O caminho até o local onde Jiraya tinha se instalado parecia distante ou talvez fosse apenas a mente de Naruto que vagasse para longe.

— Acredita mesmo nessa história toda de pérola da névoa confusa? Qual nome mesmo? — perguntou enquanto saltavam de um telhado a outro.

— Nevoeiro, névoa, confusão. Tanto faz, garoto. — Jiraya respondeu. — Sou um escritor. Escutei inúmeras histórias com várias versões ao longo das minhas viagens. Sei que pode ser pura invenção ou talvez algum genjutsu raro, mas não posso apenas ignorar. Seria muito imprudente da minha parte. A pérola é de se suspeitar, mas duvido que seja nosso maior problema. Por isso, temos que achar Hinata e os outros logo.

Havia algo intrigando Naruto. Desde que despertou no Ichiraku e descobriu que tinha ficado fora de área de alguma forma, sentia-se atordoado. Sua mente não parava de pensar que Hinata estava em perigo e que poderia ter evitado tudo isso se tivesse permanecido ao lado dela. Mais estranho era que ele tinha tido um sonho esquisito na noite anterior, no qual estavam juntos para ver o cometa e algo vinha dos céus em sua direção. Ele só queria protegê-la. Quando ela quase se afogou em busca da flor de lótus, pensou que talvez o sonho tivesse relacionado a isso.

Parece que não. O perigo real veio depois e Naruto não estava lá para ajudá-la e protegê-la quando Hinata precisava.

Sem contar o causo com Sasuke que... Sinceramente, ele ainda não entendia como aconteceu. Nada parecia fazer muito sentido. Sua cabeça estava uma bagunça. Só queria saber o que estava deixando todos tão apaixonados e salvar seus amigos.

Vozes familiares chamaram sua atenção, fazendo com que o próprio sábio tarado parasse.

Ino e Sai apareceram diante deles. Naruto se lembrava de tê-los visto no festival juntos. A garota estava rendida aos encantos do festival. Agora parecia desperta, atenta e preocupada.

— Mestre Jiraya, precisamos da sua ajuda. — Sai começou. — As coisas estão saindo do controle no festival.

— A senhora Tsunade parece estar drogada, de alguma forma. — Ino continuou. — Ela não para de perguntar pelo senhor. Nem sequer chegou a fazer o discurso pelos que se foram. Nunca a vi assim. Shizune também está de mãos atadas.

— A Hokage está ficando exaltada. Destruiu uma das mesas do Ichiraku com dois dedos apenas.

Jiraya suspirou e esfregou as têmporas.

— Nunca imaginei que chegaria o dia em que fugiria de Tsunade por estar apaixonada por mim. — deu uma risada, olhando para seu discípulo em seguida. — Garoto, vá em frente. Procure por um caderno surrado de capa azul que cheira a peixe. Deve estar lá o dinheiro. Só não gaste com bobagem, ok? Foco!

Trocaram um olhar significativo antes que Jiraya seguisse Ino e Sai ao encontro de Tsunade.

Demorou alguns segundos para entender a pista dada pelo mestre. O caderno que tinha deixado cair acidentalmente no cesto de peixes tinha capa verde. Aquilo deixou o sábio tarado uma fera. O caderno azul, por outro lado, era o que costumava fazer suas anotações de "pesquisas" nas casas de banho. Um código para caso estivessem sendo observados.

Manteve isso em mente e se apressou para chegar ao local onde o Ero Sannin estaria hospedado. Durante o caminho, não deixou de perceber o quanto a vila parecia deserta. Sabia que nem todos estariam no festival, todavia esperava luzes acesas pela hora do jantar ou nas janelas, esperando a passagem do cometa.

Assim que pegou o caderno, foi surpreendido pela figura que estava sobre o telhado. Devido a parca luz, sua silhueta parecia misteriosa e um tanto medonha.

Uma conversa parecia se desenrolar, porém baixa o bastante para que não escutasse da distância que se encontrava. Saltou para o telhado furtivamente e visualizou o amigo.

Por um instante, teve a sensação de ter passado por aquilo antes.

— Sasuke? O que faz aqui?

— O que você faz aqui? — o Uchiha devolveu a pergunta.

— Eu perguntei primeiro. — Naruto retrucou, com a sensação de déjà vu persistindo. — Isso... Já aconteceu antes, não é?! Mais cedo, quando nos...

— Tem alguma coisa de errado. Alguma notícia de Hinata?

— Não. — o loiro respondeu, ainda que a mudança de assunto o tivesse surpreendido. — Como sabe sobre o desaparecimento dela?

— O que veio fazer aqui? — Sasuke ignorou a pergunta.

— Buscar uma coisa para o sábio tarado. O que você faz aqui? Com quem estava conversando agora? A mesma pessoa de mais cedo? O que está acontecendo, Sasuke?

