Querido cometa escrita por MaryDuda2000


Capítulo 19
Prisma


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi! Como estão?
Cheguei trazendo mais um capítulo fresquinho, aproveitando para engatar nessa reta final de "Querido cometa".

Esse capítulo continua imediatamente do ponto que o último terminou. Temos agora uma fluidez no tempo. Creio que conseguirão se orientar de acordo com os acontecimentos. Voltamos para o ponto de vista da Hinatinha.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808455/chapter/19

Aquilo era muito desconfortável.

Nunca que ela imaginaria que sua noite acabaria daquele jeito. Muito menos sua vida.

O byakugan não funcionava para enxergar através das paredes do que mais parecia um genjutsu de Estrela Lunar, ou melhor, EL. Contudo, foi eficaz quando ativou e encarou o próprio punho, no qual a pérola parecia ter se prendido, como se estivesse prestes a rasgar sua pele e invadir seu corpo.

A pérola havia assumido um tom escuro, porém surpreendentemente cintilante. E Hinata sabia muito bem o motivo daquilo.

Aquela coisa não estava sugando seu amor como no discurso utópico de EL, mas sim seu chakra. Ela via aquele fluxo sendo absorvido, mesmo que contra sua vontade, para dentro o interior da pequena esfera.

Talvez devesse apenas… Desistir?

Não. Repreendeu-se mentalmente.

Não era uma ninja fraca. Não cederia às chantagens de EL, pelo menos não sem saber se Hanabi, Kiba e Aoi estavam bem e livres de suas garras.

Como se para tentar persuadi-la (ou torturá-la) mais um pouco, viu um dos espelhos refletir o que mais parecia trecho de uma conversa com Naruto. Ele também tinha sido aprisionado por EL.

Entretanto, surpreendeu-se quando um Sasuke atônito surgiu ao lado. O que ele poderia ter a ver com tudo isso? Jamais foram próximos.

— Suponho que tenha perguntas quanto ao motivo de estar te mostrando o Uchiha. — EL surgiu ao lado do rapaz, sem sair do espelho. — Acho que valeria a pena seguir o exemplo dele e parar de resistir ao inevitável.

Uma pontada de dor no punho a fez gemer, o que arrancou um sorriso da figura misteriosa.

— Sasuke? O que ele faz aqui?

Seguindo o roteiro, EL abriu a mão do Uchiha para revelar a pequena esfera vermelha cintilante que segurava.

— Pelo mesmo motivo que você. Clãs diferentes, porém ambos conectados à deusa Kaguya, descendentes com uma missão honrosa. A diferença é que ele está colaborando e isso torna as coisas muito mais rápidas e práticas.

Hinata o observou.

Aquele não parecia Sasuke. Mesmo seus olhos vermelhos estavam diferentes. Vazios e mais brilhantes que qualquer sharingan que já vira.

— Essa pérola é uma outra versão da sua. Ele próprio abriu mão de todo amor que sentia em troca de um propósito.

— Por que ele faria isso?

— Ah… Querida, você não sabe o quão insuportável é a dor de perder alguém tão querido. Os Uchihas possuem uma peculiaridade. Eles amam muito. Por isso esse sentimento pode se transformar em ódio, numa terrível maldição. Sasuke equilibra-se com dificuldade nessa linha tênue e tudo que vê é um enorme abismo abaixo dele. Situações desesperadas exigem, por vezes, medidas desesperadas. Sentir às vezes é demais. Entre carregar essa dor incontrolável e incompreensível, não sentir nada parece atrativo, não acha?! Ele seguirá vivo. Seus sentimentos fluem como chakra para a pérola, mas isso não o matará. Apenas…

— Deixará um vazio. — ela completou.

Mais uma vez, não viu, mas pôde imaginar EL esboçar um sorriso presunçoso. Hinata conseguiu sentir. Talvez por conta da sala onde estava ou da própria pérola em seu punho que voltava a esquentar e latejar.

— No momento, Sasuke está perdido em sonhos, vivenciando um belo encontro de família, despedindo-se decentemente de seus pais e acertando ponteiros com o irmão. Não é genjutsu ou algo cruel. Só estou dando a chance dele se sentir amado de novo. Um amor sofrido, carente, desesperado.

