Conflitos do Coração escrita por Yukiko Tsukishiro


Capítulo 5
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Notas iniciais do capítulo

Yunhe não consegue...

Chang Yi decide...



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Pelo canto dos olhos, Song Wu viu ao longe o jiaoren olhando para a mulher fugitiva, sabendo que o demônio não tinha pressa de se revelar.

De fato, ele havia visto a fuga dela ao sentir a sua matriz ser destruída e depois, assistiu quando ela desceu ao lago e começou a gargalhar.

Aquela era Yunhe em sua forma mais natural, despreocupada e livre, fazendo o tritão se perder em reminiscências até que usa as suas lembranças de seis anos atrás para fazer o que era necessário ao mesmo tempo em que odiava a si mesmo por interromper essa visão rara enquanto duvidava que presenciaria novamente após se aproximar dela.

Usando o seu sofrimento daquele período, ele consegue exibir uma face fria para tratá-la com a frieza que sempre a tratava desde que a confinou ao mesmo tempo em que se preocupava com a saúde dela por estar deitada no chão frio ao considerar a magreza que imperava nela e igual fraqueza.

Inconscientemente, o jiaoren se aproximava lentamente porque no seu íntimo não desejava irromper a felicidade genuína dela em um momento tão raríssimo. Era uma visão que o tritão não queria que sumisse tão cedo porque sabia que desaparecia aquele semblante e postura assim que interagisse com a humana.

Yunhe sabia pelos passos quem se aproximava ao mesmo tempo em que era ciente que não conseguiria mais alcançar a liberdade que o seu coração almejava. Mesmo assim, ainda havia resquícios de uma felicidade verdadeira ao continuar contemplando o belíssimo céu.

Sem olhar para ele, a mestra de demônios comenta que encarava o que fez como uma fuga romântica na forma de uma guerreira rebelando-se contra o diabo que habitava o seu coração.

Então, o imperador do reino do Norte fala com a voz mais fria do que o ar no entorno deles ao mesmo tempo que falava em um tom cruel apesar de serem palavras que soavam como preocupadas:

— Levante-se. O gelo é frio demais.

Yunhe sabia que deve ter sido fácil demais o jiaoren persegui-la enquanto percebia o quanto foi inocente ao ter cogitado que teria tido êxito em seu plano. Mesmo assim, não se arrependia por tentar fugir e acreditava que nunca se arrependeria de ter se permitido saborear o gostinho da liberdade que lhe era negada desde que era criança após os seus pais serem caçados e mortos por tentarem fugir com ela.

A recusa dela fez ele ficar ainda mais irritado:

— Levante-se.

Mas, a jovem continuou se recusando e remexeu novamente seus braços e pernas no chão, falando que não queria se levantar.

Então, o imperador concentra os seus poderes demoníacos para depois, mexer as pontas dos dedos, fazendo um som irromper no local enquanto vários pilares de água quente jorraram do gelo abaixo de Yunhe, envolvendo os seus membros e pescoço ao mesmo tempo em que a levantavam do chão gélido e aqueciam o seu corpo e extremidades congeladas.

Chang se virou e passou a conduzi-la atrás dele usando os pilares para carregar a humana que chama repetidamente o seu nome, com ele a ignorando até que Yunhe fala:

— Eu consegui romper milagrosamente a sua matriz e saí em grande estilo da construção. É muito constrangedor para mim voltar assim.

O tritão deu uma risada fria e falou sem abrandar os seus passos:

— Você acha constrangedor? Então, não deveria ter rompido a minha matriz no entorno em primeiro lugar.

A jovem entendeu a reação dele porque compreendeu que ele não reclamava abertamente apesar de estar secretamente zangado com ela que deu o seu melhor sorriso persuasivo enquanto tentava argumentar:

— Eu desejava fazer hoje um pouco de exercício após estar bem descansada. Você deve ter visto que apesar de tentar fugir, não causei muitos problemas. Inclusive, não fui muito longe e sequer destruí a sua casa. Se eu voltar carregada assim será impróprio. Eu irei caminhar com você de volta se me soltar.

O jiaoren se virou com uma face fria porque desconfiava que ela não iria cumprir com a barganha. Mesmo assim, decidiu dar um voto de confiança enquanto esperava não se arrepender ao mesmo tempo em que concordava internamente que era impróprio para ela voltar assim.

— Eu vou soltá-la para que ande conforme o combinado. Estamos de acordo?

