas de entrada com um estrondo que assustou a todos no aposento.

— Minha rainha! — Ele anunciou, enquanto corria até ela, erguendo um pequeno papel numa mão. — Trago mensagens do Rei do Norte!

Os imaculados se moveram para bloqueá-lo, mas Dany os impediu com um gesto da mão. Sansa olhou o homem com surpresa.

— Que foi, Marwyn? — Ela indagou, mas o homem sem fôlego apenas se ajoelhou, cansado, e lhe entregou a carta. O lacre quebrado era cinza-prateado e podia ver a silhueta da face de um lobo nele.

“Sim, eu estou na muralha, em Fortenoite junto de Stannis — Pergunte ao seu arquimeistre onde fica e ele lhe desenhará um mapa até aqui. Venha até mim e poderemos negociar sua aliança. Venha e descubra a verdade. Venha e mostre-me se você é uma rainha ou uma tirâna.

E não ouse tocar em minha irmã, ou eu a estrangularei com minhas próprias mãos.”

— Jon I Stark, O Rei do Norte e do Tridente.

Daenerys leu aquilo com extrema surpresa e confusĂŁo. ApĂłs ler tudo pela terceira ou quarta vez, Dany olhou para Sansa, e percebeu que a jovem inimiga estava tĂŁo perdida quanto ela.

— Que diz? — indagou Sansa, não aguentando a ansiedade.

Daenerys leu a carta em voz alta. Todos os nortenhos do salão trocaram olhares e começaram a murmurar várias coisas, as vozes ecoaram pelo salão, quase parecendo um grito disforme. Sansa arregalou os olhos e escancarou a boca.

Por que raios seu irmão se entregaria assim, ainda mais sabendo quem mais estava na muralha com ele? E como ele saberia que Daenerys estava com o casamento anulado? E que ela já estava em Winterfell?

— O que fará, Vossa Graça? — perguntou Marwyn.

— O que farei? — Ela perguntou de volta. — Vou montar Drogon e ir até a muralha encontrar esse dito “Rei Stark”. — Respondeu, amassando o papel que havia lido. — Se ele quiser formar uma aliança matrimonial comigo, ótimo… Senão, eu o queimo, junto de seus irmãos, tal qual meu pai fez ao avô dele.

Sansa se ajoelhou ao ouvir aquilo, chamando a atenção de Daenerys. As correntes machucavam-lhe seus calcanhares, mas ela ignorou a dor. Juntou as duas mãos em um punho e as ergueu.

— Eu lhe imploro Rainha Daenerys — Ela disse, deixando de lado todo o seu orgulho —, não faça mal aos meus irmãos! — Disse desesperada. — Podemos nos unir contra o usurpador Aegon, e, quando tudo tiver terminado, podemos então dividir o reino!

— “Dividir o reino”? — indagou Dany. — Que tem na cabeça, Stark?

— Você e sua família só conseguiram ódio do tridente e do Norte; nunca terá amor e segurança de seus lordes, mesmo com meu irmão ao seu lado! — Disse astutamente. — Pegue as terras além do tridente como suas, elas estarão mais aptas para lhe obedecer! — Case-se com Tyrion se assim desejar, para conseguir o Oeste, ou então Willas Tyrell, para conseguir a Campina; use Margaery como refém se assim o quiser. O Vale, o Tridente e o Norte permaneceram como um reino, e você terá o seu! Eu juro, pelos velhos e novos deuses, que não entraremos mais em guerra contra você se assim o fizer!

Dany ouviu aquelas palavras com desprezo.

— Palavras são o vento. — Disse, descartando aquela ideia sem sentido de Sansa. — E quanto às atrocidades cometidas a mim e aos meus pelos vossos irmãos? — indagou, furiosa com a audácia daquela jovem mimada; certamente os pais não lhe ensinaram humildade alguma. — E quanto as vidas de Sor Barristan Selmy e Daario Naharis? O sangue deles também foi derramado!

Sansa ficou enojada com a comparação da vida de seus irmãos serem de igual valor ao prostituto de Daenerys, mas fez o que pode para não demonstrar nada.

