Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 23
Harry, o imbecil




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Gendry acordou com os braços ao redor de Arya, que estava de costas para ele. Ele sentia o calor do corpo dela. Afundou o rosto nos cabelos castanhos dela, sentindo o cheiro de cinzas e terra neles. Sorriu.

O enorme quarto tinha uma grande e retorcida lareira, muito maior que um homem e incrivelmente larga. O fogo nela já estava apagado, com apenas algumas cinzas pairando no ar e pedaços enegrecidos e acinzentados da lenha queimada, totalmente retorcida pelas chamas. Ninguém entraria para reacender a fogueira, por ordens da própria princesa Arya, dando privacidade para ela e seus companheiros.

Nymeria estava no centro do quarto, roendo um osso. Arya não se separava dela por nada no mundo.

Gendry levou os lábios até a clavícula de Arya e beijou o local, levou uma mão até o seio dela e deu um leve apertão, querendo acordá-la. Queria fazer amor com ela.

A jovem loba soltou um gemido, um tanto irritado, e tentou afastar o rosto dele quando ele tentou dar um chupão no pescoço dela, empurrando-o com a mão, mas ele continuou forçando caminho com a cabeça, até sentir a pele morna dela entre seus lábios e lamber o local. Gendry passou os braços pelos quadris dela, envolvendo-a e puxando para perto de si.

Arya riu, tentando se afastar, mas era tarde, ele já estava a enchendo de beijos e passando por cima dela. Quando estava com o corpo sobre o dela, ele abriu a boca e envolveu o mamilo de um dos seios dela, lambendo e depois mordiscando-o. Desceu uma mão de dedos calosos até a fenda entre as pernas de Arya, sentindo o calor da região úmida. Ao adentrar dois dedos, Gendry os mexeu, fazendo a jovem gemer.

Arya o envolveu com os braços, enquanto ele retirava os dedos do meio das pernas dela. Ele colou os lábios febris de amor dele nos dela, empurrando a língua para dentro dela e lambendo-a. Deslizou seu membro para dentro dela, se empurrando contra o corpo dela e fazendo sua princesa gemer mais de prazer. Deslizar nela era como óleo, diferente do que Gebdry achou que seria quando dormiu com ela pela primeira vez, mas nunca indagou com quem a companheira teria ficado antes dele. Sentiu pontadas de dor enquanto as unhas de Arya cravaram em suas costas, fazendo linhas vermelhas e ardentes. Ele sentiu ela ficar mais úmida entre as pernas e imaginou que ela já havia gozado seu semên feminino no falo endurecido de Gendry.

Quando ele derramou sua semente nela, empurrando-se mais frenéticamente contra o corpo dela, deu um grunido, exausto. Não havia problemas em gozar dentro da fenda dela, pois Arya saboa usar ervas para não engrávidar; não teriam bastardos sendo gerado.

Às vezes, Gendry se perguntava se um dia Arya deixaria a semente dele vingar em seu ventre; deixando assim ela florescer e virar um bebê em sua barriga. Claro, ele também não gostaria que isso acontecesse — pelo menos não se o filho fosse bastardo; todavia, se eles pudessem se casar, ele gostaria de ter um filho para chamar de seu e cuidar. Seria um bom pai para a criança, fosse garoto ou garota. Porém, infelizmente, nada tinha para oferecer a um herdeiro, afinal, Gendry era um bastardo, e nunca nem foi reconhecido — ou mesmo conhecido — pelo falecido pai. Nem mesmo um nome ele tinha para passar para os descendentes.

Entretanto, Arya tinha descendência boa, e talvez pudesse ter um lugar em Winterfell ou uma boa moradia no Norte ou no Tridente. Não importava, qualquer lugar que ela em que ela estivesse, ele estaria também.

Após dar outro beijo na clavicula dela,  girou para o lado da cama, ofegante. Seus cabelos pretos estavam grudados na testa e a pele estava lustrosa pelo suor. Seu coração batia forte no peito, como um tambor frenético. Gendry olhou para Arya, totalmente suada e descabelada, com manchas de sujeiras pelo corpo, pois ainda não tinha se banhado desde que chegara no castelo, trazendo toda a sujeira da relva com ela. Ele gostava disso, dava um ar selvagem para ela; fora neste estado que ela estava quando eles treparam pela primeira vez.

—Bom dia, princesa —Gendry brincou, com a voz arquejante, enquanto tirava uma película de suor da testa com as costa da mão calosa. —Eu fui um bom servo e te satisfiz? Hum?

Arya deu um sorriso, meio cansado.

— Seu bobo… —Ela disse, coçando um dos olhos, inchados pelo sono.

Quando ele olhou para os seios da sua princesa, o mamilo no qual ele mordiscara estava vermelho e com o bico inchado, com marcas das mordisda em volta.

Ned, ao qual Gendry nem se lembrava de estar compartilhando a cama, esticou uma mão e segurou a mão direita de Arya, dando um leve sorriso.

Pior que ele é bonito, pensou Gendry, um tanto enciumado, enquanto observava o dornês e Arya se aproximarem um do outro. Ele não era realmente tão favorável a Ned, ele apenas quis agradar Arya; foi pelo mesmo motivo que o fizera seu escudeiro em primeiro lugar. Desde que Edric não os causasse alguma querela, estava tudo bem. Por sorte, pelo menos alguns dos dorneses pareciam um pouco mais abertos do que o resto de Westeros em questões amorosas.

Embora talvez abertos até demais...

Em uma das situações em que faziam amor com Arya, Gendry poderia jurar que a mão de Edric o alisara durante o ato, e isso o perturbou e fez sua pele arrepiar. Por sorte, nunca mais aconteceu.

Enquanto Ned e Arya se beijavam, alguém bateu na porta dos aposentos, ecoando o som das batidas no enorme aposento.

Arya disse uma praga, mas Gendry fez um gesto com a mão, indicando que ele iria até a porta. Se cobriu com um cobertor de pele gordurosa e foi ver quem era. Ned passou por cima de Arya e ambos se cobriram com um cobertor de veludo; o dornês começou a beijar o rosto dela e a jovem abriu as pernas, pronto para deslizar para dentro dela.

Apesar de não gostar muito do escudeiro — escudeiro este que ele só aceitou para agradar Arya —, Gendry sorriu ao ver os dois juntos, afinal, Ned dava para prazer a Arya, e Gendry gostava de ver ela feliz.

Enquanto Gendry andava até a porta, o soldado bateu novamente nela, nervosamente.

— Já vai, porra! — berrou, andando a passos largos pelo quarto.

Teve que caminhar alguns passos a mais do que seria necessário para chegar até a porta e abrir.

O soldado que batia na porta usava um gibão de couro, com uma roda de carroça cozida no peito.

— Silêncio, minha Senhora está dormindo —Gendry mentiu, abrindo a porta dos aposentos e se interpondo entre o homem parado na porta e a visão de Arya com Edric no colchão de palha, onde o dornês mordiscava o pequeno seio dela. — Que quer?

O homem o olhou com desprezo, para variar, e ignorou o que o cavaleiro disse. Seu olhar pareceu virar nojo ao ver que Gendry estava seminu, suado e cheirando a sexo. Ainda sentia a ardência nas costas, onde Arya o havia arranhado.

— Não vim aqui falar com você, bastardo. —Ele disse. — Vim falar com a princesa Arya.

— Está dormindo — repetiu — Volte depois.

Tentou fechar a porta, mas o soldado colocou o ombro contra a madeira, impedindo-o.

—Escute aqui, seu bastardo…

Gendry parou de fazer força contra a porta, irritado. Ele queria ter pego a espada antes de ir, se tivesse, aquele pomposo iria…

— Deixe-o, Gendry — Arya disse, se levantando da cama, cobrindo-se com um velho roupão e indo até a porta. — Diga-me o que é.

Gendry bufou, mas fez o que a jovem mandou. Ele largou o ferrolho de ferro retorcido e deu um passo para trás, deixando a porta se abrir.

Quando a jovem Stark apareceu em frente ao homem, ele pareceu ficar desconfortável ao vê-la. A nudez do pequeno e magro corpo da princesa estava bem exposta, pois ela não atou bem o cinto do roupão, deixando a barriga à mostra e um pouco dos seios. Apesar disso, o enviado ignorou o rubor que subia em seu rosto, tentando olhar apenas para os olhos cinzentos de Arya, e disse:

—Princesa, seu tio e o rei Harry estão discutindo na torre do rei, alguns lordes pensaram…

—Certo, vou me arrumar e ver o que eles estão dizendo. —Ela disse e fechou a porta. Virou-se para Ned, ainda nu na cama. — Teremos de terminar o que estávamos fazendo depois, Ned. Desculpe.

O rapaz sorriu e assentiu, levantando-se da cama, revelando o corpo nu.

— Eu ajudo vocês a se vestirem — ele se ofereceu.

Arya se virou e deixou o velho roupão cair no chão, expondo seu corpo magro e cheio de cicatrizes. Só a simples visão daquilo fazia o corpo de Gendry voltar a queimar. Sentiu seu falo duro, mas ignorou, sabendo que ela não estaria mais afim.

Arya usou um gibão de couro fervido e botas de cano alto, colocando a Agulha no cinto fino. Edric ajudou-a trançar o cabelo castanho.

Gendry colocou as belas botas de couro azul e bordas douradas que ele pegara do mercenário morto por Nymeria, usando um belo gibão de couro azul com rebites de ferro dourado. Pegou uma das adagas em forma de mulher.

—Por que usa essa coisa ridícula? —Perguntou Arya, enquanto ele encaixava a lâmina no cinto de couro.

Ele deu de ombros.

—Acho elas legais.

Arya franziu o cenho, enquanto o prestativo Edric pegava luvas para ela.

—Eram do amante da Rainha —Ela lembrou.

Gendry riu.

—Bem, ele tinha bom gosto. — Disse, mostrando as belas botas que usava. — E devia ser ótimo na cama, só assim para ela dormir com alguém feio como aquele homem.

Arya terminou de encaixar as luvas de couro forradas com pele.

— Você devia ser mais cuidadoso. — Arya o avisou. — Alguns lordes não vão gostar de você estar…

—Fodendo a princesa? — Sugeriu o Cavaleiro, sem compartilhar dos medos dela.

— Tão bem vestido — Corrigiu Arya. — Podem reclamar.

— Que reclamem. — Ele respondeu, cruzando os braços. — Que podem fazer? Eu sou seu amante, não podem ir contra isso.

Ned interveio:

— Arya tem razão, Sor. — Disse o dornes, prendendo um belo manto púrpura com renda de prata sobre os ombros, preso por um alfinete em forma de espada. Usava um belo gibão roxo-pálido, com renda dourada. — Em Dorne, você seria visto como um igual, mas estamos no Tridente, aqui os lordes não respeitam os gostos das mulheres. Aqui, os homens não podem ser amantes; assim como os bastardos não aquecem as camas das princesas.

As narinas de Gendry dilataram.

— Sou bastardo de um rei — Lembrou-os. — Não mereço algum tratamento especial?

— Você sabe que isso não muda nada. —Respondeu Arya.

Ele estalou a língua.

—Claro, os lordes pomposos dizem que só é digno de mandar em algo se você for filho de alguém importante, não se for bom em algo — Gendry disse, irritado. — Mas não quando é o filho de alguma puta.

Arya revirou os olhos.

—Não comece…

— O marido da sua irmã, por exemplo: ele não sabe fazer nada, mas usa a coroa por pura sorte. E adivinha? Ele não tem nada além de ser filho da pessoa certa pra mandar num reino e liderar exércitos.

—Já terminou? —Arya perguntou, colocando um manto cinza pelos ombros e fechando com um pingente em forma da cabeça de um lobo prateado.

Gendry assentiu, apesar de ainda estar irritado.

—Terminei.

—Ótimo. —Ela assentiu e bateu umas palmas na própria perna. —Nymeria. Vem.

A loba largou o osso roído e foi até a dona.

Uma ponte conectava a torre de Arya à torre de Harrold; ela a conhecia, pois ainda se lembrava dos tempos em que era uma serva disfarçada, servindo os Lannister e, após eles, os Bolton. A largura era tão grande, que mesmo após anos, Arya ainda se sentia uma pequena garota naquele caminho íngreme. Pareciam andar entre montanhas, não torres.

Arya e seus amantes e loba entraram sem serem anunciados. Muitos lordes deram espaço para eles, embora fazendo caretas feias. Não gostavam de Gendry ou de Edric, muito menos de Nymeria. Na verdade, Arya achava que também não deviam gostar dela, mas tudo bem, também não gostava deles.

Apenas Edmure e Harry pareceram não lhes notar.

