Dualitas escrita por EsterNW


Capítulo 39
Capítulo XXXIX




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Irina assistia o sol ir baixando no horizonte, perdendo-se atrás do casarão à frente e dando lugar à noite. O diário, a pena e as quinquilharias foram completamente esquecidas sobre sua escrivaninha, o relato daquele dia não sendo nada além de uma marcação com data numa página em branco. 

A beleza ordinária que era assistir a um pôr do sol perdia lugar para seus próprios pensamentos. 

O Dr. Salazarte chegara a alguns minutos e a ela restava aguardar para que sua presença fosse novamente liberada para o quarto do irmão mais novo. Na solidão, restava-lhe o medo. 

Medo por um destino cruel que se aproximava, por um futuro que se desenhava em cores amargas e no negror da morte. A Mãe Terra fora cruel o suficiente para transformar em pó toda e qualquer esperança que tinha e quanto à Luz... Era nada além de uma marionete nas mãos Dela, descobrindo informações escondidas em enigmas de acordo com a vontade Dela. 

No fim, era como se nenhum deles tivesse de fato uma escolha. 

Ouviu uma batida na porta e o ruído dela sendo aberta, pois estava somente encostada. Isaac colocou o rosto pela greta. 

― Posso entrar? 

Ela assentiu e ele aumentou a abertura para que pudesse passar e fechou-a em seguida. Ao vê-lo se encaminhar para sentar-se na beira de sua cama, não conteve a pergunta:

― O Dr. Salazarte já se foi?

― Ainda não ― ele respondeu, aproximando-se o máximo que podia da irmã. Com ela virada em sua direção, os joelhos quase se tocavam. ― Ouvi-o dizer que testariam um novo preparado, por isso está demorando um pouco mais do que o habitual. 

Irina assentiu lentamente, dessa vez, porém, sem o mínimo de esperança de que poderia dar certo. Um lado seu queria acreditar que ainda era possível, ainda poderiam revirar o mundo, que fosse, em busca de uma solução, no entanto... Uma após a outra as tentativas estavam sendo frustradas. 

Isaac a assistia em silêncio e ergueu a cabeça ao sentir o olhar fixo dele sobre si. 

― O filho do Dr. Salazarte pediu sua mão em casamento ― o irmão anunciou de súbito e, antes que uma exclamação pudesse sair dos seus lábios e se transformar em palavras, Isaac continuou. ― Ele deve fazer o pedido em breve. 

Fechou a boca, deixando qualquer arquejo de surpresa para trás. Os cantos de seus lábios se apertaram e Isaac continuava sério, como qualquer irmão ficaria em uma situação como aquela. 

― Você o obrigou a fazer o pedido ― ela concluiu em voz alta e, em retorno, viu-o bater as mãos sobre as coxas. Assim como Estevão costumava fazer. 

― E o que você queria que eu fizesse? O nome da nossa família...

― Nossa mãe incentiva o que falam sobre nossa família! 

― Eles não teriam razões para levar as palavras dela a sério se vocês dois não tivessem dado motivos para isso! — ele subiu a voz pela primeira vez. 

Irina entregou-lhe a fúria pelo ar, enquanto o via encará-la como se mais uma vez reclamasse da demora para o retorno do pai ou de uma carga extraviada. Ao mover-se na cadeira, ele tentou bloquear-lhe a passagem com os joelhos.

Sabia que não adiantaria insistir que não havia acontecido nada que pudesse manchar sua reputação naquela noite, pois, no fim, as palavras sempre seriam as armas mais fracas contra a opinião geral. Se a sociedade acreditasse que de fato houve algo naquela noite, então aquela era a verdade. 

― Eu não irei me casar com Matias ― ela decretou por fim. 

Isaac sem querer bateu a ponta dos joelhos contra os dela, escorregando mais para a beirada da cama. 

― Como não?! — O irmão quase escorregou para fora do colchão. — Os dois têm se visto quase todos os dias desse mês, você frequenta a casa dele como se fosse íntima e agora pouco estavam quase se beijando no meio do corredor e você ainda diz não? ― Ele novamente tentou amparar o movimento dela com os joelhos. ― Dê-me apenas uma razão plausível para que você negue esse pedido. 