Dessa vez, EL deixou o espelho e deu passos lentos, quase teatrais na direção da Hyuga, que se arrastou para trás, afastando-se enquanto tentava se pôr de pé.

— Não precisa ter medo. Já disse que não pretendo machucá-la, princesa. Vim apenas cumprir minha missão. O problema é que você… parece se contentar com tão pouco. Palavras, sorrisos distantes, migalhas… Sente-se grata por isso e às vezes até acha ser o suficiente. Por isso gosta tanto de Naruto. Ele a mantém nessa zona de conforto, onde amá-lo não te assusta porque pode controlar o que sente. Convenhamos, ele é um grande idiota. Como pode não perceber o óbvio? Hinata… Ou ele não vê ou finge que não sabe dos seus sentimentos com medo de te machucar.

Aquilo doía. Ainda que soubesse se tratar de mais jogos de EL, tais palavras pesavam em seu peito. Todo seu corpo parecia estar mais denso.

— E talvez a questão curiosa, a grande variável, seja Kiba, que rastejou para seu coração furtivamente, de forma que você sequer esperava, afinal não o via dessa maneira. Até então só existia Naruto, certo?! Manteve esse sentimento na coleira sob a desculpa de serem colegas de time, mas, na verdade, tem medo de perder o controle das próprias convicções por serem próximos demais. Medo dele crescer e talvez da reciprocidade. Por que não se acha digna de ser amada?

Kurenai sensei era especialista em genjutsu. Desde que se tornaram um time, passaram por inúmeros treinamentos de prevenção, reconhecimento e quebra dessa tática. No entanto, aquilo não era um genjutsu. Por um momento, Hinata desejou que fosse.

Naruto. Kiba.

Por que tudo tinha que girar em torno desses sentimentos que ela própria não entendia? Até pouco tempo, não teria a menor dúvida, mas agora… Por piores que fossem as palavras de EL, havia um quê de verdade naquilo tudo.

Hanabi e Aoi não mereciam pagar por sua indecisão.

Nem mesmo os rapazes… Que certamente estavam sofrendo nas mãos de EL, numa brincadeira sádica para fazê-la ceder.

Hinata tossiu, sentindo o gosto de sangue na boca.

— A diferença é que a confusão já dominou seu coração. Se continuar assim, o processo pode ser fatal.

 

◇ ♤ ◇

 

Ao atravessar o espelho, EL encontrava-se no centro de seu seleto prisma.

— Parece que as coisas não estão saindo como esperado.

— Zetsu… — virou-se para encará-lo. — Assistindo há muito tempo?

— O suficiente para ver que a garota Hyuga está dando trabalho.

Do centro de seu prisma particular, EL podia visualizar suas inúmeras câmaras e criar mais se assim desejasse. Todas acessíveis há um espelho de distância e divididas entre seus respectivos hóspedes: Kiba, Hinata e Naruto. Transitar entre elas exigia uma capacidade exclusiva, então não havia problema em ter Zetsu ali.

— É mesmo uma tola cheia de ideais… Morrerá assim. A pérola pode ser bastante impiedosa.

— Sabe muito bem que ela não pode morrer. — alertou.

— Não venha querer me ensinar a fazer meu trabalho, Zetsu. Sei muito bem o que estou fazendo.

— Assim espero. — falou, engatando em outro assunto em seguida. — Orochimaru deseja falar contigo.

EL suspirou, claramente entediado com a ideia.

— Traga-o aqui!

Não demorou para que a figura surgisse diante de si, erguento-se do chão de maneira tão característica, afinal a entrada naquele local era restrita. Liberou para Zetsu apenas por terem interesses em comum, ainda que o achasse particularmente suspeito.

— Que lugar curioso esse! — Orochimaru comentou, observando todo ambiente.

Seus olhos cheios de ambição deixavam claro o interesse de entender como EL estava fazendo aquilo, pois, até Zetsu surgir para levá-lo até lá, não enxergava nada além da Vila da Folha em confusão do telhado de uma construção qualquer. Onde estavam de fato?

