O Homem que Perdeu a Alma escrita por Willow Oak Acanthus


Capítulo 1
Prólogo - Devo enterrar o passado, antes que ele me enterre.


Notas iniciais do capítulo

AVISOS IMPORTANTES, LEIA ANTES DE COMEÇAR A FIC:
Essa fic é a continuação da fic "A garota que ficou para trás", mas não é "obrigatório" ler ela antes dessa, ou seja, vou tentar deixar o passado dos personagens explicado aqui, mas é claro que se você ler a prequel dela antes de começar essa sua imersão vai ser muuuito melhor. Mas fica a seu critério ♥

Leia isso caso não tenha lido (e não pretenda ler) a Prequel: Resumo da fic "A garota que ficou para trás" para que você não fique perdido(a):
Nossa personagem principal, “Hazel Laverne” nasceu no bronx, NY. Ela é filha de Amélie Laverne e Harvey Talbot, um casal extremamente problemático envolvido no cenário musical e midiático. Embora tenha vivido seus primeiros cinco anos ali em Nova York, Hazel foi levada para a California, em Los Angeles, junto dos pais que passaram a morar em um conjunto de trailers, onde havia uma seita em funcionamento, chamada de “A família universal”. Durante seus três anos lá, Hazel passa por coisas obscuras, mas...aos oito anos, quando eles deixam a seita para trás, a garota não consegue se lembrar do seu tempo lá. Para onde foram suas memórias dos cinco aos oito anos?
Por que ela não se lembra de nada? E por que ela parece sentir falta de...alguém?
Sendo filha de um casal famoso por uma banda chamada “The Church” a menina vive pelos Estados Unidos, de cidade em cidade, sofrendo com o assédio da mídia e o vício em drogas dos pais, e a instabilidade emocional e violência do pai. Até que um dia, depois da falência da banda, eles se estabelecem em Lawrence, Kansas, onde a menina acredita que viverá um pouco de normalidade.
Uma casa fixa, uma escola, e uma rotina. São três coisas que ela sempre sonhou.
O que não estava em seus planos é que seu pai, Harvey, que sempre foi agressivo e abusivo, piorasse consideravelmente em Lawrence graças a suas frustrações. Enquanto tenta sobreviver a isso, a garota chega ao seu limite e tenta colocar um fim em sua vida.
O que ela não esperava é que o garoto da casa da frente, Sam Winchester, teria uma premonição com a sua tentativa de suicídio e a salvaria, arriscando a própria vida em um acidente de carro que deixa os dois gravemente feridos, mas muda o curso dos acontecimentos, impedindo Hazel de morrer. Como a família está acostumada a stalkers (graças a sua fama do passado) o seu pai alega que Sam era na verdade um perseguidor de sua filha que causou o acidente graças a estar a perseguindo.
Hazel defende o garoto no tribunal, porque o conhecia de vista da escola e sente uma estranha conexão com o garoto, e embora isso o inocente, seu pai deixa algo bem claro ao garoto:
—Fique longe da minha filha.
E embora Hazel e Sam tentem manter distância, a conexão inexplicável entre os dois é mais forte, e após uma proximidade maior criada pelos dois durante o cumprimento de uma detenção, a amizade deles se aprofunda e evolui para algo mais intenso, e Sam fica extremamente protetor dela ao descobrir que o pai a espanca e a maltrata.
Enquanto Sam se aprofunda na vida de Hazel, o contrário também acontece. Após um incidente sobrenatural entre os dois, não há mais segredos entre eles. Ela sabe sobre “o negócio de família” e Sam Winchester fará de tudo para protegê-la.
Por um tempo, o relacionamento deles permanece em segredo para a proteção da garota, mas isso devora Sam Winchester vivo. Vemos o crescimento deles enquanto casal, as relações familiares dos Winchester também são aprofundadas, e acompanhamos o romance proibido dos dois até que algo terrível acontece: Harvey descobre sobre o relacionamento secreto deles, e espanca Hazel ao ponto de desacordar a garota.
Quando Sam tenta salvá-la, Harvey quase enfia uma bala na cabeça do garoto.
Por sorte ou destino, John Winchester consegue impedir Harvey de matar Sam, e coloca Harvey Talbot na cadeia. As notícias se espalham pelo país, já que Harvey, Amélie e Hazel são figuras “publicas”, mas as coisas se acalmam muito a partir daí.
Tudo poderia ter ficado bem. Sam nunca havia amado ninguém como amava Hazel, e estava em seus planos ir para a faculdade com a garota e largar o negócio de família para sempre.
Se não fosse por Azazel.
Em uma noite que mudaria tudo em outubro de 2000, Harvey Talbot é liberado da cadeia após meses, e volta diferente para casa. Possuído por um demônio, ele esfaqueia Amélie na frente de Hazel e antes que ele também mate a filha, um demônio de olhos amarelos aparece na casa, impedindo isso de acontecer, e inicia um incêndio na casa com Hazel dentro dela.
Azazel queria matar Hazel com as próprias mãos para atingir Sam Winchester? Ou existem mais coisas por trás disso, que Sam e Hazel sequer sonham em saber?
Sam, que vê a casa da namorada que tanto ama em chamas, faz de tudo para salvá-la, e realmente consegue isso. Mas a garota não escapa ilesa, e queimaduras pelo seu braço esquerdo serão para sempre uma lembrança amarga. Enquanto chama por ajuda, Sam Winchester pode ver Azazel sorrindo por dentro da casa, como um aviso. E a culpa o consome.
Enquanto Hazel está em coma, o garoto passa pelo pior momento de sua vida. A avó dela, Antonella Laverne, sua nova responsável legal, impede Sam de entrar no hospital e de visitar Hazel, mas ele não desiste.
Não até que Antonella lhe conta uma mentira que custaria tudo.
Acreditando nas mentiras de Antonella, Sam não vê saída a não ser deixar a garota em paz, acreditando que a vida dela seria normal e feliz sem ele. Acreditando que Hazel pediu por isso. Sam, devastado e com o coração partido, se afasta de tudo e de todos, indo embora sozinho para Stanford. Nunca esquecendo do seu verdadeiro amor, que quase foi morta por sua culpa.
Antonella também envenena Hazel com mentiras, até que a menina acredite ser “A garota que ficou para trás”, cujo namorado nunca foi sequer terminar com ela pessoalmente, apenas desapareceu, como todos em sua vida fizeram. Nutrindo um ódio do garoto para sobreviver, Hazel tenta seguir em frente como pode.
Mas... como é que se sobrevive após ver demônios com seus próprios olhos? Sua lucidez é colocada em jogo, e por mais de um ano, ela vive em um hospital psiquiátrico, onde recebe diagnósticos mentirosos e acredita na própria loucura. No caminho, ela perde coisas que a abalariam para sempre.
Hazel decide seguir com sua vida, estudando na NYU assim que consegue sair do hospital, dando sua vida em um estágio importante e tentando seguir em frente. Mas existem fantasmas em seu passado que não a deixam em paz.
O que realmente aconteceu durante aqueles três anos de sua infância onde tudo é um borrão? A seita é responsável pela instabilidade emocional dos seus pais? Foi isso o que os destruiu? Como uma boa futura jornalista, Hazel decide cavar o seu passado.
Seria isso um erro? Agora, se passaram quatro anos, quase cinco, da morte dos seus pais e da última vez que viu Sam Winchester.
Demônios não são reais, nada do que Sam Winchester lhe contou sobre o sobrenatural é real. Eram apenas dois jovens traumatizados e psicóticos...certo?!
Certo?!
É o que iremos descobrir, junto com Hazel, em “O homem que perdeu a alma”
Ela jamais entregaria seu coração para Sam Winchester de novo, disso ela tem certeza.
Até descobrir toda a verdade. Isso muda consideravelmente as coisas. Sem seu ódio por ele, ela pode resistir?
O passado e o presente irão se chocar. A eclosão resultará no futuro.
Se eles sobreviveram a tudo no meio do caminho, é claro.