Seu tio e o rei estavam discutindo, com Edmure em pé, braços estendidos pela mesa e o marido de Sansa sentado, olhando para ele. Um jovem de cabelo oleoso estava em pé ao lado do Rei; Arya o tinha visto em Winterfell em alguns momentos.

— Vossa Graça — Disse Edmure, parecendo visivelmente irritado e cansado. — Eu não entendo por qual motivo recusa em deixar inocentes entrarem no castelo.

A loira cabeça Harrold estava encimada por uma coroa de ouro com safiras, que realçava seus intensos olhos azuis; apesar de lindo, o diadema era claramente muito grande para a cabeça do monarca. Ele era um homem bonito, Arya não poderia negar, mas péssimo em praticamente tudo que se propunha a fazer. Na verdade, mais valia Sansa ter ido para o Tridente ela mesma do que o marido.

—Eu já lhe disse, Lorde Edmure. — Disse Harry, sentado em sua cadeira, enquanto erguia a cabeça para olhar o tio de Arya. —Não podemos perder tempo com bocas inúteis. Acha que vale de alguma coisa deixar um bando de gente suja e sem casa entrarem e comerem da nossa comida?

As mãos de Edmure se fecharam em dois punhos sobre a mesa.

—Dothrakis estão atacando o reino! —Ele explodiu. — Milhares de mães terão seus maridos e filhos mortos, e depois serão estupradas; garotinhas também! Pelos deuses, os homens e mulheres que não morrerem irão ser escravos!

Harry deu de ombros, como se quase falasse “lamento, mas o que eu tenho a ver com isso?”.

—Então que os Dothraki cuidem de alimentos. — Harrold respondeu, se recostando na cadeira, depois deu um leve sorriso. — Bem, quem sabe isso não os faça esgotar os próprios suprimentos mais rápido? Pelo menos assim seriam úteis. Além do mais, um estupro ou outro acontecem o tempo todo. Isso se chama guerra, Milorde. Algo que alguém como o senhor já devia saber. 

Lorde Edmure abriu a boca, indignado com as palavras de seu rei.

—Vossa Graça acha tragédias assim engraçadas? — Indagou Edmure, indignado.

Harrold revirou os olhos.

—Pareço achar? Lamento, mas não. Na verdade, ando bem irritado.

Edmure cruzou os braços.

—Uma pena, lamento que esteja tendo uma vida tão difícil. — Debochou Edmure, seco. — Mas os invasores estão a queimar nossas plantações.

—Ótimo, assim eles vão morrer de fome mais rápido. — Harry franziu o cenho. — Espere, eles não voltaram para a Capital?

O lorde de Riverrun deu de ombros.

— Aparentemente, não.

Harrold franziu as sobrancelhas loiras.

—Que estranho, eu poderia jurar… —Balançou a cabeça. —Não importa. Esses portões vão continuar fechados. Este é meu comando.

Edmure torceu a boca e ficou vermelho, se segurando para não falar nada.

—Já chega. — Disse o jovem ao lado de Harry. — Esta sessão já acabou, Lorde Tully. O Rei já deu sua ordem.

Edmure o olhou com irritação; porém, foi Brynden, quem até então estava quieto, que disse em tom de troça:

—Vejo que o rei precisa se esconder atrás do primo quando não está atrás das saias de minha sobrinha. 

Harry o olhou, surpreso e indignado, e se levantou rapidamente da cadeira.

—Como se atreve a dizer tal insolência? — indagou Harry — Eu sou o seu Rei, velho!

Sor Brynden não se abalou.

—Meu sobrinho-neto era mais novo do que você era agora. — Disse o Peixe Negro. — Mas ele tinha mais cérebro e coragem do que você jamais terá. Robb era um rei de verdade, você é só um rosto bonito. Uma pena minha sobrinha estar casada com você.

Harry pegou o punho da espada e a tirou da bainha, fazendo o metal cantar ao raspar no couro. Apontou a lâmina preta, com um brilho azul fosco, para Sor Brynden, que pouco se importava com a lâmina a centímetros de seu rosto.

—Retire o que disse!

As lâminas cantaram.

Diversos lordes retiraram suas espadas e punhais das bainhas, fazendo o som do metal ressoar pelo enorme cômodo. A loba de Arya se eriçou.

Gendry e Edric iriam fazer o mesmo, mas ela os impediu ao tocar o no braço de Gendry, que estava agarrando o punho da espada.

Arya fez um sinal e Nymeria jogou a cabeça para trás e uivou. O som reverberou pelo enorme aposento, chamando a atenção de todos.

— Agora chega — Disse Arya, quando todos se acalmaram. — Não é hora de ficarmos brigando entre si. — Arya olhou para Peixe Negro. — Desculpe-se.

Brynden acenou com a cabeça e encarou Harrold.

— Desculpe-me, Vossa Graça. — Ele disse, de forma simples.

Harry olhou para ele. Apesar de visivelmente irritado, com o rosto ficando vermelho, abaixou a espada.

— Que seja. — Ele colocou a espada na bainha. Voltou-se para Arya. — Cunhada, vejo que todos os seus animais seguem você para onde for.

Arya ignorou o insulto — e o “cunhada” —, embora Nymeria tivesse mostrado os dentes para Harry.

— Você deve deixar os plebeus entrarem. — Ela disse, indo até perto da mesa onde ele estava.

Arya entendia bem a situação: os dothraki, ao contrário do que se esperava, não voltaram para a Capital como se esperava que fizessem; eles simplesmente se dispersaram pelas terras banhadas pelo tridente, queimando e saqueando qualquer lugar que encontrassem. Vários lordes já haviam queimados florestas para eles terem fome, mas nada disso os impediu de invadirem várias aldeias, nem de matar inocentes.

Curiosamente, ao contrário do que esperavam, a companhia dourada não veio ao auxílio, com seu enorme exército e elefantes. Nem mesmo um dragão.

Os ataques fizeram com que diversos inocentes desabrigados fossem ao auxílio de Edmure, mas encontraram os altos portões de Harrenhal fechados para eles. Harry era o culpado disso, fazendo ouvidos moucos a qualquer apelo do tio de Arya. Proibira até dar-lhes comida, e Arya sabia que talvez ele estivesse quase mandando atirarem flechas neles.

A Stark sabia pelo que aquelas pessoas passavam; poucos anos antes, ela era uma entre as milhares de jovens que vagavam com medo e perdidas na guerra. Ela não queria que isso continuasse assim.

— Vossa Graça, peço-lhe que escute meu tio e deixe o povo entrar. — Ela disse, de forma calma e polida. Aprendera a muito tempo que ser uma garotinha irritada não iria lhe ajudar em ocasiões como aquela. — As pessoas…

— Pelos Deuses, cunhada — Harry disse, com pouca paciência para ela —, se nem o teu tio convenceu-me a abrir os portões, como raios acha que vai me fazer mudar de ideia? — Balançou a cabeça. — Os plebeus tem sorte de não mandar-lhes flechas ao invés de comida. Eles ficam onde estão ou partem para longe; a escolha é deles.

—”Escolha”? — indagou Edmure, juntando as sobrancelhas, como se estranhasse aquela escolha de palavras — Estas pessoas não tem escolha alguma! As poucas cidades reconstruídas estão sendo destruídas! Que escolha eles têm, Majestade?

Harry deu de ombros. Não achava que era problema dele. Estou tentando ajudar na guerra, mas eles insistem em perder tempo com coisas pequenas e sem importância alguma. Se perguntou que ajuda um bando os mortos de fome lá fora poderia dar para eles na guerra. Era melhor deixá-los se virar ou morrer logo.

— Eles não tem enxadas? — perguntou Harry — Pás, espadas, qualquer coisa…? Eles que se defendam. Afinal, os Dothraki não usam armadura.

—GENTE DO POVO TAMBÉM NÃO! — berrou Edmure, para além da raiva. Arya nunca vira o tio assim, sempre pareceu-lhe calmo, e talvez até um pouco pateta. Sua pele estava tão rubra quanto os cabelos que tinha. — Acha que eles estariam aqui se pudessem se defender, seu imbecil? Acha mesmo isso?

Harry apertou os olhos e voltou a segurar o cabo da espada.

—Posso ter a vossa cabeça por isso… — Avisou, fixando o olhar no tio de Arya.

— Vá, faça — Edmure o desafiou — Nem os dias preso com os Frey foram tão desgastante quanto ficar com você e essa sua "incompetência Real".

Um grande murmúrio se formou no salão, com todos os lordes falando ao mesmo tempo, irritados, cada um com seus motivos para tal.

—Lorde Edmure — um cavaleiro do Vale disse —, não pode falar assim com o nosso rei!

Um dos filhos de Blackwood deu um passo adiante.

— Esse homem não é um rei! — Ele disse, devia ter uns vinte dias de seu nome. Seu irmão era um protegido em Winterfell. — Em nada ele nos ajuda! Parece mais fraco que a sua esposa!

O cavaleiro do Vale o olhou irritado.

— E seu lorde se esconde atrás de crianças e mulheres, pelo que vejo!

O jovem Blackwood estava prestes a pegar um punhal, mas seu pai foi mais rápido e retirou a espada da bainha.

—Fale do meu senhor suserano e de meu filho de novo — avisou — e eu arranco suas bolas e as coloca na garganta!

— Eu lhe ajudarei nisso — Disse lorde Bracken, retirando a lâmina do cinto. — Estes homens do Vale são mais irritantes que a vossa casa.

— Senhores, por favor! — Berrou lorde Yohn Royce, que envergava uma armadura de bronze com runas dos primeiros homens, erguendo um pouco os braços — Nós não somos Frey!

Edmure levantou uma mão, calando os lordes do tridente. Pelo menos a ele respeitavam.

— Por favor, sem brigas amigos — Disse o lorde do Tridente. — Eu deixei-me levar pela raiva. — Voltou-se para o rei e curvou-se. — Lamento, Vossa Graça.

Harrold parecia estar prestes a berrar algo e tirar a espada da bainha, mas o jovem ao seu lado colocou uma mão no braço que segurava a empunhadura e ele parou.

Harrold inspirou longamente, depois soltou o ar dos pulmões, tentando se acalmar. Aqueles lorde do tridente eram um bando de dementes.

— Os plebeus podem acampar em frente às muralhas — Disse —, se por acaso alguém quiser montar guardas para ele, ou até dividir comida, que o façam, não os impedir-lhe-ei. Entretanto, aqueles que o fizerem, terão de dar a própria comida e gastar de seu próprio tempo fazendo guarda, tendo inimigos à solta e no frio. — Ele se dirigiu aos lordes na sala. — E então? Alguém se propõe?

Os lordes se olharam em dúvida, mas, no fim, pelo menos vinte homens aceitaram.

Harry acenou para eles.

— Certo — Ele disse, ao ver os idiotas que se qualificaram para a perda de tempo. — Que os deuses lhes protejam.

— Eu também posso ir, se o senhor assim quiser. — Arya se dispôs. Não se importava com um pouco de frio.

Alguns lordes reclamaram e outros soltaram alguns risinhos, mas a Stark os ignorou.

— “Se Vossa Graça assim o quiser”, cunhada. — Corrigiu Harrold. — Sem dúvidas vossa irmã ainda deve lhe ensinar bons modos.

Aquilo fez os outros lordes rirem mais alto, para a irritação de Arya.

— E não, eu não lhe permito. — Disse Harry — É a irmã da rainha do Vale, o que faz minha cunhada, e irmã do rei do Norte. Colocar-lhe em perigo não é digno de um rei, assim como não é digno de uma princesa se colocar entre um bando de mortos de fome e lobos. Que seu bastardo de estimação faça o serviço no seu lugar — Ele fez um gesto com a mão, indicando que ela podia ir e se sentou na cadeira. — Saí, princesa, tenho outros assuntos a resolver.

Arya respirou fundo, se controlando para não falar nada que o irritasse. Fez uma vénia.

— Vossa Graça. — Ela disse, se virando.

—E melhore essas reverências. — Ele disse — Parece um bicho do mato.

Gendry se virou, mas Arya e Ned o seguraram pelo braço e o levaram para fora. Quando saíram, Edmure voltou suas atenções para o Rei.

—Vossa Graça…

— E veja se consegue algo daqueles famintos lá fora — Disse Harry, lendo algum papel que Roland pousou na sua mesa, franzindo o cenho. — Pelos Deuses, Vila Gaivota quer mais dinheiro? Nessa guerra? — Balançou a cabeça — Mande-os aumentar os impostos. E que me enviem pelo menos um terço. O pai de Açafrão certamente vai pagar…

— Meu Rei — interrompeu Edmure — que quer dizer com “conseguir algo”? Que pensa que eles têm para nos dar?

