Era Uma Vez... Uma Ilusão escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 3
2. Nada parece ter mudado, mas tudo mudou.




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12|10|1798 Palácio de Hampton Court, Londres

Poucos palácios britânicos possuem um histórico tão variado quanto Hampton Court. Erguido às margens do Tâmisa, Hampton Court já foi uma propriedade de Roma, passou ao soberano inglês, caiu nas mãos da Commonwealth e voltou ao monarca inglês, que logo tornou-se britânico. Tudor, Stuart e Hannover, todas as três últimas casas reais usufruiram do palácio, que nessas muitas mudanças tornou-se uma confusa, mas muito harmônica, mistura de estilos arquitetônicos.

Hampton Court viu desde o nascimento de reis, passando pela morte e condenação de rainhas, até a ordem que levaria a tradução King James da Bíblia. Mas o valor de Hampton Court não resumia-se apenas na história britânica, o palácio também era a principal residência dos marqueses de Bristol em Londres, que no momento era um "jovenzinho" com os irmãos mais novos.

Em um dos corredores de Hampton Court, as duas crianças mais novas de Bristol, Robert e Mary, batiam e esperavam impacientemente na frente de uma porta. Já fazia um bom tempo que eles esperavam, ou melhor, esperavam a boa vontade de Anne mandar alguma dama abrir a porta.

— Será algum tipo de piada, uma brincadeira com a nossa cara? — Não conseguindo parar em pé, Robert perguntou e bateu novamente, e com mais força, na porta.

— Anne não faz brincadeiras desse tipo, ela tem "maturidade", e nós merecemos. — Menos agitada, Mary respondeu num suspiro entediado. Ele revirou os olhos e virou-se para bater, mas, lembrando alarmada, a princesa agarrou abruptamente o braço dele. — Oh, meu Deus! Houve aquela vez que... eu disse para não trancar ela no laranjal!

— Foi mesmo, eu lembro. Mas ainda assim riu maravilhosamente, não foi? — Anne quase destruiu o laranjal de raiva ouvindo eles rindo. O príncipe sorriu malicioso, mas recebeu da irmã apenas uma careta. — Eu amo rir, obrigado. E foram apenas dez minutos, todo aquele escândalo foi desnecessário.

Dando ao irmão mais uma careta, Mary soltou o braço dele e bateu ela mesma na porta. O amor que existia entre irmãos era tão lindo, Robert riu divertido e negou, assim como também bateu com mais força ainda na porta.

— Se eu soubesse que seria assim teria ficado calada. — No mesmo instante que Mary negou irritada, a porta foi aberta e Camilla Neville apareceu.

Inicialmente Robert e Mary ficaram sem reação, até mesmo a Srta. Neville parecia confusa, mas bastou a dama fazer uma mesura para os irmãos lembrarem e entrarem no quarto, onde não foi difícil encontrar a irmã mais velha. Anne estava sentada em frente a penteadeira e lia atentamente, enquanto Jane Pembroke acabava de arrumar o cabelo dela, uma carta, muito provavelmente de algum parente alemão.

Muito provavelmente ela também nem percebeu a presença deles. Foi acreditando nisso que Robert sentou e apoiou os pés na pequena mesa de centro perto das cadeiras. Permanecendo no mesmo lugar, e em pé, Mary não comentou nada sobre o desrespeito do irmão, até que a própria Anne falou:

— Essa mesa não é um encosto para botas, Robert, então tire-as daí, sabe que não gosto. — Ainda lendo a carta, Anne censurou o irmão, que tirou gemendo a contragosto as botas da mesa. Robert ficou praticamente deitado na cadeira. — Bom garoto, como recompensa não comentarei nada sobre sua posição.

— Estou crescendo, Anne, então preciso me esticar ao máximo. — Mais uma desculpa para a falta de educação. A princesa mais velha negou e deixou a carta, o príncipe deu uma risadinha e voltou-se à outra irmã. — Sente-se também, Mary.