Em “O homem que perdeu a alma” começamos a história em outubro de 2004, e agora Hazel tem 21 anos e sua vida irá cruzar com os Winchester de uma maneira trágica.
Boa leitura e bem vindos a essa jornada, que será longa e tecida com muito amor e esforço ♥
PS: Só para o caso de curiosidade, eu sempre faço um "cast" com atores na minha cabeça para cada personagem, já que não dá para "criar um rosto do zero". Eu imagino a Hazel (fisicamente) como a atriz Mackenzie Foy. Boa leitura!


IMPORTANTE: Gente, eu coloquei +16 lá na classificação porque simplesmente parece que o site esconde a fic quando a gente põe +18, quase ninguém consegue achar, mesmo sendo maior de 18. Acho que é porque o Nyah é um site com uma mecânica mais antiga e nem todo mundo sabe ativar o +18 na própria conta, aí não aparece. MAS a história é +18, então pfvr só leia se for maior de 18 anos. Se tiver menos, dá meia volta. Não é uma história para adolescente, tem muita violência e tem cena de sexo também. É isso. Obrigada.



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2004, NY – HAZEL LAVERNE.

OUTUBRO.

 Visto o casaco marrom e me aninho dentro dele, tentando me proteger da lufada de ar frio que irei enfrentar lá fora. Checo mais de uma vez se meus livros estão dentro da bolsa transversal e se o carregador do notebook está no compartimento extra. Enquanto reviso se tenho tudo comigo, vejo no fundo da bolsa a pasta azul que contém páginas e páginas do que pode ser o maior projeto da minha vida.

Se eu tiver coragem de ir adiante com isso, é claro.

Escondo minhas mãos dentro das luvas, como faço todos os dias. Assim não toco em ninguém, nem por acidente. Assim, não sinto nada que não seja meu.

—Não vai tomar o café da manhã? – Resmunga Antonella Laverne por detrás dos óculos dourados, seus olhos verdes e frios me examinando.

