O retorno a aldeia pareceu ainda mais rápido que a partida.

Ao passarem pelos portões, faltando ainda algumas horas para anoitecer, puderam sentir o festival se iniciar.

— Está animada para essa noite? — Naruto perguntou.

— Sim. Acho que será ótimo.

Hinata sorriu. Sua mente a levou à conversa de mais cedo com Tenten sobre passar um tempo com Naruto antes do festival. Ainda que pensasse que o rapaz talvez só estivesse próximo para garantir que ela não ficaria para trás, Tenten seguia mais a frente com Lee para garantir que eles teriam privacidade para isso.

— Você acredita nessa história de cometa do amor?

— Como?

Ela sentiu as bochechas arderem, entretanto não era a única envergonhada com o assunto. Naruto coçava a nuca como se para tornar o assunto mais leve.

— Sabe, o sobrancelhudo ficou falando disso antes de vocês chegarem. Que muitos casais se juntavam na noite do cometa e o amor durava para sempre. Shikamaru disse que a Ino está direto na floricultura por causa disso. Parece que será uma noite de muitas declarações. Acredita nisso?

— Eu... — Hinata se perdeu nas palavras. — Não sei.

E realmente não sabia se acreditava em toda aquela história. Parecia mesmo muito romântica e ficava feliz por todas pessoas que conseguiam se declarar na ocasião e encontravam o amor, porém... E se não fosse recíproco? Ou as coisas não saíssem como esperava? Muita pressão.

— Você acredita? — ela perguntou.

Naruto pareceu refletir sobre a pergunta por alguns instantes antes de responder.

— Não sei também. Me parece meio estranha a ideia de que a passagem do cometa possa controlar os sentimentos das pessoas.

— Mas pode despertar algo de bom nelas. Basta ver a animação de todos.

— Verdade. — ele sorriu. — Estou ansioso. Vai ser legal. Estou tentando convencer o Sasuke a ir também. Ele disse que não, mas vou insistir mais um pouco. Torço para que, se esse cometa provoque algum sentimento bom nas pessoas, que ele seja uma delas.

Enfim chegaram a floricultura.

Ino agradeceu, recebendo todas as flores, inclusive a lótus, dizendo que trataria de entregar a Tsunade pessoalmente, não se atendo a conversas como faria em outro dia qualquer.

Um aceno acompanhado de um "até o festival" os saudou antes de deixarem a floricultura e... Seria um olhar presunçoso aquele de Ino que deslizou de Naruto para Hinata de forma de apenas a Hyuga visse antes de sair?

Tenten e Rock Lee se despediram e foram embora, enquanto ele esbanjava animação pelo evento daquela noite e suas aspirações românticas.

Naruto acompanhou Hinata até próximo ao Ichiraku e o cheiro de ramen fez seu estômago roncar de maneira audível.

— Desculpa. É que não almocei com essa história de flores. — deu um sorriso envergonhado. — Quer comer alguma coisa?

— Melhor não. — ela rejeitou. — Preciso chegar a casa logo. Minha irmã me espera.

Hinata virou-se e seguiu para casa a passos ágeis, mas não o bastante para que o vento soltasse mais uma das pétalas de sua rosa, a qual tinha se certificado de pegar antes de deixar a floricultura.

Ao virar a esquina, esbarrou em alguém e som de coisas caindo no chão a despertou.

— Desculpe, senhora. Eu me distraí. — ela pediu.

— Não se preocupe. — a idosa respondeu. — Não é nada de valor.

Hinata a ajudou recolher os frascos, canecas e cartas que tinham caído de sua sacola. Por sorte, nada quebrado.

— Os jovens da Vila da Folha são mesmo tão educados. — a idosa agradeceu. — Como anda seu coração, querida? Hoje é o dia do cometa. Não esqueça de desejar com o coração. Sonhos se realizam e amor é a coisa mais perfeita no mundo.

Sem dar chance para que Hinata processasse toda sua fala, a mulher seguiu caminho e desapareceu ao virar a esquina.

Hinata balançou a cabeça, deixando a conversa de lado e deu um passo, escutando algo se partir embaixo dos próprios pés. Aprumou-se em recolher a pobre rosa, novamente maltratada. Agora seu caule estava quebrado e restavam três pétalas apenas.

Tão logo chegou a casa, foi recebida por uma Hanabi ainda mais eufórica.

— Você conseguiu! Chegou bem a tempo. — sorriu, segurando a mão da mais velha e a levando para dentro de casa. — O irmão Neji me levou para buscar a roupa e compramos enfeites de cabelo também.

— Onde ele está?

— Ele foi se arrumar. Disse que volta para nos buscar mais tarde e que nos acompanhará ao festival. Agora vamos!

Entraram na casa e Hanabi foi imediatamente preparar o banho. Enquanto isso, Hinata seguiu até a cozinha e pegou um pequeno vaso, encheu de água e levou ao quarto, colocando próximo a janela e, dentro dele, sua rosa. Naquela posição, conseguiria pegar os últimos raios solares do dia e talvez assistir a noite chegar com a passagem do cometa.

Quando sua irmã a chamou, seguiu para a banheira. Hanabi tinha enchido de pétalas de flores possivelmente colhidas do jardim e já se encontrava da água.

