Querido cometa escrita por MaryDuda2000


Capítulo 20
Névoa e presas


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores! Como estão?
Espero que estejam todos muito bem.
Peguem a pipoca. Desejo uma ótima leitura a todos.



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Ser um ninja é estar preparado, ver através da decepção, da ilusão. Por isso, Kurenai sensei sempre fez questão de treinar genjutsus, para que não perdessem suas vidas sendo traídos por suas mentes.

No entanto, era justamente o que parecia acontecer naquele exato momento.

Como se não bastasse as artimanhas de EL, dois elementos tinham chegado para assistir sua tortura particular. Zetsu observava enquanto um desentendimento rendia uma batalha. Logo o pescoço de Orochimaru alongou-se como uma verdadeira serpente, exibindo as presas afiadas e se aproximando cada vez mais dela.

Um segundo antes de atingi-la, EL apareceu diante de Hinata, liberando uma rajada de vento tão forte que derrubou Orochimaru. Ao redor, os espelhos balançaram como gelatina. Pareciam tão frágeis que... Será?! Até mesmo o chão pareceu se mover por um momento.

Deslizou o olhar procurando pelos rostos que estavam aprisionados. Nenhum sinal de Hanabi ou Aoi, porém Naruto e Kiba pareciam igualmente confusos com a batalha que se desenrolava. Se ao menos ela conseguisse chegar a um deles, talvez pudesse atravessar o espelho e...

— Eu recomendo que fique bem quietinha.

A voz a provocou arrepios. Em algum momento, a cabeça de Zetsu sugira do chão bem próximo a seu ouvido.

— Seria muito menos doloroso se apenas deixasse fluir, garota. Sua linhagem te torna preciosa. Se colaborar, tudo acabará logo. Pense nisso, afinal, tem pessoas que deseja proteger, não é?!

Ceder era o que Hinata menos queria. No entanto, sentia-se cada vez mais cansada, como se sua energia estivesse sendo drenada. E estava. A pérola parecia cada vez mais brilhante, assumindo um tom azul que até então não tinha visto.

— Não perca o grande espetáculo.

Hinata virou há tempo de ver o desfecho da luta.

EL parecia ter imobilizado todas as serpentes que desciam dos braços de Orochimaru, enquanto um brilho instável de cor lilás surgia na palma de sua mão.

— Se soubesse o verdadeiro significado de EL, jamais teria tentado me passar a perna.

Então, aconteceu.

Rapidamente, uma sombra negra serpenteou ao redor de EL, que não pareceu notar até que as presas afundassem em seu ombro. Logo, o brilho que produzia desapareceu. Cambaleou e praguejou. Deu um passo em direção a Orochimaru antes de desfazer-se em pó de estrela.

O Sannin deu um sorriso ofídio vitorioso.

— Não deveria me subestimar, EL. Não me importa os segredos por trás desse seu mistério. Eu consigo o que eu quero.

Deu um suspiro vitorioso, olhando para Zetsu, que estava agora do lado oposto ao de Hinata. Movia-se tão sorrateiramente que ela sequer tinha notado que não estava mais ao seu lado.

— Fez uma boa escolha, meu caro. Se não dá para confiar em alguém que conhece, muito menos alguém que não conhece, ainda mais com propostas tão misteriosas quanto EL.

— Desde que eu consiga o que eu quero, a disputa entre vocês era irrelevante. — Zetsu falou, estendendo a mão. — O livro, por favor.

Orochimaru estreitou os olhos ao encará-lo.

— Algum motivo especial por trás desse interesse pelo livro do clã Kaguya?

Zetsu não respondeu. Apenas esticou a mão, enquanto devolvia o olhar.

Ainda deslizando pelo próprio veneno, Orochimaru abriu o exemplar, o qual esguichou uma espécie de líquido viscoso preto, pegando-o desprevenido. Um grito de agonia ecoou por sua garganta.

— Maldito Jiraya!

A julgar pela maneira como se contorcia, tentando limpar o conteúdo do rosto, parecia bastante doloroso. Uma distração perfeita.