Harry deu de ombros.

— Algum animal que eles salvaram e que pode nos alimentar; alguma prata ou cobre que trouxeram com eles… — Ele se virou para Roland — Mande aumentar o preço dos vinhos no porto, assim os comerciantes conseguem alguma riqueza nesse inverno.

Os olhos de Edmure se esbugalharam.

—Quer cobrar o povo? — O tio de Sansa perguntou, incrédulo. — Vossa Graça… isto… isto é um absurdo!

Harrold riu da expressão do homem. Pegou uma pena e afundou na tinta preta algumas vezes, para escrever no pergaminho.

— Ora, não vejo motivos — Ele disse — Se quiserem comida, que paguem por ela. Três moedas de prata por um naco de pão, cinco por um pão inteiro. — Apontou para Edmure com a tinta. — Se forem pagar com moedas de cobre terão que pagar com o triplo de moedas de prata. Ah, e devem ter as próprias tigelas, ou pagar por elas.

Edmure o olhava, sem expressão alguma. Os olhos fixados nele.

— Na verdade — Disse Harry, enquanto escrevia no pergaminho, de forma leviana. — Estou a mandar aumentar os impostos no Vale também, afinal, essa guerra custa muito caro. Sabe, eu realmente nem sei porque não fiz isso antes… Digo, o inverno chegou, por qual motivo não aumentariamos uma coisa ou outra, certo? — riu.

Roland se virou para ele, alarmado.

— Harry…

O rei voltou-se para encará-lo.

— É “Vossa Graça”! — Corrigiu, colerizado. — É tão difícil assim lembrar-se? Pelos Deuses, não é como se fosse assim um trabalho tão complicado!

—Vossa Graça — corrigiu-se Roland, atrapalhado nas palavras —, está mesmo mandando aumentar os impostos do Vale?

— Sim. Estou.

— Mas eles já foram aumentados! — Lembrou seu primo. — E eles já estão quase sem grãos!

Harrold deu de ombros.

— Mandei os Arryn de Vila Gaivota cuidarem disso — revelou Harry. —Coloquei a arrecadação de impostos a um rico comerciante, o pai da mãe de meu segundo filho.

— Como? Que pretende?

Harrold ignorou a irritação ao ouvir que seu primo parecia lhe dar ordens, e respondeu:

— Preços especiais para os vinhos — Ele revelou — Cada um tem um preço especial, mandei cobrar novamente os mercadores e os comerciantes com navios; aqueles que não pagarem terão seus navios e bens apreendidos, até que nos paguem.

Os lordes da sala se olharam, chocados.

— Harrold, meu Rei — Disse Bronze Yohn. —, acredita mesmo que este é um bom caminho a se seguir?

Harry acenou, simplesmente.

— O mesmo acontecerá com os do Tridente — Ele disse, enquanto escrevia. Achava chato, mas talvez assim o respeitassem mais, embora enchesse seus dedos de tinta.

Brynden indagou:

— Que brincadeira é essa, Sor?

O Rei franziu o cenho.

— Não é brincadeira. É um decreto real. — Corrigiu. — Baseados nos primeiros decretos de impostos do Reinado do grande e amado Rei Jaehaerys.

Seu primo Rolland franziu o cenho e olhou para Harry.

—Como sabe disso? — Cochichou, parecendo não acreditar que Harry sabia um pouco da história de Westeros.

— Porque eu sou o Rei, pelos deuses! — Respondeu, irritado. — E não são só esses: todos devem pagar pelo tamanho de suas moradias; cada dono de estalagem, cada morador com uma casa grande, ou um comerciante com uma rica mansão. Até os mendigos.

— Eles terão de pagar a coroa um preço exorbitante! — Exclamou Edmure — Não pode achar que vão aceitar!

— Ou vão, ou morrem. — Declarou Harrold, ajeitando a coroa que caia para um lado. — Caso não nos paguem, serão executados de forma cruel: enforcados duas vezes, retirados, ainda vivos, para ter o estômago aberto e as vísceras retiradas. As execuções podem ser assistidas, pelo preço de três moedas de cobre ou uma de prata; nada mais justo não acha? Assim, os executados pagam um pouco do que nos deviam.

O Lorde Tully fez uma expressão de dor ao ouvir como os plebeus seriam executados. Harry Deixou a pena no tinteiro 

— E fique tranquilo, os comerciantes são quem mais irão nos pagar, não os pequenos.

—Majestade — Disse Edmure —, se sabe que o Velho Rei usou estes impostos no pós-guerra, também deve saber que estes são os mesmos impostos usados por Rhaenyra Targaryen durante a Dança dos dragões — avisou, embora Harry nem soubesse que ela tinha instalado tais impostos. — E nem os dragões foram capazes de salvá-la da fúria dos pequenos “mortos de fome” quando estes se rebelaram, quem dirá nós nos salvarmos!

Harrold riu perante as preocupações do Lorde supremo do Tridente.

—Sor Edmure, tenho certeza que não vamos ter tais problemas. 

— Daenerys não é só apoiada por dragões e deuses pagãos — lembrou-lhes Peixe Negro — Ela e Aegon tem o apoio da fé militante e do Alto Septão! Se os povo pequeno…

— O tal “Alto Pardal”? — Harry zombou — Aquele velho é só um mendigo supremo, apenas isso.

Sor Brynden não compartilhava de seus gracejos.

— Esse tal “mendigo supremo” foi eleito pelo povo e prendeu duas rainhas de duas grandes casas. — Lembrou — Além de ter ajudado diversos plebeus com os problemas deixados pela guerra. Não podemos deixá-lo de lado em questões como essa.

— Bem, eu não penso assim — Harrold disse, cansado de só ouvi-los duvidar de suas palavras. Agora, já não tinha mais de aguentar o cunhado ou o irritante Rei Stannis no seu pé, nem as incessantes lamúrias de sua esposa. Não tinha ninguém acima ou igual a ele ali. — E se um rei pensa de um jeito, o reino pensa igual.  

Os murmurinhos foram ouvidos, com vários lordes parecendo degradados com sua decisão, mas assentindo mesmo assim.

— Agora, milordes, podem me deixar a sós com meu primo, Rolland? — Ele perguntou, mas sabiam que era uma ordem real.

Enquanto todos os lordes faziam vénia e saiam, Edmure e Brynden demoraram a se retirar.

— Estes impostos são um erro. — Edmure disse, quando todos os lordes saíram. — Imploro para que os repense, Vossa Graça.

— Não. Não serão repensados. — Disse Harrold, irritado com a arrogância daquele homem. — Eles serão colocados em ação, logo. Assim como os outros.

Tio e sobrinho se entreolharam, Roland olhou para Harry.

—Que outros, vossa graça?

— Bem, as tapeçarias serão cobradas, as que usam de fios de ouro ou prata, assim como as peles, temperos, por aí vai… — Ele revelou. — E, usando como exemplo o imposto de Tywin quando este era mão do Rei Joffrey, teremos uma taxa extra para as prostitutas. — Harrold riu, achava este último especialmente engraçado.

Ninguém além dele achou graça alguma.

— Não acha mesmo que isso vai dar certo, não é? — indagou Roland, irritando Harry. Havia esquecido novamente o tratamento real. — O reino está um caos!

Edmure ecoou os receios do primo do rei:

— Ele tem razão, Vossa graça, não há como cobrar os pequenos. Pelo menos não no tridente, em meio a guerra.

Harry sorriu, estava preparado para isso.

— É por isso que eu tenho uma tarefa especial para o senhor e o vosso tio.

Peixe Negro grunhiu, parecendo preocupado com o que viria.

— Ah, tem é? — indagou o velho cavaleiro — E qual seria?

— Você e Lorde Edmure conhecem bem os senhores do tridente, então, vosso dever é encontrar os cavaleiros mais inescrupulosos e fiéis destas terras, lista-los e dar-me seus nomes.

— E para que? — Edmure perguntou, parecendo duvidoso com aquela tarefa.

— Não pergunte — Disse Brynden, tarde demais — Vai se arrepender…

— O trabalho de vocês é simples — Disse Harry — Após fazerem a lista, eu irei fazer um decreto real para cada um dos escolhidos; após isso, os inquisidores reais — é assim que vamos chamá-los — irão cobrar as dívidas de cada nobre pequeno, comerciante e plebeu que acharem no caminho; caso não o paguem, serão executados, como já disse, mas antes, serão severamente interrogados, assim, podemos saber se escondem ouro ou se sabem algo de nossos inimigos.

Os três homens que faziam companhia ao rei empalideceram e esbugalharam os olhos.

— Vossa Graça… —Começou Edmure.

— Nem se atreva… — Avisou Brynden.

— Harry, pelos deuses… —Censurou Rolland.

— Chega! — Bradou Harrold, farto daqueles homens. — Eu quero assim e assim o será! Entendido?

Os três se entreolharam, parecendo ovelhas perdidas. Finalmente, assentiram.

Antes de saírem, porém, Brynden falou:

— Vossa Graça, eu vejo que seus lordes estão irritados — Observou — Sem dúvida querem a guerra…

Harry juntou os dedos das mãos, fazendo uma casa, e descansou o queixo sobre as costas das mãos.

—Prossiga, sor.

—É uma perda de tempo ficar parados aqui, devemos dar moral aos nossos soldados, dar-lhes o sangue que tanto querem.

— É para isto que teremos os inquisidores. E eles também tem o povo faminto além destas muralhas — Ele disse, dando de ombros — Podem fazer o que quiserem com eles, eu não me importo.

Edmure fez uma careta, mas seu tio continuou. Peixe Negro também gostou da resposta.

— Esses nobres e cavaleiros merecem mais do que serem simples caçadores, meu rei. — insistiu. — Eles merecem mais do que isso, assim como você.

— E o que sugere?

— O que eu sugiro é lutarmos contra os Dothraki — Ele disse —Uma parte deles está próxima a vila de Lagoa da Donzela. Podemos tentar salvar a vila e as pessoas nela se…

— Não. — Disse Harry, com preguiça de ouvir o restante do que ele tinha a dizer-lhe. Encarou o primo — Ainda temos vinho? Estou morrendo de sede. Junte-o com água, sim? Tenho que manter a mente limpa, pelo menos até terminar de escrever tudo.

Brynden, aborrecido, estava prestes a falar algo, mas se conteve e saiu do cômodo, seguido pelo sobrinho.

— Você devia escutá-los, Harry — Disse Roland, quando ficaram a sós, enchendo a taça de Harry com um pouco de água. — Eles sabem o que é melhor para o reino.

Harrold grunhiu. Estava farto de tantas pessoas saberem mais do que ele; ele era o rei. Ele era quem tinha a fronte coroada. Sansa era apenas sua consorte, Jon era um bastardo legitimado e Aegon era um usurpador de uma casa bizarra. E Edmure e Brynden eram apenas vassalos, não monarcas. Peixe Negro nem lorde era.

Além do mais, ele estava seguindo conselhos de Petyr Baelish, que havia lhe dado bons conselhos sobre como conseguir dinheiro; isso iria ajudar a pahar os custos da guerra e a divida com Braavos. Petyr também foi gentil o bastante para não tomar parte naquilo; ele sabia que seria melhor para a imagem de Harrold como um monarca legítimo se as decisões parecessem vir dele.

Petyr era um homem fiel.

—Eu não tenho de fazer nada que eu não queira — Ele rebateu. —Não quero mais ouvir falar disso.

A contragosto, seu primo assentiu.

— Anda — Mandou Harry —, aqueça um pouco minha bebida.

— Como quiser, Majestade. — Respondeu Roland, torcendo a boca e levando a bebida até um braseiro perto da mesa. — Lady Sansa enviou alguma carta?

Harry abanou a cabeça.

— Nenhuma. Nem ela, nem o irmão.

Roland assentiu, vendo o vinho no copo de estanho borbulhar pelo calor do braseiro.

A última carta que teve da esposa, era de que Daenerys havia chegado em Porto Branco. Desde então, temia pelo pior.

Se a rainha louca a matar, estará fadada a ter guerra; nenhum dos três reinos aliados a perdoará por isso.

Torcia para que a esposa estivesse bem, mas a verdade é que, viva ou morta, o casamento deles estava acabado. Isso o deixava triste, mas Harry tentava evitar pensamentos que o deixavam triste. Reis deveriam ser fortes e ter pensamentos felizes.

Quanto a matar o Rei Jon… Bem, o resultado seria o mesmo, ou até pior, para Daenerys, mas Harry não gostava do cunhado, e sabia que o sentimento era recíproco. Ela podia fazer dele comida de dragão a qualquer momento, Harry não se importaria nem um pouquinho.