Irina conteve qualquer comentário sobre a audácia de tentar encurralá-la, pois somente lhe bastava girar as pernas e sair pelo outro lado da cadeira. Mediu-o por alguns instantes, vendo os cantos dos lábios se curvando em um espelho perfeito de sua expressão. 

Isaac não acreditaria em uma palavra que dissesse sobre maldição. Para ele, os sonhos de Ezequiel sempre foram apenas sonhos e a doença misteriosa algo que ainda desconheciam. Mesmo que lhe entregasse um argumento perfeito, que descrevesse toda sua visão durante o encontro com as fadas ou o que fosse, Isaac se negaria a acreditar.

Ela talvez fizesse o mesmo, se não tivesse passado por todo o caminho até chegar ali. 

De supetão, a porta do quarto foi escancarada e a figura de Beatriz se postou sob o batente. 

— Mãe toda-poderosa, o que deu na cabeça de vocês para discutirem justo quando temos visitas? — Ela bufou, fechando todos no quarto. — Para a sorte de vocês, acabei de me despedir do Dr. Salazarte quando ouvi as vozes de vocês do topo da escada. — Seu caminhar na direção deles era anunciado por um farfalhar de saias. — Bem, o que temos de tão importante para não pouparem os pobres nervos de sua própria mãe? 

Beatriz passou o olhar de um para o outro e Isaac lentamente se pôs de pé, sendo observado pela mãe. Irina apertou o encosto da cadeira, sentindo que não poderia sair daquele quarto tão cedo. E a curiosidade pela última consulta de Ezequiel a corroía. 

— Irina está prestes a receber uma proposta de casamento do filho do Dr. Salazarte e insiste em negá-la — Isaac explanou e Beatriz mediu a filha com os olhos, o nariz se erguendo como se farejasse insolência pelo ar. — Os dois… 

— Poderia nos dar um momento a sós, querido? — a Sra. Gutiérrez o interrompeu, a simpatia fingida dançando pela voz, como se mal percebesse, enquanto seu rosto traduzia o contrário. — Acredito que esse seja um assunto feminino. 

Isaac murmurou um "claro" e, dando uma última olhada para trás e percebendo que era ignorado pela irmã, retirou-se do quarto. Beatriz e Irina desafiavam-se em uma queda muda por quem piscaria primeiro e, com o clique da porta sendo fechada, a mãe decretou: 

— Você não vai dizer não para aquele homem. 

― Eu me recuso. ― Irina se pôs de pé, marcando cada uma das palavras enquanto se levantava e cruzava os poucos passos até chegar à Sra. Gutiérrez. ― Eu não vou envolver Matias em nenhum dos seus esquemas.

Beatriz gargalhou, ignorando o desafio através de cada uma das palavras que a filha enfatizava, a língua pesando por cada uma das consoantes.

― É muito fácil seguir os planos da mamãe quando ele é conveniente para você, não é, querida? É conveniente quando você pode usar de uma amizade, que eu arranjei, para partir nessa investigação bobinha apenas para satisfazer as vontades de Ezequiel. ― Ela sorriu, vendo a expressão da filha sequer vacilar. ― É fácil julgar sua mãe quando você age como ela e usa as pessoas para alcançar o que quer.

― Eu nunca agi feito você ― Irina atirou, pouco se importando com o pronome de tratamento que usava para a mãe. Sentia o rosto começar a esquentar, e não era por um pingo de vergonha.

― Se você prefere acreditar nisso para não manchar sua consciência, não posso fazer nada. ― A Sra. Gutiérrez segurou o rosto da filha com os dedos, passando os dedos gentilmente pelo maxilar fino como o seu. ― Mas eu sei que, no fundo, sua consciência irá acusá-la pelo que você está fazendo com a reputação dessa família.

― Isso tudo é culpa sua! ― A filha deu um passo brusco para trás, se afastando do toque da mãe. ― Não tenho o mínimo de peso na consciência quando sei que os boatos apenas existem por culpa sua.

Beatriz riu, se virando enquanto a filha se afastava rumo à porta fechada.

