Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 26
Golpe de Estado




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Harrold estava ficando farto daquela vida de rei.

Tudo que ele tinha eram papéis de reclamações vindo de comerciantes reclamões, protestando contra os seus novos impostos e pedidos de ajuda de nobres distantes que não sabiam se defender de invasores selvagens… Estava tão farto de tudo aquilo que estava quase entregando a coroa para Roland e deixá-losem comidacomo regente no seu lugar.

Por que alguém gostaria de usar uma coroa? Era muito trabalhoso, triste, e desgastante. A maior parte do tempo ele estava só escutando coisas negativas, sem nunca ter nada positivo. Nem o tesouro estava lhe ajudando: o tridente estava devastado, praticamente não conseguira dinheiro nenhum naquela porcaria fumegante; as terras estavam queimadas, as vilas saqueadas, as estradas perigosas, e tanto a terra como os rios estavam cercados de inimigos perigosos, bloqueando passagem — Pelo menos se livrara dos malditos gatos que haviam infestado o enorme castelo e entravam em qualquer buraco que encontravam, mandou-os matar ou jogá-los para fora do castelo.

Talvez eu devesse fazer o mesmo com aqueles malditos lobos, pensou Harry. Os animais não paravam de uivar e latir, dia e noite sem parar, irritando-o, quase tanto quanto os murmúrios do vento que entravam pelas enormes frestas das paredes e adentravam em seu ouvido.

Nenhum dos cavaleiros inquisidores que Harrold deu ordens expressas para conseguir dinheiro voltara. Até os batedores, que deviam averiguar a segurança da área sumiram, para sua total irritação. Ele mandou outros grupo, e depois mais outros, mas o resultado era sempre o mesmo: nada. Eram todos um bando de incompetentes. O meistre e Sor Brynden disse que ele deveria fazer algo sobre aquilo, mas Harry estava sem paciência para lidar com coisas tão levianas.

Irritado, Harry pegou os documentos que estavam sobre a mesa e os amassou, depois jogou-os para o alto. Eles começaram a cair no chão do quarto.

— Roland! — Ele chamou. — Roland!

Ouviu os passos vindo do corredor e logo seu primo abriu a porta e adentrou nos aposentos. Ele ajeitava os calções, aos tropeços. Deve ter usado alguma latrina.

— Sim, vossa… — Ele parou de falar ao reparar nos papéis amassados no chão. — Mas oquê…?

— Arruma isso — Ordenou, ajeitando a coroa na cabeça. — E leva até o meistre, depois eu termino de ler e assinar estas porcarias.

Seu primo grunhiu e se agachou, pegando os papéis do chão. Harry colocou a coroa de lado, pousando-a na mesa. Suspirou, sentindo-se entediado e estressado. Ser rei era um cargo extremamente desgastante, tomando muito de seu tempo.

Seu primo pegou os pergaminhos amassados e se ergueu. Virou-se para Harry e fez uma vénia.

— Parece exausto, Vossa Graça. — Ele disse, segurando um amontoado de papéis. — Devia descansar um pouco, relaxar. Merece isso, principalmente após tanto tempo de serviço.

Harry franziu o cenho, estranhando a fala tão afável de seu primo. Por acaso ele achava mesmo que ser bajulador iria fazer com Harrold fosse mais leviano com seus afazeres?

— De repente entendeu a ser subserviente, primo? — Indagou Harry. — Anda, faz o que eu mandei.

O primo acenou com a cabeça, mas antes dele ir Harry disse:

— Espera. — Ordenou. — Aqueça um pouco de vinho para mim antes de ir.

O primo anuiu.

— Sim, majestade. — Ele deixou os papéis na mesa, para a irritação de Harry, e pegou uma jarra de vinho dornês, vertendo o conteúdo dentro dela numa taça. Quando ele a pegou e a levou até o braseiro, Harry empurrou a pilha de papéis e os fez cair novamente no chão.

Roland se virou, olhando a pilha de pergaminhos no chão.

— Pegue isto quando terminar de esquentar o meu vinho. — O rei ordenou, divertido.

O lábio de Roland tremeu, e Harry achou que ele lhe rogaria alguma praga, dada a indignação em seus olhos escuros.

Ao invés disso, ele disse:

— Sim, Vossa Graça — E virou-se para ver o vinho ser aquecido.

Harry sorriu. Desde que mostrara a Edmure e a sua sobrinha selvagem que ele não aceitaria ser desafiado, ninguém mais o desafiou. Nem mesmo Sor Brynden. Agora, era ele quem mandava; chega do irmão de sua esposa com seu falso ar de superioridade, chega dos sermões grosseiros de Stannis Baratheon, chega de sua esposa tentando tomar para si o papel de marido no casamento deles. Agora, ele era quem mandava em tudo, ele era quem daria as ordens ali.

Arya estava presa em seu quarto, vigiada constantemente; Edmure estava nos aposentos acima, acorrentado. Ele fora espancado assim que chegara lá, por sua insubordinação contra seu Rei; Gendry e seu escudeiro também estavam lá, fazendo-lhe companhia. Os foras-da-lei de Arya não tiveram o mesmo destino; suas cabeças agora podiam ser vistas na muralha, servindo de comida para as aves de rapina, que se banqueteavam com sua pele e seus olhos. Harry mandaram entregar os seus corpos multilados para os lobos no fosso.

Seu primo deixou a taça com bebida fermentada na mesa de Harry e voltou a se agachar para pegar os papéis. Suas mãos eram agitadas e desajeitadas, pegando os papéis de forma bruta, e às vezes até deixando-os escapar pelos seus dedos tempestuosos. Harry observava-o com divertimento, enquanto tomava um gole de seu vinho aquecido. Ele estranhou um pouco o gosto, sentindo que estava muito doce.

Quando Roland terminou de pegar novamente os papéis, Harry, ele se virou para encará-lo. Seu primo era feio; com rosto longo e queixo salientes, com cabelos castanhos pegasojos, e um nariz franzido. Era patético pensar que ele achava que tinha chances de casar-se com com Sansa quando esta ainda era Alayne  — claro, ela era só uma bastarda, mas mesmo ela teria bom senso de ficar longe de alguém tão feio.

— Tem estado muito ocupado, Vossa Graça. — Disse Roland, com os braços segurando os papéis.

Harry concordou, fazendo um aceno com a cabeça.

— De fato.

— Bem, devo chamar Melisandre para agradá-lo? — indagou seu primo. — Talvez a noite?

Harry estava começando a gostar de como seu primo estava aprendendo a respeitá-lo. Estava mais do que na hora das pessoas baixarem as cabeças para ele. Sorriu.

— Boa ideia. — Aquiesceu, acenando com a cabeça. — Mande-a para os meus aposentos assim que possível. Ah, e eu não quero ouvir nada sobre o “caos no reino” durante… — Franziu o cenho. — Hmm… Ah, durante o dia inteiro! — Exclamou. — Quero estar livre de tais problemas.

Seu primo sorriu.

— Como ordenar, Vossa Graça. — Respondeu Roland, fazendo uma vénia profunda para o seu soberano.

Harry o observou deixar seus aposentos e o guarda que fazia vigia fechar a porta atrás dele, com um sorriso. Seu primo finalmente sabia o seu lugar.

Harry colocou a coroa novamente e se levantou da cadeira. 

— Vou para o meu quarto, descansar. — Avisou para o guarda. — Não quero que ninguém, além de Melisandre, venha ter comigo.

O guarda acenou.

— Sim, vossa Graça.

Chegando em seu quarto, Harry tirou a roupa e deixou-se ficar nu. Seu falo já estava rígido e bem empinado só de pensar em ter a sacerdotisa em sua cama. 

A mulher vermelha se provara uma mulher de difícil conquista, entretanto, nem ela foi páreo para ir contra o charme de Harrold. Claro, nem Sansa, por mais que tivesse tentado, conseguira resistir a ele, por mais que fingisse que não.

Bem podia imaginar o que Stannis via nela agora — não que fosse surpreendente ele preferir compartilhar o leito com qualquer pessoa que não fosse aquela aberração de bigode que ele chamava de esposa. Era provável que até Jon Snow tivesse compartilhado a cama com ela, se alguns boatos que ouvira durante a sua estadia em Winterfell fossem verdadeiros. Ora, aquela sacerdotisa era um pouco mais do que uma puta, só assim para conseguir converter tantos homens para a sua causa. Deve ter dormido com mais da metade do exército de Stannis.

Harry tinha Pia também, mas uma jovem bonita e voluptuosa, com um olhar que parecia o de uma criança, mas ele sabia que ela era uma mulher adulta, cujo corpo dera prazer a todo o tipo de homens. Não era bem o seu tipo: além de usada, tinha os dentes quebrados, e usava as mãos para os cobrir wuando sorria. Aquilo estragava sua beleza mediana.

E ela já aquecia a cama do idiota do Edmure, lembrou-se. Não quero nenhum dos restos daquele idiota.

Harry deitou na cama, após deixar o cinto com a espada numa mesinha ao lado, ouvindo o farfalhar da palha fresca conforme subia no colchão. Ele fechou os olhos, deixando se relaxar, ouvindo o crepitar da imensa lareira. O calor do fogo beijava seu corpo, com as chamas pintando o seu corpo de dourado.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Arya estava trancada em seus aposentos. Não tinha qualquer notícia de sua irmã ou de seus colegas. Fora transferida para uma câmara superior da torre da viúva — onde provavelmente Gendry, Ned e seu tio Edmure estavam, visto que havia uma cela escura logo abaixo dos aposentos da torre —, e foi transferida para a torre do pavor, onde, ela bem lembrava, outrora lorde Tywin deixara os nortenhos e lordes dos rios presos. As paredes de pedra eram espessas demais para que ela pudesse ouvir qualquer coisas. 

Tentara observar por dentro das paredes da torre da viúva, onde seus parceiros e seu tio estavam, mas nenhum gato obtivera sucesso, pois, assim que conseguiam entrar na torre e desciam pela escada de pedra em formato de caracol, o carcereiro com dentes de ouro os matava. Não que fizesse importância, pois aquele bruto do Harrold mandou matar todos eles. Estava por conta própria agora, seus poderes não a ajudariam.

Tentaram pegar sua espada, mas ela conseguiu esconder ela em um buraco de pedra semiderretida.

Tinha que dar um jeito de se libertar e libertar seus amigos e reinstalar Edmure em sua antiga posição de poder, mas como? Nymeria também estava presa, e a matilha dela estava esparsa entre o fosso e o lado de fora de Harrenhal. Se ao menos tivesse como enviar uma carta aos seus irmãos, dizendo-lhes as loucuras que Harrold havia cometido…

Mas estava presa, e ninguém conseguiria resgatá-la. Tinha apenas a sua Agulha consigo, graças a estupidez de seus algozes; entretanto, ela sabia que em nada a lâmina seria útil, visto que ela não podia matar todos que encontrasse no meio do caminho como uma loba armada, em algum momento seria capturada ou morta. Também não podia correr risco de matar ninguém com um sobrenome importante, a pior coisa que poderia lhe acontecer seria irritar uma grande casa.

Já tinha pensado em um plano de fuga, mas era inútil, sem qualquer ajuda do lado exterior de nada adiantaria. Precisava encontrar apoio, mas estava sem meio de se comunicar com alguém. Brynden ainda estava solto, mas ele não ousaria nada que pudesse colocar ela e Edmure em risco. De qualquer forma, Arya também não conseguia se comunicar com ele também. Estava por conta própria.

Apesar disso, ainda poderia tentar sair e matar Harry. Sim, ela ainda poderia fazer aquilo. Talvez morresse logo após isso, mas livraria sua irmã daquele imbecil coroado.

Uma vez, conseguiu usar uma outra face, após matar uma serva, e conseguiu vagar um tempo pelo pátio, pensando no que fazer; entretanto, não tardou de darem por seu sumiço e ela acabou por se entregar, com medo de machucarem seus amantes. Por causa disso, Harrold agora a deixava com alguns dias sem comida, mas ela estava acostumada a sentir fome e fazer um longo jejum forçado. Pouca diferença fazia para ela.

Sim, ela poderia tentar novamente escapar e matar o imbecil que se intitulava rei.

Todavia, ainda existia um problema: a morte de Harry poderia levar a Vale a uma revolta contra o Norte e o Tridente, unindo-se aos reis inimigos — ou, na melhor das hipóteses, eles apenas perderiam todo apoio do enorme exército do Vale e seus preciosos suprimentos.

A situação toda estava péssima.


X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Gendry olhava para Edmure, dependurado na parede por correntes que prendiam-lhe os pulsos, os braços estavam esticados ao máximo; entretanto, os pés ainda tocavam o chão, o que só piorava a situação, pois ele era obrigado a ficar em pé para não ter dor nos pulsos. O homem estava nu e de cabeça baixa. Seu rosto ainda estava inchado pelos socos, assim como seu peitoral.

Edmure tentara resistir bastante nos primeiros dias de prisioneiro, soltando ameaças e chutando seus algozes.

— Não ficaremos aqui para sempre — Ele garantira aos rapazes em uma das primeiras noites (ou dia, mas era sempre de noite ali). — Logo seremos libertados daqui pelo meu tio e por Arya.

 Contudo, logo o tempo mostrou que ele estava errado. Ninguém veio, e os três foram ficando cada vez mais fracos conforme o tempo como prisioneiros se alongava cada vez mais, naquela imensa prisão. Havia ossos por ali, Gendry os vira quando seus olhos se adaptaram à escuridão. Talvez fossem do tempo em que ele e Arya fossem prisioneiros ali, talvez depois, ou até mesmo antes…

Gendry e Edric estavam do mesmo jeito que o homem ruivo, dependurados por argolas de ferro que apertavam seus pulsos quando a força nas pernas se esvaia por completo. Às vezes, eles até conseguiam dormir, apesar da dor nos pulsos, mas algumas vezes os ratos vinham e mordiscavam seus dedos. Mas o pior eram os vermes no cabelo picando seu couro cabeludo. Gendry machucava os pulsos tentando levar as mãos até a cabeça e coça-la, mas não conseguia.

— Quanto tempo Harry pretende nos manter presos aqui? — Perguntou Ned, com sua irritante voz suave, apesar de fraca pela sede. Sua brla pele clara e perfeita exposta ao mundo, ainda bela, apesar da dureza do ambiente. Gendry odiava vê-lo assim; mesmo presos na escuridão, mal comendo e bebendo, sendo obrigados a fazer as necessidades na frente dos outros, o jovem lorde ainda parecia um belo rapaz loiro.