— Você ainda vai crescer muito, não fique preocupado com o distante. — Antes, porém, que Mary pudesse falar, Anne respondeu e, levantando-se, foi para junto da irmã. — Seu fermento ainda não...

— Tenho quase a mesma altura que Richard, talvez eu até seja mais alto. — Tão alto quanto Richard!? As duas analisaram o irmão, se entreolharam e riram com desdém. Naturalmente, Robert ficou irritado, tanto que levantou e apontou para elas: — Muito bem, riam o quanto quiserem! Mas saibam que ainda serei tão alto quanto papai foi!

Essa promessa gerou ainda mais risadas entre as irmãs, elas pareciam achar isso tão impossível quanto voar ou ressuscitar dos mortos. A expressão do príncipe ficava a cada instante mais irritada, tanto que em dado momento ele parecia prestes a gritar, mas Robert simplesmente cruzou os braços sobre o peito, sentou na cadeira e virou o rosto com os olhos fechados... como um menininho arrogante. Anne e Mary negaram sorrindo.

— Está certo, então, gigante, você será tão alto quanto papai, mas Richard será primeiro. — Dessa vez foi ele que riu com escárnio de Anne. As duas princesas reviraram os olhos e sentaram em frente ao irmão. — Peço, porém, que você não mencione muito nossos pais hoje. Para todos nós 12 de outubro é um dia infeliz.

A raiva do príncipe transformou-se rapidamente em pesar, tanto que agora ele encarava melancolicamente o chão. Anne e Mary não estavam muito melhor, e embora a mais velha tentasse esconder, era impossível não mostrar alguma dor. Cinco anos haviam passado, de fato, mas eles ainda eram apenas crianças, e crianças nunca poderiam superar plenamente o trauma de serem jogadas sozinhas no mundo.

Com os príncipes nesse estado o silêncio instaurou-se no quarto. As Srtas. Neville e Pembroke já estavam acostumadas com momentos assim, por isso mesmo apenas sentaram no recamier e esperaram. Com um suspiro triste, Mary foi a primeira a voltar ao "normal", e nessa ação os olhos dela encontraram a Sra. Pembroke.

— Mas vejam só, então foi aqui que Jane veio parar!? Eu fiquei sozinha com Emma, sabia? — O divertido tom da princesa chamou a atenção dos irmãos mais velhos, que encararam provocativos a dama. Jane Pembroke corou, enquanto Camilla riu. — Assim terei que dispensá-la, senhorita. E você não pode roubar minhas damas, Anne!

— Oh, querida irmãzinha, suplico seu perdão, mas Sarah... digo, Lady Compton não voltou da lua de mel. — Dramaticamente, Anne respondeu chorosa e levou uma mão à cabeça, como se sentisse dor. Robert e Mary se entreolharam risonhos. — Assim o barão e a baronesa irão voltar de Brighton com insolação ou... Jesus Cristo, um herdeiro!

— Que situação! Devemos tomar uma ação imediatamente, com a Srta. Pembroke, claro. — Não poderia haver confusão. A sugestão de Mary foi respondida com um assentimento dos irmãos. — O que acha, querido Kendal?

— Um castigo, e já! — O príncipe gritou teatral ao levantar, fazendo Jane e Camilla rirem em susto. As duas princesas estavam quase perdendo a postura na diversão. — A aia irá para a dinamarquesa!

Foi o ápice da diversão, fazer chacota de parentes estrangeiros, principalmente os que logo iriam casar, mesmo que fosse com o irmão mais velho deles, sempre seria divertido. Entretanto, logo as risadas acabaram, principalmente por conta da mais velha. Novamente séria, Anne limpou a garganta, chamando assim a curiosa atenção dos irmãos.