Hinata pegou uma kunai que trouxera escondida embaixo do vestido e afundou a ponta no próprio pulso, caçando a maldita pérola que parecia querer adentrar seus ossos. Por um instante, sentiu. A conexão foi rompida. Sentiu que fosse desmoronar. Será que aquilo tinha realmente sugado todo chakra? Até mesmo seus olhos pareciam pesados demais para se  manterem abertos.

Num esforço hercúleo, segurou o mais firme que pôde a pérola. Uma nova onda de dor ultrapassou seu corpo, todavia, estranhamente, sentia-se mais forte. Jamais entenderia entre os enigmas de EL quanto aquele pequeno item, nem precisava. Tudo que queria estava há alguns passos de distância.

O espelho mais próximo foi onde viu Hanabi. Deveria estar lá, escondida por trás do vidro. Sem EL, aquele justu encontrava-se instável. Precisava encontrá-la antes que fosse tarde demais.

Rastejou até o espelho, tocando-o. Estava certa. Era como se não passasse de uma ilusão. Como se estivesse mergulhando no escuro. Sua mão desapareceu assim que ultrapassou aquela névoa densa.

Foi interrompida ao sentir cobras enroscando-se em suas pernas e arrastando-a para o centro daquele local.

— Não acredito que está tentando fugir depois de tudo que fiz para salvá-la de EL.

— Então me deixe ir. — tentou parecer ameaçadora, contudo falhou. Sua voz saiu como uma súplica.

Orochimaru ajoelhou-se ao seu lado e acariciou seu cabelo, fazendo com que sentisse arrepios e nojo. Tê-lo tão perto era mais assustador do que jamais imaginara.

— EL a chamou de “Princesa do Byakugan”. Em minha busca por jutsus, sempre quis aprender mais e o sharingan é mesmo muito interessante. Tive algumas experiências fracassadas na Guerra Ninja devido aos mortos Hyugas possuírem aquele maldito selo, mas... Você não o tem. E para ser princesa, creio que seus olhos sejam mesmo bem valiosos. — segurou no queixo de Hinata. — Não me olhe assim. Eu te salvei de EL, mas ninguém te salvará de mim.

— Não se esqueça do nosso acordo. — Zetsu falou. — Ainda tenho algo a tratar com ela e o Uchiha antes disso.

O som de algo se partindo ecoou pela sala.

O chão novamente pareceu fluido, como se quisesse sugá-los. Foi o momento perfeito para desvencilhar do contato com Orochimaru, mas não conseguiu se afastar tanto quanto desejava.

Simultaneamente, todos os espelhos voltaram a balançar como água.

Num instante, Kiba e Naruto surgiam de dois deles, como se enfrentassem um furacão, sendo sugado novamente e desaparecendo no segundo seguinte, pouco antes de todos os espelhos trincarem numa chuva de estilhaços.

Hanabi”, sua mente gritou, desesperada, procurando o espelho onde vira a irmã. Aquilo não podia estar acontecendo. Independentemente do que ocorreria depois que aquilo tudo desabasse, precisava sentir a irmã de volta em seus braços, protegê-la com sua própria vida, se possível.

— Onde pensa que vai?

Aquela risada anunciava o que viria a seguir. Aguardou por mais cobras enrolando seu corpo, tentando imobilizá-la para suprir os desejos egoístas de Orochimaru.

Não ocorreu.

O riso que sucedeu a presunção foi o de deboche.

Quando Hinata olhou para a víbora, pôde visualizar Aoi, pequena e de vestes sujas de sangue, que seguia pingando de suas mãos. Estava parada entre os dois, de braços abertos, como se estivesse disposta a protegê-la.

“De onde ela surgiu?”, pensou, inevitavelmente.

Ao olhar de volta ao redor, Hinata pôde ver alguns dos estilhaços que antes produziram cortes em seu corpo parecerem líquidos e começarem a flutuar em direção a um dos espelhos. Não qualquer um, aquele, onde tinha visto Hanabi.

— O que uma garotinha tão insignificante quanto você acha que pode fazer contra mim? — Orochimaru despejou, fazendo surgir cobras de seus braços, a fim de assustar Aoi.

Mesmo de joelhos, ele parecia enorme.