— Não faço ideia — Respondeu, desviando o olhar. Detestava como o garoto o olhava, pois sempre parecendo admirar o corpo definido de Gendry, olhando seu bíceps e para seu membro viril, que pendia entre suas grossas pernas. Uma vez, nas primeiras noites que estavam presos, ao acordar com a mordida de um rato, percebeu que o dornês o olhava com seus infelizes olhos púrpuras e tinha o falo empinado. Enojado, desviou o olhar.

Foi um erro me aproximar dele, pensou o rapaz, achei que ele gostasse apenas de Arya, não de mim. Mas logo percebera que o jovem sentia algo por ambos, e quando se deu conta disso já era tarde demais. Arya estava apegada demais ao Ned para Gendry simplesmente esmagar o rapaz como purê de batata.

— Oh, senhor da Luz — Disse Gendry, na escuridão —, que fiz para merecer isso? Eu não matei bandidos o bastante? Tirai-me desta escuridão e me entregue a luz para que possa serví-lo!

— Fale baixo, sor — pediu Edric —, os guardas podem se zangar com os gritos e a blas... Han... E a sua crença, sor.

— Humpf! — Gendry não os temia. Se fosse para ele morrer, que seja. Estava com apenas vinte e um dias de seu nome, mas sentia que já estava com mais de cem pelos últimos tempos que teve de vida haviam sido desde que deixara Porto Real com Yoren. — Eles que se fodam. Não ligo de me matarem — Olhou bem nos olhos de Ned. — Também não ligo de matarem você, que fique bem claro.

— Eu sei, mas podem castigar Arya — Ele o lembrou.

Arya…

Onde ela estava? Estava segura? A última vez que ele a vira nem pudera se despedir… Sentia saudades. Só pensar em estar longe dela, sem conseguir protegê-la, seu coração apertava. Lembrava-se de que eles tinham feito amor na frente dos deuses dela pouco antes de serem separados. Ah… Foi um momento tão bom ter ela só com ele novamente. Só de lembrar-se da sensação, sentiu uma forja acender em seu estômago.

Abanou a cabeça, tentando tirar a visão de seus seios, o cheiro de fumaça e suor que ela emanava, e seu sorriso selvagem de sua cabeça, fechando os olhos. Porém, não conseguia esquecer dela e de seu corpo. Queria estar com Arya novamente, sentir o calor de seu corpo e seu cheiro de fumaça. Queria dar prazer a ela novamente. Fazê-la gener e gozar. Gendry sentiu seu falo crescer e se recusou a olhar para Edric, que ele sabia que devia estar o observando, e virou a cara para o outro lado, sentindo-se tomar pela vergonha e calor, aumentando o suor corporal. Sua respiração pareceu ficar mais complicada.

Como o ambiente não tinha janela alguma, o ar era viciado, como se estivesse parado, fazendo com fosse dificíl não se sentir desesperado, tentando botar ar nos pulmões. Às vezes, Gendry ou algum dos outros companheiros de sela acordavam, assustadoz sentindo que não estavam respirando. Respirar ali era quase como sufocar, dava no mesmo.

A dureza do ar parecia afetar princípalmente o pobre Edric, que espirrava constabtemente e sentia seu nariz coçar, junto de dores de cabeça — as quais ele insistia em falar que tinha. Volta e meia ele escarrava no chão. Seu rosto estava cheio de catarro, seus olhos estavam irritados e pareciam chorar, e seu nariz estava vermelho.

Apesar do frio do inverno e de estarem em uma alta torre, o ar parado fazia com os três prisioneiros suassem e sentissem em uma fornalha — bem, talvez não Gendry, pois ele estava acostumado a forjas de ferreiro, mas mesmo ele estava detestando a situação. O ambiente escuro e úmido tinha um cheiro acre, causado pelos fluídos corporais que eram expelidos pelos corpos dos companheiros de sela. Entretanto, às vezes um vento frio surgia, fazendo os tremer e tentarem se encolher para fugir do frio — embora às vezes fosse um bom sinal, porque o vento frio podia ser por causa do carceiro entretando e trazendo a comida.

 

De horas em horas (ou dias, como ele saberia?) alguns homens vinham e traziam comida para eles. Era nojenta, mas, dado o atual estado em que estavam, no escuro fétido e quase sem comer e dormir, a gororoba era mais doce do que mel. Ele chegava a lamber os lábios para poder experimentar o máximo que podia.

Tão rápido quanto vinha, o carcereiro com dentes de ouro ia embora, levando consigo a luz e a comida. Apesar de ser a comida que enchia a sua barriga, Gendry sempre se sentia mais seguro ao ver o lume de luz adentrando na sua escuridão, pois sentia que era R'llhor, atendendo as suas rezas. Detestava estar coberto da escuridão. A escuridão era maligna, ele sabia, apenas a luz era segurança. Apenas a luz era o que poderia protegê-lo de todo o mal.

Todas vezes que acordava e ja dormir, Gendry rezava para o Deus da luz, implorando que lhe desse poder para destruir seus inimigos.

Gostaria que o carcereiro trouxesse também algo para limpar os dejetos de Gendry e dos outros dois prisioneiros. O fedor no local estava tão sufocante que às vezes seus olhos começavam a lacrimejar. Seus pés, coxas e nádegas estavam um pouco grudentos pela merda líquida que escorria por eles e acabava se endurecendo, causadas pela papada nojenta que eles lhe davam. Apesar de achar aquela situação nojenta e degradante, os insetos pareciam gostar, entretanto, pois volta e meia eles subiam pelas suas pernas ou desciam de sua cabeça para comer os dejetos. Mais de uma vez os três prisioneiros pareciam dançar em agonia, enquanto os bichos pareciam comer eles vivos. Gendry tinha certeza que eles deviam ter bichos mortos na bunda.

Assim que saísse dali, ele apertaria o pescoço de Harry até ver a sua face ficar preta. Ou, então, esmagaria sua cabeça, não com um martelo, mas com os próprios punhos.

Escute minha reza, oh, todo poderoso R'llhor, deus da luz, dê-me forçad para destruir meus inimigos, em glória ao teu nome dourado.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Melisandre adentrou dentro do bosque sagrado do castelo. Era imenso, e teria de andar bastante se quisesse chegar até a árvore coração. Andou sem luz, não querendo ser vista por quem não devia, sua roupa vermelha brilhante era escurecida pelas sombras da noite sem lua, ela mesma era como uma sombra.

Andou pela relva, passando pelos galhos, arbustos e samambaias, até finalmente chegar na imensa e assustadora árvore coração que havia ali. A sacerdotisa encarou longamente a bizarra face esculpida na madeira cor de osso. Seria mesmo algo além de apenas mais um truque de adoração do Grande Outro tentando enganar mais pessoas?

— Milady. — ouviu alguém chamá-la na escuridão. Melisandre riu.

— Não sou nenhuma lady, milorde. — Respondeu.

Uma faísca foi feita e uma luz maior surgiu, advinda da chama de uma tocha. A luz foi passada de uma para a outra, até várias tochas estarem acessas e iluminando o lugar. A sacerdotisa preferia assim.

O homem com quem ela estava falando agora estava imbuído de luz dourada, revelando seu rosto queimado pelo sol e seus cabelos grisalhos. Um pingente de azeviche prendia seu manto negro como a noite, tinha o formato de uma truta.

— Acredito que sabe o motivo de eu ter lhe chamado. — Disse Brynden. Não era uma pergunta.

A mulher escarlate assentiu.

— A empregada Pia, a amante de seu sobrinho me disse para vir aqui — respondeu. — Pretende libertar vossos sobrinhos. — Pia não havia lhe contado aquilo, mas era óbvio. — E os colegas de Arya. — sorriu. — Ah, e retirar o Rei do poder, imagino.

O homem anuiu.

— Aquele imbecil simplesmente estragou todas as nossas estratégias e está deixando o pouco que restava do tridente ser destruído. — Disse, com a voz calma mas irritada. — Minha sobrinha merece mais do que aquele merdinha abobalhado que acha que é bom em tudo que se propõe a fazer. — Cuspiu. — Tudo que ele toca vira merda!

— Você irá matá-lo? — Ela indagou, curiosa para saber onde ele estava disposto a ir, afinal, matar um rei parecia ser um crime grave em Westeros.

Sor Brynden lhe dirigiu um olhar incerto.

— Peço aos deuses que não chegue a tanto. — Respondeu. — Harry será deposto, não o vemos como um bom regente para o tridente.

Os olhos vermelhos de Melisandre varreu o bosque, observando os rostos que ali estavam. Havia vários lordes do tridente ali, se o que ela se lembrava das heráldicas estava certo, mas sabia que alguns daqueles homens também eram do Vale.

— E todos os homens aqui aceitam tal artifício? — Ela os questionou. — Vão contra seu soberano do Vale?

Um homem deu um passo à frente. Tinha barba branca como neve fofa e olhos castanhos duros. As luzes das chamas faziam as runas em sua armadura parecerem dançarem. Este, ela sabia, era do Vale de Arryn, não do tridente, nem do Norte.

— Coroar Harry foi um erro. — Falou o homem. — Harrold é herdeiro do ninho por ser o último parente de sangue de Lorde Jon, mas ele não tem capacidade nem para cuidar de uma simples taverna.

Melisandre aquiesceu. Harrold se mostrara um rei arrogante, luxurioso, sem astúcia e pouco atento a qualquer coisa realmente importante. 

— E então? — Ela indagou, olhando para Sor Brynden. — Quer que eu faça?

— Sei que ele tem pedido para você aquecer a cama dele — Revelou Brynden, sem pudor. — Quando for a hora, dê-nos o sinal. Nós iremos libertar os prisioneiros enquanto ele se distrai, e o prenderemos desarmado quando terminarmos. 

Melisandre riu. Ela já imaginava que aquele seria o plano deles. Afinal, um homem como Harry não demoraria para abaixar a guarda por qualquer coisa que usasse saias e tivesse um buraco para ele enfiar o seu pau. Homens como ele se achavam os donos de tudo, apenas por terem um mero pau, mas a verdade é que isso apenas os tornava idiotas, egocêntricos e limitados, acreditando que estavam acima de todos, quando apenas não se esforçam para fazer nada realmente útil.

— E por que eu deveria fazer o que me pede? — A sacerdotisa perguntou, divertida. — Quem me garante que não vão me matar na cama dele assim que nos pegarem?

Antes que Sor Brynden falasse algo, um jovem foi até ela, apontando o dedo para ela. Ela o vira no mesmo dia que Gendry viera falar com ela. Era o mesmo rapaz que tentara matar o bastardo e acabara sendo humilhado pela princesa Arya.

Parecia que a humilhação que havia sofrido naquele dia não tinha sido o bastante para ele.

— Não tente nos desafiar, mulher despudorada! — Avisou-o, cuspindo enquanto falava. O corte que Arya havia feito estava para terminar de cicatrizar. — Sabemos que tipo de puta você é, e que serviços têm feitos para o Rei Stannis e o Rei Harrold. — Ele a olhou com nojo. — Até onde sabemos, até o rei do Norte você já satisfez com seus ensinamentos nojentos e cheios lascívia.

Melisandre não temeu as palavras do rapaz. As pessoas sempre estiveram dispostas a apontar o dedo para ela, falando de seus casos — reais ou não —, mas nenhum se importava com a promiscuidade de homens como Harry. Se estavam tão certos de que homens como Harrold poderiam ter as mulheres que quisesse, podendo matá-las caso elas os recusassem, por que as criticavam tanto por isso?

— Quieto, Brynden! — Ordenou Peixe Negro, empurrando-o para trás, afastando-o. Ele voltou-se para Melisandre. — Lamento por isso, Milady. — Continuou: — Eu lhe dou minha palavra de que não sofrerá nenhum mal pela vossa ajuda.

Melisandre confiava no homem. Assentiu. Além do mais, desgostava do Rei Harrold; ela tentara avisá-lo sobre os perigos que estavam por vir, mas ele a ignorou. Até ficou irritado ao ver que ela não correspondia aos seus avanços ridículos, de modo que ela acreditou que ele realmente iria decapitá-la — Fora que ele era péssimo na cama. Estava mais do que satisfeita por se livrar dele. 

— E o que terei de fazer para lhe dar o sinal? — Indagou.

— Apenas distraia Harry — Ele disse —, nós cuidaremos do resto.

— Como?

— Simples — Um homem disse, afastando-se dos homens e indo até Melisandre e Peixe Negro —, ele se distrai com tudo que usa peitos; enquanto isso, nós libertaremos os prisioneiros e prenderemos os defensores de Harrold, antes de prendê-lo junto.

Melisandre reconheceu quem era, mas o olhou em dúvida.

— E por que você nos ajudaria? — Ela indagou.

Sor Roland riu. Uma risada amarga, mais severa do que a do Rei Stannis.

— Qualquer coisa é melhor do que ser seu copeiro. — Respondeu. — Acredite em mim.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Melisandre adentrou nos aposentos do Rei Harrold. Andou pela escuridão, indo até perto de sua cama. O fogo da lareira estava apagado. Ela não gostava disso, mas pensou que seria melhor assim.

Harry roncava em sua cama, esparramado, sem vestes para cobrir o seu corpo nu. Seu falo estava molenga e caído entre as suas pernas. Um fio de baba descia pelo lado direito de seu queixo, caindo até o travesseiro.

Quando se aproximou dele, suspirando, afastou as cortinas que cobriam a parte de dentro das colunas de madeira, e viu o rei.

— Meu Rei? — Melisandre o chamou, fazendo-o parar abruptamente de roncar e abrir os intensos olhos azuis. Era bonito, mas apenas isso: bonito.

Harry pareceu um pouco confuso, demorando para reconhecê-la. Quando percebeu quem estava à sua frente, ele sorriu. Porém, ao observar seu corpo, fez uma expressão irritada.

— Por qual motivo está vestida? — Perguntou, irritado ao não ver seus belos e pálidos seios expostos.

Forçando um sorriso, Melisandre desamarrou as fitas de seu vestido, com quase nenhuma dificuldade. Suas vestes escarlates logo deslizaram pelo seu corpo pálido e caíram no chão.

Harry deu um sorriso lascivo e a puxou para si, fazendo a palha do farfalhar enquanto os dois se remexiam na cama. Melisandre se deu deixou ser levada.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Deslizou na mente de sua loba . Seu estômago estava vazio, pois não andavam lhe dando comida. Um kobo da matilha havia morrido e os outros lobos o estavam devoravando. Olhou para cima, para além das muralhas do fosso, e logo viu tochas serem erguidas e vagarem sem rumo pelos guardas, como sempre; todavia, com a visão aguçada e nítida que só um lobo tem, percebeu pessoas andando nas sombras e golpearem os soldados. Algums foram empurrados para dentro do fosseo, e Arya acordou, sentindo o gosto de sangue na boca.