— Sangue de mercenário estrangeiro derramado em guerra! — Insistiu Sansa. — E sor Barristan era um guerreiro que sabia de seus riscos! — Lembrou-lhe. — Os meus dois irmãos mais novos não lhe fizeram nada! Nem sequer pegaram alguma arma durante toda a sua vida! Quantos mais terão de morrer pela sua sede de poder e pela loucura de sua casa? — Indagou, indignada e exasperada pela frieza daquela mulher horrível e arrogante.

— Cale-se! — Ordenou Dany, se levantando da cadeira. — Eu vou até a muralha eu mesma. — Anunciou, olhando para a jovem de joelhos. — E, caso seu irmão se negue a casar-se comigo, ou caso não esteja na muralha e me arme alguma arapuca, eu juro, pelo velho e novos deuses, assim como pelo deus da luz, que vou queimar todos os castelos da muralha e derrotar aquela enorme construção com o fogo de meu filho — continuou: —; após isso, voltar-lhe-ei para cá, e queimarei seu bosque sagrado, junto de sua a árvore coração, e farei você assistir; e então eu terminar-lhe-ei o que os Bolton não fizeram e transformarei este castelo maldito em uma nova Harrenhal; após isso, todos os lordes do Norte, tridente e do Vale terão uma escolha: rendição ou morte por fogo.

Sansa ficou tão apavorada e chocada com as ameaças de Daenerys que não teve tempo de reação. Apenas a observou, boquiaberta e com os olhos abertos, como se fosse uma simples criança.

Daenerys se virou para as damas de companhia dela.

— Tirem-na daqui, agora! — Ordenou.

As jovens damas e o rapaz alto a ajudaram a se levantar, fazendo os elos dourados chacoalharem e cantarem. Levaram Sansa até seu quarto, mas ela nem sequer esboçava reação.

Eu fracassei, pensou, desesperançosa, acreditando que aquele era mesmo o fim dela e de toda a sua casa. Perdoe-me, mãe e pai, eu falhei com vocês, falhei com todos vocês…

Daenerys a observou partir e entĂŁo se virou para encarar Marwyn.

— Reúna alguns suprimentos para minha partida, faça um mapa de onde fica Fortenoite, e cuide de tudo por aqui até minha volta. — Ordenou e saiu andando.

— Vossa graça — Ele a chamou, perdido — que farei caso não volte?

Dany o ignorou, indo até seus aposentos.

Irri e Jhiqui trançaram seu cabelo prateado, como se ela fosse um Khal, e a ajudaram a vestir a armadura. Era hora de ir e mostrar ao dito “Rei do Norte” quem ela realmente era.





Foi uma longa jornada até a muralha, o vento estava violento, fazendo com que ela quase não pudesse ver nada a um palmo de distância. Parara poucas vezes durante o percurso, geralmente quando seu filho via alguma presa e decidia ir caçá-la. Não podia fazer muito para impedi-lo; sem o chifre para controlá-lo, seu filho fazia o que bem entendia e ela deveria ter de aceitar. Em situações normais, talvez tivesse chegado em um dia ou menos, mas o tempo estava instável e perigoso, de modo que ela teve voar baixo, para que não congelasse — temia que nem o calor corporal de seu filho a salvasse de congelar ou de algum dos membros ficasse preto.

Conforme o frio piorava, o humor de Drogon piorava com ele. Dany podia sentir isso. Cada floco de neve era capaz de deixar seu filho mais zangado do que de costume. Temia que Drogon estragasse qualquer acordo que Dany pudesse fazer; e se ele queimasse alguém? Ou alguma fortaleza? Ou, mesmo que não o fizesse, como Daenerys iria impor respeito e medo aos outros se ela não controlasse o próprio dragão?

Tentara ao máximo não comer muito dos suprimentos que trouxe consigo, pois sabia que a viagem seria mais demorada do que deveria. Comera carne seca, alguns figos… Mas alimentou-se principalmente das presas que Drogon queimara durante a viagem.

Enquanto chegava perto de seu destino, Dany conseguia ver a gigantesca muralha a sua frente, faltando poucos dias para chegar. Era lá que os dois usurpadores estavam, se o que o bastardo do falecido Lorde Eddard escrevera na carta era verdade.