Minha avó é uma das piores pessoas do mundo. Ela faz com que eu queira enfiar a mão em um liquidificador ligado toda vez que conversamos, mas é a única família que me restou.

Depois de tudo.

—Eu combinei de me encontrar com o Sr. Hudson em uma cafeteria. – Ela rola os olhos, como eu sabia que faria.

—Você anda passando tempo demais com ele. Tome cuidado para as pessoas não assumirem coisas que não deveriam.  Você sabe como as pessoas são...especialmente nessa época do ano. – Suspiro impaciente, mas tento me manter calma diante dela.

Eu gostaria de esquecer algumas coisas. Gostaria de me esquecer de tudo o que aconteceu em outubro de 2000, mas tanto minha avó, como a mídia, não permitem.

Nem minhas cicatrizes e as queimaduras horrorosas no meu braço esquerdo.

—É uma relação estritamente profissional. Quanto aos outros, você sabe muito melhor que qualquer pessoa na terra que falarão absurdos de qualquer maneira. – Tento ser o mais fria que consigo no que digo, porque é a verdade. O assédio da mídia nunca parou, nem nunca vai parar. – Eu vou chegar tarde, tenho aulas extras na NYU hoje, não me espere acordada.

Antes que ela encontre margem no silêncio para dizer mais alguma coisa, pego as minhas chaves e vou em direção a porta de madeira imensa demais para o meu gosto. Tudo nessa casa é grande demais, frio demais e luxuoso demais. Assim como o coração da minha avó, penso assim que passo pelo portal e cumprimento a governanta, Margareth, que está regando algumas orquídeas, mesmo que o céu esteja carregado de nuvens cinzas e pesadas.

Afinal...ela sabe muito bem que Antonella Laverne gosta de tudo perfeito, mesmo que isso signifique afogar as plantas.

Ou as pessoas.

XXX

Sr. Hudson é um velho levemente corpulento de uns setenta anos. Ele usa uma boina cinza e antiquada, e fuma cigarros mentolados quando ninguém está olhando. Ele é silencioso e não sabe se expressar muito bem, e é meu supervisor de estágio no New York Post, onde sou colunista.

—Você está atrasada. – Ele diz isso com um relógio de pulso mais velho que minha avó em mãos, enquanto me recrimina com o olhar – Vocês italianos não sabem ver as horas? Não conseguem chegar no horário?

Sorrio para ele enquanto ergo a mão para chamar o garçom para a nossa mesa e me sento de frente para o velho resmungão.

Metade italiana, portanto, consigo chegar meio que na hora, meio que atrasada. – Sr. Hudson balança a cabeça em desaprovação e coloca seu notebook na mesa, e eu faço o mesmo. Pigarreio e dou um longo suspiro – E então? Por onde iremos começar?

—Primeiro o café, depois os negócios, Laverne. – A voz dele é rouca ao dizer isso. O garçom chega para anotar os pedidos, e como um bom britânico, Sr. Hudson fala rápido demais – Quero um chá com leite e biscoitos, com uma porção de feijão e salsichas.

O garçom se prepara para dizer que não há essa opção no menu, mas é bruscamente interrompido:

—Dê um jeito, rapaz! Ou dedico a primeira página do jornal para fechar essa espelunca! – O queixo do moço cai ao ouvir tamanha grosseria, mas então ele percebe o crachá do New York Post no peito do Sr. Hudson. Ele anota o pedido com as mãos trêmulas e então se vira para mim.

—Eu gostaria de um chá preto, por gentileza. – Murmuro com os lábios “desculpe pelo velhote” sem usar a minha voz, e ele apenas assente e se retira. Recrimino o homem em minha frente com o olhar – Será que é possível ser gentil com as pessoas!? Sabe, Sr. Hudson...eu gostaria muito de tomar o meu café da manhã sem cuspe hoje!

—E eu gostaria de não ter imigrado para esse país há sessenta anos, mas o mundo não é perfeito, não é mesmo? Agora, silêncio, menina. Eu só converso depois do café da manhã.

XXX

Passamos mais de uma hora decidindo a pauta das colunas da semana, e no que diz respeito ao trabalho, tenho muito a aprender com este homem. Foi uma honra quando me ofereceram a vaga em um jornal tão grande, mas quando eu soube que trabalharia diretamente com um jornalista que eu tanto admirava, soube imediatamente que daria tudo de mim para fazer o melhor trabalho do mundo.

Na verdade, eu só sei fazer as coisas dessa maneira. Desde que entrei para a faculdade de jornalismo e decidi que o foco da minha pesquisa e carreira seria o jornalismo criminal, fiz de tudo para me manter sempre com as melhores pesquisas e notas. Em pouco mais de um ano de curso, no ano passado, consegui o estágio. Trabalho no NY Post há mais de um ano agora. Enquanto estamos concentrados no trabalho, vejo pelos cantos dos olhos o noticiário na TV, falando sobre o fim das catástrofes como gados morrendo em massa, temporais incomuns e pessoas morrendo por motivos bizarros. No ano passado, isso perdurou por meses...