Algo estava acontecendo aquela noite, ela sabia, embora não tivesse garantias do que seria. Levantou-se da cama e empurrou uma tapeçaria que estava presa na parede, mofando, e enfiou a pequena mão no buraco disforme, e sentiu a empunhadeira de sua Agulha.

Arya, não aguentando a ansiedade pela batalha que poderia acontecer, segurou Agulha e começou a se mexer, como quando era mais nova. Movia-se de forma leve, como uma dançarina d’água. O cabo da espada girava entre os dedos, sem nunca escapar deles. Suas pernas mal tocavam o chão.

De repente, ouviu um barulho vindo do lado de fora de seus aposentos. Ela já imaginava o que aquilo poderia ser, pois estava tentando ficar atenta com suas observações quando deslizava para dentro de um gato, entretanto, se manteve alerta. Poderia ser qualquer coisa.

Ao ouvir o barulho de espadas se batendo e uma gritaria, pensou em entrar para dentro de Nymeria, e ver se poderia ter uma noção melhor do que estava a acontecer, mas, antes que pudesse fazê-lo, as portas de seu aposento se abriram e um guarda apareceu nela. Era um dos homens que servia como guarda real de Harry.

—  Agora fique quieta — Ele ordenou, apontando para ela com a sua espada, havia um brilho fosco e cinza advindo dela — e venha comigo.

Arya apontou para ele com a agulha, mas sabia que a espada era pequena e fina demais para ir contra a espada muito maior do homem.

— Não tente nada idiota! — Avisou o homem, quando viu que Arya não abaixou a guarda, ele se bufou, irritado, e começou a andar até ela.

Arya estava preparada. O terreno estava escuro, perfeito para ela; o homem não teria os sentidos tão aguçados quanto o dela. Entretanto, tinha de ser rápida, pois o homem facilmente poderia matá-la ou desferir-lhe um golpe que a deixasse incapacitada.

Antes que pudesse fazer algo, entretanto, uma outra espada foi de encontro ao pescoço dele, e acabou por separar a cabeça do corpo. A mão soltou a empunhadura da espada, deixando-a cair no chão, e, após um espasmo, o corpo cambaleou e caiu no chão, sem vida, jorrando sangue na pedra e no carpete velho e puído que ali havia. A cabeça rolou pelo chão, parando pouco antes de atingir os pés de Arya, com os olhos arregalados e a língua saltando para fora da boca entreaberta.

— Princesa — O homem que matou o guarda a saudou, limpando a lâmina da espada com a própria capa. Usava uma sobrecasaca branca, com três corvos que carregavam, cada um, um coração vermelho.  — É uma honra. Chamo-me Sor Lyonel, se apresentou. — Se apresentou, fazendo-lhe uma vénia profunda.  — Talvez tenha ouvido sobre meu irmão, o falecido Sor Lyn, ele lutou valentemente na Rebelião de Robert, matando Sor Lewyn Martell.

Arya não fazia ideia de quem era Sor Lyn. Sansa talvez soubesse, mas Arya não tinha certeza nem se aquele símbolo na roupa do homem que a salvou era do Vale ou do Tridente.

— A honra é minha, Sor. — Ela disse, achando que seria o que a irmã diria.

O homem anuiu. O tio de Arya, Sor Brynden, logo entrou correndo no quarto, sua espada estava rubra e sua armadura tinha respingos de sangue.

— Oh, Graças aos deuses. — Ele exclamou, ao ver Arya segura e que o cadáver morto não era dela. Seus olhos azuis encontraram os olhos cinzas da sobrinha. — Vamos. Temos de terminar isto.

Arya permaneceu onde estava.

— E Edmure? — Ela indagou. — E Gendry e Ned?

— Relaxe, eles já vão ser soltos. — Ele prometeu. — Agora, venha, precisamos terminar com isso de uma vez.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

— Ah, é tão bom ter você. — Harry disse, enquanto empurrava-se para dentro de Melisandre. — É tão quente, e linda… E quente... — Ele riu da própria piada.

Melisandre teve de escutar ele falando estas e outras bobagens, enquanto se perguntava se os homens de Sor Brynden conseguiam o que queriam. Eles bem podiam derrotar Harry agora, mas imaginava que pouco importava para eles ela ter de passar por aquela pantomima humilhante.

Por sorte, Harry era frenético e precoce, logo mais ela sentiu ele espichar sua semente nela, soltar um grunhido, e então rolar para o lado e dormir, sem cerimônia. Pensou em cortar a garganta dele ali mesmo, afinal, livraria qualquer chance de Harrold voltar ao poder, mas sabia que aqueles homens brutos poderiam estuprar e matar-lhe por aquilo. Claro, todos queriam livrar-se do tirano, mas nenhum queria sujar as suas mãos.

Melisandre não temia a morte, pois sabia que aquele não era o dia em que morreria. Não estava mais tão longe do seu destino, entretanto, não o temia, pois sabia que, quando o dia chegasse, ela teria finalmente cumprido o seu dever e destruído a escuridão que pretendia destruir o mundo.

Os soldados de Sor Brynden tinham de se apressar. Melisandre vira que era importante em Harrenhal, acreditava que era para as batalhas que viriam contra os usurpadores, mas agora, agora ela sabia o real motivo: havia uma escuridão vindo para aquele castelo. E eles precisavam dele para lutar na grande noite.

Melisandre sabia que, de uma forma ou de outra, os inimigos se uniriam, prontos para lutar contra a Longa Noite que marchava para destruir a vida. Era por isso que os verdadeiros salvadores lutavam, para salvar a humanidade da destruição.


X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Uma luz surgiu no meio da escuridão, junto de uma brisa fresca que limpava o ar e tocou o seu corpo, fazendo-o se sentir alíviado. Era como respirar de novo. O rosto de Gendry e de seus companheiros se retraíram, como se fossem animais com medo. A luz machucava seus olhos. Já é hora de comer?, se perguntou, estranhando. Duvidava que tivesse passado tantas horas assim desde que enfiaram aquela gororoba nojenta pelas sua goela.

Seus olhos azuis eram feridos pela luz, tornando difícil para ele mantê-los abertos. É um milagre do Senhor da luz, ouvindo minhas preces?, indagou-se. Tinha rezado muito ao seu deus, implorando-lhe para retirá-lo da escuridão.

Quando conseguiu visualizar uma das figuras percebeu que reconhecia uma daquelas pessoas, e aquilo não era nada bom.

— Merda… — Disse baixinho, sabendo que logo poderia morrer.

Edmure piscava incessantemente os olhos, tentando enxergar.

— Quem…? — Ele começou a perguntar, mas antes que pudesse terminar a frase, um punho, revestido em cota de malha, encontrou a face de Gendry, atingindo-o com força.

O rapaz sentiu um gosto metálico na boca e o cuspiu na face do agressor, manchando-o com algumas gotas de sangue. Ele recebeu um soco no estômago por isso, perdendo o fôlego. Depois, o punho subiu e atingiu-lhe no queixo, fazendo ele ouvir um estalo e a dor aumentou.

— Deixem-no em paz! — Exclamou Edric, tentando, sem sucesso, chutar o algoz de seu chefe, fazendo os elos escuros da corrente que o prendiam chacoalhar.

— Calado Dornês! — Ordenou o agressor de Gendry.

— Se vão nos matar — disse Edric, ignorando a ordem do algoz de seu cavaleiro —, então faça isso logo, não tem porquê nos atormentar.

Edmure apertou os olhos, depois os arregalou, quando pareceu reconhecer o algoz de Gendry.

— Brynden!? — Ele exclamou, surpreso. — Que está fazendo?

O rapaz que Arya arranhara o rosto agarrou a garganta de Gendry, fazendo-o erguê-la a força e olhar bem nos olhos escuros. Retirou um punhal e colocou a lâmina na bochecha esquerda de Gendry. O cavaleiro sentiu um aperto e logo a ardência veio, conforme o punhal mordia sua carne com mais força. Logo sentiu um fio de sangue morno descer pela sua bochecha, conforme a lâmina descia pela bochecha. Não gritou, rangendo os dentes e pressionando o maxilar com toda a força que tinha. Deve ter mordido a lingua, pois sentiu uma dor na boa, seguida por um sabor metálico. Pareceu demorar séculos até que o rapaz que respondia pelo nome de Brynden retirou a lâmina escura de seu punhal do rosto de Gendry. A marca deixada era longa, indo da maçã do rosto até quase chegar à linha do queixo. Sangue escorria em grande quantidade, empapando a barba preta de Gendry, indo até o queixo.

Edmure falou em sua defesa:

— Chega, Brynden — ordenou ele, fazendo os elos que prendiam as argolas em seus pulsos dançarem —, deixe o rapaz! Isto não lhe é digno!

Um dos homens atrás de Brynden pousou uma mão no ombro do algoz de Gendry.

— Deixe-o, irmão — Disse o rapaz. — Não viemos aqui para isso.

Brynden não o escutou, afastando a mão do irmão com um movimento brusco do ombro e aumentando a pressão no aperto que fazia na garganta de Gendry, tornando difícil para ele respirar. Tossiu e chutou o ar com uma das pernas, e ao fazer aquilo, lembrou-se dos homens que ajudara a enforcar em nome da justiça. Lembrava-se de Jaime Lannister, o regicida, se contorcendo, enquanto a corda subia.

— Pare! — Implorou Ned, desesperado. — Está machucando-o! Por favor!

— Eu podia matá-lo agora, bastardo. — Ameaçou o filho de Lorde Blackwood.

Mesmo diante da morte, Gendry não temeu. Ele olhou para o seu algoz e deu um sorriso vermelho; sem se abalar com suas ameaças. Que ele o matasse, já não se importava; sentiu que vivera o bastante. Se seu Deus quisesse que ele morresse assim, aceitaria de bom grado. Sangue escorria de seu nariz. Podia sentir os insetos dançarem em seu couro cabeludo, picando-o em diversas regiões, mas ele quase não lhes deu importância.

— Faça isso — desafiou-o —, e a princesa Arya vai cortar a sua garganta em retaliação, acredite.

Ned ecoou suas ameaças:

— Ele diz a verdade. — Confirmou. — Arya vai matá-lo se machucar o companheiro dela.

Brynden fez um som de desdém com a boca, mostrando que não se importava com as ameaças.

— Acham mesmo que temo uma mulher? — indagou, com um ar divertido. — Ainda mais uma miúda magricela como aquela rata d'água?

— Eu temeria esta, se fosse você — Avisou Gendry, ainda rindo. Se perguntou se Arya ficaria brava com ele caso o próprio acabasse morrendo só por irritar o Blackwood daquela forma.

— Se você matá-lo — avisou Edric —, juro que matar-lhe-ei por isso!

— E deve temer a mim também. — Avisou Lorde Edmure, erguendo a cabeça e encarando o homem que ameaça matar Gendry. Seu olho esquerdo estava inchado e um tanto roxo. — Mate-o, e eu juro que você irá responder por isso.

O rapaz que chamou Brynden de irmão pareceu se irritar.

— Anda, Brynden, guarde esta merda de punhal! — Mandou. — Peixe Negro mandou que fossêmos rápidos!

Peixe Negro… Então era ele quem estava por trás daquilo. Só podia ser uma golpe contra Harry.

Brynden ignorou o irmão e olhou para o Lorde Edmure, surpreso.

— Mas, Milorde — Ele se defendeu —, ele estragastes tua sobrinha! Fizera-a puta dele e machou para sempre a honra da princesa Stark!

— Desprezo-o tanto quanto você — Respondeu Edmure, com a voz embargada, fraca como um suspiro. — Mas Gendry faz minha sobrinha feliz, e eu não suportar-me-ia vê-la de coração partido!

O rapaz demorou um tempo, mas, a óbvio contragosto, logo obedeceu seu soberano e largou a garganta de Gendry, que voltou a engolir o ar novamente e tossiu violentamente, com a garganta dolorida e o ar psado o sendo difícil de suportar.

O homem atrás de Brynden o empurrou para o lado e passou o lampião para ele, pegou um molho de chaves e começou a mexê-lo, procurando pela chave que abrisse as argolas. Rogou uma praga, mostrando que estava com dificuldade de achá-la.

— Vamos logo com isso! — Apressurou Edmure. — Não aguento mais ficar neste local fétido, e quero acabar logo com a farra daquele imbecil do Harrold Hardyng.

— Arryn, Milorde. — Corrigiu Ned.

— Hardyng. — Persistiu Edmure e depois cuspiu. — Aquele merda filho de uma cortesã mal paga, advindo dos sete infernos, não merece usar do sobrenome da Casa Arryn.

O homem com a chave tentou uma chave na argola de Edmure, quando a ação não surtiu efeito, ele rogou uma praga e tentou outra, mas aquela tão pouco ajudou quanto a outra. O homem e Edmure soltaram uma praga. Na terceira vez, a argola soltou e o braço de Edmure caiu, batendo contra seu corpo e a parede, mas o próprio nem pareceu notar.

— Finalmente… — Disse Edmure, esgotado, com a voz ainda fragilizada, parecendo prestes a chorar. — Graças aos Deuses… Livre…

O seu salvador fez o mesmo com a outra argola, libertando o outro pulso de Edmure, que caiu, sem cerimônia, no chão, fraco e cansado, fazendo um barulho de estatelar quando seu corpo se chocou com a pedra semi-derretida, batendo um lado da face contra o chão de pedra fundida e dura. Os dias de prisão deixaram-no esgotado. Estava magro, ferido, com fome, com frio e fedido. Cuspiu um escarro de sangue, com uma lasca de um dente que se partou com a queda.

Brynden e seus dois irmãos foram rápidos em jogar um manto gorduroso sobre seu fraco corpo e ajudá-lo a levantar, a fim de protegê-lo do frio e esconder sua nudez e sujeira corporal.

— Ficará tudo bem, milorde — Disse um dos irmãos de Brynden.

— E nós? — Indagou Ned, enquanto Gendry sentia sangue escorrer pela face.

Brynden parecia mais que disposto a largá-los ali, talvez até a matá-los, mas Edmure, que tentava se erguer com dificuldade, disse:

— Libertem-os — Ordenou, conseguindo forçar a voz. — Agora.

O chão duro pareceu subir quando Gendry foi libertado, chocando-se contra os seus músculos atrofiados. Sua cara doeu quando atingiu o solo, fazendo o gemer de dor e cuspir um dente lascado. Pelo menos seus pulsos deixaram de arder e voltaram a respirar. Podia sentir o sangue correndo pelas suas veias.