— Não querendo ser rude, mas já sendo, qual o motivo dessa visita tão… anormalmente cedo? — Para não dizer incomum, esses dois só apareciam trazendo problemas. Mas, fazendo ela franzir o cenho, Robert e Mary apenas se entreolharam em silêncio. — Eu tenho tarefas, vocês sabem, então não me façam perder tempo. É difícil equilibrar um aniversário de 13 anos com o casamento de Richard... e onde está Richard!?

— Bem... é justamente por isso que estamos aqui. — Sobre Richard? Anne inclinou confusamente a cabeça para Mary. Como... exatamente... — Você viu Richard hoje?

A confusão da princesa mais velha tornou-se ainda maior, tanto que ela, novamente, franziu o cenho. Então eles ainda não tinham visto Richard? Mas ele sempre acordava cedo, pelo menos na maioria das vezes... Por que Robert não tirava as botas após caminhar no parque? Isso incomodava tanto Anne e… ela estava dispersando. A princesa suspirou e negou aos irmãos.

— Eu deveria saber?

— Você não se diz a senhora da casa? A senhora da casa deve saber de tudo que acontece. — Irônico e desafiador, Robert respondeu. Quem disse isso para ele? Anne encarou duramente o irmão, que voltou a seriedade. — Procuramos em todo lugar, nos quartos, jardins... até mesmo no parque, mas nada.

— Talvez Richard esteja no escri...

— Não. — Imediatamente ela foi cortada por Mary. Fazia um certo sentido o marquês não estar no escritório.

— Na biblioteca, lendo sobre Milano, Firenze ou Venezia...

— Procurei até entre os livros de economia e romance, mas nada. — Que situação. Então Richard não estava nem entre pesadelos, e muito menos sonhos. A princesa ficou pensativa, mas Robert, tentando fazer rir, acrescentou: — Nosso irmãozinho mais velho parece ter sumido. Isso me faz marquês? Perdão.

Dessa vez passou dos limites! Ao receber olhares duros de todas as mulheres no quarto, o príncipe abaixou a cabeça e calou-se. Se Richard não estava nos lugares que gostava e nem onde normalmente se escondia, onde ele estava?

— Richard gosta... não me atrapalhe, Mary! — . A princesa mais jovem estava prestes a falar, mas obedientemente fechou a boca. — Goldenhall, Richard gosta muito de Goldenhall.

Robert e Mary negaram sérios. Que situação, Anne apoiou-se pensativa na cadeira. Se Richard também não estava no amado Goldenhall dele, então... ela estava começando a ficar preocupada.

— Fizemos todo o esforço possível. — Por fim, Robert respondeu.

Um pensamento logo veio à cabeça da princesa, que levantou abruptamente da cadeira. Talvez todo o esforço tenha sido feito, realmente, mas não o suficiente. Anne encarou Robert e Mary, que naturalmente ficaram confusos.

— Hoje é 12 de outubro, sendo assim, vamos...

*****

A galeria principal, ou galeria de Bristol, era com certeza o mais importante templo dedicado aos Tudor-Habsburg na Inglaterra. Praticamente toda a história deles estava retratada nas pinturas desse corredor, todos eles estavam nesse corredor. Maximilian I e Bianca Sforza, William, o 4° duque de Avon, Anna da Suécia, Ferdinand III e Anna da Áustria, William e Catherine… todos observando e julgando quem passava pelo corredor, ou pelo menos esse era o sentimento.

Era possível sentir todo o peso de ser um Tudor-Habsburg apenas por estar nessa galeria. Não era apenas sorrir, parecer feliz e mostrar beleza, mas também suportar todos os problemas com uma perfeita dignidade imperial. Simplesmente nascer com esse nome já era difícil, então liderar os Tudor-Habsburg era praticamente o inferno na terra... principalmente com todos os olhares condenatórios desses imperadores, reis, eleitores, arquiduques, príncipes e marqueses!

