Um Reino de Monstros Vol. 4 escrita por Caliel Alves


Capítulo 26
Capítulo 5: A Invocação - Parte 4




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Aquilo constituía uma novidade. Zarastu e Sirius pareciam ter se retirado da batalha. O monstro com cabeça de abóbora parecia esperar sozinho o ataque inimigo. Tell, Saragat, Rosicler, Letícia e o príncipe Rachid continuavam no chão. Estavam sem forças até mesmo para se levantar. E ao que tudo indicava, a criança flandina estava desacordada.

— Meu adail, isso não fazia parte do acordo. Ordene aos nossos alfarazes que intervenham na batalha!

O sultão continuava em silêncio. Os olhos enormes prevendo a derrocada de sua nação.

— Meu adail, escute-me! Mande abrir os portões. Os integrantes da Companhia de Libertadores já demonstraram o seu valor. Não deixe que vosso filho morra numa batalha sem sentido. Por favor, escutai...

O comandante geral tomava o velho pelos ombros e o chacoalhava. Mas nenhuma resposta vinha dele.

— Não vai adiantar, meu caro alcaide. Esse homem está em estado de choque.

Todos se viraram. Era o conjurador de Al Q’enba. Vinha subindo as escadas que davam na amurada da muralha. E no parapeito, ele pousou as mãos na muralha.

— O que faremos?

— Pelos poderes a mim concedidos por nosso deus Al Q’enba, na impossibilidade de nosso adail comandar o exército e a nação, bem como seus herdeiros também estiverem incapacitados, restabeleço o comando geral das tropas a mim, Amir Ibin-Sawad, conjurador do deus da educação e justiça. Reivindico aqui e agora total controle da Cavalaria das Dunas e do Esquadrão Assassino Secreto.

Funsh, e centenas de assassinos em seus sóbrios uniformes negros surgiram na muralha. Pareciam emergir das sombras, como falavam as lendas. E ajoelhando-se, mostraram sua disponibilidade a atender o novo soberano provisório. Os alfarazes na muralha e no pátio em frente ao portão principal também se ajoelharam.

— Aos olhos de deus Al Q’enba e de todos os guerreiros de Oásis, que assim seja. Eu vos ordeno, vão e resgatem o nosso príncipe, bem como seus companheiros de batalha. Essa é a sua prioridade.

E todos responderam com um brado:

— Sim adail!

— E depois de salvarem o filho dessa nação, lavem as areias do deserto com o sangue dos monstros. Vamos fazer com que os seus ossos tremam de medo até que faça eco nas montanhas dos quatro cantos do continente. Que ninguém jamais esqueça que nesse dia, Oásis mostrou a sua honra a história. Que os bardos cantem a história do nossos alfarazes e assassinos do deserto!

Uuuuuuugh! Gritaram todos empunhando suas armas. Os portões foram abertos. Milhares de cavaleiros a gineta saíram a galopar pelo portão principal. Os cavaleiros e seus cavalos rumavam ao campo de batalha com fúria e devoção.

Os membros do Esquadrão Assassino Secreto desceram pelo muro numa corrida vertical, evitando congestionar a saída do portão. Dentre eles, estava Farig. O Qayid Eazim ia a dianteira dos assassinos. Sacando de um punhal, comandou todos os mais de quatro mil agentes no conflito.

Como guardas reais e serviço secreto de Oásis, eles tinham muita dedicação na proteção da casa real do Sultanato. Uma das qualidades para se tornar um assassino era fé em Al Q’enba e devoção a causa dos al Názir.

— Resgatem os libertadores e Sua Alteza. Isso é mais importante do que dar combate aos monstros. Deixem isso para os alfarazes. Vamos!

***

Era por volta do meio-dia quando os dois exércitos se chocaram. Monstros e oasianos digladiavam-se. O clangor de espadas era a sinfonia da barbárie.

Não participaram dessa segunda batalha: Zarastu e Sirius.

A Horda, pela sua capacidade numérica, cantava uma vitória antecipada. A Cavalaria das Dunas pressionava o inimigo, embora a proporção não fosse vantajosa.