— Graças a R'llhor... — gemeu.

Edric também caiu quando o soltaram de suas correntes, mas não se estatelou, para o desgosto de Gendry, caindo de joelhos no chão, esticando os braços e colocando as mãos na frente para não bater a cabeça.

Gendry sentiu um cobertor de lã cobrir-lhe sua nudez. Era gorduroso, cheio de furos e com cheiro acre. Mesmo assim, cobriu-se com ele, sentindo a doçura de seu calor, como se fosse o abraço de uma mãe que protegia seu filho. Sua própria mãe nunca o abraçou assim, e, caso o tivesse, ele já não lembrava-se muito.

Tentou erguer-se, mas suas pernas, outrora de ferro, agora pareciam ser água, tremendo, e ele logo caiu de joelhos. Podia sentir o cheiro de merda, estava mais forte ali, pois seu pé acabou se esbarrando com a pilha de dejetos que Gendry havia feito, fazendo as moscas se agitarem e o cheiro piorar.

Edric tentou ir ao seu auxílio, apesar de fraco, e o ajudou a se erguer, junto de um dos irmãos de Blackwood.

— Vamos, Sor — motivou Edric, com seus cabelos loiros bagunçados, enquanto o ajudava a se erguer —, Arya o espera, caso ela esteja bem. Tal qual o Rei Harry.

Ao ouvir o nome do homem que o prendera ali, Gendry escarrou o sangue da boca e limpou a boca e o queixo com as costas da mão.

— Sim — ele concordou, sentindo o gosto de biles dse juntar ao gosto matálico de sangue na boca —, não posso fazer nenhum dos dois esperaram. Principalmente a vossa graça.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Melisandre ouviu um assobio e levantou-se com cuidado da cama, tentando não acordar o Rei que dormia e empurrou as cortinas da cama. Pegou as vestes escarlates e as passou por cima da cabeça.

Harry ouviu a porta abrir e acordou, interrompendo o sono. Passou a mão pelo queixo, sentindo a baba morna que estava grudada nele. Seus dedos ficaram grudentos e ele os limpou nos lençóis do colchão. O quarto cheirava a sexo, e ele sentia seu membro entre as pernas grudentos pela sua semente.

Sentindo os olhos pesarem, Harry teve dificuldade de mantê-los abertos. Coçou-os com os punhos, tentando afastar as areias dos olhos. Apesar da ardência, ele piscou um pouco e tentou mantê-los abertos, com dificuldade.

— Melisandre? — Ele a chamou. Onde aquela vagabunda estava? Quem pensava que era para sair sua autorização?

Ele ouviu passos e logo a palha da cama se contorceu sob o peso de alguém que subia e se mexia nela. Harrold sorriu.

— Melisandre? — Indagou, querendo ouvir a voz com sotaque dela. Adorava mulheres exóticas. —Está aí?

— Temo que não, Vossa Graça — uma mulher respondeu, mas o som de sua voz não advinha da figura ao lado de Harry na cama e nem era a voz de Melisandre. Estava vindo de fora dela.

Aquilo o fez franzir o cenho, confuso. Pegou o lençol de linho e se cobriu, escondendo as intimidades e um pouco do peito, olhando para as cortinas fechadas da cama.

— Que disparate é este!? — Ele exigiu saber, tentando não se demonstrar assustador, mas fracassando. — Que é isto?

Ele ouviu o riso e logo reconheceu quem era. Conseguiu enxergar um pouco de seu rosto longo e a trança escura.

— Arya? Como ousa? — Ele indagou, chocado, perguntando-se como ela escapou de seu quarto. — Em nome dos sete infernos, o que faz aqui?

Harry sentiu uma ponta fria atingir o seu pescoço e logo soube que ela tinha uma lâmina em sua garganta. Tentou não se abalar, mesmo que soubesse que ela realmente era capaz de matá-lo. Sua cabeça latejava, sentia-se tonto… bebeu tanto assim?

— Não tente nenhuma gracinha, cunhada, existem guardas nesta torre. — Ele a avisou, sentindo o metal se forçar contra a sua pele, bem onde uma veia pulsava. — Basta um grito e eles chegarão aqui, espancar-lhe-ão, e vou mandar-lhes lhe largar junto de seu prostituto bastardo.

— Temo que isso não irá acontecer, vossa graça — A voz de Sor Brynden disse na escuridão. — Tem um sono bem pesado, temo.

Harry ouviu a voz do homem e sentiu seu sangue ficar frio, parecendo ter gelo nas veias. Seu coração disparou, fazendo seu peito inteiro tremer.

Então, do meio da escuridão, um lume surgiu da escuridão, brilhando, e ele conseguiu reconhecer a alta, sinuosa e vermelha silhueta de Melisandre através da cortina da cama, como uma deusa obscura e vermelha. Alta e terrível e vermelha. A luz começou a se mover e a se multiplicar, passando de tocha a tocha, mostrando as silhuetas brutas de homens que ali estavam. Conforme o brilho aumentava, Harry pôde ver o rosto longo de Arya e o brilho cinza de sua lâmina, ainda em seu pescoço. Logo, Harry se viu cercado por silhuetas enormes, distorcidas e ameaçadoras que o cercavam, observando-o, como monstros de uma mente infantil observam uma criança dormir, prontos para puxá-la para escuridão e comê-la. O quarto era tão imenso que ele sabia que mais de cinquenta homens poderiam estar ali e ainda sobraria espaço para mais. Muito mais.

Melisandre empurrou a cortina, mostrando o rosto de todos os traidores, que vestiam cota de malha e couro fervido: Sor Brynden, em sua armadura negra e escamosa como a de um peixe; Lorde Yohn, em sua armadura de bronze com runas, que brilhava como ouro na luz das chamas; lorde Blackwood envergando sua armadura verde, lorde Bracken, Corbray, Mallister, Templeton, Redfort… Todos eles estavam lá. Todos eles eram traidores.

Harrold os encarou, aturdido. Como eles fizeram aquilo? Como o fizeram de tolo

Entretanto, o que realmente surpreendeu Harry, foi ver o seu primo entre aqueles homens traiçoeiros.

— Rolland? — Ele perguntou, traído e incrédulo. — Como pôde fazer isso comigo, primo?

Roland lhe deu um olhar de desprezo.

— Vossa Graça és um péssimo monarca, lamento vos dizer isso… — Sorriu e deu de ombros. — Não, na verdade, não o lamento.

Harry tentou falar algo, mas sentiu a ponta da pequena espada de Arya fazer um pequeno corte em sua garganta. Sentiu uma leve ardência e percebeu que devia estar escorrendo sangue morno, pois sentiu algo morno escorrer lentamente pelo seu pescoço. Ela o cortou.

— Pare de falar — Ordenou Arya. — Nós já estamos cansados de sua voz irritante e já ouvimos demais de você.

Sor Brynden fez um aceno e dois soldados usando uma librés azul e vermelha da casa Tully, com uma truta prateada cozida no ombro, aproximaram-se de Harry, carregando correntes douradas. Ele olhou para o canto, seus olhos caíram no cinto da mesinha ao lado da mesa, onde estava a espada valiriana de Gendry. Se conseguisse pegá-la…

Apesar da ameaça da lâmina de sua cunhada em sua garganta, Harry tomou coragem e empurrou o braço dela para longe, de forma abrupta, afastando a lâmina e agarrando o pulso dela, torcendo-o. Empurrou-a com o ombro, quase a fazendo cair da cama. Os rapazes com a corrente se apressaram para cima dele, praticamente saltando na cama, mas Harry, apesar de não conseguir fazer Arya soltar a lâmina, a fez erguer o braço, fazendo com que um dos rapazes fosse de encontro a pequena espada, perfurando suas vestes, depois sua pele, e, por mim, os músculos de seu estômago. Lordes e cavaleiros deram um suspiro horrorizado ao ver a cena, e o homem deu um pequeno grito, assustado, e soltou os elos dourados, levando a mão até a barriga, bem na área atingida, enquanto a outra agarrou a espada, como se para retirá-la, rasgando a palma da mão e os dedos. O sangue escorria pela lâmina cinza e pelos dedos do rapaz.

Todos pareciam ter ficado hipnotizados com a cena.

Aquilo, entretanto, não era o plano de Harrold, mas viria a calhar. Arya se desconcentrou e o outro homem com as correntes também, olhando para o colega ferido e se assustando ao vê-lo tossir sangue. No mesmo instante, Harry o chutou no rosto, atingindo-lhe o queixo, depois empurrou o pé para frente, atingindo-lhe em cheio na cara. O rapaz soltou os elos da corrente, caindo para trás.

Arya tentou se mover, mas Harry deu-lhe uma cabeçada e a empurrou novamente. Desta vez, alguns homens que estavam em pé se moveram, indo até a cama de Harry, para tentar impedi-lo, mas ele conseguiu fazer Arya cair da cama e levou as pernas para fora do colchão, erguendo o braço para a empunhadura da espada valiriana, estava a centímetros dele…

Mas, antes que conseguisse botar os dedos nela, ele tropeçou no lençol e se desequilibrou, estatelando-se no chão frio.

Arya, que estava embaixo dele, se ergueu rapidamente, deslizando por baixo dele, como uma enguia oleosa. Os soldados o pegaram, e ele não conseguiu mostrar resistência alguma, sentindo-se leve e tonto, enquanto eles o prendiam por correntes no pulso e nos calcanhares. Quando o ergueram, ele estava molenga, sem firmeza nos músculos. Aquilo não era normal, afinal, não havia bebido tanto.

— Mas, como…? — ele começou a indagar, atordoado, com a voz embargada. Deve ter rachado o lábio, pois a região ardia e sentia um líquido morno escorrer. Sentia também o gosto de sangue.

— Temo ter colocado um pouco de sono doce no vosso vinho, Majestade — Disse Roland, olhando-o com um ar de superioridade e um sorriso de satisfação. — Peguei na ala do meistre. —Deu de ombros. — Não que ele vá precisar, pois também o prendemos.

Harry juntou as sobrancelhas loiras. Estava muito atordoado, entretanto, também relaxado.

— Meus guardas…?

— Estão presos ou mortos — Revelou Sor Brynden, com sangue manchando a cota de malha negra. — Você poderá ficar aqui ou nas celas, fazendo-lhes companhia. A escolha é sua.

Harrold mal entendia o que lhe era dito. Estava se sentindo perdido, não conseguindo compreender o que estava acontecendo. Num momento estava em sua cama, com Melisandre, noutro, estava acorrentado e sendo preso. Aquilo não poderia acontecer, ele era o rei! Reis não eram presos!

— Pelo menos posso me vestir? — Ele perguntou, percebendo que seu lábio estava rachado pela queda na pedra dura e fria. Os lordes o olhavam com crueldade no olhar, julgando-o, e ele sentiu as bochechas arderem. Ele tentou esconder seu falo murcho entre as pernas.

— Não se faça, seu homem nojento! — Exclamou Arya. — Não finja ter o mínimo de pudor e vergonha após tudo o que fez! — Seus olhos cinzas eram escuros e duros. Fazendo-o se encolher com as duras palavras, carregadas de ódio. Aquela moça era uma selvagem. Entretanto, encontrou um pouco de força dentro de si, e conseguiu dizer:

— Pelos deuses, dêem-me pelo menos uma camisa de linho para me vestir! — Insistiu. — Não é digno para um rei ficar nu assim! O que farão agora? Irão me obrigar a expiar meus pecados como fizeram com Cersei Lannister?

Arya deu um meio sorriso e arqueou uma sobrancelha.

— Não seria uma má ideia…

Alguns homens riram e o corpo de Harry tremeu e ele se encolheu de novo.

— Não podem fazer isso comigo! — Ele disse, mais desesperado do que qualquer outra coisa. — Eu sou o seu rei! Herdeiro de Jon Arryn!

— Os lordes do Vale — Disse Roland — não o querem mais como rei. Podemos não ter outro herdeiro além de você, e você pode ser o Lorde do Vale de Arryn, mas nós seguiremos o Rei Jon Stark, o Rei do Norte, do Tridente, e do Vale, a partir de agora. E apenas Lorde Edmure falará por ele até termos notícias dele.

Harrold escancarou a boca e o olhou, esbugalhando os olhos azuis, incrédulo com o que acabou de ouvir. Ele seria simplesmente por aquele bastardo nortenho?

— Não podem fazer isso! — Exclamou, cuspindo. — Aquele homem é um bastardo, não é rei do Vale! Nem sequer tem o sangue…

— Jon Stark — interrompeu Lorde Yohn — é filho do amor Lorde Eddard, por quem muitos lutaram ao lado na rebelião de Robert I Baratheon, e que até hoje é lembrado com carinho no reino. Jon é seu filho, é tudo que precisamos. — Ele abaixou um pouco os olhos, mas Harry não sabia se por pena ou por vergonha. — Lamento Harry, mas você não pode permanecer no poder.

Harrold tentou olhar para os lordes, procurando alguém que estivesse disposto a falar em defesa dele, mas todos o olhavam com desprezo, exceto por Melisandre, que parecia feliz em vê-lo naquele estado vergonhoso. Ele era mesmo odiado.

O rei sem reino abaixou a cabeça, olhando para o chão, e indagou, baixinho:

— Onde ficarei?

— Você e os seus poderão ficar na torre dos Lamentos — respondeu Brynden —, pois a torre da viúva é de minha sobrinha, e não a quero correndo risco de alguém do seu grupo fugir e tentar feri-la.

Sem escolha, Harry apenas assentiu, em silêncio. Dois homens o pegaram rudemente por baixo do braço e o obrigaram a se levantar, ainda sentindo-se molenga. Seu corpo nu estava exposto para todos, desavergonhadamente. Seu falo molenga balançava como um pendulo e isso fez alguns lordes rirem dele, e Harry sentiu suas bochechas arderem de vergonha. Seus pés andavam desajeitados pelo chão, enquanto ele era levado pelos homens para fora de seus aposentos.

— Pobre Rainha Sansa — lorde Bracken zombou. — Acho que até o anão teria um pau maior que aquele graveto. — E os homens riram.

Era isso, seu reino estava acabado. Ele, Harrold Arryn, quem tanto fizera tudo para ajudar aquelas pessoas ingratas na guerra, simplesmente estava sendo despojado de seu poder. Tudo bem. Que aqueles ingratos sofressem por não ter o apoio dele.