― Ora, querida, você é quem deu motivos e eu sou a culpada pela fofoca? ― Ao perceber que não teria resposta, pois a filha já havia puxado a maçaneta e escancarado a porta, adicionou uma última frase enquanto ainda era ouvida. ― Se você não dá a mínima para ninguém dessa família que não seja Ezequiel, ao menos pense no pobre filho do Dr. Salazarte. ― Com passos rápidos, tentou segui-la para fora do quarto. ― Você pode pouco se importar com um casamento, mas será que ele pensa o mesmo? Seria uma pena que um homem tão gentil tivesse uma fama de libertino tão injustamente...

Irina somente abriu a porta do quarto do irmão mais novo no outro lado do corredor. Ezequiel ergueu a cabeça do meio da pilha de travesseiros e, por muito esforço, conseguiu não bater a porta, deixando a voz da mãe esquecida do lado de fora.

― O que aconteceu? ― ele questionou, erguendo o tronco e sentando-se na cama.

Ela parou, se dando conta de que estava trazendo a confusão para o quarto do irmão. E de quem estava escondendo todas as piores partes das últimas semanas. Ezequiel não tinha ideia de nenhuma maldição e muito menos dos seus sentimentos em relação a Matias, além da amizade e da noite que passaram na estalagem.

Passou a mão pelos cabelos e respirou fundo, sequer conseguindo aliviar a própria expressão.

― Não se preocupe, não foi nada. ― Se aproximou da cama, sendo assistida pelos grandes olhos dele. ― Apenas nossa mãe e reclamações de sempre.

Ele observou-a se sentar sobre o colchão e encarou os lençóis.

― Ouvi vocês dizerem algo sobre casamento ― Ezequiel cortou qualquer mentira que pudesse usar como subterfúgio. Antes que pudesse transformar a confusão dos seus pensamentos em palavras, ele continuou. ― E algo sobre o filho do Dr. Salazarte também, vocês estavam falando um pouco alto.

Irina apertou os lençóis e encarou a face pálida do irmão, iluminada pela chama da vela recém-acesa sobre a mesa de cabeceira. E onde estavam dois novos frascos, um de um verde-escuro quase preto e outro amarelo feito trigo.

― Sabe como nossa mãe tenta de tudo para se aproximar dos Salazarte...

― Ela devia estar planejando seu casamento com Matias, imagino. ― Ele soltou uma risada soprada e ela soltou um respiro acompanhado de uma tentativa de rir junto dele. ― É uma pena que ele teria de aturar nossa mãe como sogra, se vocês se casassem.

― Ele não vai ter que aturar nossa mãe como sogra. ― Sua tentativa de entrar no ar cômico falhou. Tirou os olhos da mesa de cabeceira. ― O que o Dr. Salazarte disse?

― Matias parece gostar muito de você... ― Ezequiel continuou, ignorando completamente a pergunta. ― Ele não tira os olhos de você toda vez que os vejo juntos. ― Irina devolveu um olhar incomodado para o irmão, que respondeu com um sorriso fraco antes de partir para o foco que ela queria. ― Ele me deu dois novos preparados, esperamos que a combinação deles seja um pouco mais forte e eficaz. E espero que não tenham um gosto tão ruim quanto parecem, esse preparado amarelo parece mais urina...

Irina finalmente riu, atraindo a atenção do irmão para ela, que não tinha por costume ser tão contagiada pelo humor tão característico dele. Normalmente, ela o repreenderia ou devolveria com outra frase no mesmo tom, mantendo o clima provocativo.

― Não deixe nossa mãe te atingir desse jeito, você sabe... ― Ezequiel retomou o assunto anterior e Irina balançou a cabeça, finalmente soltando os lençóis. Desviou os olhos para a janela, vendo que o dia havia partido. Nuvens sem graça tomavam a noite. ― Isso vai passar. Quando eu me for, você vai estar livre para se casar com quem quiser e ir embora daqui.

― Pelo amor da... ― Irina começou e parou no mesmo instante, se recusando a dizer “pelo amor da Mãe Terra”. De forma inconsciente, agarrou a mão magra do irmão. ― Você não vai morrer!

Ezequiel ofereceu um sorriso triste, seus dedos agarrados com tanta força que quase doíam. Mesmo assim, não disse nada.

― Ainda assim. Você merece se casar um dia, lembre que você prometeu.