Foi muito estranho como tudo simplesmente parou de acontecer. Não gosto de pensar sobre as coisas de maneira obsessiva, mas não posso controlar. Depois de tudo o que eu vi...

Não. Tudo o que eu acho que vi.

Chacoalho a cabeça para afastar meus pensamentos e tento me lembrar se tomei meus remédios pela manhã, e me recordo que sim. Duas pílulas brancas e redondinhas todos os dias, as seis horas...religiosamente.

É impossível deixar o passado para trás quando ele te assombra todas as noites. É com esse pensamento em mente que tomo coragem de dizer:

—Sabe, eu gostaria de lhe pedir um favor...- Ele ergue os olhos muito azuis e cansados das suas anotações e me examina. Embora seja uma pessoa difícil e malcriada, Elliot Hudson não é uma pessoa ruim. Muito pelo contrário.

É uma das poucas pessoas boas que eu conheço.

—Ora, se for algo da minha alçada...- Assinto e finjo não estar nervosa ou ansiosa, mas a verdade é que minhas mãos estão suando por dentro das luvas enquanto busco a minha pasta dentro da bolsa e lhe entrego, com expectativa no olhar.

—Isso começou com uma pesquisa, e então eu elaborei um artigo, mas...as palavras cresceram e eu não consigo parar. Acabei me empolgando com as pesquisas e acho que poderia, bom...talvez...- Minha voz morre antes de completar a frase, já que não tenho coragem de dizer o que quero dizer, mas ele sabe.

Ele sempre sabe.

—Já mostrou esse material para alguém? – Questiona, o vinco surgindo entre seus olhos. Faço que não, e ele passa a folhear as páginas impressas em suas mãos – O objetivo final é um livro?

—Poderia ser. – Me encolho um pouco. A verdade é que não tenho certeza do que exatamente eu gostaria que fosse. Sr. Hudson folheia tudo em silêncio, e eu começo a ficar mais tensa, e mordisco a pele dos lábios até sentir o gosto de ferro.

—Você acha que seria como um desfecho, menina? – Ele me olha nos olhos, uma preocupação genuína em sua expressão. Sustento seu olhar com a minha incerteza.

Talvez seja isso que eu esteja buscando. Talvez por isso as palavras estejam sangrando com facilidade pelas pontas dos meus dedos. Eu gostaria de um desfecho para seguir em frente.

Ele sabe que a natureza da pesquisa não é meramente profissional. Elliot Hudson cobriu o caso de outubro de 2000, e sabe da minha história. Da história dos meus pais, ou ao menos, parte dela. Ele foi o único jornalista que tratou o caso com seriedade, e não com sensacionalismo.

Mesmo que nunca tenha visto minhas cicatrizes e queimaduras, sabe muito bem dos danos causados pelo dia da morte dos meus pais.

—Acho que eu preciso disso. Eu não quero mentir para o senhor, eu não durmo direito durante a maioria das noites pensando em quantas pessoas saíram impunes do “Família universal”. Eu nem sei se eu procuro justiça, porque não acho que exista alguma... – Acabo ficando com os olhos levemente marejados, mas me recomponho depressa – Eu só quero algumas respostas.

Sr. Hudson suspira por um momento, retira os óculos do rosto e esfrega a sua face. Ele faz isso quando pensa em coisas que são importantes para ele. Fico feliz por ser relevante na vida de alguém.

—Eu tenho duas coisas muito importantes para dizer e espero que ouça com cuidado, eu odeio aconselhar as pessoas. É inútil na maioria das vezes, mas você vale a tentativa, então vamos lá: Acho que querer fazer alguma coisa já é o suficiente para fazê-la. Você não precisa justificar seus motivos. – Ele faz uma breve pausa e então continua – Você muito provavelmente não vai gostar ou se saciar com as respostas que encontrar. Vá adiante mesmo assim, pois aí está o cerne da nossa profissão.

Assinto, pensativa. Ele prossegue:

—Eu vou ler o seu trabalho quando estiver pronto. Isso aqui é um caos, por ora. – Ele me devolve a pasta e eu finjo não ficar ofendida, mas ele ri ao perceber minha expressão – Escrever é um ato narcisista, mas não deixe o seu ego dominar sua obsessão por um trabalho bem-feito. Sei do seu potencial, não faça nada menos do que eu sei que você é capaz.

—Sim, senhor. – Afirmo, guardando o meu trabalho – Não desperdiçaria o seu precioso tempo com um trabalho ruim.

—Ah, quem dera todos pensassem assim... - As vezes eu não sei se o Sr. Hudson não entende ironia ou finge não a entender, e isso torna sua presença cativante. E eu não gosto de ficar perto da maioria das pessoas, mas gosto da companhia ranzinza dele.

Com tudo o que ele me disse, decido que vou seguir a diante. Eu vou desmascarar cada filha da puta que fez parte da seita ao qual eu cresci.

A seita que destruiu a cabeça dos meus pais.

XXX

Uma das coisas que eu mais amo sobre a NYU é o tamanho do campus. Sou uma apreciadora de espaços gigantescos e caóticos onde todo mundo está correndo contra o tempo. Espaços assim criam possibilidades.