Quando abriram a porta que dava para seu escritório, ele viu Lorde Edmure, vestindo uma túnica vermelho-escura, desbotada. O homem estava magro, com o rosto inchado, e ajudando a andar graças a dois rapazes.

Entretanto, quando viu Harry, seu rosto cansado e ferido se encheu de fúria e afastou os dois homens que a apoiavam.

— Seu desgraçado! — Ele disse, correndo com dificuldade até Harry. Entretanto, os aposentos das torres de Harrenhal eram enormes, mais apropriados para um gigante do que para um humano normal, e Edmure não se aguentou até alcançar Harrold, e caiu de joelhos no chão duro. Um dos homens de arma o ajudou a se erguer.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Gendry e seu escudeiro chegaram. O bastardo estava em pior estado que Edmure, com o nariz torto e inchado, os lábios cheios cheios de sangue, e um enorme corte na bochecha. Edric o apoiava em seu ombro; o dornês era um pouco mais novo e era menor que o Cavaleiro. Seus cabelos loiros estavam sujos e frisados, mas seu rosto ainda estava bonito, sem nenhum ferimento; apenas lábios secos e rachados e bochechas sujas, havia olheiras profundas em seus olhos púrpuras, e uma crosta de sujeira crescia como um fungo em seu pescoço.

Gendry o olhou para o rei despojado com raiva, mas nada fez para avançar, estava muito dolorido e fraco.

Harrold logo se sentiu ser empurrado e logo viu Arya correr até os rapazes. Ela tomou o rosto de Gendry entre as suas mãos, sentindo um aperto no coração ao vê-lo naquele estado.

Os dois rapazes estavam fedendo a fezes, urina e suor, mas Arya ignorou o odor pesado vindo deles.

— Oh, Gendry… — Ela disse, e ele deu um sorriso fraco e amarelado pelo sangue. Ela olhou para Edric e colocou uma mão em sua bochecha avermelhada. Ela voltou-se, irritada, e encarou Harry. — Eu juro que se não me impedissem, eu jogaria você no fosso, para ser comida de lobos.

Edmure foi levado até a mesa de Harry e sentou-se na cadeira, exausto. Estava magro, com uma crosta de merda entre as nádegas, e a barriga e o rosto estavam inchados e cheios de hematomas roxos com bordas verdes.

— Deixe-o, Arya — Ele disse. — Não gaste seu fôlego. — Fez um gesto com a mão e os soldados terminaram de levá-lo para fora.

Arya e seus companheiros deram espaço para Harry passar. Enquanto passava por eles, Gendry escarrou sangue e catarro em seu rosto, fazendo-o fechar um dos olhos, sentindo o calor gosmento dos fluídos do cavaleiro, que lhe dirigiu um sorriso vermelho e ácido. O rei despojado tentou avançar contra ele, mas os guardas o obrigaram a sair, o que fez Gendry soltar uma gargalhada.

Os lordes saíram do quarto e Arya fechou a porta de entrada quando Harry a atravessou.

Edmure suspirou, pesadamente.

— Pelos deuses, que pesadelo — Ele disse, fadigado e com a voz embargada. — Estou cansado de ficar sendo preso…

— Vocês deveriam estar descansando — Arya disse aos colegas, enquanto os levava até duas cadeiras na frente da mesa. Gendry usava calções desbotados de lã gordurosa, porém com o tronco nu, mostrando o corpo peludo, onde havia um enorme hematoma na barriga. Edric usava sua capa roxa, com calções forrados e uma camisa de linho.

— Nós vamos tomar um bom banho na casa de banhos daqui depois, Arya — Gendry prometeu, sentindo seu olho doer. Devia estar inchando. — Edric falou que seria o melhor para tirar toda nossa imundície.

Arya tocou na testa de seu amante e ele fez uma expressão de dor e afastou a cabeça. Ela observou enquanto o corte na bochecha sangrava.

— Pelos deuses — ela exclamou, sentindo a fúria tomar conta de seu corpo —, por que Harry mandou espancar você e meu tio? 

Roland entregou leite de papoula para o tio de Arya, para aliviar a dor. Quando Edmure terminou de dar um longo gole, limpou a boca com as costas da mão.

— Na verdade — Ele começou a explicar —, apenas eu fui espancado pelas ordens de Harrold — Olhou para Brynden e apontou para ele com um movimento da cabeça. — Ele foi quem espancou Gendry.

Arya olhou para o Blackwood, surpresa e furiosa. O rapaz abaixou a cabeça, ruborescendo.

— Como se atreve? — Ela indagou, furiosa, mas Gendry segurou sua mão com sua própria mão calejada, tentando a acalmar.

— Deixe-o, Arya — pediu, tentando se acalmar junto dela. Não era hora de se levar pela raiva, muito menos brigarem entre si.

Lorde Tytos deu um passo à frente, usando seu magnífico manto de penas de corvo.

— Garanto que eu castigarei meu filho, princesa — Ele prometeu, fazendo uma vénia, antes de olhar para seu filho, duramente. Brynden abaixou os olhos, corando.

A princesa selvagem se acalmou, respirando fundo. Voltou-se para o tio.

— Que faremos agora? — Ela perguntou.

Seu tio tomou mais um gole de leite de papoula e limpou a garganta.

— Primeiro, devemos enviar uma carta para o Norte — disse —, avisando Jon e Sansa sobre o ocorrido aqui. — Virou-se para Roland. — Que sabemos da situação de minha sobrinha? — exigiu saber.

Roland mostrou as palmas da mão e balançou a cabeça, num gesto que indicava que não havia nada a ser revelado.

— A última coisa que tivemos foi um corvo, falando que Daenerys estava preste a atacar Winterfell — Revelou. — Mas isto foi há tempos, temo que o castelo já tenha caído.

Edmure o olhou, consternado. Ele trocou um rápido preocupado com Arya, e depois com o tio Brynden, e voltou a encarar Roland.

— Não temos mais nada sobre a minha sobrinha? — Indagou, com visível preocupação na voz e nos olhos. — E Jon? Onde ele está?

— Vieram três corvos depois disso — Respondeu. — Creio terem vindo do Norte, mas não traziam cartas consigo.

Edmure franziu o cenho.

— Sem cartas? — Questionou, confuso.

— Imagino que Sansa não quisesse que Daenerys tivesse qualquer capacidade de se comunicar, caso não tivesse os próprios corvos.

Edmure assentiu, mas ainda era possível ver a preocupação em seu rosto.

— Você menciona minha irmã — disse Arya —, mas e o meu irmão? E Jon?

— Ele apenas nos disse que Bran está com ele na muralha — Revelou. — Também escreve que Harrenhal estará logo sobre ataque, mas Harry não lhe quis dar atenção.

— Bran? — Arya indagou, surpresa. Seus olhos cinzas se arregalaram. — Na muralha? Mas como…?

— A escuridão da qual avisei. — Melisandre disse, se fazendo notar entre os lordes e interrompendo Arya. Era maior que praticamente todos eles. — Devemo-nos preparar para o perigo alado e com tentáculos que para aqui vêm, milordes.

Os homens começaram a falar, mas Edmure bateu a palma na mesa, pedindo silêncio.

— Primeiro — ele disse —, esclareçam-me sobre a atual situação do tridente, que foi feito quanto aos homens de ferro?

Brynden tomou a palavra para si:

— Os homens de ferro estão acabando com tudo — Disse, sem rodeios. — Estão queimando e saqueando aldeias, estuprando mulheres, crianças e idosas; matando discriminadamente todos as pessoas que encontram, os que eles não matam, levam como escravos. Salinas está em cinzas, as férteis terras Mallister, nossa grande salvação, viraram um inferno, e milhares de mulhres foram estupradas, enquanto seus maridos e filhos eram mortos, e as casas saqueadas e os septos queimados; as gêmeas foram invadidas e saqueadas, não puderam se proteger contra ataques marítimos, pois os invasores usaram os navios para pular na ponte e atacar as torres de ambos os lados. — Continuou: — Quanto aos Dothraki, o que os Greyjoy não destruíram ao longo do percurso no tridente, eles tomaram para si, principalmente ao sul; Lagoa da Donzela foi saqueada, enquanto o Lorde Mooton trancou-se dentro do castelo, enquanto sua vila era dizimada pelos montadores de cavalos infernais que Daenerys trouxe para estas terras; mulheres estupradas, soldados mortos, e os que não morreram, talvez tenham virado escravos.

Lorde Edmure fechou a mão em um punho.

— Aquela puta e seu falso rei vão ter de nos responder sobre isso. — De repente, a raiva sumiu de sua face e deu lugar ao medo. Ele olhou para o tio com os olhos claros arregalados e assustados. — Minha esposa…

Sor Brynden fez um simples gesto com a mão, indicando que ele não deveria se preocupar com aquilo.

— Roslin está bem, Milorde — Assegurou o Peixe Negro —, ela escreveu dizendo que Correrrio está cercada pelas água, nenhum Dothraki poderá entrar.

— E os homens de ferro? — Indagou, ainda preocupado. 

— Ela diz que os Dracares são ameaçadores, e que inúmeras vezes tiveram tentativas de escalar as muralhas, mas nenhuma deu certo — Respondeu. — Eles tentam invadir e os soldados jogam pedras e flechas neles. Devemos rezar para que ela ainda esteja bem. — Dirigiu ao sobrinho um olhar piedoso. — Correrrio tem comida para até 2 anos Edmure; Roslin ficará bem.

— Temos de enviar ajuda — Decidiu Edmure. — Não posso deixar meu povo, minha esposa e meu filho a própria sorte! — Ele apontou para os lordes com as mãos cheias de hematomas. — Nenhum de nós pode abandonar as terras e a família assim.

Os homens assentiram; entretanto, todos sabiam das dificuldades que seriam andar por aquelas terras, cercados de vários inimigos.

— E como faremos isso? — Indagou Arya. Lembrava-se que, além da esposa do tio e da viúva de Robb, a pequena Doninha também estava em Riverrun. — Nós estamos cercados de inimigos ao longo do mapa, não temos conexões com o norte, e os Dothraki estarão no caminho de qualquer marcha que fizermos.

— A princesa tem razão. — Disse Lorde Tytos ecoando as palavras de Arya. — Não temos como forçar caminho para nenhum lugar do tridente; qualquer tentativa será suicídio! Graças a inercia de Harrold, estamos presos aqui! Perdemos todo o território!

Edmure aquiesceu.

— De fato — Suspirou. — Queria que Robb estivesse vivo, ele sempre teria uma boa estratégia para isso…

— E ainda temos que lidar com a puta ao Norte. — Lembrou Gendry, passando o manto gorduroso no rosto, para limpar o sangue das feridas, manchando a veste com fedor de acre. — Daenerys pode estar queimando tudo e nós nem sabemos. — Ao ouvir aquilo, os homens começaram a rogar pragas contra a usurpadora. — Pelo que sabemos, ela pode ter matado todos em Winterfell, transformando-o em um novo Harrenhal. Na verdade, quem garante que não está aliada aos homens de ferro?

Ao ouvir aquilo, Edmure disse:

— Se aquela puta invasora tocar em um fio de cabelo ruivo de minha sobrinha, não a força na terra que me impeça de ter a cabeça dela numa bandeja de prata.

— De acordo. — Disse Arya, de forma fria, mas apertou a mão de Gendry, preocupada com a ideia de perder os irmãos.

Quando os lordes se acalmaram, Roland disse:

— Creio que Aegon também suporta pouco a própria tia, tanto quanto nós, meus Lordes. Bem se é que é mesmo sobrinho dela.

Arya franziu o cenho.

— Que quer dizer? — Ela indagou. Sabia sobre os boatos dele ser falso, mas não entendeu o que o Waynwood queria dizer Aegon não suportar a suposta tia.

— O Alto Septão, que é a voz dos deuses na terra, vamos nos lembrar disto, anulou o casamento entre a tia e o sobrinho. — Esclareceu, pegando Arya de surpresa. — E, logo depois de conquistarem Jardim de Cima e Daenerys viajar para o Norte, casou-se com a princesa Arianne Martell.

Edmure ficou boquiaberto.

— Pelos Deuses, então agora estamos com mais e mais inimigos… — Disse.

Melisandre falou novamente:

— Devemos unir-nos a Daenerys. — Falou, fazendo os homens gritarem em desaprovação, mas não se deixou abalar. — Ela está solteira — insistiu —, precisa de um companheiro, e nós temos o Rei Jon, que está livre para casar.

Arya fez um som irritado.

— Meu irmão não vai casar com a estúpida rainha dos Dothraki. — Disse, zangada com ideia. — Ela é filha do rei louco! Não pode acreditar que Jon aceitaria algo assim, não é?

— Daenerys tem dragões — Melisandre rebateu. — E, caso seja o jeito de selar a paz, tenho certeza que Jon aceitará o fardo. — Ela olhou para os outros lordes da sala, que a viam com nojo e raiva. — Daenerys pode ser a nossa salvação na escuridão que virá! Milordes, eu imploro, escutem-me!

— Já a ouvimos demais, sacerdotisa do demônio! — Disse Lorde Bracken. — Você dormia na cama de Stannis, afastando-o da esposa, e agora resolve se aliar a mulher que clama o trono dele? Para que? Para queimar mais rápidos os nossos deuses?

— Garanto que se o Rei Stannis soubesse…

— É uma despudorada, como eu bem lhes avisei! — Disse Brynden, olhando-a com asco. — Pelo que sabemos, ela pode ter levantado as próprias saias para o Rei do Norte! Na verdade, temo que, caso lhe ache oportuno, ela tente dormir até com a rainha dragão!

Os lordes explodiram em gargalhadas ao ouvir aquilo, sem dar ouvidos às palavras da sacerdotisa. Melisandre se virou para Edmure e Sor Brynden, tentando não perder aquela disputa.

— Eu os ajudei hoje! — Ela os lembrou. — E viram o que fiz a Sor Barristan, por favor, meus bons Lordes, precisam ouvir-me…

Edmure levantou uma mão, indicando que ela deveria parar de falar.

— Melisandre — ele disse —, eu vi as coisas das quais é capaz de fazer; assim como sei o que fez por mim hoje… Entretanto, temo que deva concordar com meus lordes nessa questão; uma aliança com a rainha dragão não é viável para nós, não após tudo que ela tem nos feito passar.

Os lordes e soldados bradaram em acordo com as palavras de seus lorde. Melisandre virou-se para Arya e Gendry, mas a garota lhe deu um olhar desgosto, enquanto Gendry apenas balançou a cabeça.

Irritada e derrotada, ela andou até a saída, com suas vestes escarlates dançando como labaredas atrás dela. Ela fez o que lhe era mandado, mas foi descartada como nada.