Naquele instante, Irina sentiu a verdade querendo escapulir. Ninguém sabia tudo o que se passava dentro dela, além de seu diário.

Estevão sabia do histórico da maldição dos Gutiérrez, mas parava ali; suas amigas ou estavam para voltar da lua de mel, ocupadas com seus recentes casamentos ou simplesmente se esquecera de atender o convite para uma visita; quanto a Matias... Ele sabia de quase tudo, exceto aquilo que envolvia a ele mesmo.

― Um dia ― ela respondeu por fim, sequer tentando disfarçar que não acreditava naquilo.

De forma alguma queria passar aquilo para frente. Ela não sofreria daquela forma por mais ninguém. 

 

 

Ezequiel revirou-se na cama, atraindo a atenção da irmã. Ela observou-o por alguns instantes, vendo que era somente mais uma agitação comum. Sequer abrira o livro em seu colo e ele somente estava ali pois fora tópico de uma conversa entre os dois antes que Ezequiel adormecesse, sequer durando cinco minutos acordado depois de ter tomado a mistura dos dois preparados ― e de ter feito careta, mesmo que dissesse que o gosto não era tão ruim quanto parecia ―.

No andar inferior, tinha certeza que Isaac e sua mãe jantavam e, apesar de estar começando a sentir fome, não tinha o mínimo desejo de descer. Alguma empregada deveria trazer-lhe um prato com comida fria mais tarde e se valeria disso.

A cada dia tinha menos vontade de passar tempo com o que sobrava de moradores em sua casa, ansiando ter de volta momentos com o pai e Estevão, e sabia que nunca os teria outra vez. Com Estevão a resposta seria sem dúvidas negativa, mas quanto ao pai... Ele voltaria em algum momento, contudo, a convivência do casamento destruído e recheado por ironia e amargor contaminava a casa inteira.

Isso é, se é que de fato aquele casamento teve algo além de desgosto mútuo algum dia. Os filhos sequer precisavam ter muita idade para perceberem que a mãe tentava manter uma fachada para outros do lado de fora. Manter uma fachada era algo natural para Beatriz.

Um rangido cortou o silêncio sonolento do quarto de Ezequiel e o rosto de Isaac apareceu pela greta.

― Posso entrar? ― ele questionou e a irmã logo se levantou do divã. ― Precisamos conversar.

― Não temos nada para conversar ― ela sibilou e a porta foi aberta para que o corpo grande e troncudo de Isaac passasse. A porta foi novamente fechada e a saída de Irina bloqueada.

― Perdoe-me pela forma que eu falei com você hoje mais cedo ― Isaac a cortou de supetão, jogando a frase para que ela pudesse lidar da forma como conseguisse. Somente continuou parada. ― Eu apenas queria… — Ele engoliu a saliva. — Eu queria entender por quê.

Irina virou as costas para o irmão mais velho, olhando para Ezequiel sobre a cama. As cortinas quase totalmente cerradas permitiam entrar apenas um filete de luz prateada sobre as tábuas do chão, deixando o resto do ambiente na penumbra. Ezequiel ainda se remexia, porém não com os seus movimentos desesperados durante o pesadelo.

― É por ele? ― Isaac continuou, também observando o irmão mais novo. ― Você não quer aceitar por não querer deixar Ezequiel para trás?

Ela respondeu com o silêncio por alguns instantes, usando a saliva para umedecer os lábios secos. Estivera há tanto tempo ali que se esquecera até mesmo de descer para buscar um copo d’água.

― Eu não vou deixá-lo para trás. ― No movimento, puxou uma pele do lábio, logo sentindo o gosto de sangue. ― Eu não confio em vocês dois para cuidarem dele.

Isaac colocou uma mão sobre seu ombro e, mesmo assim, não olhou em sua direção. Continuou sentindo o gosto de sangue aumentar.

― Eu sinto muito por não ser tão bom quanto Estevão. ― Ela quase mordeu o lábio sem querer, piorando o gosto ferroso. Ele apertou mais os dedos em seu ombro, de forma inconsciente. E tão parecido com o gesto que ela costumava fazer. ― Eu... ― Parou, respirando fundo. ― Eu sinto muito por não ser tão bom para vocês dois como ele.

