Conflitos do Coração escrita por Yukiko Tsukishiro


Capítulo 3
Implorar


Notas iniciais do capítulo

Yunhe se encontra...

Luo Jisang implora...

Qu Xiaoxing se encontra...



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A mestra de demônio não esperava uma resposta à sua pergunta porque ele sempre buscava ignora-la ou falava que não era da conta dela.

Porém, para a surpresa dela, o jiaoren se virou, algo que o imperador nunca fez porque quando raramente respondia para ela, era sempre de costas para a humana.

— Pelo que "compreende dele" como você diz – o tritão fala com um pouco de aborrecimento em sua voz porque não apreciava ouvi-la falando de outro macho - Como ele poderia me causar problemas?

Yunhe não sabia como responder a essa resposta inesperada e pergunta em tom de confirmação com hesitação em sua voz:

— Ele... Ele não fez nada mesmo após a morte dela?

Ela o observou queimando a carta, com as cinzas sendo espalhadas com um balançar da manga dele, para depois, se levantar enquanto falava friamente:

— Os assuntos do exterior não são da sua conta.

A mestra de demônios sorri enquanto acenava com a cabeça porque esperava que essa resposta surgisse em algum momento e conforme olhava Chang Yi que estava prestes a sair, a jovem pergunta:

— Eu devo me preocupar com o quê?

O jiaoren parou os seus passos, mas, não respondeu ou nem virou para encará-la, com a mestra de demônios continuando:

— Chang, mesmo depois que eu morrer, você vai me manter trancada? – Ela olhou os seus dedos pálidos e magros ao abaixar a cabeça – Então, como você é ciente do que eu mais odeio e o que eu mais desejo, você está propositalmente tomando todas essas atitudes para me punir ao mesmo tempo em que me atormenta, além de me ameaçar com mais dor caso eu recuse a comida ou medicamento. Você faz tudo isso porque deseja que eu me sinta sem esperança enquanto sofro... Bem, você conseguiu cumprir com o seu intento.

Chang Yi, que nenhuma vez falou ou se virou enquanto a jovem falava, se virou e olhou apaticamente para a humana enquanto respondia ao mesmo tempo em que torcia os punhos e lidava com os sentimentos em seu coração:

— Ótimo.

Após responder, ele sai pela porta e desce o lance de escadas até sair da construção.

Ela suspirou e se levantou da cama, para em seguida, abrir a janela e se deparar com a terrível tempestade de neve que atingiu implacavelmente o seu rosto excessivamente magro e que começava a ficar encovado.

Após ser retirado o seu último resquício de calor, a mestra de demônios fechou a janela e sentou ao lado da cômoda, olhando para um espelho e falando enquanto tocava a sua bochecha após suspirar ao sentir a pele murcha ao mesmo tempo em que era visível a fadiga que a acometia:

— Apesar de eu possuir uma dívida com ele, tudo isso é um pouco excessivo demais. É inútil implorar. Meu corpo não está melhorando, não consigo ver nada por estar trancada nesse andar, além de eu não ter apetite para comer junto do fato de vomitar sangue, além dele já ter usado os seus poderes para provocar dor porque eu me recusei a comer e com a promessa de usar a mesma técnica novamente caso eu recuse, de novo. Os dias estão cada vez mais difíceis.

Nisso, ela convoca a névoa negra que estava adormecida dentro dela ao abrir a palma da mão ao mesmo tempo em que saia também da ponta do dedo indicador enquanto balançava sem ritmo.

— Por que não tumultuar um pouco por não me restar muitos dias de vida? – Enquanto a jovem falava, uma faísca de fogo negro estourou em cima da sua palma.

Yunhe suspirava enquanto tomava a sua decisão, para depois, deitar na cama, adormecendo quando o sol se encontrava alto no céu.