Em vez de recuar, a garota deu um passo em direção ao Sannin, ficando perigosamente próxima. Quando a face de serpente começou a ganhar forma, tudo que Aoi fez foi tocá-la com as duas mãos.

Um sorriso sádico surgiu, enquanto a língua bifurcada balançou.

Por um segundo, nenhum dos dois se moveu.

Logo, os olhos de Orochimaru assumiram uma escuridão total, enquanto todo seu corpo pareceu petrificar-se. Pouco a pouco, a casca pareceu se desintegrar e ser sugada junto a uma nebulosa de cor verde escura, porém com traços cintilantes.

Aoi quem o estava fazendo. Parecia engolir como se enchesse os pulmões de ar ou sugando ramen.

Questão de segundos para que o corpo humano e distorcido de Orochimaru despencasse ao seu lado, débil.

— Ele está...

— Vivo. — Aoi esclareceu, olhou novamente para Hinata e corrou para abraçá-la. — Eu só queria te proteger.

Chorou.

Por mais assustada que Hinata estivesse, aquilo foi como um gatilho que lhe partiu o coração. Só conseguia pensar em uma pessoa.

Hanabi.

— Você é tão boa, tão doce, tão... — Aoi respirou profundamente. — Única. Precisa ser você, princesa.

Princesa.

Aquilo foi o bastante para que Hinata interrompesse o contato, afastando-se de Aoi.

— Você prometeu que me ajudaria a encontrar minha irmã. — deu um passo em sua direção. — E cumpriu com sua palavra.

Aoi sorriu.

Seus olhos brilharam num roxo intenso e bastante reconhecível.

Com o sangue que escorria de suas mãos, a garota tocou o acúmulo de pó negro no chão, onde EL estava antes de desaparecer. Algumas palavras e os olhos brilharam ainda mais. Uma névoa roxa a envolveu e sua sombra alongou-se.

Quando se dissipou, Hinata pôde ver com clareza. Uma versão maior de Aoi que parecia ter quase a mesma idade que ela. Qualquer ferimento ou vestígio de sangue havia desaparecido. Entretanto, aqueles olhos lilases intensos eram inesquecíveis.

Ela sabia muito bem quem era.

— EL... Estrela Lunar. — murmurou, aturdida.

O manto negro havia se transformado em branco, assim como toda roupa. Agora seu rosto estava evidente. Parecia tão comum como qualquer outra garota. Jamais podia imaginar que estava por trás de tudo aquilo.

— A própria. — sorriu. — É muito melhor podermos nos falar agora cara a cara. Talvez isso torne nossa negociação um pouco mais fácil. Sabe, Hinata, gosto das coisas práticas, porém não podia perder essa chance.

— De me enganar e trazer até aqui?

— Também. Você é uma boa garota. Não resistiria em ajudar uma criança em busca da irmã mais velha. Aoi foi apenas uma isca. E Aika, bom... Mais uma de minhas personagens. Sabia que foi a pequena Aoi quem colocou meu ingrediente especial para promover amor pela Vila? Quem iria imaginar que uma coisinha tão fofa faria algum suspeito? Também teve a versão idosa que vendeu para Hanabi sua bela pulseira de pérola e a convenceu de que seria um excelente presente para dar a alguém especial. Você nem mesmo recordou das outras vezes que nos vimos. Quando esbarramos numa viela e falamos sobre amor ou quando levei doces a seus amigos, antes do beijo daquele esquisitão dos insetos. Hinata... Quem acha que te mandou os sonhos de presságio do tão emocionante beijo com Naruto e Kiba? Eu estava aqui o tempo todo, esperando esse grande momento e você ainda se recusa a me ajudar a cumprir minha missão?

Aquilo tudo era demais.

Como num flashback, os encontros citados vieram a mente de Hinata. Os olhos lilases estavam lá, todas às vezes, e ela sequer reparou.

— Onde está Hanabi? O que ela tem a ver com esse seu joguinho?

EL riu.

— Sabe a parte mais engraçada disso tudo? Eu sequer encostei um dedo em Hanabi.

— Mas você disse...

— Eu não falei nada. — Estrela Lunar a corrigiu. — Você quem constatou isso sozinha. Claro que eu pensei que, se tivesse um pouquinho mais de pressão, você cederia mais rápido, só que não funcionou. Hanabi não tem a menor serventia para mim, ainda que tenha sido muito oportuno que sua preocupação com a irmãzinha tenha a trazido direto para onde eu queria.