— Vejo que tem todos sob seu controle. Hinata, Sasuke, Naruto e… Quem é esse?

— Um garoto do clã Inuzuka. — EL respondeu. — Imagino que não seja interessante para você, mas é fundamental para que a garota cumpra com o objetivo o mais rápido possível.

— Hm… — os olhos de cobra analisaram Hinata ajoelhada no chão, agonizando. — O que está acontecendo com ela? Pode afetar de alguma forma o byakugan?

EL não respondeu.

Orochimaru caminhou até o espelho, tocando-o, porém a barreira transmitiu um choque inesperado. Riu.

— Ainda não me disse o que pretende fazer com a Hyuga e o Uchiha.

— Porque não é da sua conta. — EL retrucou.

— Não diga isso. Você precisou de mim para trazer Sasuke. Depois levou para algum lugar e me deixou na curiosidade.

— Apenas contente-se com o papel que recebeu, Orochimaru. Por acaso não confia em mim?

— Não e suponho que a recíproca seja verdadeira. — o Ero Sannin abriu um sorriso provocativo. — Não sou tolo, EL. Você foi bem categórico em escolher membros dos clãs Hyuga e Uchiha como centro de seu plano. Deixou a Vila em caos para ninguém dar pela falta dos dois, ainda mais da menina Hyuga.

Nenhum dos dois interveio, o que permitiu que Orochimaru seguisse com seu monólogo.

— Uma de minhas cobras ouviu e me contou sobre sua conversa com Zetsu. A poderosa deusa Kaguya… Progenitora de clãs com doujutsus tão poderosos. Dentre eles, o sharingan que aprecio há tanto tempo. Acredite, se alguém quer aprender todos os jutsus ninjas, deve realizar estudos e pesquisas profundas. Seu plano é bem maior do que me contou. Quero saber até onde isso pode interferir nos meus interesses.

— Não se sinta tão especial. Não é como se não soubéssemos que estava nos escutando. — Zetsu se pronunciou.

— É preciso montar uma ratoeira se deseja pegar o rato.

EL disse, ultrapassando o espelho que dava à Hinata, a qual imediatamente pôs-se atenta. Seu rosto estampava uma mistura de surpresa e dor ao visualizar Orochimaru. Lembrava bem o desastre que causou quando a Aldeia do Som invadiu a Vila durante o Exame Chuunin. Também sabia o prejuízo causado por ter seduzido Sasuke pela ideia de poder e vingança e como Neji se feriu naquela missão de resgate. No entanto, dessa vez, seus olhos pareciam interessados demais… nela.

— Olá, querida! Não se sinta desconfortável com minha presença. Estamos apenas tratando de negócios.

Um arrepio percorreu pelo corpo da Hyuga.

Para tornar o momento mais divertido, EL permitiu que Naruto e Kiba tivessem visão completa por seus espelhos do que acontecia ali. Não demorou para que seus sentidos detectassem a revolta ao reconhecer a figura de Orochimaru.

— Princesa do byakugan… Você realmente tem belíssimos olhos. Será mesmo muito interessante desvendar um pouco mais sobre seu dom.

— Você disse que se eu colaborasse, nos libertaria. — Hinata disparou para EL.

— Não me lembro de ter dito exatamente essas palavras.

— Fizemos um trato. — Orochimaru retomou a palavra. — E seus olhos estavam dentro do pagamento pelo meu exímio serviço.

— Não se ache tanto. — EL retrucou. — Não é como se tivesse feito algo surpreendente. Foi apenas um quebra-galho. Eu mesmo poderia ter dado conta do Uchiha.

O Ero Sannin lambeu o lábio inferior com sua língua bifurcada, tomando em mãos o caderno que havia pego de Naruto quando o atacara.

— Acho que não gostaria de dar para trás agora, EL. Quando realizava perfeitamente a tarefa da qual fui incumbido, não pude deixar de perceber que meu antigo colega de time Jiraya sabia detalhes interessantes sobre uma suposta ninfa que coletava amores e trazia consigo pérolas. Ironicamente, foi o que me deu para convencer Sasuke a colaborar com seu plano.