Longe dali, na capital, Chang Yi estava em seu escritório lendo os relatórios, para depois, discutir com dois comandantes sobre uma nova estratégia defensiva para aproveitar o terreno montanhoso quando Luo Jinsang entra e fica esperando a sua vez, com Qu Xiaoxing, comandante da força de combate do esquadrão Norte, entrando em seguida junto do comandante da força de combate do esquadrão Sul, com ambos observando que os outros dois comandantes haviam acabado de sair após entregarem os seus respectivos relatórios ao tritão e depois que explanaram planos de melhoria, com eles obtendo autorização do monarca.

Luo entrega o relatório da espionagem que ela fez ao usar a sua invisibilidade apontando para algumas conversas que captou:

— É verdadeira a informação que recebemos por mais surreal que seja. Aquela bastarda conseguiu sobreviver mesmo após ter grande parte do corpo queimado. Ela está sendo mantida isolada em um quarto e o próprio grão-mestre está tratando dela. O imperador está ocupado no momento, mas, há indícios de uma grande movimentação de tropas imperiais. Mas, eu e os demais espiões e informantes, acreditamos que o grão-mestre não fará nenhum movimento até que aquela vadia esteja recuperada. – A jovem fala o nome de Shunde com o mais puro ódio na voz.

— De fato, essas informações compactuam com os dados colhidos e as demais informações recebidas. Também estou surpreso pela bastarda ter sobrevivido.

Afinal, a sobrevivência dela podia ser vista como um milagre se considerarem o quanto foi queimada e a gravidade das queimaduras conforme os relatórios sobre a extensão danificada da sua pele.

Então, Luo passa para outros tópicos de informações que ela colheu com a sua invisibilidade e após terminar os seus comentários pertinentes ao seu relatório detalhado, a jovem se prepara para falar algo quando é cortada abruptamente e friamente pelo jiaoren:

— A minha resposta continua sendo não.

— Mas, foi graças a mim que...

— Isso não importa. Esqueça ela. Não vou permitir qualquer encontro. É a minha palavra final. – Ele ergue os gélidos olhos azul gelo do relatório e a encara.

— Mas...

— Por que insiste ainda, Luo Jinsang? Não se esqueça do que ocorreu há seis anos, atrás. A resposta será não. Você deveria parar de pedir, assim como devia parar de gastar recursos. A segurança é extremamente rígida e ouso dizer que é mais rígida do que da própria prisão da nossa capital. – A voz fria de Kong Ming irrompe na sala, com todos se curvando respeitosamente enquanto ele entrava no recinto.

— Não estava falando com você, seu careca. - Ela falava enquanto virava a cabeça para o lado.

Os servos, guardas e comandante do esquadrão norte ficaram surpresos por ela não demonstrar o devido respeito perante o venerável Zhushang ao agir como se fosse alguém do mesmo nível do imperador, além de não se portar como devia em relação ao braço direito do imperador e segundo em comando do reino cuja autoridade só estava embaixo do imperador Chang Yi, que naquele momento ignorava a discussão de ambos ao voltar a ler o relatório dela.

— Tanto faz. Por acaso, você não tem amor próprio? Os seus atos são patéticos. Implorar sabendo da resposta é o auge da falta de amor próprio.

— Ela é a minha melhor amiga.

— Aos meus olhos, você ainda é cúmplice do mal, mas, acredito que é por causa da sua estupidez ao não ver a verdade.

Uma veia salta na testa dela e ela o golpeia abruptamente aproveitando que Kong Ming havia colocado uma das mãos dentro das vestes para pegar um relatório.

Por ter sido pego de surpresa pelo movimento inesperado, ele é atirado para trás sobre o olhar estupefato dos servos, guardas e do comandante do Norte apesar de não ser a primeira vez que presenciavam uma discussão dela com agressão contra o monge.

Ela sai bufando do recinto ao mesmo tempo em que pisava duramente, batendo a porta atrás dela enquanto o tritão apenas arqueava o cenho ao erguer levemente os olhos do relatório suspirando em seguida por saber o que seria dito em seguida pelo seu braço direito ao mesmo tempo em que Kong Ming ficava de pé, demonstrando um semblante aborrecido.