Espaços assim, não prestam atenção em mim.

Já compareci as duas aulas que deveria hoje, e mesmo assim não volto para casa. As vezes, pego o metrô que leva mais tempo, para chegar em casa o mais tarde possível. Em dias onde a chuva ameaça os céus como hoje, enrolo mais ainda, porque então posso usar isso de desculpa para dormir no dormitório da minha amiga, Charlie Bradbury. Ignoro as treze ligações perdidas da minha avó e vou para dentro do Hall do campus quando as gotas começam a cair, como cera de vela caindo do céu.

Mesmo com tudo de horrível que minha avó me fez, não consigo evitar e sinto uma pontada de culpa ao simplesmente ignorá-la, então mando uma mensagem de texto:

Está caindo o mundo, impossível sair daqui. Vou dormir na Charlie”.

Não demoram sequer dois segundos e meu celular vibra:

Não gosto daquela menina. Ela não é uma boa influência para você. Pegue um táxi e venha para casa!”

Não respondo. Fico possessa por saber os motivos pelos quais minha avó não gosta de Charlie. Ela não gosta de nada, nem de ninguém, que não seja perfeitamente “normal” dentro da sua visão deturpada. Disco o número de Charlie e espero até ouvir sua voz esganiçada do outro lado da linha:

—E aí, Laverne? – Dou um sorriso imediato. Charlie é, muito provavelmente, minha única amiga.

—Tudo bem se eu dormir aí hoje, Chars? Vou incomodar a Sara?

Nãooo vaaaai! — É a voz de Sara no fundo, e ao que parece, estou no viva voz. – Viu só? A Sara te adora! Sério, Hazel, vem. Vamos pedir pizza! – Dou uma risada quando ouço Sara gritar ao fundo “Peperoooniiii!”.

De todas as namoradas que Charlie já teve, Sara é a única que gosta de mim.

—Tá bom. Valeu, de verdade. Eu vou terminar uma pesquisa na biblioteca e chego aí em torno de uma hora.

Desligo e fico com o coração aquecido por saber que tenho para onde ir. A maioria das pessoas não entendem o tamanho da importância de se ter um lugar para deitar sua cabeça a noite onde você se sinta bem-vinda. Enquanto entro na biblioteca gigantesca, vou revirando a galeria do celular para encontrar a foto de alguns arquivos relacionados a minha pesquisa. Pouco depois de me sentar na mesa de mogno, ainda revirando os arquivos para saber por onde começar a me organizar, acabo esbarrando em uma foto.

A dor ainda está aqui. Bem no centro do meu peito.

Faz pouco mais de quatro anos desde que a foto foi tirada, e eu nunca tive coragem de apagá-la. Vez ou outra, como consequência, acabo esbarrando nela. E sempre que acontece, fico com as mãos trêmulas, parada e com um misto de ressentimento e carinho.

O ressentimento cresce, dando pouco espaço para o carinho.

A foto é do dia em que Sam Winchester e eu fomos para o baile da escola. Na imagem, estamos parados em frente ao Impala 67 de seu pai, John Winchester. Meu vestido era de um azul muito escuro, e a gravata de Sam estava torta porque ele ainda não sabia arrumar um nó de gravata da maneira correta. Ele está segurando a minha cintura, e eu estou olhando para a câmera, com um sorriso gigante.

Ele está olhando para mim, enquanto sorri.

Tantas coisas importantes para mim aconteceram naquela noite. Acho que por essa razão, de todas as fotos, essa foi a única que não tive coragem de apagar.

Tantas coisas....

Fecho os olhos e fecho o celular. Fecho tudo dentro de mim e mordo os lábios com força, até sangrarem. Isso me faz voltar para a realidade.

Eu não deveria estar presa ao passado. Ele foi o meu primeiro amor, ele foi o meu primeiro amigo e então meu primeiro namorado, a primeira pessoa que olhou para mim verdadeiramente. Foi o primeiro a me proteger das atrocidades que eu sofria na mão do meu pai, quase sendo morto por isso. Mas as pessoas seguem em frente. Sam deveria ser uma memória doce, se não tivesse acabado da forma como acabou.

Se eu não tivesse sido a garota que ficou para trás.

Muitas pessoas me deixaram nessa vida. E uma parte de mim morreu com cada uma delas. Aos poucos, você vai se remendando, igual uma colcha de retalhos velha e mal costurada.

Mas de todas as pessoas, ele foi a pessoa cujo a ausência queimou por mais tempo.

Queima até hoje.

XXX

Organizar o caos da escrita é uma das tarefas mais dolorosas para mim. Sr. Hudson tinha razão, minha pesquisa está mal organizada. Preciso traçar os objetivos.

Primeiro, é necessário encontrar os contatos dos sobreviventes da seita, assim como eu. Preciso conseguir o máximo de relatos que puder. Preciso partir daí.