Quando a tropa de centauros e os alfarazes cruzaram suas lanças, o som do choque pôde ser ouvido dentro dos muros. Eram gritos de dor e ódio se mesclando aos estertores da morte. A cada hora, cornetas eram tocadas e as tropas se reorganizavam.

O’lantern, embora desse combate aos monstros, não impedia o monstro renegado ferir os alfarazes e assassinos. Era um ser movido a fanatismo. Seu único desejo era implementar os planos do deus Enug. Esses desígnios eram relativamente fáceis: destruir a humanidade e provar que os Deuses Virtuosos estavam errados.

Da muralha, o comandante geral da Cavalaria das Dunas assistia a guerra que se desenrolava acerca de quatro horas. Ele disse ao conjurador Amir:

— O senhor acha que é possível derrotá-los, meu adail?

— Enquanto os homens continuarem lutando e acreditando na vitória, sim. Veja, os monstros são movidos a fé irracional, mesmo assim, não deixa de ser um “acreditar”. Ela os motiva mesmo quando tudo está desfavorável. Os humanos têm uma fé racional, pois ela se traduz em esperança. É como o processo evolutivo dos fenômenos, afinal de contas, não acreditamos que tudo vai terminar bem?

— S-sim, meu adail!

E a batalha continuou até depois do crepúsculo. O sol saiu do céu e cedeu espaço a lua. As estrelas se juntaram a ela como testemunha daquela guerra em que monstros e homens travavam com o mesmo propósito: destruir o outro.

As dez da noite, os monstros recuaram. Os oasianos os perseguiram até o oásis de Zor Aldir, perto do rio Mishanash, a Sudeste.

Foi uma noite de júbilo em Oásis. A nação contemporânea, que era tão jovem quanto um homem de 20 anos de idade, tinha mais um feriado nacional a comemorar. Os oasianos voltaram das dunas feridos, outros carregavam os companheiros mortos em liteiras, mas todos tinham um sorriso no rosto.

***

Ele abriu os olhos. O teto era branco. A cama macia. Ao lado de seu braço direito, que estava enfaixado, Index dormia em sono profundo.

A janela aberta revelava um céu, com a luz do sol entrando. O vento balançava as cortinas brancas. Do lado de fora, tinha um jardim com grama muito verde. Uma tamareira tinha a copa balançada pela brisa fresca matutina.

Levantou-se, tentando não acordar o amigo. O livro estava num armarinho ao lado. Saltou pela janela e foi em direção ao arvoredo. A camisola hospitalar balançou ao vento. Sentou-se embaixo da sombra. Era aconchegante. Um suor frio escorria pelo rosto. Fechou os olhos, jogou a cabeça para trás e respirou fundo.

— Vovô Taala, toda vez que me aprofundo no Monstronomicom, sinto sua energia mágica...

Abriu o tomo. Virou página por página, devagar. Seus dedos folhearam várias páginas, cada uma com um monstro diferente. Numa delas estava um quibungo, na outra uma curacanga. E assim se seguiu: o espectral mãos de cabelo, um papa-figo, a temível pisadeira etc. Não era nenhum deles. Fechou o livro e flaaaaaaaaaaaap. As páginas foram passadas rapidamente. De repente, ele parou.

— Achei!

A criatura era grande e poderosa, um touro com aspectos humanoides. Ele se lembrava de modo claro como o haviam derrotado. O flandino havia desafiado Ox a atingi-lo com os chifres. A criatura irritada, avançou contra ele.

Quando investiu com os córneos, acabou atingindo uma parede de pedra que o prendeu. Sem poder se mexer, acabou sendo purificado ali mesmo. Os seus subordinados que assistiram a luta não tiveram outra iniciativa que não se render, Ox era um poderoso capitão da Horda.

— Vovô, eu ainda não sei muito bem o que o senhor quer de mim, mas... eu queria te agradecer por tudo. Espero que um dia a gente possa se encontrar. Quero te dar um abraço bem forte.

Voltou a olhar para o monstro. Não parecia tão aterrorizante como no primeiro encontro. O jovem lembrou-se quando o monstro surgiu entre ele e o rei Zarastu. Lutando contra ele, o defendendo.

— Um minotauro... essa foi a minha primeira Invocação.


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