Conforme se aproximava, mais vontade tinha de voltar. Não para Winterfell, mas qualquer lugar longe dali; o Norte era arisco para ela. Aquelas terras pareciam sussurrar que ela era uma invasora, que não era bem-vinda…

Não que o resto de Westeros tenha sido muito melhor, a bem verdade. Todos os westerosi ou a detestavam, ou a temiam, ou dois. Achou que com Aegon ela poderia finalmente ter uma família, não se sentir sozinha; entretanto, ele a repudiou, talvez com uma certa razão, quando ela não lhe trouxe nada além de dores de cabeça; até mesmo Arianne Martell, com quem Dany sentiu que finalmente poderia se abrir, tomou o trono dela em ardil cruel.

Os únicos que a amaram de verdade ou estavam mortos ou perdidos e distante demais dela. Que poderia fazer para resolver tudo aquilo? Sua vida estava uma bagunça, a de todos em Westeros estava, e ela não conseguia resolver nada daquilo.

Conforme se aproximava da muralha, Daenerys fez Drogon descer um pouco de altitude. Conseguia ver pequenas figuras escuras lá embaixo; formando grossas linhas escuras no chão branco de neve, como formigas. Facilmente poderia queimar todos se assim o quisesse.

Conforme Drogon deslizava até o chão, alguns se apavoraram e saíram correndo. Quando seu filho pousou no chão de neve fofa, ela rapidamente começou a derreter, formando uma imensa poça d’água fervente e fazendo com que a fumaça subisse a partir do líquido borbulhante; podia ouvir o som do líquido borbulhando. Drogon deu um rugido irritado e se remexeu, teria derrubado Dany se ela não estivesse amarrada a uma sela.

Dany abriu a viseira negra e olhou em volta; a maioria vestia preto, sendo homens da patrulha; havia alguns com pele gordurosa e bagunçada, o grupo era formado tanto por homens quanto por mulheres, provavelmente eram os selvagens; havia, é claro, alguns lordes com eles, ela imaginava, dada as roupas de couro, tingidas de cores que não eram pretas; entretanto, o que mais lhe chamou a atenção eram as pequenas pessoas que pareciam haver ali, parecendo crianças, ou cervos que andavam em duas patas, com sua pele marrom e manchas brancas.

Além das criaturas pequenas, viu também um imenso ser peludo, parecendo um gorila com pelo desgrenhado e marrom. Ele segurava um tronco de madeira com uma pedra amarrada nele, em formato de um machado gigante.

 Dany desceu de seu filho, com cuidado para não escorregar na água borbulhante. Uma das pequenas pessoas foi ver ela; tinha o cabelo variado entre ruivo outonal e o dourado do verão, seus olhos eram grandes e cortados como os de um gato.

Dany a olhou com estranheza. Lembrava-a de Missandei, principalmente pelo ambar nos olhos, mas claramente nĂŁo era humana.

— Quem é você? — Questionou Dany, conforme a pequena criatura se aproximou dela, segurando uma pequena lança com ponta de obsidiana. Ela notou que a mão da pequena criatura tinha apenas quatro dedos, não cinco, e todos tinham garras pretas bem pontudas.

— Meu nome é muito antigo e confuso, Vossa Graça — Explicou a pequena criatura, com uma voz que mais parecia a canção mais triste que Dany já ouviu em toda a sua vida, quase a fazendo chorar —, mas o pequeno príncipe me chama de Folha, e a senhora pode assim me chamar se lhe aprouver.

Escutou tudo aquilo com estranheza nĂ­tida. Agora lembrava-se de ter ouvido de estranhos seres da floresta, mas nĂŁo se lembrava bem da lenda.

— Você disse príncipe. — apontou Dany. — Quem é este príncipe de quem me fala? É Jon Stark?

A pequena criatura do tamanho de uma criança deu uma pequena risada.

— Não, mas ele está com o Rei. — Ela revelou, então virou-se para um patrulheiro que vinha até onde estavam, com uma tocha na mão.

O rapaz era bonito, com olhos escuros e cabelos cacheados.

— Tenho a honra de ser Cetim, Vossa Graça. — Apresentou-se o rapaz, fazendo-lhe uma breve vénia. — Eu a levarei até o rei Jon.

Dany franziu o cenho. Era para o filho de Eddard Stark vir vê-la, assim como Stannis, quem ele achava que era para fazê-la ir até ele depois de tanto viajar?

— E onde ele está? — indagou, um tanto irritada.

Cetim apontou para o castelo com a chama.

— Se me permite… — Ele começou a dizer.