Mas há um grande desafio. Eu não tenho quase nenhuma memória dos anos em que vivemos no “Família universal”. É uma lacuna em branco, como se eu tivesse perdido parte de mim, da minha memória. Não consigo me lembrar de nomes, rostos...ou qualquer coisa que seja. A única coisa que ficou comigo, como um souvenir daqueles anos sombrios, foram os sentimentos de pavor e vazio que se entranharam tão fundo em mim, que criaram raízes profundas. E claro... a falta de sanidade dos meus pais, que aos poucos, se perderam enquanto pessoas. Essa pesquisa será quase impossível de se realizar.

Quase.

Com os depoimentos, descobrirei nomes. E com os nomes, poderei reunir tudo o que preciso para ter coragem de agendar uma entrevista com George White, na penitenciária onde ele apodrece até os dias atuais, em New Orleans.

Só de lembrar da sonoridade do seu nome na minha mente, minhas mãos começam a suar.

Não. Não devo pensar nele agora. Embora não me lembre de seu rosto, me lembro da sensação de estar em sua presença. O vazio, o escuro e o frio.

Quanto de mim devo colocar na pesquisa? Meu depoimento de sobrevivente importa? Todos sabem a minha história pelas notícias, pela ótica midiática que sempre assolou a minha família. A febre, a insolação hollywoodiana. Mas eu queria contá-la sob a ótica verdadeira. Embora eu não consiga relatar o que aconteceu durante os anos que vivemos naquele complexo de trailers macabro, posso relatar tudo o que aconteceu depois que deixamos Los Angeles, nos estabelecendo, não tantos anos depois, em Lawrence.

Disso eu me lembro muito bem. Das sequelas da California.

Meu pai nunca foi um cara centrado, nem mesmo um pai normal. Mas depois de Los Angeles, depois de George White...

Era quase como se fosse outra pessoa.

Passo os próximos minutos escrevendo e rasgando meus rascunhos, irritada por não sair do lugar. Vejo estudantes indo e vindo, a biblioteca vai se esvaziando conforme a chuva aumenta lá do lado de fora. Sobramos apenas eu, a bibliotecária que sai vez ou outra do seu posto, e um cara que eu nunca vi por aqui. Ele fica compenetrado na sua leitura, e veste um sobretudo na cor creme.

Ele está na sessão de teologia.

Acabo desistindo de trabalhar na pesquisa por hoje, o cérebro fervendo e borbulhando em uma enxaqueca é o martelo final para essa decisão, por essa noite. Decido me levantar para esticar as pernas, e vou até a janela que possui um vitral para observar a chuva.

Sempre amei vitrais e se pudesse, teria um na janela do meu quarto. Gosto da ideia do vidro quebrado formando imagens, como um caleidoscópio. Tento me perder nas suas cores, ignorando que a data de morte dos meus pais se aproxima.

Ignorando que, muito em breve, os canais de música irão passar diversas homenagens aos meus pais e sua banda, e que imagens de mim quando criança irão circular, e que as pessoas vão voltar a especular de maneira doentia sobre o que aconteceu naquela noite.

Finjo que a data em que eu sobrevivi ao incêndio não se aproxima. Decido retirar as luvas, com o pensamento de que não há perigo nisso, já que estou sozinha nesse momento. Passo a ponta dos dedos por debaixo do casaco, sentindo as elevações elásticas da pele do meu braço esquerdo.

Faz pouco mais de quatro anos que não olho meu corpo no espelho por mais de cinco segundos. E são raras as ocasiões onde tenho coragem para tocar a pele do braço dessa maneira.

Fecho os olhos por um momento, fingindo que não dói. Fingindo que toda essa pesquisa não está mexendo com a minha mente perturbada.

Fico em silêncio, torcendo para a minha cabeça se silenciar também.

—Eu não consigo decidir se gosto da chuva ou não...– A voz masculina me faz sobressaltar. Olho para o homem parado ao meu lado e me pergunto como ele chegou ali tão rápido, sem que eu conseguisse ouvir sequer o barulho dos seus passos. Ele percebe minha expressão e se apressa a dizer – Me desculpe, não quis te assustar.

—Não, tudo bem... – Minto, recolocando a luva na mão e dando um passinho para o lado.

—Você gosta? – Ele me encara com seus olhos azuis claros, cenho franzido como se questionasse tudo ao seu redor. Sua voz é doce, mas algo nele me diz que ele não é um estudante da NYU. Aliás, tudo sobre esse homem é... estranho, como se viesse de muito, muito longe daqui.

—Gosto, especialmente de tempestades, como a que está se formando. Está trabalhando em alguma tese? – Especulo, semicerrando os olhos. Cruzo os braços e o observo.

—Não. Eu só estava lendo...- Ele dá de ombros, e volta a encarar o vitral. O homem solta um suspiro lento, pensativo. Olho para trás e não vejo a bibliotecária, e ao perceber que estou sozinha com um estranho, isso me dá um frio na barriga.