Havia avisado sobre o perigo para aqueles lordes, e nenhum lhe deu ouvidos. Que seja. Ela sabia que eles iriam aprender da pior maneira.

Quando a sacerdotisa saiu, fechando a porta atrás de si, Edmure falou:

— Temo também estar esgotado, milordes — Lamentou-se Edmure, antes de tomar mais um gole de leite de papoula. Era visível que até respirar para ele era cansativo. — Peço-lhes que me dêem uma noite de descanso, para que eu possa dormir e limpar a minha mente, e um banho para tirar a sujeira do corpo.

— Antes — exigiu saber lorde Mallister —, o que será feito com o Re… — o homem fingiu limpar a garganta. — Com Lorde Harrold.

Edmure pareceu se esgotar ainda mais só de ouvir aquele nome.

— Ficará trancado na torre dos lamentos, em um cômodo separado dos de seus apoiadores, pelo menos até que tenhamos resolvidos os problemas maiores. — Deu um longo respiro, parecendo mais cansado e dolorido: — Agora, com as vossas licenças Milordes, eu preciso descansar, cuidar de meus ferimentos e... — enrusbeceu um pouco e manter o olhar firme — Limpar-me.

Os homens assentiram e começaram a deixar o cômodo. Quando eles se foram, o tio de Arya virou-se para Roland.

— Liberte o meistre — Ordenou. — Tenho certeza de que ele irá nos ser fiel, visto que ele em nada ganha em nos trair por Harry. Além do mais, não podemos nos dar ao luxo de não ter um curandeiro entre nós.

— Tem a certeza disto? — Indagou o Waynwood, e Edmure assentiu, fazendo-o ir até o meistre. Depois, virou-se para o outro lado e fez um gesto leve com a mão, indicando que a jovem Pia devia se aproximar. — Foi muito boa falando com Lady Melisandre apesar dos riscos Pia.

A jovem acenou e sorriu, cobrindo os dentes.

— Quis apenas ajudar, Milorde.

Edmure deu um sorriso cansado e meneou a cabeça.

— E fez bem — disse. — Agora, eu estou cansado demais para lhe ter aquecendo a minha cama, e duvido que possa dar o prazer o prazer que uma jovem bonita e gentil como você merece ter entre os lençois. — Fechou a mão num punho e tossiu um pouco, depois escarrou catarro no chão e voltou a encarar a jovem. — Mesmo que eu me recupere logo, ainda estarei muito ocupado nos planos de guerra para dar atenção aos teus serviços. — Pegou nas mãos dela e beijou as costas. — Por isso, vou te dar mais um último dever até lá, está bem?

A mulher assentiu, esperando o que ele iria lhe mandar fazer, com olhos curiosos e brilhantes bem abertos, como se fosse uma criança, não uma mulher adulta.

— Você vai servir Harrold, vigiá-lo para mim — ordenou. — Mas não lhe dê prazer, ele não merece isso. Apenas lhe dê comida e cuide do quarto dele até achar outro trabalho para você; pode fazer para mim?

A jovem anuiu e Edmure deu outro beijo em sua mão. 

— Boa moça, corajosa como um  cavaleiro das canções — ele a elogiou, sorrindo, sabendo que ela tinha uma autoestima baixa e precisava de bons elogios, como se fosse uma filha querendo elogios do pai. Virou-se para um dos guardas. — Leve Pia até as cozinhas e dê o melhor prato de comida que tiver para ela comer, e vinho para aquecer a barriga nesta noite fria; amanhã, leve-a até Harrold e faça guarda.

O homem assentiu.

A jovem deu um beijo nos lábios de Edmure e fez uma reverência profunda para ele e aos outros no cômodo antes de sair.

Quando Pia se foi, Edmure virou-se para comparar a sobrinha e deu-lhe um sorriso. — Também tens consigo uns amantes valentes, minha princesa.

Arya deu um sorriso sem jeito. Sabia que o tio dificilmente gostava dela ter amantes, mas parecia estar tentando superar aquele pequeno obstáculo.

— Obrigada, Milorde.

— Por que não os leva até a casa de banhos? — Sugeriu Edmure, parecendo relaxar. O leite de papoula devia estar fazendo efeito — Eu mandarei o meistre cuidar deles depois.

Arya assentiu e ela e Edric ajudaram Gendry a se levantar da cadeira.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

A Casa de Banhos tinha um teto baixo, com apenas uma entrada, e repleta de enormes banheiras de pedra, com capacidade de aguentar até sete pessoas. O vapor subia das águas e cobria o andar.

Gendry retirou os calções, com a ajuda de Arya e Edric. Este retirou a capa e a camisa de linho, junto dos próprios calções, entregando-os para um servo. Antes que Arya retira-se a própria roupa, Gendry disse:

— Saiam — Ordenou. — Nós a ajudamos.

Ned e Gendry a ajudaram a desamarrar o corpete e as calças da jovem nortenha, deixando-as numa pilha no chão. Ela e Ned ajudaram Gendry a entrar na piscina, com medo dele cair. 

A água relaxou os músculos deles, fazendo-os se sentirem leves, parecendo flutuar. Arya e Edric esfregaram o corpo de Gendry, retirando as crostas de sua pele, criando espumas conforme passavam sais de banho nele. Insetos começaram a surgir conforme as fezes em suas nádegas começavam a liquefazer. A água foi ficando escura conforme ele e seus amigos passavam as escovas em seu rosto. Afundou a cabeça, limpando o sangue do rosto. Os bichos em sua cabeça também começaram a soltar seu cabelo. Curvou-se, para que Arya e Edric passassem suas ásperas escocas em suas costas, o que o machucou, mas ele ignorou. Sentiu suas feridas arderem, mas logo veio o relaxamento. Antes que acabasse por dormir, ele emergiu.

— Deveríamos trocar de banheira — Gebdry sugeriu, após emergir o corpo da água. — Esta está cheia de merda.

Os dois assentiram. Arya e Ned saíram e o ajudaram a se levantar, Gendry deu um grunhido desconfortável enquanto o ajudavam.

Ao ver Arya nua, cheia de cicatrizes formando desenhos em seu corpo, com os seus seios pequenos bem pontudos e rosados e as bochechas vermelhas, Gendry não resistiu e logo sentiu seu pau se erguer. Edric também estava assim, a admirando com seus olhos escuros. Ambos estavam visivelmente duros e hipnotizados pelo corpo dela.

Antes que eles fizessem amor, porém, Arya entrou em outra banheira e eles a acompanharam. 

A jovem Stark foi até Ned e passou a escova em seus cabelos loiros, após este submergir a cabeça e emergir logo depois, retirando a sujeira deles. Deixando-os bem loiros claros como antes. Enquanto ela fazia isso, Gendry a abraçou por trás, apertando seus seios e beijando seu couro cabeludo. Arya deu um gemido, relaxado.

— Senti sua falta — Ele disse, abaixando a cabeça e beijando o pescoço dela, sentindo a pele morna, manchando-a de sangue.

— Eu também senti falta de vocês. — Disse ela, sentindo os seios ficarem duros enquanto Gendry os massageava. Observou o membro de Ned ficar duro na água suja enquanto este a observava com Gendry.

Quando ela terminou de lavar o longo cabelo loiro de Edric, ele largou a escova dele, deixando-a cair na água, e deslizou uma mão para entre as pernas de Arya. A moça deu um arfou, sentindo os dois dedos do rapaz dentro dela, tocando suas intimidades de forna lenta e gentil. Ned levou uma mão até a bochecha de Arya, e ela sentiu a maciez de seus dedos mornos a acariciando a pele amorenada de Arya. Seus olhos azuis estavam escuros de desejo, tendo um tom profundo de roxo. Mordeu o lábio inferior, observando Arya arfar.

Apesar da rivalidade de Gendry com o dornês, ele ficava feliz de ver com Arya, pois pelo menos ele podia dar prazer a moça. Ora, desde que ele a fizesse feliz, por qual motivo ele reclamaria? Ele só queria deixar Arya feliz.

— Senti falta do que nós tínhamos também — Gendry disse, passando a mão pelas costas dela e indo para frente, apertabdo os pequenos seios dela de forma gentil, sentindo-os ficarem arrepiados e durinhos. — Você também precisa relaxar, minha princesa, deixe-nos fazer isso. — Ele levou uma mão até o falo duro, para colocar dentro dela.

— Nós só queremos lhe dar prazer, Arya... — murmúrou Edric.

 Arya sentiu Gendry penetrá-la por trás, empurrando-se contra ela, fazendo-a soltar um grito, enquanto Ned colocou a face dela em suas mãos e a beijou, empurrando a sua língua para dentro da boca dela, sentindo o calor dela.

Apesar de ainda preferir ter Arya para si, Gendry estava feliz de vê-la com Edric, tendo um pouco de prazer — embora ainda tivesse um pouco de ciúmes com a cena.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Harry foi largado em um triste quarto numa das cinco torres de Harrenhal. Ele estava com uma roupa de lã gordurosa, com alguns furos, que pinicava a sua pele e tinha um odor forte de acre. Além da roupa, também era obrigado a usar correntes de ouro, que machucavam seus pulsos.

Tudo aquilo porque ele fez tudo o que acreditara ser certo para salvar o reino, e o que recebera em troca? Traição!

Fiz tudo por eles, pensou amargurado, e eles devolveram minha proteção e benevolência com ardis malignos! Que os outros os levem daqui!

Contudo, o pior não era a escuridão, a solidão, ou o frio… Eram as canções.

Harry ainda podia ouvir, mesmo ali, o som do vento entrando. Não. Eram os fantasmas de Harrenhal, o chamando, pedindo para ele se unir a eles no além infernal. Chamando-o para a morte.

Ele tapou as orelhas, tentando ignorá-los, mas, não importava o que fizesse, ainda conseguia ouvir os lamúrios deles. O chamando para se unir a eles…

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

As cabeças dos colegas de Arya foram retiradas dos espetos na muralha, onde estavam apodrecendo e servindo de comida para pssáros. Agora, as cabeças dos homens que serviram Harry alimentavam os corvos e as aves de rapina.

 Nymeria foi libertada do fosso, enquanto o portão principal de Harrenhal foi aberto, para que o restante de sua matilha entrasse e fosse colocada no fosso, sendo alimentada com poucos vivos. Também permitiram a entrada do povo comum, mas havia poucos, visto que Harry espantara o resto. Logo, esperava o tio de Arya, viriam mais — Embora ela soubesse que Brynden e alguns lordes não estivessem felizes em alimentar “bocas inúteis”.

A espada valiriana de Gendry foi devolvida para as suas mãos calejadas, assim como a Alvorada voltou para as mãos rosadas de Edric. Tudo estava voltando ao normal… Ou, pelo menos, era o que eles pensavam.

Arya pode voltar para a torre da viúva, onde dividiu a enorme cama de palha fresca com seus dois amantes, que dormiram abraçados, com ela entre eles, aquecendo seus corpos. Os três estavam cobertos por um cobertor feito pele de urso marrom, bem quentinha e confortável.  A lareira de quase dois metros de altura estava bem alimentada, queimando a lenha e aquecendo o ambiente, e aos amantes escondidos pelas cortinas — um tanto mofadas — da cama.

Gendry foi cuidado com sanguessugas, que retiraram o sangue ruim de seu corpo — embora seu olho ainda estivesse um pouco inchado e as pálpebras roxas —, e o meistre passou um emplastro em sua bochecha cortada, cobrindo a região com linho. Edric, por sorte, não estava ferido, mas ainda estava faminto, tanto quanto Gendry, e seu nariz ainda estava irritado. Quando foram sentar-se na mesa do quarto em que ocupavam na Torre da Viúva, uma tigela enorme foi colocada para eles, com frango e porco, um prato com cisne assado com maçãs cozidas, e um prato com alguns pães de trigo, e dividiram a comida entre si, comendo da mesma tigela. Uma bacia de bronze foi trazida e uma serva a encheu com a água quente, usando a água da chaleira, aquecida na lareira, e Edric pousou os pés nela, sentindo a água escaldante os cobrindo.

Gendry, acostumado a dormir nu desde que passara a aquecer a cama de Arya, pegou um manto velho que havia ali e o usou para se cobrir, jogando-pelos ombros. O manto tinha um cheiro de suor, azedo. O couro era mal curtido e a pele era gordurosa, com alguns pequenos buracos, mas ele não se importava com nada daquilo. Botou as mãos grossas numa bácia com água de rosas azuis de inverno e lavou o rosto com ela, acordando do sono e tirando um pouco do suor.

— Podem sair — disse Gendry. Não queria ninguém por perto, ele e seus companheiros tinha coisas importantes para discutir e não queria ninguém por perto.

Arya pegou uma jarra de cerveja e a levou para lareira, deixando-a perto das chamas para aquecer a bebida. Após deixar a bebida de lado, foi até seus companheiros. Estava sem fome, mas se sentou  entre eles. Ned pegou sua mão e levou para os seus lábios, e Gendry lhe deu um beijo babado na bochecha.

— Devia comer, Arya — Insistiu Gendry dando uma colherada na tigela. — Está magra, amor.

— Gendry tem razão. — Disse Edric, ecoando as palavras de seu chefe, mastigando um pouco de carne de porco gordurosa. Agora que estava lavado, apesar do olhar cansado, estava com a beleza reluzente. O olhar febril estava diminuindo. — Na verdade, você devia passar a comer mais, princesa, está muito magra. — O rapaz riu. — Tanto faz se está aqui ou na floresta, continua comendo pouco!

Arya deu de ombros. Aprendera a aguentar o jejum desde muito cedo, principalmente após entrar na casa do preto e do branco, onde fora ensinada a ficar sem comer e beber por um bom tempo.

— Vamos — disse Gendry, pegando um pedaço de pão de trigo que ele havia mordido e o afundando no molho e na gordura de porco. Esticou para Arya. — Coma só um pouco, sim?

A jovem Stark resolveu fazer o que lhe era pedido e pegou o pão mordido e deu-lhe uma mordida, saboreando a gordura nele. Estava sem comer há muito tempo, pois quase chorou com o gosto. Edric lhe deu uma colherada de carne, fazendo-a se sentir uma criança estúpida, usando da própria colher.

Gendry fez um gesto com a cabeça e Ned foi pegar a jarra na lareira, não querendo que Arya se levantasse. Seus pés molhados deixaram marcas de pegadas disformes e molhadas no chão. Quando a pegou a jarra pela alça, levou-a até a mesa e encheu três copos de estanho com a cerveja preta grossa, uma bebida do Norte, aquecida pelo fogo. Arya pegou a caneca e tomou um gole, sentindo a grossa bebida quente encher sua boca, descer pela sua garganta e aquecer seu estômago. Ela deixou o recipiente de estanho na mesa e limpou a boca com as costas da mão.

