Um Reino de Monstros Vol. 4 escrita por Caliel Alves


Capítulo 4
Capítulo 1: Sobre paz e guerras - Parte 3




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Letícia bateu na porta do seu quarto e pediu a presença do guarda, não, ela exigiu. A porta se abriu com um ranger ensurdecedor, e para a sua surpresa, não havia guarda nenhum lá.

De pé, estendendo a mão de modo cavalheiresco, estava o príncipe Rachid. O mesmo trajava uma roupa de gala, como se estivesse indo a um baile real de Oásis.

— Hã, mas você aqui?

— Esperei que já tivesse se vestido...

Tump, a alquimista bateu a porta na cara do alfaraz. A alfonsina estava vestida apenas numa toalha de lã. O inconveniente nobre continuou a bater na porta.

A militar quase teve um surto, por muito pouco o oasiano não tinha visto a sua nudez.

— Bater à porta na cara dos outros é falta de educação, sabia?

— Ah é! E assédio sexual é crime, sabia?

— Eu não assediei você, eu até te convidei...

Ela sorriu com o cinismo de Rachid. Com certeza ele estava acostumado a ter qualquer das “donzelas” oasianas em suas mãos, entretanto, Letícia era uma mulher independente de regras e costumes próprios, ou como costumava dizer, era uma mulher empoderada.

O homem não deixou o batente do seu aposento e continuava a chamá-la.

— Ah, sai garoto, os oasianos são tão irritantes assim é?

— Com certeza a senhorita não deve estar acostumada com galanteios, os homens alfonsinos não sabem cortejar uma dama?

Por um momento a garota tencionou abrir a porta, mas resolveu vestir uma roupa antes.

Após intermináveis minutos, a jovem abriu a porta, descontentando o jovem oasiano.

— Porque você é tão arredia, senhorita Letícia?

A alfonsina estalou as botas, vestida com o seu traje típico de aeroalquimista, ela saiu do cômodo e fez uma continência. Rachid escovou os cabelos cacheados com os dedos.

Estava feliz que ela resolvera acompanhá-lo, mas triste por não vê-la em roupas mais femininas. Em Oásis, as mulheres não usavam vestis masculinas como no Ocidente.

Muitas ainda usavam turbantes e longos véus, ocultando os seus belos rostos negros.

— E então, aonde Vossa Alteza deseja me levar pra jantar?

— No terraço do castelo, minha querida.

Ambos seguiram pelo corredor, o alfaraz portava uma lâmpada de óleo na mão direita.

Aos olhos de Letícia, naquela escuridão, o mesmo parecia uma estátua de bronze, como as mais perfeitas esculturas ocidentais, daquelas guardadas em museus.

Subindo e descendo escadarias pelos corredores, ambos chegaram até o terraço do castelo. Havia lâmpadas e uma extensa tapeçaria com um banquete posto.

— Tudo isso é pra mim?

— Sim, senhorita Letícia. Poderia até mesmo coletar as estrelas do céu se assim desejasse, e dar-lhe-ei quando pedir-me.

— Hahahaha, isso já funcionou com quantas garotas ingênuas? Olha aqui, oh “pequeno príncipe”, eu acho que você escolheu a garota errada. Talvez a Rosicler quisesse se divertir com você aqui no terraço, tendo... essa lua linda... e esse frio...

Educadamente, o jovem nobre revestiu a garota com uma capa. Quando os dentes da alquimista pararam de bater, ela foi até a mureta e sentou-se.

Mirou as ruas do entorno. As pedras talhadas foram utilizadas para o asfaltamento das ruas, a argamassa usada foi piche. De dia, as pedras absorviam calor, e à noite o liberava. Percebeu como as ruas eram limpas e organizadas, nenhum cidadão jogava lixo nas imediações, e os que assim fizessem acabavam recebendo pesadas multas.

Rachid a acompanhou e debruçou-se sobre a mureta, expirando o ar gélido do deserto.

— Trouxe-a aqui para que visse o esplendor de Oásis, vede o muro?

A militar alfonsina estreitou os olhos, e com a ajuda da lua cheia, ela distinguiu uma enorme massa amarronzada além do rubro fosco da areia.

