Conflitos do Coração escrita por Yukiko Tsukishiro


Capítulo 4
Fuga


Notas iniciais do capítulo

Luo Jinsang se encontra...

Yunhe decide...

Song Wu observa



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Luo Jinsang ergue os olhos e os arregala com que a mulher fala, para depois, balbuciar:

— O quê?

— Eu acabei ouvindo por acidente e acredito que a sua reação as palavras dele foram para não aceitar como sendo plausíveis ou aceitáveis – Luo ia argumentar quando a mulher olha para ela - Que vida alguém pode levar trancada e isolada de familiares e amigos, ainda mais, alguém inocente da acusação de traição porque eu não acredito nos boatos em relação a ela. Eu acredito que essa mulher teve um motivo muito forte para fazer o que fez e que tudo isso foi ocasionado por algum engano. Uma inocente confinada sofrendo com a sua saúde porque os médicos comentam que ela sente dor e vomita quase que diariamente ao mesmo tempo em que morre gradativamente, além de ficar isolada de rostos familiares e amigáveis ainda mais estando tão doente. Afinal, nesse momento nós ficamos mais necessitados de uma companhia amigável. Como isso pode ser considerado viver? Não seria mais piedoso morrer e parar de sofrer? Para mim, o que ele faz com ela é tortura e crueldade. Viver sendo torturada é horrível.

— Se ele busca medicamentos e tratamento para ela, não significa que a tortura... – ela responde fracamente enquanto questionava como a mulher misteriosa sabia disso tudo.

— Para prolongar o sofrimento dela porque deseja puni-la e considerando o desejo de vingança dele, eu não ficaria surpresa. Sabe, eu concordo com o seu amigo no que ele disse.

— O peixe nunca a machucaria fisicamente.

— Sabe, não existem somente ferimentos físicos nesse mundo. Há ferimentos por magia, emocionais e psicológicos. O primeiro pode deixar ou não marcas físicas enquanto que os dois últimos não deixam ferimentos visíveis porque provocam exclusivamente ferimentos internos. Sobre tortura e sofrimento há muitas formas de se fazer isso sem envolver necessariamente danos físicos.

Luo sente o seu coração se restringir, mas, se recupera e fala ainda com esperança:

— O peixe nunca iria machucá-la e eu acredito que em algum momento, eu vou conseguir vê-la. Qing Ji pode me ajudar.

Song Wu olha para a jovem que está à beira das lágrimas e suspira.

— Quem é você? Como sabe disso?

— Eu me chamo Song Wu e sou a nova cuidadora dela – ela olha para o céu – Eu preciso ir. Ainda tenho que passar na cozinha para pegar a comida dela.

Luo apoia a sua mão no braço dela e pergunta esperançosa:

— Você pode me ajudar? Eu vou retribuir se me ajudar. Também posso pagar com prata e até ouro. Também possuo pedras espirituais.

— Você saberá mais tarde. Mas, acredite. É melhor você manter em segredo a nossa conversa. Como você deve ter percebido, você tem mais chances de vê-la com a minha ajuda do que rogar em busca da clemência daquele tritão, algo que é infrutífero. Eu acho que você pode perceber isso, agora.

Ela solta a mulher e consente enquanto a observava se levantar e se afastar ao mesmo tempo em que colocava as duas mãos fechadas no tórax, se recordando das palavras de Qu Xiaoxing e da mulher, fazendo-a questionar se foi o melhor para Yunhe trocar de carcereiro, com Luo sentindo uma pontada de culpa por ter conseguido o favor de Qing Ji ao se embebedar com ela, fazendo assim a lendária demônia prometer um favor.

Afinal, Chang Yi conseguiu invadir a seita do grão-mestre para retirá-la por causa da ajuda da Fênix de Jade que atraiu Ning Qing para o extremo norte,

Por algum motivo que não conseguia compreender, as palavras dela a fizeram repensar mais do que as palavras do seu amigo porque costumava ignorar o que ele falava, facilitando assim para ela recusar os argumentos dele, com Luo desconhecendo o fato de que a mulher usou um encantamento suave e imperceptível para que as suas palavras a influenciassem ao ponto de fazê-la ficar reflexiva.

Algumas horas depois, o tritão se preparava para fazer uma ronda nos pontos em que estavam sendo fortalecidas as defesas para verificar minunciosamente a execução das melhorias quando Kong Ming arqueia o cenho, fazendo o tritão olhar curiosamente para o monge que se aproxima.

— Está partindo em uma ronda?

— Sim. Eu espero voltar o quanto antes para o meu compromisso diário, três vezes ao dia.

O monge solta um suspiro em desalento porque sabia que o jiaoren fiscalizava se a vilã comia toda a comida que era ofertada e que tomaria o medicamento receitado pelos médicos imperais enquanto esperava que não fosse arrastado pelo seu melhor amigo para tratar alguém tão má porque iria contra a promessa que fez a si mesmo de eliminar o mal.