—Entendi. Bom, eu tenho que ir, então...boa leitura para você! – Digo isso sem sequer hesitar. Isso está ficando estranho demais para mim. Vou em direção as minhas coisas e as guardo na bolsa, mas quando me viro, quase dou de cara com o homem, parado a poucos centímetros de mim – Ei! Qual o seu problema?! - Minha voz sai esganiçada. Não gosto que invadam meu espaço pessoal.

—Eu gostaria de conversar com você, Hazel Laverne... – Seu olhar é penetrante, e a forma como sua voz é suave faz com que eu sinta ainda mais medo dele. Cambaleio para trás, imaginando as mil possibilidades para esse cara esquisito estar me rodeando, e saber o meu nome.

Não são raras as vezes onde algum fanático pela banda dos meus pais e pelo caso de horror que se tornou o fim deles aparece querendo falar comigo sobre a morte misteriosa dos meus pais, como abutres. Eu sou uma subcelebridade dentro do meio das lendas urbanas do cenário do rock. Isso não foi escolha minha e é exaustivo para caralho.

—Você está trabalhando para ele, Hazel? – O homem pergunta, me dando arrepios por todo o corpo. Ao que ele está se referindo? Seus olhos cor de angelita semicerrados para mim, pairando entre a análise e a acusação.

—Se você der mais um passo eu vou chamar a porra da segurança do campus, me ouviu? – Me afasto ainda mais, a mochila pendurada no ombro, já abrindo o celular e me preparando para ligar para Charlie, mas então esbarro com outro homem.

Ele é corpulento, e seus olhos castanhos me fitam. Ele traja um terno, e eu acabo suspirando de alívio. Se está trajando um terno, só pode ser alguém importante do campus.

—O senhor faz parte da segurança do campus? – Questiono, olhando dele para o homem de olhos azuis. Imediatamente, ele ri. É uma risada seca, contida. Ele e o homem de sobretudo se encaram.

—Vocês humanos tem um jeito engraçado de confundir as coisas. – A voz do homem é grave e faz a minha espinha gelar. Ele tira os olhos de mim e fita o homem de sobretudo com ira nos olhos – Você disse que cuidaria dissoCastiel.

—E eu vou, do meu jeito. Você não devia te vindo até aqui, Raphael! – Meu coração acelera. O que está acontecendo?

Uma sensação gelada me invade, o manto do medo me cobre. Os dois se conhecem, e eles não me parecem ser pessoas normais. Não consigo raciocinar direito, e sei que não é a coisa mais inteligente do mundo, mas eu corro em direção a porta.

Com um gesto suave de mão no ar, Raphael faz com que a porta se feche, bem diante de mim.

Como...?

Estou parada ao lado do balcão da bibliotecária, e corro para me esconder ali. Preciso achar algo pontiagudo....

Começo a tremer e tento enviar um SMS para Charlie, pedindo por socorro, mas quando apoio as mãos em algo gosmento no chão, sinto o ar me abandonando.

 Sra. Galway, a bibliotecária, jaz morta no chão de linóleo ao meu lado. Seus olhos vidrados no teto, a garganta brutalmente cortada. Percebo que me apoiei em seu sangue quente, ainda jorrando do seu corpo rígido. Dou um grito de pavor, e não consigo fazer mais nada.

É isso. É o meu fim. Meu miserável fim.

—Não toque nela! – Identifico ser a voz de Castiel, e então vejo o homem de terno ser arremessado na parede de mármore, rachando boa parte da estrutura.

Isso não é real, isso não é real, isso não é real...

Assim que cai no chão, tenho certeza de que Raphael está morto. Mas então ele ergue o rosto, impassível, sem expressão alguma. Se levanta como se não lhe tomasse nenhum esforço. Nosso olhar se cruza, e ele estende a mão na minha direção, com ira lhe queimando os olhos.

Sem nenhuma explicação lógica, começo a sentir uma dor descomunal dentro da minha cabeça. Como se, de alguma forma, o homem fosse capaz de causar isso em mim, sem nem me tocar. Começo a gritar de dor, e tudo fica embaçado. Vejo os vultos de Castiel e Raphael se enfrentando, e um brilho começa a surgir. O que vejo de relance, reluzindo no mármore...são asas?

Não. De novo não. Não pode ser....

Enquanto a dor me consome, vou me contorcendo e minha mente me leva de volta para o hospital psiquiátrico onde passei um ano internada, logo depois do acidente. Tento me lembrar das sessões com o meu médico.

Você sofre de estresse pós-traumático. Sua cabeça formula uma realidade paralela onde demônios e monstros são reais. É mais fácil do que aceitar que seu pai esfaqueou a sua mãe na sua frente, e que depois disso colocou fogo na casa com vocês dois dentro dela. É mais fácil que o céu e o inferno sejam reais, do que admitir que você foi vítima de um pai violento e uma mãe irresponsável. É mais fácil para você acreditar nas maluquices que seu ex-namorado lhe contou, sobre monstros e coisas sobrenaturais, do que aceitar que ele era um garoto problemático que te abandonou. A mente é poderosa, Hazel Laverne, e tem um jeito de manipular a verdade quando as coisas se tornam intoleráveis”

Fico repetindo isso em minha mente, como um mantra. Não sei se finalmente sucumbi a loucura. Não sei se a pesquisa, se a busca por respostas foram o gatilho para tudo isso.