Um rato passou correndo por trás de Roland, que estava de costas para Harry, e um reto pulou em cima dele, esmagando o pobre animal com as patas dianteiras. Agarrou o animal pelo pescoço, usando as presas para prendê-lo. Ergueu o corpo em agonia e o balançou.

Harrold fez uma careta.

—Deuses, esse castelo está repleto de pragas! 

O gato parou de balançar a cabeça e olhou para Harry por um tempo, tanto tempo, que este até estranhou. Porém, logo o bicho voltou para onde estava, entrando em um buraco escuro e retorcido na parede.

Poderia estar ali até agora e eu nem notei, pensou. Não importava, gatos não faziam mal a ninguém.

Roland trouxe sua bebida e Harry tomou um gole quente.

— Ótimo — limpou o lábio com as costas da mão. — Agora, aumente o fogo da lareira e acenda mais velas. Está congelando aqui.

Suspirando com irritação, Roland foi fazer o que era mandado. Harry sabia que ele odiava ser seu copeiro... E isso o divertia.

Harrold odiava aquele lugar, repleto de buracos na parede. Quando o vento frio soprava, era como se os próprios fantasmas de Harrenhal voltavam para amaldiçoar ele.

Harry tentou tapar os buracos com tapeçarias, mas de nada adiantou. Não importava o quanto acendesse o fogo também, aquele lugar sempre estava frio.

Frio e assustador.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

— Onde sua irmã arrumou aquele marido? — perguntou Gendry, enquanto andavam no pátio, vendo homens treinarem suas espadas, ouvindo o som do metal das lâminas sem fios batendo entre si.

— Ela precisava dele para ir ao Norte. — Arya explicou, embora ele já soubesse. — Para isso, tinha que aguentar o Harry.

— Bem, o Vale carece de um bom rei — Edric disse — Harrold claramente não sabe o que está fazendo aqui, Arya.

Arya assentiu.

— E só vai piorar. — ela avisou.

Gendry franziu o cenho.

— Que quer dizer?

— Ele pretende aumentar os impostos — ela revelou — Logo teremos que lidar com os problemas disso.

— E como sabe disso? — indagou Gendry, franzindo a sobrancelha.

A Stark sorriu.

— Um gato me contou.

Gendry cobriu a cabeça com um capuz, para evitar a neve.

— Ainda acho que devemos seguir meu plano.

Ned o olhou de forma apreensiva.

— Regicídio é um pecado grave, sor — sussurrou. — Todos seríamos mortos. Além de estarmos comentendo um crime terrível perante o olhar dos deuses.

Gendry deu de ombros.

— Algumas coisas ruins devem ser feitas pelo bem maior — Rebateu. — E, além do mais, ninguém saberia…

— Quietos — ordenou Arya, irritada com aqueles dois estúpidos falando — Aqui não.

Gendry se calou e olhou em volta, desinteressado. Tinham que salvar o povo e o reino do marido da irmã de Arya, mas sua amante parecia estar menos desesperada do que ele imaginava.

— Temos que fazer algo, e logo… — Ele disse, olhando para os homens lutando.

Foi então que seus olhos encontraram uma enorme figura vermelha. Ela era alta, bela e vermelha.

— Com licença, Arya — Gendry disse, se afastando dela.

Arya franziu o cenho, estranhando a ação de Gendry, mas assentiu e voltou-se para Edric.

Melisandre estava em Winterfell com Gendry, mas eles nunca haviam se falado.

— M’lady — Ele disse, aproximando-se dela e fazendo uma vénia.

A mulher vermelha sorriu ao vê-la. Ela era bem pálida, com olhos vermelhos brilhantes.

— Oh, olá, Sor — Ela disse. Tinha um sotaque bem forte. — Vejo que nos reencontramos.

Gendry sorriu.

— Queria falar contigo em Winterfell, mas fui incapaz. Queria agradecer-lhe pela ajuda, afinal, o rubi de Margaery foi coisa sua.

A mulher assentiu. Ela era linda, com um belo vestido vermelho de seda escarlate, com um corte profundo em forma de “V”, que era coberto por um tecido vermelho-sangue.

— Não sente frio? — Ele indagou, vendo-a não se importar com os flocos de neve caindo sobre a pele pálida e usando um vestido tão leve.

Melisandre negou com a cabeça.

— O senhor da Luz me dá todo o calor que preciso — Ela diz, pegando na calejada mão de Gendry e a levando até sua bochecha.

Gendry alisou a pele alva dela, sentindo o calor dela. Ela era tão quente…

Balançando a cabeça, Gendry retirou a mão. Ignorou seu falo endurecendo contra os calções.

— Também vim lhe perguntar — Disse Gendry, sentindo as bochechas arderem — se viu nossa vitória nas chamas.

A mulher de Asshai assentiu.

— Nossa vitória para a Grande Batalha irá acontecer, e então, eu finalmente terei descanso. Entretanto, teremos de combater as sombras aqui, derrotando o enviado do mal do Grande Outro.

Gendry franziu o cenho.

— Quem é ele?

Melisandre abanou a cabeça, fazendo os cachos vermelhos brilharem.

— Não sei, mas está vindo. Foi para isso que vim, para ajudar a derrubá-lo.

Melisandre continuou:

— Entretanto, creio que a domadora da sombra alada é quem o derrubará. — revelou a sacerdotisa.

— Daenerys? — indagou Gendry — impossível, M’lady, ela é nossa inimiga.

Melisandre sorriu. Um sorriso triste, fazendo parecer que ela tinha pena do rapaz.

— Oh, sor, devia temer aqueles que dizem seus aliados e a quem jurou proteger — Ela o avisou. — Não deve…

— Gendry — Arya o chamou, interrompendo a conversa — do que está falando?

O ferreiro se virou para ela.

— Sobre deuses… — Franziu o cenho e se virou para o escudeiro. — Ned, como se chama conversar sobre deuses mesmo? Você me disse uma vez…

— É teologia, Sor — Respondeu Ned. — É conversar sobre religião.

Acenou com a cabeça.

— isso. Estou a falar sobre teologia com Lady Melisandre.

A sacerdotisa sorriu e fez uma vénia para Arya. Esta, porém, franziu o cenho para a enviada da Luz.

— Espero que meu Glamour tenha lhe ajudado, princesa.

Arya assentiu.

— Muito. Mas eu…

Nymeria caminhou até a alta mulher vermelha e cheirou-a um pouco. Melisandre não se amedrontou e fez um cafuné no enorme animal, que abanou a cauda como um cão dócil. A loba mordeu os dedos que afagaram seu pelo e os balançou na mandíbula, mas sem os machucar. Estava apenas brincando.

Os três companheiros olharam aquilo com certa surpresa; Nymeria não era uma loba dócil. Nem mesmo com Arya.

A dona da loba começou a dizer:

— Isso não é… 

Mas antes que ela pudesse terminar, alguém berrou:

—Ei, você aí, bastardo!

Ao ouvir aquilo, Gendry se virou e viu um jovem de cabelos escuros, o mesmo que reclamou sobre o rei Harrold na reunião. Não muito mais velho que ele, com o que parecia uma árvore branca — provavelmente um represeiro — cozida no peito de sua manta de couro, com corvos cercando-a. Queria saber de qual casa era… talvez Arya soubesse.

— Oh, pelos deuses…—Disse Edric.

O jovem nortenho se aproximou, desembainhando um longo punhal. Gendry não pareceu ficar preocupado, mas Arya ficou na frente dele.

— Guarde isto! — Ela ordenou — Sor Gendry é meu escudo juramentado!

O jovem a olhou com nojo.

— Ele a fez sua puta! — acusou o rapaz, apontando com o punhal para Gendry. — Me recuso  permitir que esse bastardo faça troça de uma grande casa e lhe use para crescer.

Gendry deu um sorriso.

— Ciúmes, rapaz? — zombou. — Quer casar com uma loba

— Gendry, não comece! — Disse Arya, irritada. Ele estava ficando cada vez mais soberbo.

O rapaz fez uma careta zangada.

— Eu vou…

Antes que ele terminasse de falar, Arya retirou a Agulha da bainha, rápida como uma se fosse uma verdadeira dançarina das águas, e a encostou na goela do rapaz, assustando e fazendo ele recuar um pouco a cabeça.

— Já basta — Ela disse — Eu sou a princesa Arya, e ninguém tocará em Gendry.

A loba de Arya rosnou e mostrou os dentes. Algumas pessoas do pátio pararam para ver a cena.

— Brynden! — Um homem com um manto de penas de corvos gritou, correndo até a cena. — O que você fez?

— Solte — mandou Arya.

O rapaz pareceu hesitar, mas, quando Nymeria se aproximou, ele largou o punhal.

O homem com manto de corvos se aproximou do grupo. Ele usava uma linda armadura amarela brilhante incrustada de azeviches.

— Princesa Arya — Disse o homem, após chegar mais perto e parar ao ver o lobo gigante que rosnou para ele. — Seja lá o que meu filho fez, deve perdoá-lo, ele é jovem, não sabe o que faz.

Arya analisou o rapaz. Era da casa Blackwood, se bem se lembrava do brasão deles — era péssima com heráldicas, diferente de Sansa. Sabia que se ele escapasse, poderia vir a tentar de novo e que ela poderia não conseguir impedi-lo da próxima vez.

Entretanto, não poderia irritar os lordes vassalos naquele momento. Precisavam de todo o apoio possível na guerra. Não era hora de criar qualquer querela.

Arya empurrou um pouco Agulha, fazendo um fino fio de sangue escorrer pelo pescoço de Brynden e pela lâmina. Depois, abaixou a pequena espada. Nymeria continuava com o olhar fixado no Blackwood.

— Controle seu filho, Lorde Tytos. — Disse Arya, guardando a espada na bainha. Não era uma lutadora forte para brigar com qualquer um ali, mas era ágil.

Tytos assentiu, vigorosamente. Voltou-se para o filho, que estava apavorado, vendo o sangue que ficou nos dedos após tocar no corte, e deu-lhe um tapa nos cabelos escuros.

— Pelos deuses, o que pensava, atacando a princesa assim? — indagou o Lorde — Peça desculpas agora!

O filho de Lorde Tytos o olhou, agonizante com a ideia de se desculpar.

— Mas, Senhor meu pai, o bastardo…

Tytos deu-lhe um tapa de mão aberta no rosto, fazendo a bochecha atingida ficar rapidamente vermelha e fazendo um corte no lábio do filho. Brynden colocou a mão na bochecha, parecendo mais chocadodo que machucado. Pareceu até esquecer o corte que Arya lhe deu.

— Desculpe-se, agora! — ordenou.

O rapaz assentiu rapidamente e se virou para Arya e seus companheiros.

— Desculpem-me, senhores. Desculpe-me, minha princesa.

Arya acenou com a cabeça, enquanto Gendry sorria para o jovem.

— Pode ir agora, Brynden — Disse Arya e Lorde Tytos e seu filho fizeram o que era mandado. Vários cavaleiros fingiram não estar olhando e foram fazer outras coisas.

Quando tudo pareceu se acalmar, Arya voltou-se para Gendry.

— Eu disse que sua postura iria irritá-los — ralhou, irritada pela situação — Ainda bem que um dos filhos daquele lorde estúpido é nosso refém, assim como as filhas mais velhas de Lorde Bracken.

Gendry sorriu diante da expressão irritada de Arya.

— Bem, ainda bem que tenho a minha princesa para me proteger — zombou Gendry, tomando Arya pela cintura e a puxando para si, sentindo o calor corporal dela.

— Idiota — ela disse, tentando se soltar, mas ele era mais forte. Ele tentou lhe dar um beijo na boca, mas ela virou o rosto e ele beijou a língua; entretanto, não pareceu ligar, pois deu um beijo longo e lambeu a bochecha.

— Arya! — Chamou Edmure, indo até os dois.

Suspirando, Gendry desvencilhou-se da princesa, que foi rápida em se afastar dele.

— Que houve com Lorde Tytos? — Perguntou Edmure — Ouvi o lorde Bracken zombando dele e do filho... O rapaz parecia ferido. — olhou de relance para a Agulha da sobrinha.

Quando Arya lhe explicou — à contragosto — o que ocorreu, a face de seu tio ficou tão vermelha quanto seus cabelos e suas narinas se dilataram. Ele olhou com ira para Gendry e depois para Arya, respirando fundo e tentando se acalmar, massageando as laterais do nariz com o dedo e fechando os olhos. Quando se acalmou, largou o nariz e olhou para a sobrinha novamente.

— Tytos e Brynden vão responder por isso, prometo — disse Edmure. — Mas, sinceramente, sobrinha, amo-te, de todo o meu coração, daria minha vida por você, mas seria mais fácil esconder seu amante da vista de todos; até eu não o suporto mais a presença dele. Os lordes não vão aguentar esse tipo de situação para sempre.