Naruto deu dois passos em direção ao amigo, o bastante para que notasse a coloração distinta em seus olhos. Vermelhos vivos, quase cintilantes. Diferente do sharingan normal, estavam limpos. Até mesmo a parte branca dos olhos havia desaparecido, como se tivesse sido completamente tomado por sangue.

O loiro deu um passo para trás, fazendo o sinal para desfazer genjutsu.

— Isso não vai funcionar. — uma voz grossa soou mais atrás.

Num movimento ágil, virou-se para encarar aquele que certamente não deveria estar ali.

— Itachi? Mas você morreu!

— Mas nem toda morte é eterna. — a figura desapareceu, surgindo novamente atrás de Sasuke, apoiando uma das mãos em seu ombro. — Talvez pudesse dizer que minha morte foi um mal-entendido.

Como se seus olhos o traíssem, a visão diante de si falhou. Sasuke permanecia parado, como se tivesse em transe, enquanto o manto da Akatsuki de Itachi foi tomado pelo preto, inclusive cobrindo todo seu corpo. Olhos amarelos se destacaram, seguidos da língua bifurcada que deslizou pelo rosto do Uchiha quando se aproximou

— Orochimaru. — Naruto esbravejou. — Sasuke, não acredito que se uniu a ele de novo.

Uma risada ácida veio da figura encapuzada.

— Não o julgue. Também não adianta falar nada. Ele não está te escutando.

Tirou uma das mãos dos bolsos e exibiu o que parecia uma pérola vermelha sangue, similar ao tom que dominava os olhos do Uchiha naquele momento.

— Nosso Sasuke deseja profundamente alguém de volta. Só estou ajudando meu discípulo a atingir seu objetivo.

— Você quer o corpo dele para poder ter o sharingan. Não passa de um velhote sedento por poder.

Quase simultaneamente, Naruto sentiu-se preso. Duas grandes cobras tinham se enroscado em suas pernas e tronco, apenas aguardando o sinal para afundar suas presas na pele do rapaz.

— Não vai conseguir escapar. Dessa vez, temos dois kages e muitos ninjas para te deter.

— Sério? — Orochimaru riu. — Da última vez que vi, o Kazekage e o irmão brigavam pela atenção de uma garota. Ah, e minha querida Tsunade estava caidinha de amores por Jiraya. Acho que ele deveria me agradecer por essa ajudinha.

— Tudo isso para atacar a vila? O que mais você quer? Cadê seu exército? Se tivesse um, acho que já estariam aqui.

— Quem disse que estou sozinho? — um sorriso ardiloso surgiu no rosto do vilão. — Não preciso de um exército para o que pretendo fazer. Estou aqui para uma visita amigável. Aproveitar o festival com a ajuda de um novo amigo.

— Eu não vou deixar que leve o Sasuke de novo.

— Por quê? Vai protegê-lo? Como fez com a menina Hyuga?

Os olhos de Naruto se arregalaram.

— EL tinha alguns assuntos para resolver com ela, mas Hinata também parece bastante valiosa. Faz parte da família principal. Aqueles olhos... E tudo que precisamos foi de uma pequena pérola.

— Onde ela está? — Naruto questionou, gritando de dor em seguida ao sentir presas afundando em seu ombro.

— Sem problemas, esquentadinho. Logo estará com ela.

Naruto despencou. Antes que atingisse o chão e a escuridão tomasse conta de seus olhos, teve o vislumbre de algo preto e branco se erguer a sua frente, ocultando os olhos vermelhos e amarelos que antes o encaravam.

As serpentes se desenrolaram devagar do corpo inerte do rapaz. Uma delas seguiu até seu bolso, capturando o caderno que carregava antes de rastejar de volta a seu mestre.

— O que é isso?

Orochimaru deu um sorriso presunçoso.

— Algumas anotações de Jiraya. Ele não é bobo. Desconfiava da pérola que Hinata carregava. Talvez saiba algo sobre EL.

— Por isso esperou que o garoto pegasse o caderno.

— Exatamente. Me diga, Zetsu, não te intriga que EL tenha tanto interesse na Vila da Folha? 

— Temos interesses afins. Isso basta.

— Interesses que não envolvem o restante da Akatsuki? — o Ero Sannin pronunciou de forma tendenciosa. — Que curioso...

— Todos temos nossas ambições particulares. Acredito que entenda mais que ninguém sobre isso. Você queria o Uchiha, não é?! E ainda pediu pelos olhos da garota Hyuga. Eu diria até que foi um acordo bem generoso. Por que precisa de mais?

— Gosto de conhecer as pessoas com quem trabalho. Nunca se sabe quando se tornarão nossos inimigos.