Isso não é real, isso não é real...

Começo a perder o controle do meu corpo, e meus olhos se viram. Sei disso porque tudo fica escuro, mas não estou de olhos fechados. Não consigo fechá-los. Uma espuma ácida começa a jorrar da minha boca, enquanto eu trinco os dentes involuntariamente. Todos os ossos do meu corpo doem, e sei que estou me debatendo.

Lágrimas quentes queimam em mim, e eu não consigo formular pensamentos lineares.

Meu corpo quer desistir, mas meu coração disparado sabe o que quer. Não quer morrer sozinho, não assim, não agora. Não dessa maneira.

Escapei da morte duas vezes, antes. Na primeira vez, um garoto em um Impala 67 impediu meu suicídio. Na outra, esse mesmo garoto me tirou do meio das chamas, e nunca mais o vi.

Não acho que eu possa escapar uma terceira vez.

A última coisa de que tenho consciência, é que ouço um barulho forte de desabamento, e tudo fica escuro.

XXX

Tubos de plástico e agulhas saem de mim como raízes de uma árvore. Respiro por meio de uma cânula nasal, e isso faz com que eu sinta que meus pulmões estão debaixo da água.

Tento abrir os olhos com dificuldade, tudo embaçado em minha frente, e em minha memória.

Eu estou...viva.

Aperto os olhos e com toda a força do meu corpo, tento mantê-los abertos. Vejo que estou com uma camisola de hospital que expõem meu braço, e que estou sem as minhas luvas e começo a me desesperar.

—Ei, ei! Calma! – Os cabelos ruivos e a voz gentil denunciam que Charlie está diante de mim, e me sinto tão feliz em vê-la que lágrimas brotam dos meus olhos – Se acalme! Veja, eu vou cobrir você!

Eu não preciso nem dizer nada a ela. Ela sabe. Chars e eu temos essa conexão maluca onde há uma linguagem secreta, não dita, entre nós. Ela me cobre com cuidado com o cobertor áspero do hospital, e eu começo a me acalmar.

—Do que você se lembra? – Ela questiona. Permaneço em silêncio, sem saber o que pensar. O que dizer.

Eu alucinei tudo aquilo? Isso aqui é um hospital psiquiátrico?

—O-onde eu estou? – Consigo dizer com dificuldade, me livrando da cânula nasal.

—É o hospital do campus... – Charlie dá um longo suspiro antes de continuar, me deixando nervosa - Hazel, você sobreviveu por um milagre... – Os olhos da minha amiga estão cobertos por olheiras profundas, o que indica que ela passou a madrugada acordada por minha causa. – A biblioteca desabou graças a tempestade...só você sobreviveu.

Me lembro da Sra. Galway, sem vida alguma, o corpo ao meu lado. Então se isso foi real...

—Encontraram os corpos? Quer dizer...mais alguém...? – Olho no fundo dos seus olhos, com a esperança de que ela confirme que haviam dois homens no local. Que ela confirme que, no fim das contas, eu não estou louca.

—Só o corpo da Sra. Galway... vocês eram as únicas que estavam lá, Hazel. – Seu olhar é pesaroso. Fecho os meus olhos, concluindo.

Eu enlouqueci. Eu alucinei, de novo.

Eis o que aconteceu: Estava chovendo, eu cavei fundo demais o meu passado...esse foi o gatilho principal. A enxaqueca anunciou a convulsão, mas eu não prestei atenção alguma nos sinais que o meu corpo me deu. O desabamento aconteceu, e o trauma me fez alucinar com seres sobrenaturais.

Alucinar é mais fácil que encarar catástrofes reais.

Mas a Sra. Galway estava morta antes do desabamento...

Não. Hazel, pare. Pare.

—Vou chamar o médico e dizer a ele que você acordou. – Ela diz isso se afastando, percebendo meu silêncio e minha confusão mental.

Fico sozinha, a minha mente me castigando, o mundo ao meu redor não fazendo sentido algum.

Acho que eu deveria procurar ajuda profissional de novo.

Acho que eu deveria desistir do livro.

Acho que eu devo enterrar o passado.

Antes que ele me enterre.


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Notas finais do capítulo

Hunters, importante que se diga:
A seita mencionada pela Hazel é real. Mas eu usei um nome diferente para seu líder e também alterei o nome da seita um pouquinho, tendo em vista que ele fez mal para muita gente, então não quis dar palco para esse psicopata. Criei um personagem fictício em seu lugar, dentre outras coisas.
Eu sei que início de história é confuso. Que história é essa de seita, incêndio, alucinação ou realidade? Prometo que tudo vai se explicar. Tenham paciência e venham comigo nessa jornada.
PS: Logo logo ela vai cruzar com os Winchesters e o bicho vai pegar. Aguardem.
Não se esqueça: Os comentários são o pagamento de todo fanfiqueiro.
Até semana que vem, Hunters!



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