— Comam rápido — Ela disse —, logo meu tio vai começar a reunião.

Gendry lambeu os dedos e pegou um copo de cerveja preta.

— Deveríamos matar o Harry — Disse Gendry, dando um trago da bebida, para ajudar a comida a descer com mais facilidade.

Arya franziu o cenho. Enquanto provava um pouco das maçãs cozidas.

— Já disse…

— Ora, ninguém está por perto. — Gendry disse, limpando a boca com as costas da mão. — E, depois de ontem, quem vai se importar?

— Harrold está despojado, Gendry — Ned respondeu, não parecendo querer continuar com aquilo. — De

— Você gostaria que ele voltasse a fazer algum mal a Arya? — indagou e mordeu um pedaço de carne numa só mordida, sentindo a gordura escorrer pelos dedos brutos e calosos.

Edric pareceu abalado com a ideia, como se nunca tivesse pensado nela.

— Não... — ele respondeu.

— Foi o que eu pensei.

— Matar um rei é pecado e crime gravíssimo, Gendry — ressaltou Edric, comendo um grande pedaço de cisne. — Não quero você e Arya com as almas condenadas. — Pegou um pequeno naco de carne passou para Arya, que a pegou e o comeu.

Gendry revirou os olhos e comeu mais um pedaço de porco bem gorduroso e um pedaço da torta de cisne. Antes de comer, olhou para o escudeiro e disse:

— Harrold não é mais rei — Ele os lembrou, enquanto mastigava a carne. O pedaço era visível, enquanto ele abria e fechava a boca para mastigar de forma rude. — Deve-lo-íamos livrar-nos dele o quanto antes, antes que ele tente voltar ao poder ou cause mais algum problema. 

Arya não gostava muito daquilo, mas deixou ele falar.

— Prossiga.

Gendry engoliu o pedaço, contraindo o gogó enquanto comia, fazendo-o descer e depois subir. Pegou o copo de estanho e tomou um gole de cerveja grossa do norte para ajudar a descer. Pegou um coxa de frango.

— Bem, ele podia “cair” da torre? — Sugeriu, terminando de mastigar a carne e engolindo. — Ou pular, sei lá…

Arya abanou a cabeça. Lembrou-se de quando  jaqen matara um homem assim por ela.

— Pode ser, mas temo que isso atraia dúvidas. — Disse, não sabendo se aquilo poderia irritar os lordes do Vale. Podiam odiar Harry, mas mesmo ele merecia o direito de um julgamento.

— Suícidio? — Sugeriu Edric, entrando nas ideias deles, enquanto comia um pouco de mostarda e maçãs. — Ele podia ser encontrado morto, com os pulsos cortados por, ah, eu não sei… — Franziu o cenho e tentou pensar em algo. — Talvez a faca que foi trazida com o prato do dia e ele a escondeu para cortar os pulsos depois?

Arya não descartou a ideia, mas também não a achou muito viável. Seria difícil evitar qualquer suspeitas caso Harry fosse encontrado morto pouco tempo depois de ser preso. Os murmúrios iriam ocorrer de qualquer forma, mas se os lordes realmente se importariam era outra história. Harry simplesmente conseguiu atrair todo o tipo de ódio para si em pouco mais de três meses de reinado, Arya duvidava que ele não teria a alcunha de “Harry, o cruel” pelas pessoas do tridente — especialmente os pobres coitados sem título de nobreza em que ele mandou jogarem flechas para retirar da muralha e deixara a própria sorte com os invasores.

Não, ninguém iria se importar se por acaso o ex-rei aparecesse morto. Duvidava até mesmo que Sansa se importasse — Ainda mais quando descobrisse tudo que ele fizera no Tridente como monarca.

Arya olhou para o rosto ferido e enfaixado de Gendry, e para os olhos cansados de Edric, e tomou sua decisão.

— Talvez seja mesmo hora de dar a misericórdia ao meu cunhado — Ela disse, pegando um pedaço de queijo. Gendry sorriu e acenou para ela, e Ned assentiu, dando uma colherada na comida.

— É bem melhor que aquela gororoba que comíamos enquanto estávamos presos — Disse Ned, lambendo o mel nos lábios e nis dedos. Deu uma fungada. Pegou um lenço e escarrou nele. — Desculpem-me, por favor, ainda estou meio doente.

— Oh, pobrezinho… — Disse Arya, passando uma mão pela bichecha dele, vendo como estava magro. O rapaz, por sorte, não havia sido espancado por aquele bruto carrasco do Harry. — Talvez seja melhor você e Gendry ficarem aqui, descansarem e comerem, ao invés de ir ver meu tio…

Ned fez que não com a cabeça.

— Bobagem, eu e Gendry estamos bem. — Garantiu, enquanto afundava um pedaço de queijo na gordura de porco e comia. Pousou a cabeça no ombro de Arya que retribuiu o gesto com um beijo no louro dele.

— Podemos voltar a combate logo, logo — Gendry ecoou as palavras de seu escudeiro. Sorriu e deu tapinhas na mão de Arya, indicando que ela não precisava se preocupar com eles.

Arya assentiu.

— Certo — Respondeu. — Depois nós resolvemos os problemas de Harry. De uma vez por todas. 

Os rapazes assentiram. Era o fim de seu cunhado. Arya esticou um braço e sentiu Nymeria morder levemente seus dedos e balançá-los. A loba parou de morder os dedos e ficou em alerta, empinando as orelhas.

Arya franziu o cenho, preocupada.

— Que foi, garota? — indagou a garota para a loba.

Quando Gendry pegou sua caneca com cerveja preta, para dar um último gole antes deles irem até a reunião de Edmure, um rugido foi ouvido, o fazendo parar de levar o copo até os lábios inchados e rachados. Todos na ficaram tensos.

— O que…? — Edric começou a indagar, mas ouviram gritos vindo de fora.

De imediato, todos se levantaram da mesa, Gendry fez um movimento tão abrupto que sua cadeira caiu no chão de pedra, fazendo um som retumbante. Cada um pegou sua espada especial, e então se dirigiram até a porta dos aposentos.

Saindo da ala da torre, deram de cara com a ponte de pedra que fazia uma conexão entre a Torre da Viúva e a Torre do Rei. Edmure, Brynden, Roland e algum pajem estavam lá, olhando para o além, curiosos.

Do alto da enorme torre, viram os soldados no chão se movendo em desespero, como formigas assustadas. Os sinos de alerta tocavam incessantemente, enquanto os soldados davam ordens. Os lobos e cachorros latiam para o céu, como se o amaldiçoasse; Nymeria olhou para o Sul, rosnando, mostrando os dentes para as nuvens. O rugido foi ouvido novamente e Arya pode ouvir o que pareciam trovões se aproximando. Apesar do frio, sentiu um calor subir nas bochechas, e sentiu o cheiro de fumaça.

Gendry olhou para o céu nublado, na direção de onde vinha o rugido, e Arya viu uma sombra passar pelo rosto ferido.

De repente, ouviram alguém gritar, do alto de uma das muralhas:

— DRAGÃAAAAAOOOOOO!

Um som novo surgiu do nada, não um rugido, como antes, mas algo ainda mais inumano e ensurdecedor, fazendo os ossos de todos parecerem queimar. Gendry deu um gemido de dor, sentindo suas feridas a latejar e parecerem arder como nunca antes.

AAAAAAAWWWWWWWNNNN…

Um novo rugido surgiu, desta vez, a criatura que dava origem a eles surgiu descendo das nuvens cinzas, como uma figura pálida e dourada. Sua boca estava aberta, rugindo, mostrando seus dentes brilhantes como adagas de diamantes. Mesmo sem sol para emitir luz, seus chifres emitiam um lume dourado como ouro reluzente. Suas asas coriáceas batiam no ar, criando o som de trovões. 

Deslizando pelo ar, a criatura foi até a muralha, enquanto os homens nela tentavam acertar a fera com flechas ou tentavam fugir. A criatura, então, havia imbuído o local com chamas douradas, fazendo os homens nelas gritarem e dançarem em agonia, enquanto seus olhos explodiam. Alguns pularam antes de serem atingidos, preferindo uma morte mais rápida.

A fera alada moveu o pescoço, como se fosse uma serpente, e despejou mais fogo no local.

Arya se virou, olhando para onde seus tios estavam. Edmure fez um gesto com a mão, indicando que era para ela e seus companheiros descerem da torre. Ele não precisa avisar uma segunda vez, ela se voltou para os amantes — que olhavam com um tipo de euforia para a fera alada — e disse:

— Vamos, seus estúpidos, vão ficar aí parados?

Gendry fechou a boca e piscou os olhos, balançando um pouco a cabeça, como se para se sair de algum tipo de transe. Ned foi mais rápido, apenas olhando para ela e assentindo, antes de ir para a imensa escada. Arya empurrou Gendry e ele foi agil em girar os calcanhares e sair dali o mais rápido possível.

Os degraus do castelo eram imensos, com Nymeria conseguindo manter duas patas em cada um e descer de forma rápida, quase sem dificuldade, atrás do trio. Arya sentia o calor aumentar, tal qual os gritos também aumentavam. Seus pés batiam nos degraus frios, e ela sentia a ardósia impactando-se contra eles de forma dura; rezou para não escorrer no gelo que os cobria, pois a neve ainda não havia sido tirada deles naquela manhã. Seu coração também batia rápido em seu peito, fazendo-a sentir o batimento.

Como saíram apressados, Arya estava apenas usando calções e uma camisinha de linho. Por sorte, haviam pegado suas espadas antes de deixar o local.

Ao contrário da Stark, Gendry estava com o peito nu, coberto apenas por um nojento manto de pele gordurosa, sentindo uma dor enorme na barriga, onde o imbecil do Brynden havia lhe atingido. Seus ferimentos no rosto também doíam, mas ele fez o que pode para ignorá-los. Sua respiração estava ofegante, criando rápidas nuvens conforme ele expulsava o ar pela boca. O jovem Edric usava calções roxos e um gibão púrpura com renda de prata, junto de sua capa roxa, que esvoaçava conforme ele corria. Seus loiros cabelos esvoaçavam enquanto corriam, e o calor e a adrenalina faziam 

Ele tem que ser tão pomposo e galante, mesmo enquanto corre?, Gendry se indagou, enquanto olhava para ele, quase escorregando em um degrau.

O dragão rodeava as muralhas, cuspindo fogo dourado por onde sobrevoava.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Harry estava em sua cela, com um soldado usando o brasão da casa Waynwood e um meio elmo o vigiava, segurando uma lança. Seus apoiadores, se é que eram muitos, estavam em outras alas da Torre dos Lamentos, longe dele.

Uma serva lhe trouxe um pouco de comida para ele comer. Ela tinha dentes quebrados, mas era um pouco bonita. Lembrava-se de ter dormido com ela uma vez, ela era molhada demais entre as pernas, e ele deslizou para dentro dela como se deslizasse no óleo. Foi uma boa foda, mas teve nojo ao saber que ela já havia se deitado com vários outros homens e a evitara em sua cama desde então. Aquela puta era muito usada, nada digna para um rei; embora soubesse que a jovem aquecia a cama de Edmure depois que Harry a dispensara de seu leito.

Apesar da moça ter um rosto razuavelmente bonito, ele também não gostava dela ter os dentes da frente quebrados — por causa disso, sempre que ela sorria ou falava, a própria botava na frente da boca, para que ninguém visse seus dentres quebrados e lascados. Sempre que Harry a fodia, ele a virava de costas, deixando-a de quatro, com a cara afundada no colchão enquanto ele estocava o seu pau dentro dela e despejava sua semente nela.

Apesar de Harry a ter descartado com rápidez, logo soube que Edmure logo a tomou como sua amante, aquecendo-lhe sua cama quando ele a chamava, constantemente.

Infelizmente, Harry ainda estava preso a correntes douradas, que machucavam-lhe um pouco os pulsos e os calcanhares em alguns momentos. A argola de ferro que estava presa em seu pescoço dificultava o ato de engolir comida.

— Não poderia pelo menos me soltar para comer? — Indagou ao guarda, mas este respondeu apenas com um balançar negativo da cabeça. Suspirando, Harry bebeu um copo d’água e voltou a comer.

Foi então que ouviu gritos e latidos, vindos além das grossas paredes da torre. Um rugido surgiu do nada, e Harry se levantou, assustado.

— Que é isto? — indagou, com um naco de pão meio comido na mão. Os latidos faziam um pequeno eco também. A serva que acompanhava Harry se encolheu, temerosa.

O guarda franziu o cenho e olhou para a janela. Ele foi até ela, mas, no meio do caminho, os sinos do alarme tocaram, e Harry ouviu um “AAAAAAWWWWWWNNNNNNN”, e sentiu seus ossos arderem, fazendo uma careta de dor.

Gritos mais altos foram ouvidos, e ele sentiu um calor subindo no local no ambiente. 

— Pelos deuses — Harry disse, apavorado —, que está a acontecer lá fora?

O soldado se apressou e abriu a janela. Ao abri-la, ele deu um suspiro horrorizado e se afastou.

— Pelos Deuses… — Ele disse, parecendo ter visto algo horrível. 

— Que foi? — Exigiu saber. — Que foi? — Quando o homem se virou, apavorado, Harry ouviu os gritos aumentarem e o intenso crepitar de fogo. Apavorado, ergueu as argolas douradas, fazendo os elos fazerem um barulhinho, como se fossem pequenos sinos a badalar. — Libertai-me! Agora! Ordeno que me liberte, imediatamente — Ordenou, como se ainda fosse um rei, mas o medo transparecia pela sua voz.

O homem falou algo que Harry não entendeu e correu até à porta, no fim do enorme quarto. A empregada também tentou fugir, mas ele agarrou-lhe o punho, puxando-a para perto de si.

— Ajude-me! — Mandou, enquanto o soldado chegava perto da porta. A mulher tentou se soltar, mas Harry a agarrou pelos pulsos, apertando-os com força e a puxando para mais perto de si, enquanto a mulher ainda lutava para se soltar, depois, agarrou-lhe os ombros e a balançou violentamente, sem nem entender bem o porquê de o fazer, de forma desesperada e agitada. Quando sentiu a força da mulher se esvair, viu-a ficar tonta e parar de lutar. Ele, então, parou de movê-la à força. — Ajude-me a sair daqui! — Falou, após a obrigar a parar de se mexer, segurando seus ombros com um grande aperto.