— Esse comportamento descarado e desrespeitoso... Quando ela vai mudar? Ela devia saber o seu lugar.

— A habilidade dela é muito útil. Ninguém consegue detectá-la ao contrário de qualquer um que tente usar uma técnica similar a dela. Graças a essa capacidade indetectável, nós conseguimos muitas informações valiosas. – O jiaoren fala ao terminar de ler o relatório dela, depositando-o em uma pilha especifica.

— Eu sei. Mas, que é revoltante, isso é. Ainda bem que o Qu Xiaoxing aqui não insistiu após a sua primeira negação. – O monge comenta apontando o dedo do polegar na direção do jovem que havia olhado a sua amiga saindo, para depois, se virar para frente e suspirar enquanto os seus dedos ficavam brancos conforme apertava fortemente o relatório em suas mãos.

De fato, ele não insistia como a sua amiga porque quando pediu, o jiaoren pareceu que iria destroçá-lo, fazendo com que o jovem não compreendesse a reação dele até que perguntou timidamente o motivo de olhá-lo daquela forma porque não mostrava esse semblante para Luo quando ela fazia o pedido, com o tritão respondendo que se ele não deixava uma fêmea se aproximar dela, quem dirá outro macho.

Essa resposta fria e direta foi o suficiente para silenciá-lo enquanto não conseguia compreender o motivo da reação exagerada do jiaoren ao seu pedido.

— Pelo menos, isso. – Chang comenta enquanto pegava o relatório que o careca lhe estendeu, com ambos discutindo alguns pontos, para depois, o imperador voltar a receber os relatórios dos demais.

Após Qu Xiaoxing conseguir entregar o seu relatório, destacando alguns pontos dele, ele sai e caminha até o jardim nevado que continha árvores congeladas e em um banco, encontra Luo com o rosto apoiado em suas palmas enquanto os cotovelos repousavam em seus joelhos.

Era visível em seu semblante um misto de aborrecimento e de tristeza, com os olhos dela, que normalmente exibiam uma alegria contagiante, se encontrando úmidos de lágrimas não derramadas.

Suspirando, o jovem se aproxima e senta ao lado dela que fala após alguns minutos:

— Eu só quero ver Yunhe. Faz seis anos que não a vejo. Foi o meu favor que fez Qing Ji ajudá-lo ao atrair a atenção do grão-mestre para outra local, permitindo assim que entrasse na prisão da seita.

— Eu sei. Eu também queria vê-la, mas, sei que não tenho nenhuma chance. De nós dois, quem tem alguma chance de revê-la é você.

— É verdade sobre a reação que ele teve quando você pediu?

— Sim.

— Que estranho...

— Eu também acho. Não insisti porque ele foi enfático sobre esse assunto. Além disso, não tenho uma amiga poderosa como você tem.

— De que adianta ter uma amiga poderosa se ela não pode me ajudar? Rebelião da pluma de jade! Ridículo. De que adianta tanto poder demoníaco no corpo dela, uma vez que não o usa? – A jovem suspira profundamente, para depois, passar o dorso das mãos nos olhos como se os estivesse secando - Eu tentei de tudo. Até cheguei a gastar recursos para tentar subornar algum servo, mas, foi tudo inútil. O peixe até aumentou a guarda no entorno do andar que ela está selada e em volta da construção.

— Eu estou preocupado que ele a machuque. A fúria que ele demonstrava ao simples ato de citá-la... – O comandante não pode deixar de sentir um calafrio na espinha – Infelizmente, esse é o único lugar seguro para nós dois.

— Sim. Todos os servos e guardas que trabalham no Jardim das Nuvens mantém suas bocas seladas sobre o que acontece lá. Mas, eu acho que o peixe nunca iria feri-la, mesmo com a reação dele a menção do nome dela. Pelo menos, eu espero.

— Eu não sei... Eu tenho medo do que ele esteja fazendo com ela. A face dele era assustadora quando citávamos o nome dela e ele falava como se houvesse sangue a ser pago.