Era a mesma muralha que separava esse vasto reino de Lashra. Ela voltou-se para o príncipe e disse-lhe:

— Porque vocês se escondem aqui enquanto todos os lashrianos estão lutando?

— Não estamos escondidos, e jamais deixamos de combater o mesmo inimigo que nossos entes ocidentais. Entretanto, devo-lhe dizer que a sua visão sobre o nosso povo está totalmente incorreta, não somos covardes.

— Deixar pessoas morrendo a própria sorte além daqueles muros é demonstração de coragem para você?

O alfaraz, mais uma vez, soltou o ar pesado da noite oasiana dos pulmões. E de repente ele sentiu um cheiro estranho, como se algo ou alguém estivesse queimando.

Letícia no mesmo instante percebeu o que o príncipe estava sentindo e procurou o foco de incêndio. Não demorou muito para descobrir onde era: no estábulo real!

— Vamos, pode ser um monstro!

— Siga-me, senhorita Letícia, onde há fumaça há fogo.

Os dois desceram a mesma escadaria que dava para o terraço e tendo Rachid como um guia, a dupla venceu distâncias enormes dentro do castelo do sultão. Saíram a rua indo direto aos estábulos reais.

O agrupamento de alfarazes estava debelando as chamas revezando potes de barro com água vinda da fonte em frente ao castelo do sultão.

Letícia também ajudou, a barra da sua calça estava toda molhada. Revelando as suas formas curvilíneas por entre o tecido agora transparente devido ao líquido.

O combate ao fogo estava difícil porque as chamas já alcançavam outras residências. Pessoas eram retiradas das casas próximas devido ao risco de novos focos de incêndio.

As casas eram construídas muito perto uma das outras, e todas em sua maioria tinha dois ou três andares. Durante o dia, uma maior quantidade de sombras era projetada nas ruas, aliviando um pouco o calor sufocante do deserto.

Depois de alguns minutos, o vento noturno só fazia o fogo aumentar. Letícia disse:

— Vossa Alteza, peça para que os alfarazes e a multidão recue.

— Porque?

— Irei realizar uma transmutação e preciso do máximo de espaço possível.

— Tudo bem, recuem, recuem. Eu confio em você, nobre donzela, recuem agora, vamos!

Letícia bateu palmas duas vezes de modo vagaroso, respirou fundo e uma corrente de ar a envolveu. Ela concentrou o ar numa esfera que rodopiava como um turbilhão em suas mãos. Ao redor dela, um redemoinho levantava poeira e pedregulhos, as chamas aumentavam de tamanho devido a força do vento.

— O que está fazendo, Letícia? O incêndio está aumentando!

— Estou concentrando mais energia mágica para realizar uma poderosa transmutação.

— Eu achei que os alquimistas consumissem pouca energia mágica nas artes alquímicas.

— Isso só se aplica as transmutações de baixo nível e de efeito curta. Para grandes transmutações e efeitos de longa duração como as exigidas no momento, é necessária uma maior quantidade de energia mágica, ainda estou calculando quanto de ar preciso reunir em metros cúbicos para transformá-los em água doce e lançar sobre o estábulo real e as casas adjacentes...

— Terminai logo este cálculo, pois o fogo não há de esperar-te.

Maldito príncipe falastrão!

— Lá vai! Transmutação Aeriforme – Euro.

Ela levou as mãos apertando a esfera de ar acima de sua cabeça, e depois a disparou em direção ao céu. As nuvens se formaram com ribombar de trovões. Aos poucos as primeiras gotículas de chuva se formou.

Aos poucos a precipitação se transformou num dilúvio, tão forte que assustou os oasianos. O céu se transformou numa cortina de nuvens nubladas cinza-escuras. Depois Letícia caiu desfalecida em meio a rua lamacenta. Rachid foi até ela e a ergueu nos braços e se dirigiu de volta ao castelo do sultão.

Ela combateu o incêndio invocando uma chuva! Esta senhorita de Alfonsim é fenomenal, uma mulher singular, um tanto rude, mas convicta de suas ações, além de ser grácil e inteligente..


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