Ao entrar, Hinata sentiu a água quente abraçar sua pele. De frente para si, dividindo aquele espaço, sua irmã. A banheira era pequena, mas não apertada. Estavam bastante próximas como eram antes de tantas missões ninjas aparecerem. Ela sequer lembrava qual era a última vez que fizeram algo juntas sem se preocupar com o que viria depois. 

— Como foi hoje sua missão?

— Fui colher flores para ajudar no festival. E você? Como foi seu dia com Neji?

Uma pergunta bastou para que um sorriso suave brotasse no canto dos lábios da caçula e começasse a contar sobre seu passeio. Hinata não deixou de sorrir com alguns comentários, muito menos suspirar discretamente ao se pensar que deveria ser um momento das duas apenas.

Quando Hinata chegou ao quarto, arrumando a toalha que enrolava o cabelo, avistou a irmã observando sua rosa com certa curiosidade.

— Está morrendo.

— Está sim. — Hinata se agachou ao seu lado, de frente para a flor.

— Então por que a trouxe?

A mais velha suspirou, observando calmamente sua flor que perdera mais uma pétala, que descansava próximo ao vaso. Restavam duas.

— Por que não trazer?

— Ela está morrendo. — Hanabi repetiu. — Por que não escolheu uma flor bonita? Não foi para isso que partiu em missão mais cedo?

Hinata assentiu e não desviou o olhar da plantinha que lutava por seus últimos suspiros.

— Se eu trouxesse outra, ela também morreria. Mais ou menos tempo, ela ainda morreria. — deu uma breve pausa antes de seguir. — Essa rosa foi tirada de seu jardim, perdeu a maioria das pétalas, alguns espinhos e até mesmo quebrou o caule, mas isso não a fez menos rosa. Ela ainda tem um doce perfume e continua lutando. O que é o fim de sua vida logo será o começo de outra quando o vento bater e levar seu pólen para outro lugar.

Nesse momento, Hinata virou para a irmã, que ainda observava a flor, agora com olhos mais cuidadosos.

— Ela não é diferente de nós. A aldeia está animada para o festival e a passagem do cometa, mas todos perdemos alguém que conhecíamos em batalha. Muitos sofreram e ainda sofrem. Mesmo assim, continuam lutando. Hoje é um dos dias de aproveitamos e exalarmos nosso próprio perfume.

As duas se olharam por dois segundos antes que Hanabi pulasse na irmã, agarrando-a num forte abraço.

— Eu fico feliz de não ter te perdido. — a caçula sussurrou no ouvido da irmã.

— Eu também. — Hinata sorriu, acariciando as costas da mais nova. — Fico feliz de ter voltado.

Ficaram assim por alguns instantes. O som de fogos de artifício rompendo o céu de Konoha as afastou.

— Vamos nos arrumar. Ainda quero ver o cometa. — Hanabi sorriu.

Hinata observou a rosa por mais algum tempo antes de levantar-se.

A sua frente, Hanabi acabava de amarrar uma faixa amarela clara pouco abaixo dos seios como último item do kimono tradicional que escolheu trajar. Em tons amarelos e alaranjados, possuía mangas longas e terminava pouco acima dos joelhos.

Quando tinham ido alguns dias antes fazer a encomenda, a garota tinha plena consciência daquilo que desejava e o resultado final mostrava o belíssimo acerto.

Enquanto Hanabi cantarolava uma música antiga de ninar, a irmã terminava de escovar o cabelo e posicionar o enfeite que comprou mais cedo com o primo. Tratava-se de uma presilha em formato de flor de lótus.

— Pronta! Parece que estou na presença de uma estrela de tão bonita que está.

O rosto de Hanabi corou imediatamente antes de abrir um sorriso e agradecer.

Quando Hinata abriu o baú para procurar alguma roupa para o festival, foi impedida pela caçula que parou ao seu lado e a encarou com expectativa, trazendo consigo uma caixa.

— Sei que andou ocupada com as missões e não comprou nada especial para vestir essa noite. Então decidi eu mesma.

Um sorriso surgiu no rosto de Hinata, uma alegria levemente culpada.

Assim que abriu a caixa, reconheceu a tonalidade de lilás que discorria por toda peça. Tinha visto aquela peça dias antes e não conteve o sorriso que se alargou, sentindo um pouco mais da euforia que a irmã exalava desde os dias anteriores.

Rapidamente o vestiu. Não tão diferente do modelo usado pela irmã, a roupa era constituída por um belo kimono longo em cor roxa, estampado por flores amarelas grandes. Havia um alarga faixa branca com desenhos lilases e um cinto com um pingente de flor, além de uma bolsinha bela como adorno.

— É lindo! Obrigada! — Hinata agradeceu enquanto a irmã terminava de escovar seu cabelo.

Hanabi sorriu, segurou sua mão e passou por ela uma faixa fina de fios trançados com uma pérola em destaque. Sua cor era diferente, um tom de azul que parecia brilhar como uma estrela. Por um momento, Hinata podia jurar tê-la visto antes, mas quando e onde?

Prontas, seguiram para a frente da casa, onde Neji as esperava para acompanhar ao festival, usando um novo traje em tons cinza escuro e branco, fato que Hinata teve certeza ter sido sugestão da irmã.

— Vamos! Temos um festival para ir. — Hanabi declarou.