— Não permito. — Interrompeu-o. — Não entrarei em nenhum castelo sem escolta.

O rapaz deu leve riso.

— Majestade se engana, meu rei e o rei Stannis não estão dentro Fortenoite. — Revelou. — Estão para além dele, além-muralha. Eu mesmo a irei…

— Não é necessário. — Anunciou Dany, se virando e indo até Drogon, que estava obviamente agitado com o local. — Eu irei até eles eu mesma.

Ela pegou o chicote que estava preso em seu cinto e o fez estalar no pescoço de Drogon, que sibilou em resposta e bateu as asas coriáceas rubras, fazendo um ar quente se espalhar, derretendo mais o chão de neve fofa, e alçando vôo. Dany estalou o chicote contra o couro duro mais uma vez, fazendo seu filho ir até a muralha.

Entretanto, quando eles estava para passar a imensa construção de gelo, seu filho simplesmente parou de avançar.

— Vamos, Drogon! — Ordenou Dany, batendo o chicote mais vezes em seu filho, mas sem sucesso algum. Drogon simplesmente ia para os lados ou apenas ficava voando no mesmo lugar.

Por três vezes, Dany tentou fazê-lo atravessar a muralha, e nas três vezes ela fracassou. 

Derrotada e confusa, ela se viu obrigada a fazer seu pousar no chĂŁo novamente. Aquilo nĂŁo fazia sentido para ela; nada assustava Drogon. Nada. Seu filho sempre ia enfrentar de frente contra perigo, nunca fugia dele.

Sem escolhas, ela desceu mais uma vez da cela e foi ter com Cetim e Folha. Tirou o capacete negro com três cabeças de dragões rubras.

— Leve-me até seu Rei. — Disse, ainda tentando entender o que havia acabado de acontecer. Teria ficado insana para estar vendo tantas coisas estranhas?

Cetim assentiu e se virou, indo até o castelo, seguido pela criatura que se intitulava de Folha. Dany, sem escolha, os seguiu. Os homens e mulheres abriram passagem para eles, olhando torto para ela.

Eu sou do sangue do dragĂŁo, disse a si mesma.

— Você é patrulheiro? — indagou Dany, enquanto o rapaz a levava para dentro — ou escudeiro de Jon?

— Sou o que Jon quiser que eu seja — Respondeu, sem olhar para ela. — Ele tem meu corpo para o que ele quiser me colocar em serviço.

O castelo estava podre, caindo aos pedaços, parecendo prestes a desabar a qualquer momento. Era quase como voltar à velha casa dos imortais, onde tudo era velho e morto.

— Jon mandou alguns homens para reconstruí-lo. — revelou Cetim, como se lesse os pensamentos de Dany. — O Castelo era formidável no passado, mas fora abandonado após a Boa Rainha Alysanne ajudar os irmãos da Patrulha a construir um novo castelo, chamado Lago Profundo; isto já tem uns dois ou três séculos.

Dany anuiu.

— Sim, lembro-me de ler um pouco sobre isto na Capital. — Disse, observando as madeiras caídas e apodrecidas. Aquilo precisava de uma reforma urgente. — Este é um lugar de muitas lendas, se bem me lembro…

O jovem assentiu, conforme passavam pelas cozinhas do local. Adentraram em posso fundo e sombrio, entrando nas entranhas da escuridão. Um arrepio percorreu pela nuca de Dany, eriçando os pelos de sua nuca, enquanto um frio percorreu pela sua espinha. Todos os seus sentidos diziam para sair daquele local sinistro, mas ela se forçou a seguir em frente, lutando contra o medo e tentando mostrar corage. Ela chegou muito longe para desistir, não tinha mais nada a perder após a traição de seus companheiros, sua vida era tudo que tinha e ela sempre a colocara em jogo para ter o que era seu, sabendo dos riscos.

Se eu olhar para trás estou perdida.

 

— O Rato cozinheiro que fez um rei comer seu próprio filho e agora devora sua própria prole, o estupro e assassinato do Bravo e Jovem Danny Flint pelos seus próprios irmãos da patrulha, onde o Rei Sherrit rogou a sua praga sobre os ândalos de antigamente, onde os jovens aprendizes tinham enfrentado a coisa saída da noite, onde o cego Symeon Olhos-de-Estrela viu os mastins do inferno lutando, e onde Machado Louco, um dia, caminhou os pátios e subiu as torres, para assassinar seus irmãos na calada da escuridão… — Virou num beco escuro. — Temos várias. E algumas nem são lendas, como quando os comandantes do Portão da Neve e de Fortenoite entraram em guerra um contra o outro, apenas ambos perderam suas cabeças para os Stark de Winterfell.