Irina olhou para os próprios pés. Sua vontade era de censurá-lo por muitas coisas, despejar toda sua raiva por mais cedo e muito além daquilo, contudo, se conteve um pouco.

― Estevão ao menos tinha esperança. Ele não olhava para Ezequiel como se fosse um fardo... Estevão tentava tornar a vida dele um pouco melhor.

― Ezequiel não é um fardo para mim! ― O sussurro, tom que ambos estavam usando com alguém dormindo no mesmo ambiente, saiu quase raspando pela garganta.

― Não é o que você dá a entender quando censura nosso pai por gastar seu tempo na Europa em busca de respostas.

Isaac havia repetido tanto aquela frase que era quase um hábito todas as vezes que recebiam uma carta do pai. E em todas as vezes não podia segurar sua raiva e indignação.

Ele suspirou e se afastou, tirando a mão do ombro da irmã. Parecia até mesmo que iria sair do quarto.

― Eu não consigo ter esperança! ― ele exclamou novamente em outro sussurro estrangulado. ― Ninguém nunca viu nada parecido com isso, Irina, como podemos ter alguma esperança? Já fazem anos.

Ela passou a língua pelos lábios, sentindo o gosto de sangue abrandar. Ainda estava sensível.

Depois de todas suas descobertas no próprio submundo do Submundo, ela própria havia perdido todas as esperanças. Mas, mesmo que Ezequiel fosse um caso perdido, nunca conseguiria tratá-lo com tanto desprezo. Sabendo do fim cruel que a Terra, a Luz, a Sombra, que todas lhe reservavam, tudo o que queria era passar mais tempo com ele.

― Se não acredita que ele vá sobreviver, então ao menos passe mais tempo com ele enquanto ainda o temos. ― Girando o tronco, olhou para trás, vendo Isaac perto demais da porta. ― Não adiantará nada se culpar quando ele se for.

Em uma rápida sequência de movimentos, Isaac abriu a porta e saiu sem dizer mais nada. Irina umedeceu os lábios rachados outra vez e retornou para seu lugar no divã, sozinha no escuro com seu irmão mais novo adormecido. Desatou as fivelas dos sapatos, trazendo as pernas para cima do móvel.

Atípico… Sim, era um tanto atípico de Isaac, que normalmente levaria aquele diálogo para uma discussão, que com certeza acordaria Ezequiel. Porém, aquilo pouco importava naquele momento. Ao menos estava novamente na companhia do silêncio. 

Ezequiel continuava em seu sono pesado e movimentado, e ela fechou os olhos. Pensar nele partindo era algo que nem gostava de cogitar, mas uma possibilidade que era obrigada a se recordar a cada dia que passava. A piora era nítida e estavam todos de mãos atadas.

Era obrigada a vê-lo sofrer e simplesmente se conformar. E sofrer junto. 

Um rangido indicou a porta sendo aberta, lançando a luz avermelhada de uma vela para dentro. Isaac apareceu, carregando ele próprio uma vela em uma das mãos e uma bandeja na outra.

― Ainda está morna ― informou, entregando o objeto para a irmã, que se manteve em silêncio mesmo no meio das exclamações de surpresa que se formavam em sua mente. 

Irina ajeitou-se no divã, trazendo os pés envoltos em meias novamente para o chão. Olhou rapidamente para a bandeja com um prato e um copo d’água e depois para o irmão, que a encarava, parecendo hesitante. A porta continuava aberta.

― O sono dele é sempre agitado assim? ― Isaac questionou, apontando com a cabeça para Ezequiel. Na cama, ele derrubava um dos cobertores no chão.

A bruxa estava prestes a se levantar, quando, vendo os movimentos dela, o irmão mais velho adiantou-se, indo até a cama e devolvendo o cobertor para onde pertencia.

― Na maioria das vezes. Mesmo quando ele não está tendo pesadelos, é difícil quando tem um sono tranquilo.

Isaac sentou-se no divã ao lado dela, retirando o livro que ocupava o assento antes de fazê-lo. Passou os olhos sobre o título e deixou-o sobre o colo. Irina tomou um gole d’água e começou a comer. A vela continuava na mão de Isaac.

Os dois ficaram em silêncio, apenas observando o irmão mais novo revirar-se novamente.


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