Gendry apertou os lábios, não respondendo o insulto indireto sobre ele. Arya não gostou do sermão do tio, mas tentou se acalmar e falar:

— Vou tomar mais cuidado, tio — Ela disse, sabendo que o tio só queria o melhor para ela, mas lhe irritava não poder ficar com Gendry em público.

É só porque sou mulher, pensou, irritada, se fosse um homem, poderia ter uma prostituta comigo que ninguém iria ligar se eu a fodesse ou até lhe batesse. Seu tio tinha Pia como amante, mesmo tendo uma esposa esperando por ele em Correrrio, mas ninguém se importava.

Edmure sorriu e acenou com a cabeça. Ele olhou para Edric, Melisandre e Nymeria.

— Tem feito amigos estranhos, princesa. — Ele disse, com o olhar demorando em Melisandre.

— É — Respondeu, vendo que a estúpida sacerdotisa tinha pego outro homem para si. — Acho que atraio um pouco essas coisas.

Edmure riu.

— Ora, vocês Stark não são muito normais, pelo que vejo — Brincou o tio. — Cat… — Mordeu o lábio — Ela também mudou um pouco da última vez que a vi.

Os olhares azuis-claros de seu tio encontraram os olhos azuis escuros de Gendry por um momento, depois, voltou-se para a sobrinha novamente.

— Imagino que tenha sido difícil para você saber sobre sua mãe e seu irmão…Pousou a mão no ombro de Arya, de frma amigável e acalentadora. — Se quiser falar sobre isso, eu estarei aqui.

Arya desviou o olhar. Ainda era difícil aceitar, ainda mais que seu tio não sabia que ela tinha matado o que sobrou de sua mãe —Ela sabia que seus tios eram parceiros da coisa que outrora era sua mãe, mas não estavam por perto quando ela pôs um fim naquela criatura ofensiva. Que ficasse assim, não aguentaria ver a dor nos olhos deles. Já bastava a mágoa de Gendry sobre tudo aquilo.

— É melhor não falarmos disso — Arya disse. — O que está morto, está morto.

Seu tio anuiu. Parte dele parecia aliviado e Arya imaginou que devia ser difícil para ele falar sobre aquilo e pensar na irmã falecida.

— Sim, sim… — ele concordou e deu um sorriso leviano. — Está certa sobrinha. Por sinal, pode mandar seus… hã… “amigos” da irmandade falar comigo depois?

Arya estranhou o pedido, mas aquiesceu.

— Por que, tio?

— hmpf! — seu tio grunhiu, irritado. — O marido de vossa irmã, o Rei Harry, o imbecil, teve a brilhante ideia de usar inquisidores para torturar aqueles que não nos entregassem dinheiro…

— Ah, era isso...

Seu tio franziu o cenho.

— Ele já tinha lhe dito isso?

Arya abanou a cabeça.

— Não, é que… — mordeu o lábio, tentando pensar em algo; quando não o conseguiu, respondeu: — Não importa. Quer que eles façam o serviço sujo?

Edmure deu de ombros, com uma expressão descontente.

— Só os que quiserem — explicou ele —, podemos dar títulos e terras para os que quiserem fazer o serviço; sei que pode não gostar, princesa, mas já vi do que aqueles homens são capazes.

Sabendo ao que ele realmente se referia, Arya anuiu, tentando esconder a irritação.

— Como quiser, tio — Ela disse, acenando com a cabeça. — Vou falar com eles.

De forma abrupta, Melisandre disse:

— O Rei Harry devia se preparar para o mal que logo tomará conta deste castelo. Eu tentei avisá-lo, mas ele fez ouvidos moucos aos meus avisos... Parecia achar que eu queria transar com ele.

Edmure deu uma gargalhada, embora fosse um pouco amarga.

— Nem me surpreende vindo dele — Disse Edmure, olhando de cima a baixo, mas depois balançou a cabeça, como se para limpar a mente, e perguntou sério: — Mas que mal, senhora? Harrenhal é praticamente inexpugnável. É Aegon que viu nas chamas? Ou Daenerys?

A mulher negou com a cabeça.

— Não, pior. — Ela respondeu, enquanto o rubi em seu pescoço brilhava — O mar de fogo tomará conta destas terras, e logo, o Kraken tomará conta da magia nas pedras deste imenso castelo, junto de sua bruxa.

Edmure alisou a barba.

— Krakens, é? — indagou, depois deu um leve sorriso — Quer dizer os Homens de ferro, senhora? Ora, eles estão longe daqui! Estão na Campina, preste a serem comidos… Isto é, caso já não o tenham sido.

Melisandre era convicta do que dizia:

— Não. Eles estão vindo, acredite em mim.

Edmure assentiu, querendo evitar discussões. Arya percebia que seus olhos pareciam ter uma certa admiração por Melisandre, assim como os outros homens do exército tinham quando a vinham; mas não só isso, parecia ter algum medo dela. Ou respeito.

— Bem, eu vi você queimar um homem vivo com os meus próprios olhos. — Disse ele — Se diz que temos que nos preparar, acredito em você.

A mulher vermelha assentiu, sorrindo.

— O senhor vai falar com Harry? — indagou Arya.

Edmure balançou a cabeça, negativamente, visivelmente irritado.

— O marido de minha sobrinha é surdo no que tange ouvir a voz da razão. Ele simplesmente não escuta ninguém. Não a nada que eu possa fazer, ele é um burro como um auroque. Antes o chamavam de “Harry, o Herdeiro” — cuspiu no chão, em sinal de desprezo. — Que os outros me levem por dize-lo, mas, desde que o vi, ele merece mais a alcunha de “Harry, o imbecil”, isso sim.

As narinas de Arya dilataram.

— Minha irmã realmente deveria estar desesperada para ter se casado com ele — Disse, deixando a irritação falar mais alto. — Não temos como impedir isso?

Edmure abriu as mãos e deu de ombros, em um gesto que indicava que não havia nada que ele pudesse fazer sobre o assunto.

— Não podemos nos dar o luxo de causar um tumulto — Respondeu seu tio. —  Criar uma querela entre os lordes do Tridente e do Vale no meio de uma guerra poderia ser o nosso fim.

— Sua irmã não pode fazer nada? — Perguntou Gendry a Arya. — Ela não tem nenhum poder sobre o marido ou algum tipo de segredo para nos ajudar?

Arya respondeu que não com a cabeça. A irmã estava com os próprios problemas; nem sequer sabiam se ainda estava viva.

— Sansa não pode nos ajudar — respondeu, tentando não se abalar ao pensar na irmã. — Winterfell está muito longe; de qualquer forma, Harrold é o rei. Ninguém pode interferir nisso.

— Talvez seu meio-irmão possa? — sugeriu Edmure. — Jon é Rei do Norte, mas ainda tem algum poder sobre o Tridente. Ele é o herdeiro de Robb e Rei do Tridente; pode dar o comando a mim ou a Brynden.

Arya mordeu o lábio. Seu irmão estava tão longe quanto Sansa, em Winterfell. Harrold era a autoridade máxima do lugar, com o maior número de espadas; ela temia a represália que poderia haver caso ousasse desafiar as decisões dele.

— Melhor não arriscar — Disse Arya —, deixemos as coisas assim, como estão.

Mas, se as coisas saírem do controle por causa disso, o que faremos?, indagou para si mesma. As ações de Harrold teriam consequências graves, não apenas para o pequeno povo, mas para os lordes também. Era necessário tentar impedir tudo aquilo, mas como? Que podia fazer? Era apenas uma princesa, não uma rainha.

Sansa talvez soubesse, pensou. Mas nem a irmã poderia ir contra um Rei; mesmo que o conseguisse, teria de usar algum poder político: o apoio de Jon, dos lordes do Norte, algum aliado na corte…

Arya, porém, não tinha nada disso. Os lordes não sabiam praticamente nada dela; passara muito tempo perdida no mundo para sequer conseguir alguma aliança. E não demorou para perceber que eles não gostavam dela, principalmente os lordes que não eram do Norte; detestavam ela não se vestir como as outras jovens, detestavam a companhia de Gendry e Edric, e provavelmente odiavam ela conhecer alguns dos foras-da-lei da irmandade.

Um pouco desesperada, tentou se lembrar de alguma coisa, qualquer coisa, que sua irmã tivesse lhe dito e pudesse lhe ajudar nesse momento… Algum lorde de boa índole, talvez…

Existia um. Um do Vale, ele sempre estava com Harry e Sansa, sempre apoiando as decisões de sua irmã e apartando qualquer estupidez de Harry. E havia tentado acalmar os lordes na discussão que havia tido nos aposentos do Rei Harrold mais cedo.

— Lorde Royce é um dos meus maiores apoiadores — Ela havia lhe dito certa vez, quando Harry tentara tomar alguma estúpida decisão. — Ele tem sido um dos meus principais apoiadores desde que saí do Vale…

— Lorde Royce.

Edmure franziu o cenho.

— Yohn Royce? — questionou — Ou Nestor? Existem dois lordes Royce, Arya. Dois ramos da casa.

Ela franziu o cenho. Estava com dificuldade de se lembrar exatamente.

— Ele é velho — Ela disse — Usa armadura de bronze…

Edmure riu:

— Sobrinha, não prestou atenção nas aulas de seu meistre? A Casa Royce tem costume de usar isso…

Arya mordeu o lábio, irritada. De fato, ainda estava aprendendo a memorizar.

— O que ajudou a apartar a briga hoje, mais cedo — Ela disse, irritada.

— Ah, Lorde Yohn. — Disse Edmure — Lutou ao lado de seu pai e de Jon Arryn na Rebelião do Robert. E tem sido…

— Um grande apoiador de Sansa, sim, eu sei. — Ela o interrompeu, irritada. — Fale com ele, talvez ele saiba o que fazer para impedir Harry, o imbecil.

Edmure assentiu, embora não parecesse levar muita fé naquilo. Entretanto, era tudo o que tinham.

— Como quiser, princesa. — Ele fez uma vénia e se afastou.

Arya ainda não se acostumara com títulos e vénias. Achava que nunca iria se acostumar. Não era para ela.

Gendry tocou na mão dela, chamando-a de volta à realidade.

— Você está bem? — Ele perguntou, preocupado.

Ela deu um sorriso, cansada.

— Um pouco cansada — Ela respondeu, com um sorriso exausto e pálido.  Deu-lhe um beijo na bochecha. — Por que você e Ned não se reúnem com os membros da irmandade no Salão das Mil lareiras? Eu vou ao Bosque Sagrado rezar um pouco.

— Não quer companhia, princesa? — Perguntou Ned, sempre solicito. Arya negou com a cabeça.

— Obrigada, Ned, mas preciso de um tempo sozinha com os deuses.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

O Bosque Sagrado era maior do que o de Winterfell. Era como andar em uma floresta, facilmente se perdendo por ali, tendo uma extensão de 20 acres. Uma enorme árvore Coração se encontrava nele, com o rosto retorcido em ódio e com lágrimas vermelhas. Há muito tempo, Arya vira o rosto do pai naquele lugar, ouvira o sussurro de sua voz. Ela precisa saber se poderia reencontrá-lo ali, novamente.

— Pai — Ela chamou, sem saber se teria resposta —, estou sozinha. Por favor, me guie. Guie-me, como guiou antes. Me diga se Sansa está bem, se Jon está bem, ou Bran e Rickon…

Nada. Nem mesmo um farfalhar de folhas. A neve caia, em silêncio, nos galhos e no rosto de Arya. Ela empurrou o capuz para trás e ergueu a cabeça, sentindo os flocos de neve derreterem em seu rosto longo. Seu rosto Stark.

Após um longo silêncio, um farfalhar distante começou, como se fosse um murmúrio. Folhas vermelhas de cinco pontas rodopiavam, como se fossem mãos.

— Pai…? — Ela o chamou novamente, vendo um novo rosto se formar no na face esculpida do represeiro.

Arya…, ela ouviu. Mas não era a voz de seu falecido pai; era seu irmão.

— Bran? — Arya sentia que seu coração logo ia sair pela boca.

Saia daí, Arya, o vento sussurrou. Saia daí, agora.

Arya franziu o cenho, mas antes que pudesse falar algo, sentiu alguém se aproximando e se virou.

Gendry parou de andar quando ela o viu, dando um singelo sorriso.

— Gendry? O que faz aqui?

Ele se aproximou sorrindo, Arya viu seus olhos azuis escuros de desejo.

— Eu mandei Edric falar com o pessoal da irmandade, depois nós vamos falar com eles.