Dany fez uma careta ao ouvir tudo aquilo. NĂŁo era de admirar que aquele lugar fora abandonado e esquecido pelos homens, quem iria querer ficar ali por vontade prĂłpria?

Conforme adentravam no local, uma luz pálida surgiu, e Dany viu um estranho rosto de represeiro a sua frente, e então Cetim parou, e ela e Folha pararam juntas. A face era velha, pálida, enrugada e encolhida.

— O quê…? — Dany começou a falar, mas parou quando a porta abriu seus olhos brancos e cegos, assustando-a.

— Quem é? — A porta perguntou, para a surpresa de Daenerys.

E entĂŁo, Cetim respondeu:

—Sou a espada na escuridão, Sou o vigilante nas muralhas, Sou o fogo que arde contra o frio, a luz que traz consigo a alvorada, a trombeta que acorda os que dormem, Sou o escudo que defende os reinos dos homens.

— Então passe. — A porta respondeu e abriu sua pequena e enrugada boca, cada vez mais, até escancarou em uma passagem que fosse possível de ser atravessada sem problemas, rodeada por um anel de rugas.

Um vento frio saiu de dentro da boca, apagando a chama que Cetim levava consigo. Dany se abraçou, embora não soubesse dizer se foi realmente pelo frio ou por medo.

— Mas como…? — Dany estava começando a achar que realmente estava delirando pelos desgastes da longa viagem. 

— Vá — Disse Cetim —, eles a aguardam, minha rainha.

Dany olhou incerta para ele e depois para a passagem.

Eu sou do sangue da antiga valíria, disse a si mesma, e andou até a passagem, com uma leve memória de que já esteve naquela situação antes, em Qarth. Só podia rezar para que tivesse um final mais otimista.

Andou sem rumo pela neve branca, em um mundo branco, preto e cinza. Um mundo puro  e intocado pela humanidade.  Um mundo justo, ao qual ela não pertencia, mas que adentrava mesmo assim, indo de encontro ao seu destino. A neve tocava levemente o metal frio e escuro de sua armadura, e Dany sentia o frio tomando conta de seu corpo. A ventania parecia uma espada invisível de gelo, tentando quebrar a sua armadura. Em um dado momento, antes do vento parecer sessar o ataque, uma rajada de vento violenta a rodeou e parecia que lobos raivosos estavam mordendo sua armadura, tentando comer a sua carne.

Conforme andava mais, sem parar, viu um represeiro branco, com várias folhas vermelhas com cinco pontas, lembrando a forma de mãos de sangue, e conseguiu visualizar quatro figuras: Um jovem ruivo, em uma pedra, coberto de peles, com um lobo cinzento de olhos dourados deitado ao lado dele; um homem alto e duro, com uma coroa de ouro vermelho em forma de chamas, barba preta perfeitamente aparada e um maxilar forte; no canto, um homem pequeno, com o rosto coberto por um capuz verde escuro desgastado.

Entretanto, aquele que mais chamava a atenção de Daenerys era o jovem que estava na frente do encapuzado. Ele tinha uma longa espada bastarda presa em suas costas, era possível ver a cabeça de lobo braco escupida na empunhadeira. O rapaz parecia mais velho do que realmente era, tendo uma aparência esguia e pele pálida como a neve que os cercava, branco como o tronco do represeiro. Tinha um rosto logo e cabelos castanhos curtos, com algumas partes grisalhas, principalmente uma proeminente mecha cinza-prateada na parte da frente da testa. A cabeça era encimada por um diadema de bronze com runas antigas dos primeiros homens e com pequenas pontas de ferro no topo, como se fossem pequenas espadas. Entretanto, o que mais chamava a atenção de Dany eram seus olhos; o rapaz tinha um olho cinza tão escuro que parecia preto, mas no lugar do outro olho, onde tinha algumas cicatrizes profundas, largas e rosadas, que iam da testa e desciam um pouco depois da pálpebras, parecendo ter sido atacado e arranhado por algum animal, tinha um olho negro e brilhante, feito de vidro de dragão, perfeitamente escupido para se parecer um olho humano, com um leve brilho azul quando se movia. As sobrancelhas também tinhas partes grisalhas.