Respirando fundo e depois suspirando, Richard apertou os punhos e tentou não perder a razão. Um Tudor-Habsburg nunca perdia a razão. Muito pelo contrário, o marquês levantou a cabeça e encarou fixamente os retratos duplos a frente dele. A marquesa Katherine e o príncipe Wilhelm eram os retratados, ambos no mesmo cenário e encarando um ao outro, o príncipe até estendia levemente uma mão a marquesa, como que sinalizando para ela juntar-se a ele.

Não era a melhor pintura deles, pelos menos não para Richard, eles quase nem sorriam, mas não deixava de ser especial. Essa pintura tinha cinco anos, exatamente igual... ao tempo que ele era marquês. Tantos anos haviam passado, tanto havia mudado, mas muito ainda parecia ter acontecido ontem, principalmente o 12 de outubro. Richard ainda sentia-se como aquele menininho de 13 anos que, mesmo despedaçado por dentro, não chorou pela morte dos pais.

Sem mãe, sem pai, sem avós e sem parentes, tê-los no continente era o mesmo que não ter, eles foram quatro crianças jogadas sozinhas no mundo, à mercê dos ambiciosos. Graças ao Cristo, porém, ações foram tomadas pelo rei e a rainha, os autodeclarados responsáveis pelas crianças de Bristol. Lady Pembroke continuaria cuidando deles, enquanto o 2⁰ conde de Aberavon agiria como o representante do príncipe de Niedersieg, até que o mesmo completasse 18 anos.

— Nada parece ter mudado, mas tudo mudou. — As crianças deixaram de ser crianças. Richard e Robert já eram quase homens, Anne havia se tornado uma bela jovem e Mary seguia pelo mesmo caminho. — Parece precoce, não? Eu acho precoce... o que vocês achariam?

O que achariam de tudo isso? Richard suspirou e fitou calado as duas pinturas. Essa era uma pergunta feita tão frequentemente por ele. Estariam aprovando ele? Teriam orgulho? Ficariam contentes por Richard e Anne estarem sempre sorrindo? E quanto aos mais novos, ficariam satisfeitos com o desenvolvimento deles?... existiam tantas perguntas, mas tão poucas respostas...

— Eles estão tão belos nessa pintura, não é? — Imediatamente o marquês colocou um sorriso nos lábios e, voltando-se para trás, assentiu. Anne, a "líder", Robert e Mary curvaram-se ao irmão. — Gosto muito dela. Thomas Lawrence retratou com perfeição toda a beleza régia e afeto deles.

— Para falar a verdade, eu prefiro aquela onde mamãe está sentada no jardim e usando um vestido rosa e branco. Já papai usa uma roupa informal e encara o expectador. — Os três foram para o lado dele, então o marquês voltou aos quadros e sorriu com saudade: — Mamãe e papai estão sorrindo, por isso é a minha favorita.

— Então por que olhar para essa? — Richard fitou confusamente o irmão e a pintura. Impedindo, porém, qualquer resposta, Anne pisou no pé de Robert, que gemeu numa dolorosa careta. — Anne! Você tem cascos no lugar de pés, é!? Pelo Cristo, que dor do...

Com um simples olhar fulminante, Anne calou o jovem Kendal, que fechou a boca e levantou as mãos em sinal de rendição. Não aguentando mais, Richard começou a rir, sendo imediatamente seguido por Mary, que já segurava uma risada. Isso apenas deixou a princesa mais irritada ainda, tanto que ela arrogantemente parou de encarar Robert e voltou às pinturas. Oh Deus, mesmo não querendo, era melhor para.

— Boa pergunta, Robert, mas eu francamente não sei a resposta. — Ainda tentando não rir, ele respondeu, recebendo em seguida olhares confusos dos irmãos. Richard sorriu de lado e voltou aos pais. — Apenas sei que essa é minha pintura favorita deles... talvez seja a lembrança.

— Afinal eles estão exatamente como lembramos: altos, belos e imponentes... Nunca irei esquecê-los. — Mais sério que o normal, Robert respondeu. Havia essa possibilidade.