Arya se irritou. Tinha certeza que estava prestes a falar com o seu irmão quando Gendry chamou sua atenção, interrompendo-os.

— Eu disse que queria ficar sozinha! — Reclamou, irritada, batendo no ombro dele.

Gendry riu.

— Ora, Arya, já ficou sozinha tempo demais — Ele disse, e esticou o braço para agarrá-la. Arya se desviou e tentou se afastar, mas ele a agarrou com os dedos fortes e a puxou para perto dele. Quando Gendry tentou dar-lhe um beijo, Arya desviou a cabeça, mas ele agarrou a trança dela e a puxou para trás, fazendo-a parar e subir o queixo. Depois, soltou a trança dela e empurrou a nuca com a palma da mão, obrigando-a ir de encontro ao rosto dele.

Ele abriu a boca e empurrou a língua para dentro dos lábios de Arya. Era quente, gosmenta, lambendo tudo que econtrava. Ela tentou se soltar, batendo nele com a mão livre ou tentando chutar a virilha, mas nada adiantava.

Arya logo parou de lutar, se deixando levar pelo calor que passava em seu corpo, e abriu mais a boca para ele, lambendo a língua gosmenta de Gendry e sentindo o calor morno dela. Ela afagou o cabelo preto como carvão dele com uma mão. Quando Gendry viu que ela não mais lutava, ele soltou o braço dela e desceu a mão pelos calções de Arya, fazendo-a gemer de forma lamuriosa, sentindo a umidade entre as pernas dela quando acariciava sua intimidade com dois dedos. Com o braço livre, a Stark apertou o membro de Gendry, sentindo-o duro por baixo dos calções e o ajudou a se libertar do cinto.

— Não gosto quando brigamos — Ele disse, massageando as partes intimas de Arya, fazendo-a gemer de prazer, enquanto sentia o toque duro dos dedos duros dele dentro dela. Ele abaixou a cabeça e beijou sua clavicula. 

Nymeria os observava, mas ele nem pareciam a notar.

Quando Arya desamarrous os calções de Gendry, ele soltou o fecho do manto dela, fazendo o manto de pele de lobo cair no chão, e puxou as roupas delas por cima das cabeça, jogando-as apressadamente no chão. Tocou um dos seios exposto dela, apertando-o, sentindo-o ficar duro e arrepiado. Ele abaixou a cabeça e cobriu o mamilo dela com os lábios, chupando-o, e fazendo a Stark arquejar, sentindo o calor da boca dele, fazendo seu seio ficar arrepiado.

Quando os dois deram por si, estavam sobre o manto de Arya, totalmente nus, como no primeiro dia do nome deles, e brilhando de suor, sem se importar com a neve fria que caia levemente seus corpos. Arya cavalgava Gendry, enquanto ele apertava os pequenos seios dela, que estavam duros e quentes. A trança da jovem Stark estava desfeita, e o cabelo curto estava solto. Ela genia de forma alta, se o bosque não fosse enormez com certeza a guarnição do castelo a ouviria gritando.

Quando ele sentiu Arya gozar, ele sentiu que também iria e, antes de chegar ao ápice, ele ergueu o tronco do corpo, colando-o ao de Arya, sentindo os pequenos seios dela serem pressionados contra o abdomen dele; o coração deles batia com força e velocidade iguais, emum ritmo uníssono. Ele passou as mãos pelas costas dela, passando seus dedos asperos por todas as cicatrizes dela. Esticou os braços e a abraçou contra si.

Arya puxou seu rosto para perto dele, e ambos tocaram os lábios febris de luxúria, entrelaçando as línguas novamente, enquanto Gendry  estocava com mais força e agitação contra o corpo dela, preste a derramar sua semente nela.

Quando o fez, ele apertou mais o corpo dela, como se estivesse com medo de perdê-la e deu um gemido longo, quase como se estivesse gemendo de dor. Arya sentiu a semente morna de gendry esguichar dentro dela, enquanto também estava tendo outro orgasmo, soltando outro gemido prolongado e agudo.

Quando terminaram, se deitaram com calma no manto de peles de Arya. Gendry a puxou para perto de si, de forma gentil, encheu seu rosto de beijos. Para proteger eles do frio, ele puxou o manto e o enrolou em volta deles. Arya sentia a semente morna dele entre as suas pernas, junto de uma leve dor nos rins, enquanto sorria. Ele ainda estava dentro dela, e ela gostava da sensação pois a fazia se sentir completa e amada. Ambos apreciaram o calor corporal um do outro.

Gendry preferia assim; apenas os dois. Sem ter de compartilhar os carinhos de Arya com o estúpido Ned Dayne. Sem se preocupar com nada. Era apenas o cavaleiro e a sua princesa.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

As luzes tremeluzentes das velas perfumadas, trazidas do Vale, faziam a armadura de bronze lorde Royce brilhar. As runas pareciam ganhar vida, ante o brilho adocicado do local.

Sor Yohn Royce parecia ter tomado para si o trabalho de atormentar Harry, após este ter se livrado da insuportável cunhada e seus tios intrometidos.

— Vossa Graça, temo que a ideia de cavaleiros inquisidores não seja boa — Disse Sor Yohn, enquanto Harry terminava de assinar os papéis escritos pelo meistre, que tornou as palavras de rei mais “régias” para aqueles que os fossem ler.

Os dedos de Harry já estavam duros e cheios de tinta. Precisava descansar e voltar para aquela amante. Sentia-se tentado a chamar a sacerdotisa Melisandre para si. A empregada que tinha não era tão bonita quanto ela e nem era muito divertida na cama depois de tantas trepadas que deram. Queria algo novo. E, naquele frio, sentia que a sacerdotisa poderia aquecê-lo.

E, quem sabe, fazer alguns truques divertidos com fogo. Seria melhor isso do que qualquer ladainha chata sobre deuses.

—Entendo Sor, mas a decisão já está tomada. — Disse Harry, descansando a pena no tinteiro sobre a mesa. Harry reuniu os papéis e os bateu contra a mesa, organizando-os. Virou-se e os entregou para seu primo — Entregue-os ao meistre, ele deve entregá-los imediatamente.

Roland ficou olhando para ele e os documentos por um tempo, até finalmente dizer:

— Meu Rei — Disse Roland, um pouco aspero —, esqueceu de selá-los com o vosso brasão.

Harry franziu o cenho e olhos para os pergaminhos abertos.

— Ah — Ele disse, se sentindo um idiota — É mesmo.

Ele acendeu uma chama no braseiro e colocou uma pequena bandeja de bronze sobre o fogo, para aquecer cera.

— Vossa Graça — insistiu lorde Yohn —, sabe como sou seu fiel seguidor e de sua esposa…

—Sei disso, lorde Royce — concordou Harry, com um sorriso. Aquele homem o condecorou cavaleiro em torneio no Vale, pouco antes de conhecer sua esposa. Era um homem bom, apesar das dúvidas que tinha sobre Petyr. — E por isso eu o tenho em grande prestígio em meu reino.

O homem sorriu e assentiu.

— Por isso, peço-te que escute os meus apelos quanto aos teus impostos. — Pediu lorde Yohn.

Suspirando, Harrold assentiu, ajeitando a coroa em sua cabeça loira. A cera já começava a borbulhar pelo calor.

— Conversei com o Lorde Edmure e Sor Brynden…

— Lorde Edmure e seu tio já vieram falar comigo — interrompeu Harry, seco —, se o que for fazer é repetir as palavras deles como um pássaro das ilhas do Verão, Sor, já pode se considerar dispensado por hoje.

Yohn assentiu e lambeu os lábios.

— O que vim lhe aconselhar, Vossa Graça, é que as terras devastadas do Tridente em nada podem trazer riqueza no momento; Estão arrasadas pela guerra, e os Dothraki estão devastando tudo enquanto estamos aqui. Seria perigoso enviar pequenos soldados em um reino perigoso como este, ainda mais com tão pouco resultado.

Harry assentiu e respondeu:

— Bom, quanto a isto, o Vale também anda perigoso, mas, apesar disto, eu também estou mandando as mesmas ordens para lá.

O queixo de Yohn tremeu, como se ele se segurasse para não o responder.

— Majestade, temo que Rei Jon não vai gostar de tais impostos — avisou lorde Royce — Nem a Rainha Sansa.

Harrold deu de ombros.

— Eles não estão aqui, estão no Norte. — Respondeu — Até lá, sou eu quem manda nestas terras.

Yohn anuiu.

— Deveras, deveras… Entretanto, não deveria mandar-lhes alguma carta?

Harry balançou a cabeça, negando, de forma simples.

— Não. Até porque o Norte já tem seus problemas e precisamos nos proteger, caso o reino caia ante nossos inimigos. Dúvido que Jon e Sansa possam se dar ao luxo de se preocupar com coisas banais. — Respondeu, embora, na realidade, ele soubesse que eles simplesmente iriam negar suas decisões. — Além do mais, estas terras podem ser da mãe de minha esposa, sor, mas o reino é de Jon e Sansa é apenas minha consorte. Lembre-se disso.

Percebendo que poderia ter ofendido Harry — e, de fato, o havia feito —, Sor Yohn assentiu novamente e tentou voltar a falar.

— Majestade…

— Acho que já falou o bastante por hoje, Sor.  — Disse Harry — Por que não vai até o pátio treinar ou então se aquece no Salão das Mil Lareiras? Embora não sejam realmente mil, temo lhe dizer, mas pode contá-las, se quiser. — Sorriu de forma inocente.

Sor Royce ficou chocado com as palavras de Harry, mas este apenas o ignorou, dobrando um dos pergaminhos. Verteu um pouco de cera azul derretida em um dos pergaminhos. Ele usou o anel com o símbolo Arryn como sinete e jogou areia por cima da cera. Ele assoprou, jogando um pouco de areia na cara do abalado sor Royce, que fechou os olhos e cuspiu, abanando os braços para se livrar dos grãos jogados em seu rosto.

Harry quase deu uma risada, mas se segurou.

— Desculpe, não foi minha intenção, Sor — mentiu, enquanto colocava o pergaminho de lado e pegava outro.

Apesar de tudo, Lorde não se levantou da cadeira.

— Sor Harrold — chamou-lhe Lorde Royce, novamente, tentando retomar sua atenção. — Eu o ungi cavaleiro, dei-lhe suas esporas, ajudei você em muitos momentos…

— aham… — Harry não olhava para ele, estava dobrando um dos pergaminhos enquanto a cera era aquecida. Respondeu, desinteressado: — Já o disse, Sor.

Sor Yohn suspirou.

— Majestade… — Roland tentou fazer Harry prestar atenção.

— Agora não, primo. — Disse Harry, pegando a cera e derramando-a no papel, como fez antes. Era até divertido.

Antes que ele colocasse o anel contra a cera quente, o meistre entrou pela porta.

— Ah, meistre Yoren — Disse Harry, voltando ao que estava fazendo e pressionando o anel contra a cera. — Já estou quase terminando.

O meistre se aproximou, nervosamente, mexendo a corrente no pescoço. Harry franziu o cenho ao ver o nervosismo do sábio com correntes.

— Algum problema? — Perguntou. De repente, um pensamento sombrio passou pela sua cabeça, e ele sentiu um nó na garganta. — Pelos Deuses, chegou alguma carta do Norte? É a minha esposa?

O meistre abanou a cabeça.

— Não chegou nenhuma carta do Norte, majestade. — Revelou o meistre, ainda mexendo na corrente, que parecia lhe enforcar. — Mas de Guardamar…

— Guardamar? — Franziu o cenho. O meistre assentiu.

— Sim, Guardamar. — Quando viu que Harry não o entendeu, explicou: — Guardamar é a sede da Casa Mallister, vassala dos Tully.

Guardamar. Sim, agora ele se lembrava. O território deles era bem afastado, e ficara praticamente intocado pela guerra. Era a única casa, além do Vale, que tinha alguma comida salvaguardada. Eles distribuíram alguns grãos também, mas a maior parte ainda era do Vale.

— Eu sei que casa é, idiota. — Respondeu. — É aquela com uma águia de prata… Ou um corvo, que seja.

O meistre anuiu, como se tivesse lhe perguntado algo.

— E então? Que tem Guardamar, pelos Deuses? Fale!

O homem lambeu os beiços grossos com a grossa língua rosa, fazendo Harrold fazer uma careca com a visão. A saliva branca e espumosa ficou grudada nos pelos gordurosos do imenso bigode cinza do meistre.

— O meistre de lá escreve que eles estão invadindo as terras deles.

Harry arregalou os olhos e Sor Yohn escancarou a boca.

— O quê? — Perguntou Roland, franzindo o cenho, sem compreender o que tinha acabo de ouvir. — Homens de ferro? Aqui?