Hinata suspirou.

Inevitavelmente, sentiu-se mais leve. Hanabi não estava ali. Tinham apenas se perdido no festival. Devia estar com os amigos se divertindo e não passando por aquele pesadelo. Não estava sendo subjugada por algo que não tinha culpa.

— Por outro lado, Naruto e Kiba estão aqui de verdade. Como meu objetivo é fazer a colheita do amor e coloca um ponto final nesse seu triângulo amoroso clichê, decidi trazê-los aqui pessoalmente. Diria que tivemos conversas interessantes nesse tempo aqui.

— Mentira. Esteve comigo desde que cheguei.

EL riu.

— Meu bem, esqueceu o que eu falei antes? Esse é o meu espaço. Eu manipulo tudo aqui. Das estruturas ao tempo. Eu sou várias.

Duas ELs surgiram diante de Hinata.

— Eu faço as regras. — falaram em coro.

— Se pode fazer tudo isso, por que precisava de Orochimaru então? Ele é um ninja traiçoeiro. Tentou te matar.

Estrela deu um suspiro dramático.

— A verdade é que não precisava dele. Nunca precisei. Como disse, sou quantas quiser. Sou uma serva da deusa Kaguya. Não preciso de alguém com joguinhos sujos. Sei reconhecer bem uma víbora quando vejo uma. Só que ele também tinha algo que eu queria. Às vezes, antes de vencer, devemos deixar as expectativas lá em cima. Orochimaru, o ninja que queria saber todos os jutsus, capaz de tudo para se tornar invencível, imortal, insuperável. E sabe o que temos nisso? Muito amor envolvido.

— Duvido que ele amasse alguém além de si mesmo.

— Exato! — EL deu um sorriso genuíno. — Está começando a entender as coisas, Hinata. É isso que eu queria. Amores românticos podem ser bons, puros e blábláblá. Só que a colheita não é para mim. Enquanto estiver aqui, gostaria de fazer um lanche e desfrutar de amores reais, dos belos aos egoístas, como o dele. Orochimaru é um poço de amor-próprio. Ou era, pelo menos. Minha breve derrota serviu para que seu ego inflasse e, quando se está no auge, quanto mais alto, maior a queda. Devo dizer que foi amargo, mas extremamente satisfatório e delicioso drenar todo esse excesso de si que havia nele.

Virou para encarar o terceiro elemento no recinto.

— Aliás, portou-se muito bem, Zetsu. Enganou Orochimaru tão perfeitamente que, se eu não soubesse sobre seus planos, acreditaria realmente que queria se livrar de mim.

Os olhos de Hinata se arregalaram com a descoberta. Havia tantas camadas...

— Sabe muito bem que não a trairia, Estrela Lunar. Servimos a alguém em comum. Imagine que Orochimaru, obcecado por poder, talvez tivesse alguma pista quanto ao paradeiro do livro do clã Kaguya. É algo que seria útil para meus planos.

— Mas não passava de um golpe desse tal de Jiraya. — EL deu um sorriso ladino. — Devo admitir, foi engraçada essa pequena armadilha surpresa. Enfim, uma pena que tenha perdido esse item tão estimado. Acho que não há mais nada para você aqui. Está na hora de partir.

— Não tão rápido. — Zetsu olhou para Hinata. — Ainda pretendo usá-los como ponte.

— Como? — sua voz saiu como um sussurro.

— Não sei se será possível. — Estrela alertou. — Não acho que a conexão dela esteja forte o bastante para isso.

— Então traga o Uchiha. O cometa passará em breve. Precisamos ser rápidos.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?

Estamos chegando ao desfecho de "Querido cometa" e não poderiam faltar revelações, ainda mais depois do climão que ficou entre EL e Orochimaru no fim do capítulo anterior. Foi golpe atrás de golpe. Estrela Lunar é mesmo ardilosa demais.
Um alívio, um ultimato. Hinata está numa encruzilhada e o tempo está passando. Logo o cometa cortará os céus. O que vem por aí?

Até!



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