 Aquele era o filho, outrora ilegítimo, de Ned Stark, herdeiro do reinado devastado de Robb Stark, e o atual rei do Norte; Inimigo de Dany, soberano dos vassalo que ela matara, irmão mais velho da irritante Lady de Winterfell que tanto desafiou Dany desde que ela chegara no Norte.

Aquele homem esguio era o Rei Jon I da Casa Stark.

Daenerys sabia quem eram quase todos eles, exceto pelo encapuzado. Tentou se mostrar forte perante seus olhares. O olhar azul de quem parecia ser Stannis era o mais duro e frio de todos.

— Senhores — Dany se apresentou —, eu sou…

— Obviamente sabemos quem você é. — Interrompeu. — Não temos tempo para títulos vazios, não num momento desses.

Daenerys se irritou com ele.

— Creio que você deva ter ensinado Sansa como ser cortês. — Debochou.

Jon falou pela primeira vez.

— Não fale da minha irmã. — Ele disse, com o olhar fixado em Dany. Para a surpresa dela, a neve do chão pareceu se mexer e se elevar. De repente, viu dois enormes olhos de sangue a encarando e dentes. Deu um passo para trás.

Tentando se manter forte, sem querer fraca, ela fixou o olhar nos olhos escuros de Jon.

— Me mate e meu filho queimará tudo. — Avisou. — E terá de lidar com meus exércitos devastando tudo em seu reino como retaliação pela minha morte.

— Já chega disso, Stark — Ordenou Stannis —, controle seu lobo antes que piore tudo.

O homem de capuz colocou uma mĂŁo no ombro do nortenho e este acabou por se acalmar.

— Fantasma. — Chamou, e o lobo afastou-se de Dany.

— Isto é ridículo. — Disse Dany. — Por que me obrigou a vir aqui?

Jon deu um meio sorriso.

— Tenho meus meios, Vossa Graça. — Respondeu de forma simples, mas logo seu sorriso morreu. — Eu prometo me unir a você em sagrado matrimônio e derrotar Aegon, caso você nos ajude contra a nossa própria guerra.

Dany franziu o cenho.

— E que guerra seria esta? — indagou, sem paciência para rodeios. — Contra Snarks e Grenkins?

Stannis não achou graça.

— Você monta um dragão que acabou de chamar de filho — lembrou-a — e tenho certeza que viu os filhos das florestas quando chegou, assim como um gigante. Não finja que não as coisas sobrenaturais são todas falsas.

Daenerys não o respondeu de imediato, mas encarou o homem. Ele era irmão do homem que causara a destruição de sua casa e que lutara na guerra dos cinco reis para ter o trono para si.

— Mas e você, lorde Stannis? — interrogou. — Por qual motivo você apoiaria esta união? Afinal, eu quero o mesmo trono que você, falsamente, proclama como seu.

O homem rangeu os dentes antes de lhe dar respostas.

— O trono pouco importa. — Respondeu — Devemos nos unir para o que realmente importa; a grande batalha que está por vir.

Daenerys o olhou de soslaio.

— Acham mesmo que eu…

— Não achamos nada. — Interrompeu Jon. — Você deve ser por si própria. — Ele se virou e apontou para o jovem ruivo.

— Este…

— É Bran. — Jon respondeu antes dela terminar a pergunta. — Meu irmão.

O jovem a olhou. Ele tinha um cabelo rubro, bochechas altas e rosadas, com profundos olhos azuis. Tocou no represeiro com uma mĂŁo e depois esticou a outra mĂŁo para Dany.

Ela olhou para Jon e depois para Stannis. Eles apenas a observaram, em silêncio. Isto é ridículo, ela pensou, enquanto andava entre os dois homens e ia em direção ao jovem. Retirou a manopla da mão.

Quando chegou perto do garoto e esticou sua mão para tocar a dele, ela olhou para o rosto do represeiro. Era um rosto triste, torcido, com seiva vermelha, semelhante a sangue, saindo dos olhos e boca. Algo naquela árvore a assustava, não sabia explicar o motivo, mas era como se a acusasse de algo. Afastou a sua mão, como se tivesse medo.