Sor Yohn abanou a cabeça.

— Impossível — Ele disse, ainda se negando a acreditar.

— E a verdade. — Garantiu o meistre. Tirou uma carta da manga e a entregou para Harry, que se levantou da cadeira e pegou rapidamente o pedaço de papel de sua mão velha e manchada. O lacre, que havia sido quebrado pelo meistre, era cinza-prateado. A cor da ave da casa Mallister. Voltou a se sentar.

— Pelos Deuses — Disse Harry, enquanto terminava de ler, levantando-se novamente. O nervosismo tomava conta de suas pernas, que começavam a tremer. Sentiu a cabeça ficar leve e tonta. — É verdade! Os Homens das Ilhas de Ferro estão invadindo nosso território!

Roland deixou o copo de estanho cair.

— Mas e a Campina? Pensei…

— Eles nunca seriam capazes de controlar o local — respondeu Lorde Yohn — Ainda mais se a história dos dragões for verdadeira. Olho de Corvo é mais esperto do que parece, temo; embora ainda seja um selvagem.

— Devemos fazer alguma coisa — Disse Roland, deixando o nervosismo escapar — Temos que detê-los, impedir que…

— Impedir-lhes de fazer o que? — indagou Harry, ficando um pouco mais calmo e voltando a se sentar na cadeira. — Guardamar fica mais de dois ou três meses de distância daqui. E isto sem contamar o caminho coberto de neve. — Riu, sentindo-se aliviado. Eles estavam muito longe! Ora, que mal poderiam lhe fazer? Estavam dentro de Harrenhal.

Seu primo o olhou como se tivesse ficado insano.

— Não pode estar falando sério, Harr… Majestade.

— Ora, claro que estou! Eles estão longe, e os Dothraki separam nosso caminho. — Descansou os braços na mesa — Deixem-os se matar, que mal a nisso? Ambos são bárbaros. Que se destruam, nós pegamos o resto depois... Bem, se é que sobrará algo.

O primo o olhou de boca escancarada, claramente sem acreditar no que ouvia. O lábio inferior tremia.

— Meu Rei — Chamou o meistre, antes que o primo de Harry falasse algo. — Não é só do nordeste que recebemos uma mensagem, de Salinas, a Norte daqui. Os Greyjoy também estão os atacando, e uma carta do castelão de Solar das Bolotas diz que viu dracares se aproximando. Estão usando os dracares em todos os ramos do tridente.

Yohn Royce franziu o cenho.

— A leste daqui? Não são os homens de Ferro que vieram com Daenerys?

O meistre abanou a cabeça.

— O símbolo é um olho gigante e vermelho, coroado por corvos.

— Olho de Corvo… — Disse Bronze Yohn. Parecia ainda estar incrédulo com a revelação. Ele olhou para Harry, e se levantou.

— Vossa Graça — Disse Yohn, com a armadura de bronze brilhando mais do que nunca pelas chamas —, permita-me levar meus homens para combater esse tirano asqueroso.

Harry parou para pensar. Se os invasores estavam no tridente, o raio de devastação era bem pior do que se imaginava ser possível. Tinha que resolver isso, afinal, era o Rei. Um rei deve resolver tudo…

Harry acenou e voltou a ficar em pé.

— Chame Lorde Edmure e seu tio. — ordenou Harry, se dirigindo ao meistre. — Quero discutir isso agora, antes de falar com os outros lordes.

O meistre assentiu e foi fazer o que lhe era mandado. Harry respirou fundo e rezou ao guerreiro para lhe mandar forças. Iria precisar de toda a ajuda possível. Seus dedos dormentes foram flexionados, ele se perguntou se eles aguentariam segurar uma espada em meio a batalha.

Quando Edmure e Brynden entraram, Arya entrou com eles, agora com o cabelo solto e bagunçado, acompanhada de Gendry e do dornes Edric. E, é claro, sua fiel loba gigante.

— Não chamei vocês. — Reclamou Harry, juntando as sobrancelhas loiras.

— Mas nós viemos — rebateu Arya, que, como sempre, era petulante. Se perguntava como Sansa poderia ter uma irmã tão diferente assim, visto que Arya sabia ser terrivelmente irritante, ao passo que a irmã mais velha era mais polidamente calma.

— Minha sobrinha é princesa do Norte — Disse Edmure — Ela tem alta posição para tratar de assuntos de estado, tal qual a mãe dela tinha antes dela.

— Que seja — disse Harry, não querendo perder tempo. — Os Homens das Ilhas de Ferro estão nos atacando, assim como os Dothraki.

— Temo irem para Riverrun — Revelou Edmure, um tanto abalado. — Roslyn e nosso filho estão lá… Assim como a viúva de Robb.

Peixe Negro colocou uma mão no ombro do sobrinho.

— Riverrun pode aguentar um longo cerco — Disse Brynden, tentando acalmá-lo. — Não serão uns bundas sujas de Pyke que vão derrubá-lo, Edmure.

Seu sobrinho assentiu, embora a preocupação em seu rosto ainda fosse visível.

— Esta é a hora de trazermos o povo para dentro — sugeriu Arya, embora Harry a tenha achado muito autoritária para o seu gosto. Aquela garota se achava a rainha do Norte, por acaso?

Harry deu um suspiro exacerbado.

— Não. — Ele disse, irritado. — Pelos deuses, será que você não entendeu ainda? Os pobres famintos ficam onde estão!

Arya fechou a mão em um punho, se segurando para apenas assentir e dar um fim naquilo. Assentiu, mordendo o lábio — Harry a fez voltar com aquela maldita mania; era a única forma de tentar segurar a raiva.

— Devemos ir a luta — Disse Brynden — Reuniremos cerca de 30 mil homens, podemos partir para Lágoa da Donzela, destruir os Dothraki, e depois, podemos tentar ir para Guardamar.

Yohn Royce aquiesceu ao ouvir os planos de Brynden.

— Posso liberar a batalha — Disse Harry, fazendo todos olharem para ele. Gendry pareceu rir, mas deu uma torcida e pareceu limpar a garganta.

— Majestade — Edmure disse, calmamente —, um rei não deve ir à batalha. É perigoso.

Como sempre, insistem em dizer o que devo fazer. Estava ficando farto disso, se ele era o Rei, por quais motivos duvidavam dele? Parecia que os lordes respeitavam mais sua esposa do que ele. Imagine só, uma mulher ser mais respeitada que ele!

— Lorde Edmure tem razão, Vossa Graça — disse Lorde Yohn, fazendo coro às palavras do lorde de Riverrun. — É a última pessoa da linhagem dos Arryn. Caso morra sem herdeiros, teremos uma crise de sucessão no Vale, e isso seria devastador.

Apesar de haver sentido naquelas palavras, Harrold ainda não gostava de receber ordens daqueles homens. Eles eram apenas seus vassalos, enquanto ele era o suserano deles, quem eles achavam ser para dar ordens a um rei?

— Robb Stark ia para todas as lutas — os fez lembrar —, mesmo achando que todos os seus irmãos estavam mortos. E ele era mais novo que eu.

A menção a Robb irritou Arya. Quem aquele homem achava que era para se comparar ao seu irmão? Robb era um rei de verdade, um guerreiro feroz e um estrategista nato! Harrold não era nada; apenas um qualquer que deu sorte de herdar um grande reino para si.

— Meu irmão era um guerreiro — Arya deixou escapar, já não suportando mais as palavras de Harry, que fixou o olhar azul nela.

— E eu não? — indagou Harry, irritado com as respostas daquela garota lobo. — Se você conseguiu sobreviver, qualquer um consegue.

 — Agora não é hora para isso! — Disse Edmure — Meu reino está em caos, minha esposa e filho correm risco e eu nem sei o que são de meus sobrinhos ao Norte do Gargalo; temos que parar de brigar e resolver o problema que nos aflige! Paz, eu suplico!

Um silêncio recaiu sobre os aposentos, apenas o som fantasmagórico do vento frio que soprava e adentrava nos buracos das paredes reverberava. Harry assentiu ante as palavras de Edmure.

— Certo. Você tem razão, lorde Edmure, lamento.

Arya assentiu também, percebendo que Harry a levou ao limite. Sentia ter se tornado uma garotinha de novo.

— Desculpe-me, tio. Não quis ser grosseira.

Edmure acenou com a cabeça para a sobrinha, dando-lhe um sorriso meio triste, mas compreensivo.

Harry não gostou de só Arya ter recebido um gesto de aceno. Afinal, ele era um rei, suas desculpas não deveriam valer mais do que uma simples princesa selvagem?

— O importante é tratarmos de defender estas terras — Disse Lorde Edmure, voltando-se para o tio. — Acha que trinta mil homens são o bastante?

Brynden fez uma expressão pensativa.

— Talvez mais do que o bastante, mas temo estar errado; o caminho está cheio de neve e, por mais que os dothraki não saibam usar armadura e nem lutar contra alguém que usa uma, podem nos dar trabalho. Sem falar se caso se reúnam a Companhia dourada. — Titubeou um pouco. — Talvez devêssemos levar cinquenta mil, ainda mais se quisermos lutar contra os Homens de Ferro; devemos ter homens sobrando.

— Talvez devêssemos separar os exércitos em dois — Sugeriu Lorde Yohn —, mas temo que Harrenhal fique desprotegida.

Harry não gostou de como aquilo soou.

— Como assim? Pretendem deixar o castelo sobre a mira de Porto Real e seu exército? — indagou, irritado e preocupado.

Yohn viu a expressão no rosto de Harrold e balançou a cabeça, negativamente.

— De forma alguma, Vossa Graça. — Explicou Lorde Royce — Mas os inimigos estão por todos os lados; devemo-nos tentar tratar de todos o mais rápido possível, e, para isso, seria melhor usar todos os soldados que temos disponíveis para fazer tal feito.

Harrold ainda não gostava de como aquilo estava indo.

— Mas isso vai diminuir os guardas aqui, não vai? — Ele perguntou, embora a resposta fosse óbvia.

Yohn assentiu.

— Sim, mas…

— Então, caso Aegon e suas forças nos ataquem, vocês podem não estar aqui para nos proteger, certo?

Lorde Royce entendeu onde ele queria chegar e olhou para as outras pessoas no local, em um pedido silencioso de ajuda.

— Vossa Graça não tem com o que se preocupar — assegurou-lhe Edmure —, Harrenhal é inexpugnável. Mesmo que uma parte do exército tenha partido e esteja longe, você e o restante da guarnição podem segurar esse castelo facilmente…

— Por quanto tempo?

Edmure o olhou, confuso, não compartilhando das dúvidas de Harry.

— Por quanto tempo poderíamos manter esta imensa fortaleza macabra? — indagou. — Vocês terão de levar grãos, certo? Como nos alimentamos caso os nossos suprimentos acabem ? Ou se o exército inimigo conseguir derrotar vocês quando voltarem? Afinal, estarão exaustos, terão perdido homens nas batalhas… — Foi então que percebeu que estavam indo para uma armadilha: — Pelos deuses, é claro! É uma armadilha!

Edmure piscou, chocado com os receios de Harry, e não tendo a capacidade dele para perceber a óbvia armadilha para onde estava quase indo marchar.

— Vossa Graça? — indagou ele, confuso.

— Este ataque coordenado dos dothraki dos homens de ferro e dos Dothraki é uma armadilha; Daenerys e Aegon querem que a gente vá para a batalha, assim, eles poderão nos esmagar facilmente, e tomar território.

— Besteira! — Disse Brynden, com a voz irada. — Não pode acreditar nisso!

— É a verdade — insistiu Harrold — Querem nos dividir e nos destruir.

— Mesmo que isso seja verdade… — Disse Edmure.

— O que não é… — Reclamou Peixe Negro.

— Caso seja verdade — prosseguiu Edmure, ignorando o tio. —, não pode apenas querer apenas que nós cruzemos nossos braços e demos as costas às vítimas da guerra; os homens de Ferro e os Dothraki são monstros.

— É o que faremos — Disse Harry, cruzando os braços e olhando invicto para o Senhor do Tridente. — Não vou deixar nossos exércitos caírem para uma mera pantomima.

— “Mera pantomima”? — Edmure repetiu as palavras, incrédulo. — Vossa Graça… não pode deixar as pessoas comuns sem proteção…

Harrold sorriu.

— Ah, claro que posso. — Respondeu, simplesmente. — E vou. O povo pequeno não vem antes do reino.

A face de Edmure ficou vermelha. Ele formou um punho em cada mão, esticou os braços, e os desceu, batendo os punhos cerrados contra a mesa de Harrold. O castiçal com uma vela quase totalmente derretida pulou um pouco, mas não caiu. O tinteiro, entretanto, caiu, mas a tinta não escorreu rapidamente, pois estava meio congelada.

