Quando Arrietty era pequena, sempre o procurava. Papai, escova meu cabelo? Ele escovava mecha por mecha, contando fábulas e histórias antigas. Ela avaliava o trabalho sem expressar aprovação. Agora é minha vez. Momentos depois, Arrietty se afastava e William se sujeitava às risadas de Helena diante daquela miscelânea de xuxinhas, presilhas e flores.

Amália não teria aprovado. Um homem de cabelos tão longos... Nem parece ser de Deus! Ele lhe sorria com travessura. Mas e quanto a Jesus? Ela meneava a cabeça. Não sabe de nada, menino.

Na infância, não podia fazer nada contra a tesoura. Na adolescência, rebelou-se. Amália censurava sua aparência despojada, as unhas sempre sujas de ficar mexendo na terra. Às vezes, William faltava às aulas para nadar no lago e observar o voo das aves. Dizia a seus cadernos que algum dia viajaria o Mundo, conhecendo novas culturas.

Com uma batida da vara na mesa, Amália tentava trazê-lo de volta à realidade. Você nunca será alguém se não tiver boas notas e não for para a faculdade. William levanta-se e ia em direção à porta. Eu já sou alguém.

Amália mandava-o retornar. William se fazia de surdo. Os dois vivendo juntos, tão diferentes... era um flagício.