Chang Yi não pergunta sobre o misto de aborrecimento e desânimo no rosto dele porque sabia a causa. Mas, não podia fazer nada em relação a isso.

— O que deseja falar, amigo?

— Não se esqueça que amanhã será a sua coroação como Beijing-Zunzhu (Mestre da região Norte), tornando-o oficialmente o Zhushang (Lorde ou senhor enquanto que também significa o governante supremo ou imperador em chinês clássico) desse reino.

— Eu acho desnecessário essa cerimônia porque já executo essa função desde que fundamos este reino e todos sabem a minha autoridade.

— Sim. Você executa e nós fundamos esse reino como você disse. Mas, é necessário ter um evento oficial e uma coroação igualmente oficial, principalmente para nós, humanos. Você já detém o respeito dos demônios pelo poder que possuí porque pode ser considerado o demônio mais poderoso abaixo da Fênix de Jade. Porém, é essencial fazer o seu título oficial e a cerimônia fará isso. Os preparativos já estão prontos e os convidados selecionados já receberam os respectivos convites para a cerimônia da sua coroação. As suas roupas cerimoniais e a coroa já estão preparadas. Apenas quero lembra-lo porque sei que estamos ocupados fortalecendo as defesas com base nas últimas batalhas e relatórios, aproveitando o fato de que o grão-mestre bastardo não está ativo no momento por estar ocupado apenas em tratar aquela vadia bastarda que sobreviveu ao incêndio.

— Eu agradeço pelo lembrete.

Após o monge se afastar e se certificar que o seu amigo estava longe o suficiente para não ouvir as suas palavras mesmo com os seus sentidos extremamente apurados e acima da capacidade de muitos demônios, ele comenta consigo mesmo:

— Eu espero que aquela outra vadia bastarda no Jardim das nuvens não apronte no dia da coroação oficial dele. O quanto antes ela morrer, melhor. Assim, ele ficará livre dessa obsessão.

Suspirando novamente pelo fato do jiaoren se preocupar com alguém malvado que era a mulher doente que estava aprisionada e isolada no Jardim das nuvens, ele se vira e se afasta para fiscalizar o andamento da cerimônia e tudo o que era necessário para oficializar o título do seu amigo.

No dia seguinte, longe dali, mais precisamente no terceiro andar da construção no lago congelado ao norte do palácio e seu complexo, a ex-guardiã do Vale demoníaco acorda quando surge o entardecer no horizonte e observa com curiosidade uma mulher diferente entrando com a comida.

A recém-chegada tinha pele alva e belos cabelos negros como a noite além de olhos ônix. Seus movimentos eram delicados e possuía uma aparência jovial que a deixou atônita enquanto que o semblante dela a deixou sem palavras.

Afinal, olhou para Yunhe e demonstrou pena, algo que não esperava porque todos a ignoravam e de Chang Yi só conhecia o semblante frio ou cruel, dependendo do humor dele, somente vendo o antigo Chang Yi quando passava mal.

Além da pena, existia compaixão e ela até a ajudou a se levantar ao caminhar até a Guardiã do Dharma, para depois, auxiliá-la a se sentar na mesa com movimentos gentis após arrumar a refeição dela.

Após ser intimidada e ter sentido uma dor intensa infligida por Chang Yi junto do fato de ser ignorada pelos servos enquanto era olhada com frieza ou crueldade por quem ainda amava, fazendo assim com que todos os atos, semblante e palavras proferidas fossem duplamente dolorosos, ela estava se tornando emocional com a conduta distinta da mulher.

A gentileza no olhar lhe atingiu o coração e quase a fez chorar de felicidade.

— Quem é você e o que aconteceu com Jiang Weiyan? – Ela pergunta com a voz embargada em emoções devido a intensidade delas e que irromperam de uma só vez com a atitude distinta da mulher.

— Jiang Weiyan não virá mais. Eu estou ocupando o lugar dela. Eu me chamo Song Wu. Prazer em conhecê-la.

Essa gentileza a fez ser atingida por um estado emocional e ela não pôde impedir o leve tremor emocional que a acometeu.

— Eu tenho que sair agora. Eu volto depois.

Antes que Yunhe pensasse muito, a mestra de demônios agarra desesperadamente o punho dela, fazendo a mulher olhar com indagação para ela que pergunta em uma voz quase que suplicante:

— Você poderia voltar e ficar? Você tem como fazer isso?

— Sim. Mas, por enquanto, não posso ficar muito. Eu preciso terminar a papelada. Mesmo sendo apenas a sua cuidadora, tenho que preencher alguns papeis porque acabei de ser designada.

— Eu entendo.