— Sim. – A jovem o tranquilizou apesar dele não acreditar no sorriso dela.

Com um menear dos dedos dele, os pilares de água recuaram e voltaram a se fundir com a camada de gelo ao mesmo tempo em que Yunhe pousava firmemente no chão.

Chang se virou para liderar ao caminho enquanto mantinha os seus sentidos extremamente alertas, assim como o seu poder que estava pronto para ser usado o mais rápido possível.

A mestra de demônios esfrega o seu pulso e olha para as costas dele, uma visão que se tornou muito comum desde que foi presa naquele local, fazendo com que se acostumasse gradativamente a visão das costas de Chang enquanto se recordava de seu semblante frio e voz cruel com exceção de quando ela passava mal, vomitando e ficando com a visão fraca ao ponto de desabar porque nesses momentos ela conseguia ver o tritão por quem havia se apaixonado e aceitado sacrificar a liberdade tão desejada há décadas para que ele fosse livre de Shunde.

A jovem olhou para a bela lua e o céu que parecia seduzi-la com a promessa de ser livre, fazendo com que ela soltasse um suspiro silencioso enquanto o seu coração era tomado pelos seus sentimentos em relação a ser aprisionada, algo que lhe era imposto desde que era criança ao ter a sua vida sobre as mãos de outras pessoas enquanto era confinada após ficar órfã quando os soldados imperais mataram os seus pais.

A mestra de demônios pagou o preço naquela noite no penhasco e ainda continuava pagando apesar de saber da dívida que tinha com ele, tanto pelos seus atos no penhasco quanto pelo fato dele ter tido a sua cauda cortada por causa dela, além dela ter deformado brutalmente uma alma gentil, boa, pura e amável naquele que estava a sua frente.

Mesmo com essa dívida impagável e consequências oriundas dos seus atos de seis anos, atrás, o desejo de liberdade vibrava em seu ser e apesar de saber que seria uma tentativa infrutífera, ela não conseguia caminhar livremente para a prisão que a aguardava porque sentia que mesmo que a sua saúde precária fosse a causa da sua morte lenta, o aprisionamento era outro fator que ajudava nesse processo junto da desesperança que a acometia, ainda mais após ter experimentado a liberdade novamente junto do fato de que se voltasse, teria que vivenciar novamente a frieza e crueldade no rosto de quem ela mais amava.

O seu amor por ele causava o seu sofrimento porque as atitudes dele apenas a feriam de uma forma que nenhum ferimento físico fez. Nem mesmo as torturas de Shunde, as experiências do grão-mestre e a espada de Zhu Ling provocaram tanto sofrimento nela quanto o que vivenciava nas mãos do seu carcereiro atual.

Afinal, as feridas físicas que sofreu nas mãos de Lin Canglan e depois, na prisão da seita do grão-mestre por seis anos apenas machucaram o seu corpo. Os ferimentos na forma de tortura mental e de desesperança de Chang Yi, assim como o tratamento frio e semblante que exibia frieza ou crueldade, feriam o seu coração e âmago enquanto era consciente que não podia reclamar depois de Chang Yi ter permitido que a sua cauda fosse cortada ao meio por Lin Haoqing, impedindo assim que voltasse ao seu lar apenas para salvá-la após ser enganado por Haoqing que mentiu sobre o estado de Yunhe e depois, quando ela o apunhalou no coração, fazendo-o cair da encosta enquanto se virava contra os perseguidores para impedi-los de caçarem o tritão quando decidiu sacrificar a sua vida para garantir a liberdade dele.

Ademais, a mestra de demônios confessava que era incapaz de caminhar para ser aprisionada novamente.

Afinal, ela não tinha forças para encarar o que a aguardava no final da sua caminhada enquanto era ciente de que a sua recusa podia ser considerado um ato covarde por não desejar enfrentar as consequências dos seus atos de seis anos, atrás.

Porém, mesmo sabendo disso tudo e do quanto seria patética a sua tentativa, além de trair uma promessa que fez a ele novamente, aumentando assim a sua lista de pecados para com o jiaoren a sua frente, a jovem não podia conter o desejo pulsante em sua alma e que se refletia em seu coração. A tão louvada liberdade que lhe era negada há décadas.

Então, suprimindo a culpa por trai-lo novamente, nove caudas negras aparecem em um flash e ela sai correndo, para depois, saltar no ar.