— Nenhum de nós irá, nunca. — Era impossível não sentir pena de Mary ao escutá-la. Dentre todos, ela era a mais propensa a esquecê-los. Os irmãos ficaram em silêncio um momento, até que... — Mas isso não apaga o motivo de estarmos aqui. Você nos preocupou, Richard! Robert e eu lhe procuramos por todos os quantos!

— E ainda foram me perturbar, mesmo estando muito cedo! — Não dando oportunidade para ele se defender, Anne acrescentou em tom de repreensão, mas sorriu em seguida. — Vocês dois não têm nenhuma paciência, por acaso? Parecem crianças.

— Perdão, madame, mas ainda não alcançamos seu alto nível de madureza. — Com o comentário de Robert os irmãos voltaram a rir divertidos, nem mesmo Anne se refreou.

Infelizmente as risadas foram rápidas dessa vez, tanto que logo eles pararam e o silêncio retornou. Estavam buscando-o, não? Richard mordeu os lábios e fitou sorrindo Mary.

— Em minha defesa, eu perdi a noção do tempo. São anos demais para um só corredor. — Novamente eles riram, quase não parecia com ele esse tipo de desculpas. Acabando as risadas, o marquês negou com um sorriso divertido. — Quero ficar bem longe desse lugar, pelo menos nesses próximos... dois dias.

Depois viria o casamento e... tudo mudaria drasticamente... o marquês novamente negou, tentando expulsar quaisquer preocupações com o futuro. Mas seria fácil, o duque de Kendal ajudaria.

— Não fique preocupado, meu marquês, eu mesmo virei buscá-lo caso necessário. — Mesmo? Richard arqueou uma sobrancelha. O príncipe mais novo sorria com a arrogância de um jovem adulto. Era quase risível!

— Quero só ver você tentar, grandalhão. — Como resposta, Robert simplesmente fez uma careta. Agora foi Richard que sorriu arrogante, até que ele lembrou: — Vamos tomar o café da manhã?... ainda está na hora do café da manhã?

— Ainda é meio-dia. — Já andando na frente, Anne respondeu calmamente.

Quem não seguiu o mesmo exemplo de calma foram os dois mais novos, que ultrapassaram a irmã no meio do caminho para a sala de jantar informal. A julgar pela forma como Anne encarava fixamente as botas de Robert, eles esperavam por esse momento a horas, era surpreendente não terem tomado o café da manhã antes.

*****

Na sala de jantar informal, todos os quatro irmãos ocuparam seus devidos lugares, sempre nas laterais, nunca usando a cabeceira, e o café foi servido pelos criados. Enquanto Richard comia da refeição com alguma emoção, Anne apenas encarava os ovos fritos no prato, uma diferença muito contrastante com Robert e Mary, que pareciam não comer a dias, faziam até um leve barulho...

— Poderiam comer como pessoas de classe, por favor!? — Entre mexer os ovos já mexidos e analisar o chá, Anne perguntou impaciente. — Vocês são realeza, não porcos famintos!

— E você não podelia... no mínimo, comer o que tem? Alguns passam fome, Anne. — O marquês quase engasgou rindo ao ouvir Robert, ainda com a boca cheia. A princesa ficou enojada, ainda mais quando o irmão sinalizou a um criado: — Tragam logo o pão com manteiga da princesa, por favor.

— Não fale com os criados, Robert! Você conhece muito bem as regras! — Regras essas que Robert sempre quebrava quando lhe convinha. Richard negou e bebeu chá. — Mande trazer o pão, Camilla.

Tão calma agora, Anne nem parecia estar cheia de raiva com as altas risadas do irmão mais novo. A Srta. Neville fez uma simples mesura e sinalizou para um criado, que logo saiu e depois voltou trazendo o pão e a manteiga.