— Eu confesso que também tenho medo, mas, preciso me apegar a alguma esperança. Eu procuro manter a crença que o peixe não irá feri-la até porque há comentários dos servos e guardas do Jardim das nuvens se referindo a ela como amante do jiaoren, de acordo com o que foi dito pelos supervisores deles.

— Eu queria ser como você... Afinal, você está certa em nutrir alguma esperança. Esperança é tudo que nos resta. Mas, sabe, tem momentos que eu não sei se foi bom ela ter sido tirada da prisão do Grão-mestre.

Luo Jinsang arregala os olhos porque ficou chocada com o pensamento dele, para depois, se recuperar e perguntar, exibindo incredulidade em seu semblante com o que ele disse:

— Como assim? Claro que foi melhor tirá-la daquele local.

— Eu acho que depende do que acontece no Jardim das nuvens. Além disso, a saúde dela está ruim e ela não está melhorando.

— Como você sabe disso?

— Não conte a ninguém, mas, consegui escutar alguns médicos imperiais comentando que não compreendem porque os tratamentos não estão ajudando ao mesmo tempo em que a saúde dela está apenas piorando.

— Isso foi causado pela prisão e você ainda insiste em falar que não tem certeza se foi o melhor para ela.

— Eu disse que dependendo de como seria a vida dela nas mãos do jiaoren e o que ele estava fazendo com ela, talvez, fosse melhor ela ter ficado e morrido naquela prisão.

— Não fale besteiras!

— Eu disse que depende do tratamento e...

— Cale-se! Não fale besteiras! Ela está melhor agora! – Ela exclama enquanto coloca as mãos em ambos os ouvidos por não desejar ouvir o que o seu amigo falava.

Qu Xiaoxing suspira e consente porque não queria perder a única amiga que tinha contato porque com os anos, eles se tornaram bons amigos enquanto que em relação a Kong Ming que ele seguiu por todos esses anos após sair do Vale do demônio junto de Luo Jisang, Xiaoxing o respeitava como seu sênior e por isso, não existia amizade entre eles. Havia apenas uma relação baseada no respeito dele pelo monge que já foi um discípulo da seita do grão-mestre junto do seu irmão Ji Chengyu, quando o monge se chamava Ji Chengge, com o irmão mais novo de Kong Ming ainda se encontrando na seita do grão-mestre.

— Bem... Mudando de assunto, aquele careca é revoltante. Ele se intromete sempre que eu estou falando com aquele peixe.

— É um mal hábito que ele tem e eu percebo que é sempre em relação a você.

— Ele ter me chamado de estúpida foi a gota d'água após se referir a mim como "cúmplice do mal". Eu me recuso a acreditar no que o peixe nos contou sobre Yunhe. Yunhe não é má. Ele deve ter tido os seus motivos.

— Eu concordo com você. Eu também acho que ela teve os seus motivos. Essa história está muito mal explicada.

— Não é? Eu também acho. – Ela suspira novamente enquanto olha um ponto qualquer – Eu posso tentar persuadir Qing Ji a me ajudar, novamente.

— Talvez, com ela, você tenha alguma chance.

Luo consente e ambos suspiram enquanto olham para o terraço demoníaco que foi convertido em um palácio e seu complexo.

Então, um servo se aproxima dele e transmite uma mensagem, com o jovem acenando afirmativamente, para em seguida, o servo se afastar.

— Eu preciso ir. Vamos nos encontrar naquela taberna no mesmo horário de ontem.

— Sim. Até.

Após ele se afastar, uma voz faz Luo sair do estado apático em que se encontrava e que foi provocado pela tristeza que a jovem sentia por não poder ver Yunhe:

— Sabe, o que o seu amigo disse é plausível se formos analisar friamente a situação da sua amiga sem os sentimentalismos que apenas atrapalham e turvam o julgamento de qualquer um, além de impedir de ver o quadro geral, principalmente daqueles que são sentimentais como você.


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