Porém, antes mesmo que pudesse concentrar os seus poderes e voar, cabelos prateados se destacam na visão do céu estrelado ao mesmo tempo em que olhos azuis gelo frios e com raiva reprimida apareciam diante dela.

Quando a jovem tentou levantar a mão para se defender, Chang segurou o seu pescoço ao mesmo tempo em que não exercia força ao se limitar apenas a restringir os seus movimentos com uma mão após empurrá-la de volta para o gelo abaixo deles, com as costas dela tocando novamente a gélida superfície congelada do lago.

Nas írises de Yunhe, se encontrava o reflexo do rosto do jiaoren que demonstrava a sua raiva que estava reprimida com os atos dela ao mesmo tempo em que era visível o fato dele quase ranger os seus dentes, revelando assim os seus caninos que eram mais afiados do que o de um humano, com a voz dele soando raivosa enquanto a guardiã do vale demoníaco concentrava os seus poderes em uma nova tentativa de se libertar apesar de estar sendo restringida pelo poderoso demônio em cima dela.

— Por acaso, você ainda acha que irei acreditar como era no passado em tudo o que você diz? Você ainda ousa achar que pode me enganar como antes? – Uma cauda negra dela que estava atrás dele para emboscá-lo é pega quando ele levanta abruptamente a sua mão, restringido os movimentos do membro felpudo – Você ainda acha que pode me machucar como antes?

Yunhe negou porque naquele momento, a áurea opressora de Chang era suficiente para reprimi-la sem qualquer esforço porque estavam em níveis completamente diferentes enquanto tomava ciência de que nunca tinha sido párea para ele mesmo que não estivesse fraca e doente como se encontrava atualmente.

Afinal, mesmo que estivesse saudável e no ápice dos seus poderes, ela nunca conseguiria derrota-lo e quanto conseguiu golpeá-lo naquela noite foi porque ele nunca pensou em detê-la, acabando por demonstrar um misto de incredulidade e surpresa com o ataque inesperado enquanto que Yunhe sofria imensamente porque era como se acertasse o seu próprio coração.

Então, apenas usando a sua força e áurea supressora, sem acessar por completo os seus poderes, ele apertou a mão que segurava a cauda, a comprimindo, fazendo a humana sentir uma picada em seu peito, para depois, todos os seus poderes recuarem imediatamente ao se dispersarem sem qualquer controle dela ao mesmo tempo em que os seus membros eram tomados pela fraqueza, fazendo com que não possuísse mais forças para se movimentar.

Como consequência dessa fraqueza, ela fica à mercê dele por se encontrar impotente, algo que a estava assustando demasiadamente porque era um sentimento desesperador para qualquer um quando a capacidade de se movimentar por si mesmo era perdida, mesmo momentaneamente. O sentimento de impotência era aterrador.

— Você se encontra em minhas mãos agora, Yunhe – ele falava enquanto os olhos azuis gelo ondulavam e mudavam para um mar tempestuoso e escuro – Saiba que posso dizer nitidamente que a liberdade que você tanto deseja, assim como o retorno a sua cidade natal, eu nunca irei conceder a você.

Ele se inclinava levemente, levando os seus lábios a orelha da humana impotente a sua frente enquanto o seu hálito quente soprava na orelha dela, fazendo-a estremecer ao mesmo tempo em que fazia surgir arrepios no seu corpo.

— Saiba que você somente pode estar em minhas mãos sem poder ir a nenhum outro lugar.

Enquanto a jovem tentava descobrir inutilmente o que ele faria, o tritão morde a orelha dela, com a sua mordida rompendo a pele, fazendo-a sangrar e sentir uma dor repentina que a faz exclamar com uma voz assustada ao mesmo tempo em que gaguejava de medo porque o fato de estar impotente apenas potencializava o seu medo por não conseguir se afastar como desejava fazer por se encontrar aterrorizada:

— O que você está fazendo?!

Ignorando o odor de medo da humana que impregnava o ar de forma pungente, Chang Yi se dedicou a limpar o sangue ao usar o seu dedo, revelando uma runa de cor azul que se encontrava impressa na orelha dela, mais precisamente onde ela foi mordida, com ele falando com a voz repleta de determinação e de paranoia, deixando nitidamente claro que não daria qualquer liberdade para ela:

— Além de ficar ao meu lado, nos confins da terra aos cantos mais profundos do mar, do inferno e do céu, você não terá qualquer permissão para ir a lugar nenhum.


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