A mulher deu um gemido confuso, ainda tonta, e ele a xingou. Olhou para a mesa e viu a faca de osso do lado do prato. Pegou o cabo do utensílio, enquanto puxou a mulher para si, tocando a ponta do osso afiado na garganta da moça, como Arya havia feito com ele na noite anterior.

Olhou novamente para o soldado, que estava quase na porta.

— Ei, seu bastardo! — Chamou. — Hey! Aqui! Vai largar uma dama assim?

O homem o olhou de relance, enquanto corria, e parou, ao ver Harrold com a faca na mão e segurando a serva com a corrente, fazendo um nó no pescoço dela. Um empurrão da faca e ele lhe cortava a jugular, um puxão do pulso, e ela seria enforcada pelos dourados que o prendiam. Não era algo nobre, mas ele tentou ser um bom rei e honrado para com seus súditos, e tudo que recebeu em troca foi traição!

— Vai deixar ela morrer? — Questionou Harry, enquanto a mulher, ainda tonta, parecia cambalear um pouco, com as pernas molengas.

O homem o olhou com desprezo.

— Não tem honra? — Indagou o soldado com desprezo agudo na voz. — Esconder-se atrás de uma pobre mulher?

Ótimo, o homem era realmente um tolo a ponto de se importar com uma prostituta usada como aquela desdentada medrosa.

— Libertai-me! — Ordenou, empurrando levemente a ponta de osso contra a garganta da moça. — Agora, ou então, o sangue dela estará em vossas mãos!

O homem torceu um pouco os lábios. Um rugido foi ouvido novamente. Ambos olharam para as paredes por um momento, como se para tentar visualizar o que estava a acontecer através delas.

— Pelos deuses — o soldado disse —, por acaso não vê que o inimigo está aqui agora?

— Dane-se. — Harry não se abalou. — É o teu dever defender-me. — Lembrou-lhe. — Deve ajudar-me a sair daqui, ou é você quem não tem honra por aqui?

— P-por fa-favor… — A puta choramingou, mas Harry não sabia se para ele ou para o soldado, ou talvez até para os dois.

O homem hesitou, mas foi até ele.

— Alto lá! — Disse Harry, apertando um pouco a corrente, fazendo os elos se apertarem contra a garganta fina da mulher, que soltou um gemido assustado. Ele a sentiu agarrar seus braços, assustada. — Larga a lança. Agora.

O homem parou de andar e o encarou com um olhar severo.

— Não tente nenhuma besteira…

— Não tente você! — Avisou Harry, começando a suar. Os gritos lá fora aumentavam, e ele ouviu um tipo de tremor.

A contragosto, o homem fez o que ele lhe mandou fazer e largou a lança, deixando-a cair no chão. O eco do baque da queda ecoou na enorme sala.

— Bom menino. — Disse Harry, enquanto o homem voltava a ir em sua direção.

— Eu não tenho a chave comigo…

— Mentiroso! — Disse Harry, enquanto o homem se aproximava.

Quando o homem estava se aproximando mais dele, sabia que teria de agir, pois sabia que ele facilmente poderia tentar atacá-lo e libertar a moça.

— Calma, Pia — Disse o homem, referindo-se a mulher que não parava de chorar. — Vai acabar tudo bem…

Novamente, quando apenas a mesa em que Harry comeu o distanciava do guarda, o ensurdecedor som que fazia os ossos flamejar soou, e distraiu o soldado. Aproveitando a chance, Harry tirou a corrente de Pia e empurrou a moça para frente, fazendo-a dar um grito assustado e esbarrar na pequena mesa, que se virou com o impacto. Ambas atingiram o soldado e o fizeram cair.

Enquanto Pia tentava se levantar, Harry, com certa dificuldade, moveu até ela e o soldado caído debaixo dela. Empurrou a moça para o lado, de forma bruta, e olhou para o guarda, que ainda estava caído e confuso.

Sem pensar duas vezes, Harry apertou mais a mão em volta do cabo e se jogou sobre o guarda. O homem só pareceu entender o que estava para acontecer quando Harrold já estava sobre ele, e arregalou os olhos. A faca de osso de baleia perfurou uma artéria do pescoço exposto do homem, rasgando a carne. O homem fez um som de engasgo e abriu a boca, expelindo o sangue. Os olhos escuros se esbugalharam mais ainda, como se não acreditassem no que havia acabado de acontecer.

Quando retirou a lâmina talhada, sangue esguichou como água rubra do pescoço do homem, que debateu-se em desespero, erguendo os braços e chutando o ar. Ferido, ele tentou tapar o corte, mas Harry observava que a vida esvaia-se dele, perdendo as força e fazendo um som bizarro com a boca, como se tentasse respirar.

Enquanto ele se debatia cada vez mais fracamente, Harry se levantou, com dificuldade, irritado com o sangue que respingou nele, manchando sua roupa com algumas gotas de sangue. Soltou a faca, deixando-a cair no chão. A lâmina e o cabo branco agora estavam rubros. Uma poça de sangue se formou em volta do cadáver, aumentando de tamanho, e cobrindo parte do chão.

Antes que se abaixasse, porém, para pegar as chaves, Pia — que havia lenvantado-se enquanto ele estava distraído — se chocou contra ele e começou a bater nele, com fúria.

— O que você fez? — Ela berrou, chorando, batendo nele. Estava claramente fora de si. — Como pode? Seu maldito!

— Pare, mulher! — Ele ordenou, enquanto ela o empurrava. — Pelos Deuses, será que você perdeu o pouco do juízo que lhe restava?

Harry tentou defender-se dos golpes com os braços, bloqueando-os; entretanto, não tardou, e logo ele se irritou e a empurrou com força, fazendo-a perder o equilíbrio e cair de costas no chão. Ao se estatelar no chão, a moça acabou fazendo um som lamurioso, como um choro de criança, levando uma mão para a nuca.

Suspirando, tentando se acalmar, Harry se agachou sobre o corpo morto, e vasculhou-o, pegando o molho de chaves que estava no cinto dele. Quando se ergueu, viu um vulto tentar pular sobre ele, e o bloqueou de forma instintiva, tendo de soltar o molho de chaves que havia acabo de pegar. Era Pia, novamente, agora com a faca de osso na mão, partindo para cima dele. Ele a impediu, mas ela lhe cortou levemente na bochecha, mas nem sentiu, pois seu coração estava acelerado e a euforia tomou conta de seu corpo. Nem mesmo sentia dor nos pulsos ou nos calcanhares.

Irritado, Harry agarrou o pulso da sua algoz, sem conseguir segurar o outro, por causa das limitações das correntes sobre seus movimentos, tendo de usar o cotovelo para apartar a moça. Torceu o pulso dela, até ela grunhir de dor e acabar por soltar a faca. Deu-lhe uma cotovelada no meio da cara dela, fazendo-a jogar a cabeça para trás e se desequilibrar. Teria caído, talvez até desfalecido, caso Harry não a tivesse agarrado pelos braços com fúria. Ele a balançou, como fizera antes, talvez até com mais agressividade desta vez, apertando-lhe firmemente os braços enquanto a fazia ir para frente e para trás de forma bruta e frenética, sem nem se dar conta de quanto tempo estava fazendo aquilo; mal se dando conta de como a força já havia deixado o corpo da moça.

— Puta maldita! — Berrou, encolerizado, enquanto a balançava e via a cabeça dela ir para frente e para trás em um frenesi bizarro. — Como se atreve a tentar me ferir?

Quando parou de movê-la, deu-lhe um tapa de mão aberta em cheio na bochecha dela, e depois deu-lhe outro tapa na outra bochecha. Foi tudo muito rápido, até para ele. A mulher não fez nenhum barulho em nenhum momento, exceto quando a palma dele fez a pele de suas bochechas gritarem com a agressão. Sua palma ardia, mas ele nem lhe deu atenção. Por fim, sentindo sua fúria só aumentar, deu um último golpe, desta vez, com a mão fechada em um punho, fazendo a pele de Pia gritar novamente, ouvindo um estalo estranho, fazendo sua mandíbula se deslocar do lugar de forma considerável com o impacto de seu golpe. Um dente lascado voou da boca dela e caiu no chão, assim como gotículas de sangue, enquanto esta ainda não gritava nada, e então Harry largou os seus braços.

Quando soltou a mulher, ela caiu de costas no chão, sem cerimônia, fazendo um baque surdo com o impacto. A parte de trás da cabeça atingiu com tudo o chão de pedra, e pareceu quicar como uma bola feita de bexiga de porco antes de cair de vez. Nem sabia se ela sequer estava viva. Nem sequer se importava com tal leviandade. Encarou a moça caída por um tempo, com muito ódio.

— Puta burra — Ele cuspiu em seu rosto.

Foi então ouviu mais um estrondo e voltou para si. O sangue fervente em seu corpo pareceu esfriar e Harry voltou para a realidade em que vivia: Estava em Harrenhal, isolado numa torre sinistra, e no meio de um temível ataque.

Voltando a si, ele balançou a cabeça, como se estivesse tentando sair de um transe, e se agachou novamente, pegando o molho de chaves do chão sangrento. 

Ele conseguiu soltar os elos que o prendiam, deixando-os cair no chão de pedra, um a um. Suspirou, aliviado, quando teve seus membros soltos. Só então sentiu a ardência onde Pia o cortou, levando, instintivamente, dois dedos para tocar a ferida, e sentiu uma leve dor ao tocar a região.

O que eu fiz?, se perguntou, isto não é digno para um rei ou cavaleiro... Heróis nunca machucam mulheres indefesas nas canções.

Ao olhar para Pia, viu seu corpo caído de barriga para cima. Seu rosto estava caído de lado, com o cabelo cobrindo a face, mas ele ainda podia ver a mandíbula quebrada dela, torcida para baixo. De repente, sentiu-se um tanto envergonhado do que fez a jovem. Tentou se agachar e ver se ela ainda estava viva, afinal, ele não a agrediu com tanta força, mas ouviu um rugido e voltou a ficar de pé de imediato.

Harry ouviu passos agitados e gritos, imaginando ser dos poucos soldados que o defenderam e sobreviveram. Talvez ele devesse salvá-los, mas o medo tomou conta de seu corpo e resolveu apenas pegar a lança que o soldado no chão e partir dali o mais rápido que conseguisse. Afinal, os homens que ali estavam presos dificilmente valiam a pena ser salvos, visto que nem sequer cumpriram seu dever de protegê-lo.

Antes de sair dali, porém, teve uma ideia.

Abaixou-se e retirou o meio-elmo do soldado e desabotoou o os botões da libré…

 Após se trocar, de forma apressada, Harry correu pelo enorme cômodo e abriu a porta, sentindo o bafo quente que vinha lá de fora, fazendo seus olhos arderem. Ele seguiu em frente, entrando na antecâmara, e indo até a sua porta. Seu corpo suava e ele sentia o cheiro de pele queimada subir em suas narinas, conforme o cheiro ficava mais forte, os gritos de agonia dos homens que lá fora morriam também aumentavam.


X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Arya e seus colegas estavam vendo tudo se tornar um caos, conforme o dragão incendiava o local com suas chamas douradas. Ela viu duas silhuetas montadas na criatura alada, mas nada que a pudesse fazer enxergar com clareza se eram Aegon e Daenerys — dificilmente era, visto que eles não estavam mais juntos. Além de que, boatos diziam que o dragão da Rainha era muito maior e de cor negra, parecendo Balerion renascido.

Uma carroça pegava fogo, enquanto um homem corria, imbuído em chamas. O dragão subiu na torre da viúva e rugiu para o céu.

— Para onde vamos? — Perguntou Gendry, desesperado, sentindo os olhos arderem com fumaça. Piscou com força, fazendo as lágrimas caírem de suas pálpebras. 

— Ei! Ei! — Arya ouviu Edmure gritar, e ela o encontrou na multidão, acenando para eles. — Sigam-me!

Arya assentiu e subiu em Nymeria, sentindo seu pelo quente.

— E os outros lobos? — Perguntou Ned.

A Stark balançou a cabeça. Já não havia o que fazer por eles.

Nymeria seguia as ordens de Arya, que agora via o mundo pelos olhos de sua loba, seguindo Edmure. Alguns homens o seguiam junto deles, Gendry e Ned fizeram o possível para acompanhá-los. A neve no chão derretia, graças ao calor causado pelo fogo.

— Para onde vamos? — Indagou Gendry, quase sem fôlego, mas Arya não lhe respondeu, sentindo a selvageria de sua loba tomar conta dele.

O dragão saiu da Torre da Viúva, batendo as asas coriáceas, e voou para o pátio, na direção oposta à deles. Provavelmente porque lá havia uma multidão de homens de armas, apavorados, correndo sem rumo, e esbarrando entre si. Logo, todos foram pegos pelas chamas do dragão cor de creme, com suas peles defumando e olhos derretendo, contorcendo-se em agonia.

Perto da torre dos Fantasmas, onde o vento uivava como fantasmas sinistros, e de um velho septo em ruídos, havia o portão leste, menor que o portão principal de Harrenhal. O portão ainda estava fechado, mas uma portinhola estava aberta, e, como tudo em Harrenhal, era maior que a maioria, grande o bastante para cinco homens passarem.

Aos empurrões, os homens que seguiam Edmure se empurravam para fora, logo atrás de seu lorde. Gendry logo se viu sendo empurrado pelas pessoas, sem poder se mexer por vontade própria, e perdendo o manto gorduroso que cobria seus ombros. Ned segurou sua mão, e ele a apertou tentando não se separarem. No entanto, quando o cavaleiro virou a cabeça, não conseguia ver sua amada e nem a sua loba selvagem.

— Arya! — Ele berrou, mas o som dos passos e dos gritos eram tão altos que nem ele ouvia a própria voz direito. — Arya! ARYA!

Edric logo foi separado de Gendry, sentindo os dedos calosos do cavaleiro escaparem de seu toque.

— NÃO! — O rapaz gritou, sumindo ao ser empurrado por um bando de homens brutos.

Gendry sentia a fumaça subir, queimando suas narinas e seus olhos. Seu mundo ficou borrado e ele piscou freneticamente as pálpebras, expulsando o líquido, como fizera antes, e sentiu lágrimas de vinagre arderem enquanto escorriam em sua face. Sua faixa se soltava, e ele sentia o corte na bochecha voltar a sangrar.

— ARYAAAAAAAAAAA!

Ele logo viu o portão passar por cima de sua cabeça, e ele logo estava do lado de fora, vendo a floresta queimada que havia do lado de fora.

 


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