Com muito custo, ela soltou o braço dela e falou cabisbaixa:

— Não terá problemas?

— Não.

— Ele virá para me fiscalizar porque deseja se certificar que eu como toda a comida e que tomo o remédio amargo que ele traz.

— Eu vou observar a distância e quando ele sair, eu entrarei.

— Obrigada.

Ela se levanta e se retira.

Como de costume, Chang Yi entrou após alguns minutos e a observou terminar obedientemente a refeição enquanto achava estranho o fato dela não tentar barganhar ou pedir algo.

Porém, não perguntou o motivo e como sempre acontecia, com raras exceções, o tritão sai sem dizer uma única palavra.

Yunhe confessava que comeu obedientemente porque ansiava que ele saísse o quanto antes para poder conversar com Song Wu enquanto ficava feliz internamente por não ter passado mal.

Então, após alguns minutos expectantes, ela voltou para a felicidade da humana e começou a arrumar as coisas, para em seguida, se sentar ao lado dela, olhando-a gentilmente, fazendo a mestra de demônios ficar emocionada.

— Você é diferente dos outros.

— Sim.

"Acredite, eu sou bem diferente. " – Ela completa em pensamento.

— Você deve seguir regras.

— Sim. Mas, isso não me impede de conversar com você.

— Os outros não fazem isso.

— Eles têm medo e dependem do emprego. Além disso, a fama desse tritão o precede. Ademais, como você é uma prisioneira e não tem um título oficial, eles acreditam que ele a odeia e por isso, preferem ignorar a sua existência por precaução.

Ela fica surpresa ao vê-la trata-lo sem o respeito que seria esperado.

— E você não precisa? Você não o teme?

— Não e não preciso do emprego.

— Faz tempo que não vejo o mundo lá fora.

— Quanto tempo?

— Seis anos.

Ela finge surpresa e depois, fala:

— Eu tenho uma habilidade especial.

— Qual?

— Ler mentes. É algo bem chato. Eu evito usar. Mas, alguns pensamentos simplesmente saltam, assim como os seus.

Ela arregala os olhos, para depois, sentir o toque das mãos dela em cima das suas como se a confortasse, com a mulher falando enquanto sorria:

— Não se preocupe. Não vou falar para ninguém. Mas, já advirto. Provavelmente, terá consequências. Isso é fato.

Yunhe fica aliviada e estende a mão, revelando a névoa negra que dançava na sua palma:

— Eu sei e compensa se eu puder ver o mundo lá fora, nem que seja por alguns minutos. Provavelmente, eu vou morrer em breve. Não vejo problemas em agitar as coisas um pouco. Mas, vou esperar você ir embora. Não quero que você seja envolvida nisso.

— Obrigada.

Elas conversam mais alguns assuntos com Yunhe conseguindo descobrir o que acontecia lá fora ao mesmo tempo em que ficava estupefata ao descobrir que apesar do incêndio brutal e intenso, Shunde conseguiu sobreviver milagrosamente embora tivesse grande parte do corpo queimado pelas chamas.

Elas conversam por mais algum tempo até que Song Wu tem que ir embora, com ela se despedindo da mestra de demônios, para depois, se retirar.

Alguns minutos depois, ao longe, ela olha para a casa no Jardim das nuvens e vê a fuga de Yunhe após a humana quebrar a matriz do tritão e pisar no parapeito da janela, para depois, envolta em uma capa que ela mesmo fez com um tecido, saltar para o ar frio quebrando várias correntes no processo, fazendo com que os servos que estavam no local ficassem atônitos ao verem as nove caudas negras atrás dela enquanto que outros gritavam para avisar o imperador da fuga da prisioneira ao mesmo tempo que os outros estavam estupefatos para fazerem qualquer coisa porque pensavam que era apenas uma humana.

Na visão de Song Wu era uma tentativa infrutífera porque sabia que Chang Yi estava no local.

Afinal, ela havia lido sobre esse acontecimento no livro do destino dela.

De fato, como mostrado, a mestra de demônios estava fraca demais, com a própria Yunhe sabendo disso porque se sentiu cansada após quebrar a matriz dele além do fato de sentir dor no peito.

Por isso, não consegue mais voar e se limita a correr pelo lago congelado em direção as montanhas até que perde as forças e cai no gelo, rolando vários metros enquanto a sua capa se enrolava junto dela até que para ao deslizar por uma boa distância ao mesmo tempo em que as suas nove caudas desapareciam.

Então, ela começa a rir, mexendo os braços e as pernas enquanto um imenso sorriso brotava em seu rosto, com a humana gargalhando alto como uma criança se divertindo na neve, para depois, deitar de barriga para cima para olhar o lindo céu estrelado ao mesmo tempo em que a sua respiração quente formava lufadas de vapor, fazendo com que adicionasse pequenas neblinas a beleza do céu noturno.


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