— Eu sei que está assustada — o jovem disse, com um sorriso gentil e inocente —, mas não se preocupe; foi para isso que você veio, você veio ser nossa salvadora.

Vendo seus olhos inocentes, Dany se viu lembrando das crianças que libertara em Essos. Era isso que ela queria, salvar as pessoas do mal. Não queria ser um monstro.

Dany tocou na mĂŁo de Bran, sentindo o calor de sua pequena mĂŁo.

Sentiu-se entrar nas raízes do represeiro, tornando-se parte dele, deixando seu corpo de lado e tornando algo único, como se fizesse parte de outras mentes, algo muito maior do que um humano ou um dragão. O tempo retrocedeu e tudo mudou, plantas voltaram a brotar e morrer, neve ia e vinha. Viu as pequenas crianças-cervo pegarem homens e enfiarem vidro de dragão em seus peitos, sua carne ficar azul e dura. Viu essas criaturas se erguerem e matar pessoas inocentes, trespassando-as com espadas azuis, enquanto riam e montavam criaturas de gelo; sem conseguir fechar os olhos para aquele horror.

Quando voltou a sentir o seu corpo, Dany viu soltou a mão do jovem Stark e deu um passo para trás. Ela olhou para ele, assustada. 

— Eu vi… — Ela disse, tocando a própria mão. — Eu vi… Aquelas… Aquelas coisas de gelo. Elas eram tão estranhas. Tão cruéis.

Dany olhou para Jon. 

— É contra isto que quer lutar? — Ela indagou, ainda tocando a palma da mão. O rapaz assentiu.

— Precisamos de sua ajuda, Daenerys. — Ele disse, e ela pode ver o medo em seu olhar. — Deve esquecer o sul e deixar o trono de ferro de lado, deve concentrar-se na batalha que está prestes a acontecer e irá nos custar tudo. É contra isso que você precisa lutar.

Dany deixou os braços caírem. Ela olhou para ele, incerta.

— Deixar o trono de lado… — Ela repetiu as palavras, lentamente, com certa incredulidade.

Quando ela deixou o trono de ferro de lado, ela tentou resolver as coisas em Meereen, e o que recebera em troca? Traições. Assim como no caso de Aegon e Arianne. Não. Ela não poderia se deixar confiar em ninguém novamente; estava cansada de ser enganada. Não deixaria levar-se assim novamente.

Como se lesse seus pensamentos, Stannis deu um passo Ă  frente e disse:

— Não importa as querelas que temos — Ele disse —, está na hora de pararmos de lutar entre si, e olhar para a verdadeira guerra, a guerra em que todos somos vítimas. — Ele fixou o olhar nela, analisando-a com seus olhos azuis-escuros. — Muitos lembram que você foi a mulher que matou o irmão, a tirana que crucificou inocentes e se uniu a selvagens dothraki e parou três feras; entretanto, você também foi a mulher que matou escravagistas, que fez dragões voltarem depois de séculos, você foi a quebradora de correntes que libertou escravos quando isto não lhe dizia respeito; seja esta persona, não seja uma conquistadora ou tirana — continuou —, seja uma rainha, uma rainha de verdade que daria sua vida para salvar o seu povo.

Daenerys ouviu as palavras daquele homem, o mesmo que apoiara os homens que destruiram sua família, e soube que ele estava certo. Ela era a mãe dos dragões, mas também era Mhysa.

Dany respirou fundo.

— O que devemos fazer? — Ela perguntou, olhando para Jon e Stannis, em busca de respostas. — Por onde começamos?

No entanto, quem lhe respondeu nĂŁo foi nenhum dos dois homens, e sim o jovem Bran:

— Devemos lutar contra o enviado dos outros, o messias do mal e a sua bruxa— Ele disse, como se de alguma fizesse sentido —, antes que a muralha caia.

— Em resumo — explicou Jon, sem paciência e sutileza. —, temos de ir para o sul e chutar a bunda mole de Euron, olho de corvo, antes que ele mate todos nós. — Ele olhou para Daenerys com o seu único olho cinza, analisando-a de forma fria. — Então, vai nos ajudar ou não? Não podemos perder tempo aqui.

 

 


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