Mesmo estando em local desconhecido, Orochimaru demonstrava bastante confiança em seu potencial, destilando seu veneno cautelosamente em cada palavra e analisando o oponente.

— Como disse, estudei bastante sobre jutsus para saber quem é Kaguya, seus feitos e legados. Não por acaso conheci há alguns anos Kimimaro, um rapaz que derivava de um extinto clã do País da Água que carregava tal nome, portador de uma kekkei genkai de manipulação de ossos, o que tornava seu corpo uma armadura quase impenetrável.

— Suponho que tenha tentado se apossar do corpo dele também. — EL sugeriu.

— Infelizmente morreu antes que pudesse fazê-lo. — Orochimaru falou com falsa comoção. — Contudo, meus estudos sobre o clã Kaguya me levaram a ideia de um antigo livro secreto com informações privilegiadas, que acredito veemente serem ligadas a própria deusa e a natureza profunda do chakra. Então me perguntei: se Kaguya é eixo central do plano deles, qual seria a serventia desse livro? Foi minha suposição da função de Zetsu nesse plano, ainda que não entenda o motivo de seu envolvido real. Eu capturava Sasuke. EL conseguia a Hyuga. Zetsu tentava encontrar o livro perdido do clã Kaguya.

— Você quer dizer que esse caderno tosco é um grande livro de segredos supostamente deixados pela deusa para um clã seleto? — EL supôs. — Seria uma piada.

— Pense bem. Um evento que acontece a cada 50 anos. Uma misteriosa onda de amor que se espalha pela Vila da Folha. Uma conversa sobre uma deusa guiada pelo amor, poder e amor pelo poder… Um ser forasteiro intrigante aparece querendo justamente descendentes da própria Kaguya. Quais as chances dele também querer o poderoso livro do clã que carrega seu nome? Ainda mais quando esse clã não existe mais para protegê-lo. Talvez possua informações sobre esse forasteiro com pérolas controladoras e suas intenções. Não sou tolo. Jiraya também não. Ele pode dizer que ouviu uma história aqui e outra ali, fantasiar com ninfas, mas tenho certeza que, se sabe sobre o livro, procurou-o. Se achou, provavelmente entregou a nossa querida Tsunade. Não sem antes fazer as próprias anotações. Sobre o livro e sobre uma figura atrativa mencionada nele. Você.

— E esse monólogo irritante seria exatamente para quê? — EL questionou.

— Uma garantia? Não gosto da ideia de ser passado para trás. Não é como dizem? Conheça bem seus amigos e melhor ainda os inimigos.

Uma das cobras de Orochimaru deslizou em direção a EL, como se esperasse algum cumprimento selando esse “acordo”. Todavia, Estrela Lunar apenas pisou sobre a cabeça da serpente, sufocando-a, sem titubear.

Outras cobras partem em direção a EL, que desvia, agora com mais atenção ao perigo que trouxera para dentro de seu prisma particular.

Num momento de distração, o pescoço de Orochimaru alongou-se como uma verdadeira serpente, seguindo em direção a Hinata, a fim de enfiar suas presas em sua pele alva.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam?

Gente, tem tantos detalhes que se passam na minha cabeça nessa reta final. Cenas que gostaria de transcrever o mais fiel possível da minha imaginação, se desenrolando com gestos, expressões e maneiras de falar bastante características dos personagens, como um arco do próprio anime.
Se fosse no anime, teríamos algumas cenas intercaladas, algo mais dinâmico e fluido, mostrando lado A, lado B, lado C. No entanto, optei por separar em capítulos cada lado, mesmo certas cenas ocorressem quase simultaneamente, em vez de tentar juntar tudo "em flashes" e acabar ficando fragmentado demais. É bem chato quando parece que só está enchendo linguiça, né?! Gosto de trazer finalidade, nem que seja para os joguinhos mentais de EL. Nada de ponto sem nó (na maioria das vezes, pelo menos).

Até a próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Querido cometa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.