— Fracamente, vocês dois não cansam? Nem aqui temos paz. — Aproveitando o raro momento de silêncio, Richard censurou os irmãos. Ele ficou sem respostas, claro, então acrescentou num suspiro entediado: — Acho que também vou querer pão, mas talvez com geleia, não manteiga...

— Eu poderia fazer uma pergunta, Richard? — Já não estava fazendo? Sorrindo curioso, ele encarou Mary e assentiu. A princesa sorriu de volta, hesitou um momento e perguntou: — Como é a princesa Cathrine?

Richard praticamente paralisou com essa pergunta, Anne encarou a irmã com horror e Robert... continuou a comer sem dar importância alguma. Como é a princesa Cathrine? Que situação. O marquês piscou freneticamente e simplesmente deu os ombros.

— Imagino que seja como qualquer outra princesa Oldenburg. — Pelo menos era isso que as pinturas mostravam. O marquês fitou a pensativa irmã.

— Será que ela é parecida com papai? — Talvez? Mary deixou então a expressão pensativa de lado e sorriu animadamente para ele. — Refresque novamente minhas lembranças, diga-me como era o papai...

— Não havíamos combinado que mamãe e papai não seriam mencionados hoje, Mary? — Haviam o quê? O príncipe dividiu um surpreso olhar entre as duas irmãs. — Já falamos tanto deles hoje, HOJE, que...

— Mas como descrever a princesa sem mencionar papai? Anne, seja realista, por favor.

Tal pedido foi visto com horror pela princesa mais velha, Richard até escutou ela sussurrar um "realista!?". Parecia uma disputa de vontades, e disputas assim sempre levavam a discussões. Antes que qualquer coisa a mais fosse dita, o marquês tomou a palavra:

— Papai era alto e tinha mãos grandes, tanto que eu me perguntava se algum dia teria pernas e mãos tão grandes, já sabemos hoje a resposta. O nariz e o queixo também eram grandes, mas não feios. — Os três escutavam atentamente o irmão, mesmo não mostrando. — Os olhos eram azuis como dois oceanos, igual a Anne e Robert. Ele tinha um cabelo castanho muito escuro. Papai era muito bonito.

Parando de falar, Richard encarou os irmãos. Mary sorriu muito satisfeita, muito diferente de Anne, que parecia deprimida, e Robert, que nem mesmo olhava para ele. Isso nunca seria agradável, na realidade, parecia um pedido para más recordações que um dia já foram alegres.

— Então com certeza ela será linda, muito linda. — Sorrindo amavelmente, Mary respondeu e voltou aos ovos.

— Quer linda ou feia, a princesa Cathrine será muito bem recebida. — Impacientemente Anne colocou um ponto final nessa conversa. Suspirando, ela pegou a xícara de chá, mas continuou resmungando: — Que ideia essa do rei, casar você com uma princesa dinamarquesa, como se não houvesse outras opções.

Richard também achava essa uma escolha muito... curiosa, mas aceitaria com honra. Cathrine da Dinamarca e Noruega, como seria ela? Casamentos assim, com os noivos praticamente desconhecidos um ao outro, estavam ficando cada vez mais incomuns, mas... como conhecer uma princesa do continente quando se morava em uma ilha? De qualquer forma, ele estava curioso em relação a ela. Teriam eles um "felizes para sempre"?


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Notas finais do capítulo

* Aqui tivemos um capítulo inteiramente dedicado aos Tudor-Habsburg. Dá pra ver uma grande diferença entre eles e a família do príncipe Frederik da Dinamarca. Como Cathrine irá reagir a isso? Só lendo para saber.

* Devo confessar que é muito divertido escrever as interações entre esses irmãos, por isso decidi dar para eles mais destaque. Daí surgiu os núcleos, que, pelo menos no início, serão ocasionais. Até eles merecem uma história decentemente formada, não?

* No próximo capítulo: Cathrine finalmente chega a Londres, mas imediatamente é confrontada com uma terrível surpresa. Ela nem mesmo chegou, mas já parece ser odiada.

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