— O povo é o reino, seu desgraçado!

Harrold o olhou incrédulo; novamente aquele imbecil o desafiava! Entretanto, desta vez, não deixaria Edmure escapar ileso.

— Como se atreve!? — indagou, furioso com a arrogância daquele lorde.

Edmure estava tão zangada, que parecia oreste a rifar uma praga a Harry como resposta.

— Edmure… — Brynden se aproximou do sobrinho, colocando uma mão em seu ombro e outra no peito, como se para impedir que ele avançasse contra Harrold. — isto não lhe é digno. Sei que está irritado, mas…

— Guardas! — bradou Harrold. — Guardas!

Antes que alguém pudesse fazer algo, soldados da guarda pessoal de Harry — escolhidos pelo torneio feito no Vale, quando seu primo ainda era vivo —, entraram nos aposentos. Ele apontou para o tio de Arya.

— Prendam Lorde Edmure! — Ordenou Harrold — Ele falou contra as ordens de seu rei e deve ser punido!

Todos no cômodo olharam para o rei, incrédulos.

— Você perdeu a cabeça? — indagou Peixe Negro.

— O que deu em você? — questionou Arya.

— Harry, pelos deuses, você perdeu o juízo? — perguntou seu primo, Roland.

— Vossa Graça, não acho isso sábio… — Disse Yohn, pasmo.

Nenhum, entretanto, ficou tão chocado quanto o próprio lorde Edmure.

— Não pode fazer isso! — exclamou Edmure, mas era tarde demais, dois guardas mostraram suas espadas e apontaram para ele.

Harrold sorriu com extrema satisfação ao olhar o espanto de todos no local.

— Sim, eu posso. — Disse, com júbilo na voz — Eu sou o Rei, afinal.

Edmure praticamente não teve reação por um tempo, estando genuinamente assustado. Entretanto, conseguiu forças no ódio, olhando com ódio para Harry, como antes, fazendo um carranca.

— Mate-me, então, imbecil — Desafiou Edmure, enquanto os guardas esperavam as ordens do Rei. — Eu vou te assombrar, junto dos fantasmas deste castelo, e você perderá todo o apoio do tridente.

Harrold sabia que aquelas palavras eram verdadeiras. Entretanto, não pretendia matar Edmure, apenas castigá-lo.

— Levem-no para as celas, acima da torre onde está Arya — Ordenou Harrold. — E espanquem-no lá! Quero correntes em seus pulsos e calcanhares!

Os guardas foram rápidos em fazer-lhe o que lhes era ordenado. Parecia que Gendry e Edric iriam tentar bloqueá-los, mas Arya os impediu com um gesto com a cabeça; Nymeria, entretanto, mostrava os dentes para Harrold.

Edmure estava furioso, mas se deixou levar, sem resistência alguma. Fixava o olhar em Harrold.

— Vai se arrepender por isso — Jurou Edmure, enquanto era levado para fora.

Quando ele se foi, Arya se virou e encarou Harry.

— O que você fez? — A moça perguntou, não irritada, mas atemorizada. Olhava com espanto para Harry. A loba dela eriçou os pelos e latiu.

Harrold olhou o animal com desprezo.

— Controle seu cão, Stark — cuspiu Harry.

Irritada, Arya chamou a loba:

— Nymeria, comigo! — ordenou — Agora! Anda!

A loba olhou para Harry por um tempo, pronta para atacar; entretanto, fez o que a dona mandava, se aproximando de Arya.

— Harrold… — Yohn Royce tentou dizer, mas Harry o ignorou.

— Este animal é um perigo — decidiu Harrold. — Não pode ficar a solta assim.

Arya não gostou de como aquilo estava indo.

— Nymeria nunca atacou ninguém — respondeu, tentando se manter calma.

— Ainda — Ele rebateu. — Ela destruiu o amante da usurpadora em um dia, pode muito bem matar um aliado em outro.

A irmã de sua esposa o olhou com aqueles frios olhos cinzas. Harry sabia que não podia confiar nela, assim como não poderia confiar em Edmure e Brynden. Pelos deuses, nem em sua esposa ele poderia confiar; Arya já havia tramado com Sansa.

— Quero que coloque-a no fosso de urso.

Aquilo aborreceu Arya; farta de ter de escutar as ideias e ordens estúpidas do estúpido marido da irmã.

— Não! — Ela respondeu, e Nymeria se irritou novamente, mostrando os dentes para Harry, e lambendo as narinas.

— Vai, sim — ordenou — ou seu tio será chicoteado e os seus amigos fora-da-lei serão executados.

Gendry e Edric olharam para Arya. Ela sabia que estavam dispostos a matar Harrold se ela assim o quisesse. Ah, e ela queria…

Entretanto, apesar de tudo, Harrold ainda era o rei do Vale. Atacá-lo poderia custar o maior apoio que tinham na guerra. Mordendo o lábio, Arya fez um gesto negativo para os companheiros.

Ela mataria Harry, mas teria que fazer sua própria pantomima até lá.

— Certo, Vossa Graça — fez uma reverência zombeteira.

Quando se virou, chamou Nymeria e foi em direção a porta dos aposentos, que estava aberta. Gendry e Ned foram até ela…

Harry sabia que aqueles três eram problemas. Com o tio de Arya preso, era só uma questão de tempo até que eles tentassem o libertar… Ou pior, matar Harry e tomar o comando.

— Não. — ordenou Harry, impedindo-os de se afastar. — Vocês dois estão presos.

Os rapazes o olharam, chocados.

— E por qual motivo? — indagou Gendry, irritado. Estava farto daquele pomposo imbecil.

— Bastardos são traiçoeiros — respondeu Harrold — E, é claro, você fudeu a cunhada do Rei do Vale. — olhou para o loiro que usava púrpura. — E dorneses também são traiçoeiros. — continuou: — Entreguem as espadas e serão levados em segurança; senão…

Os outros dois guardas que ainda estavam olharam para os dois rapazes.

Gendry estava quase pegando o cabo da espada valiriana, pronto para tentar matar Harry ou morrer tentando, até que olhou para Arya. Ela não estava irritada, estava apenas… Assustada. Assustada que ele e Ned morressem.

Suspirando, ele acenou para Harry e retirou a espada, jogando-a no chão. Ned fez o mesmo.

Harry sorriu com satisfação, enquanto aqueles três saiam; Arya iria deixar a loba de lado, enquanto seus dois amantes fariam companhia ao seu tio.

Quando eles saíram, Peixe Negro voltou-se para Harry.

— Como se atreve? — indagou Brynden, irritado.

Harrold o olhou, irritado. Aquele velho claramente não sabia o seu lugar; se ele fosse mesmo tão bom, ele não teria deixado Robb Stark morrer.

— Calado, ou se junta a eles — ameaçou-o. — Agora, vá com sor Bronze Yohn atrás de meus cavaleiros inquisidores..

— Majestade — disse Yohn —, se me permite…

— Não, não permito — Harry o cortou, irritado — Eu sou o seu maldito rei, não toleralei mais dúvidas! AGORA SAIAM!

Ouvindo a raiva na voz de Harry, Yhon ficou chocado. Brynden parecia pronto para falar algo, talvez tentar pegar um punhal e matar Harrold... Mas ele sabia que o sobrinho e neta estavam nas mãos do Rei; Harry, também sabendo disso apenas sorriu para o Peixe Negro.

Os homens anuiram e saíram de seus aposentos, apressados.

Harry, se sentindo exausto, se deixou cair na cadeira. Ele levantou o tinteiro que Edmure havia derrubado, a tinta escorreu um pouco, manchando alguns documentos que estavam sobre a mesa. Suspirando, percebeu que teria de reescrever alguns pergaminhos.

Ele percebeu que o solar estava frio e se virou para o primo, que estava parado ao seu lado, ainda pálido.

— Alimente a lareira — Disse, enquanto colocava o tinteiro sobre a vela em cima da mesa, para fazer a tinta voltar a ficar fresca. Ele olhou para as espadas que os dois amantes de sua cunhada deixaram no chão. — Ah, e me dê aquela espada — ordenou Harry, apontando para a lâmina caída no chão, onde Gendry a deixara.

Seu primo grunhiu, fazendo o que lhe era mandado. Ele trouxe a espada e deixou na mesa. Harry analisou a lâmina preta e suas linhas vermelhas, pareciam veia. Era aço valiriano, ele sabia. Inestimável. Sorrindo, ele retirou a própria espada da bainha e a largou no chão, colocando a de Gendry no lugar.

— Agora sim — Ele disse, após embainha-la — uma espada digna de um rei. Não é para bastardos!

Um soldado entrou, pouco após Harry terminar de derreter a tinta preta e pousar a pena nela.

— Senhor, Lorde Edmure, Sor Gendry e Lorde Edric estão presos. — anunciou.

Harry anuiu, retirando a pena da tinta.

— Ótimo, e a loba de minha cunhada?

— No Fosso, a dona ainda está com ela.

— Certo, isso vai ajudar — Disse Harrold — execute todos os amigos foras-da-lei que ela trouxe com os seus lobos, e depois, coloque as cabeças deles nos espinhos das muralhas. Ah, e garanta que qualquer lobo que não esteja no fosso, ou fora destas muralhas, seja abatido imediatamente. — Pegou um documento e começou a escrever — Ah, e trate de escoltar a princesa para seus aposentos. E garanta que ela fique por lá.

— Como ordenar, Vossa Graça. —O Guarda Real assentiu e girou os calcanhares, indo cumprir suas ordens.

Enquanto o observava partir, Harrold franziu o cenho, se lembrando do povo que acampava além daquela muralha

— Espere! — Ele ordenou, fazendo o soldado se virar.

— Sim, majestade? — o homem perguntou.

Ideias pertubadoras adentravam a força na mente de Harry. E se aqueles lá fora tramassem um plano para ajudar Edmure? Ou a princesa conseguisse os usar para tramar algo contra Harry?

Talvez já estivessem tramando algo, pensou, afinal, por qual motivo iriam querer-lhes dentro do castelo?. Com tanta gente assim, mais os lordes do tridente, Edmure e Arya logo poderiam se livrar dele e comandar tudo, como bem queriam fazer. Pelo que sabia, a sua esposa também podia ter-lhes ajudado com esse plano — afinal, por qual motivo teria aparecido, já que era tão apegado aos irmãos? Por que só não foi até o Norte? Ou na segurança do Vale? Ela e Sansa já haviam tranado por debaixo do nariz dele, bem podiam fazer isso de novo...

Ainda mais pelo meu ataque da última vez que vi Sansa..., a memória lhe deu um enjoo e ele levou uma mão até a gargantalembrando-se da imagem de enforcar Sansa.

— Quero que reuna os melhores arqueiros e atire no povo que acampa nas muralhas — ordenou, vendo que não tinha escolha. Não se sentia seguro. — Quando eles sairem, investigue o acampamento, procurando qualquer arma que possam ter; se por o acaso achar algo de valor, traga para nós. Depois, ponha fogo no local.

O homem pareceu ficar hesitante com as ordens impostas por Harry.

— Faça o que lhe mando! — ordenou. O homem assentiu e saiu, apressadamente, fechando a porta atrás de si.

— Harrold — Disse Roland, após o homem partir e eles ficarem a sós —, você ficou louco? Não pode estar cego a toda esta insanidade! O que ordena é um absurdo sem tamanho!

Harry lhe dirigiu um olhar irritado e apontou um dedo para o primo.

— Calado, ou será levado junto daquele bastardo imundo e Edmure! — Ameaçou — Eu juro, Roland, que não vou mais aguentar você e toda essa sua chatice.

O primo o olhou, surpreso, e tomado pelo medo. Assentiu e abaixou a cabeça, se encolhendo e afastando-se um pouco de seu rei. Claramente sabia seu lugar agora.

Harry sorriu. Estava enganado, no fim, ser rei, era divertido. Ele só precisava saber usar o poder de forma certa. Em um só dia, tinha tratado dos impostos, descoberto uma armadilha e se livrado de todos os rebeldes e fomentadores, antes que eles criassem uma ruptura em seu governo. Como havia se precupado? Ele estava sendo ótimo! Claramente estava errado ao ouvir aqueles irritantes lordes, que só sabiam duvidar dele e de suas ótimas 

E, quando os inimigos chegassem às grossas muralhas negras de Harrenhal, ele iria derrubar os inimigos, liderando o exército ele mesmo! Sim, iria usar a bela espada de Gendry, combinava mais com ele.

E assim, todos iriam lhe respeitar e ver o grande rei que ele era. Talvez assim Sansa aprendesse a ser agradecida e respeitosa ao marido que tinha.

 


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